A PERCEPÇÃO DOS MORADORES DE ALFENAS – MG SOBRE A
INFLUÊNCIA DA MÚSICA SERTANEJA UNIVERSITÁRIA E O AXÉ
MUSIC PARA A CULTURA CAIPIRA REGIONAL 1
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Henrique Faria dos Santos
[email protected]
Daniel Fernando Costa do Prado
[email protected]
Rodrigo César P. Nicolau
[email protected]
Giovanni Andreas Oliveira
[email protected]
Discentes do curso de Geografia Bacharelado do Instituto Ciências da Natureza
Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG)
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma investigação da percepção dos
moradores de Alfenas/MG sobre o valor e as influências que os estilos de músicas populares e
universitárias, como a nova geração sertaneja e o axé music, promovem sobre a cultura
regional local. Tal análise partiu do grau de elo topofílico dos moradores com o lugar e o valor
que atribuem para a sua cultura tradicional, como a música sertaneja de raiz. A música raiz
sertaneja ou caipira é tida como parte da cultura tradicional da região, mas no entanto, o
sertanejo universitário e o axé music, além de outros ritmos musicais, tem tomado espaço no
cotidiano das pessoas, apagando gradativamente o hábito delas de apreciar as boas e velhas
canções de sertanejo raiz, tão valorizadas pelas gerações passadas. A metodologia adotada
para realizar a presente investigação se baseou em métodos da Geografia cultural
(fenomenologia e semiótica) compreendendo uma pesquisa qualitativa e quantitativa, cujos
dados foram coletados a partir de entrevistas com pessoas de diferentes perfis de idades e
tempo de residência no lugar. Os resultados permitiram concluir que o sentimento de topofilia
(apego ao lugar) é muito forte entre os entrevistados e que muitos compartilharam da idéia de
que Alfenas não possui uma identidade cultural própria, aonde os moradores não valorizam a
1
Artigo elaborado para disciplina de Geografia Cultural, em outubro de 2012.
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sua cultura histórica e regional e são deixados influenciar pelas outras culturas vindas de fora,
como as trazidas pelos estudantes universitários.
Palavras-chave: identidade cultural; música sertaneja; topofilia; globalização
ABSTRACT
This paper aims to present an investigation of the perception of the residents of Alfenas / MG
about the value and influences of the popular and young people musical styles, like the new
generation of country singers and axe music promote on the local regional culture. This analysis
was based on the degree of topofílico link of the residents with the place and the value they
attach to their traditional culture, as the original country song style. The original old country
music is taken as part of the traditional culture of the region, but nevertheless, the new young
people country and the axe music, beyond other musical rhythms, has taken space in people's
lives, gradually erasing them the habit of enjoying the good and old songs of old country, so
valued by past generations. The methodology used to conduct this research was based on
methods of cultural geography (phenomenology and semiotic) comprising a qualitative and
quantitative research, data were collected from interviews with people of different ages and time
of residence in the place. The results showed that the sense of topophilia (attachment to place)
is very strong among interviewees and many shared the idea that Alfenas does not have its own
cultural identity, where the locals do not value their historical and regional culture and they are
influenced by other cultures from outside, as the ones brought by college students.
Keywords: cultural identity; Country music; topophilia; globalization
Eixo 11 – História do Pensamento Geográfico e Método
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como finalidade divulgar os principais resultados de
uma pesquisa realizada a partir de conhecimentos científicos na área de Geografia
Cultural. A pesquisa se pauta na investigação sobre a percepção de pessoas
residentes a pouco e a bastante tempo no município de Alfenas/MG quanto a
influência dos estilos de músicas populares e universitárias, como a nova geração
sertaneja e o axé music (esta muito presente na Micareta Indoor Carnalfenas, a festa
mais popular da cidade), para a cultura musical tradicional do município e região,
caracterizada principalmente pela música sertaneja raiz.
Sendo um estilo consolidado desde 1920 na maior parte das áreas interioranas
da região Centro-Sul, a música raiz sertaneja ou caipira é tida como parte da cultura
tradicional da região do Sul de Minas e, portanto, também do município de
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Alfenas/MG. Com as recentes transformações socioeconômicas e culturais derivadas
do evidente desenvolvimento do município, combinada com o aumento expressivo da
alocação temporária de uma população de jovens universitários oriundos de outras
cidades, estados e regiões do país, uma nova cultura “estranha” ao lugar começou a
influenciar os já estabelecidos tipos de hábitos e costumes tradicionais. O aumento
das reuniões coletivas de jovens e festejos universitários no meio urbano culminou na
entrada de novos estilos musicais que teoricamente, abalaram o espaço vivido
tradicional da população alfenense, como o sertanejo universitário e o axé music.
No entanto, percebemos que este processo de mudança cultural não só ocorre
nas regiões interioranas, mas em todo o país. Transformações na sociedade
aconteceram a partir dos processos de urbanização e dos efeitos da globalização
sobre os meios de comunicação em massa (rádio, televisão, internet, etc.),
influenciando nos hábitos culturais tradicionais das pessoas. Observa-se em quase
todos os lugares a perda significativa da apreciação das velhas músicas populares
pela maioria das pessoas, principalmente entre os jovens. Embora isso seja latente,
existem muitas pessoas que ainda resistem a “invasão” cultural destes tipos de
músicas no cotidiano e continuem a valorizar as músicas que fizeram sucesso no
passado, criticando a emergência dessas novas modas musicais.
OBJETIVO
O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma investigação da
percepção dos moradores de Alfenas/MG sobre o valor e as influências que os estilos
de músicas populares e universitárias, como a nova geração sertaneja e o axé music,
promovem sobre a cultural regional local. Tal análise parte do grau de elo topofílico
dos moradores com o lugar e o valor que atribuem para a sua cultura tradicional, como
a música sertaneja de raiz.
O SERTANEJO UNIVERSITÁRIO E O AXÉ MUSIC COMO CULTURAS DE MASSA
Os estilos musicais da nova geração sertaneja, mais conhecido como
“sertanejo universitário” e o axé music, esta muito tocada em épocas de carnavais e
festejos de micaretas (carnavais fora de época), têm se tornado nos últimos tempos
importantes referências para a constituição da identidade das culturas populares ou
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culturas de massa2. O sertanejo universitário ganha força a partir de 2000, com as
transformações ocorridas após o segundo movimento do sertanejo 3, produzida por
cantores jovens relacionados ao público universitário, com letras mais simples e
abordagem geralmente associada a relações amorosas (como conquista, traição e
poligamia) e várias formas de festejos. Os maiores destaques deste terceiro
movimento do sertanejo são: Luan Santana, Michel Teló, Fernando & Sorocaba, Jorge
& Mateus, João Neto & Frederico, Victor & Leo, Cesar Menotti & Fabiano, e muitos
outros. Já o axé music teve origem a partir de 1980, com as profundas mudanças
ocorridas no ritmo original, através da combinação do frevo, forró, reggae, calipso e
samba com o pop, rock e o sertanejo (ARAÚJO, 2000), com músicas que
acompanham os mesmos significados que o Sertanejo Universitário. As bandas
destaques deste ritmo musical são: Ivete Sangalo, Claudia Leitte, Chiclete com
Banana, Asa de Águia, Banda Eva, Cheiro de Amor, entre outros.
No contexto geral da música caipira, Oliveira e tal. (2008) nos remete a dois
fatos importantes que levaram a transformação do estilo da música sertaneja: a
urbanização brasileira e os impactos da globalização. A partir da década de 1980, a
população brasileira começou a se concentrar mais nas cidades, o que fez com que
houvesse o enfraquecimento das identidades culturais associadas ao campo. E a
consolidação do sistema capitalista permitiu que poucas empresas monopolizassem a
Indústria Cultural4 e se apossassem dos meios tecnológicos de comunicação para
reproduzir e distribuir músicas com facilidade à massa populacional que já estava em
processo de transformação cultural rural-urbano e contemporâneo, de forma a explorála mercadologicamente.
2
Termo utilizado para designar o envolvimento de uma grande quantidade de pessoas
referente à grande maioria da população da sociedade atual. Segundo Eco (1993) citado por
Silva (2008, p 15), a definição de cultura de massa e sua crítica seria: “Os mass media dirigemse a um público heterogêneo, e especificam-se segundo “medias de gosto” evitando as
soluções originais. Nesse sentido, difundindo por todo o globo uma “cultura” de tipo
“homogêneo, destroem as características culturais próprias de cada grupo étnico” (ECO, 1993,
p. 40).
3
Este movimento é caracterizado pelo chamado sertanejo “modernizado” de acordo com a
influência da cultura urbana, denominada pelos especialistas como “sertanejo romântico”,
“sertanejo pop” ou “neo sertanejo”, surgido a partir de 1980, tendo como referências Zezé di
Camargo & Luciano, Chitãozinho & Xororó, Leandro & Leonardo, Gian & Giovani, etc. (ZAN,
2008).
4
É o conjunto de grandes e poucas empresas responsáveis pela produção e distribuição dos
meios de entretenimento artísticos, como a música e os filmes. De acordo com Zan (2008), as
principais gravadoras do país que controlam a maior parte da vendagem de CD´s são a
Polygram, Sony Music, Warner Music, BMG-Ariola, etc. Adorno (1985) citado por Silva (2008)
faz duras críticas à indústria cultural, dizendo que ela oferece apenas lixo às massas sedentas
para consumirem algo que satisfaça seu status: “...a técnica da indústria cultural levou apenas
à padronização e à produção em série, sacrificando o que fazia a diferença entre a lógica da
obra e a do sistema social” (SILVA, 2008, p. 15).
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Assim, como a música sertaneja raiz desde 1980 já não fazia mais parte da
preferência do novo público consumidor da cultura, ou seja, da recente população
urbana,
muitas
gravadoras
deixaram
de
apoiar
artistas
do
gênero
e,
conseqüentemente, de continuar impulsionando a sua disseminação, sendo então
gradativamente substituída pelas novidades sertanejas que mais agradariam aos
gostos do Pop moderno e das baladas românticas das cidades (Oliveira e tal., 2008).
Zan (2008) fala muito bem deste processo, ao mencionar:
Produtores, diretores artísticos e profissionais de marketing
fonográfico que atuam em gravadoras indicam as inovações para
garantir a vendagem dos discos. (...) A antiga imagem caricata do
caipira mau vestido, banguela, com chapéu de palha, foi superada.
As novas duplas usam roupas de grife, cabelo bem aparado e
penteado. As mudanças estilísticas têm forte apelo comercial
destinado a um público ávido por novidades. A viola foi substituída
por instrumentos eletrônicos como a guitarra, o contrabaixo elétrico e
teclados, além de bateria e, eventualmente, bancada de instrumentos
de percussão. Tanto as composições como os arranjos apresentam
elementos da música urbana de massa, especialmente das baladas
românticas da Jovem Guarda e do country music. Da música caipira,
de fato, restam poucos aspectos (ZAN, 2008, p. 4).
Além disso, a melhora no padrão de vida da população, principalmente nas
grandes cidades, com a ampliação do consumo e do conforto, levaram as pessoas a
cultivarem sentimentos que não mais estariam associados às revoltas contra a
realidade dura e difícil da sociedade, e passar a conviver com a busca permanente da
felicidade. Sendo então a música um ótimo instrumento de entretenimento, a
abordagem artística deveria seguir os mesmos padrões de pensamento, expressando
sentidos que significassem o esquecimento momentâneo dos problemas e enfatizar
coisas que levassem a alegria e a felicidade.
Daí então o motivo da nova roupagem da música urbana sertaneja, que desde
então tende a abordar as relações amorosas (novas e intensas emoções) e várias
formas de festejos, como os rodeios e as baladas de final de semana. Neste cenário,
os meios de comunicação de massa, como a televisão, o rádio e a internet, junto com
a atuação da Indústria Cultural, ajudaram a difundir o novo ritmo musical, agora
influenciando lugares e povos cada vez mais distantes e de diferentes culturas,
fazendo com que diversas regiões ou lugares fossem perdendo aos poucos suas
identidades culturais. Silva (2008) nos relata bem este processo, ao explicar que:
Essa padronização imposta pela indústria cultural e aceita pela
cultura de massa, é analisada pelo ponto de vista pós-moderno como
um momento de ruptura com o passado. Assim, o sujeito pósmoderno abandona todos os seus referenciais de tradição e cultura
somente para estar inserido no mercado global. Embora muitas vezes
ele nem saiba desta sua nova opção cultural, assim o faz devido às
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condições impostas pela sociedade para a sua subsistência como um
membro do grupo, necessitando ele estar fazendo parte de um grupo
social, ao qual ele se identifique (SILVA, 2008, p. 15).
Mas há pessoas que possuem uma opinião crítica e contrária à disseminação
deste tipo de influência cultural para a sociedade, com argumentos de que estes
estilos musicais nada têm contribuído para aumentar ou melhorar a qualidade da
cultura brasileira, pelo contrário, têm contribuído para atrasar culturalmente as
pessoas devido à ausência de conteúdos ricos em sentidos e significados que
denotam as verdadeiras origens e constituições da nossa cultura, além de “destruir”
certos valores morais e éticos do povo. Observa-se pelas interpretações das letras
destes tipos de músicas, que elas quase não abordam elementos da cultura
tradicional, como certos valores de família e valores morais, as experiências do
homem no campo e as belezas da natureza. Assim, tais estilos musicais ameaçam
cada vez mais a perda de identidades regionais, como as da música sertaneja caipira,
por estarem influenciando cada vez mais a cabeça das pessoas e ditando modas
culturais na sociedade.
Além de ajudar na homogeneização do consumo da cultura e no
enfraquecimento de identidades culturais, a indústria cultural é vista pelos críticos
como grande modeladora dos modos de vida. Segundo Morin (1997), a indústria
cultural tende a produzir e distribuir maciçamente em prol da lógica capitalista,
estimulando o máximo consumo para obtenção de lucros. Assim, ela tende a buscar,
junto com os meios de comunicação em massa, formas de oferecer ao público aquilo
que seria mais consumido, propondo novidades de acordo com os gostos mais
populares. Santos (1996) vai mais longe ao afirmar que a indústria cultural e os meios
de comunicação em massa, como o rádio, a televisão, a imprensa e o cinema são
utilizados pelas classes dominantes como mecanismos de controle das massas
humanas, para fazê-las não só produzir, consumir e se conformar com seus destinos e
sonhos, mas também a sua maneira de viver e de pensar, em busca da
homogeneização da sociedade e o amaciamento dos conflitos sociais. Assim, seriam
“elementos fundamentais da própria organização social, e estão sem dúvida
associados ao exercício do poder e à ordenação da vida coletiva” (SANTOS, 1996, p.
69).
Portanto, a perda das identidades culturais tradicionais e locais no cenário da
globalização atual pode ser explicada através da virada cultural que ocorreu após os
anos de 1980/90, com a influência mercantilista do neoliberalismo. No entanto, na
maioria das regiões e lugares em que ainda prevaleceria, mesmo nas cidades, uma
grande influência do campo e da ruralidade, houve uma resistência a este processo,
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como o caso da Região do Sul de Minas e também no município de Alfenas. Para
tentar investigar este fenômeno e a percepção das pessoas relativa à influência
positiva ou negativa da cultura de massa para a cultura regional, tendo como hipótese
o suposto desaparecimento dos hábitos de cultivar a música sertaneja de raiz e a
desvalorização deste tipo de cultura tradicional, buscamos aporte teórico-metodológico
oriundos da Geografia Cultural.
CONCEPÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICOS PARA A INVESTIGAÇÃO
DA
PERCEPÇÃO CULTURAL
Para desenvolver a pesquisa acerca da percepção das pessoas com relação
ao assunto tratado, na forma de analisar os aspectos culturais no espaço, buscamos
aporte no método de análise da Geografia da Percepção, proposto por Rocha (2003).
Segundo ele, para adotarmos este método de análise, é necessário que nos apoiemos
também nos métodos da fenomenologia e da semiótica. O primeiro diz respeito ao
estudo do fenômeno5, representado por coisas oriundas do pensamento e construída
através das vivências, analisando a forma como o indivíduo entende e percebe o
mundo ou determinada coisa, de acordo com a sua cultura, meio ambiente, formação
educacional, estado emocional, entre outros fatores que influenciam na opinião
pessoal. O segundo está relacionado ao estudo dos signos (todo tipo de linguagem
que é produzido e pode ser interpretado), suas mensagens e formas de interpretação,
ou seja, a forma como ocorre a leitura dos fenômenos externos ao indivíduo. Na
junção dessas duas premissas, o autor nos propõe estudar cultura através da
Geografia da Percepção, que é “estudar o espaço, a paisagem e os lugares, tendo em
vista também a experiência e a vivência de seus moradores” de acordo com a
percepção deles, que seria “a forma como, através dos sentidos, as coisas do mundo
natural ou humano chegam à consciência” (ROCHA, 2003, p. 75, 76). Assim, de
acordo com a bagagem cultural, social, emocional, como cada indivíduo percebe e
interpreta dada coisa ou lugar num determinado tempo e espaço.
Pela percepção formam-se imagens que têm significados diferentes
para quem as capta, dependendo de sua cultura, tempo histórico,
situação psicológica, entre outros. A tendência é levar em conta
apenas os aspectos concretos, objetivos, das imagens. Porém, os
seres humanos são duais, isto é, têm uma visão externa (mundo
5
De acordo com Rocha (2003) apoiado em Husserl (1975), fenômeno não diz respeito só ao
que ocorre no objeto físico ou natural, exteriores ao cérebro humano, mas “também são coisas
que existem apenas no pensamento, coisas puramente ideais, assim como também coisas
criadas pela ação e pela prática humanas, como, por exemplo, valores morais, crenças, artes,
técnicas, instituições.” Fenômeno seria, portanto, como dizia Husserl (1975), “tudo aquilo que é
vivência” e a fenomenologia a “doutrina das vivências”.
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concebido) e uma visão interna (mundo percebido, mundo subjetivo)
do mundo que os cerca (ROCHA, 2003, p. 67).
Yi-Fu Tuan (1980, p. 6) nos menciona que “duas pessoas não vêem a mesma
realidade. Nem dois grupos fazem exatamente a mesma avaliação do meio ambiente.”
Para Rocha (2003, p. 78), “há tantos mundos quantas forem as percepções, pois (...) é
a percepção que vai determinar a forma de o indivíduo ver, interpretar e interferir em
seu meio.” Tuan (1980, p. 4) vai mais longe ao tentar explicar as diferentes maneiras
de interpretar o mundo, ao dizer que o indivíduo é dotado de percepção, atitude, valor
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e visão de mundo.
A visão de mundo ou como o indivíduo sente, percebe e age ao seu redor pode
ser fruto também da sua condição cultural que este carrega e absorve ao longo da sua
vida. Para Morin (1997, p. 15) cultura “constitui um corpo complexo de normas,
símbolos, mitos e imagens que penetram o indivíduo em sua intimidade, estruturam os
instintos, orientam as emoções.” De maneira mais ampla, Santos (1996) define cultura
como uma dimensão social, da vida de uma sociedade, produto coletivo da vida
humana, uma construção histórica.
A idéia é analisar o objeto de estudo também de acordo com a teoria da
Topofilia, desenvolvido por Tuan (1980, p. 5), que seria “o elo afetivo entre a pessoa e
o lugar ou ambiente físico”, mais precisamente os “sentimentos que temos com um
lugar, por ser o lar, o lócus de reminiscências e o meio de se ganhar a vida (...) veículo
de acontecimentos emocionalmente fortes ou é percebido como um símbolo” (TUAN,
1980, p. 107). De acordo com Rocha (2003) apoiado em Tuan (1983), as pessoas
muitas vezes não conseguem criar raízes com o lugar, devido o pouco tempo de
vivência e do conhecimento adquirido, capaz de se transformar em sentimento e
apego ao espaço. Para isso, “é necessário, de maneira geral, nele viver, sofrer,
crescer, participar ativamente de seus eventos e criar raízes, sentir-se como fazendo
parte deste lugar” (ROCHA, 2003, p. 78).
METODOLOGIA
A metodologia empregada para a elaboração da pesquisa se baseou em
levantamento e revisão bibliográfica de textos referentes aos assuntos associados,
realização de entrevistas e sistematização de dados e informações para análise do
objeto
de
estudo.
Foram
realizadas entrevistas utilizando
um
questionário
semiestruturado (em anexo I) a respeito de questões chaves e pertinentes aos
objetivos da pesquisa, tendo como público alvo pessoas que tanto a muito tempo
residem no município de Alfenas, mais especificamente na área urbana (moradores
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tradicionais ou nascentes do lugar, de mínimo 10 anos), quanto pessoas que a pouco
tempo vivem na cidade (máximo 10 anos, como a população flutuante representada
por estudantes universitários e outros indivíduos, que não tivessem vindo da região do
Sul de Minas) em duas faixas básicas de idade: pessoas mais jovens, de 20 até 40
anos; e pessoas mais velhas, com mais de 40 anos.
As respostas de cada questão, exceto os dados pessoais dos entrevistados,
foram gravadas por um gravador de voz e depois transcritas exatamente iguais à fala
dos participantes, no intuito de preservar a identidade e o estilo lingüístico regional, em
vista a ser esta uma ótima ferramenta que revela sobre as condições de vivência dos
entrevistados no lugar.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
As entrevistas com os moradores da cidade de Alfenas/MG permitiram que
confirmássemos grande parte das nossas hipóteses quanto as suas percepções do
lugar e da influência que os estilos musicais “universitários” promovem na cultura
tradicional local, representada principalmente em termos de música, pelo estilo de
sertanejo raiz ou caipira. Tais percepções partem da carga cultural (experiências do
vivido) e do elo afetivo com o lugar. Para facilitar a exposição dos nossos resultados,
simplificamos a denominação dos grupos de entrevistados, tanto nos gráficos quanto
nas transcrições, nos seguintes termos:

Moradores mais jovens (de 20 a 40 anos) = “jovens”

Moradores mais velhos (de 40 anos ou mais) = “velhos”

Pessoas que moram a muito tempo em Alfenas = “moram a muito tempo”

Pessoas que moram a pouco tempo em Alfenas = “moram a pouco tempo”
Percebemos que o sentimento de topofilia é muito forte entre os entrevistados,
pois poucas pessoas disseram não gostar de Alfenas e sua cultura, mesmo àqueles
que moram a pouco tempo no município. Entre os que moram a muito tempo na
cidade, todos os moradores acima de 40 anos responderam que se identificam com o
lugar, contra 80% dos que possuem entre 20 a 40 anos. Já entre os que moram a
pouco tempo, observamos que tanto os mais jovens quanto os mais velhos
responderam o mesmo (70%) (figura 1), mostrando então que Alfenas é considerada
uma cidade agradável e atende as perspectivas culturais das pessoas que vieram de
outras regiões ou estados do país, como São Paulo e Rio de Janeiro. Tal percepção
pode ser observada na fala de um dos entrevistados:
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“Eu gosto. Eu não sei, assim, tendo em vista a minha cidade, o que
eu acho interessante aqui é a questão dos estudantes mesmo, que
eu acho assim, que marca mais, que eu acho que é a diferença, que
eu acho que é mais marcante aqui. Eu acho que os estudantes já
fazem parte da cultura da cidade” (Felipe, 20 anos, mora a pouco
tempo em Alfenas).
Dentre os que responderam não gostar de Alfenas, argumentam que o
município carece de mais opções de atrativos culturais, de lazer e turismo e que por
isso, preferiam morar em outro lugar. Uma das reclamações e apontamentos mais
significativos foi o fato de afirmarem que Alfenas não possui identidade própria, não
valoriza sua cultura histórica e regional e acaba sendo muito influenciada por outras
culturas vindas de fora, como as trazidas pelos estudantes universitários,
especialmente a música. Podemos conferir alguns desses argumentos na seguinte
transcrição:
“Acho que em Alfenas falta cultura, não tem incentivo a cultura,
porque a cultura não vem só de festas ou tradições, e sim de um
incentivo, e o incentivo que poderia ter aqui em Alfenas seria do
poder público. Tanto não tem cultura que, o conjunto arquitetônico
aqui de Alfenas não existe, música em alfenas não existe, é uma
pseudo-música, e formas culturais como a congada, o reisado, é
totalmente desvalorizado e é mantido somente pelos populares (...).”
(Cochise, 36 anos, mora a muito tempo em Alfenas).
Ambos os residentes demonstraram também boa percepção da cultura local,
reconhecendo a música sertaneja raiz como componente cultural da região do Sul de
Minas. Mas ao analisar o valor de apreciação deste estilo musical, os números
revelam que os moradores que a muito tempo residem em Alfenas a valorizam muito
mais do que os que moram a pouco tempo. Todos os entrevistados mais velhos (de 40
anos ou mais) responderam gostar de ouvir música sertaneja, semelhante aos 80%
dos mais jovens (de 20 a 40 anos). Já os moradores que a pouco tempo moram em
Alfenas, 70% de jovens e 60% de velhos mencionaram gostar da música sertaneja
raiz, conforme pode ser observado na figura 2. Tais opiniões correspondem a hipótese
tratada neste trabalho de que os moradores que a muito tempo residem em Alfenas
são mais familiarizados com a cultura local e, portanto, tendem a valorizar mais as
músicas típicas da região, do que os moradores que residem a pouco tempo na
cidade.
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1
2
Figura 1 - Percentual dos entrevistados que responderam gostar do lugar onde vive,
considerando a cultura e o jeito das pessoas.
Figura 2 - Percentual dos entrevistados que responderam gostar de ouvir música
sertaneja raiz.
Quanto à percepção dos entrevistados em relação à música sertaneja raiz,
apuramos que a maioria das pessoas, mesmo os que responderam não gostar de
ouvi-la, consideram que este tipo de música tem grande valor para a cultura da região
e para a cultura brasileira em geral, pois focam contos sobre experiências do homem
no campo, belezas da natureza, crítica social, descrição das paisagens e costumes.
Histórias que fazem com que jovens e principalmente as pessoas mais velhas
remetam suas heranças e se identifiquem com esta forma de cultura linguística,
produzida no campo, sobretudo nas regiões interioranas do Centro-Sul. Argumentam
que mesmo hoje a realidade sendo outra, as lembranças e a admiração das coisas
boas e simples do campo prevalecem no interior das pessoas, levando ao sentimento
de muitos à saudade da “roça”.
“Adoro, porque tem letras de casos verídicos, porque descreve uma
história do começo ao fim, é uma arte. As mensagens são
emocionantes, te lembra o passado. Muitas passagens já foram
passadas pelas pessoas da época, identifica com seu passado, o
campo e com familiares” (Henrique, 60 anos, mora a muito tempo
em Alfenas).
Os que disseram não gostar do sertanejo raiz, quase não criticaram em
nenhum ponto este estilo de música, mas explicam que não “faz o seu estilo” e “não se
identificam”, por optarem outros estilos de músicas, como o MPB e rock nacional e
internacional.
Já com relação a música sertaneja universitária e o axé music, percebemos
muitas contradições e conflitos de ideias de acordo com o valor atribuído e a
percepção dos entrevistados quanto a sua influência para a cultura tradicional do
município. Observamos grande desprezo de todos os grupos de entrevistados pelo
axé music, mas existe uma preferência evidente da música sertaneja moderna entre
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os moradores mais jovens, principalmente os que moram a pouco tempo em Alfenas,
em geral estudantes universitários (90%) (figuras 3 e 4). Muitos dizem que o gosto
vem da curtição e do ritmo, do tipo de música que cria um clima de balada e de
alegria, remetendo a descontração momentânea, embora muitos condenem o baixo
valor cultural e os defeitos que essas músicas possuem (incluindo o axé), como letra,
melodia e ritmo padronizado (sem particularidade cultural), significados e mensagens
de duplo sentido (desmoralização da mulher, da família e do casamento). Esta opinião
é expressa principalmente pelos moradores mais velhos da cidade, tanto os que
moram a muito tempo quanto os que moram a pouco tempo, cuja maioria respondeu
não apreciar esses tipos de músicas. Para eles, nem se compara a contribuição dada
pelo sertanejo raiz à cultura do que o estas músicas “universitárias” oferecem, pois
não tem letra e nem história, trazem ideias de futilidade. Essas ideias puderam ser
observadas a partir das falas de alguns entrevistados:
“Mais ou menos, não totalmente, mas eu gosto, acho legal. Assim,
acho que são musicas animadas. Nem tem história, nem tem uma
letra bonita, mas assim... são animadas. Pra você curtir às vezes é
bom” (Felipe, 20 anos, mora a pouco tempo em Alfenas).
“Mais ou menos, algumas são boas. Seria mais o ritmo, porque a
melodia... Não tem nada de bom. Muitas não têm nada. Ah, tá indo
muito pra mulher símbolo, só fala de coisa sexual mais nada. Só de
segundas intenções.” (Manueli, 25 anos, mora a bastante tempo em
Alfenas)
3
4
Figura 3 - Percentual dos entrevistados que responderam gostar de ouvir sertanejo
universitário.
Figura 4 - Percentual dos entrevistados que responderam gostar de ouvir axé music
Ao perguntar aos entrevistados sobre a contribuição positiva da música
sertaneja universitária e do axé music para a cultura regional, a opinião crítica acaba
se reforçando, mas com algumas peculiaridades. A maior parte dos velhos que moram
a bastante tempo e os jovens que moram a pouco tempo em Alfenas (60% em ambos)
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(figura 5) dizem que essas músicas contribuem de forma positiva para a cultura. Isto
se deve ao fato de que os velhos demonstraram certo desconhecimento quanto o
significado de “qualidade de cultura” ou “contribuição positiva à cultura”, associando a
moda das músicas universitárias como fator “positivo” para a cultura, principalmente
pelo fato das festas, como o Carnalfenas e a Festa de Peão movimentarem a
economia de Alfenas. Já entre os jovens citados, como muitos não são familiarizados
com a cultura tradicional do lugar, associam à moda dessas músicas também como
fator “positivo”, aliando a ideia de mistura cultural. O restante que responderam ao
contrário (figura 5), associam os defeitos que essas músicas carregam e as influências
negativas causadas às pessoas, principalmente aos jovens, à família e à sociedade
em geral.
Sobre a possibilidade de desaparecer o hábito e/ou costume das pessoas de
ouvir o sertanejo raiz e a cultivar melhor as características da cultura tradicional do
lugar, grande parte dos jovens (80% dos que moram a muito tempo e 60% dos que
moram a pouco tempo) responderam que as músicas universitárias podem sim
influenciar a tal ponto, conforme pode ser observado na figura 6. Isto decorre por estes
estarem mais familiarizados com essa “nova cultura” e, portanto, reconhecerem que o
sertanejo mais antigo se perderá no tempo. Já os mais velhos, mesmos aqueles que
não gostam de sertanejo raiz, acreditam que isso não ocorrerá, pois alegam que
aqueles que gostam de sertanejo raiz não o deixará de ouvir, a ponto de trocá-la por
outro estilo musical. Isto reflete o quanto a relação topofílica influencia na percepção
cultural dessas pessoas. Afirmam que como o sertanejo raiz é tida como música de
qualidade, este estilo tenderá a permanecer na nossa cultura como valor, diferente do
sertanejo universitário e axé music, consideradas músicas de baixa qualidade e cujo
valor cultural é temporário e efêmero.
Os mais críticos dos entrevistados disseram que as músicas universitárias são
uma ameaça a cultura local por causa da forte massificação cultural promovida
principalmente pelas mídias de comunicação, em conjunto com as empresas que
financiam os eventos que valorizam essas músicas visando à acumulação de capital,
resultando na destruição de identidades culturais e dos regionalismos locais (falta de
incentivos).
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5
6
Figura 5 - Percentual dos entrevistados que responderam que o sertanejo universitário
e o axé music contribuem de forma positiva para a cultura regional.
Figura 6 - Percentual dos entrevistados que responderam que o hábito de ouvir mais o
sertanejo universitário e o axé music contribui para a perda do costume das pessoas
em apreciar o sertanejo raiz e consequentemente afetar a cultura tradicional do lugar.
Embora muitos tenham essa opinião, a pesquisa demonstrou grande
preocupação dos que valorizam a música sertaneja raiz com relação a sua maior
valorização no município de Alfenas. Ao serem questionados sobre o que poderia ser
feito para resgatar de alguma forma o hábito da maioria das pessoas em voltar ouvir e
valorizar mais a música sertaneja de raiz, as opiniões se dividiram entre os que
disseram que não, devido à influência da mídia e da cultura urbano-moderno das
pessoas, e os que disseram que sim, com o apoio dos meios de comunicação em
massa (rádio, TV, internet) e do governo, principalmente o municipal, com projetos que
visem à valorização e disseminação das músicas antigas e motivação de novos
artistas do ramo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos procedimentos adotados ao longo da pesquisa, percebe-se que
o apego ao lugar, o amor e o respeito à natureza, a valoração da moral e da religião,
presentes nas canções do sertanejo raiz são expressões máximas da topofilia do
homem do campo, uma vez que estas retratam a percepção do espaço vivido e
refletem os valores e os sentimentos do indivíduo. A título de exemplo, é oportuno citar
algumas canções que retratam bem essa realidade: Luar do sertão, Meu cafezal em
flor, Romaria (Sou Caipira Pira Pora), Água no Leite, dentre outras. Todavia, a partir
do
processo
de
migração
campo-cidade,
o
homem
do
campo,
chamado
pejorativamente de caipira, se deparou com uma realidade bem diferente daquela
vivenciada no ambiente rural.
A percepção espacial, os valores morais e a identidade cultural relacionada ao
ambiente rural aos poucos foram se perdendo diante das inovações tecnológicas
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trazidas pelo processo de globalização e das novas relações sociais estabelecidas na
cidade. Uma vez inserido no ambiente urbano, o homem do campo foi diretamente
influenciado pelos valores, costumes e tradições da cidade, quase todos diretamente
relacionados ao modo de produção capitalista. Assim sendo, as musicas que outrora
expressavam a relação do homem do campo com a natureza, aos poucos foram
sendo carregadas de mensagens relacionadas à auto-afirmação (realização pessoal) e
valoração social (status).
Tomando como objeto de estudo a cidade de Alfenas - MG, percebe-se que
esse novo estilo musical, denominado “sertanejo universitário”, representa, de certa
forma, uma ameaça a cultura tradicional do município, pois uma vez preferido pelos
universitários (grupo com maior poder aquisitivo que movimenta a economia da
cidade), esse estilo passa, através de uma perspectiva mercadófila, a ser cada vez
mais incorporado nos festejos locais (inclusive aqueles promovidos pela prefeitura
municipal), prejudicando dessa forma a preservação da identidade cultural do
município. Um exemplo claro é atual programação do Carnalfenas, micareta
universitária tradicionalmente caracterizada pelo estilo “axé music”, que agora conta
com atrações do estilo sertanejo universitário.
Em linhas gerais, percebe-se que embora haja um forte apreço por parte dos
moradores locais em relação a musica caipira, este traço da cultura tradicional local
tende a se perder lentamente com o passar das gerações. Contra essa ameaça
iminente a cultura local, fica o desejo de que o poder público e a iniciativa privada
incentivem a realização de eventos que resgatem a cultura caipira local, e a esperança
de que o sertanejo raiz continue vivo na memória, nos costumes e no dia-a-dia da
população alfenense.
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A PERCEPÇÃO DOS MORADORES DE ALFENAS - Unifal-MG