Diario de Pernambuco - PE
12/10/2015 - 08:05
No aguardo por qualidade de vida
Central de Transplantes de Pernambuco atua há 20 anos mas ainda enfrenta barreira da
negativa familiar
João Vitor Pascoal
Em Pernambuco, 1,3 mil pessoas aguardam por uma oportunidade de reconquistar uma
sonhada qualidade de vida. Destas, 43 são crianças. Todos, independentemente de idade
ou gênero, buscam nas estatísticas a confiança de que uma nova história, distante de
hospitais, é não apenas possível, mas provável. Em 2015, a Central de Transplantes de
Pernambuco (CT-PE) completa 20 anos de atuação no estado e soma 15 mil transplantes
realizados.
A menina de 11 anos e poucas palavras caminha pelo Hospital Oswaldo Cruz como que
habituada a seus corredores. Brinca de boneca por sobre a barriga quase maior que o
resto do corpo. Sofre da síndrome de Budd-Chiari, uma espécie de hipertensão causada
pela obstrução de veias do sistema de drenagem do fígado, e integra a lista de pacientes
que aguardam por compatibilidade. “A gente espera que o transplante seja a solução,
que dê tudo certo, sem rejeição. Estou bem ansiosa e ela também”, conta a mãe, Solange
Sabino da Silva.
De acordo com a coordenadora da Central de Transplante de Pernambuco, Noemy
Gomes, o sistema de saúde prioriza casos de pacientes infantis na fila de transplantes no caso do fígado, hoje, são apenas três. “O definitivo nesse procedimento acaba não
sendo a idade, mas o peso. Uma pessoa de 90kg não pode doar para uma criança
pequena. Deve haver correspondência", diz.
No estado, um dos grandes entraves é a negativa familiar. A abordagem da equipe
médica é feita, em geral, quando há diagnóstico de morte cerebral, mas o corpo,
fisicamente, ainda mantém os órgãos em perfeito estado, viabilizando o transplante. A
não aceitação de perda do ente querido e a cultura local atrapalham. Tanto que o índice
de famílias que se negam a doar órgãos no estado é 22% superior à média brasileira.
Segundo Noemy, o quadro poderia ser outro com uma abordagem mais humanizada das
equipes médicas. "Muitas vezes os profissionais não estão prontos para lidar com um
momento tão delicado", aponta.
Doação de ógãos em Pernambuco
O que se doa?
Em vida:
*Fígado
*Rim
Medula óssea
Pele
*O doador deve ter parentesco até 4° grau com o transplantado
Em caso de morte:
1 doador pode beneficiar até 7 pessoas*
Fígado, rim, pâncreas, córnea, coração, pele ou osso**
*Rins e córneas de uma transplantador podem beneficiar duas pessoas
**Pele e osso podem beneficiar uma ou mais pessoas
Transplantes realizados em 2015/JUN
Coração 30
Córnea 296
Fígado
69
Médula óssea135
Rim
200
Rim - Pâncreas 2
Válvula cardíaca 5
Total 737
Fila de espera de Pernambuco 2015/JUN
Coração 6
Córnea 185
Fígado 76
Médula óssea 32
rim 1003
rim-pâncreas 1
Total 1303
Negativa familiar no Brasil
2015 - 1° Semestre
2850 abordagens de familiares de potenciais doadores
1596 aceitaram doar - 56%
1254 disseram não - 44%*
*7,3% do total de negativas são de famílias pernambucanas
Em Pernambuco
170 abordagens foram realizadas
78 aceitaram doar - 46%
92 disseram não - 54%**
**Índice igual a média anual registrada desde 2011
Fontes: Central de Transplantes de Pernambuco (CT-PE) e Associação Brasileira de
Transplantes de Órgãos (ABTO)
Diario de Pernambuco - PE
12/10/2015 - 08:05
O primeiro de 15 mil "passos"
No currículo de 15 mil vidas ressignificadas, a Central de Transplantes de Pernambuco
tem na psicóloga Edjane Pereira da Silva, 52 anos, sua primeira personagem. Portadora
de uma glomerulonefrite, inflamação na unidade do rim responsável por filtrar nosso
sangue, ela precisou de um novo órgão, em 1995. A salvação veio da irmã, Josimere,
então com 26 anos.
“A princípio eu não queria porque fiquei com medo de acontecer algo com ela, uma
pessoa que estava bem. Mas ela se prontificou e eu não estava em condições de negar”,
lembra, com gratidão.
O procedimento pôs fim a uma longa e exaustiva rotina de hospitais. “Eu não fazia nada
além de diálise e tratamento. Foram dois anos e meio de dificuldades, mas, depois do
transplante, voltei a viver”.
Edjane foi apenas um dos mais de 15 mil transplantes que hoje integram as estatísticas
da CT-PE. Uma entre tantas vidas com novos rumos e possibilidades. Histórias que
passam longe de isoladas.
Somente até junho deste ano, 737 transplantes foram realizados em Pernambuco. Outras
1,3 mil pessoas seguem na fila de espera. No final das contas, a principal demanda que
se espera é mesmo pela universalização de um “sim” à vida, ainda que tenha início na
perda.c
Jornal do Commercio - PE
12/10/2015 - 08:17
Programa Mãe Coruja agora oferece noções de empreendedorismo
O programa Mãe Coruja, que trabalha na perspectiva de inclusão social, melhoria das
condições de vida e inserção das mulheres no mercado de trabalho, agora também passa
a oferecer oficinas de empreendedorismo e acesso ao crédito. As participantes vão
receber treinamento para empreender e viabilizar seu próprio negócio, em 13
municípios da Zona da Mata, Agreste e Sertão. Até dezembro, serão disponibilizadas
260 vagas em treze turmas de até vinte alunas. As capacitações serão ministradas pelo
Sebrae e contarão com oficinas de empreendedorismo, controle financeiro e vendas. A
expectativa é que, até 2016, as capacitações cheguem ao restante dos 103 municípios
atendidos pelo programa Mãe Coruja. Neste ano, cerca de 2,5 mil mulheres já foram
atendidas. Após as aulas, as alunas terão orientações sobre uso do crédito e apresentação
da linha de financiamento da Agefepe para Mulheres Empreendedoras.
Folha de Pernambuco - PE
12/10/2015 - 07:32
A volta por cima de Maristela
Maristela Simonin, 65 anos, dá lição a outras mulheres sobre a doença
Hoje a série do Outubro Rosa, que descortina a intimidade de mulheres que enfrentam o
câncer de mama, vai falar da história de Maristela Simonin. Ex-procuradora do MPPE,
nossa personagem da vida real descobriu o tumor por acaso no banho. Tinha 49 anos.
Estava de férias e partindo para mais um desafio profissional. Questionou o sinal de
alerta: uma pontinha entre os seios que mais parecia um sinal. Depois do alívio de uma
consulta médica não ter apontado perigo, um ano depois a bomba: era câncer sim, e a
doença tinha avançado. Apesar do drama do tempo perdido, Maristela teve que
enfrentar os medos. Foi confrontada com a possibilidade da morte. Buscou forças e
passou uma perna em qualquer previsão negativa. Venceu o câncer, arrumou um novo
marido, virou escritora e hoje dá lição a outras mulheres. Uma nova história do diário de
pacientes de mama será contada toda segunda-feira deste mês.
O câncer de mama poderia ter parado a carreira da procurada de Justiça do Ministério
Público de Pernambuco (MPPE), Maristela Simonin, quando ela tinha 49 anos. Mas isso
não aconteceu. Pelo contrário. Hoje, aos 65 anos, quando olha para trás percebe que o
desafio que se apresentava há quase 20 anos a impulsionou para frente. Riu de si mesma
ao ver que o que todos acreditavam ser uma tragédia na vida pessoal, virou história de
sucesso e superação. Obstáculos ultrapassados, transformou as pedras que encontrou no
caminho em conhecimento. Ensinamentos replicados em três livros publicados por ela,
que passou a atuar no enfrentamento ao câncer.
"Descobri o tumor por acaso quando estava tomando banho. Parecia uma pontinha de
caneta por baixo da pele e entre os seios. Fiquei curiosa, mas não me preocupei muito
porque pensava que todo tumor era arredondado. O que eu tinha parecia muito mais um
sinal", relembrou. Entre as alternativas que explicariam aquele pontinho, a procuradora
cogitou até mesmo ser uma má formação óssea, coisa genética. Durante uma consulta
de rotina com uma ginecologista numa viagem ao Interior do Estado, Maristela resolveu
tirar a dúvida. "Ela apalpou e disse que não era nada. Que era algo congênito.
O profissional indicou uma mamografia, mas disse que o exame só atestaria que não era
nada demais", contou. O alívio durou um ano, até que Maristela observou o crescimento
do que ela pensava ser um osso. Buscou um médico novamente e finalmente fez a
mamografia. "Não deu outra. Era câncer. Eu relaxei, também tive uma parcela de
culpa", afirmou. O resultado da demora para o diagnóstico foi drástico: como o tumor
tinha crescido demais, ela perdeu a mama por completo. Tinha 49 anos e não acreditava
que a doença a surpreenderia dessa forma. Confessou que só havia feito um exame das
mamas três anos antes, pois passaria uma temporada na Europa, onde lá o teste era
preconizado a partir dos 50 anos de idade. Acha-se fora do perigo.
O MEDO
"A parte mais difícil é se ver confrontada com a ideia de finitude", destacou. Segundo
ela, a notícia da doença a assustou, a fez sentir numa encruzilhada entre viver e morrer.
Para enfrentar o medo, buscou acolhimento em grupos de ajuda onde pudesse partilhar a
angústia com outras mulheres na mesma situação. "Às vezes, sozinha, você não
consegue superar isso tudo", disse. O embate não era só com si mesma, mas social."A
sociedade ainda é muito focada na estética e o seio tem um simbolismo, mas consegui
ultrapassar isso e optei por não fazer a reconstituição", contou.
VIDA NOVA
Vencidas as barreiras emocionais, Maristela retomou as rédeas da vida. Terminou um
casamento, começou um novo amor. Decidiu que na vida nova seria multiplicadora de
conhecimento sobre a doença. Virou escritora. O primeiro livro saiu em 2002, falando
dos hormônios femininos na menopausa. O segundo veio em 2007, com o nome "Sem
medo do câncer de mama", publicação que foi reeditada em 2009 quando foram
incluídas informações sobre os fatores ambientais para a doença. Em 2013, o livro mais
recente, com o título: "É preciso ter peito". Essa publicação envolve a prevenção dos
tumores de mama no público LGBT, população que para a promotora é negligenciada e
vítima de preconceito no acesso ao diagnóstico e tratamento. A temática também é a
bandeira de Maristela na Comissão de Direitos Homoafetivos do Ministério Público.
DIREITOS
A mulher com câncer de mama, assim como o público LGBT, tem uma lista de direitos
ainda pouco divulgada e conhecida entre os pacientes. A advogada e escritora Antonieta
Barbosa, que também teve a doença e se curou, indicou que o público precisa ficar
atento e cobrar esses direitos. "No nosso País os direitos são frequentemente violados e
por isso se torna necessário recorrer ao Poder Judiciário, sempre que o paciente se
depara com o descumprimento da lei por parte das instituições públicas ou privadas.
Outra grande dificuldade enfrentada por pacientes e familiares é a desinformação sobre
esses direitos, pois a legislação brasileira nessa área é esparsa, confusa e de
interpretação controversa", destacou. Segundo ela, mesmo com uma legislação
avançada, fundamentada na Constituição cidadã, garantidora de muitos direitos,
isenções e benefícios, o paciente sempre está às voltas com entraves burocráticos, às
vezes intransponíveis. Entre as garantias das pessoas com câncer estão isenção de
Imposto de Ren-da, aposentadoria integral, saque do FGTS e isenção de impostos.
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saúde notícias 12 de outubro 2015