HISTÓRIA DO XADREZ Muito se tem dito sobre a origem do jogo de Xadrez. O que se tem comprovado através de pesquisas científicas e estudos multidisciplinares, é que ele foi inventado na Índia por volta do século VI depois de Cristo. Estudos mais recentes, ainda não concluídos, tendem a remontar sua origem à China por volta do século III antes de Cristo. Xianggi – Xadrez Chinês Uma vez introduzido na Índia, o Xadrez seguiu seu caminho de expansão ao Ocidente passando pela Pérsia, (hoje Irã), quando foi assimilado pelos árabes. Estes, grandes fanáticos e cultivadores do Xadrez, chegaram, inclusive, a elaborar manuscritos contendo suas descobertas e propondo desafios (problemas). O Xadrez, literalmente, pegou carona na expansão árabe ao Norte da África e Europa. Chatrang – Xadrez persa Chaturanga – Xadrez indiano Após ter sido apresentado aos europeus, por volta do século XI, o Xadrez adquiriu o formato atual, de cultura medieval européia, e sofreu as últimas modificações em suas regras. Desde o século XVI, se joga com as mesmas regras e toda a literatura após esta data trata do mesmo jogo, constituindo um verdadeiro acervo de evolução científica da compreensão do jogo. 1 O formato atual é o único reconhecido pela Federação Internacional de Xadrez (FIDE – Fédération Internationale des Échecs) e praticado em todos os países do mundo. Formato Atual Nestes cinco séculos podemos louvar, além dos campeões mundiais “oficiais”, o italiano Gioacchino Greco,“Il Calabrese”, do século XVII e o francês FrançoisAndré Danican Philidor,do século XVIII. Outro destaque foi o norte-americano Paul Charles Morphy, que em meados do século XIX, atravessou o oceano Atlântico e venceu convincentemente os melhores jogadores europeus. Seu feito, além da importância para a história do Xadrez, é um marco na história da relação entre o Velho e Novo Continentes, pois pela primeira vez um nativo do Novo Continente superou os europeus em alguma atividade intelectual ou esportiva. Muito embora possamos identificar os melhores jogadores do mundo em diversos períodos de sua história, o título de Campeão Mundial só foi outorgado, em 1886, ao tcheco-austríaco Wilhelm Steinitz, após sua vitória frente a Johannes Zukertort. O título passou por diversas mãos desde então. Após 1946, com a morte do russo Alekhine, a FIDE (fundada em 1924) passou a organizar a disputa do Campeonato Mundial. Em 1993, o então campeão mundial Garry Kasparov, desentendeu-se com a FIDE formando outra liga. Desde então, o título mundial perdeu parte de sua credibilidade e várias tentativas foram feitas para restabelecer a unificação. A listagem completa dos campeões mundiais da FIDE é a seguinte: 1886 a 1894 Wilhelm Steinitz (tcheco- austríaco) 1894 a 1921 Emanuel Lasker (alemão) 1921 a 1927 José Raul Capablanca (cubano) 1927 a 1935 Alexander Alekhine (russo, naturalizado francês) 1935 a 1937 Max Euwe (holandês) 1937 a 1946 Alexander Alekhine (russo, naturalizado francês) 1946 a 1948 título vago pela morte de Alekhine 1948 a 1957 Mikhail Moisa Botvinnik (russo) 1957 a 1958 Vassily Vassilievich Smyslov (russo) 1958 a 1960 Mikhail Moisa Botvinnik (russo) 1960 a 1961 Mikhail Neyiemevich Tal (letão) 2 1961 a 1963 Mikhail Moisa Botvinnik (russo ) 1963 a 1969 Tigran Vartanovich Petrossian ( armeno) 1969 a 1972 Boris Vasilievich Spassky (russo) 1972 a 1975 Robert James Fischer ( norte-americano) 1975 a 1985 Anatoly Evgenievich Karpov (russo) 1985 a 1993 Garry Kimovich Kasparov (azerbeidjano, naturalizado russo) 1993 a 1999 Anatoly Evgenievich Karpov (russo) 1999 a 2000 Alexander Khalifman (russo) 2000 a 2001 Viswanathan Anand (indiano) 2001 a 2003 Ruslan Ponomariov (ucraniano) 2004 a 2005 Rustam Kasimzhanov ( uzbequistano) 2005 a 2006 Veselin Topalov ( búlgaro) 2006 a 2007 Vladimir Kramnik ( russo) – título unificado 2007 Viswanathan Anand ( indiano) Nota-se uma predominância, a partir de 1946, de campeões mundiais oriundos de países pertencentes à antiga União Soviética, fruto de uma política oficial de massificação do Xadrez. XADREZ NO BRASIL O Xadrez foi introduzido no Brasil pelos portugueses na época colonial. Não existem registros precisos sobre sua atividade neste período. Acredita-se que o Xadrez fosse cultivado pelas classes dominantes como mais um passatempo. O primeiro livro de Xadrez publicado no Brasil, em 1850, foi “O Perfeito Jogador de Xadrez ou Manual Completo Deste Jogo” organizado por Henrique Velloso d’Oliveira, contendo extratos dos melhores livros da época. A primeira coluna de Xadrez foi iniciada em 1876, na revista “Ilustração Brasileira”, e durou dois anos. Ambos editados na então capital do país, Rio de Janeiro. O primeiro Clube de Xadrez foi fundado em 1877, tendo como seu secretário o ilustríssimo escritor Joaquim Maria Machado de Assis. Machado de Assis era, na época, um dos melhores jogadores do país. Na expansão do Xadrez neste período, merece destaque o trabalho de Arthur Napoleão dos Santos, jogador, organizador, colunista e autor do livro “Caissana Brasileira”. Machado de Assis 3 O primeiro jogador brasileiro de renome internacional foi João Caldas Viana. Sua partida “imortal” contra Augusto Silvestre Paes de Barros, jogada em 1900, mereceu destaque no “Manual de Xadrez” de autoria do Campeão Mundial Emanuel Lasker. Além disto, Caldas Viana foi autor de profundas análises na Abertura Espanhola que originou uma variante com o nome de “Variante Rio de Janeiro”. O primeiro Campeonato Brasileiro foi realizado em 1927. Foi vencido por João de Souza Mendes, nascido nas ilhas dos Açores (Portugal). Souza Mendes não só foi o primeiro campeão brasileiro como também foi a principal figura do cenário enxadrístico nacional por quase quatro décadas, vencendo sete vezes o Campeonato Brasileiro, a última em 1958. Em 1965 ficou em segundo lugar, atrás somente do jovem de 13 anos, Henrique Mecking, o Mequinho. Neste campeonato a única derrota de Mequinho foi justamente para Souza Mendes. Ainda disputou os campeonatos de 1966 e 1967. Em seu leito de morte solicitou a um amigo sua inscrição no Campeonato Brasileiro de 1969, que iria começar poucos dias depois. Souza Mendes teve um rival à altura na pessoa do médico Walter Oswaldo Cruz, filho do renomado sanitarista Oswaldo Cruz. Walter Cruz jogou nove Campeonatos Brasileiros, vencendo seis e ficando em segundo nas outras três. Seu irmão, Oswaldo Cruz Filho, foi o vice-campeão brasileiro de 1948. Outros irmãos que se destacaram em Campeonatos Brasileiros, foram os cearences Ronald e Hélder Câmara, chegando a vencer, cada um por duas vezes, o Campeonato. O aparecimento do gaúcho Henrique Costa Mecking, o Mequinho, muda completamente a relação do Xadrez com a sociedade brasileira e inicia uma nova fase. Aos treze anos Mequinho vence o Campeonato Brasileiro e no ano seguinte vence o Zonal Sul-Americano, em Buenos Aires. Sua ascensão no cenário internacional foi amplamente acompanhada pela imprensa, chegando ao auge no período de 1972 a 1976 quando conseguiu o título de Grande Mestre Internacional e disputou o circuito ao título Mundial, ficando entre os melhores jogadores do mundo. Em 1979, foi acometido por uma doença grave ficando afastado dos tabuleiros por doze anos. Sua volta ao Xadrez em 1991, foi marcada pelo prejuízo de seu longo afastamento e somente aos poucos recuperou parte de sua antiga forma. A exposição do Xadrez na mídia brasileira, graças aos resultados espetaculares de Mequinho, causou um aumento significativo no número de praticantes e surgimento de novas gerações de talentos. A ausência de Mequinho, neste período, em parte, foi compensada pelo surgimento de outros seis Grandes Mestres, todos eles obtendo destacados resultados internacionais: - O paranaense Jaime Sunyé Neto (sete vezes campeão brasileiro); o paulista Gilberto Milos Júnior (seis vezes campeão brasileiro); o carioca Darcy Gustavo Lima (três vezes campeão brasileiro); o gaúcho Giovanni Portilho Vescovi (cinco vezes campeão brasileiro); o maranhense Rafael Duailibe Leitão (quatro vezes campeão brasileiro) e o paranaense Alexandr Hilario Takeda Fier (uma vez campeão brasileiro). A variedade da origem de seus nascimentos reflete também a difusão do Xadrez de elite por quase todo território brasileiro. 4 É justo mencionar, no entanto, que Vescovi formou-se enxadristicamente na capital paulista e Leitão reside há vários anos em Americana, também no Estado de São Paulo. Este último, venceu o Campeonato Mundial sub12 e o Campeonato Mundial sub 18, provando que o trabalho de treinamento nas categorias de base, no Brasil, está muito desenvolvido. A listagem completa dos campeões brasileiros é a seguinte: 1927- João de Souza Mendes 1928- João de Souza Mendes 1929- João de Souza Mendes 1930- João de Souza Mendes 1932- Orlando Roças Júnior 1933- Orlando Roças Júnior 1935- Thomaz Pompeu de Acioli Borges 1938- Walter Oswaldo Cruz 1939- Octávio Figueira Trompowsky 1941- Adhemar da Silva de Oliveira Rocha 1942- Walter Oswaldo Cruz 1943- João de Souza Mendes 1944- Orlando Roças Júnior 1947- Márcio Elísio de Freitas 1948- Walter Oswaldo Cruz 1949- Walter Oswaldo Cruz 1950- José Thiago Mangini 1951- Eugênio Maciel German 1952- Flavio de Carvalho Júnior 1953- Walter Oswaldo Cruz 1954- João de Souza Mendes 1956- José Thiago Mangini 1957- Luiz Tavares da Silva 1958- João de Souza Mendes 1959- Olício Gadia 1960- Ronald Câmara 1961- Ronald Câmara 1962- Olício Gadia 1963- Hélder Câmara 1964- Antônio Rocha 1965- Henrique Costa Mecking 1966- José de Pinto Paiva 1967- Henrique Costa Mecking 1968- Hélder Câmara 1969- Antônio Rocha 1970- Herman Claudius van Riemsdijk 1971- José de Pinto Paiva 1972- Eugênio Maciel German 1973- Herman Claudius van Riemsdijk 1974- Alexandru Sorin Segal e Márcio Mário do Carmo Miranda 5 1975- Carlos Eduardo Gouveia 1976- Jaime Sunyé Neto 1977- Jaime Sunyé Neto 1978- Alexandru Sorin Segal 1979- Jaime Sunyé Neto 1980- Jaime Sunyé Neto 1981- Jaime Sunyé Neto 1982- Jaime Sunyé Neto 1983- Jaime Sunyé Neto e Marcos Paolozzi Sérvulo da Cunha 1984- Gilberto Milos Júnior 1985- Gilberto Milos Júnior 1986- Gilberto Milos Júnior 1987- Carlos Eduardo Gouveia 1988- Herman Claudius van Riemsdijk 1989- Gilberto Milos Júnior 1990- Roberto Tadashi Watanabe 1991- Everaldo Matsuura 1992- Darcy Gustavo Lima 1993- Aron Antunes Correa 1994- Gilberto Milos Júnior 1995- Gilberto Milos Júnior 1996- Rafael Duailibe Leitão 1997- Rafael Duailibe Leitão 1998- Rafael Duailibe Leitão 1999- Giovanni Portilho Vescovi 2000- Giovanni Portilho Vescovi 2001- Giovanni Portilho Vescovi 2002- Darcy Gustavo Lima 2003- Darcy Gustavo Lima 2004- Rafael Duailibe Leitão 2005- Alexandr Hilario Takeda Fier 2006- Giovanni Portilho Vescovi 2007- Giovanni Portilho Vescovi 6