126 CAPÍTULO 5 METAEMOGLOBINEMIAS, CORPOS DE HEINZ E GERAÇÃO DE RADICAIS LIVRES METAEMOGLOBINEMIAS As atividades fisiológicas da hemoglobina obedecem a um processo dinâmico que inclui a transformação do seu estado oxigenado para a forma oxidada e vice-versa. Esse desempenho é constante quando, em resposta à queda na pressão de oxigênio, a oxiemoglobina é convertida à hemoglobina oxidada e o oxigênio é liberado aos tecidos. Esse processo, de ocorrência natural, faz com que a hemoglobina seja continuadamente oxidada, "in vivo", do estado ferroso para o estado férrico. Diariamente cerca de 1% de hemoglobina total circulante (ou oxiemoglobina) converte-se espontaneamente em metaemoglobina, devido a um equilíbrio entre o processo de formação natural de metaemoglobina e uma série de eficientes mecanismos de proteção, entre os quais a enzima metaemoglobinaredutase, que a reconverte de volta à oxiemoglobina, conforme o esquema a seguir: Indução natural OXIEMOGLOBINA METAEMOGLOBINA MetaHb - redutase Em pessoas normais, a concentração de metaemoglobina no sangue é variável de 0,3 a 3% em relação ao total de hemoglobina. A elevação acima de 3% de concentração de metaemoglobina no sangue é designada por metaemoglobinemia. A metaemoglobina não tem valor como pigmento respiratório, pois a forma férrica (Fe+++) do grupo heme é incapaz de se ligar quimicamente com a molécula de oxigênio (O2--). A impossibilidade de fixar o oxigênio, e de transportálo, muda a cor vermelha do sangue para uma tonalidade de cor castanho. A incapacidade do transporte de oxigênio quando a concentração de metaemoglobina 127 está acima de 5% se torna visível pela cianose das extremidades dos dedos das mãos e pela coloração azulada da pele. A metaemoglobina pode decorrer de três causas: tóxica ou extrínseca, por deficiência enzimática hereditária (ou intrínseca), e por substituição dos aminoácidos que sustentam o grupo heme (ou Hb M). No presente livro se dará maior destaque às duas primeiras causas, pois são situações que podem estar associadas às doenças das células falciformes. Metaemoglobinemia tóxica – A metaemoglobinemia tóxica está associada à indução tóxica da transformação de oxiemoglobina em metaemoglobina, superando a atividade redutora normal da enzima metaemoglobina-redutase conforme mostra o esquema: indução tóxica indução natural OXIEMOGLOBINA Meta Hb - redutase METAEMOGLOBINEMIA Muitas drogas são capazes de provocar a metaemoglobinemia tóxica, como a fenacetina, sulfas e derivados, nitritos, nitratos, derivados do benzeno (nitrobenzeno e anilina), entre outros. As fontes de compostos químicos metaemoglobinizantes encontrados na natureza são principalmente de nitritos e nitratos, abundantes em águas poluídas por produtos fecais. No ar, pode ocorrer excesso de óxidos de nitrogênio (NOx) e de enxofre (SOx) expelidos principalmente por indústrias de fertilizantes e refino de petróleo, que rapidamente tomam o lugar do oxigênio no grupo heme e, conseqüentemente, oxidam o ferro causando a ferriemoglobina, ou metaemoglobinemia, desencadeando uma série de reações físico-químicas no interior dos eritrócitos afetados, iniciando com a degradação da metaemoglobina e geração de radicais livres por espécies ativadas do oxigênio livre. A figura 57 mostra as três principais conseqüências da metaemoglobinemia: precipitação de corpos de Heinz, estresse oxidativo (ambos processos são lesivos à membrana eritrocitária) e anemia. 128 Clinicamente, a metaemoglobinemia tóxica pode representar grave emergência médica devido a perda da capacidade de transporte de oxigênio do sangue, notadamente nas exposições agudas com excessiva toxicidade. Devido ao desvio da curva de dissociação de oxigênio, que ocorre quando há alta concentração da metaemoglobina, e metaemoglobinemia aguda pode ameaçar a vida quando a taxa de metaemoglobina excede a metade da hemoglobina total circulante. Nas exposições crônicas o efeito cumulativo é deletério, prejudicando a oxigenação das células, tecidos, sistemas e órgãos, além da persistente degradação dos eritrócitos. Metaemoglobinemia por deficiência enzimática hereditária – Esse estado é muito complexo devido à diversidade de enzimas intraeritrocitárias que atuam como anti-oxidantes, com destaques para a metaemoglobina-redutase, superóxido dismutase (SOD), catalase e glutatião peroxidase (GPx). A deficiência da metaemoglobina-redutase está quase sempre ligada à deficiência da sua coenzima NADH-diaforase. A NADH-diaforase participa da via fosfoglutamato (ciclo da pentose) do metabolismo eritrocitário (ver figura 28, capítulo 2). De forma indireta, essa enzima catalisa a reconversão do estado de metaemoglobina para o de oxiemoglobina. A redução dessa enzima determina o acúmulo de metaemoglobina que pode acentuar-se nas exposições tóxicas já apresentadas no item da metaemoglobinemia tóxica, ou na geração patológica de metaemoglobina como a que ocorre nas hemoglobinas instáveis, talassemias, e doenças falciformes. A superóxido dismutase (SOD) atua no sentido de catalisar a transformação do íon superóxido (O2•) em peróxido de hidrogênio (H2O2) com a introdução de dois átomos de hidrogênio na molécula do íon superóxido: SOD O2• + 2H + e- → H2O2 A catalase e GPx atuam no sentido de transformar a H2O2 em H2O, incluindo um processo intermediário com liberação do radical HO e a adição de um íon H+ e elétrons para resultar em água (figura 57). Metaemoglobinemia por Hb M – A Hb M é uma hemoglobina variante causada por substituição da histidina distal ou proximal, das globinas alfa ou beta, por outro 129 aminoácido – geralmente a tirosina. Essa troca de aminoácido instabiliza as ligações químicas do grupo heme e permite a entrada de água continuadamente para o seu interior. Como conseqüência da entrada de água o ferro se oxida espontaneamente, passando do estado ferroso (Fe++) para o férrico (Fe+++), com formação de metaemoglobina, anemia e cianose. A cianose devido à Hb M ao contrário das metaemoglobinemias tóxica e por deficiência enzimática, não responde ao tratamento com ácido ascórbico ou azul de metileno, porque o heme permanece no estado férrico. Os diferentes tipos de Hb M são caracterizados por meio da avaliação da absorção espectrofotométrica em determinados comprimentos de onda (nm). A Hb M, igualmente a outras variantes, é transmitida como caráter co-dominante, com a Hb A apresentando maior concentração. O estado de homozigose da Hb M é incompatível com a vida. 130 OXI Hb Meta Hb redutase + Meta Hb O2• SOD Hemicromo reversível H2O2 GPx Catalase H2O HO Danos ao DNA Hemicromo irreversível Mutagênese O2• Precipitação da Globina Corpos de Heinz Depleção do Grupo Heme Fe+++ liberado Canceres Estresse Oxidativo Rigidez da Membrana Agregação junto à Proteína Banda 3 da Membrana Reconhecimento Imunológico Ação fagocitária no Baço pelos Macrófagos Hemólise Anemia Figura 57: Esquema representativo da degradação da metaemoglobina, liberação de subprodutos, estresse oxidativo e precipitados de corpos de Heinz, durante processo desencadeado pela elevaç. 131 CORPOS DE HEINZ Corpos de Heinz são inclusões intraeritrocitárias de globinas "livres" que se precipitam e se aglomeram no interior dos eritrócitos, geralmente ligados à membrana. Essas inclusões foram descritas pela primeira vez em 1890 por R. Heinz em eritrócitos incubados com acetilfenilhidrazina. O autor demonstrou também que a indução química que induz a formação dos corpos de Heinz pode ser causada por um grande número de compostos amino e nitro-aromáticos, bem como por oxidantes inorgânicos como o cloreto de potássio. Em 1962 J.V. Dacie relatou a ocorrência de corpos de Heinz "in vivo" em pacientes com hemoglobinas instáveis, e essas inclusões eram formadas por aglomerados de globinas anormais resultantes da troca de aminoácidos nas superfícies internas ou nas regiões estabilizantes da molécula de hemoglobina (ver figura 40, capítulo 3), provocando o afrouxamento das ligações químicas dos aminoácidos que dão sustentação ao grupo heme. Como conseqüência dessas mutações e do afrouxamento molecular a água penetra no interior do grupo heme, oxida o ferro, eleva a concentração de metaemoglobina a níveis que impossibilitam a sua reconversão à oxiemoglobina, e a degradação dos subprodutos da metaemoglobina resulta na formação de corpos de Heinz. O mesmo autor demonstrou a presença de corpos de Heinz na deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase (ou G-6-PD). Estudos posteriores realizados por vários pesquisadores mostraram que os corpos de Heinz também ocorrem no desequilíbrio entre globinas alfa e beta, como são os casos das talassemias, bem como por autoxidação da Hb S nos vários genótipos das doenças falciformes. A figura 59 apresenta em dez etapas os diversos processos da degradação da hemoglobina, passando pela formação de corpos de Heinz, e a destruição precoce dos eritrócitos pelos macrófagos. A etapa 1 mostra as principais causas de oxidação da oxiemoglobina. Qualquer uma dessas causas induzem a formação excessiva de metaemoglobina que supera a capacidade das enzimas antioxidantes. A elevada concentração de metaemoglobina, conforme mostra a etapa 2 impede a ligação de moléculas de oxigênio com o ferro que está no estado férrico (Fe+++). Assim o oxigênio livre se liga com elétrons e desencadeia a formação de espécies ativadas de oxigênio (O2•, HO, H2O2) que são radicais livres. Como a molécula de metaemoglobina é instável ela se degrada (etapa 3), com liberação de dois subprodutos importantes: globinas livres que se precipitam e grupo heme oxidado 132 que ataca rapidamente a membrana do eritrócito (etapa 4). Pelo fato do processo oxidativo da hemoglobina ser contínuo, o acúmulo de globina (etapa 5) forma múltiplas pelotas que se precipitam e cujo conjunto configura os corpos de Heinz (figura 60). O acúmulo de globinas junto à membrana eritrocitária provoca lesões oxidativas por meio de seus aminoácidos, notadamente metionina e cisteína, alterando a configuração da proteína Banda 3 da membrana (etapa 6). Essa alteração deforma o eritrócito (figura 61) e atrai a ação de macrófagos durante sua passagem pelos microcapilares do sistema retículo endotelial (SRE) do baço, fígado e medula (etapa 7). A ação dos macrófagos contra eritrócitos lesados pela precipitação de corpos de Heinz pode ser saneadora ou parcial (etapa 8). A ação saneadora se caracteriza pela fagocitose do eritrócito inteiro, enquanto que a ação parcial decorre da retirada da parte do eritrócito que contém grande acúmulo de corpos de Heinz (figura 62), e seu retorno à circulação sangüínea com a morfologia típica de célula "mordida" (figura 63). O acentuado processo da fagocitose saneadora de bilhões de eritrócitos resulta em processos hemolíticos (etapa 9), e conseqüente anemia (etapa 10). Toxicidade por drogas e químicos oxidantes 133 Autoxidação de globinas despareadas nas talassemias Autoxidação por baixa ação antioxidante na Hb S (1) Autoxidação por lesão estrutural nas Hb instáveis Hb O2 Enzimas antioxidantes (2) (3) Meta Hb Liberação de radicais livres (O2•, HO, H2O2) Degradação da Meta Hb (Hemicromos) (4) Precipitação Desnaturação do heme oxidado das globinas (5) Acúmulo de globinas junto à membrana eritrocitária Estresse oxidativo na membrana (6) Formação dos “Corpos de Heinz” e lesões oxidativas da membrana (proteína Banda 3) (7) Ação dos macrófagos contra eritrócitos com corpos de Heinz (8) Ação saneadora (9) Hemólise (10) Anemia Ação parcial Eritrócitos “mordidos” Figura 59: Esquema representativo das causas de oxidação da hemoglobina, caracterizados por etapas, para destacar a formação de corpos de Heinz e suas lesões oxidativas. 134 Figura 60: Eritrócitos de sangue periférico com corpos de Heinz visualizados após coloração com azul de crezil brilhante a 1%, em paciente com Hb instável. 135 Figura 61: Microscopia eletrônica de varredura de um eritrócito deformado por várias pelotas de acúmulo de globinas, cujo conjunto forma os corpos de Heinz. 136 Figura 62: Microscopia eletrônica plana mostrando a formação de vários corpos de Heinz num mesmo eritrócito, e as setas indicam que duas regiões que continham corpos de Heinz foram fagocitadas (ação parcial dos macrófagos). 137 Figura 63: Eritrócitos de sangue periférico de paciente com Hb instável. A seta destaca uma célula "mordida". 138 Proteínas Carboidratos Lipídeos Glicose Glicólise Aminoácidos + e- e- + ácidos graxos Piruvato Piruvato desidrogenase Acetil - coenzima A oxidações oxaloacetato citrato Ciclo do ácido cítrico eCO2 CO2 Cadeia de Transporte de Elétrons (NAD + eNADH + H) H+ e- Cadeia de Transferência de Elétrons (respiração celular) ADP ATP Figura 64: Geração de elétrons por catabolismo das proteínas, carboidratos e lipídeos. 139 RADICAIS LIVRES Os radicais livres são definidos como íon, átomo, ou molécula com um elétron desemparelhado. Quando o radical livre envolve o oxigênio em sua estrutura molecular, passa a ser denominado por espécie ativada de oxigênio. O radical livre tende a procurar seu equilíbrio e, por isso, toma elétron de outra estrutura estabilizada, desestabilizando-a e causando reações em cadeia. Por outro lado, quando um radical livre se encontra com outro, ambos podem se completar e criar uma molécula, um íon, ou um átomo estabilizado. Por essa razão a vida de um radical livre é extremamente curta, da ordem de 10-14 segundos, fato que torna impossível a sua avaliação. Entretanto, os efeitos deletérios causados pelos radicais livres podem ser avaliados e quantificados e, por essa razão, tornam-se indicadores biológicos do grau de geração de radicais livres. Entre esses indicadores destacamse a pesquisa citológica de corpos de Heinz, e dosagens da metaemoglobina, superóxido dismutase e glutatião peroxidase, principalmente. O oxigênio como fonte de radicais livres – O oxigênio é o elemento químico mais abundante na natureza e nas células dos organismos vivos, especialmente nas dos animais. O oxigênio tem oito elétrons, dos quais seis deles estão na camada externa de sua órbita atômica. Esses elétrons da camada externa da molécula de oxigênio se dispõe de tal forma que o torna um bi-radical estável com dois elétrons expostos lateralmente, fato que o deixa altamente reativo para elétrons livres, com grandes possibilidades de se tornar um radical livre, conforme mostra a representação abaixo: •• • •• O O •• •• • + e - •• Molécula de O2 bi-radical estável elétron livre → • •• •• O O• •• •• Radical livre Íon superóxido ou O2• 140 Conforme se pode observar, quando o oxigênio não é convenientemente utilizado no eritrócito, quer seja pela excessiva formação de metaemoglobina, ou por hemoglobina com baixa afinidade ao O2 como é o caso da Hb S, ele se torna alvo fácil do ataque de elétrons transformando-se em radical livre. Fontes de elétrons nas células – A principal fonte de elétrons é proveniente do catabolismo celular de proteínas, lipídios e carboidratos. Os produtos básicos da degradação desses elementos resultam em aminoácidos, ácidos graxos e glicose. A glicose ao sofrer o processo de degradação (glicólise) libera elétrons que atuam na transformação de aminoácidos e ácidos graxos em acetil-coenzima A. A glicose também se transforma em acetil-coenzima A por ação da piruvato desidrogenase. A acetil-coenzima A sofre oxidações transformando-se em citrato e oxaloacetato com liberação de CO2 e elétrons. Esse processo de oxidação da acetil-coenzima A é também conhecido como ciclo do ácido cítrico. Os elétrons resultantes desse ciclo participam da respiração celular que resulta em produção de energia (figura 64). Dessa forma a excessiva destruição de proteínas ou de lipídeos, como ocorre nas talassemias, Hb instáveis e nos genótipos das doenças falciformes, produz elevada liberação de elétrons que induzem a geração de radicais livres. Fontes de hidrogênio na célula – A cadeia de transporte de elétrons ocorre nos espaços intermembranas das mitocôndrias, com constantes transformações de NADH em NAD+ e liberação de hidrogênio (H+) que também é utilizado na respiração celular e na produção de energia (figura 64). No caso do eritrócito esse processo se desenvolve durante a sua gênese, com os eritroblastos. Assim, nas células falciformes e talassêmicas a liberação de hidrogênio pode estar afetada, alterando o metabolismo eritrocitário desde o início da sua formação. Ativação do oxigênio em presença de elétrons e hidrogênio – Quando ocorre presença excessiva de oxigênio molecular – como são os casos de metaemoglobinemia e das células falciformes com concentração de Hb S acima de 50%, inicia-se um processo reativo envolvendo elétrons e hidrogênio, com o desencadeamento de espécies ativadas de oxigênio ou radicais livres de oxigênio, conforme o esquema abaixo: 141 O2 • H2O2 + HO • O2 + + e- H+ + e- + - e e- → SOD catalase GPx + H O2 • (íon superóxido) H2O2 (peróxido de hidrogênio) H2O + HO• (radical hidroxila) catalase GPx H2O Lesões dos radicais livres na membrana eritrocitária – A membrana celular atua como delimitadora do conteúdo celular, em reações químicas, na conservação de energia, na comunicação intercelular, na seletividade iônica e na promoção e catálise de vários eventos moleculares. Sua massa é constituída quase exclusivamente por proteínas, lipídios e pequena quantidade de carboidratos (glicoproteínas e glicolipídios). Estruturalmente é composta por ampla camada lipoprotéica. Desse conjunto, destaca-se a composição do folheto bimolecular formado por dupla camada de fosfolipídios (ácido graxo e fosfato). Essa dupla camada tem áreas hidrofóbicas onde se situam apenas os ácidos graxos, e áreas hidrofílicas nas regiões em que se localizam os fosfatos. Assim as áreas hidrofílicas estão em contato com os meios interno e externo da célula. Quimicamente há dois tipos de ácidos graxos que compõe a membrana: os saturados e os insaturados. Os ácidos graxos saturados se caracterizam por terem ligações simples entre seus carbonos e pela resistência à oxidação. Os ácidos graxos insaturados tem duplas ligações entre seus carbonos e são sensíveis à oxidação. Um outro elemento químico importante na estrutura da membrana é o colesterol. O colesterol é o mais 142 importante esterol, e por ser uma substância anfótera (reage com ácido e base) tem grande facilidade em penetrar na área hidrofóbica e se ligar ao fosfolipídio, formando uma barreira que impede a ação dos radicais livres contra a região carbonada. Ação dos radicais livres na membrana – A área hidrofóbica da membrana é suscetível aos ataques dos radicais livres e, além disso, os ácidos graxos insaturados são espontaneamente oxidados em presença de oxigênio. Quando o nível de colesterol no interior da membrana está diminuído, ou quando há presença de ferro ou cobre, ocorre a oxidação dos fosfolipídios, desencadeando a formação do radical alquil lipídico, o oxigênio centrado, radical peroxil e hidroperoxil, conforme o esquema abaixo: (1) CH2 + O2• CH + Alquil (2) CH + O2• HO2• Oxigênio centrado CH OO• Peroxil (3) (4) CH OO• CH OOH + CH2 + Fe++ CH OOH + CH Hidroperoxil Alquil HO• + Fe+++ + CHO• Hidroxil Alcoxil Como se pode observar a etapa 1 se caracteriza pela oxidação do carbono da cadeia de ácidos graxos insaturados ( CH2), com formação dos radicais alquil e oxigênio centrado. Na etapa 2, o próprio radical alquil sofre ação do íon superóxido e dá origem a outro radical livre – o radical peroxil. Na etapa 3 o radical peroxil ataca outro carbono da cadeia de ácidos graxos insaturados, formando outros dois radicais livres hidroperoxil e alquil. O radical alquil volta a atacar outros carbonos das cadeias de ácidos graxos insaturados, enquanto que o hidroperoxil ao reagir com ferro ferroso resulta na formação de outros radicais livres (hidroxil e alcoxil) além de ferro 143 férrico (etapa 4). Todo esse processo resulta na reação em cadeia promovida pelos radicais livres. As principais conseqüências da lipoperoxidação da membrana são as seguintes: • Alteração da permeabilidade • Alteração do transporte de substâncias orgânicas e inorgânicas • Alteração da bomba de Na+, K+, Ca++ e ATPase • Danos ao DNA das proteínas celulares • Morte celular precoce.