MARCOS COSTA LIMA Profº Social Sciences Deptº-Political Sciences Post-Graduation Director of the Nucleus for Strategic Studies - NEST Universidade Federal de Pernambuco –UFPE-BRASIL UNEVEN GLOBALIZATION: in search of a new pattern of development for South America. Science and Technology in Mercosul. “Prepared for delivery at the 2001 meeting of the Latin American Studies Association, Washington DC, September 6-8, 2001” Abstract "This article argues that the factor which has the strongest influence on the globalisation process is the speed of technological change. The argument is developed on the basis of the three following premises: (i) the strength of a country's endogenous science and technology (S&T) base depends on its level of industrialisation, (ii) the multinational companies tend to provide the main driving force behind technological progress and (iii) these companies tend to show a distinct preference for their home countries in locating R&D initiatives. Latin America and Mercosul have been falling behind in the technological race for a long time and this technological gap between them and the industrialised countries will continue to increase if they do not begin to build coherent endogenous technical systems. The article seeks to make a contribution to the debate on issues of global general interest, global public goods and global justice. These concepts have often been ridiculed as utopias by the S&T establishment in industrialised countries which seek to continue to monopolise the global production of science via patent rights. The central message of this article is that that debate needs to be re-opened." Key Words: Science and Technology; Latin America; Mercosul; Technological Gap; Patent; Global public goods. Resumo Este artigo admite que o processo de globalização tem uma variável forte, que é a aceleração das mudanças tecnológicas em curso. O argumento se fundamenta em três premissas básicas: i) a demanda diferencial de C&T em cada país depende do nível de desenvolvimento da indústria; ii) o centro das transformações tecnológicas tem sido a grande empresa multinacional e, iii) que estas grandes corporações optam por desenvolver P&D nos seus países de origem. A América Latina e o Mercosul têm acumulado uma enorme defasagem tecnológica, que tende a se ampliar, caso não haja alterações substantivas em suas políticas para o setor, no sentido de construir sistemas tecnológicos endogenamente coerentes. A argumentação discute, teoricamente, alguns novos conceitos, considerados fundamentais, desde que a produção da ciência tem se monopolizado - através das patentes – nas mãos de um seleto número de corporações multinacionais. “Bens públicos mundiais”; ” interesse geral mundial” , “justiça mundial”; antes tomados como formulações utópicas, introduzem a crítica do atual paradigma técnico-científico, buscando garantir a proteção de domínio público da informação e do conhecimento, na defesa do interesse geral”. Palavras-Chave: Ciência e Tecnologia; América Latina; Mercosul; atraso tecnológico; patentes; bens públicos mundiais. Resumé « Cet article s'interesse à l'une des variable forte de l'actuel processus de globalisation; l’accélération des changements technologiques principalement à partir des années 90. Ses principes de base sont : 1) que l’écart entre C&T dans chaque pays dépend de son niveau de développement industriel ; 2) que le noyau des transformations technologique se situe dans les grandes entreprises multinationales, 3) que ces grandes corporations choisissent de promouvoir la R&D dans leur pays d’origine. L’Amérique latine et le Mercosur ont accumulé un énorme retard technologique qui tendra à s’amplifier si n’ont pas lieu, dans ce domaine des changements substantiels en vue de politiques cherchant à construire des systèmes technologiques ayant une cohérence interne.Le débat porte, d’un point de vue théorique, sur quelques concepts considérés comme fondamentaux depuis que la production scientifique a été monopolisée (par l’intermédiaire de patents) entre les mains d’un petit nombre de corporations multinationales. Les " biens publics mondiaux ", " l’intérêt général global ", " la justice globale ", autrefois considérés comme des utopies, ont apporté une critique forte à l’actuel paradigme technico-scientifique, qui cherche à garantir le libre accès au savoir et à l’information et la défense de l’intérêt général ». Mots Clés : science et technologie, Amérique Latine; Mercosur; décalage technologique; brevet; bien-public mondiale 2 Uneven Globalization: in search of a new pattern of development for South America. Science and Technology in Mercosul Marcos Costa Lima1 “Estou convencido de que cada geração de um país subdesenvolvido tem que ser dotada de um espírito de inconformismo em maior intensidade, e de mais impaciência do que a que a precedeu, como tem de estudar e trabalhar mais a fundo, para ser mais competente e estar à altura do desafio que não deixa de lhe lançar continuadamente, cada dia que passa, o mundo que se desenvolve e adquire maior poder de subjugação”. J.Leite Lopes In: Ciência e Libertação 1. Introdução A aceleração do processo de mudança na produção de ciência e tecnologia, com a difusão de inovações radicais, têm sugerido a um grupo significativo de autores que estamos numa fase de passagem para uma era de informação e conhecimento, evidente sobretudo nos países que comandam e dão o ritmo da economia mundial (Lundvall,2001);(Cassiolato, 1999);(Albagli,1999); (OCDE, 1992). Este complexo processo tem suscitado múltiplas interpretações enfeixadas no termo denominado por globalização, que malgrado a compreensão polissêmica, tem algumas características fortes já estabelecidas: em primeiro lugar que se trata de uma nova fase de internacionalização do capital iniciada nos anos 80, resultante de políticas de liberalização e de desregulamentação seja do comércio mundial, das relações de trabalho e das finanças, sob a hegemonia do capital financeiro. Baixo esse regime, tendem a crescer o desemprego mundial e a precarização do trabalho, bem como aumentam as desigualdades entre países, ao nível da renda e das condições de existência (Chesnais, 1999). Em segundo lugar, embora o setor produtivo não mais conduza o processo, têm papel destacado as grandes corporações multinacionais, quer pelo ritmo acelerado de oligopolização e da concorrência, quer pela capilaridade e presença mundial, dominando praticamente as complexas relações que envolvem a ciência e a tecnologia2. A versão de 2001 dos “Indicadores do desenvolvimento mundial” elaborado pelo Banco Mundial chama a atenção para o incremento das disparidades entre ricos e pobres na terra, onde dos 6 bilhões de habitantes hoje existentes, 1,2 bilhão vive com menos de US$ 1 dólar dia3. Em 1999 produziu-se quatro vezes mais riqueza que há três décadas e, dos US$ 32,5 bilhões produzidos neste mesmo ano, 80% foram gerados nos países desenvolvidos. Outros indicadores desta concentração informam que 15% da população mundial que representam os ricos, consomem 50% da energia comercial disponível, seus gastos de energia per capita são 10 vezes superiores aos gastos dos habitantes em países de renda baixa e que 90% dos usuários da internet vivem nos países ricos ( Kupfer,2001). No Livro intitulado a Globalização em Questão, Hirst e Thompson (1999) afirmam ter-se criado um “mito da globalização” , sobretudo porque, entre outras razões, entendiam que o ciclo econômico de 1870 1914 fora mais aberto e integrado que o atual. Embora equivocados por naturalizarem o processo de transformações do capitalismo, que passa a ser evolutivo, os autores ingleses apresentam algumas reflexões Prof. do Departamento de Ciências Sociais e do Programa de mestrado em Ciências Sociais. Coordenador do Núcleo de Estudos Estratégicos da UFPE.. Doutor pela UNICAMP/SP 2 Estima-se que estas multinacionais participem em 2/3 das trocas comerciais e que 40% do comércio mundial seja realizado internamente a estes grupos (Cassiolato, 1999). 3 Dados recentes do IBGE afirmam que metade das famílias dos Estados do Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e Alagoas vivem com uma renda média mensal de ½ Salário Mínimo. 1 3 importantes para o entendimento das atuais transformações, notadamente quando indicam três elementos da maior relevância: •O fato de a maior parte dos grupos multinacionais terem uma forte base nacional; •A alta concentração dos fluxos de investimento direto externo (IDE) nos países da Tríade; •A alta incidência dos fluxos comerciais e tecnológicos e financeiros entre os EUA, Europa e Japão. A revolução microeletrônica representa um aspecto fundamental deste processo, que foi muito pouco trabalhado na análise de Hirst e Thompson, que perdem de vista a radicalidade implícita no fato de que o conhecimento passou a ser o recurso por excelência para a competitividade da atual economia, onde a vinculação entre desenvolvimento científico e tecnológico é cada vez maior, onde a ciência deixou de ser uma instituição com fortes traços humanitários para libertação do homem, transformando-se numa mera técnica, em força produtiva estratégica, em simples commoditie. Esta é a tese elaborada por Habermas, na esteira de Weber e dos frankfurtianos, da ciência transformada em “principal força produtiva”em substituição ao valortrabalho, também presente na obra de André Gorz. Não é outro o “homem unidimensional”na concepção de Marcuse, que vive numa “sociedade industrial que faz suas a tecnologia e a ciência [e] é organizada para dominação cada vez mais eficaz de seus recursos( Marcuse, 1973,p.36). Torna-se irracional quando os seus êxitos aprofundam as desigualdades entre grupos, classes e países. A ironia com que Marcuse inaugura sua Ideologia da Sociedade Industrial – “uma falta de liberdade confortável, suave, razoável e democrática prevalece na sociedade industrial desenvolvida, um testemunho do progresso técnico” (idem,p. 23) de fato só chegou a alcançar as altas classes médias dos países da periferia, ainda assim atemorizadas quer pelo espectro do desemprego, que pode atingir sua prole, quer pela disseminação da cotidiana violência urbana4. É interessante cotejar as idéias de Marcuse com o pensamento recente de Pierre Lévy (1998), que tem aprofundado toda uma reflexão sobre o poder da técnica nas sociedades contemporâneas. Muito embora como o filósofo de Frankfurt entenda que os processos sócio-técnicos raramente são objeto de deliberações coletivas explícitas, e muito menos tomadas pelo conjunto dos cidadãos, Lévy(op.cit.p.9) não se quer profeta de uma catástrofe cultural promovida pela informatização: “Não se trata de uma nova crítica filosófica da técnica”, mas antes, de colocar em dia a possibilidade prática de uma tecno - democracia, que somente será inventada na prática”. O seu objetivo maior é avaliar o papel das tecnologias de informação na constituição da cultura e da inteligência dos grupos, onde a técnica não deve ser encarada como um mal, ou como uma catástrofe, como uma condenação moral a priori, como se fosse algo separado do devir coletivo e do mundo das significações, da cultura. O fato de Ciência e a Técnica terem adquirido, neste final de século e princípio de milênio, um valor político e cultural de tamanha relevância, não podem ser enfeixadas apenas sob um foco de negatividade. Ainda segundo Lévy, os produtos da técnica moderna estariam longe de conformarem-se apenas enquanto a um uso instrumental, pois são importantes fontes do imaginário, entidades que participam plenamente da instituição de mundos percebidos 2. Em busca de uma visão sistêmica ou a urgência de um outro paradigma. Uma das irracionalidades contemporâneas, num período histórico onde jamais se reverenciou tanto a ciência e seus frutos, fica exposta em toda a sua grandeza quando se observa a evolução do direito à propriedade intelectual, peça-chave das atividades em C&T, um dos pilares do paradigma vigente. A mídia internacional quer fazer valer a idéia de que se trata apenas de uma adequação técnica à sociedade de informação, às mudanças que vêm se processando no capitalismo. A doutrina das patentes dizia tratar-se de um instrumento para proteger o interesse geral, assegurando a difusão universal dos conhecimentos e das 4 Na Região Metropolitana do Recife, nos em três meses do início de 2001, foram registradas mais de 500 homicídios. 4 invenções, em troca do monopólio de exploração consentida aos autores, por um período limitado de tempo. A proteção seria a condição para favorecer a criação. As grandes corporações mundiais têm se mobilizado internacionalmente, sobretudo com o apoio do governo norte-americano para rever o direito de propriedade intelectual. Já obtiveram a extensão e duração de certas proteções, criação de novos direitos. Como afirma Philippe Quéau, diretor da divisão de informação e informática da UNESCO, a matéria está a exigir uma discussão mais profunda sobre a propriedade do conhecimento, sobre a noção de “interesse geral”, como condição para que os grupos dominantes não façam inclinar o direito de propriedade intelectual apenas para o seu lado. Neste sentido, garantir a proteção de um “domínio público mundial” da informação e do conhecimento é um aspecto importante na defesa do “interesse geral”. Ao afirmar com razão que a maior parte das invenções e inovações se apóiam sobre idéias que fazem parte do bem comum da humanidade, seria absurdo reduzir o acesso às informações e aos conhecimentos que constituem esse bem comum, para efeito de um direito excessivamente preocupado em defender interesses particulares (Quéau, 2000). Em um de seus últimos trabalhos Immanuel Wallerstein (1999) nos fala de um ciclo econômico longo, iniciado em 1789 e para ele encerrado em 1989. Para o filósofo-historiador da economia mundial, ao perscrutar o futuro que nos aguarda, sublinha a urgência de se retomar o conceito dos direitos do homem e de trabalhar para que estes sejam aplicados, tanto para o nacional quanto para o estrangeiro e que, o direito que as comunidades têm de proteger suas heranças culturais (abaladas pela globalização), não deve jamais ser formulado enquanto direito de proteção a seus privilégios. Embora considerando que os enfrentamentos que estão por vir no capitalismo, não necessariamente passarão ao nível do estado, em razão sobretudo do processo de deslegitimação que estes têm vivido, o pensador do sistema-mundo os localiza a um nível mais local e entre grupos múltiplos, com estratégias de alianças complexas e flexíveis mas sempre guardando objetivos igualitários como idéia-força. O conflito Norte-Sul está presente na sua compreensão dos conflitos atuais e é um dos elementos fortes que dão origem à crise do sistema. A “ajuda caridosa” dos países afluentes está na lógica da irracionalidade de um sistema-mundo que precisa ser reconstruído. A questão da propriedade intelectual não é nova, mas com a transnacionalização dos mercados e a conversão da ciência em fator privilegiado de produção, ela ganha nova dimensão. Segundo o sociólogo português Boaventura de Souza Santos(1989), as pesquisas consideradas mais promissoras em termos de possibilidades comerciais, serão mantidas em segredo, como forma de preservação das vantagens competitivas da empresa e os resultados só serão públicos quando o patenteamento estiver garantido. Neste sentido, a revolução multimídia serviu de pretexto às multinacionais para que lançassem um ciclo geral de revisão do direito de propriedade intelectual, que começou em 1976, com a revisão da lei sobre direito de autor (Copyright Act) nos Estados Unidos5. Também na Europa o apetite jurídico está flagrante na diretiva sobre os Bancos de Dados ( 96/9/CE, em 11 março de 1996) e sobre a proteção dos programas informáticos (91/250, de 14 de maio de 1991) e ainda na OMC com a TRIPs (Acordo sobre os direitos de propriedade intelectual). Antes desse acordo, a China, o Egito, a Argentina e a Índia reconheciam as patentes sobre os procedimentos farmacêuticos, mas não sobre os produtos finais. Isto permitiu-lhes a fabricação local de medicamentos genéricos, que tinham custos consideravelmente menores. As Nações Unidas, através do PNUD afirmava, de forma comparativa em 1999, que o preço dos medicamentos custavam até 13 vezes mais no Paquistão do que na Índia, por este país aceitar a patente sobre o produto. A verdadeira tragédia que representa hoje a África do Sul, com seus 22 milhões de aidéticos, 65% das pessoas soropositivas no mundo, demonstra a rapinagem e crueldade dos laboratórios farmacêuticos Há alguns anos atrás uma empresa editorial nos EUA ao ter efetuado uma certa codificação na Constituição Federal, relacionando a nomenclatura a famosos casos do direito penal, , solicitou a sua patente. 5 5 multinacionais, que insistindo na defesa de suas patentes, deixam sem tratamento, pela restrição do preço, a grande maioria dos infectados. A discussão sobre os preços dos medicamentos e direitos de patentes chegou ao seu auge quando o governo da África do Sul conseguiu por 3 anos quebrar a resistência das multinacionais de fármacos que produzem medicamentos contra a AIDS, como Bristol-Meyers, Glaxo,Merck, Boehringe6, sobretudo europeus e norte-americanos. Observe-se a diferença no preço anual por pessoa em dólar, de uma droga para tratamento da AIDS, nos Estados Unidos, na África (preço ofertado pelos detentores da patente) e em dois laboratórios indianos: Quadro 1 Preços de Medicamentos para tratamento da AIDS - 2001 Droga Nos EUA Na África Zerit 3.589 252 Na Índia Lab Cibbe Lab Hetero 70 47 Fonte: in Sachs (2001) A renda média anual dos EUA está avaliada em US$ 35 mil dólares ano, quando na África a mesma renda é inferior a US$ 350 por pessoa ano. Portanto, o cidadão africano jamais poderia pagar um tratamento ao custo do que ganha todo o ano. É morrer ou morrer. Em toda essa polêmica, argumentos como o do economista Jeffrey Sachs (2001), que propõe a definição de preços diferenciados da droga para países ricos e pobres, mantêm a lógica do assistencialismo e da caridade aos países pobres, mas não propõe alterar o que ele mesmo intitula de “galinha dos ovos de ouro”, que representa o sistema de patentes. A solução é também hipócrita, pois é sabido que estas grandes corporações estão cedendo seus direitos de propriedade apenas momentaneamente, sobretudo porque tratase de uma doença que é fatal no curto prazo e, em certa medida, tem chamado a atenção da opinião pública mundial, por deixar por demais transparente a violência interna ao sistema. Afinal, estas companhias não estão nem um pouco dispostas a cederem parte substantiva de seus lucros em medicamentos que não têm a urgência como daqueles da AIDS, a exemplo dos antibióticos, dos anti-pressão ou anti-inflamatórios. A pesquisa patrocinada por governos, para um determinado número de doenças, sobretudo aquelas que atingem os países da periferia, seria uma medida de justiça mundial e facilmente aplicável se fosse criado um ‘”fundo global de saúde” a partir de um pequeno percentual da venda de medicamentos em todo o mundo. Mas a Aids não é a única ameaça aos pobres da periferia. Os remédios contra a meningite bacteriana, particularmente ativa nos países do Sul, deixaram de ser fabricado em 1995 pelo grupo Roussel Uclaf (que se fundiu com a Hoescht em 1997) . A molécula que atua contra a leishmaniose, que causa sérias lesões cutâneas e leva à morte, também deixou de ser produzido por baixo retorno do investimento. O Dr. Bernard Pécoul, da ONG Médicos sem Fronteira e coordenador do projeto medicamentos, observa que em 1.223 moléculas postas à venda entre 1975 e 1997, apenas 143 se dirigiam para doenças tropicais. E ainda 5 dentre estas eram produtos de pesquisa veterinária (Bulard, 2000). É chocante verificar que 4/5 das despesas mundiais em saúde servem a apenas 1/5 da sua população. 6 O lucro destas empresas é fantástico, quando se avalia que um regime típico de medicação anti-Aids custa em torno de US $ 10 mil por paciente ao ano, nos países ricos, quando o custo de produção desta droga varia em torno de US$ 300 a 500 por ano para coquetéis com 3 drogas. 6 A partir de 1994, com a criação da Organização Mundial do Comércio e das Trips, em princípio deixou de ser possível produzir-se um medicamento, ou comprá-lo no exterior sem autorização (desembolso em royalties) do proprietário da invenção, que guarda este poder durante 20 anos. Contudo, tendo em vista a pressão exercida pela Espanha e pelo Canadá, a situação admitia cláusulas de exceção : 1º) em caso de urgência nacional; 2º) quando o proprietário deixa de produzir o medicamento por mais de 3 anos. Nestes casos, qualquer governo pode recorrer às “licenças compulsórias”, e às importações paralelas. As primeiras dão lugar aos genéricos, sem necessidade de acordo do inventor e as segundas de comprar o medicamento onde for mais barato. O porta-voz da Federação Internacional da Indústria7 de medicamentos chegou a afirmar que as leis sul-africanas tinham criado um “péssimo precedente”, que poderia vir a minar a proteção patentária no mundo, perigo capaz de se disseminar pelos países da periferia . A disputa recente entre os EUA e o Brasil em torno da lei de patentes é fruto deste processo. Curioso que o Governo FHC, em 1996, havia adotado uma nova lei Geral de patente , extremamente submissa aos interesses norte-americanos. O depósito de patentes vem se tornando uma questão central e decisiva no meio científico mundial, pois, quando a bio-diversidade passa a ser assimilada como mercadoria, um posicionamento ético se impõe. Sabe-se hoje que há entre 5 a 10 vezes mais informações sobre os genomas nos Bancos de Dados privados, de acesso restrito e pago, do que de domínio público, de livre acesso. A utilização das patentes e o custo exorbitante das licenças, impedem que médicos e laboratórios médicos efetuem testes genéticos, limitam o acesso aos tratamentos, reduzem sua qualidade e aumentam os custos experimentais. Este processo tem caminhado no sentido de uma monopolização do que é vivo, através do confisco da diversidade genética por um punhado de firmas. Este é um risco, talvez o maior atualmente vivido pela humanidade, de ver-se instaurar oficialmente uma associação tecnológica e financeira dos países ricos, um tipo de G-8 dos medicamentos, decidindo o nível das pesquisas, o lançamento deste ou daquele produto. O curso dos acontecimentos está acentuando ainda mais os desequilíbrios entre países ricos e pobres, onde uns terão direito e acesso a terapias de ponta, dispendiosas e protegidas por direitos autorais, enquanto os outros só poderão utiliza-las após 20 anos, quando expirarem os prazos do patenteamento, ou senão, de ficarem expostos aos preços extorsivos dos medicamentos. É por estas e outras razões que a ONG Médicos sem Fronteiras vêm se batendo para decretar que as pesquisas sobre o genoma humano e sobre a biodiversidade venham a configurar-se enquanto bens públicos mundiais. Estudo da Organização Mundial de Saúde8 observou que o setor farmacêutico enfrenta graves problemas decorrentes da ausência de concorrência. De fato, 2/3 do mercado mundial de fármacos é controlado por, mais ou menos, 20 grandes grupos9. O movimento de concentração tem se acelerado, através dos processos de fusões de mega-empresas. No mercado há um preço quase único, determinado pelas tarifas praticadas nos EUA.10 Em 1995, segundo Bouguerra (2001), o MIT, Massachusetts Institute of Technology, havia descoberto sobre 14 medicamentos dos mais prometedores aos olhos da indústria norte-americana para os próximos vinte e cinco anos, que onze dentre eles tinham sido originados em pesquisas financiadas pelo IP Magazine, 1999, set. “Triping over Trips”, Mike Mckee. San Francisco. Vários profissionais de renome mundial têm pregado a criação de uma taxa sobre os lucros destas multinacionais de fármacos, com vistas a alimentar os fundos de pesquisa de doenças tropicais e para produzir medicamentos de primeira necessidade. 9 Dos 25 medicamentos mais vendidos no mundo, 20 são americanos. 10 Velásquez,G.; Bennet, S.; Quick,D. (1997), Rôle des secteurs publiques et privé dans le domaine pharmaceutique. Icidences sur l’équité en matière d’accès et sur l’usage rationnel des medicaments”. OMC: Genève. Citado em : Le Monde Diplomatique 7 8 7 Estado, desmistificando a argumentação de que apenas as empresas que financiam as pesquisas, justificação maior das patentes. O jornalista Philippe Demenet (2001), em artigo sobre o que intitula “apartheid médico”, informa sobre o apetite das grandes companhias de fármacos, exemplificando com diversos casos, como o da mostarda indiana (brassica campestris) que tem sobre si 16 patentes depositadas pelas indústrias Calgene no EUA e Rhône Poulanc, e é conhecida pelos hindus desde os tempos ayurvédicos, por suas virtudes antihemorrágicas, contra a perda de apetite, desordem mental, impetigo, vermes e reumatismos. Um outro caso é o de uma árvore conhecida na Índia por Neem (azadirachta indica) ou “dom de Deus”, que os camponeses utilizam para se tratar e elaborar inseticidas naturais, tem 62 patentes existentes sobre ela. Em que pese a Convenção Sobre a Biodiversidade, que passou a vigorar em 1993 e que foi ratificada por 169 países, à exceção,claro, dos EUA, as comunidades locais, da Amazônia, Índia ou África, não têm nenhuma vantagem sobre o processo. É absurdo que a lei norte-americana e aquela da OMC não reconheçam a validade da ciência não-ocidental. Depois de milênios, os hindus aplicam o açafrão em pó ou em pasta sobre suas feridas e os cortes. Pois bem, desde1995, os escritórios públicos norte-americanos de patentes atribuem a propriedade exclusiva do “método para promover a cura de uma ferida”, pela administração do açafrão, a dois pesquisadores da Universidade do Mississipi. Por todos estes motivos é necessário repensar-se o equilíbrio entre o público e o privado, entre as atividades dos atores no quadro global, que comportam tanto os estados, quanto as grandes empresas, as ONGs, ou os indivíduos e o domínio público global. Como tornar mais responsáveis por seus atos e pelos prejuízos que podem causar, os Estados e as grandes corporações do mundo desenvolvido? Como assiná-la Inge Kaul, é necessário consolidar novos instrumentos intelectuais, que passam de mais a mais pela realização de objetivos comuns e pela cooperação internacional e, neste sentido, o “bem público global é bastante útil ( Kaul, 2000). No século XVII foram assinados os primeiros Tratados Internacionais, garantindo o livre acesso ao alto mar. Estes acordos se multiplicaram até o início do século XX: transporte de mercadorias, comércio, telecomunicações, aviação civil. O espaço e o oceano, que existiam anteriormente a qualquer atividade humana eram concebidos como bens públicos globais e regidos por regulamentação internacional. Quando são Tratados multilaterais e de envergadura planetária, esses acordos compõem um bem público global, porque criam um quadro regulamentar comum. Segundo Kaul, esses primeiros bens globais são mais importantes do que nunca, pelo fato do crescimento das atividades econômicas internacionais e da mundialização da técnica e da comunicação. O controle das epidemias constitui depois de mais de cem anos, um dos pivôs da cooperação internacional. Seu funcionamento não pode mais repousar sobre a simples coordenação dos sistemas nacionais de alerta, uma vez que um estado pode muito bem ser tentado a deslocar os recursos orçamentários para outras atividades. Portanto, questões de política mundial exigem mais que acordos de princípio, uma harmonização de políticas, o respeito a normas internacionais e não, como têm feito sistematicamente os EUA, de desrespeitá-las na confiança que tem sobre o seu poderio militar e econômico de retaliação. A não assinatura do Tratado de Kyoto, sobre o clima mundial é exemplo flagrante. Diversos fatores expõem a emergência, seja desse novo tipo de bem global, seja dos efeitos perversos globais que têm provocado um risco sistêmico global: • Uso excessivo de clorofluorcabono(CFC); • Queima de florestas; • Poluição dos Oceanos; • Derramamento de petróleo; • Uso de radioatividade; 8 • • • • • • • • Radiação eletro-magnética; Aumento do Stress; Uso de agrotóxicos; Volatilidade freqüente dos mercados financeiros; Aquecimento do planeta; Oligopolização dos medicamentos; Desemprego estrutural; Aumento da Violência. Em segundo lugar, o poder crescente de atores com raio de ação global não estatais - firmas multinacionais, ONGs; FMI; Banco Mundial, OMC; ONU - com seus objetivos específicos, pressionam estados nacionais a aderir a normas políticas comuns, seja de padrões técnicos (OIT) ou de respeito aos direitos humanos, que são positivas ou a políticas de ajuste econômico impositivas – de efeito tremendamente negativos sobre a periferia. As boas intenções não são suficientes para produzir bens públicos globais. O protocolo de Montreal de 1987, e o tratado de Kyoto, que visam reduzir as emissões de CFC para minimizar a destruição da camada de ozônio, são raras exceções. Alguns bens públicos globais, sobretudo no domínio do conhecimento, deveriam repousar sobre uma legislação categórica, como por exemplo a vacina contra a poliomielite, a varíola, a Aids. As patentes, nestes casos, seriam consideradas como um “mal público”. A crescente importância atribuída à dimensão dos bens públicos globais, tendo em vista o novo quadro mundial que se apresenta, tem que admitir como condição preliminar, enquanto sua fundamentação, o princípio da justiça mundial, no sentido da eqüidade, que se inicia por demonstrações inequívocas dos países que mais podem contribuir, não no sentido da “ajuda” ou das formas compensatórias, mas entendendo que estas fortes diferenças entre países do Norte e do Sul estão justamente ancoradas em explorações e determinações históricas coloniais, mas também se cristalizaram por processos oligárquicos e autoritários nacionais. A noção de “prioridades globais compartilhadas” tem sido uma experiência para as Nações Unidas e suas instituições setoriais, mesmo considerando o seu esvaziamento ao longo da segunda metade do século XX. Neste sentido, retorna-se a Habermas e a uma nova forma de integração social, segundo ele, baseada em uma “solidariedade cosmopolita”, agora liberta do ideal kantiano da paz mundial pela via do comércio. Para o filósofo, a regulação de uma sociedade mundial ainda não tomou forma, nem sequer sob a forma de um projeto e, se assim ocorrer, não terá os Governos como destinatários, mas a sociedade civil, uma que transcenda as fronteiras nacionais ( Habermas , 2000a). Há toda uma corrente de importantes intelectuais, como Bobbio, David Held e o próprio Habermas, que baseados na idéia Kantiana de unidade moral do gênero humano, passaram a considerar o cosmopolitismo – fundamentado na preservação dos direitos humanos, no controle ambiental, no equilíbrio demográfico, na paz – como a melhor forma de abordar os grandes problemas mundiais. Defendem o relançamento de instituições internacionais e supranacionais e contemplam o avanço de um “direito de ingerência”, destinado a punir genocídios ou limpezas étnicas. Mas quem dá suporte a estas “instituições internacionais humanitárias”, que as financia ?11 Aqui há que considerar a expressão do espírito humanitário, explicitado por “Médicos Sem Fronteira”, ao receberem o Premio Nobel da Paz: “É necessário livrar as ambiguidades e equívocos de certas palavras de ordem, que misturam ação humanitária independente com as intervenções políticas e militares de grandes potências ou coalizões internacionais de crimes e terror de massa”( Biberson, Philippe; BRAUMAN, Rony (1999). 11 9 “Nenhum leitor de jornal se engana hoje.sobre o vínculo entre produtividade e destruição .Em face de uma situação de concorrência altamente eficiente, nossos governos se emaranharam em uma corrida de desregulamentação para reduzir os custos, que conduziu a última década a lucros obscenos e disparidades drásticas entre salários, ao abandono de infraestruturas culturais, a um crescente desemprego e a marginalização de uma população pobre que aumenta a cada dia. Para reconhecer isto não necessitamos uma nova linguagem, uma vez que já não nos enganamos com uma “sociedade de abundância “ (Habermas, 2000:204). Mas, ainda que Habermas tenha estabelecido mais recentemente uma depuração do conceito Kantiano de realização da paz mundial pela via do comércio, como fica evidente neste seu recente texto, não se pode ignorar a consistente crítica estabelecida por Meszáros (1996; 45) ao autor da Teoria da Ação Comunicativa, que espera “demasiado da racionalidade do sistema sócio-econômico e político burguês”; assim, o seu ponto de vista liberal-democrático-ocidental acabaria por ignorar sistematicamente, não apenas a difícil situação dos explorados do 3º Mundo, mas também a série de limitações históricas estruturais sob as quais se realiza toda z comunicação nas sociedades de classe. A fundamentação e a consolidação de um novo paradigma já não podem aceitar quaisquer inovação, ciência e tecnologia; elas têm que vir associadas a novos sistemas de sustentabilidade social, ambiental, sendo fortemente distributivas. E inovação ambiental neste contexto quer dizer tecnologias não poluentes, inovação social quer dizer afetar positivamente o modo de vida das populações no seu dia a dia. 2. Atraso tecnológico na América Latina nos anos 90 A ciência e a tecnologia, ao contrário do que têm defendido os positivistas e neo-positivistas, estão sempre profundamente inseridas nas estruturas e determinações sociais de sua época. A idéia segundo a qual a ciência segue um curso de desenvolvimento independente ou imanente, de que as resultantes tecnológicas nascem e se impõem sobre a sociedade com uma exigência férrea, é uma idéia equivocada e bastante ideologizada. Vivemos, hoje em dia, o fetiche da autonomização da C&T, como se estivéssemos submetidos a uma lógica inexorável. O próprio aparecimento da Internet, um dos elementos revolucionários do complexo computrônico, se deve à máquina militar de guerra dos Estados Unidos da América. Neste sentido, culpar a ciência pelas implicações ameaçadoras de seus produtos – por exemplo a clonagem, ou os transgênicos – que são, de fato resultantes do modo socialmente dominante da produção em sua totalidade. Tão absurdo quanto isto seria imaginar que a ação isolada de cientistas esclarecidos pudesse reverter o processo em curso. Entender isto é necessário para fazer perguntas que são fundamentais: i) a ciência que praticamos é a que necessitamos?; Ii) que tipo de ciência desejamos?; Iii) quais devem ser seus objetivos; iv) quem determina suas prioridades ?. Estas respostas devem, em sistemas democráticos, por princípio, serem decididas pela maioria da sociedade. Nunca a humanidade teve tantos meios à disposição para resolver, num padrão minimamente aceitável, as carências elementares de vida no planeta. Contudo, a razão parece estar com o pensador húngaro István Meszáros, segundo o qual o “ grande dilema da ciência é que seu desenvolvimento sempre esteve ligado ao dinamismo contraditório do próprio capital”(Ibidem, 265). A obra de Schumpeter foi fundamental para o entendimento da aceleração tecnológica que teve início a partir da 2ª metade do séc. XIX. O economista austríaco introduziu o progresso técnico como elemento decisivo no processo de concorrência entre os capitais e, portanto, na determinação das transformações e oscilações pelas quais passa o sistema econômico. 10 Ao caracterizar o progresso técnico como percorrendo três fases sucessivas – a invenção, a inovação e a difusão, Schumpeter afirmou, ao contrário do que veio a ocorrer na evolução deste progresso, que a invenção seria um estoque que se ampliaria permanentemente e se colocaria sem problemas ao alcance do empresário inovador. Que fortuna seria, se o acumulo de invenções estivesse, como um livro, disponível numa prateleira de uma biblioteca pública! Na verdade, há barreiras estruturais que impedem o livre acesso do conhecimento pela via natural e evolutiva. Em estudo de 1995 Patel apresenta forte evidência da afirmação do controle tecnológico exercido pelas corporações multinacionais, ao analisar em amostra de 569 empresas na OCDE, quanto ao aspecto da internacionalização em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D). Das empresas estudadas, 341 dentre elas realizavam menos de 10% de seus esforços tecnológicos no exterior e apenas 43 realizavam mais de 50% dos esforços em outros países. As maiores empresas do Japão, dos Estados Unidos, da França e da Alemanha despendiam mais de 85% de seus gastos em P&D dentro de suas fronteiras (LIMA,2000ª) Estes achados convergem para as assertivas de Celso Furtado no tocante a avaliação da eficácia do processo de substituição de importações na América Latina, realizada através dos grupos estrangeiros. Para o economista, este processo foi e é limitado: em 1º lugar, porque as empresas estrangeiras respondem por um sistema de decisões que está fora do país. Em 2º lugar, porque descentralizam determinadas atividades e centralizam outras, notadamente aquelas de maior valor agregado e baseadas em tecnologias de ponta. A complexidade e rápida obsolescência dos produtos torna-as dependentes cada vez mais de insumos das matrizes. Em 3º lugar, e ainda mais determinante, é o seu escopo, no que tange à sua integração internacional. “Que países como o Brasil e Argentina, que tenham alcançado um grau relativamente elevado de industrialização sem em nada conseguir modificar a composição de suas exportações – as quais continuam a refletir as velhas estruturas exportadoras de matérias- primas – constitui clara indicação de que esse tipo de industrialização é simples adaptação a uma nova forma de dependência exterior” (Furtado, 1987: 40). Embora a América Latina tenha construído, desde o início dos anos 50, suas agências específicas de ciência e tecnologia, CNPq, Conicet, no Brasil e Argentina e o Conicyt, no Chile em 1965, uma rica e criativa produção acadêmica relacionada aos amplos temas da ciência, da tecnologia, da inovação e, sobretudo, das políticas de desenvolvimento, qualquer balanço ou avaliação do setor anos 90 não pode ser otimista (Soares12,2001). Tivemos, por certo, contribuições inestimáveis como a do argentino Amílcar Herrera13, que inclusive contribuiu de forma decisiva para a consolidação do núcleo de C&T da Unicamp, que estabeleceu a distinção entre políticas tecnológicas explícitas e implícitas, ferramenta muito útil ao nos indicar que as decisões em matéria de política econômica e de industrialização são aquelas que definem a dinâmica tecnológica, independentemente das estratégias políticas e planos de C&T. As estratégias explícitas, quase sempre inspiradas na experiência de países industrialmente avançados, em geral são expressas em planos e documentos que dificilmente saiam do papel, por requererem um Estado diferente e transformações sociais que não existiam. Também fundamental a sua contribuição no sentido de revelar as causas do atraso científico e buscar as formas de superá-lo através de uma política de C&T adequada para a realidade da região, identificando que as empresas da América Latina apresentavam uma série de condicionantes que geravam obstáculos, a exemplo da não incorporação dos resultados de P&D realizada pelas universidades; as atitudes empresariais; a estrutura das indústrias. Como um dos nossos problemas, o tamanho das empresas, vis-à-vis as empresas do Norte, não só muito maiores que as maiores do Sul, mas também em número, concentrando seus investimentos em pesquisa nas matrizes. Ou ainda quando trata da Susana Arosa Soares traça um quadro síntese da história da montagem dos sistemas nacionais de C&T no Mercosul e no Chile. 13 Sendo uma obra indispensável: Herrera, Amílcar (1971), Ciência e Política na América Latina”. México : Siglo XXI 12 11 necessidade de formular-se estratégias de pesquisas tecnológicas articuladas e ancoradas em projetos nacionais, que fizessem parte de uma política científica ampla (Oteiza, 1991). Outros autores fizeram grandes contribuições, que não cabe detalhá-las aqui, a exemplo de Oscar Varsavksy, que propunha a formação de equipes interdisciplinares de cientistas ; de Jorge Sábato e seu modelo triangular, que atestava a falta de articulação e debilidades entre Governo, infra-estrutura de pesquisa e estrutura produtiva, sem esquecer da urgência que estabelecia em transferir-se os resultados da pesquisa e da articulação da infra-estrutura científica tecnológica à estrutura produtiva da sociedade. Ou ainda Osvaldo Sunkel, acentuando o impacto sobre a periferia do processo de transnacionalização combinada com a substituição de importações. Os trabalhos de Jorge Katz, valorizando os aspectos incrementais das fases tecnológicas, do aprendizado coletivo das adaptações; dos seus estudos sobre patentes na América Latina. Não podemos esquecer a “industrialización trunca de América Latina”, de Fernando Fajnzylber e o desvelamento que fez das “competitividades espúrias”; da competente produção do núcleo “neoschumpeteriano”de Economia Industrial da UFRJ, Paulo Tigre, Fábio Erber, Cassiolato. Não foi, nem é a falta de competência instalada e de teorizações originais que tem obstaculizado o avanço e a independência tecnológica na região. A América Latina é, in extremis, uma resultante das transformações havidas no continente europeu na sua passagem para a fase mercantil do capitalismo. Sem sombra de dúvidas tem as suas particularidades e seus processos de articulação colonial, de libertação; de construção soberana. Mas, o caráter da dependência externa e do subdesenvolvimento é traço indelével de sua história. A CEPAL publicou recentemente um informe onde se lê que em 1960 havia na região 114 milhões de pobres, que aumentaram para 196 milhões em 1990, chegando a 1994 com a triste constatação de que “o número de latinoamericanos e caribenhos em situação de pobreza ascendia a 210 milhões”, para uma população de 481 milhões, em 1995 (LIMA, 2000a). Tabela 1 América Latina: População Pobre e Indigente(a) ( em mil) 1980-1994 POBRES(B) INDIGENTES Total Urbana Rural Total 1980 135.900 62.900 73.000 62.400 1990 197.200 120.800 76.400 91.900 1994 209.300 135.400 73.900 98.300 Urbana 22.500 45.400 51.900 Rural 39.900 46.500 46.400 Fonte: ILPES in SÁINZ e CALCAGNO, p.49 e LIMA, Marcos Costa (2000a) a)19 países da região; b) pessoas em domicílios em situação de pobreza. Inclui a população em situação de indigência; c)pessoas em domicílios em situação de indigência Em que pese o crescimento sistemático do PIB regional entre 1950 e 1980, quando alcançou a média de 6% ao ano, a má formação do desenvolvimento gerou uma série de desequilíbrios que hoje se vêem agravados, tendo em vista os “anos perdidos dos 1980”, o baixo crescimento resultante das políticas de ajuste, incluindo concentração de renda e a ausência de políticas sociais estruturadoras (tabelas 1 , 2 e 3) . Ao contrário dos países desenvolvidos que para aumentar o nível da qualidade da educação para além do aumento do número de matrículas, se elevaram consideravelmente os gastos e, hoje, entre US$ 2000 e US$ 4.500 são gastos anualmente por aluno, umas dez vezes mais que na América Latina. Este é um desafio que a região tem de enfrentar com firmeza e criatividade, se quer estabelecer um sistema regional de inovação (Sáinz e Calcagno,1992) . 12 Tabela 2 Distribuição da Renda Domiciliar em Alguns Países A Latina (2) (3) País/Ano (1) Argentina Bolívia Brasil Chile Colômbia Venezuela México (4) (5) Coeficiente PIB por de Gini habitante 10% inferior 40% inferior 10% superior (3:1) (3:2) 1,4 2,3 0,8 1,4 1,0 1,5 1,4 12,9 15,3 8,2 10,1 9,9 13,1 10,8 35,0 31,7 47,9 46,1 46,9 35,6 42,8 25,0 13,8 59,9 32,9 46,9 23,7 30,6 2,7 2,1 5,8 4,6 4,7 2,7 4,0 46,2 42,0 60,1 56,5 57,2 46,8 53,7 8110 770 2970 3520 1670 2760 3320 Fonte: Banco Mundial (2000),. Para Argentina (INDEC ( vários anos) in: Vilas ( 2000, p 85). Se considerarmos a Década Perdida dos 80 e as políticas de ajuste prevalecentes no “Consenso de Washington” que estabeleceram um padrão econômico baseado no estado mínimo (privatizações); desregulamentação financeira e laboral e controle monetarista, fica mais fácil entender os resultados pífios e contraditórios da região, sobretudo dos seus grandes países, em termos de avanço tecnológico, em que pesem os grandes investimentos diretos como resultante da venda dos ativos estatais e da política de abertura comercial. Tabela 3 Gasto Público em Educação : alguns países América Latina e Caribe % do PIB 1980 1985 1975 Argentina 2.5 3.6 2.0 Bolívia 3.5 4.4 2.6 Brasil 3.0 3.5 3.7 Chile 4.1 4.6 4.4 Uruguai 2.2 2.6 Costa Rica 6.8 7.8 4.5 México 3.6 4.2 3.9 1988 1.9 3.1 2.7 3.6 3.1 4.3 2.1 Fonte: CEPAL(1992): Educación y Conocimiento: eje de la transformación productiva con equidad: Santiago de Chile: Cepal , p.202 Mesmo reconhecendo a heterogeneidade das situações em C&T na América Latina, podemos sintetizar os pontos nevrálgicos do atraso tecnológico da região, sem esquecer que a própria natureza das crises e as instabilidades política-econômicas dela decorrentes estão na raiz do problema: Ø Ausência de uma Política Industrial coerente e autônoma, capaz de nortear e dar rumo aos investimentos no setor; Ø Débil relação com as necessidades de desenvolvimento, sobretudo pelo longo projeto da ISI (Industrialização Substituição de Importações), mais importadora que criadora; Ø Falta de convergência dos planos em C&T com as estratégias de desenvolvimento econômico social e político; Ø Modelo errático de C&T, privilegiando o curto prazo, sem continuidade e desarticulado; Ø A Ciência e a Tecnologia não efetivamente consideradas como atividades estratégicas e prioritárias para o desenvolvimento nacional; Ø Pequena participação do setor privado na produção de C&T, demonstrada pelo número de pesquisadores e engenheiros atuando em empresas localizadas no país; 13 Ø Extrema dependência dos “pacotes tecnológicos”exógenos; Ø Baixo nível de apoio em C&T às pequenas e médias empresas; Ø A capacidade em recursos humanos, contraditoriamente formada pelo Estado, não tem os recursos suficientes para um melhor desempenho; Ø Concentração regional dos Investimentos no setor; Ø Isolamento da Comunidade científica, apesar do protagonismo central que exerce, às demandas do setor industrial; Ø Forma autoritária de condução das políticas de C&T, com reduzida participação da comunidade científica nas decisões das propostas e alocações de recursos. Ø Inexistência ou controle laxista do estado com relação às importações realizadas por grandes corporações multinacionais; Ø Ausência de responsabilização do grande capital internacional na relação entre lucratividade e desenvolvimento sustentável dos países da região. Não bastassem os equívocos acumulados ao longo do tempo na região, em termos de compreensão do papel decisivo da C&T na globalização, em setores significativos da sociedade civil, embora tanto se fale da nova sociedade da informação e do conhecimento, o espírito que prevalece é muito mais aquele de subordinação, da busca da imitação ou mesmo da importação direta. Muito embora haja um grande conjunto de problemas comuns à região, é importante assinalar as assimetrias e disparidades em C&T existentes, como se pode se avaliar na tabela 4. Tabela nº 4 Concentração na C&T da América Latina- Grandes Países 1996 % do total regional Gastos Publicações Patentes Concedidas País PIB Científicas Residentes N Residentes Argentina 16.9 10.3 20.3 21.5 20.6 Brasil 41.1 67.6 39.3 59.0 23.6 México 18.7 8.9 19.6 7.3 43.6 Total 76.7 86.9 79.2 87.7 87.8 Fonte: RICYT Contudo, em que pese a forte concentração brasileira no setor, se fizermos uma comparação com os EUA, verificar-se-á a enorme fragilidade da posição da América Latina. Tabela nº 5 Gastos em C&T na América Latina comparativamente aos Gastos nos EUA 1990/1996 (EUA=100) INDICADORES 1990 Gastos em P&D 3,5 PIB 23,0 Patentes nos EUA (1) 0,14 Publicações Científicas (2) N.D. 1996 5,0 23,5 0,15 2,1 Fontes: RICYT (WEB) publicações e patentes; Patentes nos EUA – GACTEC in: Erber, Fabio Stefano (2000), Perspectivas da América Latina em Ciência e Tecnologia. 1) Argentina, Brasil e México : 1990 e 1993 2) Percentagem sobre total mundial 14 Ø C&T no Brasil nos anos 90 Para a economista Maria da Conceição Tavares, em brilhante e pessimista ensaio, a economia brasileira sempre cresceu “para dentro” e ao mesmo tempo sempre esteve inserida de forma periférica e dependente na ordem econômica mundial. Apesar de não contar com geração de progresso tecnológico próprio, nem com dinheiro conversível no mercado mundial, foi uma das economias que, por mais de cem anos, teve uma das maiores taxas de crescimento do mundo capitalista (Tavares, 1999: 456). O Brasil sempre funcionou como uma plataforma de expansão do capital industrial (1950) e sobretudo financeiro (desde o séc.XIX) internacional. Em pleno século XXI, os interesses dos EUA para com o Brasil são de manter a vocação agro-exportadora (as nossas “vantagens comparativas”), de preferência contida dentro das próprias regras do livre-comércio, de que eles mesmos são autores (Costa Lima, 2000) . Como afirmei em outro artigo, as armadilhas de um modelo de desenvolvimento sem criatividade, sem força endógena, estruturado de forma a que a liderança de suas indústrias fosse exercida através de filiais de empresas cujos centros de gravidade estavam localizados em outros países, e o aprofundamento deste modelo, dificilmente desencadeará um processo criativo interno, porque este não é o objetivo de quem lidera o processo (Costa Lima: 2000ª) Criado em 1951, o Conselho Nacional de Pesquisas – CNPq, não se pode afirmar de fato que o país tivesse uma política deliberada de C&T à época. É só a partir dos anos 70 que se pensa em desenvolver mecanismos financeiros específicos e de se construir uma infra-estrutura institucional capaz de estabelecer um projeto de autonomia tecnológica para o país. Nos anos 80, foi fundamental a criação de órgãos públicos que dessem suporte financeiro para as empresas investirem em C&T, a exemplo do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), para o registro de patentes e compras de tecnologia; o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade industrial -INMETRO, para normas técnicas e certificação de qualidade, e a FINEP, espécie de banco nacional para o desenvolvimento de C&T . Tabela nº 6 Gasto em C&T em Percentuais do PIB – Países da América – 1990/1998 País Argentina Brasil Uruguay Chile México España Canadá EE.UU. ACT 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 ACT ACT ACT I+D ACT I+D I+D I+D 0.33 0.99 0.25 0.51 0.28 0.85 1.45 2.65 0.34 0.96 0.15 0.53 0.33 0.87 1.51 2.72 0.36 0.84 0.19 0.58 0.32 0.91 1.56 2.65 0.43 0.96 0.07 0.65 0.37 0.91 1.60 2.52 0.44 1.22 0.14 0.66 0.41 0.85 1.65 2.43 0.49 1.20 0.28 0.65 0.35 0.85 1.62 2.52 0.50 1.23 0.28 0.66 0.35 0.87 1.57 2.57 0.50 1.24 0.42 0.65 0.42 0.86 1.59 2.61 0.51 0.23 0.62 0.47 0.89 1.61 2.67 Fonte : RICYT Há uma longa polêmica no Brasil sobre as estatísticas referentes à C&T e, sobretudo, quanto à forma de aferição destes gastos por parte do setor privado (Erber, 2000). Contudo, é evidente que houve um processo de reestruturação da indústria brasileira nos anos 90, que acompanha mimeticamente a tendência da globalização e da abertura do mercado, resultando em uma renovação tecnológica seletiva e incremental em diversos setores. Segundo balanço estabelecido por Paulo Tigre e outros para os anos 90, o setor 15 produtivo brasileiro incrementou sua participação nos gastos em C&T, de 22% para 31% dos investimentos totais . Contudo, existem questões preocupantes, pelo lado do aumento das importações, que tem deteriorado sistematicamente a Balança de Pagamentos, saindo de um superávit de US$ 16 bilhões em 1992, para um déficit de US$ 9 bilhões em 1997. As importações triplicaram de 1992-1997, saltando de US$ 20 bilhões para US$ 60 bilhões, enquanto as exportações só cresceram 7,6 % ao ano, no mesmo período (Tigre e al, 1999 : 217). A forte entrada do capital internacional, através dos IDEs, por se configurar, principalmente, na aquisição de empresas estatais em serviços de telefonia, energia e bancos, não geram exportações. Ao mesmo tempo vêm aumentando sensivelmente o coeficiente de importação, que apenas no setor de eletroeletrônicos, no ano passado, foi superior a US$ 6 bilhões, sem mencionar o aumento na remessa de divisas para o exterior ( tabela 7). Portanto, a falta de uma política agressiva de exportações vai pesar sobre o déficit público, bem como a ausência de uma política industrial com ênfase nos setores intensivos em conhecimento, acabam por acelerar o grau de dependência tecnológica. Tabela nº 7 Remessas a título de importação de tecnologia – 1990/96 ANO U$$ MIL CORRENTES VARIAÇÃO EM RELAÇÃO EM AO ANO ANTERIOR 1990 209.000,00 1991 173.000,00 -17% 1992 158.000,00 -9% 1993 227.412,00 44% 1994 373.182,00 64% 1995 683.581,00 83% 1996 990.254,00 45% Fonte: Hasenclever, 1999 : in Maldonado (1999), “Tecno-Globalismo e Acesso ao Conhecimento”. O aumento das importações de equipamentos e de contratos tecnológicos evidencia que não estamos caminhando para uma melhor posição no mercado internacional, se continuamos optando, com raras exceções, pelas exportações das chamadas “vantagens comparativas naturais”. Muito embora o atual governo FHC tenha estabelecido no ano passado dez “fundos setoriais” de desenvolvimento científico e tecnológico, que provavelmente irão gerar uma substantiva fatia de mais de R$ 1 bilhão ano para C&T, a exemplo dos fundos do petróleo, do gás, da telefonia, da energia elétrica, transportes terrestres, recursos hídricos e minerais, atividades espaciais, além do fundo “verde amarelo”(universidade-empresa), nada ainda nos garante que estes recursos serão aplicados da melhor forma e se serão capazes de estabelecer um efetivo sistema nacional de inovação, pois como afirma Fábio Erber (op.cit:186), “em contextos onde predomina o investimento mínimo em ativos de C&T, o conceito parece ser de baixa aplicação”. O fundo ”verde-amarelo” é o único que cria nova contribuição e que não se destina a um setor industrial ou de serviços específico. Para se criar o programa Universidade-empresa, que é seu objetivo, deve ser paga uma contribuição de 10 % por pessoa jurídica que detenha licença de uso do conhecimento tecnológico e por quem tiver contrato com o exterior que impliquem transferência de tecnologia, exploração de patentes, uso de marcas, fornecimento de tecnologia e prestação de assistência técnica (Bittar, 2000). O Conselho Nacional da Indústria, as Câmaras de Comércio Americana e Alemã, bem como a indústria de fármacos14, foram frontalmente contrários à proposta. A indústria farmacêutica dos EUA não pensa em recuar no questionamento da lei de patentes do Brasil na Organização mundial de Comércio (OMC). Negociadores brasileiros reconhecem que a contestação dos EUA não visa apenas os fármacos. O ataque que fazem ao artigo 68 da Lei de Propriedade industrial brasileira, que trata da licença 14 16 Segundo o Professor Roberto Nicolsky, da UFRJ, a formatação dos fundos setoriais não permitirá que se estabeleçam as inovações tecnológicas necessárias, sobretudo porque mantém o mito de que “ é na universidade que se faz pesquisa e inovação tecnológica, contrariando tendências mundiais nos países de ponta em tecnologia, onde 75% das pesquisas são dirigidas para as inovações tecnológicas e realizadas no setor produtivo, mesmo garantindo um papel substantivo às universidades neste processo (Nicolsky, 2000, out). O rígido controle dos gastos públicos pelo FMI tem sinalizado justamente o contrário,quando o governo passa a cercear os recursos para a educação superior, sucateando lentamente o ensino público, seja através do achatamento salarial do setor, seja pelo corte nos recursos à pesquisa, entre outros. Como afirma Correa, (1993), a América Latina destina em torno de 0.6% de seu PIB à P& D .Em termos absolutos quer dizer que gasta por ano, em todas as áreas de Ciência e Tecnologia, menos que a IBM ou a General Motors e uma soma aproximada dos gastos da Toshiba. A Região encontra-se em uma desvantagem crítica, vis-à-vis os países desenvolvidos e, se quiser ter uma inserção menos passiva e dependente no comércio mundial, há que fazer um esforço redobrado, gradual, seletivo e constante em P&D. Tabela 8 Despesas Internas Brutas com P&D em países da OCDE Estados Unidos 2,55 Finlândia 2,37 França 2,33 Alemanha 2,30 Holanda 2,09 Reino Unido 2,05 Dinamarca 1,92 Noruega 1,71 Canadá 1,65 36,1 35,1 42,3 37,4 42,1 33,3 39,2 43,5 35,1 59,9 59,5 48,3 60,5 46,0 48,0 46,7 49,9 46,8 Fonte: L’Observateur de l’OECD 1998 O Brasil, país que tem uma posição diferenciada na região em termos de C&T, possui 73% dos seus engenheiros e cientistas trabalhando em instituições do ensino superior em regime de dedicação exclusiva e apenas 11 % nas empresas, o que resulta num setor empresarial de baixa competitividade tecnológica e reduzida capacidade para transformar ciência em tecnologia. Neste sentido, Carlos de Brito Cruz15, aponta a péssima distribuição de cientistas e engenheiros entre os três agentes do processo, a saber, governo, universidades e empresas, se comparadas com aquela existente nos países desenvolvidos, Estados Unidos, Japão e Alemanha, onde a indústria emprega em torno de 70%, desses profissionais, ou seja, uma inversão do caso brasileiro. Na Coréia, que não é um país do 1º Mundo, 75 mil cientistas e engenheiros dedicam-se a P&D nas empresas do país, enquanto no Brasil este número não ultrapassa os 9 mil (PRADO, 2001, A-3) compulsória, pode afetar políticas outras, como as de saúde, de nutrição, tecnológicas. In: Assis Moreira (2001), Gazeta Mercantil , 23 de Abril, p. A-19. 15 Atual presidente da FAPESP – Fundação de Apoio a Pesquisa do Governo do Estado de São Paulo e diretor do Instituto de Física da Unicamp. 17 Quadro 2 Número de pesquisadores por 10.000 pessoas da População Economicamente Ativa Argentina Brasil México 19 6 7 Chile 13 Coréia 49 Fonte: Chudnovsky (1998) Para Brito Cruz é um equívoco se atribuir a responsabilidade pela inovação tecnológica às universidades, pois a ela cabe produzir conhecimentos fundamentais, educar mas não gerar inovação. Tampouco a interação universidade-empresa seria a alternativa adequada para a superação do atraso tecnológico do país, pois de US$ 21 bilhões de todos os contratos para pesquisa no conjunto das universidades americanas em 1994, apenas 7%, ou o equivalente US$ 1,4 bilhão foram provenientes de contratos de empresas. Um outro argumento seu diz respeito a uma comparação que realizou sobre o número de patentes brasileiras e coreanas registradas nos EUA. No início dos anos 80 foram aproximadamente iguais, ou 10 patentes/ano. Já em 1998, a Coréia passou a registrar 1,5 mil patentes e o nosso país não ultrapassou as 300, o que deixa evidente o baixo nível de investimento do setor privado em pesquisa. Em 1999 a Coréia atingiu 3,5 mil e o Brasil 98. Tabela nº 9 Cientistas e Engenheiros em P&D por setor de estudos nos países do MERCOSUL País / Setor ARGENTINA BRASIL URUGUAI Ciências Exatas 4.543 11.768 588 Engenharia Medicina 1.689 7.765 858 1.407 6.107 1.231 Agrárias 1.487 7.607 1.123 Sociais e Outras Humanas 169 1.793 8.609 11.007 283 823 Total 11088 52.863 4.906 Fonte: UNESCO, Anuário Estatístico, 1991 . in:Correa (1993,: 25) O Programa de Apoio à Capacitação Tecnológica da Indústria (PACTI), tem representado um importante instrumento para ação na assim chamada Política Nacional de Desenvolvimento Tecnológico Industrial, implementada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. O Programa mereceu avaliação do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industria (IEDI, 2000), que reconhece seus pontos positivos, como a articulação de agentes, a disseminação de informações, a organização de seminários especializados, destacando os apoios à realização de projetos cooperativos; à constituição de Entidades tecnológicas Setoriais e ao Projeto Alfa, para a pequena e média empresa. Contudo, criticam a escassez de recursos e os parcos instrumentos, insuficientes para a promoção do desenvolvimento tecnológico nacional, uma vez que as restrições enfrentadas pela indústria nacional são de caráter mais profundo, estruturais, e que passam por uma competição muito desigual, tendo em vista a revolução tecnológica em curso na conjuntura mundial. Um outro aspecto que acentua as distorções existentes nas políticas tecnológicas brasileiras diz respeito aos investimentos desiguais do setor em termos regionais. Segundo o cientista Enio Candotti (2000), em 25 anos foram investidos cerca de R$ 11 bilhões, que somados aos R$ 3 bilhões da FAPESP, representaram RS$ 14 bilhões, contra R$ 4,5 bilhões para o restante do País. Ao olhar-se para o total dos investimentos aplicados em laboratórios e institutos de pesquisa e pósgraduação, no último quartel do século XX, englobando as fontes CNPq, CAPES e FINEP, chega-se a um resultado de R$ 5 bilhões que, somados aos valores das Fundações de Apoio à Pesquisa (organismos estaduais de fomento à C&T), totalizam 8,5 bilhões, excluindo-se os recursos dos Ministérios da Saúde e Agricultura. 18 As bolsas da CAPES e do CNPq, para o mesmo período foram equivalentes a R$ 10 bilhões Pois bem, a distribuição destes recursos é profundamente desigual, concentrando em torno de 75% na região Centro-Sul. Ainda conforme o ex-presidente da SBPC, nenhum indicador sócio-econômico justifica esta distribuição, uma vez que o Centro-Sul corresponde, em termos de PIB nacional, a não mais que 60% do total. Portanto, se houvesse esta equivalência, a distribuição dos recursos em C&T no País seria de R$ 11 bilhões para o Centro-Sul e R$ 7 bilhões para o restante do país, por mais que os “sulistas filósofos esclarecidos”venham a dizer, de modo preconceituoso e voraz, que seria igual a “jogar dinheiro fora”. Ø C&T no Mercosul Com relação às atividades de C&T específicas para o Mercosul, em que pese a natureza retórica das intenções, elas sofrem das mesmas restrições, anteriormente relacionadas neste trabalho (p.9) . As redes regionais de cooperação em C&T têm se ampliado, não há dúvidas, e com alguns avanços substantivos, sobretudo no que tange aos diagnósticos, mas uma política coordenadora, que defina prioridades, estruture programas e recursos, ainda não foi implementada, sofrendo, quer com a instabilidade macroeconômica, quer com o modelo de dependência tecnológica em vigor. No contexto do marco institucional do Mercosul o fórum específico de coordenação é a Reunião Especializada em Ciência e Tecnologia (RECyT)16, criada em 1992. Em dezembro de 1997, por ocasião da XV RECyT, aprovou-se o Programa de trabalho para o biênio 1998/1999, que demonstra ainda uma característica bastante preliminar e de reduzido escopo entre os seus princípios pontos : • A inclusão das áreas programáticas de química e química fina nas temáticas aplicadas, e da política de emprego no desenvolvimento tecnológico entre as temáticas sociais; • A criação de programas nacionais nos países membros para a implementação das atividades da RECyT; • A criação de um programa de Mestrado em Política de Inovação da Ciência e Tecnologia no âmbito do Mercosul; • O estudo sobre as leis de incentivo ao desenvolvimento e a inovação tecnológica ; • O estabelecimento de um conjunto de seminários temáticos relativos a questões de segurança alimentar; meio ambiente; tecnologias limpas; engenharia de alimentos, entre outras. • O planejamento de uma infraestrutura de rede INTERNET com conexão direta entre os quatro países, articulada com Internet 2 e com iniciativas similares na União Européia,entre outras. Recentemente foi lançado o plano de trabalho para 2000-200217, que tem como objetivo central o planejamento estratégico e seu acompanhamento, além de buscar maior articulação com os demais subGrupos de trabalho do Mercosul. Uma segunda área governamental de interesse é o Centro Brasileiro-Argentino de Biotecnologia (CBAB/CABBIO), criado a partir da Ata de Integração Bilateral (Protocolo nº9 – Biotecnologia), em 1986, cujo objetivo maior é o de promover a integração para o desenvolvimento em C&T em atividades comuns aos dois países. Nos últimos anos, mais de US$ 5 milhões foram investidos no Brasil e Argentina no CBAB. O RECyT se estrutura em uma coordenação nacional por país, com suas duas comissões temáticas também por país, a saber: i) sistema de Informação científico-tecnológico e interconexão de redes de informação; ii) capacitação de recursos humanos e projetos de pesquisa e desenvolvimento. 17 No Site do Ministério da Ciência e Tecnologia (www.mct .gov.br) pode-se encontrar em detalhe o leque de atividades, cursos, workshops realizados, em uma ampla gama de áreas ( Energia,Biotecnologia, Agro-Indústria, Meio Ambiente; Novos Materiais, Química Fina, Saúde, tecnologia Industrial, Propriedade intelectual, entre outros. 16 19 Em 1996, um estudo coordenado a partir da USP, Núcleo de Política e Gestão de C&T, abordou de forma ampla a política de gestão de pesquisa em biotecnologia, com destaque para a Argentina, Brasil e Chile (CyTEC-PGT-USP). Na Área de Tecnologia de Gestão, o governo brasileiro propôs um amplo programa de cooperação, assistência técnica e capacitação de recursos humanos em tecnologia industrial básica (TIB18), no âmbito do Mercosul, através da atuação dos Ministérios de Ciência e Tecnologia, do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior e das Relações Exteriores. A proposta centrou-se na eliminação dos entraves no fluxo de bens e serviços, resultante dos acordos comerciais e de negócios, a partir do mútuo reconhecimento dos sistemas nacionais de TIB dos 34 países do hemisfério participantes da ALCA. Diversos analistas reconhecem como incipiente a cooperação em C&T entre países do Mercosul, muito embora apontem um conjunto de medidas e diversas oportunidades no processo (Velho, 2001), (Plonsky e Furtado, 2001), a exemplo da existência na região de um número significativo de instituições de ensino e pesquisa com quadros profissionais de reconhecida capacidade e que têm, nos últimos 5 anos, descoberto a potencialidade do espaço regional. Há, neste campo, um longo processo a percorrer, de reconhecimento dos parceiros e estabelecimento de programas conjuntos que precisa ser firmemente apoiado. Segundo Plonsky e Furtado, a “análise das tendências recentes das exportações brasileiras e dos investimentos diretos externos19 no Brasil confirma que a importância econômica do Mercosul para este país é muito maior do que aquela que, em geral, lhe é atribuída”(ibidem: 65)”. E cabe aqui lembrar da necessidade de estudos aprofundados sobre o processo da ALCA, que corre simultaneamente à consolidação do Mercosul e que já tem, em termos não apenas políticos, mas de indústria e comércio exterior, representado prejuízos ao Brasil, como observados na recente crise vivida pela Argentina. Para concluir, importa afirmar que a ausência de uma política industrial clara e o não reconhecimento do papel da C&T numa política estratégica do desenvolvimento nacional e regional, tornam urgentes as palavras afirmativas do cientista argentino Jorge Sábato, no sentido em que : “La autonomia científica expresa la capacidad de decisión própia de um país para elegir, proyectar, programar, instrumentar y realizar su política científica”. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBAGLI, Sarita (1999), “Novos Espaços de Regulação na Era da informação”. In: LASTRES,Helena e ALBAGLI, Sarita: Informação e Globalização na Era do Conhecimento. Pp: 290:313. São Paulo: Campus. 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