Falecimento de Vivaldo da Costa Lima (22/09/2010). Jeferson Bacelar e Carlos Caroso homenageiam o mestre baiano Vivaldo da Costa Lima nasceu em Feira de Santana, Bahia, no dia 10 de abril de 1925. Graduou-se em Odontologia, profissão que exerceu por pouco tempo, como resultado de sua paixão pelos estudos antropológicos. Sofisticadamente erudito e conhecedor do pensamento antropológico de matriz européia, compartilhou com George Agostinho da Silva a criação do Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBA em 1959. Cedo seguiu pra a África, onde tornou-se Leitor de Estudos Brasileiros, na Universidade de Ibadan, na Nigéria e na Universidade de Gana. Em 1966, substituiu o professor Thales de Azevedo, na cadeira de Antropologia, na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA. Vivaldo não seria apenas o acadêmico, ele queria interferir na realidade e assim tornou-se fundador e Diretor da Fundação do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, inicialmente voltada para a restauração e valorização do Pelourinho em Salvador. Foi responsável por romper com a mentalidade de restauração do patrimônio urbano com exclusão social, criando no Pelourinho o que denominava uma "universidade do fazer", aliando teoria e prática, envolvendo uma equipe multidisciplinar que composta por arquitetos, educadores, restauradores, assim como antropólogos e médicos, entre outros profissionais. Mais que um professor, Mestre de Gerações, pois, como repetia: ensinar, transmitir conhecimento era fundamental a sua vida. Suas aulas, palestras, conferências sempre foram conduzidas com “rigorosa indisciplina”. Cada texto, cuidadosamente elaborado com se fosse para ser submetido a um periódico de primeira linha, tinha sua leitura intercalada por comentários e referências que aprofundavam cada frase, cada idéia, cada achado, impressionando a todos que o ouviam e prendendo a atenção de estudantes, colegas, leigos. Todos mimetizados por sua retórica e sempre perfeitamente colocados comentários, com pitadas de ironia e tempo perfeitamente calculado para aguçar a curiosidade intelectual dos que o ouviam. Aulas memoráveis, em todos os sentidos, até no destempero das palavras e imprevisibilidade do curso que tomariam!.... Todas, contudo, críticas, instigantes, desafiadoras!... Continuam a reverberar nos ouvidos e sentimentos dos que foram docemente desafiados e agredidos por suas idéias. Personalizava a relação com cada estudante, perguntava e comentava sobre suas genealogias, relações familiares, ascendentes e descendentes; ao encontrar seus amigos e ex-alunos a pergunta sobre a família, pais, irmãos, esposas, filhos era feita de maneira sempre esperada, mas, surpreendente. Em 2005, quando completou 80 anos foi homenageado por seus discípulos com a realização de um evento que trouxe a Salvador vários de seus amigos e admiradores pára falar sobre seu trabalho. Agradeceu a homenagem com a magistral e inesquecível conferência em que reconstruiu história a social da alimentação na Bahia com o Acarajé como parte da culinária afro-baiana. Foi Homenageado com titulo de Professor Emérito pela UFBA e recebeu a Medalha Roquette Pinto da ABA por sua destacada contribuição para o campo da Antropologia. Avesso a finalizações, escreveu e re-escreveu muito, mas privou os que conheciam e desejavam ler seus trabalhos publicando só esparsamente e, quase sempre, textos “tomados” de suas mãos por outros que, muitas vezes, contra sua vontade pois sempre considerava todos inacabados, os levaram a publicação. Destaca-se de sua produção intelectual o clássico sobre a "Família-de-santo no Candomblé Gêge Nagô" que obteve reconhecimento nacional e internacional. Nos últimos anos dedicou-se aos estudos de Antropologia da alimentação, temática que dominava como poucos. Preparava vários livros para publicação através da Editora Corrupio em Salvador. Lúcido até os seus últimos momentos, faleceu hoje, dia 22 de setembro de 2010. Salvador, 22 de setembro de 2010 Jeferson Bacelar & Carlos Caroso