FORMAÇÃO DE PROFESSORES NA FINLÂNDIA: UMA ANÁLISE DOS DOCUMENTOS OFICIAIS Thyara Antonielle Demarchi 1 Rita Buzzi Rausch 2 RESUMO: Este artigo faz parte de uma pesquisa mais ampliada e em andamento do Programa de PósGraduação em Educação (PPGE) da Universidade Regional de Blumenau (FURB). Neste artigo contextualizamos uma análise dos documentos oficiais finlandeses a respeito da formação de professores e do sistema de ensino finlandês. Esta pesquisa caracteriza-se como de abordagem qualitativa e documental, tendo como objetivo “compreender o que dizem os documentos oficiais a respeito da formação de professores”, buscando respostas para a indagação: “o que dizem os documentos oficiais da Finlândia a respeito da Formação de Professores?” O principal suporte teórico são os autores Sahlberg (2011) e Hämälainen (2013). Como resultados, constatamos que as reformas educacionais na Finlândia, primam criar um país com bases e fundamentos no conhecimento, na igualdade e na inclusão. Além disso, a formação de professores (inicial e continuada) reflete diretamente o cotidiano escolar e a aprendizagem dos estudantes, na autonomia e cooperação mútua. PALAVRAS-CHAVE: Educação na Finlândia. Formação de professores. Currículo Nacional e Local. 1 Introdução A formação de professores e todo o Sistema de Educação da Finlândia são reconhecidos mundialmente devido ao fato de ser um sistema de ensino totalmente público e gratuito, em que toda população tem acesso, e, além disso, devido aos resultados dos rankings do PISA dos anos de 2000, 2003, 2006 e 2009. No que diz respeito ao PISA, a Finlândia alcançou o mais alto patamar no quesito avaliação em nível mundial em diversas áreas, destacando-se, principalmente na Matemática e Literatura. Pensar neste tipo de avaliação internacional e em conseqüência seus resultados torna-se relevante analisar a forma como o currículo nacional finlandês e local é prescrito, como funciona o sistema de ensino finlandês, no que diz a literatura a respeito da formação de professores. Ressaltamos que no dia 23 de maio de 2013, em um seminário3 na cidade de São Paulo, a diretora do Ministério da Educação e Cultura da Finlândia, Jaana Palojärvi comentou a respeito do sucesso finlandês, dizendo que: [...] não tem nada a ver com métodos pedagógicos revolucionários, uso da tecnologia em sala de aula ou exames gigantescos como ENEM ou ENADE. Pelo contrário: a Finlândia dispensa as provas nacionais e aposta na valorização do professor e na liberdade para ele poder trabalhar. 1 Pedagoga, Mestranda e bolsista CAPES do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Regional de Blumenau (PPGE-FURB) 2 Doutora em Educação e Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Regional de Blumenau (PPGE-FURB) 3 Seminário Internacional sobre o Sistema de Educação na Finlândia promovido pelo Colégio Rio Branco (Fundação Rotarianos de São Paulo) no dia 23 de maio de 2013 na cidade de São Paulo. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=ge4sMUv8Vv8&hd=1> Acesso em: dezembro de 2013. 2 A partir destas informações é preciso considerar a importância de uma análise em âmbito internacional, no que concerne, principalmente, a formação de professores, compreendendo que a partir destas reflexões possa-se visualizar e indicar possíveis avanços e mudanças na formação de professores em outros países e em diferentes contextos. Este artigo é parte de uma pesquisa, mais ampliada e em andamento, da Linha de Pesquisa: Processos de Ensinar e Aprender e do Grupo de Pesquisa: formação e atuação docente, que é integrada no Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Universidade Regional de Blumenau (FURB), em Blumenau. A pesquisa de dissertação, em andamento, tem como objetivo geral: “compreender os princípios teóricos e metodológicos da formação inicial em universidades finlandesas”. Portanto, este artigo caracteriza-se como de abordagem qualitativa e documental. Assim, pretende-se com este artigo alcançar o seguinte objetivo: “compreender o que dizem os documentos oficiais a respeito da formação de professores” com base nas análises e reflexões que parte da questão problema: “o que dizem os documentos oficiais da Finlândia a respeito da Formação de Professores?” Portanto, propõe-se promover um diálogo entre a reflexão dos autores finlandeses Sahlberg (2011) e Hämälainen (2013), principalmente, a respeito do sistema de ensino e da formação de professores, com os documentos nacionais oficiais e locais da Finlândia, neste caso da Universidade de Helsinque. Para tanto, os documentos analisados correspondem aos do Ministério de Educação e Cultura da Finlândia (FINLÂNDIA, 2004); do Departamento de Educação e Professores da Universidade da Finlândia (UNIVERSIDADE DE HELSINKI, 2011), da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO, 2010; 2011), do Conselho Nacional de Educação da Finlândia (FNBE, 2008), Decretos da Constituição, entre outros. Analisamos documentos como, por exemplo, o Programa de Governo do Primeiro Ministro Jyrki Katainen (Programme of Prime Minister Jyrki Katainen’s Government) (FINLAND, 2011) e Plano de desenvolvimento de educação e pesquisa de 2011 à 2016 (Education and Research 2011-2016: A development plan, 2012). Além disso, os decretos referentes as universidades Finlandesas, e a Constituição do país, com direitos relacionados à educação. Outros documentos que foram utilizados neste artigo, são referentes as qualificações necessárias dos professores para atuar em sala de aula em todos os segmentos da educação finlandesa. Em vista disso, este artigo está organizado em três partes, em que a primeira apresenta a introdução na qual constam o tema, o problema e o objetivo da investigação, os principais teóricos e a metodologia da pesquisa. Na segunda parte apresenta-se a fundamentação teórica e a análise concomitante, em que refletimos acerca do funcionamento do sistema de educação e a formação de professores na Finlândia, articulando dados dos documentos com a teoria de suporte da pesquisa. Nas conclusões, terceira parte deste artigo se apresenta os resultados das análises, e algumas recomendações. 1 Formação de professores na Finlândia: contextualização e análise A Finlândia passou por momentos definitivamente marcantes nos últimos anos, que a definiram como um dos países de educação de qualidade, a partir de reformas educacionais, mudanças políticas, sociais e econômicas. Um exemplo disso foi a reforma educacional ocorrida em 1979, principalmente na educação de professores da Finlândia, que propôs mudanças e definiu uma nova filosofia, baseada, principalmente, na pesquisa. Portanto, esta filosofia defendia que todas as crianças poderiam ter acesso ao conhecimento, à aprendizagem, e de que, além disso, é preciso dar oportunidades para que isso aconteça. Defendia ainda que a partir da diversidade humana é possível atingir importantes objetivos educacionais, orientando para que as escolas funcionassem, em pequena escala, como 3 democracias, conforme John Dewey refletia. (SAHLBERG, 2011) A igualdade e a qualidade de acesso à educação é um direito de todos, e de acordo com o documento do Governo do Primeiro Ministro Jyrki Katainen: Em qualquer atividade educacional, científica ou cultural, esporte ou trabalho com os jovens, o princípio da igualdade deve ser aplicada. Todas as pessoas devem ter igualdade de acesso aos serviços de qualidade consistente. (FINLAND, 2011, p. 50, tradução nossa) Toda a educação na Finlândia é pública e gratuita e nos dias de hoje, o sistema de ensino finlandês é divido em diferentes momentos, que compreendem o ensino de crianças desde o nascimento até seis anos de idade, definidas como Pré-escola (Pre-Primary Education), em que as crianças podem ir para os chamados Creches ou Instituições de Educação Infantil (Day-Care Centres or Kindergartens). É necessário que os professores em Instituições de Educação Infantil tenham no mínimo uma formação em grau de nível secundário (secondary-level degree) na área de bem-estar social e de cuidados de saúde, bacharel ou enfermagem. Outro requerimento do Ministério da Saúde e Assuntos Sociais (Ministry of Social Affairs and Health) é no mínimo três professores com Mestrado em Educação, ou Bacharelado em Educação ou em Ciências Sociais. No caso de professores de pré-escola, é necessária a formação em Bacharel. Fica evidente, além disso, a necessidade de estudos adicionais pedagógicos. (FINLAND, 2004). Portanto, para que a igualdade educacional seja realizada, é essencial que todas as crianças tenham a oportunidade de acesso a uma base sólida no aprendizado, o que inclui a Educação infantil e a Educação Básica (early childhood education and basic education), e que os alunos e estudantes com necessidades especiais e em risco de exclusão têm acesso a uma diversificada gama de graus de apoio. (FINLAND, 2012) Com base nisso, destaca Sahlberg: A Educação Infantil é um direito para todas as crianças antes de iniciarem na escola a partir dos sete anos de idade, e o serviço de saúde pública é facilmente acessível durante toda a infância. Educação na Finlândia é amplamente vista como um bem público e, portanto, é protegida como um direito humano básico a todos na Constituição. (2011, p. 10, tradução nossa) Outro ponto que chama muita atenção no Sistema de Educação Finlandês é a Educação Especial, ofertada em conjunto com a Educação Básica do referido país, prioritariamente. Em alguns casos, é dada uma atenção especial aos estudantes com necessidades especiais que envolvem aspectos emocionais e de desenvolvimento, oportunizando classes especiais, em locais apropriados, com currículo individual, desenvolvido e pensado a partir das singularidades de cada criança. A Educação Básica compreende o ensino de crianças dos sete aos dezesseis anos de idade, sendo que a partir dos sete anos de idade – corresponde à obrigatoriedade e direito de acesso às escolas. Estes diferentes espaços educacionais correspondem à Educação Básica em que começam pelo ensino obrigatório (Compulsory Education), que são organizadas pelos governos locais muitas vezes, com crianças da mesma idade, mas, o que nada impede de ser organizada com crianças de idades diferentes. Com essa autonomia, as escolas podem organizar sua própria regulação curricular de acordo com as necessidades das crianças que estão naquele espaço e, além disso, todo o contexto. Com base nisso, “professores escolhem seus próprios métodos de ensinar e tem liberdade para selecionar seus próprios materiais de ensinar”. (FNBE, 2008, p.07, tradução nossa) Após finalizar a Educação Básica (Comprehensive School ou Compulsory Education), os adolescentes podem escolher que caminho seguir, podendo ser o Ensino Médio (General Upper Secondary Education) ou 4 Ensino Vocacional (Vocational Upper Secondary Education), em que praticamente a maioria dos alunos inicia imediatamente nestes estudos após a Educação Básica. Vale ressaltar que: “Escolas de Ensino médio e vocacionais promovem uma educação geral, em que é organizada e dividida em cursos ao invés de classes por anos, permitindo aos estudantes autonomia na escolha de seus próprios cursos.” (FNBE, 2012, 03, tradução nossa). A Educação Vocacional é compreendida com cursos opcionais, o que inclui “onthe-job learning in companies”, ou seja, contato direto com as empresas, uma forma de aprendizagem na prática, equivalente a três anos de estudos, em que o currículo é pensado a partir de conhecimentos gerais de habilidades e competências profissionais, requeridas para a qualificação nas Escolas Vocacionais (Vocational Schools). O currículo para Educação vocacional (Vocational Education and Training) é organizado a nível nacional, com base no Currículo Nacional (National Core Curricula) especificados pelo Ministério de Educação e Cultura. (FNBE, 2011). Mesmo tendo uma qualificação nas escolas vocacionais ou ensino médio normal, os estudantes têm a oportunidade de continuar seus estudos, no ensino superior, seja em Universidades ou Politécnicas. No caso das Universidades é preciso fazer um exame, ou seja, teste de matrícula. (SAHLBERG, 2011) As Politécnicas adotam metodologias voltadas às habilidades e às práticas de seus estudantes, e no caso das Universidades, elas têm sua maior ênfase na pesquisa científica. Diante disso, vale ressaltar o que diz a legislação finlandesa, correspondente à Polytechnics Act 351/2003 (FINLAND, 2003, p. 01, tradução nossa): “Politécnicas fazem parte do sistema de ensino superior. Politécnicas e Universidades constituem juntas o sistema de ensino superior.” A formação nas universidades leva cerca de três a cinco anos, dando a possibilidade de fazer Bacharel e Mestrado. Algumas Universidades ainda oferecem aos estudantes Especialização, Licenciatura e Doutorado, bem como, algumas Politécnicas também oferecem estudos de Pós-Graduação. (FNBE, 2008). Compreende-se então que as escolas politécnicas disponibilizam oportunidades aos estudantes em formarem-se como Bacharéis politécnicos e Mestres politécnicos, conferindo o primeiro e o segundo ciclo de grau de formação. Para tanto, as politécnicas têm a missão de cooperação conjunta com negócios e indústrias, e ainda, outros setores do mercado de trabalho. (FINLAND, 2003) A aproximação dos estudantes com o contexto em que estão inseridos e os sujeitos com os quais se relacionam levam por base a cultura e a tradição, em que os “estudantes familiarizam-se com as tradições e práticas passadas da educação finlandesa” (HELSINKI, 2011, p.04). Um exemplo disso é o Departamento de Educação da Universidade de Helsinque que promove a diversidade no ensino de novos professores, agrupando a isso, principalmente, a pesquisa, como fonte primária de desenvolvimento e conhecimento. Os professores têm a possibilidade de se aprofundar em áreas bem específicas, envolvendo-se em projetos vinculados à prática em sala de aula. De acordo com o documento disponível no site do próprio Departamento de Educação de Professores (Department of Teacher Education), que faz parte da Faculdade de Ciências Comportamentais (Faculty of Behavioural Sciences) da Universidade de Helsinque, são oferecidos ao todo seis diferentes programas de ensino. Portanto, o objetivo do Departamento de Educação de Professores da Universidade de Helsinque é “promover responsabilidade global e desenvolvimento sustentável, e também responder aos desafios presentes no crescimento do multiculturalismo” (HELSINKI, 2011, p.03, tradução nossa) Neste sentido, a formação de professores na Finlândia preocupa-se muito com o contexto onde ocorre determinada formação. De acordo com o documento FNBE, “os finlandeses iniciam seus estudos no ensino superior muito mais tarde comparado a outros países” (2012, p.05, tradução nossa) A estrutura pensada e organizada pelo Governo Finlandês, em âmbito nacional, para a formação de professores contempla diferentes áreas de conhecimento, consideradas a base para posterior Mestrado, chamado de Bacharel em 5 Ciências da Educação. De acordo com o Decreto do Governo em Graus Universitários 794/2004, capítulo 04, seção 20 (FINLAND, 2004, p. 07), o grau de Mestre em Ciências da Educação podem incluir estudos como: “[...] professor de classe, formação de professores para necessidades especiais e gestão escolar [...]” os quais abordaremos em seguida, mas, referentes ao currículo local, da Universidade de Helsinque. Além disso, em cada um desses cursos oferecidos pelo Departamento, a pesquisa é introduzida desde o início dos estudos, incluindo, ainda, períodos de prática ou estágios supervisionados. A partir da análise destes documentos, é nítido o quanto as pesquisas têm ênfase em todos os âmbitos, seja educacional, econômico, social, cultural e da saúde na Finlândia, em que busca uma constante cooperação entre universidades, escolas e comunidade, onde a “[...] prática dos professores têm espaço na formação de professores em escolas, campos escolares e jardins de infância”. (HELSINKI, 2011, p. 04, tradução nossa) Dentre todos os programas desenvolvidos na formação de professores no Departamento de Educação de Professores da Universidade de Helsinque, é preciso compreender suas diversas habilitações, como por exemplo, o programa Educação de professor de classe (Class Teacher Education), que habilita professores para lecionar no primeiro ao sexto ano da Escola Básica. O objetivo deste programa é formar os professores em diversos âmbitos, em que “[…] o programa apóia o desenvolvimento do pensamento pedagógico em estudantes e seu crescimento no trabalho e como professor pesquisador.” (HELSINKI, 2011, p. 04, tradução nossa). O programa de Estudos artesanais e educação de professores artesãos (Craft Studies and Craft Teacher Education) propõem uma formação mais voltada para habilidades relacionadas à pesquisa e à prática de determinados processos, bem como, seu design e o ciclo de produção. O programa Ciências Econômicas domésticas e educação de professores para economias domésticas (Home Economics Science and Home Economics Teacher Education) tem maior ênfase na multidisciplinaridade, diversidade e pesquisa, desenvolvendo habilidade para aconselhamentos, gestão e planejamento de pesquisas e negócios. No programa Educação de professores para educação infantil (Kindergarten Teacher and Early Childhood Education), a qualificação do professor é para lecionar em Instituições de Educação Infantil e Pré-primárias. (HELSINKI, 2011) Além destes cursos voltados para a formação de professores, a Universidade de Helsinque oferece ainda a Educação Especial (Special Education), em que o Mestrado é obrigatório para atuar neste campo de ensino e aprendizagem. Nos estudos de Educação Especial incluem-se competências profissionais e também programas de estudos pedagógicos (FINLAND, 2008) Segundo Hämälainen (et al, 2013, p. 05, tradução nossa): “Os professores da Educação Especial, como também as diretrizes e conselheiros dos estudantes se especializam depois de completar o Mestrado (ou equivalente) no campo profissional relevante”. Outro campo de estudos do Departamento da Universidade de Helsinque é a Subject Education, que habilita o professor a atuar em escolas de Educação Básica, de Ensino Médio e Educação de Adultos (Adult Education). Compete a uma formação em áreas específicas, por conhecimento, como, por exemplo, Teologia, Biologia, Faculdade de Artes, Ciências, Ciências Sociais entre outros. É possível participar deste curso mesmo depois de completar o Mestrado, como uma forma de ensino complementar, podendo ser finalizado em até um ano. Esse programa de estudos inclui discussões sobre educação, didática e prática do professor. (HELSINKI, 2011). Algumas áreas de atuação em escolas exigem que o professor tenha no mínimo mestrado, muitas vezes, é obrigatório o Mestrado em áreas bem específicas. Deste modo é possível acrescentar, conforme o documento da Organização de Economia, Cooperação e Desenvolvimento (OECD) que: “a dissertação facilita o futuro acesso do professor para pesquisas orientadas e para o trabalho, e enfatiza a compreensão do processo de criação de novos conhecimentos no seu campo de ensino e aprendizagem.” (2010, p. 17, tradução nossa). 6 Com isso, refletimos sobre a pesquisa em conjunto com a prática em escolas, que possibilita aos professores e futuros professores pesquisarem em suas dissertações temas e problemas reais do cotidiano escolar. Deste modo, formam-se professores que refletem sobre os seus estudos e práticas na universidade e nas escolas, desenvolvendo e adquirindo novos conhecimentos de suma importância. Diante disso, de acordo com o Decreto do Governo em Graus Universitários 794/2004 (Government Decree on University Degrees 794/2004), capítulo 04, seção 18, o objetivo para formação de professores “[...] é equipar o estudante com conhecimentos e habilidades para o trabalho autônomo como professor, um conselheiro e um educador.” (FINLAND, 2004, p. 06, tradução nossa). O que de certa forma nos faz refletir sobre a leitura em outros documentos, principalmente da Universidade de Helsinque, a respeito da pesquisa e dos estudos desenvolvidos, em todos os programas do Departamento, voltados para Multiculturalidade e Diversidade, “que se tornou parte essencial na vida e no cotidiano em todas as escolas e jardins de infância” (HELSINKI, 2011, p.04, tradução nossa). Portanto, a pesquisa é algo presente em todos os momentos da formação, seja de professores, ou de qualquer outro profissional. Existe além das pesquisas desenvolvidas na formação de professores, um envolvimento direto com as escolas e a comunidade. Nesse sentido: Nas instituições de ensino superior, o espaço de trabalho (escolas) está incluído como um requisito de grau e os alunos muitas vezes escrevem teses que servem de trabalho às necessidades da vida. [...] Estes contatos com a vida profissional deve ser intensificado para manter o conteúdo de educação up-to-date e para dar aos alunos uma visão clara possível de suas futuras carreiras profissionais e também para melhores perspectivas de emprego. (FINLAND, 2012, p.17, tradução nossa) Na Finlândia a profissão professor é muito admirada e principalmente, valorizada pelas comunidades locais. É uma exceção a nível mundial, pois, esta profissão na Finlândia continua muito atrativa e existe uma procura muito grande, principalmente em estudos na área de educação, em que os programas de formação de professores recebem cerca de oito vezes mais procura do que outros tipos de estudos. (HÄMÄLÄINEN, 2013) Mesmo o motivo da grande procura por esta profissão a longo período, o salário não é a motivação. Portanto, em contrapartida, ainda com base nas análises e leituras dos documentos, viu-se, ao mesmo tempo, que a educação finlandesa está enfrentando uma “situação difícil”, em que: “As organizações devem ser capazes de recrutar novos funcionários competentes para substituir funcionários que tenham atingido a idade da aposentadoria” (FINLAND, 2012, p. 60, tradução nossa). Apesar disso, há grandes desenvolvimentos neste campo, mostrando-se muitos positivos quando comparados com os de outros países. O salário de um professor finlandês melhora de 63 por cento do salário inicial para o topo da escala salarial (FNBE, 2012). Para tanto, será necessário, e é meta do governo finlandês melhorar a qualidade de ensino e formação, sendo vista como um fator chave, diretamente relacionada com a eficácia do ensino, aprendizagem e formação, bem como, de igualdade aos indivíduos. (FNBE, 2013) É bom acrescentar ainda que o Governo finlandês: [...] registra mais um objetivo para a educação finlandesa e a política cultural, a garantia da igualdade de oportunidades e o direito à cultura, ao ensino gratuito e de qualidade e pré-requisitos para a cidadania plena para todos, independentemente da sua origem, ou posição econômica. (FINLAND, 2012, p.11, tradução nossa) Os estudantes são selecionados para a entrada em cursos de formação de professores e passam por um processo muito difícil e competitivo, que tem por base resultados de exames de matrícula, histórico escolar, além disso, um exame escrito baseado na pedagogia, levando em conta habilidades e competências de interação social. Depois de todas 7 essas etapas, os estudantes passam por um processo de entrevistas, em que são questionados a respeito da sua escolha pela profissão professor. Somente os melhores estudantes são capazes de preencher vagas nessa profissão. A escolha para tal profissão não se justifica pela alta remuneração, mas, pelo prestígio dado pela sociedade, pela autonomia que o professor tem em sua profissão e também na produção de conhecimento científico e habilidades adquiridas no decorrer da sua formação, bem como, posteriormente, a atuação em sala de aula como professor. (SAHLBERG, 2011) A respeito da procura pela profissão professor o Governo Finlandês apresenta metas a serem atingidas com o intuito de aumentar essa atratividade, melhorando cada vez mais as condições de trabalho. Além disso, destaca a importância em aumentar os estudos pedagógicos, multiculturais, cooperação entre professores e pais nesta área de formação de professores. A formação continuada também é pontuada como uma das metas do Governo que deverá ser vinculada cada vez mais com as pesquisas que de certa forma servirão para o desenvolvimento da educação e das políticas educacionais. (FINLAND, 2011) Assim a “atratividade pode ser melhorada por meio de uma boa política de recursos humanos e o desenvolvimento das condições de trabalho dos professores, bem como, um contributo para a educação profissional contínua.” (FINLAND, 2012, p.60, tradução nossa). O Currículo Nacional, desenvolvido pelo Conselho Nacional de Educação da Finlândia (FNBE, 2008), a partir do Ministério de Educação e Cultura da Finlândia, ressalta a autonomia das autoridades locais, das escolas e professores em planejar e transformar as políticas locais, regulações curriculares sensíveis e aproximadas do contexto. Portanto: Os instrumentos fundamentais para o desenvolvimento da educação, formação e ensino incluem legislação, o Currículo Nacional Core e Requisitos de qualificação, a prestação de disposições e provisão, financiamento, monitoramento e avaliação da educação e formação, os professores e as suas competências, ambientes de aprendizagem e implementação de ensino, bem como a liderança. [...] Além disso, o FNBE vai promover a flexibilidade dentro do sistema de ensino, entre as diferentes habilitações e os diferentes níveis de ensino. (FNBE, 2011, p.11, tradução nossa) Não existe uma “grade fixa” para todas as escolas finlandesas. Os estudantes estudam o que têm interesse, tendo a liberdade em escolher o que planejar para seus estudos. A autonomia é um ponto que chama atenção no que se relaciona, principalmente, a construção de um currículo que abrange a equidade e igualdade entre os sujeitos na comunidade finlandesa. De acordo com Hämälainen et al (2013, p. 02, tradução nossa): Em outras palavras, é possível elaborar seu próprio currículo para pré-escola (PrePrimary) e Educação Básica (basic education) com base no quadro do currículo nacional (National Core Curriculum). Estes currículos podem ser preparados pelos municípios, instituições individuais ou ambos. Todas as universidades são mantidas pelo estado, mas, em compensação, tem uma extensiva autonomia em que “cada universidade deveria formular suas próprias estratégias em harmonia com as políticas nacionais, e mesmo que eles não são atualizados com freqüência, têm continuamente efeitos sobre o planejamento dos currículos.” (OECD, 2010, p. 16). Com base nisso, vale ressaltar o documento do Conselho Nacional de Educação da Finlândia (FNBE, 2008, p. 02, tradução nossa) em que trata que o: “[...] objetivo central da Política Educacional da Finlândia é promover para todos os cidadãos oportunidades iguais de educação, independente da sua idade, lar, situação financeira, sexo ou língua nativa”. Além disso, o Currículo Nacional inclui objetivos gerais e diretrizes educacionais com princípios contextualizados para um bom aprendizado. 8 Os currículos para Pré-escola e Educação Básica têm por base o Decreto do Governo 422/2012 (Government Decree 422/2012), que foi introduzido nas escolas em Agosto de 2006. Este Decreto, a nível nacional, teve um importante impacto na formação inicial e continuada de professores (CPD = Continuing Professional Development), principalmente no momento das mudanças do Currículo Nacional, no que concerne aos objetivos e carga horária dos professores na Educação Básica. (HÄMÄLÄINEN et al, 2013). Dessa forma, podemos verificar o quanto as mudanças nos currículos podem, e refletem diretamente em todos os espaços educacionais, seja na educação básica ou na formação de professores. A formação continuada de professores na Finlândia ocorre em parceria com universidades e escolas, em todo o território da Finlândia. Um exemplo disso é o projeto Osaava Verme4, lançado em 2010, que consiste basicamente em um grupo de mentores, em que professores experientes e iniciantes compartilham suas dúvidas e experiências resultantes do trabalho nas escolas e de estudos nas universidades. Esses encontros têm o objetivo de desenvolver e formar professores, em forma de trocas de ideias, em que envolvem professores de diferentes áreas. É uma forma de compartilharem seus conhecimentos, que muitas vezes ficam escondidos. São reuniões mensais, encontros esporádicos, para discutirem e compartilharem melhores métodos de ensino, em que, vale ressaltar, crianças não são expostas de nenhuma maneira. O principal objetivo de Osaava é manter ativa a autonomia e responsabilidade das instituições em definir seus próprios momentos de formação e desenvolvimento de conhecimento, habilidades individuais, o trabalho nas comunidades, e, além disso, renovar e modernizar continuamente os modelos e métodos dos professores. (HÄMÄLANAINEN, et al, 2013) Mediante os fatos expostos, é possível verificar que as metas do Governo Finlandês no que concerne todo o sistema de educação e a formação de professores, busca melhorar de todas as formas os processos de ensinar e de aprender e principalmente a qualidade e a igualdade de acesso ao conhecimento. Refletir a respeito de todas essas considerações nos leva a cogitar o quanto o currículo prescritivo sofre mudanças e tem por objetivo valores fundamentais para a educação de crianças, adolescentes, adultos e professores. 3 Considerações finais A presente pesquisa nos permitiu constatar que a formação de professores nos auxilia a uma reflexão cuidadosa sobre o sistema de ensino finlandês, a importância da pesquisa durante a formação de professores, o currículo prescritivo a nível nacional, a autonomia na construção do currículo local e, principalmente, ao olhar atento a diferentes sistemas de ensino e formação de professores no âmbito internacional. Na análise dos documentos oficiais nacionais e locais foi possível verificar o quanto existe uma preocupação em torno da cooperação entre professores e comunidade, a parceria entre diferentes instituições educacionais, a pesquisa durante a formação e posterior a ela. A partir desta análise de documentos finlandeses encontramos pontos fundamentais, cruciais para pensar a formação de professores, como, por exemplo, o tipo de formação oferecida nas universidades. Outro ponto crucial, que vale ser destacado, é o período de formação dos futuros professores, e principalmente, a obrigatoriedade em ter uma qualificação à nível de mestrado para lecionar a partir do ensino primário. Fator este que nos faz refletir sobre uma formação pedagógica, em que é preciso selecionar professores qualificados e adequados para as posições na comunidade escolar. Mediante o que foi 4 “Osaava”, em inglês “Capable”, em português Capaz, Hábil. Mais informações disponíveis em: <www.osaavaverme.fi> Acesso em: outubro de 2013. 9 exposto, vale ressaltar o autor finlandês Sahlberg, que aponta o “segredo” da formação de professores na Finlândia: A formação de professores é baseada em uma combinação de pesquisa, prática e reflexão, o que significa que deve ter o suporte do conhecimento científico e estar focada em processos de pensamento e habilidades cognitivas utilizadas na realização de pesquisas. (2011, p.35, tradução nossa). Para tanto, ressaltamos mais uma vez que é meta do governo finlandês melhorar cada vez mais a qualidade de ensino e principalmente da formação de professores, ou seja, um fator chave, que está diretamente relacionado à eficiência do ensino e da aprendizagem bem como, de igualdade aos indivíduos do cotidiano escolar, e, além disso, na formação de professores. As reformas do sistema educacional são de certa forma, pontos chaves de mudanças ou um tipo de impulso à mudança, o que abrange em todos os níveis da educação, que tem principalmente o objetivo de melhor atingir e apoiar os objetivos da educação no país. Tudo isso inclui a melhoria das taxas gastas nos estudos, uma mais rápida transferência ao trabalho, administração aprimorada, a melhoria da qualidade de ensino e pesquisa, a internacionalização e o perfil das instituições de ensino superior em suas áreas de mais vigor. Ao pensar e refletir sobre a formação de professores na Finlândia é preciso reiterar que durante toda a formação é estimulado o contato com escolas e diferentes instituições. Em vista disso, pode-se concluir que a aprendizagem não termina com diploma ou uma mera qualificação, mas continua ao longo da vida, sendo um eterno aprendizado na vida do professor. Outro objetivo do governo finlandês é dar atenção especial ao reconhecimento da aprendizagem prévia para que os conhecimentos e habilidades adquiridas anteriormente, dentro e fora da escola, possam ser levados em consideração, como uma qualificação tão plena quanto possível. Ser considerada uma das nações mais competentes do mundo requer constante desenvolvimento de educação e uma formação que contemple todas as necessidades presentes no cotidiano escolar, principalmente para garantir a inserção de professores competentes e qualificados. Refletir e compreender estas considerações dos documentos analisados neste artigo em relação à formação de professores e ao sistema de ensino, é pensar além da educação formal, que abrange todo o contexto escolar, as experiências e conhecimentos prévios dos estudantes/professores em uma perspectiva internacional, de certa forma coletiva e de cooperações entre indivíduos e diferentes instituições de ensino. REFERÊNCIAS EUROPEAN PARLIAMENT. 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