A IMPORTÂNCIA DOS GRANDES EMPREENDIMENTOS URBANOS COMO
RECURSO DIDÁTICO PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA: O CASO DO
CORREDOR LESTE-OESTE, RECIFE-PE.
Andresa Maria Mendes da Silva¹, Eriverton Silva Pereira
1. [email protected]
RESUMO
Esse artigo visa analisar e avançar nas discussões sobre o processo de urbanização da região
metropolitana do Recife, além de trazer a tona algumas contribuições e reflexões sobre as
transformações que estão acontecendo no espaço urbano por causa da construção de grandes
projetos que preveem intervenções de grande porte na infraestrutura viária, associando essas
transformações que ocorrem no espaço urbano como recurso didático para o ensino de
geografia. Esse artigo tem por objetivo geral analisar o projeto denominado Corredor LesteOeste e sua influência na mobilidade urbana da Região Metropolitana do Recife, compreender
as origens e características do empreendimento e sua necessidade como projeto de ligação da
área central da cidade do Recife com a Arena da Copa em São Lourenço da Mata, além de
enfatizar as contribuições dos estudos dessa temática com a finalidade de efetivar o processo
de ensino-aprendizagem nas aulas de geografia.
Palavras-chave: Espaço Urbano, Corredor Leste-Oeste, Ensino de Geografia
ABSTRACT
This article aims to analyze and advance the discussions on the process of urbanization in the
metropolitan area of Recife, and bring out some contributions and reflections on the changes
that are taking place in urban areas because of the construction of large projects which provide
large interventions in road infrastructure, linking these transformations occurring in the urban
space as a teaching resource for geography teaching. This article has the objective
to analyze the project called East-West Corridor and its influence on urban mobility in the
Metropolitan Region of Recife, understanding the origins and characteristics of the enterprise
and the need to link project of the central area of the city of Recife with Arena Cup in Sao
Lourenco da Mata, as well as emphasizing the contributions of this thematic studies in order to
carry out the process of teaching and learning geography.
Keywords: Urban Space, East-West Corridor, Geography Teaching
INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, as cidades devido ao seu processo histórico de ocupação tendem a ter
problemas econômicos e sociais devido ao seu grau de urbanização, que vai afetar a
infraestrutura e a qualidade de vida da população, visto que com o desenvolvimento urbano
desestruturado ocorre a ausência de lugares para habitação, aumento tanto da favelização como
da violência, ausência de saneamento e equipamentos de lazer, além de deficiências nos setores
de saúde, educação, distribuição de água e transporte. Visando atender as necessidades das
pessoas que vivem em áreas periféricas é necessário que as regiões metropolitanas, que
comportam as grandes cidades, tenham um planejamento institucional integrado que pense em
questões básicas de infraestrutura, e mais especificamente com relação à mobilidade e
acessibilidade, esses dois conceitos vêm sendo alvo de estudos e discussões por todo o Brasil,
além disso, o uso do solo e as atividades econômicas também precisam fazer parte desse
planejamento. Como um dos maiores problemas urbanos atuais, os engarrafamentos
contribuem para deficiências de mobilidade e com isso atrapalha o desenvolvimento de uma
cidade. A grande quantidade de veículos particulares, a ausência de um transporte público de
qualidade faz com que haja uma das maiores necessidades de mudança desse paradigma em
relação à mobilidade urbana.
Vários projetos viários começaram a sair do papel, devido à realização da Copa do Mundo na
cidade do Recife, são megaobras que obtém prioridade dos gestores do Recife e Governo
pernambucano. Como por exemplo, a implantação de um corredor viário, ligando o centro do
Recife à cidade de São Lourenço da Mata onde está sendo construída a Arena da Copa e
posteriormente a Cidade da Copa. Esse sistema de mobilidade urbana é o projeto do Corredor
Leste-Oeste em Recife (PE), com a implantação de uma faixa exclusiva de ônibus, ligando a
Avenida Conde da Boa Vista à Caxangá. O empreendimento faz parte do conjunto de obras de
melhoria da mobilidade urbana na capital pernambucana para os jogos da Copa de 2014 e que
já está sendo construído (obras na Avenida Caxangá) pelo Governo do Estado de Pernambuco.
Dessa forma, justifica-se que a mobilidade urbana não pode ser entendida apenas no espaço
territorial da cidade do Recife, pois ela se reproduz por toda a sua região metropolitana. Assim,
foram escolhidos fragmentos do espaço da cidade do Recife pensando no processo de
metropolização, pela capital que mantém uma forte relação de interdependência econômica e
um notório movimento pendular de sua população, com as cidades de Camaragibe e São
Lourenço.
Vale ressaltar que os estudos voltados para a região metropolitana do Recife é de extrema
importância não só no sentido de avançar nas discussões sobre o processo de urbanização, mas
é preciso evidenciar algumas contribuições e reflexões sobre as transformações que estão
acontecendo e que vão ocorrer principalmente por causa da construção de grandes projetos
urbanos que preveem intervenções de grande porte em infraestrutura viária. No referido objeto
de estudo percebe-se diversos elementos geográficos que podem ser debatidos em sala de aula
pelo professor de geografia, objetivando despertar nos alunos a consciência crítica das
transformações que ocorrem no espaço urbano. Esse trabalho ficou delineado da seguinte
forma:
Na primeira parte o enfoque teórico é voltado para caracterização do sistema de transporte
urbano da Região Metropolitana do Recife. Na segunda parte, destacam-se a origem do
empreendimento denominado de Corredor Leste-Oeste, assim como seu processo de
construção. E por fim, a terceira parte é voltada para o caráter educativo do Corredor LesteOeste como recurso didático para o ensino de Geografia.
CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA DE TRANSPORTE URBANO DA REGIÃO
METROPOLITANA DO RECIFE
De acordo com dados do IBGE no ano de 2012 a Região Metropolitana do Recife era a 6º mais
populosa do Brasil, com uma população de aproximadamente 3.743.854 habitantes e uma área
de 2.768,45 Km². O sistema de transporte da RMR é caracterizado como um sistema que possui
uma complexidade, pois inclui uma vasta variedade de modalidades operacionais que necessita
de regulação. Os meios de transporte que fazem parte desse sistema são: ônibus, metrô,
automóveis de aluguel e particular, assim como motocicletas e bicicletas que complementam
os meios de transportes utilizados nessa região. Nesse sentido, YANES et al. destaca que:
Cada um desses meios apresenta particularidades quanto á estrutura de suas redes de
serviço que oferecem, sua estrutura empresarial, as condições de regulação, os
esquemas tarifários etc. Essas particularidades se conjugam em um sistema que
apresenta certas condições de integração e conflitivos aspectos institucionais, diante
da dificuldade para estabelecer instâncias político-técnicas de coordenação. (2006, p.
486).
Em relação aos dados operacionais do Sistema de Transporte de Passageiros de Pernambuco
(STPP/RMR), a região metropolitana do Recife possui cerca de 18 empresas privadas, além do
metrô que é operado por uma empresa pública, as empresas de ônibus, por sua vez atuam com
quadros de horário e itinerários predefinidos pelo Grande Recife Consórcio de Transporte
(GRCT) que também fiscaliza e controla esse sistema, o transporte urbano privado da RMR é
composto por cerca de 360 linhas de ônibus, com aproximadamente 2.900 veículos, onde
realizam aproximadamente 24.350 viagens por dia.
Em relação ao novo Plano Diretor de Transportes Urbanos da Região Metropolitana do Recife
consta como objetivos a implantação do sistema de transporte para criar condições adequadas
de mobilidade garantindo os acessos e atendendo aos diversos interesses de deslocamento das
pessoas bens e serviços, além de promover a integração da metrópole e favorecer de forma
confortável e segura a intermodalidade do transporte com espaços públicos adequados para
circulação de pedestres, portadores de necessidades especiais, bicicletas, transportes público de
passageiros e para o tráfego geral (individual e de carga). De acordo com a implantação do
Sistema de Mobilidade Urbana (RECIFE, Art. 73. do PDCR, 2008) compreende: I) Meios de
Transporte Urbano: motorizados e não motorizados; II) Serviços de Transporte Urbano:
serviços de passageiros, carga, individual ou coletivo e III) Infraestrutura de Mobilidade
Urbana.
Esse sistema visa integrar os deslocamentos de pessoas e bens, além de melhorar a malha viária
do Recife, possibilitando a mobilidade urbana e acessibilidade aos serviços oferecidos pela
metrópole. Seguindo essa perspectiva, Cocco afirma que: “(...) refere-se à “mobilidade urbana”
como a capacidade das pessoas em obterem acesso físico ao espaço da cidade e aos seus
equipamentos urbanos, isto é, trata-se da capacidade de circulação humana no espaço.” (2011,
p. 614). Quanto à acessibilidade, vale ressaltar que:
Conceitualmente, a “acessibilidade”, um atributo do espaço, reflete a facilidade em se
atingir os destinos desejados e pode se medir através do número assim como da
natureza dos destinos objetivados e que podem ser alcançados dentro de certo
contexto urbano, pelos custos incorridos no deslocamento assim como no tempo que
é gasto se esperando, caminhando-se, efetuando-se baldeação e no próprio percurso
dentro do veículo, podendo refletir a carência “dramática” de investimentos em
infraestruturas exclusivas para o transporte público, cuja viabilidade é comprometida
pelas externalidades dos congestionamentos ou pelo crescimento anárquico do espaço
urbano (...) (COCCO, 2011, p. 613).
Mediante aos conceitos expostos, fica notório a necessidade de se ter em um grande centro
urbano um planejamento integrado visando melhorar o sistema de transporte coletivo,
possibilitando a participação da sociedade em geral nesse processo de planejamento, visto que,
são as pessoas de baixa renda que utilizam frequentemente em seus movimentos pendulares o
transporte coletivo.
É necessário pensar em mobilidade urbana e acessibilidade em prol da diminuição no tempo de
percurso dos ônibus, sem enfrentar filas nas integrações. Além disso, tem que ser viável o
oferecimento de conforto para os usuários desse tipo de transporte, pois se o transporte coletivo
e as paradas de ônibus fossem de qualidade haveria uma diminuição no quantitativo de carros
particulares presentes nas vias públicas e o tempo de deslocamento de um lugar para o outro
também seria reduzido. Vale Ressaltar, que nos horários de pico, onde há o maior fluxo de
pessoas que utilizam esse sistema de transporte, o BRT fica extremamente lotado, visto que,
em cada parada aumenta o número de pessoas dentro do ônibus, acarretando na ineficiência do
conforto e comodidade previstos pelo governo pernambucano. Desta forma, os interesses
hegemônicos não podem emergir sobre o poder público visando à valorização de seus capitais,
é preciso planejamento urbano voltado para atender as necessidades básicas da população.
Então, as metrópoles necessitam de planejamento urbano para atender as necessidades da
população, de acordo com essa questão Robira afirma que:
O planejamento urbano é uma prática de organização e construção da cidade,
assentada sobre umas bases teóricas que se fundamentam na articulação entre forma
e função, e cuja finalidade explícita consiste em alcançar o bem comum dos cidadãos,
expressa com frequência sob a fórmula de “melhora a qualidade de vida”. (2006, p.
431).
Mediante essa concepção, o projeto viário do corredor Leste - Oeste faz parte do planejamento
da cidade do Recife, pois visa organizar o espaço urbano possibilitando uma melhor locomoção
do fluxo de pessoas e mercadorias.
CORREDOR LESTE-OESTE: ORIGEM DO EMPREENDIMENTO E PROCESSO DE
CONSTRUÇÃO
Com a realização da Copa do Mundo no Brasil, onde no dia 29 de maio de 2009, a FIFA
anunciou as dozes cidades-sede para a Copa do Mundo de 2014. Dessa maneira, as cidades
escolhidas tiveram que modificar sua infraestrutura para melhorar a locomoção do fluxo de
pessoas que vão prestigiar o evento esportivo, como o grande número de veículos presente nas
vias públicas é um problema atual que dificulta a mobilidade das grandes cidades foi pensando
nessa questão que houve o planejamento e criação de projetos urbanos visando suprir essas
necessidades urbanas.
Nesse caso, como a cidade do Recife é uma das sedes da Copa do Mundo, o Governo do Estado
de Pernambuco juntamente com os gestores que compõem a RMR, tendo o financiamento
parcial do Governo Federal em parcerias com a Urbana-PE e seus associados implantaram
projetos urbanos que tem como finalidade melhorar a mobilidade na Região Metropolitana do
Recife. O Projeto Cidade da Copa deixa claro que:
Atualmente estão sendo implantados os Corredores de Transporte Urbano e Coletivo
Norte/Sul e Leste/Oeste. Tendo sido iniciadas as obras para adequar as instalações da
Avenida Caxangá para a operacionalização de um novo tipo de transporte para a nossa
região, o BRT (sigla em inglês que traduzida significa Ônibus de Trânsito Rápido),
como igualmente também foram iniciadas as obras no Eixo de Integração a Nucleação
Norte (BR-101), e na PE-15, notadamente entre Olinda, Paulista, Abreu e Lima e
Igarassu. (Relatório de Impacto Ambiental – RIMA. Projeto Cidade da Copa, 2012,
p. 108).
Através do RIMA (Relatório de Impacto Ambiental), mais precisamente o Projeto Cidade da
Copa deixa explicito no diagnóstico do meio antrópico a necessidade de melhorias na
mobilidade urbana e acessibilidade das pessoas. Partindo dessa concepção foram planejados e
implantados corredores que visam aperfeiçoar o sistema de transporte coletivo da Região
Metropolitana do Recife, essa implantação ocorreu devido à construção da Arena da Copa e
posteriormente Cidade da Copa em São Lourenço da Mata.
Com as obras do Corredor Leste-Oeste, a Avenida Caxangá começou a mudar sua configuração
urbana e viária, essa avenida está passando por transformações, onde a via está sendo
readequada ao modelo do BRT que vai contar com construção de estações. Assim, justificamse essas obras ao fato de que a Avenida Caxangá é considerada um dos principais corredores
viários de ônibus do Recife.
O Corredor Leste-Oeste é um corredor viário exclusivo para ônibus e será responsável pelo
transporte de passageiros que vai desde a Praça do Derby até o Terminal Integrado de
Camaragibe, atravessando a Avenida Caxangá, onde as paradas serão substituídas por estações,
com aproximadamente 12,5 Km de extensão, o corredor vai passar por 22 estações com 500m
de distância entre elas e vai atender aos Terminais Integrados da Terceira Perimetral que será
construído no cruzamento da Avenida Caxangá com a San Martin, de Camaragibe até a quarta
Perimetral na BR-101.
De acordo com o projeto do Corredor Leste-Oeste serão construídos três elevados: um próximo
ao Bompreço da Benfica, outro na Terceira Perimetral, próximo ao Hospital Getúlio Vagas e o
último no Engenho do Meio, na Praça João Alfredo ao lado do Museu da Abolição, na segunda
Perimetral será construído um túnel, além disso, um viaduto será erguido próximo a UPA da
Caxangá. O corredor estende-se desde a Cidade da Copa até o Centro do Recife, integrando-se
com o metrô, esse conjunto de intervenções terá importante função na mobilidade urbana da
RMR, visto que esse projeto será uma antecipação das demandas futuras quando ocorrer à
implantação de núcleos habitacionais previstos na Cidade da Copa, provocando uma forte
mudança na estrutura viária de Camaragibe.
Em relação ao projeto da Cidade da Copa, o Relatório de Impacto Ambiental – RIMA destaca
que:
A construção de Terminal de Integração de BRT (Transporte Rápido por Ônibus) é
um projeto de expansão do SEI e funcionará de forma semelhante aos Terminais de
Integração-T.I. O passageiro poderá desembarcar de um ônibus e pegar outro sem
pagamento de nova passagem na estação de embarque/desembarque. Com a iniciativa
da implantação dos Corredores Metropolitanos Leste/Oeste e Norte/Sul e a
operacionalização do BRT, em conjunto com novos Terminais Integrados, espera-se
que haja uma revisão e restruturação de todo o sistema de transporte de passageiro
que envolve esses municípios componentes da área de influência da Cidade da Copa...
(Relatório de Impacto Ambiental – RIMA, Projeto Cidade da Copa, 2012, p. 108,
109).
Assim, a proposta de implantação do Corredor Metropolitano Leste-Oeste visa à qualidade e
eficiência do sistema de transporte coletivo, uma vez que envolve a população das cidades que
fazem parte da RMR, como essa região vem apresentando um crescente desenvolvimento
econômico, mais precisamente a Região Oeste onde se encontra instalada a “Cidade da Copa”,
com isso é notório o crescimento populacional acelerado nessa área, então a implantação desse
corredor será necessário para atender essa futura densidade populacional. Mediante a isso, vale
destacar que a construção do corredor leste-oeste foi midiatizado pelo governo do Estado de
Pernambuco como um projeto viário que iria trazer vários benefícios para toda sociedade.
NECESSIDADE DO CORREDOR LESTE-OESTE COMO PROJETO DE LIGAÇÃO
DA ÁREA CENTRAL DO RECIFE COM A “CIDADE DA COPA”
De acordo com o Governo do Estado de Pernambuco o projeto do corredor Leste-Oeste vai
suprir a necessidade da população que realiza movimentos diários entre a área central da cidade
do Recife até as cidades de Camaragibe e São Lourenço da Mata. No entanto, para resolver o
problema da mobilidade urbana durante os jogos da Copa do Mundo esse corredor não foi
eficiente, pois houve o atraso nas obras, onde o mesmo foi planejado inicialmente para atender
o fluxo de pessoas que iriam assistir aos jogos na Arena da Copa durante a realização da Copa
do Mundo no Brasil, a partir desse fato foi necessário à implantação do sistema Bus Rapid
Transit (BRT) pelo governo do Estado de Pernambuco para entrar em operação para a Copa do
Mundo, com estações improvisadas. Na análise desse projeto viário urbano, é importante
destacar que:
[...] uma das primeiras coisas a compreender é que o poder não está localizado no
Aparelho de Estado e que nada mudará na sociedade se os mecanismos de poder que
funcionam fora, abaixo, ao lado dos Aparelhos de Estado a um nível muito mais
elementar, cotidiano, não forem modificados (FOUCAULT, 1979, p. 150 apud
CARDOSO; ARAÚJO, 2012, p. 114).
Apesar do Governo do Estado de Pernambuco enfatizar que o corredor Leste-Oeste tem como
finalidade melhorar a mobilidade urbana tanto para a Copa do Mundo como para melhorar a
acessibilidade das pessoas que se locomovem da área central do Recife até a “Cidade da Copa”.
Nesse caso, a partir da verificação de Foucault fica evidente a existência dos processos de
singularização, subjetivação ou de individualização, os quais possibilita a centralização do
poder, onde assinalamos que para além das ações do poder público existem os investimentos
corporativos na produção e ocupação do espaço. Nesse contexto, vale frisar que:
(...) o capital corporativo se aproveita da maior mobilidade espacial permitida pelos
atuais recursos tecnológicos e comunicacionais, incluindo seus efeitos sobre a
ampliação da capacidade de transporte, para impor, aos governos locais dos
territórios, que, na verdade, trata-se mais de uma chantagem (...). (OLIVEIRA apud
CARDOSO; ARAÚJO).
Mediante o exposto, como vivemos em uma sociedade capitalista, onde o capital predomina
sobre a sociedade fica nítido a ineficiência desse empreendimento perante a sociedade. Vale
lembrar que esse empreendimento funciona de forma excelente teoricamente, pois na prática a
situação é contrária, uma vez que, através do processo de construção desse corredor vários
problemas tanto de mobilidade quanto infraestruturais se instalaram na cidade do Recife através
do andamento das obras presentes nas vias de circulação, prejudicando várias pessoas que
utilizam diariamente as linhas de ônibus vigentes e acabou dificultando a mobilidade na cidade.
Além disso, houve o gasto de dinheiro público nas obras, em virtude disso RODRIGUES afirma
que:
A produção coletiva da cidade é apropriada por interesses privados, sobretudo por
aqueles que têm a cidade como objeto de valor de troca em detrimento do valor do
uso. A segregação socioespacial é a dimensão mais visível da predominância desse
valor de troca. Em virtude disso, a aplicação dos recursos públicos privilegiam a
intervenção nos lugares já equipados ou naqueles que interessam à dinâmica dos
negócios na e da cidade. (2006, p. 34).
Conforme a descrição acima, em análise do corredor Leste-Oeste nota-se que esse
empreendimento apesar de visar melhorar a qualidade coletiva mediante a utilização de um
sistema de transporte público, o mesmo é apropriado por interesses privados e políticos, onde
se percebe a segregação das classes menos favorecidas perante o poder de decisão que objetiva
transformar o espaço urbano, onde os recursos públicos são aplicados em grandes obras que na
maioria das vezes não atinge as necessidades da população em geral.
CORREDOR LESTE-OESTE: COMO APORTE DIDÁTICO PARA O ENSINO DE
GEOGRAFIA
A construção do conhecimento dos conceitos básicos da ciência geográfica possibilita reflexões
e discussões sobre o espaço geográfico, expressando e revelando os fenômenos espaciais, além
de representar a realidade e auxiliar no entendimento das relações espaciais. É importante
destacar que os conceitos não podem ser trabalhados de forma isolada, pois os mesmos estão
interligados e devem ser contextualizados.
Em relação à importância dos conceitos geográficos, HAESBAERT (2011, p. 112) enfatiza
que:
Todo conceito, obviamente derivado de ou envolvido com uma problemática, está
também situado, contextualizado – tanto num sentido temporal histórico, quanto
espacial, geográfico. Ele permite não só revelar um passado, mas também indicar,
traçar linhas na direção de um processo, indicar novas ‘conexões a serem feitas’. O
conceito, portanto, é também um ‘transformador’ na medida em que interfere na
realidade da qual pretende dar conta. Todo conceito, em síntese, sem se confundir
com a realidade, possui também uma natureza política – como todo campo do saber,
está mergulhado em relações de poder (relação tão enfatizada na obra de Michel
Foucault).
É importante destacar que os conceitos fundamentais da Geografia abordam o espaço com
ênfase e focalização conceitual de acordo com a priorização de cada conceito em relação ao
espaço geográfico. Segundo Haesbaert (2011, p. 114):
O espaço geográfico envolve como queria Milton Santos, tanto o universo dos objetos,
dos sujeitos e suas ações, tanto a dimensão dos elementos (aparentemente) fixos
quanto móveis, tanto a dimensão material quanto a dimensão imaterial. Nesse sentido,
todo espaço geográfico é ‘também’ ação, movimento e representação simbólica.
Nas análises acerca do Corredor Leste-oeste percebe-se que o professor de geografia pode
trabalhar com seus alunos diversos elementos geográficos, tais como: globalização, processo
de urbanização, transformações no espaço urbano, capitalismo, redes, mobilidade urbana. Em
linhas gerais, o professor pesquisando e conhecendo o espaço em foco que foi transformado
pode planejar uma aula de campo com seus alunos, a fim de levar o grupo de alunado a vivenciar
na prática os conteúdos que são debatidos em sala de aula.
Nessa óptica CALLAI (2005, p. 228) destaca a relevância da compreensão do espaço
geográfico através da leitura do mundo:
Ler o mundo da vida, ler o espaço e compreender que as paisagens que podemos ver
são resultados da vida em sociedade, dos homens na busca da sua sobrevivência e da
satisfação das suas necessidades. Em linhas gerais, esse é o papel da geografia na
escola: Refletir sobre as possibilidades que representa, no processo de alfabetização,
o ensino de geografia, passa a ser importante pra quem quer pensar entender e propor
a geografia.
Mediante o exposto fica evidente a importância da leitura de mundo na formação espacial dos
sujeitos, nesse sentido as aulas de campo voltadas para o ensino de geografia revelam sua
eficácia no processo de ensino-aprendizagem. Assim, CALVACANTE (1998, p. 11) destaca
que:
Esse papel é de prover bases e meios de desenvolvimento e ampliação da capacidade
dos alunos de apreensão da realidade sob o ponto de vista da espacialidade, ou seja,
de compreensão do papel do espaço nas práticas sociais e desta na configuração do
espaço (...). O conhecimento geográfico é, pois, indispensável à formação de
indivíduos participantes da vida social à medida que propicia o entendimento do
espaço geográfico e do papel desse espaço nas práticas sociais.
Nas reflexões sobre o espaço urbano da Região Metropolitana do Recife, especificamente o
Corredor Leste-Oeste revela importantes elementos geográficos que contribuem para formação
dos sujeitos, facilitando o entendimento da totalidade do espaço geográfico e o papel desse
espaço na organização social. É de suma importância que o professor contextualize com seus
alunos essas transformações que ocorrem em âmbito local, objetivando construir uma atividade
prática que despertem nos alunos a consciência crítica das transformações que ocorrem em sua
vivência.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como resultados foi observado que o projeto Corredor Leste-Oeste surgiu com a perspectiva
de um planejamento integrado da malha viária da Região Metropolitana do Recife e tem por
objetivo facilitar tanto o descolamento de pessoas visando obter acesso á educação, lazer,
oportunidade de emprego e aos demais serviços oferecidos pelas metrópoles, para atingir esse
objetivo houve a ampliação do transporte público, com a construção de vias específicas para
este fim. Além disso, a integração entre os meios de transporte (ônibus-metrô) também foi
verificado como motivo para a transformação do espaço, além da ligação entre a área central
da cidade do Recife e a cidade da Copa.
A implantação desse empreendimento visa efetivar ainda mais o desenvolvimento econômico
da RMR, pois o projeto é uma antecipação do aumento populacional futuro quando ocorrer à
implantação de núcleos habitacionais previstos para a Cidade da Copa, através da possibilidade
de se ter um sistema viário com uma faixa exclusiva para ônibus que facilite a locomoção da
população e reduza os engarrafamentos nas vias, provocando melhorias na mobilidade urbana.
Além disso, fica evidente a transformação no espaço urbano com a implantação desse corredor
viário.
Em remate, a análise desse empreendimento é um fator interessante, pois além da expansão
econômica continuar ampliando o espaço, ocorre também sua diferenciação interna. Isso
significa que é ilusório pensar apenas na sociedade e em suas necessidades básicas, sem o vetor
econômico que contribuem para a atual produção desigual do espaço. Assim, o sistema
capitalista acelera o processo urbano, nesse caso há diversos interesses em jogo, sejam eles
públicos, privados ou da população de acordo com suas classes sociais. Além disso, é
importante frisar o caráter educativo dos grandes empreendimentos urbanos que fornecem
aporte didático para o professor de Geografia trabalhar em sala de aula diversos conteúdos
geográficos.
REFERÊNCIAS
CALLAI, Helena Copetti. Aprendendo a ler o mundo: A geografia nos anos iniciais do ensino
fundamental: Cadernos Cedes n. 66, Maio/Ago. 2005.
CARDOSO A. L.; ARAÚJO, F. de S. A via expressa das políticas públicas no Rio de Janeiro:
reflexões acerca dos impactos do Arco metropolitano. In: OLIVEIRA, F. L. de. et al (org.).
Grandes projetos metropolitanos: Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Rio de Janeiro: Letra
Capital, 2012
CAVALCANTI, Lana de Souza. Geografia, Escola e Construção de Conhecimentos. 5. ed.
Campinas, SP: Papirus, 2003.
Grandes projetos metropolitanos: Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Rio de Janeiro: Letra
Capital, 2012.
HAESBAERT, Rogério. Espaço como Categoria e sua Constelação de Conceitos: uma
abordagem didática. In: TONINI, I. M. et. al. (org.). O ensino de geografia e suas composições
curriculares. Porto Alegre: Ufrgs, 2011.
Relatório de Impacto Ambiental – RIMA. Projeto Cidade da Copa. Disponível em:
<http://www.cprh.pe.gov.br/downloads/RIMA-cidade-da-copa.pdf > Acesso em: 26 de Junho
de 2014.
RODRIGUES, Arlete Moysés. Gestão da região metropolitana e da metrópole: possibilidades
e limites de gestão compartilhada. In: CARLOS Ana Fani Alessandri; OLIVEIRA Ariovaldo
Umbelino de (org.). Geografias das metrópoles. São Paulo: Contexto, 2006.
ROBIRA, Rosa Tello. Planejamento Urbano: discurso anacrônico, práticas globalizadas. In:
CARLOS Ana Fani Alessandri; OLIVEIRA Ariovaldo Umbelino de (org.). Geografias das
metrópoles. São Paulo: Contexto, 2006.
SILVEIRA, Márcio Rogério (org.). Circulação, transportes e logística diferentes
perspectivas. 1. Ed. São Paulo: Outras Expressões, 2011.
YANES, et al. Uma proposta metodológica para o planejamento do transporte: novas linhas de
metrô em Buenos Aires. In: CARLOS Ana Fani Alessandri; OLIVEIRA Ariovaldo Umbelino
de (org.). Geografias das metrópoles. São Paulo: Contexto, 2006.
Download

a importância dos grandes empreendimentos urbanos