LEVANTAMENTO DE USOS DO EDIFICADO E INQUÉRITO AOS MORADORES RESUMO 1. Introdução 2. Abordagem técnica 3. Levantamento de usos do edificado 3.2. Resultados 3.3. Análise 4. Inquérito aos moradores 1. Introdução A dimensão e a presença de realidades muito distintas na Avenida dificulta a interpretação dos dados recolhidos. Os volumes que vão dos dois aos oito pisos, de edifícios dos anos trinta até hoje, constituídos por uma só fracção ou que chegam a atingir as cem fracções dão resultados que é preciso ler com atenção. O cariz residencial que caracterizava o início da Avenida rapidamente se vê associado a uma dinâmica comercial e nas últimas décadas é a vez dos serviços invadirem uma grande parte dos espaços disponíveis. As funções têm-se sobreposto o que dificulta o diagnóstico. Um grande número de fracções de habitação deu lugar a serviços, e na ausência desta procura poderão voltar à sua função inicial. Interessa-nos perceber os valores de referência que permitam traçar um perfil, através do entendimento das suas formas e usos. 2. Abordagem técnica Os sinais exteriores foram os principais informadores dos dados levantados: o número de fracções e a sua ocupação. Difícil de perceber é a transformação que houve ao longo dos anos, que levou a subdivisões ou junção de fracções. O conhecimento do Presidente da Junta reforçou algumas certezas e desfez outras, foi-se afinando os resultados. Em simultâneo, foi pedida a colaboração da AdRA e EDP para apurar o número de alojamentos vagos e completar a avaliação. Seria importante perceber o número de proprietários envolvidos, e a sua relação com a fracção. Pela dificuldade dessa tarefa, tentámos recolher informação sobre essa matéria através dos inquéritos feitos aos moradores. Sabemos o número de divisões possíveis e vamos conhecendo algumas histórias. Existem os antigos “prédios de rendimento” que pertencem a um só proprietário, com fracções alugadas a diferentes inquilinos. Conhecem-se algumas intenções de intervenção, quase sempre associadas a aumento de áreas e fracções. Para comparar valores, reduzindo o impacto que a dimensão das fracções pode causar nos resultados, fizemos um cálculo de usos por área (delimitadas na planta à escala 1/1000) e ainda excluindo os três principais edifícios de comércio e serviços, com fracções de áreas reduzidas. 3. Levantamento de usos do edificado 3.1. Resultados Os quarteirões entre as ruas Dr. Alberto Souto e Eng. Oudinot fazem a transição entre a metade poente, onde predominam os serviços, e a metade nascente, onde predomina a habitação. O comércio vai-se mantendo ao longo da Avenida, essencialmente ao nível do piso térreo, embora o tipo de comércio existente sofra alterações e a pressão que é exercida vá diminuindo no sentido poente - nascente. É possível perceber que a concentração do comércio de qualidade acontece lado-a-lado com as agências e direcções dos bancos e seguradoras nos dois primeiros quarteirões a poente. Da leitura da planta com os usos dominantes percebemos ainda que existem 15 edifícios desocupados, sendo que a maioria corresponde a edifícios da primeira metade do século XX. É possível ainda associá-los a volumetrias mais baixas e a edifícios com um número reduzido de fracções. Este número aumenta para 19 se acrescentarmos os edifícios parcialmente desocupados, uma vez que o piso térreo permanece com ocupação. Quadro 1 – Usos por fracção USO serviços comércio habitação FRACÇÕES RESULTADOS ocupados 386 desocupados 63 39% DE SERVIÇOS 14% VAGOS ocupados 218 desocupados 61 ocupados 332 desocupados 78 restauração 16 empreendimento turístico 3 armazenagem 3 TOTAL 24% DE COMÉRCIO 22% VAGOS 35% DE HABITAÇÃO 19% VAGOS 1,4% 0,3% 0,3% 1160 Quadro 2 – Usos por fracção, excluindo os três maiores edifícios de comércio e serviços (Centro Comercial Avenida, Centro Comercial Oita e MultiCentro Avenida) USO (excluindo 3 CC) serviços ocupados FRACÇÕES RESULTADOS 322 39% DE SERVIÇOS 11% VAGOS desocupados 41 ocupados 130 desocupados 11 ocupados 331 desocupados 77 44% DE HABITAÇÃO 19% VAGOS restauração 16 1,7% empreendimento turístico 3 0,3% armazenagem 3 0,3% comércio habitação TOTAL 934 15% DE COMÉRCIO 8% VAGOS Quadro 3 – Usos por área USO serviços comércio habitação ÁREA ocupados 51563 desocupados 9587 ocupados 21569 desocupados 2183 ocupados 44175 desocupados 10986 restauração 2900 empreendimento turístico 1371 armazenagem 641 TOTAL RESULTADOS 42% DE SERVIÇOS 19% VAGOS 16% DE COMÉRCIO 9% VAGOS 38% DE HABITAÇÃO 20% VAGOS 2,0% 0,9% 0,4% 144975 Da análise dos quadros, e do cruzamento dos valores, poder-se-á dizer que a habitação e os serviços representam percentagens semelhantes (rondam os 40%). No entanto, a habitação apresenta maior número de fracções desocupadas. Quando temos em conta a área, os serviços vêem reduzida a sua percentagem de ocupação provocada em grande parte pelo Cine Teatro. No que toca ao comércio, os números sofrem variações significativas se retirarmos as três grande superfícies comerciais, com fracções de áreas reduzidas. Conclui-se que é o uso com maior ocupação, fora destas superfícies. Representa cerca de 15% dos usos e localiza-se essencialmente nos pisos térreos dos edifícios. Quando localizado noutros pisos reduz a sua atractividade. 3.2. Análise De acordo com o relatório de caracterização de Demografia e Habitação, elaborado no âmbito da Revisão do PDM, a realidade do concelho é muito semelhante à do resto do país em que é dada preferência à construção nova em detrimento da reabilitação, e ao acesso à propriedade em detrimento do arrendamento. A existência de alojamentos vagos faz-se sentir sobretudo nas freguesias urbanas onde a idade da construção é mais frequente e evidente. O estado de degradação dificulta a sua ocupação imediata, havendo necessidade de uma intervenção que tem afastado os investidores. Quadro 4 - Número de habitantes por alojamento FONTE: INE, Recenseamento Geral da População e Habitação – 2001 Número de Alojamentos Familiares Concelho 32741 Vera Cruz 4853 Forma de ocupação Residência Uso Vagos Habitual Sazonal ou Secundário 25428 3924 3389 3511 541 801 Forma de ocupação (%) Residência Uso Vagos Habitual Sazonal ou Secundário 77,66% 11,98% 10,35% 72,35% 11,15% 16,50% Existe ainda o uso sazonal e secundário que é difícil de distinguir dos vagos num estudo desta natureza. Somando estes dois valores temos 22% de edifícios do concelho desocupados ou com uma ocupação marginal, e se nos concentrarmos na freguesia da Vera Cruz, onde se situa a Avenida, os números já sobem para 27% de edifícios. O levantamento, que teve em conta sinais exteriores de abandono, aproxima-se dos 20% de fracções de habitação “vagas ou desocupadas”, o que poderia vir a aproximar-se dos valores da freguesia somando as fracções que não constituem habitação permanente. Por outro lado, esta é uma das freguesias em que o mercado de arrendamento é mais forte. Só ultrapassada pela freguesia da Glória (37%), em que o alojamento universitário terá impacto, a freguesia da Vera Cruz apresenta valores de arrendamento (31%) bastante superiores aos nacionais (21%). Quadro 5 – Alojamentos familiares clássicos de residência habitual (2001) Total Ocupante Propr. Arrend. Subarren + Outra situação Ocupante Propr. Arrend. Subarren + Outra situação Continente Centro Baixo Vouga Aveiro 3410548 827768 126406 25287 2570776 705651 105805 19013 703273 98780 16013 5405 136499 23337 4588 869 75% 85% 84% 75% 21% 12% 13% 21% 4% 3% 4% 3% Aradas Cacia Eirol Eixo Esgueira Glória Nariz Oliveirinha Requeixo São Bernardo 2653 2175 261 1722 4250 3696 478 1492 392 1313 2021 1856 247 1494 3354 2137 428 1185 334 1084 529 260 11 183 786 1370 39 252 50 200 103 59 3 45 110 189 11 55 8 29 76% 85% 95% 87% 79% 58% 90% 79% 85% 83% 20% 12% 4% 11% 18% 37% 8% 17% 13% 15% 4% 3% 1% 3% 3% 5% 2% 4% 2% 2% Unidade Geográfica São Jacinto Vera Cruz Santa Joana Nossa Senhora de Fátima 324 3496 2421 614 219 2281 1876 497 83 1092 476 74 22 123 69 43 68% 65% 77% 81% 26% 31% 20% 12% 7% 4% 3% 7% A realidade da Avenida acompanha a realidade da freguesia. No entanto, existe um potencial, essencialmente associado à localização, que predispõe esta área para uma ocupação superior à existente num regime de propriedade ou arrendamento. No entanto, a existência dessa dinâmica ultrapassa as estratégias municipais, uma vez que está dependente de realidades nacionais como as conjunturas socio-económicas e o quadro legal associado. 4. Inquérito aos moradores Os moradores que responderam aos inquéritos representam, em números semelhantes, proprietários e arrendatários, ambos com relações, na maioria dos casos, com mais de 40 anos com a Avenida. A amostra tem, em média, 52 anos de idade. O número de residentes por unidade de alojamento é reduzido, repetindo-se as residências com um morador. O grau de satisfação é elevado. Cerca de 90% dos moradores referem a centralidade e a proximidade dos serviços e comércio como os principais aspectos positivos. Também a proximidade aos transportes públicos, com especial importância dada aos comboios, é referida como uma grande vantagem. É referida a potencialidade do espaço público como uma característica a valorizar. Lê-se nos inquéritos que a largura garante luminosidade e privacidade aos moradores bem como pode garantir uma utilização pedonal mais intensa em relação a outras áreas da cidade. Como aspectos negativos foram nomeados a degradação dos edifícios e dos pavimentos. A quantidade de automóveis e velocidades excessivas aparecem associadas à perigosidade e dificuldade de atravessamento. A poluição, incluindo o ruído, também é uma das consequências enunciadas. Aparecem ainda focados outros aspectos negativos associados à falta de espaços verdes; sensação de insegurança pela falta de policiamento e mau sistema de recolha de lixo. A falta de estacionamento para moradores é referida mas não é uma preocupação generalizada. As sugestões incidiram essencialmente na resolução dos aspectos negativos. Aparecem algumas preocupações pelo convívio para a resolução das quais se sugere uma maior utilização do espaço público para lazer.