Projeto “Educar para Transformar”
CIEP-BRIZOLÃO-460-THIOPHYLA BRAGANÇA
Araruama – RJ
Juliana Aparecida Matias Zechi, Maria Suzana De Stefano Menin
Relatoras da escola: Diana Ferreira Torres e Eliane Marinho Camalho Domingues
O contexto
O CIEP BRIZOLÃO 460 -THIOPHYLA BRAGANÇA é situado na cidade de Araruama
– RJ, à aproximadamente 120 quilômetros da cidade do Rio. Araruama é um município populoso,
com cerca de 97000 habitantes e de contrastes bastante fortes, tendo desde bairros muito luxuosos e
inúmeros condomínios fechados com casas de veraneio, hotéis e belas pousadas, como periferias
extremamente pobres, como é a região onde se situa a escola. De fato, este CIEP fica num bairro
cuja população é, em sua maioria, negra e extremamente carente “As famílias são muito pobres,
pois grande parte dos alunos, principalmente os menores, tem pais que sobrevivem do lixo”
(relatoras da pesquisa); os índices de criminalidade são grandes e as atividades ligadas ao tráfico de
drogas são freqüentes, trazendo sérios problemas de violência à região.
O Ciep Thiophyla Bragança foi criado em 1994, e construído num terreno que era antes
um lixão. Possui Ensino Fundamental e Médio e conta com 528 alunos e 82 funcionários, entre
professores e demais serviços. Em 2011, devido à municipalização de parte do ensino fundamental,
a escola deixará de atender às séries iniciais, o que a diretora e vice-diretora lamentam muito.
Apesar da pobreza da redondeza da escola, o CIEP, seguindo o padrão de construção dessas escolas,
é espaçoso, tendo muitas salas amplas e que se destinam ao oferecimento de diferentes atividades.
A escola conta com uma bela biblioteca, tem uma sala de informática bem equipada e em ótima
conservação. A escola toda se apresenta muito bem cuidada e bonita.
Diana Ferreira Torres e Eliane Marinho C. Domingues são as relatoras do projeto “Educar
para transformar”, motivo de nossa visita à escola, em outubro de 2010. Elas estão nesse colégio
desde 2003 e procuraram, desde daí, construir um relacionamento bom e respeitoso tanto com os
alunos e professores da escola, como com a comunidade ao seu redor.
Por que e como o projeto começou?
Diana Torres nos conta que a escola está inserida numa comunidade bastante carente do
município, que apresenta um alto índice de criminalidade, envolvendo o tráfico de drogas, a
prostituição de menores, violência familiar, entre outros.
Em conversas informais com alunos no pátio da escola pudemos ouvir casos que nos
contaram sobre pessoas conhecidas que vendem drogas e que as usam de forma abusiva.
Nesse ambiente, afirma Diana, seria impossível trabalhar na comunidade sem abordar
diariamente temas dentro das áreas de “Educação Moral” ou “Educação em Valores” ou ainda,
“Ética ”, “Cidadania” e “Direitos Humanos”.
Desde que Diana e Eliane entraram nesse CIEP 460 (2003) começaram a desenvolver o
projeto "EDUCAR PARA TRANSFORMAR". Este tema foi escolhido pelo corpo docente da
escola e foi inserido no Projeto Pedagógico da unidade. Segundo a diretora, eles sempre iniciam o
ano abordando valores, especialmente respeito, solidariedade, amor, amizade, pois “após o período
de férias, as crianças retornam para a escola bastante agitados, agressivos e intolerantes com o
seu próximo”.
Dessa forma, as relatoras do projeto decidiram trabalhar com valores e a orientadora
pedagógica da escola resolver trabalhar o valor da “solidariedade”, por meio da atividade
denominada “troca-troca”
Os valores são trabalhos no dia-a-dia, (...) nossa orientadora vocacional trabalha com a
questão da solidariedade através do espaço do troca-troca. As crianças trazem aqueles
tênis que não usam ou a calça que já está curta (...) trabalhando a solidariedade, dessa
forma eles estão ajudando e recebendo. Há a troca, o que não serve para mim pode servir
para outro. (Relatoras da experiência)
O projeto tem como finalidade “socializar os alunos, levando-os a valorizar a sua escola,
a respeitar os seus colegas e a acreditar na sua capacidade de vencer obstáculos”.
A constituição do projeto: temas, meios, atividades desenvolvidas.
A Diretora da escola relata que o projeto é desenvolvido pelos professores das áreas
integradas, isto é, disciplinas normais que têm um intercâmbio previsto no Projeto Pedagógico com
disciplinas diversificadas; pelos professores das áreas complementares (artes, sala de leitura, vídeo
e recreação) e pela animadora cultural. Porém, durante todo o ano, paralelamente aos outros temas,
a escola desenvolve trabalhos destacando valores, embora a ênfase maior nesses trabalhos ocorra
nos três primeiros meses de aula. Nos pareceu, através das entrevistas e do percebemos na visita à
escola, que trabalhos em valores acontecem dentro de atividades culturais, muito freqüentes.
Notamos na visita que uma área muito forte do CIEP Thyophila Bragança é a dedicada às
atividades culturais e artísticas que são lideradas por uma professora com a função de “animadora
cultural”. Nossa visita ocorreu próxima a uma festejo sobre a arte e cultura afro-brasileira e, assim,
vimos várias mobilizações dos alunos para a constituição de diversas apresentações artísticas,
como: teatro, dança, pinturas. Mas pudemos ver, também, inúmeras produções artísticas feitas
durante o ano escolar, tal como mosaicos e pinturas cuja produção pelos alunos das primeiras séries
do ensino fundamental aconteceu sob a coordenação da professora de artes. Nessas atividades,
segundo o relato de Diana, os alunos produzem textos,
desenhos, frases, trabalhos manuais,
coreografias, teatro, entre outras atividades, e, diz a diretora, todas se relacionam à educação de
valores, ética, cidadania, direitos humanos.
O que pudemos notar, na visita à escola, é o orgulho e a alegria com que os alunos
mostram suas produções; aliás, isso também fica evidente entre as professoras coordenadoras
dessas atividades artísticas. Entrevistamos alunos enquanto pintavam painéis para a festa afrobrasileira e vimos que alguns deles tinham expectativas futuras bastante elevadas. Uma das alunas
disse pretender ser professora para, assim, ajudar outros. Desse modo, nos pareceu que um resultado
marcante de tantas iniciativas da escola em produções artísticas é a elevação da auto-estima dos
alunos e a ligação mais estreita com a escola e a própria escolarização.
A escola é a base para nosso futuro, podemos conhecer coisas novas e ter novas idéias (...)
Penso no futuro em fazer faculdade de pedagogia. Porque eu gosto de ensinar” (aluna do
Ensino Médio) “Eu vou fazer faculdade de Medicina, porque acho muito interessante
cuidar das pessoas” (aluna do Ensino Médio)
Outra atividade que Diana nos relatou se refere à Educação de Jovens e Adultos ( EJA), que
é realizada à noite na escola. Os estudantes desse projeto são, em sua maioria, pais dos alunos do
CIEP460 e isso, de acordo com avaliação de Diana, provoca um forte reconhecimento do valor da
escola pelas famílias dos alunos e, conseqüentemente, pelos próprios alunos. A escola é sentida
como beneficiando, de fato, a comunidade.
Além desse elo com a comunidade, todas as festividades contam com a presença dos pais de
alunos, como convidados. “começamos a trabalhar com os pais, nas oficinas e nas festas fazíamos
dinâmicas com os pais e filhos juntos, fizemos um trabalho de parceria, pois formamos os hábitos e
atitudes dos alunos aqui, mas quando chegam em casa não tem nada disso.”(Relatoras do projeto)
Principais resultados e formas de avaliações
A diretora Diana relata que a experiência com esse projeto “Educar para transformar” é
bem sucedida, pois a escola, gradativamente, está conquistando seus alunos e, consequentemente,
toda a comunidade escolar que passa a valorizar a escola.
“...o número de alunos vem crescendo anualmente, pois a visão externa da
comunidade está mudando em relação a escola, que antes era vista como
uma escola onde só estudavam crianças pobres, abandonadas pelas
famílias, agressivas... Estamos conquistando a confiança da comunidade,
através de muito trabalho, pois o que mais temos buscado é elevar a autoestima, o respeito, solidariedade entre os membros da comunidade escolar.
Em nossa visita, pudemos notar que a quantidade e diversidade das atividades, quase todas
ligadas à expressão artística, parece produzir nos alunos uma adesão à escola e propiciam uma
motivação maior para freqüentar as outras áreas de ensino.
Os alunos disseram gostar da escola, pois lá “tinha muita coisas para fazer”. Ou seja, a
escola parece propiciar aos alunos uma vida cultural que ou é inexistente nas redondezas, ou que
seria de acesso impossível para eles.
Mesmo o fato de escola ter ótima aparência, e se manter bem cuidada, mostra a
preservação da mesma pelos alunos e evidencia, também, como estes a respeitam.
Segundo Diana, o projeto é avaliado nas reuniões pedagógicas que acontecem na escola,
mas não pudemos detectar como esse processo ocorre.
Perguntamos à Diana e Eliane sobre a formação que receberam para executar esse projeto
e suas respostas evidenciam mais um esforço e busca pessoal e em parceria com certos professores
da escola, do que uma atividade orientada por estudos específicos. “Os projetos vieram da nossa
prática, da nossa vivência e da necessidade da escola no dia-a-dia. Além da troca com alguns
professores da escola” (Relatoras do projeto)
Limites e dificuldades
A diretora Diana ressalta que a maior dificuldade vivenciada pela escola é a ausência da
família no contexto escolar; embora ela também ressalte que o relacionamento dos pais com a
escola melhorou muito durante todo esse período:
este trabalho [projeto Educar para transformar] faz parte do nosso
cotidiano escolar. Sem a educação moral não conseguiríamos avançar nas
outras áreas da educação, porém ainda encontramos muitas barreiras, e a
ausência da família no contexto escolar pode ser considerado o maior
entrave na educação.
Notamos outras dificuldades para a continuidade do projeto que são provocadas pelas
mudanças nas diretrizes para a educação fundamental do estado e federais. Por exemplo, a
professora de animação cultural não será mais mantida na escola, pois sua função não é mais
prevista no corpo docente; e pudemos ver como o seu trabalho é fundamental para a criação e
coordenação das atividades culturais. Vimos, também, que as classes do primeiro ciclo do ensino
fundamental serão colocadas em outra escola. Isso quebra um trabalho de anos que a escola vem
fazendo para conquistar essa clientela, dar continuidade aos seus estudos na mesma escola, assim
como propiciar uma formação em valores buscada desde os anos iniciais.
Outra dificuldade percebida é em relação ao quadro docente. Muitos professores são novos
na escola e ainda têm que ministrar aulas em outras escolas. Dessa forma, tornou-se difícil reunir os
professores para debater sobre o projeto “Aconteceram muitas mudanças, recebemos muitos
professores esse ano e o ano passado, isso aí é uma coisa que ainda estamos lidando, temos
professores que vem aqui e trabalham só um dia, está muito difícil reunir os professores” (Relatora
do projeto).
Referências
BOLG da escola: http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=15889144526992455184
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