ÁREA TEMÁTICA: Sociologia da Educação
ENTRE A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E O MERCADO DE TRABALHO: UMA
INVESTIGAÇÃO A PARTIR DO COTIDIANO PEDAGÓGICO DE ALUNOS E ALUNAS
DOS CURSOS TÉCNICOS DO INSTITUTO FEDERAL
SANTOS, Elza Ferreira
Doutoranda em Educação, Universidade Federal de Sergipe/Universidade Lusófona de Humanidades
e Tecnologia
Bolsista CAPES/CNPQ
[email protected]
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Resumo
O presente trabalho trata das expectativas que jovens estudantes brasileiros têm em relação
ao mercado de trabalho. Para tanto, muitos jovens procuram as instituições de educação
profissional, especialmente, as que pertencem à Rede Federal. A pesquisa situa-se no
Instituto Federal de Sergipe, uma escola centenária, localizada no Nordeste brasileiro. Nela,
por meio de grupos focais e de entrevistas colhemos depoimentos de alunos/as dos cursos
técnicos Eletrônica, Eletrotécnica e Desenvolvimento de Sistemas. Deles, procuramos
perceber, além de suas expectativas, como se dá a formação acadêmico-profissional, como se
relacionam com os professores e com os colegas, como se veem homens e mulheres
trabalhadores da indústria. A pesquisa está direcionada para a educação profissional,
mercado de trabalho e relações de gênero. Sua base teórica fundamenta-se em Charlot
(2006), Demo (1998), Hirata (2003), Butler (2003) etc. As entrevistas e grupos focais foram
estudados a partir da análise de discurso numa perspectiva foucaultiana (FOUCAULT,
1998). Os resultados apontam para uma necessária reflexão acerca das relações entre
mercado de trabalho e educação profissional.
Abstract
The present work deals with the expectations that young Brazilian students have in relation
to the labor market. For this, many young people seek out professional education institutions,
especially those belonging to the Federal Network. The survey is located at the Federal
Institute of Sergipe, a Centennial School, located in the Northeastern of Brazil. In this
school, through focus groups and interviews we collected statements from technical courses
students of the Electronics, Electrotechnics and Development Systems Courses. From these
students, we tried to realize, besides their expectations, how the academic and professional
training occurs, the way they get in touch with teachers and class mates, and how they see
themselves as men and women working in the industry. The research is directed towards
professional education, labor market and gender relations. Its theoretical basis is supported
by Charlot (2006), Demo (1998), Hirata (2003), Butler (2003) etc.. The interviews and focus
groups were studied from the analysis of discourse in a Foucauldian perspective (Foucault,
1998). The results point to a necessary discussion about the relationship between labor
market and professional education.
Palavras-chave: Mercado de trabalho, Educação Profissional e Gênero
Keywords: Job Market, Professional Education and Gender
[ PAP0300]
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Introdução
O presente trabalho trata das expectativas que jovens estudantes brasileiros têm de ingressar no mercado de
trabalho ou de obter melhor colocação profissional. Para tanto, muitos jovens procuram as instituições de
educação profissional crentes de que após o curso estarão empregados dignamente. Entre as instituições de
ensino mais procuradas estão as que pertencem à Rede Federal. Assim, essa comunicação volta-se para o
mercado de trabalho, para a educação profissional e para as relações de gênero.
Do ponto de vista teórico, baseia-se nos estudos da sociologia da educação, especialmente, os voltados para a
educação profissional e dos movimentos feministas, prioritariamente os que versam sobre gênero. Do ponto
de vista empírico, situa-se no Instituto Federal de Sergipe – IFS –, uma escola centenária, localizada no
Nordeste brasileiro. Seus alunos e alunas, por meio de grupos focais – GF –, concederam-nos registros do
seu cotidiano pedagógico nos quais procuramos perceber a formação acadêmico-profissional, o
relacionamento com os/as professores/as e com os/as colegas e seus perfis de trabalhadores/as da indústria.
São alunos/as dos cursos técnicos de Eletrotécnica, de Eletrônica e de Desenvolvimento de Sistemas na
modalidade Ensino Médio.
A pesquisa faz parte de um projeto desenvolvido no doutoramento em educação na Universidade Federal de
Sergipe – UFS – com estágio na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia – ULHT. Para
melhor compreensão, dividimos a comunicação em dois momentos, a saber: uma parte conceitual em que
apresentamos uma compreensão acerca do mercado de trabalho e da educação profissional, outra parte
prática em que apresentamos a “juventude sergipana”, o IFS e seus alunos/as, enfim, uma breve exposição
dos achados da pesquisa. Sobressaem-se, em ambas as partes, as relações de gênero.
1.
Mercado de Trabalho e Inserção Feminina
A revolução tecnológica, tendo como principais campos as tecnologias de comunicação baseadas em
microeletrônica e a engenharia genética, transformou a base material de nossas vidas (Castells, 2011). Houve
desemprego em alguns setores ao passo que empregos foram criados em outros “a mudança tecnológica não
destruiu o emprego como um todo, pois algumas ocupações foram gradualmente sendo retiradas e outras
foram induzidas em maior número” (Castells, 2011, p. VI). Dos mais jovens, principalmente, foi exigido que
passassem mais tempo na escola ou nas universidades (Charlot, 2006). Se antes, no Brasil, possuir o
certificado do Ensino Médio era suficiente para obter uma boa colocação no mercado, agora se corre atrás do
nível superior e de muitos cursos de aperfeiçoamento.
No Brasil, há uma intensa transformação no trabalho seja “o das tendências do mercado de trabalho
industrial, seja o das mudanças na organização do trabalho nas plantas fabris, seja o da configuração do
tecido industrial” (Guimarães, 1999, p. 01). De forma geral, é possível perceber uma nova configuração no
trabalho como decorrente da redefinição do papel do setor na divisão social do trabalho: as mulheres estão
mais presentes, houve “ligeira elevação da participação da mulher no total de empregos formais, de 41,4%
em 2009, para 41,6% em 2010, o que dá continuidade ao processo de expansão da força de trabalho
feminina, verificado nos últimos anos” (Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) -Relação Anual de
Informações Sociais (RAIS), 2010, p. 11).
Mesmo na indústria metalúrgica, onde a taxa de participação das mulheres é ainda considerada a menor,
percebe-se a crescente participação feminina. Mas é no setor de serviços que sua presença é majoritária como
é o caso dos “serviços de reparação (ramo em que dobrou a presença feminina entre 1985 e 1995), ou dos
serviços industriais de utilidade pública (em que passam de 14% para 21% dos ocupados) ou ainda dos
serviços auxiliares, onde as mulheres também dobraram a sua participação” (Lavinas, 1997, p. 7).
Esses dados não se restringem ao Brasil. Em diversos países, as mulheres a partir dos anos setenta entram
mais rápido e acentuadamente no mercado de trabalho. Elas, por meio da profissionalização, constituem-se
sujeitos ativos, entenda-se, com capacidade de decidir, de escolher, de galgar uma posição de trabalhadora:
“Somente a entrada maciça de mulheres no mercado de trabalho impediu uma queda no padrão de vida da
maioria das famílias” (Castells, 2011, p. VII).
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Ademais, as mulheres no setor de serviços “não estão a ser relegadas para serviços que exijam menor
especialização: são empregadas em todos os níveis da estrutura e o crescimento do seu número de cargos é
maior na camada superior da estrutura organizacional” (Castells, 2007, p. 264). Portanto, a ascensão
profissional das mulheres nas últimas décadas é fato irrefutável e o mercado continuará a incorporá-las em
um ritmo alto e crescente.
Evidentemente que esse novo status não exterminou sinais de estigma em relação ao trabalho executado por
elas. Ainda recebem salários mais baixos mesmo quando executam as mesmas tarefas que os homens
(Abramo, 2000), executam a dupla jornada, pois ainda são comprometidas com os afazeres domésticos
sentindo-se responsáveis por eles. O aumento de escolaridade lhe proporcionou chances consideráveis de
inserção em várias carreiras mas isto não significou em determinadas áreas gozar de respeitabilidade ou
ocupar cargos de chefia.
No que se refere à trajetória ocupacional de indivíduos, percebe-se uma intensa transição ocupacional e
trajetórias fragmentadas que marcam grande parcela do empregado/desempregado brasileiro. Dentre as
pessoas que estão mais propensas ao desemprego estão as mulheres que buscam retornar ao mercado depois
de uma gestação, ou que nele procuram se manter engajadas conciliando papéis profissionais e domésticos
(Guimarães, 2009).
Também são as mulheres que sentem mais dificuldades de reingressar no mundo do trabalho i. Sexo,
escolaridade e origem social são fatores que conduzem a certo tipo de trajetória, mas não são fatores únicos.
Segundo Guimarães (2009), a representação acerca do próprio papel no mercado de trabalho parece ser mais
relevante na construção de tomadas de decisão que têm homens e mulheres em sua vida profissional. As
pessoas que ocupam carreiras ascendentes ou que reingressam mais rapidamente ao mundo do trabalho têm
em torno de si o discurso em que as pequenas decisões orientam-se principalmente por razões profissionais
(Guimarães, 2009) ao contrário, aquele em que as microdecisões são fortemente orientadas por motivos
familiares têm menos chances de reingressar e de se manter no trabalho.
Ora, aqueles cujas decisões são tomadas em consideração aos aspectos profissionais possuem mais chances
de se manterem no mercado ou, quando desempregados, têm mais chances de retornarem a ter um emprego
formal qualificado. Fazem parte desse grupo “homens, brancos, chefes-de-família, e provenientes de meios
sociais seletos que lhes propiciaram uma escolarização elevada cujo retorno lhes chega agora” (Guimarães,
2009, p. 93) Aqui a autora os associa a carreiras masculinas.
Os que decidem de acordo com os propósitos familiares têm menos chances de ascenderem
profissionalmente e quando desempregados, têm menos oportunidade de retornarem a empregos bem
qualificados. Fazem parte desse grupo “homens, negros, e mulheres, brancas e negras”. A autora os associa a
carreiras femininas. Mas as carreiras femininas e as masculinas não são segmentos que dividam os sexos. Há
homens que somente trabalham um turno pois precisam do outro para cuidar de filhos e há mulheres que
inclusive abdicam de filhos, casamento porque não veem outra forma a não ser esta para alcançar sucesso
profissional.
Indiscutivelmente, homens e mulheres com precária escolaridade têm atualmente menos oportunidades de se
colocarem em uma excelente posição profissional. O discurso de crescer profissionalmente, de alcançar
metas, superar limites pode estar presente nas falas indistintamente de homens e de mulheres, mas
comumente são elas que colocam a família em primeiro plano. São elas que muitas vezes abdicam de
melhores colocações profissionais para cuidar dos filhos ou para cuidar dos pais idosos não só porque ainda
prevalece um discurso sociocultural que dita ser esta uma função feminina, mas porque algumas mulheres
escolhem de modo convicto responsabilizar-se por esses cuidados. Independente de serem mulheres ou
homens, aqueles que optarem por alcançar uma chefia de um determinado departamento, é obrigado pelas
circunstâncias trabalhistas de ceder menos tempo para a família para entregar todo o seu tempo à dedicação
de sua carreira.
Não é à toa serem as mulheres a estarem em maior número nas profissões que possuem jornada reduzida –
part time – principalmente no setor de telecomunicações. A redução de jornada não implica menos trabalho
ou menos opressão. De qualquer modo, hoje já se registra o crescimento do número de mulheres que chefiam
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empresas e que chefiam famílias bem como do número de proprietárias de estabelecimentos (Abramo, 2000).
Essas mudanças também são sentidas e, possivelmente, também provocadas pela família e escola.
2. Educação Profissional
As concepções que norteiam o mercado atualmente são muito distintas das que o norteavam no século
passado. Consequentemente, a educação, que contribui bastante na produção e reprodução das relações de
trabalho, tem se aberto para discussões acerca de suas práticas pedagógicas.
No Brasil, a educação profissional, nos últimos quinze anos foi objeto de grandes discussões acadêmicas e
também alvo de interesse dos sindicatos. A Lei de Diretrizes e Bases – LDB – de 1996 consolidou a
dualidade entre o último período da educação básica, que passou a ser chamado de Ensino Médio, e a
Educação Profissional. Assim, separaram o ensino médio da educação profissional através de Projeto de Lei
de iniciativa do Poder Executivo – PL 1.603 – que foi completamente contemplado no Decreto 2.208/97 –
conhecido como Reforma do Ensino Profissional: “Uma das consequências do Decreto 2.208/97, que
regulamentou os artigos da LDB 9.394/96 relativo à educação profissional, foi a extinção do curso técnico
integrado, modalidade de ensino praticada nas Escolas Técnicas e CEFETs desde 1942” (Garcia & Filho,
2010, p. 42).
O ensino médio retomou legalmente um sentido puramente propedêutico, enquanto os cursos técnicos
passaram obrigatoriamente a ser separados do ensino médio. Enfim, segundo Frigotto, Ciavatta e Ramos
(2005), o Decreto 2.208 coibiu a pretendida formação integrada além de “regulamentar formas fragmentadas
e aligeiras de educação profissional em função das alegadas necessidades do mercado” (Frigotto, Ciavatta
et al, 2005, p. 25).
Em 2003, com o início de novo mandato do Governo Federal, tornou-se mais intensa a discussão acerca do
Decreto 2.208/97 de tal forma que em 23 de julho de 2004, o Decreto de n. 5.154/04 revoga o Decreto n.
2.208/97, definindo e regulamentando nova articulação entre a educação profissional técnica de nível médio
e o ensino médio, através da forma integrada. O recente decreto provocou alterações na organização
curricular e pedagógica e na oferta dos cursos técnicos. Em 2004, a rede federal de educação tecnológica
ganhou autonomia para a criação e implantação de cursos em todos os níveis de educação profissional e
tecnológica.
De forma geral, matricula-se nesse tipo de instituição escolar quem objetiva procurar trabalho, porque está
em idade de trabalhar ou porque seus familiares aconselham a se preparar cedo para o mercado. Não é a
educação profissional que lhe garante o trabalho mas é a que lhe permite discutir as relações de trabalho
“saber confrontar-se com o mercado e levá-lo a alguma forma de redistribuição de renda” (Demo, 1998, p.
11). A educação profissional prepara os/as discentes para o mercado de trabalho e deve promover a discussão
crítica sobre as questões sócio-produtivas das sociedades modernas. É com essa postura que julgamos
importante discutir as relações de gênero dentro da educação profissional.
3.1 Educação Profissional e Gênero
Considerando gênero como constructo histórico social (Scott, 1989) ou como performance (Butler, 2003) –
“... parece complicado acudir al plano biológico para explicar las diferencias educativas entre los sexos”
(Weiner, 2010, p. 23) pois as diferenças em torno do sexo variam de acordo com cada cultura ou com cada
circunstância e posição que se tenha de tomar na vida.
Existem hoje vários testes que avaliam o rendimento de alunos/as e, consequentemente, seus interesses pelas
disciplinas, cursos e trabalhos. Nunca é demais assinalar, entretanto, que os resultados de tais testes devem
considerar que associados ao gênero estão fatores como etnia, classe e outros de cunho mais subjetivo com o
entorno familiar, o currículo oculto, o material escolar de leitura etc. que podem direcionar preferências por
disciplinas, criar determinadas habilidades e, no futuro, determinar escolhas profissionais.
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Diversas pesquisas assinalam que as meninas se dão bem em leitura, interpretação de texto, ao passo que os
meninos nas disciplinas que envolvem cálculo. Na Alemanha, por exemplo, Häussler e Hoffman mostraram
que entre os estudantes de 11 a 16 anos, as meninas se interessavam menos do que os meninos pelos estudos
de física. Entre os garotos e garotas que se interessavam por ciências, foi possível também perceber que
havia gostos diferentes: as meninas preferiam “la luz, el sonido y el calor” e os meninos preferiam “la
mecânica, la electricidad y la radioactividad” (Häussler & Hoffman,1997, 1998 como citado em Weiner,
2010, p. 28). Esses resultados coincidiam com a pesquisa anterior que apontavam mulheres mais próximas
de carreiras como medicina e orientação e os homens por carreiras relacionadas com a física. Isso acontece
em diversos outros países da União Europeia (Weiner, 2010).
Nas escolas profissionais, verifica-se essa distinção de escolhas. Nos EUA, em 1985, Klein (1985, como
citado em Burger, Abbott, Tobias, Koch, Vogt, Sosa, Bievenue, Carlito, & Strawn, 2007, p. 255) constatou
certa ausência das mulheres em determinadas disciplinas: as mulheres eram sub-representadas no campo da
ciência, da engenharia e da tecnologia. Se partirmos para os dados nos cursos superiores, ver-se-á um
indicativo similar aos dos estudos secundários. Guardadas as diferenças entre um grau e outro, uma vez que
nos cursos superiores existem sujeitos amadurecidos do ponto de vista psicológico e acadêmico, os números
denotam que tanto homens quanto mulheres não se livraram das experiências familiares e pedagógicas
anteriores.
Nos EUA, também essa diferenciação na escolha de carreiras é notável. Um estudo realizado pelo The
National Women’s Law Center em 2005 referente à educação científica e técnica, com crianças entre 9 e 12
anos de idade revelou que: “females represent more than five out of six students enrolled in courses in
traditionally female fields, but just 1 out of every 6 students in traditionally male courses” (NWLC, 2005,
como citado em Lufkin, Wiberg, Jenkins, Berardi, Boyer, Ardley, & Huss, 2007, p. 427). Em outros estados,
segundo o estudo, repetem-se as estatísticas.
No Brasil, os dados são equivalentes (Brasil/Ministério da educação e Cultura (MEC)/Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), 2005). É possível perceber um número crescente
de mulheres presentes em cursos profissionalizantes. A área cujo índice de matrícula possui o mais alto
percentual de mulheres é a da saúde, fato observado em todas as regiões. E o menor percentual de matrícula
de mulheres está na área de Indústria, fato que também se repete em todas as regiões. Na área de Química, o
número de mulheres é levemente superior ao de homens, mas é preciso ressaltar que nessa área se inclui o
curso de Química de Alimentos onde se vê normalmente uma imensa matrícula feminina. A área de
Construção Civil ainda tem consideravelmente um número de homens maior do que o das mulheres, mas na
região Sudeste essa diferença já é pequena. Embora a área de Informática não tenha essa ideia de força física,
de desgaste corporal, ainda há forte a presença do contingente masculino.
Essas disparidades indicam “that these patterns are not the product of unfettered choice alone, but rather
that discrimination and barriers are limiting young men’s and women’s opportunities to pursue careers that
are nontraditional to their gender” (Lufkin et al, 2007, p. 429). Além disso, implicam disparidade na
ocupação profissional a ser exercida. As razões vão desde as relações presentes no âmbito familiar até as
discriminações sofridas durante a atuação no mercado de trabalho. Lógico que, nesse momento, quando
falamos de escolhas não convencionais, não nos restringimos apenas às meninas que se inserem na física, por
exemplo, mas também aos meninos que se inserem em enfermagem. Tanto estes quanto aquelas infringem o
que é socialmente determinado. De acordo com National Centers for Career and Technical Education –
NCCTE (2003), as razões para que eles não escolham as carreiras denominadas femininas nem elas às
carreiras masculinizadas são:
(a) lack of early exposure to nontraditional occupations and role models; (b) student
attitudes; (c) unsupportive career guidance practices and materials; (d) lack of
encouragement to participate in math, science, and technology; (e) stereotyped instructional
strategies and curriculum materials; (f) a chilly school/classroom climate that can result in
student isolation; (g) lack of self-efficacy; and (h) limited support services. (como citado em
Lufkin et al, 2007, p. 432)
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Os pais e mães, muitas vezes, por desconhecimento ou por falta de interesse ou por conta de sua formação
pouco apresentam aos filhos e filhas a diversidade de profissões. As escolas quando apresentam as profissões
aos/as discentes, não raro, expõem as convencionais. Nos Institutos e nas Universidades, também não existe
uma política que acompanhe e assista os alunos e alunas durante o curso. Também não há seminários ou
palestras que tratem como comuns aos dois sexos as profissões mais extremas. Os alunos que gostam das
disciplinas da área de exatas são vistos como “CDF”, mas quando se trata de alunas a situação é pouco mais
grave, pois são vistas como esquisitas.
Se restringirmos as causas quanto ao fato de as garotas não escolherem as carreiras técnicas/tecnológicas,
boa parte das pesquisas apontam: a família que não a incentiva, a academia tem poucos modelos femininos ii,
não são dadas diversas informações acerca de determinadas profissões (Burger et al, 2007). Na escola, a falta
de incentivo é enorme: “In general, “smart” and “popular” are not synonymous during adolescence, and
physics, being the least “cool” and most “nerdy”, is the hardest for girls to embrace” (Borg, Budil, Ducloy,
& Mckenna, 2005 como citado em Burger et al, 2007, p. 261).
3.2 Sergipe
A comparação entre rapazes e moças remete à distribuição sexual das funções em uma sociedade em que os
preconceitos do sexismo permanecem fortes, apesar de estarem diminuindo. Os homens são
proporcionalmente mais numerosos nos setores da agricultura, do trabalho operário (indústria da
transformação e construção civil e do transporte). As mulheres ocupam mais vagas no comércio, na
prestação de serviços, na educação, na atividade social, na saúde e, claro, no trabalho doméstico (Charlot,
2006, p. 179).
Aliás, sobre “as juventudes sergipanas” constatou-se que tanto homens como mulheres pautam sua vida
sobre “quatro pilares: família (28%), emprego (24%), estudos (16%), saúde (12%). Esses quatro assuntos
abrangem 80% dos motivos de satisfação ou não Satisfação dos jovens em relação à vida” (Idem, p. 48). Em
nossa pesquisa os/as estudantes situam-se numa classe social que vê o trabalho como parte de sua vida, como
constituição de si, vê o salário como meio de sobrevivência, como o que lhe permite circular nos meios
sociais e galgar status e reconhecimento.
Para eles, o trabalho é “um momento efetivo de colocação de finalidades humanas, dotado de intrínseca
dimensão teleológica. E, como tal, mostra-se uma experiência elementar da vida cotidiana, nas respostas
que oferece aos carecimentos e necessidades sociais.” (Antunes, 2000, p. 168). Não é em vão que se
matriculam em uma escola profissionalizante. Os alunos e alunas expressam ao entrar na escola um desejo de
se preparem, de se capacitarem para determinadas profissões, aumentar as suas habilidades e o nível
educacional: “Antes de mais nada, os jovens sergipanos vão à escola para conseguir um bom emprego ou,
sob outra forma, para ‘ser alguém na vida’ e também, em particular quando se trata de moças, para ser
independentes” (Idem, p. 93)
É o trabalho que os leva à escola e o que mais lhes preocupa gerando insatisfação com a vida. Pois é a partir
de trabalho que pensam em casar-se, sustentar uma família, ou seja, “É preciso estudar, para ter um
emprego. É preciso ter um emprego, para sustentar sua família. Esse é o raciocínio básico da maioria dos
jovens sergipanos” (Idem, p. 63). Em relação ao gênero há pouca diferença entre rapazes e moças quanto à
valoração do trabalho: “Os rapazes conferem mais importância ao emprego (25,8% do conjunto de motivos,
contra 22,9% entre as moças)” (Idem, p. 63). Também, não se observou distinção quanto ao assunto do
desemprego de longa duração.
A maior diferença é quanto a de possuir ou não possuir renda pessoal, o número de jovens mulheres que
dizem não ter salário algum é claramente superior ao número dos rapazes: “As moças estão ainda mais
pobres ou dependentes do que os rapazes. Além disso quando possuem renda pessoal, essa é menor do que a
dos rapazes” Charlot, 2006, p. 135). O desemprego não se deve à vocação de dona do lar (Charlot, 2006).
Referente à educação, há algumas diferenças: a) as mulheres passam mais tempo na escola enquanto os
homens têm trajetória escolar com interrupções. Os motivos de desistência, tanto deles quanto delas, são
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vários, dentre os quais estão “oportunidade de trabalho (masc.: 41,8%; fem.: 13,4%); dificuldades financeiras
(masc.: 12,8%; fem.: 15,2%) gravidez (masc.:0,2% ; fem.: 21,2%)” (Charlot, 2006, p. 63).
Referente ao IFS, apresentamos aqui os discursos percebidos em três dos GF realizados. Envolveram alunos
e alunas do dos cursos de Eletrotécnica, de Eletrônica e Desenvolvimento de Sistemas e duraram cerca de
uma hora e trinta minutos. O primeiro deles – GF1 – continha três garotas e sete garotos cuja média de idade
era 24 anos e cursavam o último período do técnico subsequente noturno; o segundo – GF2 –, cinco garotos
cuja média de idade era 18 anos e cursavam o quarto ano do técnico integrado matutino; o terceiro – GF3 –,
seis garotas cuja média de idade era 17 anos e cursavam o terceiro ano do Integrado matutino. O roteiro de
questões era praticamente o mesmo, apenas a sequência e a ênfase é que se alterava, pois se levava em conta
o contexto de cada GF.
3.2.1.
Formação acadêmico-profissional
Todos os/as participantes do GF escolheram estudar no Instituto por, especialmente, duas razões: a promessa
de conseguirem emprego após a formação e o fato de estudarem em uma instituição pública federal,
consequentemente, a garantia de ter excelentes profissionais, laboratórios etc. Evidentemente que, ao longo
dos anos, perceberam problemas.
As críticas e os elogios à escola se misturam. As críticas dizem respeito em grande parte à estrutura física e
pedagógica. Quanto à primeira, reclamam e denunciam a falta de equipamentos e registram a existência de
materiais envelhecidos que comprometem as experiências que realizam. Quanto à segunda, queixam-se da
falta de algumas disciplinas julgadas fundamentais e dos professores não assíduos, descomprometidos e
demasiadamente teóricos.
“Aqui no Instituto, você vê que são professores graduados, capacitados, diferentes do que
há nas outras escolas, têm muito conhecimento mas são relaxados, não vêm à aula.” (Pedro
– Eletrotécnica)
Consideram que todos esses problemas afetam negativamente a formação. Como a maior escola profissional
do Estado permite tanta precariedade?
“A sorte é que muitas pessoas que trabalham nas empresas ou que são donos delas já
estudaram aqui e aí conhece como é e dá a chance pro aluno daqui chegar lá.” (Igor –
Eletrotécnica)
Além das queixas mencionadas, o GF 3 lamenta o fato de ficar muito tempo na escola e ao contrário de
mencionar críticas a professores prefere falar de disciplinas como Física – considerada difícil pelas alunas de
eletrotécnica e de eletrônica – e de Lógica – pelas alunas de Desenvolvimento de Sistemas. As dificuldades
nas disciplinas e a falta de incentivo da escola são tantas que é o único focal em que participantes anunciam
desejo de desistir da carreira.
Quanto ao relacionamento entre eles, o GF 1 não alegou problemas, mas a presença de colegas mulheres
entre eles não passa despercebida: as meninas são as representantes de turma nas reuniões de Conselho do
IFS tanto em Eletrotécnica como em Eletrônica. E na formação de equipes para trabalhos, elas costumam ser
disputadas pois são mais organizadas e apresentam-se melhor.
“Porque ela é a menina mais bonita da sala e o professor vai gostar.” (Franklin –
Eletrônica/subsequente).
O GF 2 em geral não reclama do fato de não terem meninas em sala de aula. Apenas um aluno diz:
“Ah, claro que senti falta das meninas, com mulher fica mais fácil de você criar
relacionamentos.” (Iury – Eletrotécnica)
Na verdade, no início em 2008, a turma era composta de trinta e oito alunos e duas alunas, hoje, no final, só
há 14 homens. Apesar disso, todos são unânimes em afirmar que as mulheres são tão inteligentes quanto eles
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e podem sentir as mesmas dificuldades de aprendizagem. Quando se fala da desistência das duas meninas,
imediatamente dois deles lembram que também houve muita desistência dos meninos. Entretanto,
ressaltaram que se houvesse a presença delas, possivelmente, teria afetado as conversas na sala de aula.
“Uma coisa é a conversa só com homens, se tivesse tido mulheres teria sido muito
diferente... a gente não teria falado tudo... ou criaríamos códigos ou elas colocariam um
algodãozinho no ouvido.” (Albert – Eletrotécnica)
“Não teria tantos absurdos!” (Igor – eletrotécnica)
Também quanto às “conversas”, as meninas do GF 3 fizeram comentários:
“Coisa insuportável é quando falam de futebol, eles repetem e começam a tirar onda um
com outro e não falam de mais nada. Passam o dia assim.” (Samira – eletrônica)
“Um dia? Uma semana por vezes!... Acho que tem momentos que eles esquecem que somos
meninas e ficam falando como se tivesse só homens.” (Luana – Desenvolvimento de
Sistemas)
“E quando resolvem jogar futebol dentro da sala? Não dá para aguentar.” (Gabi eletrotécnica)
E ao serem indagadas se elas os incomodam de algum modo, responderam:
“Não há nada que possa constranger aqueles meninos!” (Gabi – Eletrotécnica)
3.2.2.
Expectativas de trabalho
O GF 1 contém trabalhadores. Dos sete rapazes, cinco trabalhavam dos quais dois eram graduados e dois
estavam cursando o superior na Universidade Federal de Sergipe – UFS –; os dois demais estagiavam. As
três meninas ainda não estagiavam nem trabalhavam, mas uma delas fazia também curso superior na UFS.
Entre elas uma de Eletrotécnica expressou sentir dificuldades com a aprendizagem, especialmente com as
disciplinas de Eletricidade, ao passo que as outras duas, uma de Eletrotécnica e outra de Eletrônica eram
reconhecidas pelos seus pares como “CDF”.
Homens e mulheres dizem que as chances de conseguirem emprego são bem maiores com o certificado de
técnicos. Todos acreditam ser ou se tornar excelentes técnicos, mas lamentam que o mercado explore
bastante. Os que não trabalham contam com a ajuda dos que trabalham no momento de fazerem os exercícios
práticos.
O GF 2 foi o mais otimista. Os cinco alunos estão no estágio, um estagia no próprio IFS e os outros em uma
renomada empresa de energia. Estes, inclusive, receberam proposta de trabalho. Todos creem que serão
aprovados no vestibular, apenas um garoto não prestou vestibular pois não tem certeza se seguirá carreira.
Relataram ser uma turma das mais promissoras do Instituto nos últimos anos. Eles não temem desemprego.
“Que casa não vai precisar de instalação elétrica?” (Albert - Eletrotécnica)
“O país só cresce a economia se ele tiver energia.” (Igor - Eletrotécnica)
O GF 3 foi o mais comedido. Nenhuma das três alunas de eletrotécnica estagia, nem trabalha nem quer
continuar a carreira. Em Desenvolvimento de Sistemas, das duas participantes, uma abandonará e a outra,
que já estagiou, agora é contratada pela empresa e prosseguirá na carreira. A de eletrônica está bem no curso,
está convicta de que no próximo ano estagiará em uma grande empresa e prestará vestibular para um curso
similar ao seu.
Em todos os três GF, ficou dito que as mulheres têm mais dificuldade em arranjar estágio e emprego,
relataram ter visto cartazes no mural do IFS a solicitarem estudantes para estágio explicitando o sexo, no
caso o masculino. Apesar disso, No GF 3 uma aluna de informática e outra de eletrônica não receiam a
seleção e acreditam ser muito importante que as mulheres sigam em frente. As demais reconhecem as
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dificuldades para inserir-se na carreira, mas não é isto que as afugenta: foi o curso em si, com suas
disciplinas, seus laboratórios mal equipados e, possivelmente, um erro na escolha que fizeram.
No GF 1, houve bastante polêmica ao terem de considerar que todas as profissões servem às mulheres.
Houve entre eles, quem alegasse riscos para a mulher – assédio – e riscos para a empresa – menos
rendimento.
Eis uma sequência de diálogo entre alunos/as de Eletrônica Subsequente:
“Trabalhei em uma fábrica que tinha poucas mulheres, eram assediadas, se sentiam mal”
(Rodrigo)
“Existem riscos de acontecer alguma coisa desagradável na empresa” (Luan)
“Sempre tem um pervertido. (Adriano)
“Atrapalhar o rendimento do pessoal” (Vitor)
“Ficar 15 dias em uma plataforma com uma mulher?” (Cristiano)
“Qual o problema?” (Marilia)
“Se a mulher se impor e se der o respeito e não der nenhuma entrada” (Michele)
“Uma coisa é você impor respeito e outra é o homem não respeitar!” (Vitor)
“Então não é profissional!” (Denilson)
Houve questionamentos a certos comportamentos relacionados a modelos femininos:
“sempre tive uma dúvida em relação às mulheres, sempre são muito sentimentais e eu gostaria
de saber se realmente algumas profissões isso não afeta, tipo, a mulher no exército fica com
aquele sentimentalismo, não vai atrapalhar ela?” (Elcris – Eletrônica)
Mas houve também ideias que expressavam mudanças nas ações e nas posturas das mulheres:
“As mulheres não acreditavam em si mesmas. (...) com essa evolução no mundo todo, acho
que botaram na cabeça que conseguem fazer qualquer coisa, qualquer trabalho, não há
mais limites!” (Denilson – Eletrônica)
Inevitavelmente, surgiram os aspectos biológicos: gravidez e menstruação. Esses aspectos são vistos pelos
rapazes como empecilhos para que as fábricas as contratem, eles constatam que nas empresas onde
trabalham ou estagiam sempre dão preferência a mulheres solteiras em virtude de tais situações.
“Geralmente a empresa prefere o homem, a mulher tem que ser solteira, sem filhos. É difícil
fazer a entrevista e perguntar ao homem: você tem filho? mas a mulher é assim mais do
lar.” Cristiano – Eletrotécnica/subsequente)
Também reconhecem que as maiores dificuldades são impostas pelos interesses econômicos:
“o problema maior para as empresas é terem de dar 06 meses de licença maternidade,
como nós vivemos num mundo capitalista ninguém quer perder, a empresa não quer
esperar.” (Iury – Eletrotécnica)
“Se ela engravidar é um ano de prejuízo para a empresa.” (Vítor – Eletrônica/subsequente
As mulheres rebatem os argumentos:
“Acho que não, ora gravidez, menstruação, toma-se remédio e TPM é bobagem, tem dia que
a gente acorda e não tá bem mesmo. Os homens também acordam em dias que eles não tão
bem, todo mundo tem seu dia em que não tá bem.” (Mônica – Desenvolvimento de Sistemas)
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4.
Considerações Finais
Há muito mais a ser dito e a ser analisado, afinal falar de homens e de mulheres é um assunto que não se
esgota. Por ora, foi possível constatar que o momento é de experimentar novas realidades, novas posições.
Até o início da década sessenta não havia alunas matriculadas no IFS, atualmente, elas já são em torno de
47% do total de alunos/as matriculados. Porém, nos cursos supramencionados elas não passam de 10%. Os
rapazes demonstram certo desconhecimento do corpo feminino e explicitam em suas falas muito do senso
comum. Os mais novos apostam em mais mudanças e parecem encarar com mais abertura o fato de elas
estarem com eles no mesmo ambiente de trabalho. Os mais velhos parecem perceber melhor a dureza do
mercado de trabalho e explicitam o que já vivenciam.
Quanto às mulheres, há nítida ambiguidade, algumas se mostram mais otimistas e confiantes, sentem-se bem
no curso que escolheram, cientes das dificuldades mas crentes que as superarão. Outras desistem. As
meninas do GF 3 mais entusiastas com o curso relataram receber apoio de seus pais e de professores, as
menos entusiastas relataram ter se matriculado por conta dos pais e de não ter abandonado o curso por conta
deles também. Entretanto, o dia a dia do curso, as disciplinas, os colegas, os laboratórios fizeram-lhes mudar
de ideia: uma quer ir para medicina, outra para a administração de negócios e as outras duas ainda não sabem
que outro curso farão quando concluírem o Ensino Integrado.
Se focarmos a comparação entre os GF 2 e GF 3, não deve ser coincidência que somente naquele todos
estagiem e creiam em trabalho tão logo concluam o curso, mais que isto, preparam-se para concursos
públicos. Ora, considerando que por serem alunos/as do Integrado, passam 4 anos na escola, não teria a
instituição responsabilidades no sucesso de uns e no abandono de outros? A escola não deveria coibir os
cartazes que discriminam o sexo para estágios? Não deveria criar oportunidades de estágio para os/as que
têm mais dificuldades em arranjar? Possivelmente, muitos preconceitos relacionados a gênero passam
despercebidos na escola e na empresa, mas talvez seja na escola em que se deva primeiro perceber as
artimanhas de exclusão e lutar contra elas.
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Notas
iAs
dificuldades de reingresso não se devem simplesmente por ser do sexo feminino. As dificuldades se
intensificam em se tratando de mulheres negras e pouco alfabetizadas. Gênero, Raça e Classe social são
categorias que constantemente se entrecruzam.
Ver conferência Carvalho (2007) em que se demonstra a ausência das mulheres na distribuição por sexo dos
ganhadores do Prêmio Nobel 1901-2007 e na edição comemorativa dos 50 anos da Sociedade Brasileira para
o Progresso da Ciência – SBPC.
ii
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entre a educação profissional e o mercado de trabalho