EDIÇÃO 100 INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 INSIGHTCase Studies setembro/outubro 2013 1 DIRETOR RESPONSÁVEL Luiz Cesar Telles Faro EDITOR Sérgio Costa Editor adjunto João Penido CONSELHO EDITORIAL Antonio Freitas • Antônio Machado • Antônio Prado • Carlos Osmar Bertero • Décio Clemente • Francisco Valim Filho Marco Antonio Bologna • Ricardo Spinelli • Roberto Teixeira da Costa • Sylvia Constant Vergara PROJETO GRÁFICO Marcelo Pires Santana PRODUÇÃO GRÁFICA Ruy Saraiva REVISÃO Cecilia Mattos Setubal Denise Scofano Moura FOTOs Marcelo Odebrecht/Christian Lobhauer/João Cox/Ricardo Gonçalves (Edi Pereira); Marco Antonio Bologna (Gladstone Campos/Realphotos); João Cox Neto (Bob Wolfenson); Vicente Falconi (Régis Filho); Marcos Facó (André Telles); Rodolpho Tourinho (Leonardo Rodrigues/Valor/Agência O Globo); Rodolfo Landim (Silvia Costanti/Valor/Agência O Globo); Wilson Ferreira (Arquivo CPFL) Divulgação Arquivos Pessoais consultoria digital Camila Brandão GRÁFICA WalPrint redação Insight Engenharia de Comunicação Rio de Janeiro Rua do Mercado 11/12º andar Centro, CEP 20010-120 Tel: (21) 2509-5399 E-mail: [email protected] São Paulo Rua Bela Cintra 746/conjunto 71 Consolação, CEP 01415-002 Tel: (11) 3284.6147 E-mail: [email protected] PUBLICIDADE Rua Marcos Penteado de Ulhôa Rodrigues 1.119 / 16º andar / conjunto 1.614 Tamboré / Barueri Tel: (11) 4302-3525 E-mail: [email protected] Publicação bimestral. Registrada em 30.06.96/INPI/ISBN Copyright © 1996 by Insight. Apoio Institucional APIMEC IBEF - Rio ABRASCA CÂMARA AMERICANA DE COMÉRCIO Uma publicação associada à fgv mANAGEMENT www.insightnet.com.br/case É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, ou parte do mesmo, sob quaisquer meios, sem autorização expressa da editora. FSC INSIGHTCase Studies 2 SETEMBRO/OUTUBRO 2013 setembro/outubro 2013 INSIGHTCase Studies 3 INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 setembro/outubro 2013 INSIGHTCase Studies 4 5 EDIÇÃO CASE STUDIES REVISTA BRASILEIRA DE MANAGEMENT ÍNDICE Ano XViI . Nº 100 top cases artigos Eduardo Cabrera Presidente da Mazars Brasil O desafio de reter pessoas........................................ 146 Antoninho Marmo Trevisan Presidente da Trevisan Escola de Negócios Os dois pilares da gestão para o sucesso dos negócios................................... 148 10 personal case ESPECIAL Marcelo Odebrecht Presidente do Grupo Odebrecht Uma gestão baseada em valores humanísticos Eduardo Figueiredo Diretor-presidente do IBIO Qual parte lhe cabe em um território?....................150 Paulo Andreoli Chairman do MSLGROUP Latin America e presidente da MSLGROUP/Andreoli no Brasil Os gestores e a força da reputação na imagem corporativa...........................156 Jean-Claude Ramirez Sócio da Bain & Company Como CIOs devem iniciar um novo desafio profissional................................... 160 Marcos Facó Diretor de Comunicação e Marketing da FGV Desafios do management em marketing...............162 sondagem Competitividade, o principal desafio. 20 Case Studies 100 traz uma sondagem com 20 importantes empresários, executivos e consultores abordando os desafios futuros do management no Brasil. A maioria dos entrevistados alertou para a importância da competitividade. Mauricio Girardello Sócio da TBA Advisors Infraestrutura e gestão................................................166 Sérgio Wainer Sócio da Via\W Consultoria Gestão de telecomunicações: a arte do malabarismo ...............................................170 José Roberto Giosa Diretor da Latasa Metais O cerrado e o executivo.............................................174 Vicente Falconi Fundador e presidente da Falconi Consultores de Resultado Gestão, aprendizado e o método cartesiano........176 Um júri de alto nível selecionou os dez melhores cases publicados por Case Studies desde o seu número zero. latasa (Edição 3 / Maio-Junho de 1997) José Roberto Giosa Da lata do lixo ao lucro da lata....................................48 banco da bahia (Edição 3 / Maio-Junho de 1997) Sérgio Ribeiro da Costa Werlang Eduarda Cunha de La Rocque Um RiskControl Made in Brazil...................................54 bradesco (Edição 6 / Novembro-Dezembro de 1997) Romulo Nagib Lasmar A força de uma marca na identidade corporativa............................................64 odebrecht (Edição 13 / Janeiro-Fevereiro de 1999) Márcio Polidoro O investimento para preservação do patrimônio..........................................70 fundação roberto marinho (Edição 19 / Março-Abril de 2000) Ana Lúcia da Costa e Silva José Roberto Whitaker Penteado Futura – o canal do conhecimento...........................80 cpfl (Edição 37 / Março-Abril de 2003) Augusto Rodrigues Um combate ao desperdício com foco na conscientização.....................................90 cbv (Edição 39 / Julho-Agosto de 2003) Ary Graça Administrando o vôlei como uma empresa.............98 gerdau (Edição 64 / Setembro-Outubro de 2007) Isabel Reis Paulo Ratinecas Expansão mundial e apoio à cidadania.................. 108 amanco brasil (Edição 81 / Julho-Agosto de 2010) Yazmín Trejos Transformando a crise em oportunidade...............122 fundação getulio vargas (Edição 91 / Março-Abril de 2012) Marcos Facó Uma aposta nas mídias sociais como ferramenta de marketing................................138 INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 setembro/outubro 2013 INSIGHTCase Studies 6 7 EDITORIAL Agora faltam apenas mais 100 edições! Foi nos idos de 1996 que a Fundação Getulio Vargas e a Associação Brasileira dos Analistas do Mercado de Capitais (Abamec) se uniram à Insight Comunicação para lançar o “Prêmio Mario Henrique Simonsen – Concurso Nacional de Case Studies”. Na época, o então presidente da Abamec, Roberto Terziani, procurou o fundador da Insight, meu amigo Luiz Cesar Faro, com uma luminosa ideia: estimular e dar transparência à realização de estudos de caso das empresas que atuam no Brasil. O entusiasmo mútuo fez o projeto ser levado à apreciação do professor Mario Henrique Simonsen, que aceitou a homenagem, abençoando-a com sua plena aprovação. As monografias selecionadas foram reunidas em cinco edições, e cinco estudos de caso foram premiados. Foi dessa iniciativa que germinou Case Studies – Revista Brasileira de Management, cujo número zero circulou em outubro daquele mesmo ano. Simonsen, portanto, está na origem da revista que, neste aniversário da sua centésima edição, não poderia deixar de homenageá-lo como sua fonte inspiradora. O tempo seguiu em seu leito eterno e Case Studies foi amadurecendo, ganhando personalidade e adensando o número de estudos publicados. A publicação chega agora ao número 100 completando 17 anos de circulação ininterrupta. Reúne o maior banco de cases de gestão empresarial disponível no Brasil: são 740 trabalhos descrevendo processos bem-sucedidos de management em várias áreas. A FGV sempre foi referência da publicação, seu norte e indispensável fonte de apoio. Assim como Mario Hen- rique Simonsen teve um papel fundamental na primeira infância da revista, outro personagem que nos é gratíssimo, o então presidente da instituição Jorge Oscar de Mello Flores também colaborou de forma marcante nessa nossa trajetória, aprovando em 2000 a parceria com a Escola de Pós-Graduação em Economia (EPGE). São companheiros de viagem nesse momento os economistas Sérgio Werlang e Carlos Ivan Simonsen Leal, ex-presidentes da EPGE, que sempre nos brindaram com sua motivação e apoio. Com o avanço inexorável das horas, o labor de centenas de colaboradores e a multiplicação de edições da revista, um fato novo conduziu-nos, na virada do milênio, para um feliz encontro: a criação da FGV Management. Nada mais natural que a parceria de Case Studies migrasse da EPGE para a unidade recém-criada. Hoje temos o orgulho de seguir nossa trajetória lado a lado com a FGV Management. Não faltariam nomes de grandes colaboradores e entusiastas de Case Studies, que ajudaram a erguer esse ainda pequeno mas já vistoso edifício editorial. Correndo o risco de esquecermos a menção de personagens da nossa mais alta estima e importância na construção da revista, e desde já nos desculpando, citamos o professor Antônio Dias Leite, Roberto Teixeira da Costa, Álvaro Bandeira, Paulo Cunha e Antonio Freitas, sem os quais essa história não seria tão bem escrita. Pelo menos, assim o achamos. Temos a consciência de que 100 números de uma publicação voltada exclusivamente para os estudos de caso em gestão empresarial é um marco. Para comemorar o centenário da revista, acontecimento que merece atenção pelo vigor mesmo em editoras de grande porte, brindamos nossos leitores e leitoras com uma edição especial. Um júri de cinco notáveis em gestão empresarial selecionou os dez melhores trabalhos publicados por Case Studies desde seu início. Esses Top Cases são republicados nesta edição. Foram escolhidos a partir dos votos de Antonio Freitas, pró-reitor de Ensino, Pesquisa e Graduação da Fundação Getulio Vargas; Eduardo Lucano da Ponte, superintendente-geral da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abras- ca); Marco Antonio Bologna, presidente da TAM S/A; Roberto Terziani, ex-presidente da Associação Brasileira dos Analistas do Mercado de Capitais (Abamec); e Roberto Teixeira da Costa, presidente da Câmara de Arbitragem do Mercado da BM&F Bovespa e ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Case Studies 100 também lança um foco no futuro ao apresentar uma sondagem com 20 renomados empresários, executivos e consultores sobre os próximos desafios da gestão empresarial no Brasil – uma enquete em que a palavra competitividade teve enorme destaque. Nossa edição especial traz, ainda, artigos de dez especialistas, com vários olhares sobre o management em diversas áreas. E para a seção Personal Case – que começou a ser publicada na edição 21, oferecendo depoimentos de alguns dos principais empresários e executivos do país – convidamos Marcelo Odebrecht, presidente de uma das maiores organizações empresariais do Brasil e presença certa em qualquer lista dos maiores e melhores executivos do país. Não poderíamos produzir uma edição de menor quilate para comemorar o número 100. Afinal, este é o nosso case. Sérgio Costa editor INSIGHTCase Studies 8 SETEMBRO/OUTUBRO 2013 setembro/outubro 2013 INSIGHTCase Studies 9 INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 setembro/outubro 2013 10 INSIGHTCase Studies 11 EDIÇÃO personal case ESPECIAL CASE STUDIES REVISTA BRASILEIRA DE MANAGEMENT Marcelo Odebrecht Presidente do Grupo Odebrecht Uma gestão baseada em valores humanísticos “Nossa cultura, quer dizer, a Tecnologia Empresarial Odebrecht, é baseada em valores humanísticos. Para nós, este é o grande segredo empresarial”, diz Marcelo Odebrecht, presidente de uma organização que tem 15 negócios diferentes e 500 empresas debaixo deles. São valores como a confiança no ser humano, o espírito de servir e uma postura de simplicidade e humildade, que se concretizam em uma gestão descentralizada, com delegação de poderes e planejamento em parceria. “Se eu procurasse saber tudo o que está acontecendo na organização, ela, com certeza, não caminharia”, afirma o executivo, para quem o principal desafio de qualquer empresa é formar, integrar e motivar as pessoas. DESAFIOS DO GESTOR “Uma pergunta que costumam me fazer é sobre os desafios da gestão e os atributos necessários, fundamentais, a um gestor. Perguntas genéricas como esta sempre têm um risco. Para cada tipo de negócio, principalmente para cada tipo de empresa, com a sua cultura, e também para cada momento de sua vida, os desafios são distintos. A começar pelo momento. É pequena, média ou grande? Nós vivemos uma história de quase 70 anos. Sabemos o que é passar de uma empresa pequena, regional, para uma nacional, uma internacional, e, depois, uma companhia diversificada. Os desafios que a geração do meu avô teve são totalmente diferentes daqueles da segunda e da terceira gerações. Nós estamos entre a terceira e a quarta. Quer dizer, os desafios da gestão dependem muito da fase de crescimento da organização. Esse é o primeiro ponto. Outro ponto é a definição do negócio. Nós temos na organização 15 negócios que se diferenciam, um complexo de holdings e sub-holdings. Há 500 pequenas empresas embaixo deles. A gestão de cada pequena empresa, de cada negócio, tem um desafio distinto. Eu diria que, no fundo, o que une tudo são as pessoas. Pergunto o seguinte: o que é um negócio? Nada mais é, no fundo, do que as pessoas e a comunicação entre elas. Então, em qualquer momento da vida de uma organização, ou em qualquer negócio em que ela esteja, o desafio é formar, integrar e motivar as pessoas.” FORMAR E INTEGRAR “Formar começa por identificar. É preciso identificar a pessoa certa, integrá-la e motivá-la. Formar e integrar não são a mesma coisa. A pessoa formada pode ter as competências necessárias. Já uma pessoa integrada é aquela que, além de formada, está inserida na cultura da organização. Há empresas que formam pessoas com capacidade, com competência, mas que não estão integradas à sua cultura. Esse é um desafio importante. É preciso haver essa integração. Há quem diga que os gestores têm prazo de validade, que é necessária a oxigenação de homens e ideias. É lógico que toda organização, como a natureza, precisa estar se renovando. Mas pode se renovar com as mesmas pessoas. As pessoas podem se autorrenovar. Uma coisa “Na Odebrecht, a pessoa deve entrar estagiária e sair no programa de terceira idade. Por isso, temos milhares de pessoas com mais de 25 anos de casa” que a gente preza muito, e acha importante em uma organização, é o convívio de três, quatro gerações ao mesmo tempo. Então, você tem a energia do mais jovem e a experiência do mais antigo. Uma organização precisa ter, primeiro, um compromisso de vida com seus integrantes. E estes também têm de sentir a organização como um plano de vida e carreira. Na Odebrecht, a pessoa deve entrar estagiária e sair no programa de terceira idade. Por isso, temos milhares de colaboradores com mais de 25 anos de casa. E também pessoas com 40, 50 anos de casa. Não acho que as pessoas devem ter prazo de validade, e não têm. Agora, é importante que tanto as pessoas quanto a organização, ou seja, os líderes, possam estar continuamente avaliando qual é o programa certo para a pessoa certa naquele momento.” CULTURA SISTEMATIZADA “Não dá para traçar paralelos ou diferenças entre as gestões anteriores e a de agora. Cada uma tem a sua característica. Acho que só daria para diferenciar alguém daqui a 400, 500 anos, quando estiver se falando na história da organização. Provavelmente, ninguém vai lembrar de Emílio (Odebrecht), de Marcelo e daqueles que INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 setembro/outubro 2013 INSIGHTCase Studies 12 13 vão me suceder. Não existe muito espaço para personalismo. Talvez a única pessoa a ser sempre lembrada seja meu avô Norberto. Ele teve uma característica muito rara entre os empreendedores e fundadores de empresas: a capacidade de conceituar e sistematizar uma cultura, uma cultura que trouxe do berço, que aprendeu nos primeiros anos de trabalho. Aos 40 anos, ele conseguiu a façanha de sistematizar uma cultura, a Tecnologia Empresarial Odebrecht, e colocá-la por escrito em livro. O Livro Verde e outros que até hoje são editados facilitaram muito a transmissão dessa cultura de uma geração para outra. Toda empresa tem uma espécie de cultura. Mas talvez a nossa tenha sido das poucas que conseguiram desde cedo sistematizá-la, permitindo o seu conhecimento em detalhes. Muitas vezes você pratica e não sabe o que está praticando. Acho que essa foi a façanha do meu avô. Por isso, digo que a grande diferença talvez seja essa capacidade que ele teve de sistematizar. Depois, cabe a cada geração superar a anterior. Até porque você aprende com os erros da geração passada. Vai cometer seus próprios erros. E a geração seguinte irá vivendo e aprendendo. Tem que ser uma evolução constante.” “Aprendi com meu pai: Veja sempre as pessoas pela sua força e não pela sua fraqueza” MARCOS DA ORGANIZAÇÃO “É sempre interessante tentar lembrar um momento marcante da organização e falar de um case. Olhando a empresa hoje, nos esquecemos de coisas que, no passado, tiveram um peso muito grande. Numa organização do tamanho da nossa, um marco talvez tenha sido a construção do edifício Petrobras. Ou do Aeroporto do Galeão. São obras emblemáticas, que caracterizaram mudanças para o Rio de Janeiro. Nós nos tornamos uma empresa nacional. O Galeão, na época, era maior do que a Odebrecht. Foi uma mudança de geração, de meu avô para meu pai. Construir as usinas nucleares Angra I e II foi outro marco, que nos capacitou. As pessoas que passaram por essas duas obras rodaram o mundo. Foi uma qualificação muito importante. Depois, adquirimos o controle da Copene. Foi um marco do setor petroquímico, que levou à consolidação da Brasken. Para a história da organização, esses projetos foram, no seu devido momento, tão ou mais importantes do que coisas que, hoje, têm um impacto maior. Nossa história foi construída de vários pequenos e grandes movimentos. Eu diria que não houve um único caso, mas uma sequência de cases. Acho que passaria um dia inteiro contando a sequência de coisas que marcaram a nossa história.” PROCESSO DECISÓRIO “Como é gerir um negócio em que não se vê a ponta, não se enxerga quem está lá no fim do processo? Se eu procurasse saber tudo o que está acontecendo na organização, e se procurasse entender mais do que quem está lá na ponta, junto ao cliente, ela com certeza não caminharia. Minha concentração é principalmente com as pessoas que trabalham comigo e com aqueles que trabalham com elas. Espero que tenham as competências para tomar decisões. Não acredito que, em uma organização baseada num planejamento estratégico de holding, cinco pessoas sentadas no escritório aqui em São Paulo vão definir os rumos no mundo todo. A gente não funciona assim. Meu papel é ser o guardião da nossa cultura. É trabalhar delegando, motivando meus liderados para que eles tenham a tranquilidade de fazer o mesmo com os liderados deles. E lá, na ponta, estão os gestores que tocam as empresas. Eles é que vão definir os rumos, que vão tomar a decisão. “Somos uma organização em que o líder não deve usufruir do poder, não pode ser servido. Pelo contrário, tem de servir os seus liderados” Eles entendem do negócio, têm que entender o cliente, têm que entender como se produz. Então, parto do pressuposto de que não preciso entender mais do que eles. Um líder tem que ter a responsabilidade de decidir. Mas deve para isso cercar-se de opiniões. Nesse processo, ele deve ter cuidado. O líder não deve decidir nada que caiba ao liderado dele decidir. Muitas vezes, quando uma pessoa vem conversar comigo sobre uma decisão que cabe a ela, tento influenciar, mas deixo bem claro que a decisão final é dela. É melhor que ela tome a decisão, ainda que seja contrária à minha. E, se estiver errada, vai se virar para consertar, tornando-se uma pessoa mais competente para corrigir o erro.” ALICERCES FILOSÓFICOS “A Tecnologia Empresarial Odebrecht está alicerçada em algumas concepções filosóficas importantes. A primeira é a confiança no ser humano e na capacidade dele de se envolver com o trabalho. Nada funciona se você não confia no homem e na sua capacidade de progredir. INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 setembro/outubro 2013 INSIGHTCase Studies 14 15 Outra é o espírito de servir. Na nossa organização, as pessoas têm que ter espírito de servir. E não é só servir ao cliente, não. É servir aos seus pares. Somos uma organização em que o líder não deve usufruir do poder. O líder não pode ser servido. Ele precisa entender, pelo contrário, que tem de servir os seus liderados. Isso é uma coisa que vem desde a origem, da formação familiar do meu avô. Uma terceira questão importante é a postura de simplicidade e de humildade. Aí vem um pouco a importância do espírito de pequena empresa. Todos os nossos empresários parceiros são donos de uma pequena empresa que tem que ter humildade e simplicidade para servir o seu cliente, e não se achar parte de uma organização gigantesca. Ainda, outra concepção importante é a atuação descentralizada, por meio de delegação planejada e de parceria. O que é planejar? É, por exemplo, pegar seus liderados, pactuar o desafio, acompanhar, avaliar e julgar. Você não só descentraliza, mas delega, planeja em parceria. Também não adianta dar responsabilidade para alguém e a pessoa não poder partilhar o seu resultado. Por isso, outra questão importante é a do reinvestimento. É fundamental que os nossos integrantes percebam que uma grande parte da riqueza que eles estão gerando está sendo reinvestida no seu próprio negócio. Nossa cultura é baseada em valores humanísticos. Esses valores estão aí, mas o difícil, muitas vezes, é praticá-los. Não temos uma obsessão doentia por fatores como eficiência, rentabilidade, produtividade, que devem ser a razão de vida e não a razão de morte da organização. Mas estamos eternamente insatisfeitos com resultados. O sucesso é uma armadilha. Uma coisa interessante é que na Odebrecht não existe, como em outras empresas, uma área grande de recursos humanos. E por que não? Porque acreditamos que a responsabilidade de cuidar das pessoas é do líder. Existem poucas pessoas em nosso RH, e elas não estão lá para cuidar diretamente dos colaboradores, mas, sim, para dar apoio ao líder.” REFERÊNCIAS PESSOAIS “Na minha vida, tive várias referências importantes. Na infância, foram meu avô e meu pai. Com meu pai, aprendi sempre a considerar as pessoas pela sua força e não pela sua fraqueza. Talvez esse tenha sido o grande aprendizado que tive com ele. Quando entrei na organização, já trazia de meu avô todas as nossas concepções filosóficas. Eu e meus primos aprendemos muito com nosso avô. Ele nos ensinava contando histórias. Ele contava histórias por meio das quais a gente aprendia concepções filosóficas. Tive oportunidade de ter vários líderes. Foi um cuidado que tiveram comigo. Talvez o mais importante seja o líder com o qual você está. O líder é a pessoa com a qual você vai aprender. Hoje, aprendo muito com as pessoas que trabalham comigo. Acho que liderar é um processo de influenciar e ser influenciado. E prezo muito a divergência de opinião. Acho que, numa organização, as pessoas têm que se alinhar depois que é tomada uma decisão. Mas no processo de tomada de decisão, as opiniões contrárias são uma coisa extremamente positiva. Hoje, procuro me cercar de muita gente, inclusive de pessoas que têm pensamentos diferentes do meu. É justamente com elas que estou constantemente checando minhas convicções. Sempre tenha junto de si pessoas que o incomodem, o enfrentem. Respeite-as. Admiro os chatos. Também sou difícil de mudar de convicção. Então, quando alguém vem trabalhar comigo, digo o seguinte: Não desista! Eu demoro, mas vou absorvendo. O cara fala, você na hora não aceita, mas fica lá na cabeça. Aí, tem que ser capaz de refletir, voltar atrás. Acho que isso faz parte do processo de humildade e simplicidade. Não é preciso ter receio de falar a palavra desculpe, de dizer que errou.” “Sempre tenha junto de si pessoas que o incomodem, o enfrentem. Respeite-as” A INQUIETAÇÃO DO GESTOR “Nossa organização cresceu muito nos últimos tempos. Em dois anos, saímos de 90 mil para quase 200 mil pessoas. O que mais me inquieta no nosso crescimento é ter a disciplina para continuar praticando a nossa cultura. Hoje, de longe, o maior desafio que a gente tem é de preservá-la e, mais do que isso, praticá-la. Por quê? Porque em uma cultura na qual a maneira principal de transmitir é por meio da relação líder e liderado, quando há um crescimento dessa magnitude, “Nós estamos eternamente insatisfeitos com resultados. O sucesso é uma armadilha” pode-se criar uma ruptura. De repente, pode haver liderados que têm líderes que ainda não absorveram totalmente a cultura. Então, eles não a estarão transmitindo adequadamente.” OLHAR SOBRE O ENTORNO “Na origem, nosso foco estava em nossos integrantes e em nossos clientes. Hoje, está na sociedade de um modo geral, e, principalmente, nas comunidades do nosso entorno. Todo projeto, principalmente os relacionados a construção, de certo modo perturba a comunidade do entorno. No fim, podem trazer benefícios, mas perturbam. Então, nós aprendemos a importância de trazer a comunidade para o projeto. Por exemplo: Se há um canteiro de obras em uma comunidade, fazemos uma quadra de futebol e começamos a trabalhar com os jovens que ali vivem para integrá-los a algum processo que misture esporte e cultura. Se há uma estrutura hospitalar numa obra, damos apoio a um pequeno hospital próximo a ela, na cidade. Por isso, conseguimos trabalhar até em regiões de guerrilha, de guerra. Quem nos protegia, quem era nosso cordão de proteção? As comunidades do entorno. Recentemente, na obra do teleférico do PAC do Alemão, nossa preocupação foi trazer a comunidade para o projeto.” INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 setembro/outubro 2013 16 INSIGHTCase Studies 17 Hoje, a Odebrecht não vai fazer uma obra, um projeto qualquer, que tenha um viés totalmente político, de determinado governo. A nossa preocupação hoje é com o Estado e com a sociedade que está por trás dele. Por isso, nós estamos, por exemplo, em países que mudam constantemente de governo, muitas vezes radicalmente. E nossos projetos continuam, porque se tornam projetos de prioridade nacional, e não de determinado governo.” O engenheiro civil Marcelo Odebrecht preside desde o fim de 2008 a Odebrecht S.A., holding do Grupo Odebrecht que obteve receita de US$ 41,3 bilhões no ano passado. O grupo atua nos seguintes setores: engenharia e construção; petroquímica; investimentos em infraestrutura; energia; óleo e gás; engenharia ambiental; realizações imobiliárias; bioenergia; defesa e tecnologia; e properties. A Odebrecht está presente em cinco continentes e é líder nos segmentos de Engenharia e Construção e de Química e Petroquímica na América Latina. A holding possui a totalidade do capital de cinco empresas: > Construtora Norberto Odebrecht, a 13ª maior do mundo com atuação internacional, presente em 18 países e que teve 62% do faturamento fora do Brasil em 2012. > Odebrecht Energia, que investe em geração de energia elétrica no Brasil e no exterior, e cujo portfólio inclui usinas hidrelétricas e usinas eólicas em construção. > Odebrecht Properties, dedicada a investimentos e gestão de ativos imobiliários. > Odebrecht Latinvest, que investe em infraestrutura através de Concessões de Serviços Públicos e PPPs na América Latina, e cujo portfólio inclui rodovias no Peru e na Colômbia. > Odebrecht Defesa e Tecnologia, dedicada ao desenvolvimento e produção de tecnologias de uso civil e militar. A holding tem também participações majoritárias que variam de 81,5% a 38% no capital de outras sete empresas: Odebrecht TransPort; Odebrecht Óleo e Gás; Odebrecht Realizações Imobiliárias; Odebrecht Ambiental; Odebrecht Agroindústria, EEP e Braskem. INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 18 Um dia pra comemorar com quem é cada vez mais importante para o país. Banco do Brasil bompratodos.com.br Central de Atendimento BB 4004 0001 ou 0800 729 0001 • Ouvidoria BB 0800 729 5678 • Serviço de Atendimento ao Consumidor - SAC 0800 729 0722 • Deficiente Auditivo ou de Fala 0800 729 0088 setembro/outubro 2013 INSIGHTCase Studies 5 de outubro. Dia da Micro e Pequena Empresa. O Banco do Brasil acredita no potencial das empresas brasileiras e oferece as melhores soluções para quem empreende e quer crescer. É por isso que desejamos cada vez mais bons negócios para as empresas e cada vez mais empreendedorismo para o país. Banco do Brasil. Cada vez mais o banco da Micro e Pequena Empresa. Banco do Brasil 19 INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 sondagem 20 21 EDIÇÃO sondagem CASE STUDIES REVISTA BRASILEIRA DE MANAGEMENT Competitividade, o principal desafio O cenário é de demanda agregada andando de lado, ou seja, crescendo lentamente ou estagnando. O mercado de consumo também sofrerá uma expansão reduzida, em comparação com a década passada, quando 30 milhões de pessoas das classes menos favorecidas ascenderam à chamada classe C. Não é razoável afirmar que qualquer movimento similar ocorrerá em futuro próximo. Por sua vez, é provável um crescimento do investimento, que absorverá parcela da mão de obra e aquecerá os mercados de bens de capital e bens intermediários. Esta foi a conclusão tirada a partir de uma sondagem realizada por Case Studies com 20 renomados empresários, executivos e consultores. Para as empresas, uma grata solução seria destinar parcelas cada vez maiores da produção ao exterior. Como se fosse possível. O Brasil vem perdendo competitividade em um mundo cada vez mais globalizado, por conta, entre outros fatores, de uma longa temporada de câmbio apreciado, defasadas legislações tributária e trabalhista e notórias deficiências em infraestrutura e capital humano, além do aumento da agressividade dos países centrais, que passaram a buscar mais os mercados externos depois da crise de 2008. Isso para não falar do “efeito China”, importador de pouquíssimos produtos da pauta de exportações brasileira e vendedor de centenas deles. O ambiente econômico, portanto, exige superação. Por esse motivo, 11 dos 20 entrevistados por Case Studies, nesta sondagem, citam enfaticamente a busca da competitividade como o principal desafio da gestão empresarial no Brasil nos próximos dez anos. Uma unanimidade entre os entrevistados é que será exigido dos gestores um perfil muito mais diversificado, para serem líderes não só dentro das empresas, mas também fora delas. Os gestores precisarão desenvolver o lado psicológico do conhecimento humano e terão de dedicar mais tempo a cada um dos públicos de interes- se da empresa, sejam órgãos do governo, consumidores, comunidades, investidores, parceiros ou fornecedores. O pentagrama da excelência – empregados, fornecedores, acionistas, cliente e comunidade – regerá a ótica gerencial. Todos os vértices serão igualmente importantes. Empreender esforços para influenciar a gestão macroeconômica também foi considerado uma atitude da qual o gestor não poderá se furtar. A rede de acesso, o conhecimento das pessoas certas, a capacidade de contribuir com sugestões criativas e a circulação junto às autoridades do governo serão importantes para a valorização desse novo líder. A presença do Estado é uma necessidade na economia brasileira, e a interpretação da sua maneira de agir e a intimidade com as autoridades são uma variável de competência precificada em valores elevados. Além disso, os gestores terão de lidar com crescentes exigências em relação à governança corporativa, um modelo de gestão compartilhada. “Não vai ter ninguém que seja o salvador da pátria, que não compartilhe o que está sendo feito”, disse um dos consultados. Celina Borges Torrealba Carpi, membro do Conselho de Administração do Grupo Libra, diz que o principal desafio da gestão empresarial no Brasil nos pródos, onde “o gestor de ximos anos está ligado ao aumento da competiuma empresa vai para tividade, em pauta desde os anos 1990, no gouma escola pública no verno Collor. A toada é a mesma. “As empresas sábado de manhã para só sobrevivem se são capazes de competir. Hoje, participar de reunião do poucos são os mercados sem competição. Esse Conselho da Cidade”. é um aspecto positivo do processo de abertura Os gestores, seguncomercial que se iniciou na década de noventa”. do Celina, terão ainda Um dos obstáculos à competitividade gerencial, outro desafio nos próxiassinala a conselheira, é a incerteza hoje existente mos anos: explorar proem relação aos marcos regulatórios. “Quem viveu dutos e serviços com a época da hiperinflação sabe que era impossível baixa emissão de car“Precisamos de planejar qualquer coisa a médio e longo prazos. Um bono. “As mudanças clipaís não pode viver assim. É preciso haver capamáticas são um debate gente capaz de ser cidade de planejamento, porque as empresas têm que virá com cada vez líder não só dentro investimentos, e investimentos têm prazo de matumais força. O Brasil tem das empresas, mas ração. Se há incerteza em relação a marcos reguuma vantagem compalatórios fundamentais, é muito difícil uma empresa rativa grande nesse astambém fora delas” achar que vai ser competitiva.” pecto. Tem uma matriz Celina Borges Ela ressalva que houve avanços da era Fernanenergética ainda limpa, Torrealba Carpi do Henrique para cá, mas assinala que os marcos basicamente hídrica. regulatórios não têm levado em consideração o Nós, empresários e gesdebate democrático. “É óbvio que o governo tem tores, temos que discuo importante papel de liderar o debate, mas este tem que tir a matriz energética que queremos. Não podemos deixar incluir diversos atores, entre eles os empresários.” a decisão nas mãos do governo. Temos oportunidade de Para os próximos dez anos, Celina prevê que os gestodizer não ao combustível fóssil, de não sujar nossa matriz.” res das empresas ainda terão de lidar com enormes difiTambém será um desafio lidar com o pleno emprego. culdades. “A rentabilidade, um item fundamental para se “Nossa mão de obra não tem a qualidade adequada e os pensar em investimento – que em última análise é o que custos estão subindo sem que haja retorno em produtivigera a capacidade de competir –, está diminuindo. Esse é dade. Daí que será preciso, organizadamente, encontrar o lado desafiador.” formas para que a educação neste país atenda à demanda Ela acredita que nos próximos anos a ascensão ao merde quem cria bens e serviços, que são as empresas. Tamcado de consumo das classes menos favorecidas não vai bém nesse ponto, que afeta a competitividade, não podese dar na mesma velocidade registrada até agora, ao mesmos deixar apenas o governo decidir”, diz. mo tempo que a classe média está se mostrando cada vez Para Celina Capri, esses desafios exigirão um novo perfil mais demandante, numa busca por melhores serviços, dos gestores. “Precisamos de gente capaz de ser líder não melhor gestão e maior eficiência. só dentro das empresas, mas também fora delas. Esses líPara enfrentar os desafios, Celina Carpi diz que os gesderes terão de dialogar com diversos setores não empretores terão de ser mais proativos, mais presentes nas cisariais, como organizações sociais e o próprio governo, indades em que suas empresas atuam. “Os muros das emclusive para entender as limitações e dificuldades de cada presas hoje são virtuais. Não se trata mais de ser muito um e fazer com que eles entendam as nossas. Precisarão bom no que se faz do seu muro para dentro. Os gestores ter empatia e ser bons ouvintes. Precisarão ter coragem de precisam entender que hoje estão inseridas em problemas sentar para conversar com quem não pensa como eles.” locais, comunitários.” Ela cita o exemplo dos Estados UniCelina ressalta que não basta a um gestor fazer o melhor INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 sondagem 22 23 curso ou a melhor pós-graduação no setor dele. Será necesmilhões de novos consumidores no mercado brasileiro. sário que ele gaste tempo para aprimorar sua capacidade de No cenário atual, é difícil prever que continuaremos a ter entender e participar dos outros setores da sociedade. o mesmo crescimento, e, por outro lado, esses novos De acordo com Celina Carpi, as empresas brasileiras consumidores que entraram terão seu nível de renda e têm ainda pela frente um tema desafiador: a capacidade poder de compra reduzidos” . de serem geridas por homens e mulheres juntos. “NovenO segundo desafio decorre do primeiro. Com a demanta e cinco por cento das empresas brasileiras são geridas da agregada contraída, a opção de olhar para o mercado primordialmente por homens. Há muito poucas mulheres externo fica mais tentadora. “No entanto, o Brasil vem perCEOs. Há pouca participação de mulheres em Conselhos dendo competitividade em relação ao resto do mundo, o e no processo de tomada de decisões estratégicas.” que acarreta maiores dificuldades para as empresas brasiSobre as exigências da governança corporativa, Celina leiras competirem no exterior”, ressalta. Carpi considera que o fato do acionista majoritário ser gesO terceiro desafio será otimizar o aproveitamento de tor não é necessariamente ruim. “Olhando para trás, o merrecursos naturais, aumentando a eficiência de sua utilicado de ações brasileiro se expandiu tremendamente em zação, com a redução de perdas e desperdícios desses 20 anos e trouxe padrões de governança mais modernos recursos. “É cada dia mais evidente que a abundância de em termos de criação de valores e transparência para que recursos naturais aproxima-se do final. Paralelamente, a o acionista minoritário possa vir ao mercado de capitais e utilização do capital natural tem processos de licenciafazer uma escolha mais clara do que está compranmento cada vez mais do. Acho que a separação entre as responsabilidadifíceis”, assinala. des dos gestores, do Conselho e dos acionistas é um Por isso, Souza diz enorme avanço, que veio para ficar.” que os gestores terão de A seu ver, os Conselhos são hoje uma peça fordesenvolver uma protalecida, com um papel mais importante na criação ximidade muito maior de valor. “Mesmo nas empresas de capital fechado, com seus clientes e é raro encontrar alguma de certo porte que não consumidores, de fortenha ao menos um Conselho Consultivo, com ma a poder antecipar membros externos independentes.” tendências e movimenEm relação ao impacto da globalização, ela diz tos dos competidores que apesar de haver no Brasil alguns setores comlocais. “Igualmente, prepetitivos, em geral os gestores brasileiros ainda têm cisarão ter mecanismos um dever de casa grande a fazer, o que não é tarefa de gestão que lhes per“Na década passada, apenas para os próximos dez anos. “Temos que ver mitam avaliar nichos de tivemos a entrada de qual é em cada setor o benchmark internacional mercados no exterior quase 30 milhões de para sermos capazes de competir com o que há de que possibilitem atenumelhor no mundo.” ar nossa falta de comnovos consumidores petitividade internaciono mercado A busca pela competitividade também é destanal, levando em conta a brasileiro. No cenário cada por Álvaro de Souza, presidente do Consecontinuidade do já malho da Gol e ex-presidente do Citibank no Brasil,. duro processo de globaatual, é difícil prever Ele considera que os gestores terão pelo menos lização.” que continuaremos três desafios importantes a enfrentar nos próximos Em relação à govera ter o mesmo dez anos. “Primeiro, será preciso enfrentar um cenança corporativa, Álnário com demanda agregada se contraindo. Na varo de Souza diz que crescimento” década passada, tivemos a entrada de quase 30 as exigências serão Álvaro de Souza mais de natureza de diversificação do que de ampliação. “Se isso vier a ser verdade, um bom canal aberto com todos os stakeholders da companhia será a maneira de os gestores lidarem com essas exigências.” sas e os gestores estão diante de um mundo em que a agilidade pretendida não está sendo evidente.” De acordo com ele, Outro que considera a busca da competitividade as empresas estão deo principal desafio da gestão empresarial no Brasil fasadas em tecnologia, nos próximos dez anos é Eduardo Bernini, fundanão só em hardwador e sócio-diretor da Tempo Giusto Consultoria re, mas também em Empresarial, e ex-presidente da Eletropaulo. Ele diz software. “Os processos que a competitividade das empresas instaladas no de reengenharia prati“Nossas empresas país é prejudicada por duas amarras. cados nos anos 1980 e A primeira diz respeito à deficiência da infraes1990 foram eficientes estão defasadas trutura, notadamente em redes de energia e telena medida em que se tecnologicamente. comunicações, e a segunda, à capacidade das emcortou o custo da mão Cabe a controladores presas de desenvolverem capacitação tecnológica, de obra. Hoje, as emprena mesma velocidade e na mesma intensidade em sas estão mais enxutas. e gestores terem um que está acontecendo na América do Norte e, em Mas não se conseguiu poder de iniciativa menor escala, na Europa. construir um modelo maior” “Nossas empresas estão defasadas tecnologicaeficiente de aumento de mente. Cabe a controladores e gestores ter um poprodutividade.” Eduardo Bernini der de iniciativa maior. Fala-se muito em inovação, Os gestores, acresmas pratica-se muito pouco”, esclarece Bernini. centa Bernini, terão de Ele se lembra da primeira vez que foi a Carajás e viu que se adaptar às maiores exigências da governança corpoa Vale, para ter mão de obra, precisa fornecer educação rativa, a qual ainda é muito incipiente nas empresas brafuncional, ensinar a ler, escrever e fazer contas. sileiras, o que vai se refletir em maior custo de acesso a “O problema passa a ser não somente como reformar capital. “Estamos entrando numa era em que o critério de o sistema educacional, para que tenhamos técnicos de seletividade de investidores e financiadores vai ser muito nível médio e superior, mas o que fazer para que toda mais rígido em termos da governança corporativa. Maior essa população semi-alfabetizada adquira raciocínio lódesconto será dado na valoração das empresas por conta gico e seja capaz de receber e executar instruções de forda deficiência das empresas brasileiras em governança.” ma clara”, diz. Ele afirma que isso vale principalmente para as médias Bernini ressalva que não se trata apenas de saber usar e grandes empresas que ainda não se adaptaram, uma vez um computador. “Hoje um operador de trator tem que saque as muito grandes já passaram por esse aprendizado e ber o que é um GPS. E, para isso, ele tem que entender o são as que adotam as melhores práticas de governança. que é uma coordenada. Precisamos dar um reset na nossa “As médias e as grandes empresas mais próximas das méforça de trabalho.” dias ainda estão muito longe de mostrar as características O consultor acredita que nos próximos dez anos um que estão sendo cada vez mais requeridas tanto pelo mernovo modelo de gestão vai acabar se impondo e exigincado de capitais quanto pelo mercado financeiro.” do mais dos gestores. “Aqui entramos na própria forma de Bernini cita a confusão ainda existente nesse segmento organização das empresas. O gigantismo é um fator de de empresas entre acionistas e administradores e o fato sucesso. Crescer é forma de ganhar economia de escala, de os Conselhos de Administração não serem constituídos um caminho inevitável a ser perseguido. Mas as empremajoritariamente por conselheiros independentes, “con- INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 sondagem 24 25 dição mais adequada e alinhada com a expectativa dos mercados financeiro e de capitais”, embora ressalve que o fato de uma empresa ser gerida pelo dono não significa que não seja profissional. “A exigência de separação para evitar conflitos de interesse, ou de agenda, como se diz no jargão do management, será cada vez maior e mais intensa. Os papéis dos acionistas, mesmo que controladores, dos gestores e dos Conselhos de Administração têm que estar bem mais distintos. Hoje há superposição entre esses papéis”, afirma. Segundo Bernini, preencher os requisitos de governança torna-se necessário para o próprio mercado de capitais brasileiro poder ser mais ativo e dinâmico, e para que as empresas possam ir buscar capital para os seus investimentos, sem depender do BNDES, único financiador de longo prazo no país, mas cujos limites já estão bem evidentes. “Há poucas empresas com estruturas de governança que as habilitem a ser competitivas e, ao mesmo tempo, ter condição de acesso a um custo de capital mais baixo, o que resultaria em maior produtividade e competitividade. É a armadilha na qual estamos presos”, conclui Bernini. Também Francisco Turra, presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), considera a busca da competitividade o principal desafio da gestão nos próximos anos. Essa busca, assinala, coloca vários obstáculos para os gestores das empresas com atuação tanto no Brasil quanto no exterior. “No mercado interno, por exemplo, há deficiências na logística, burocracia e elevada carga tributária; e, no mercado internacional, barreiras ao livre comércio.” Dos gestores, ele acredita que serão exigidos pelo menos dois grandes atributos. “Um deles é a capacidade de relacionamento institucional, com contatos diretos nos poderes Executivo e Legislativo, por exemplo. O outro é a visão para montar uma equipe e uma estrutura que abasteçam a gestão com informações up to date, a nível Brasil e mundial.” De acordo com Turra, para lidar com as exigências cada vez maiores da governança corporativa, os gestores precisarão dedicar cada vez mais atenção a uma boa formação de sua equipe, com uma criteriosa seleção de pessoas qualificadas e talentosas. “Os gestores necessitam de um excelente time para apoiá-los na cobrança, cada vez crescente, advinda dos conselhos de administração ou diretivos, de forma a se dedicarem a questões estratégicas.” Turra entende que a globalização coloca cada vez maiores exigências para os gestores. “Hoje, o gestor de uma organização ou entidade empresarial não pode mais limitar seu olhar à região na qual está presente ou mesmo ao território nacional. Precisa pensar cada vez mais no mundo, identificando com precisão as características de consumidores, as armas dos concorrentes, as particularidades dos governos. E tendo em mente que sempre haverá um degrau a mais a galgar no que diz respeito à competividade e à eficiência”, conclui. Na mesma linha, Rodolpho Tourinho, presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada – Infraestrutura (Sinicon), reforça a necessidade de os gestores terem capacidade de relacionamento institucional, especialmente nas esferas governamentais. Para ele, o maior desafio nos próximos anos para os gestores das empresas do setor será contribuir para viabilizar os inves“Os gestores necessitam de um timentos em infraestruexcelente time para apoiá-los na tura, especificamente em rodovias, ferrovias, cobrança, cada vez crescente, portos e aeroportos, “já advinda dos conselhos de que a área de telecomuadministração ou diretivos, nicações, de uma forma ou de outra, embora pude forma a se dedicarem a desse estar bem melhor, questões estratégicas” funciona”. Francisco Turra Os investimentos em “Quando falamos em globalização, falamos na capacidade de competir. Um fator extremamente limitador da capacidade de o país se adaptar à realidade da globalização são justamente os gargalos que temos na infraestrutura” entendimento sobre essas questões todas, que passam pela sustentabilidade, responsabilidade social e pela necessidade de uma governança corporativa cada vez mais forte. Creio que este é o caminho que todos terão de seguir daqui para a frente”, conclui. Rodolpho Tourinho A busca pela competitividade também é uma preocupação de Gilberto Xandó, diretor-presidente da Vigor Alimentos. Ele diz que afora as deficiências na infraestrutura, os maiores desafios da gestão empresarial no Brasil estão relacionados à capacitação de pessoal e ao custo da mão de obra. “Do jeito como o custo de mão de obra vem subindo nos últimos anos, as empresas estão ficando cada vez menos competitivas”, afirma. De acordo com ele, os gestores terão que ter foco na atividade core de suas empresas e capacidade de propiciar ganhos de produtividade sucessivos às mesmas. “Para isso, eles precisarão ter capacidade de se renovar e de inovar.” A Vigor, destaca, tem mais de 90 anos e está se renovando e inovando. Ele cita o exemplo do iogurte grego, que a Vigor trouxe para o Brasil. Xandó considera que os gestores terão também de ir se adequando às maiores exigências da governança corporativa. “Os gestores precisarão entender que o processo infraestrutura, a seu ver, serão fundamentais para as empresas brasileiras poderem competir num mercado cada vez mais globalizado. “Quando falamos em globalização, falamos na capacidade de competir. Um fator extremamente limitador da capacidade de o país se adaptar à realidade da globalização são justamente os gargalos que temos na infraestrutura. A decisão do investimento, sem dúvida, é do acionista, mas cabe ao gestor um papel de influência enorme nesse processo.” Tourinho assinala que tornar o país mais competitivo é o que está se tentando fazer com a concessão de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos para a iniciativa privada. Ele lembra que uma pesquisa da Fiesp apontou aumento de 17% nos preços dos produtos manufaturados só por conta das deficiências de infraestrutura do país. “Se a gente já não tem uma competitividade boa em função do custo da mão de obra, da taxa cambial e de outros fatores, isso agrava tremendamente o problema.” Tourinho considera que a questão da governan“Os gestores precisarão entender ça corporativa é cada vez que o processo de gestão mais importante. “Como gestores, temos que adapcompartilhada com Conselhos tar as empresas do sege Comitês, como ocorre na mento para esse mundo Vigor, que é uma empresa do novo, que é o mundo que se viu nas recentes maniNovo Mercado e presta contas festações de rua. Tem que trimestralmente, não tem volta” haver uma nova forma de Gilberto Xandó comunicação, um novo INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 sondagem 26 27 de gestão compartilhada com Conselhos e Comitês, como ocorre na Vigor, que é uma empresa do Novo Mercado e presta contas trimestralmente, não tem volta. Não vai ter ninguém que seja o grande salvador da pátria, que não compartilhe o que está sendo feito”, assegura. Para o executivo, a globalização gera a necessidade de os gestores serem rápidos e ágeis. “Hoje as coisas são muito dinâmicas e mudam em grande velocidade. Quem for ficar esperando (para se adaptar às mudanças) já era”, afirma. Para tanto, assinala, será necessária a emergência contínua de novos líderes, apoiados por um time comprometido, que vê sentido em seu trabalho, aceita o desafio e mobiliza suas competências. “Ter uma boa equipe envolve diversidade, isto é, pessoas com personalidades, estilos e “Ter uma boa equipe Cledorvino Belini, presidente da Fiat Chrysler carreiras diferentes. Uma para a América Latina, é outro que destaca a neequipe não tem somente envolve diversidade, cessidade de inovação como forma de lidar com um líder. Esse é um papel isto é, pessoas com a enorme pressão concorrencial. “Fazer tudo da que pode variar entre os personalidades, mesma forma pode ser cômodo, mas não garante atores e não depende o futuro. O desafio dos gestores é fazer diferente, necessariamente da poestilos e carreiras e a palavra-chave é inovação, a principal fonte de sição hierárquica.” diferentes. Uma vantagem competitiva e de lucro empresarial.” Belini ressalta que toda equipe não tem De acordo com ele, há dois grupos de empreequipe precisa de desasas: as que inovam e as que seguem inovações dos fios. “O desafio estimula, somente um líder” concorrentes. “As que estão na liderança, que alelimina o marasmo, a buCledorvino Belini cançam os melhores resultados e melhores índices rocracia e injeta energia e de satisfação são exatamente as mais inovadoras. combustível na empresa. Elas navegam em mercados mais valorizados, lonEsse estilo de liderança ge da concorrência agitada, onde as condições de desemforça a equipe a expandir continuamente os próprios limites.” penho e rentabilidade não são as melhores.” Assim, aconselha, se uma meta foi realizada, outra deve Belini lembra que em uma conjuntura internacional deser estabelecida. “Foi difícil conquistá-la? Agora é preciso primida como a atual os países industrializados apresenmantê-la. Conseguiu mantê-la? Agora é hora de avançar.” tam grandes excedentes de produção, que buscam canaPorém, ele ressalva que é preciso agir com bom senso. lizar para mercados mais dinâmicos, como o brasileiro e o “Um desafio quase inatingível desanima qualquer um. Um dos demais emergentes. desafio precisa ser estimulante e alcançável, para vir a ser Essa oferta em um nível sem precedentes, acrescenta, superado posteriormente.” “cria uma pressão concorrencial enorme, que exige do Belini observa que atualmente crescem as exigências de quadro gerencial brasileiro grande capacidade de perceptransparência nos negócios. “Hoje percebemos ao nosso ção e análise, além de visão estratégica para que as empreredor um número maior de stakeholders, com interesses sas consigam posicionar-se bem no mercado, buscando e demandas distintos, que precisam ser levados em considesenvolver cada vez mais suas vantagens competitivas e deração no planejamento e condução dos negócios.” comparativas para enfrentar a concorrência internacional”. De acordo com ele, a legislação está mais complexa, o Por isso, enfatiza, é fundamental que os gestores reveconsumidor torna-se mais seletivo e a sociedade fica mais jam processos e trabalhem pela descontinuidade, buscanexigente quanto ao comportamento empresarial. “Diria do revitalizar e renovar a estratégia, a estrutura, a técnica que mais importante do que os resultados da empresa é a e o processo. forma como são alcançados.” A busca da competitividade parece mesmo um consennio de uma segunda ou terceira língua, fora a língua-mãe. so. Ela é citada como o maior desafio por Elias Rogério Num mundo globalizado, não podemos prescindir disso.” da Silva, presidente no Brasil da norte-americana NCR, faDe acordo com o executivo, o mundo globalizado traz bricante de equipamentos de autoatendimento (ATM). Ele coisas a serem pensadas em outras dimensões. “Da mestambém chama a atenção para o fato de os gestores prema forma que represento uma multinacional e tenho de cisarem lidar com assuntos externos à organização. competir em todos os lugares em que atuo, a indústria naSilva participa de um fórum que reúne mais de 500 cional também tem que pensar assim e estar pronta para CEOs e diz que em todos os encontros do grupo, quando competir com companhias internacionais aqui, e, em tense faz uma sondagem do que mais preocupa executivos e do vontade, ser competitiva lá fora também.” empreendedores, invariavelmente destacam-se as quesNesse sentido, ele aponta um fator que reduz a comtões das defasadas legislações tributária e trabalhista e das petitividade das multinacionais: o fato de as empresas nanotórias deficiências do país em infraestrutura, que se recionais, em licitações do governo, poderem apresentar um fletem na capacidade das empresas competirem em um preço até 10% superior e saírem vencedoras. mundo globalizado. “A globalização é um caminho sem volta e vai tornar “Fazer negócios no Brasil não é fácil, não”, assegura ele, ainda mais complexa a competição. A gente vê potências citando o exemplo da própria NCR, que, há quatro anos, asiáticas como a China e a Índia e fica imaginando como decidiu fazer um investimento importante no país, para vai ser o mundo daqui a dez, 15 ou 20 anos. A maior ecotransformá-lo em um dos pilares na produção de nomia mundial deverá ATM. A primeira questão foi decidir onde montar o ser a China, não mais os parque fabril, se no interior de São Paulo, em Minas Estados Unidos”, diz. Gerais, no Sul ou, eventualmente, no Norte. Elias Rogério da Silva “Aí contratamos estudos e mais estudos e caídestaca que os próprios mos num conjunto de leis ou de incentivos fiscais gestores estão passanque uma região tem e a outra não tem, e que estão do por um processo de vinculados a uma determinada gestão de um goglobalização. “A NCR verno e podem deixar de valer. Resolvemos montem dado muitas oportar nossa planta em Manaus, sabendo que 70% do tunidades a seus execuconsumo de nossas máquinas se dá no Sudeste e tivos de ter experiência no Sul. Isto porque lá temos um incentivo fiscal internacional. Sou um que é garantido por lei federal e nos dá seguranexemplo disso. E tenho ça de que pelo menos até 2030 não vai mudar”, vários colegas transfe“No Brasil temos conta. ridos para os Estados uma boa mão de obra Foi muito difícil, enfatizou, explicar para a matriz Unidos e a Europa, e, da capacitada, mas, e os investidores por que produzir máquinas que mesma forma, um exepesam em média uma tonelada num local distante cutivo de fora designahoje em dia, às vezes das regiões de maior consumo, a quatro horas de do para cá. É a globalilevamos meses em avião de São Paulo. zação do management.” busca de uma pessoa Elias Rogério da Silva assinala que outro desafio a Por isso, ele considera superar, principalmente devido ao avanço da globaque os gestores precisam para a alta gerência lização, diz respeito a pessoal. “No Brasil temos uma estar aptos a lidar com que possa preencher boa mão de obra capacitada, mas, hoje em dia, às temas não só de seu teruma posição vezes levamos meses em busca de uma pessoa para ritório, mas de outros. a alta gerência que possa preencher uma posição Em sua opinião, um estratégica” estratégica, com bom nível de qualificação e domídos requisitos para os Elias Rogério da Silva INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 sondagem 28 29 “Os esforços dos gestores para influenciar a gestão macroeconômica devem coexistir com uma curiosidade inquisitiva por novas tecnologias, uma revisão permanente dos sistemas e um forte envolvimento nas questões relacionadas com o talento humano” Henrique Neves gestores enfrentarem os problemas é não ter medo de desafios e serem capazes de viver em um ambiente de mudança. “A única coisa garantida é a mudança. O ambiente muda com mais frequência do que gostaríamos. É preciso se antecipar às tendências e tomar riscos, sair da sua zona de conforto”. Outra capacitação que se será exigida por gestores, conclui, é “a capacidade de aglutinação, de juntar pessoas com diferentes conhecimentos, para serem capazes de tomar decisões em um ambiente que não dominam completamente”. dos gestores para influenciar a gestão macroeconômica devem coexistir com uma curiosidade inquisitiva por novas tecnologias, uma revisão permanente dos sistemas e um forte envolvimento nas questões relacionadas com o talento humano.” Henrique Neves entende que, apesar do baixo grau de abertura da economia brasileira, a globalização tem um enorme impacto sobre empresas e também governos. “De um lado, influencia estilos de vida, expectativas e conhecimentos e, do outro, afeta o comportamento de indicadores da economia, como o PIB, a balança comercial, o balanço de pagamentos e a taxa de câmbio.” “Não há como os gestores desenharem estratégias sustentáveis para o futuro sem levar em consideração o impacto da globalização”, conclui. A produtividade é a preocupação de João Cox Neto, presidente da Cox Investments & Advisory e ex-presidente da Claro e da WTorre. Ele considera que há um conjunto de desafios que “lamentavelmente, muito provavelmente”, ainda estarão presentes nos próximos anos e que decorrem da complexidade tributária, da burocracia e da frágil infraestrutura que fazem parte do universo dos gestores Por sua vez, Henrique Neves, diretor-geral do Hospital Albert Einstein, diz que os desafios são vários e podem ser divididos em externos e internos à organização. Os externos, assinala, são as dificuldades da gestão macroeconômica, a falta de clareza e de estabilidade das regras, a complexidade do sistema e o peso da carga tributária, o custo da mão de obra e o crescimento das exigências burocráticas e regulamentares. Já os desafios internos, destaca, “Com os países trabalhando estão relacionados ao processo cada vez mais em blocos, e competitivo, em um mundo cada portanto com a economia vez mais interconectado, e exigem dos gestores flexibilidade e capacicada vez mais globalizada, a dade de adaptação em relação à eficiência e a eficácia serão tecnologia, a processos e à admifatores-chave decisivos nistração do talento humano. Todos esses desafios, assinala, na gestão” necessitam ser gerenciados com João Cox Neto igual intensidade. “Os esforços brasileiros. “Estas variáveis, aliadas, ainda, a um relativo baixo nível de educação, levam a uma produtividade cada vez mais baixa no Brasil, quando comparada à de alguns outros países.” Ele ressalta que os gestores precisam “influenciar para que haja investimentos em infraestrutura e educação e sejam realizadas as reformas tributária e previdenciária, de sorte a se criar um ambiente de investimento menos inóspito”. “Com os países trabalhando cada vez mais em blocos, e, portanto, com a economia cada vez mais globalizada, a eficiência e a eficácia serão fatores-chave decisivos na gestão. Creio que os gestores que estiverem mais alinhados com as práticas globais de governança corporativa, de sustentabilidade, de responsabilidade social e que invistam continuamente na formação de suas equipes estarão mais capacitados para competir”, afirma. João Cox considera que as empresas que não adotarem as melhores práticas de governança corporativa “não serão capazes de atrair os recursos necessários para o seu crescimento e, portanto, estarão fadadas a desaparecer no longo prazo”. Ele acredita que o mercado será mais demandante por gestores que privilegiem as práticas da boa governança. voltar atrás rapidamente e alterar a estratégia, caso necessário.” Outra habilidade necessária será a de articulação. “Antigamente as empresas faziam as coisas no contexto das suas capacidades – basicamente máquinas e pessoas, especificamente seus colaboO gestor terá que radores. Hoje não se consegue desenvolver ser muito mais uma estratégia que seja capacitado a planejar focada única e excluações e avaliar sivamente dentro da empresa. O fato de uma o risco de cada empresa ter gente cauma delas, para paz, equipamentos e poder voltar atrás sistemas não é mais garantia por si só de uma rapidamente e alterar execução exitosa da esa estratégia, caso tratégia.” necessário” Assim, observa, os gestores terão de se arWilson Ferreira Junior ticular com governos, Já Wilson Ferreira Junior, presidente da holding reguladores, ambientaCPFL Energia, diz que o principal desafio nos próximos dez listas, sindicatos, clientes, consumidores e comunidades anos está ligado à sustentabilidade, em suas três dimenno seu entorno. “A capacidade de articulação, de interagir sões, a chamada triple bottom line: econômica, ambiencom os stakeholders, será fundamental para a implemental e social. Ele assinala que a dimensão econômica traz o tação de estratégias.” desafio de lidar com a imprevisibilidade; a ambiental, o de A terceira habilidade necessária será perseguir a excetratar bem o meio ambiente, que tem implicações muito lência em tudo o que se faz. “O mundo não permite mais fortes no desenvolvimento econômico; e a social, o de inque se façam as coisas com grandes perdas, soltando um cluir pessoas em condição de pobreza na economia. monte de resíduos, e que não se respeite a vontade das “O mundo está cada vez menos estável e previsível. Houve pessoas. A palavra de ordem agora é faça o melhor e penuma queda de expectativas nos últimos cinco anos em dese se é de fato o melhor. É um esforço de consciência, um corrência da crise iniciada em 2008. Vivemos um momento exercício permanente de superação.” de reconstrução, em bases mais sustentáveis”, afirma. De acordo com o executivo, a governança é o que vai Por isso, acrescenta, os gestores precisarão ter a hapermitir fazer uma gestão adequada dos stakeholders. Ele bilidade fundamental de planejar ações e gerir riscos. lembra que há dez, 15 anos, nem se falava em governança, “O gestor terá que ser muito mais capacitado a planejar algo bem contemporâneo e imprescindível para o moniações e avaliar o risco de cada uma delas, para poder toramento sistemático e periódico da gestão. INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 sondagem 30 31 O Conselho de Administração, acrescenta, mais produtividade você deveria estar o tempo todo promovendo os seacaba gerando e, porguintes questionamentos: Nós estamos sendo tanto, mais diferenciação efetivos junto aos nossos stakeholders? Nossa acaba tendo. No nosso atividade está sendo desenvolvida olhando adenegócio de prestação de quadamente para o futuro? Nossa estratégia, serviços de transporte mesmo que bem articulada com os stakeholders, aéreo, o que nos difeestá garantindo que a empresa seja perene? Sorencia não é o avião, é o mos uma empresa que olha adequadamente para atendimento“, afirma. a sustentabilidade? Segundo Bologna, ouEm sua opinião, o que tem facilitado a formatro fator com o qual os ção de boas governanças é o avanço do mercado gestores estarão con“Como gestores, acionário. “Há pouco tempo, só se conseguia devivendo nos próximos senvolver um empreendimento com o dinheiro do dez anos é a aplicação precisaremos antecipar empreendedor, das famílias, olhando sempre onde de novas tecnologias. as tecnologias e trazêarranjar financiador. Não havia a figura do sócio.” “Como gestores, prelas para o ambiente de Ele lembra que a CPFL abriu o capital em 2004 e foi cisaremos antecipar as a quarta a entrar no novo mercado, que hoje conta tecnologias e trazê-las trabalho atual” com 130 empresas. para o ambiente de traMarco Antonio Bologna Os pilares da boa governança, destaca, são babalho atual. As novas sicamente três: transparência, equidade (tratar bem tecnologias facilitam o todos os investidores, sejam controladores ou miatendimento das pesnoritários) e accountability (tudo tem que ser contável e soas e também a comunicação.” compartilhado numericamente, caso contrário não há O maior desafio, acrescenta, é ter um planejamento estransparência). tratégico bem posicionado. “É conseguir apresentar para Wilson Ferreira Junior avalia positivamente a globalizaos acionistas um cenário de perspectiva de investimento e ção, que considera sinônimo de competitividade e excecrescimento, tendo como pilares a diferenciação das peslência, apesar de gerar concentração. soas, a capacitação e a absorção e aplicação das novas “Haver concentração é natural, mas a globalização tem tecnologias no ambiente de trabalho.” poder de inclusão, no sentido de que você começa a deEle destaca que as empresas de capital aberto precisasenvolver coisas onde é mais favorável ter essas coisas. É rão desenvolver bons processos de governança corporativa. muito difícil fazer hoje uma fábrica na cidade de São Paulo. “Quanto maior a governança, maior a geração de valor. GoHá lugares melhores. Não há mais limite estadual ou navernança é uma palavra meio mágica. As pessoas falam ‘temos cional. Pode-se até ir para a China”, conclui. governança’ como se fosse um check list. O difícil é a aplicabilidade dela, que requer muita disciplina, não só do CEO como Para Marco Antonio Bologna, presidente da TAM S/A, também dos acionistas e do Conselho de Administração.” nos próximos dez anos será preciso ter um grande foco Segundo ele, o “tom que vem do topo”, como dizem em educação e infraestrutura, notadamente em mobilios americanos, é o que define a aplicação das melhores dade urbana. Ele assinala que como gestor, além de estar práticas, de códigos de conduta, de compliance, na compreparando a companhia no dia a dia, tem se dedicado a panhia como um todo. “Tudo isso parte do exemplo que contribuir para uma maior capacitação, por meio de provem de cima. Se o CEO não dá o exemplo, não dá o tom, gramas de gestão de pessoas. se ele não se engaja nesses programas e não os estimula, “No fim, é a capacitação que gera ganhos de produtividaa companhia acaba não se interessando pela aplicação de de. Quanto mais capacitado for o seu time de colaboradores, uma governança saudável para todos.” Ele considera que não somente os CEOs mas também os acionistas precisam acreditar que a governança é algo bom, que significa maior perpetuidade para a empresa, e não simplesmente o cumprimento de uma necessidade do mercado. A governança, assinala, implica não só postura e ética, como também processos. “As empresas são feitas basicamente de processos e de pessoas que administram esses processos. À medida que temos processos consolidados e pessoas aplicadas nesses processos, acaba havendo retenção de conhecimento e aquele clássico pilar: Lucro (que perpetua as empresas), Pessoas (sejam clientes ou colaboradores internos) e Meio Ambiente (no sentido mais amplo, de tudo aquilo que está no seu entorno).” Bologna observa que os CEOs enfrentam atualmente muito maior exposição. “A visibilidade é muito maior. A comunicação hoje flui de maneira muito rápida. No passado, quando havia uma crise, dizia-se que você tinha de se preocupar já na primeira hora em como se apresentar a partir de um processo de anormalidade. Hoje, você tem que se preocupar com o primeiro minuto.” A comunicação, justifica, acaba se expandindo por redes sociais, que passam a ser hoje um meio de comunicação até mais importante que as mídias clássicas. “Estamos lidando com um mundo em que a informação não tem fronteira e no qual o CEO tem um nível de exposição bastante alto.” De acordo com Bologna, uma nova era se aproxima. “Acho que vamos assistir a uma nova dinâmica no Brasil nesses quesitos de educação e cidadania. Estamos vendo esse movimento (de rua) de busca de voz, que passa necessariamente pelo fortalecimento das instituições. As empresas também têm que estar fortalecidas como instituições. E elas se fortalecem como instituições quando buscam sua inclusão na sociedade, quando têm uma proposta de valor que não seja meramente ganhar um resultado de curto prazo.” Por isso, aconselha, é preciso ter um horizonte de sustentabilidade mais longo, o que se consegue com aplicações de estratégias definidas, de ciclos de planejamento com periodicidade de acompanhamento, com Conselhos de Administração que tenham regimentos claros de funcionamento, e com Comitês de Assessoramento, sejam eles estratégicos, de produtos ou de finanças. “Sou muito favorável a que haja um Conselho ativo, atuante, participativo, com informações claras, que possa olhar mais para a frente do que para trás, olhar para o norte, para onde você está indo”, afirma. Nesse sentido, Bologna volta a enfatizar a necessidade de acertar a estratégia, “que é a maior dificuldade que os gestores enfrentam hoje, num cenário de maior volatilidade, de maior competição. Quem acertar a estratégia é quem vai se diferenciar nesse horizonte de dez anos”. Indagado sobre os requisitos que os gestores precisarão ter para lidar com os desafios, Bologna citou três. O primeiro é ter equipe, team work, e trabalhar de maneira coordenada e de forma transversal. “Aquela coisa departamentalizada é mais do passado. Hoje você tem que se organizar mais por processos do que por função.” O segundo requisito é estar aberto a escutar, mais do que falar. “Deus fez a gente com duas orelhas e uma boca. No nosso negócio de prestação de serviço se aprende muito com quem está na ponta. É preciso ouvir quem está em contato direto no dia a dia com os clientes.” O terceiro é ser acessível, o que significa humildade, e não ficar preocupado com hierarquia, uma vez que a função do CEO é muito mais de coordenação. “Não acredito em administração por horror, na base do eu mando, eu faço, eu posso. Acredito em administração por competência, em quem queira muito mais convencer do que impor.” Na nova era, conclui, o CEO tem que ter legitimidade, popularidade, aceitação na equipe. “Se não tiver sustentação de baixo, ele acaba recebendo bomba de cima. O comandante Rolim (Amaro, fundador da TAM) dizia: Sorria para os seus funcionários para que eles possam sorrir para os seus clientes.” Por sua vez, Christian Lohbauer, diretor de Assuntos Corporativos da Bayer, diz que os principais desafios para se gerir qualquer empresa no Brasil estão relacionados a problemas crônicos que já vêm sendo discutidos há um bom tempo pela sociedade. O primeiro deles é a ausência de marcos regulatórios que proporcionem segurança jurídica. “O Brasil, pela complexidade de sua economia e pelo desenvolvimento dos últimos anos, demandou uma clareza nas regras que não se apresentou na prática. Pelo contrário, as regras ficaram cada vez mais difusas e foram mudando permanentemen- INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 sondagem 32 33 te no decorrer do tempo. Isto dificulta enorme1990, quando termina mente a qualquer empresa tomar uma decisão.” no Brasil o modelo his“Pode-se perder muito dinheiro e arruinar um tórico de substituição negócio com mudanças de regras no meio do de importações, e cojogo. Ou com regras que nunca se estabelecem meça a haver uma mude maneira a serem compreendidas a ponto de dança radical devido ao se transformarem em um ambiente de negócios”, processo de globalizaadverte. ção, ou de interdepenEle cita os exemplos de Parcerias Público-Pridência econômica. vadas em áreas como a da saúde e os editais para “Isso significa de maconcessão de infraestrutura. “O governo fala e se neira muito simples a manifesta, mas quando vai colocar no papel as renova lógica das cadeias “As empresas gras que vão nortear o investimento e, evidenteprodutivas. Ou seja, os mente, os lucros desse investimento, não consegue produtos e serviços não não conseguem fazê-lo com clareza. Isso leva as empresas a trabaestão mais concentramais avançar se lharem com ciclos muito curtos de planejamento.” dos dentro do próprio não tiverem a Lohbauer assinala que as empresas brasileiras, mercado. Pode-se disejam internacionais ou nacionais, vivem sob deversificar a produção de permanência de cisões ad hoc, ou seja, seguem decisões que o acordo com os custos. diálogo e a tentativa governo toma dentro da conjuntura, sem planePode-se levar a produde convencimento das jamento. “O Brasil é um país em que a presença, ção para a China porque a influência governamental, é cada vez maior. Não é mais barato e mais instâncias públicas” se faz nada nesse país que não tenha relação com competitivo. Isso muda Christian Lobhauer alguma instância governamental.” completamente a maJustamente por isso, ele observa que uma das neira de pensar dentro áreas da administração de empresas que mais cresdas corporações, sejam ce é a de relações institucionais e governamentais. “As nacionais ou internacionais. empresas não conseguem mais avançar se não tiverem a Ele prevê que, num país sem planejamento, e da maneira permanência de diálogo e a tentativa de convencimento como o mundo está se desenvolvendo, daqui a dez anos das instâncias públicas.” haverá uma fratura grande no sistema manufatureiro braO segundo problema crônico do Brasil, aponta, é um sileiro, com fechamento de vários setores. “Só vamos consistema tributário que ninguém consegue explicar. “Além seguir manter a competitividade dos setores agrários ou de o nível de taxação ser muito alto, ele é incompreensível vinculados à agricultura, o que não é demérito”, acredita. e inexplicável. Qualquer investidor estrangeiro que vem ao Sobre governança, Lohbauer diz que o modelo adotaBrasil chega à conclusão de que é melhor não entender do por cada empresa, seja multinacional, empresa famimesmo e tocar a vida.” liar ou de capital aberto, muda a maneira de tocá-la. As “Não dá para levar a sério um país que tem mais de 50 mais bem-sucedidas, ressalta, são as grandes empresas tributos e alíquotas em cascata, que tributa a exportação, de modelo americano, de capital aberto e sem acionistas e onde não há nenhuma pessoa capaz de explicar como majoritários. E também empresas familiares de modelo o sistema funciona. A quantidade de gente, de tempo, de alemão ou italiano, integradas a grandes grupos ou carecursos, de energia que se gasta para entender e cumprir deias produtivas, como empresas fornecedoras de peças mais ou menos o sistema tributário brasileiro é uma enorpara grandes montadoras, na Alemanha, e empresas famidade, uma aberração”, afirma. miliares italianas de couro ligadas a grandes produtores O terceiro problema, assinala, vem do início dos anos de calçados. “A governança tem tido mais sucesso nas empresas que têm buscado abrir seu capital e contam com uma execução profissional nos seus quadros de administração”, constata. os dois. O Brasil vai virar exportador só para a América do Sul”, prevê. Sobre a globalização, ele lembra que a inglesa Diageo comprou no ano passado a Ypioca e prevê que haverá enorme concentração no segmento em que atua, o merDa mesma forma que Christian Lohbauer, Ricardo Goncado de cachaça onde a Cia Müller, fabricante da Cachaça çalves, diretor-superintendente da Cia. Müller de Bebidas, 51, é líder de mercado. diz que as empresas brasileiras estão limitadas a fazer coi“A cachaça é um produto específico do Brasil. Não há sas e tomar decisões ad hoc do governo. outros sítios de produção. Temos cinco mil marcas de caO país, assinala, não resolveu problemas crônicos nas chaça no mercado, mas as dez primeiras têm participação áreas de infraestrutura, saúde e educação, não efetuou as de 85%. A concentração está próxima de virar moda em reformas política, tributária e trabalhista, em pauta desde a nosso segmento. Os pequenos produtores não vão condécada de 1990, e não tem planejamento de longo prazo seguir sobreviver.” nem política industrial consistente, o que leva os produtos Devido ao exposto, Gonçalves entende que o maior industriais a perderem terreno para as commodities requisito dos gestores agrícolas. nos próximos anos será Por isso, ele diz que o principal desafio dos gesa capacidade de “natores nos próximos anos será, simplesmente, gavegar de acordo com rantir a sobrevivência das empresas. a onda”. A seu ver, não “O curto prazo está interferindo no longo prazo será algo muito difee colocando entraves bastante prejudiciais às emrente do ocorrido em presas. Além disso, há instabilidade política, com um passado recente, desencontros de opiniões e divergências dentro nas décadas de 1980 e do governo, em um ambiente em que se observam 1990, quando os gesmuita corrupção e ausência de um plano estruturatores administravam o do para o crescimento do país”, afirma. curto prazo, “olhando De acordo com ele, o Brasil adotou um modepara o open market.” “A Europa está lo de capitalismo de Estado que não funciona, pela “O gestor vai pensar em situação incapacidade deste de fazer sozinho os investimen30 vezes antes de tomar complicada. Virá tos necessários. Além disso, observa, esgotou-se a uma decisão. Quem tiestratégia de garantir o crescimento do país pelo ver marcas, vai ter de mais protecionismo. aumento do mercado interno, com a incorporação sentar em cima delas e Vai fechar as portas ao consumo de camadas mais baixas da sociedalustrá-las, para não pere fazer acordos de, por meio de políticas sociais como o programa der imagem no mercaBolsa Família. do”, afirma. bilaterais com os Assim, ele não acredita que o mercado externo Estados Unidos, possa mitigar os problemas internos, absorvendo Já Rodolfo Landim, criando uma zona de boa parte dos produtos brasileiros, uma vez que presidente da Ouro estes não têm competitividade suficiente para Preto Óleo e Gás e exconforto para os dois. conquistar mais mercados no exterior, devido ao -presidente da BR DisO Brasil vai virar chamado Custo Brasil. “A Europa está em situação tribuidora e da Gaspeexportador só para a complicada. Virá mais protecionismo. Vai fechar tro, diz que os gestores as portas e fazer acordos bilaterais com os Estaterão de conviver nos América do Sul” dos Unidos, criando uma zona de conforto para próximos dez anos com Ricardo Gonçalves INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 sondagem 34 35 um mercado menos amigável do que foi nos últimos dez, o desejável perfil dos conselheiros. “Ainda hoje, a grande quando o Brasil foi visto como um dos países que tinham maioria das empresas norte-americanas tem depositado grandes mercados e que estavam em processo de grande na mesma pessoa o papel de presidente do CA e presidendesenvolvimento, tornando-se uma alternativa para investe-executivo (CEO) da companhia.” timentos. “Um conflito que surge é que, além de ajudar a definir “Com a recente melhora da economia norte-americaa estratégia da companhia e aconselhar o CEO, talvez o na, o Brasil perdeu um pouco desse glamour internacional mais importante papel do CA seja o de admitir e demitir o que vinha tendo. Vamos ter como desafio manter os eleCEO. Assim, apontar um conselheiro externo líder nesses vados níveis de investimentos que o Brasil precisa em um casos, para conduzir as agendas que envolvam a avaliação cenário externo menos favorável”, afirma. do desempenho dos executivos da empresa, é algo que Landim, que é conselheiro de empresas de capital abervem sendo muito adotado”, afirma. to no exterior, considera que no Brasil há gestores tão caAlém disso, acrescenta, há uma tendência de se buscar pacitados quanto os que se encontram no mercado inmaior diversidade, principalmente de sexo, mas também de ternacional. “Quando vejo o nível de conhecimento que a raça e origem geográfica, na composição dos conselhos. gente já tem aqui no país, acho que em muitos dos casos Sobre o impacto da globalização, Landim diz que na úlnão deixamos nada a desejar em termos de alta administima década o país passou por um processo em que vátração, de gestão operacional.” rias empresas abriram o Para ele, “à medida que as empresas brasileiras capital e começaram a vão amadurecendo, vamos caminhar cada vez mais levantar dinheiro no expara ter mecanismos de governança mais semelhanterior e a conviver com tes aos que encontramos no mercado internacional, investidores internacioe com o nível de amadurecimento que existe lá fora”. nais, tendo de cumprir Landim lembra que nos Estados Unidos não ape“algumas formalidades”. nas a indicação de um gestor, mas qualquer ganho Isso acabou expondo dos administradores, passa por análises de organismais os gestores das mos independentes, notadamente o International empresas brasileiras ao Shareholder Service (ISS), que emitem orientações contato com o mercapara os acionistas. do internacional como “Existe um nível de fiscalização e controle em um todo, com maior “À medida que as termos de governança não só por aqueles que são cobrança de desempexerifes do mercado, mas, também, por entidades nho por parte dos inempresas brasileiras independentes, em nível maior do que o existente vestidores externos. vão amadurecendo, no Brasil. Essa é uma tendência que vamos ter tamNo entanto, devida a vamos caminhar bém aqui”, assegura. uma perspectiva não tão Landim conta que em junho passado particifavorável, ele não especada vez mais para pou de um curso concentrado de três dias que a ra que essas cobranças ter mecanismos de Universidade de Stanford promove todos os anos se intensifiquem. “Ingovernança mais para debater os principais temas que envolvem a felizmente, não vejo o governança das empresas de capital aberto nortepaís tão bem a ponto de semelhantes aos -americanas. “É uma coisa que não se vê por aqui. empresas internacionais que encontramos Lá eles fiscalizam até se os conselheiros estão se intensificarem o aporno mercado atualizando pelo menos uma vez a cada dois anos.” te de investimentos no Um dos temas debatidos, acrescenta, foi o papel Brasil de maneira signiinternacional” do Conselho de Administração (CA), sua estrutura e ficativa”, conclui. Rodolfo Landim Outro que se mostra bastante preocupado as, mas dificuldade de com relação ao custo crescente da mão de obra é formar gestores e lídeCarlos Eduardo Paes Barreto, CEO da OAS Areres, principalmente para nas. Ele diz que no segmento de construção civil o nosso setor de infraprincipal desafio dos gestores nos próximos anos estrutura. E a gente iné achar uma maneira de melhorar a capacidade veste bastante nisso. As de investimento das companhias. “Como? Através companhias que vão se do apoio, de ajustes que teremos de fazer com o diferenciar serão aquelas governo, passando pelas questões tributária e traque investem na formabalhista.” ção do seu quadro, que Segundo ele, o governo tem limitada capacidade já vai vir com o DNA da de investimento e as empresas querem investir, mas empresa.” “Não adianta o gestor o risco é grande e o custo de operação também. As empresas, assegu“Hoje, o custo trabalhista é violento. E a carga ra, vão cada vez mais reser apenas um bom tributária também limita a capacidade de a iniciatiquerer um perfil de gestécnico. Ele tem que va privada participar mais e atender à necessidade tor, de líder, que saiba se entender de gestão de infraestrutura, de desenvolvimento tecnológirelacionar com diversos co, outra barreira que o Brasil vai precisar enfrenpúblicos e que seja mulcontratual; tem que tar”, afirma. tidisciplinar, conseguindo ter entendimento O executivo observa que cada funcionário tem trabalhar diversos aspecpolítico com o um custo altíssimo, porém, a produtividade permatos de um grande projenece baixa. “Um trabalhador canadense equivale a to, em diversas frentes. prefeito, com o cinco trabalhadores brasileiros. Não é que ele con“Não adianta o gestor ser Governo; tem que siga produzir mais, mas a geração de valor produziapenas um bom técnico. trabalhar as questões da é cinco vezes maior que a do brasileiro.” Ele tem que entender de Por isso, Barreto está convicto de que a forma de gestão contratual; tem sociais e dar soluções viabilizar investimentos no segmento em que atua que ter entendimento para a comunidade” é através da busca de inovação e de novas tecnopolítico com o prefeito, Carlos Eduardo logias para diminuir o custo da mão de obra. Ele com o governo; tem que lembra que antigamente, para fazer um prédio, 70% trabalhar as questões soPaes Barreto dos custos eram de material e 30% de mão de obra. ciais e dar soluções para Hoje, 60% dos custos são de mão de obra e 40% a comunidade.” de material. “Antigamente, a gente fazia uma barragem com uma Dentro desses 60%, acrescenta, há muita perda de valor equipe no meio do mato. Desviava o curso do rio, fazia agregado. “Quando fizemos a obra da Arena do Grêmio, a obra e entregava. Itaipu foi feito na maior tranquilidade. imaginávamos que 20% da mão de obra seria trazida de Hoje, isso requer do nosso engenheiro, da nossa equipe, fora do Rio Grande do Sul, mas o índice chegou a 82%. do gestor contratual a capacidade de entendimento de diEram 4.500 funcionários e 3.500 vieram de fora. O sindiversos outros aspectos, além da construção específica da cato exigiu alojamentos diferenciados e o retorno à base barragem”, assinala. a cada 90 dias, com passagem aérea. Tivemos de fretar Ele lembra que o gestor terá de interagir com comuaviões. E esses funcionários não produziam mais do que nidades indígenas e com órgãos e entidades ambientais. um funcionário local.” “Senão, ele não vai conseguir entregar o que é esperado. Outro desafio, destaca, é a formação dos gestores e de Vai dar processo, vai ter índios invadindo o canteiro de líderes. “Temos grandes executores, responsáveis por áreobras e um monte de outros problemas”, assegura. INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 sondagem 36 37 O executivo enfatiza que a preparação de engenheiros gestores de projetos requer formação diferenciada. “Estamos presentes em 22 países. Quando tomamos a decisão de entrar num país da África, por exemplo, antes de pensar em ganhar um negócio, é preciso que o gestor entenda a história socioeconômica e política do país, a religião, a economia. Isso antes de pensar em fazer negócio!” Governança corporativa, observa, é um ponto importante, principalmente na área de investimentos, na qual a OAS tem diversos parceiros financeiros, entre eles fundos de pensão, que cobram transparência, com compartilhamento de informação e, sobretudo, de gestão. Esses parceiros, acrescenta, “requerem que nós andemos na linha em termos de retorno aos acionistas e estão muito preocupados com aspectos que também nos preocupam: a responsabilidade social e a sustentabilidade.” Portanto, conclui, a governança precisa ser muito bem trabalhada. “Nós, do setor de construção civil, estávamos menos acostumados com isso. Grandes corporações, como a OAS, já passaram por esta transformação. As empresas médias têm mais dificuldades e vão precisar trabalhar cada vez mais essa questão.” do pessoal, em suma, para a perenidade da empresa? O terceiro desafio é ter extrema sensibilidade para antecipar e acompanhar mudanças no ambiente externo (tecnológicas, sociais, políticas, ambientais, regulatórias e legais). O quarto é saber ca“A globalização de librar o crescimento e a gestão corporativa e ficerta forma abriu nanceira, tendo em vista mais espaços para as que o mundo se globaempresas pequenas e liza, que o sucesso pode ser o sinal para uma médias, uma vez que empresa maior querer a exportação passou comprá-la, e que nea ser efetuada por nhuma empresa média pode se dar ao luxo de elemento de cadeia não pensar em termos produtiva e não mais globais, mesmo focanpor produto final” do um mercado local. Para lidar com esses José Luis Alquéres desafios, ressalta, os gesPor sua vez, José Luís Alquéres, consultor e extores precisarão ter altos -presidente da Light, afirma que são quatro os principais padrões éticos baseados em bom nível de autoconhecimendesafios da gestão empresarial no Brasil nos próximos anos. to, sensibilidade e constante aperfeiçoamento no campo das O primeiro é entender a empresa como um domínio relações interpessoais. Precisarão ainda ter consciência de cultural, que compreende tradições, técnicas, métodos, que o gestor emula um exemplo para a empresa, e que, porprocessos, crenças etc., fazendo com que todos os seus tanto, devem fortemente vivenciar seus valores. colaboradores a entendam de uma forma semelhante e Também será necessário que eles tenham bom conheencontrem um lugar satisfatório para vivenciar valores cocimento de como funcionam as empresas, o governo e muns enquanto estiverem prestando serviços à empresa. seus órgãos, a economia e o comércio interno e internaO segundo é manter sempre o foco em se o produto cional, e que estejam comprometidos com práticas de boa ou serviço satisfaz ao mesmo tempo quatro atributos, a governança. saber: O mercado quer ou aceita o produto?; Ele é proOutro requisito, acrescenta Alquéres, será a “capacidaduzido com qualidade e eficiência para ser competitivo?; de de liderar baseada no reconhecimento do mérito dos Sua produção é feita de maneira sustentável e traz resulcolaboradores e não por qualquer critério de compadristados compensadores para a empresa?; Esses resultados mo e pseudolealdades”. E, finalmente, os gestores precisasão de tal monta que permitem separar parte deles para rão ter visão de médio e longo prazos e conhecimento de novos investimentos, pesquisas, treinamento e motivação planejamento e gestão estratégica. Os gestores de sucesso, acrescenta, deverão entender que sua atividade não é delegável em grande parte e que um bom sistema de governança exigirá um tempo crescente de cada um deles – de 10% a 20% do total para os gestores mais graduados, como diretores e presidentes. No passado, lembra, não era necessário dedicar muito tempo a isso, porque pouco se dava satisfação a acionistas e à sociedade. As empresas, aconselha, devem estabelecer mecanismos por meio dos quais a demanda de informações para a gestão corporativa encontre resposta nos próprios sistemas internos de gestão e de informação, que devem ser amplamente acessíveis pelos gestores externos. Alquéres sustenta que mesmo as pequenas e médias empresas devem entender em que medida a globalização afeta seus negócios. “A globalização de certa forma abriu mais espaços para as empresas pequenas e médias, uma vez que a exportação passou a ser efetuada por elemento de cadeia produtiva e não mais por produto final.” Isso, de acordo com ele, significa que mesmo uma empresa pequena ou média pode aspirar a ter um espaço de produção em um ou mais componentes de uma cadeia produtiva ou de um equipamento com muitas partes, coisa que no passado era inviável. Para Paulo Roberto Ribeiro Pinto, presidente da Light, um grande desafio dos próximos anos será a gestão da informação, que cresceu muito nos últimos tempos devido às novas tecnologias. “Hoje você chega ao escritório e encontra uma enorme quantidade de e-mails e uma massa de informações que exige um processo seletivo muito grande. E tenho informação on time de qualquer empresa de energia elétrica em qualquer parte do mundo. Da mesma forma, as pessoas conseguem ter informações da minha empresa de uma maneira rápida, com dinamismo total.” Por isso, alerta, as empresas precisam estar preparadas para ter uma absoluta gestão da informação. “Há negócios extremamente estratégicos que exigem reserva numa fase de construção do business. Hoje, você está sujeito a tudo, a uma gravação, a uma fotografia de celular, à distribuição des- sa informação via internet. E há momentos em que certas estratégias exigem uma comunicação maior”. “A informação navega de maneira muito rápida, muito fluida. Isso constitui um desafio muito grande, sob pena de você comprometer um bom negócio, ou uma boa oportunidade de negócio”, afirma. No passado, observa, não havia todo o arcabouço tecnológico atual, e deter a informação significava poder. “O presidente da empresa era todo-poderoso porque havia o pressuposto de que ele era um homem bem informado, de que a informação era dele. Hoje, isso não existe mais. A informação que chega a mim chega a todos os níveis da empresa, no sentido vertical e horizontal.” “O desafio, então, é como fazer a gestão dessa informação, nos diversos níveis, sem comprometer o business. Não se trata de esconder a informação, mas de trabalhar a informação em prol do seu business”, resume. Paulo Roberto Pinto diz ter a percepção de que a pauta dos gestores vai ser dinâmica, tendo de se ajustar a cada momento por conta da informação. “A gestão vai estar sempre sendo alinhada de acordo com a informação. No caso específico do “O presidente da setor elétrico, uma atividade regulada, posempresa era todoso mudar o destino da poderoso porque empresa, o resultado havia o pressuposto da empresa, o programa de investimentos da de que ele era empresa, dependendo um homem bem da mensagem que porinformado, de que a ventura venha do agente regulador. A dinâmica informação era dele. da gestão muda fundaHoje, isso não existe mentalmente pela mumais” dança da informação.” Sobre o impacto da Paulo Roberto globalização, o executi- Ribeiro Pinto INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 sondagem 38 39 vo diz que do ponto de vista do acirramento da competição será preciso melhorar muito a infraestrutura do Brasil no sentido mais amplo, bem como o sistema tributário. “O Brasil precisa se alinhar melhor à realidade do mercado para ser competitivo.” Ele ressalva que a distribuição de energia é uma atividade quase monopolizada e se dá em uma área de concessão determinada. “Uso muito a informação globalizada, mas não estou num mercado globalizado. Não tenho flexibilidade para oferecer energia mais barata para multinacionais se instalarem em minha área, porque minha tarifa também é regulada.” empresas não conhecem o environment em que vão investir e cometem erros. Como exemplo, ele cita a Ford, que lançou no Brasil o Maverick, um carro que tinha chifre, e que foi visto por aqui como “carro de corno”, o que resultou num enorme fracasso. “Esse tipo de ignorância vai ser cada vez menos perdoado”, assegura. Viana considera que a governança corporativa também vai exigir dos gestores habilidade interpessoal (ou psicológica) para lidar com aspectos não técnicos. “A capacidade de membros do Conselho de Administração e do chairman de interagir entre si e com as pessoas de fora da organização vai fazer cada vez mais diferença”, afirma. Da mesma forma, “na medida em que a coisa interpessoal vai Por sua vez, Luiz Antonio Viana, executivo do Carlyle ser mais necessária, quem tiver mais virtudes nesse campo Group e ex-presidente de companhias como Pão de Açúvai obter melhores resultados.” car, BR Distribuidora e Net, considera que a próxima décaEm relação à globalização, Viana observa que durante da exigirá dos gestores sobretudo flexibilidade de pensamuito tempo o Brasil foi um dos países mais fechados do mento, ou seja, a capacidade de pensar fora do contexto mundo, comparável à Albânia, mas hoje já há algumas multradicional. Os gestores, acrescenta, precisarão desenvoltinacionais brasileiras. “A nacionalidade de uma empresa está ver “o lado do conhecimento humano, o lado psiperdendo importância.” cológico, de entender, de se adaptar e de mudar o Ele acredita que a seu environment”. globalização “vai impliA seu ver, esse é o grande desafio. ”A coisa teccar que o Brasil pare de nológica tá virando commodity e o fato de o sujeito brincar de ser um país. entender de alguma coisa da tecnologia será cada Com uma infraestrutura vez menos importante, uma vez que a informação ineficiente e um governo tecnológica está cada vez mais disponível.” hipertrofiado, que tem “Num mundo cada vez mais complexo, as capaci39 ministérios, somos dades de enxergar out of the box (fora do contexto) e um país atrasado em de interagir com as pessoas, a sociedade e o environmuitos aspectos”. E asment serão cada vez mais importantes”,afirma. sinala que a globalização De acordo com ele, à medida que as coisas vão vai exigir dos gestores “A capacidade de sendo cada vez mais automatizadas, que os processos ainda mais competênmembros do Conselho são automatizados, e que a informação está mais discia. “Quem brincava em ponível para todos, a tendência será equalizar as pesum quintal pequeno de de Administração e do soas. “Se o nível de informação de uma pessoa for lirepente vê o seu quintal chairman de interagir mitado ao de todas, os gestores, para se diferenciarem, aumentar de tamanho”. entre si e com as precisarão ter mais cultura, mais informação não tecnológica, mais informação de fora do seu universo de Já Luiz Lampert Conpessoas de fora atuação, de modo a enxergar coisas que os outros não de, presidente no Brasil da organização vai enxergam; em suma, precisarão ser multiculturais.” da Lutosa, grupo belga fazer cada vez mais Assim, assinala Viana, fazer um MBA não será da área de alimentos – suficiente, se o gestor não conseguir entender a produz e processa badiferença” psicologia de determinado povo. Muitas vezes as tatas, exportando para Luiz Antonio Viana 111 países – diz que, para uma empresa que tem a deverão ficar muito totalidade de sua produção no exterior, os principais atentos às mudanças. desafios nos próximos dez anos serão vencer difi“Para isso, precisará haculdades de ordem logística e tributária para trazer ver uma interação maior os produtos processados para as redes brasileiras de entre as pessoas. O gessupermercados e de fast food. tor precisará ter gestoSobre a dificuldade logística, ele se refere sobreres em baixo dele para tudo à logística marítima, pois tem havido enorme estar muito bem inforvolatilidade nos preços do frete frigorificado. Isto mado. Para nós, cada ocorre por conta do reflexo muito grande do que vez que muda alguma acontece com as exportações brasileiras de procoisa, há um “efeito doteína animal sobre o preço do frete. Quando essas minó”. Na Bélgica, cada “Precisará haver uma exportações diminuem, por conta do protecionisdepartamento cuida só mo europeu, aumentam os preços do frete para da sua área.” interação maior entre trazer as batatas ao mercado nacional. Isto ocorre Em relação à goas pessoas. O gestor porque menos navios que levam carne à Europa vernança, ele diz que precisará ter gestores voltam ao Brasil com o frete mais baixo praticado o desafio será unir dipelas companhias de navegação para os contêiversas culturas e fazer em baixo dele para neres reefers não voltarem vazios. com que as coisas posestar muito bem Sobre a dificuldade tributária, Luiz Lampert Consam funcionar. “Fomos informado” de diz que qualquer empresa que quiser importar vendidos primeiro para batatas diretamente não consegue fazê-lo, uma outra empresa belga e, Luiz Lampert Conde vez que não tem os incentivos fiscais concedidos agora, para uma canapelos estados às tradings, para que estas importem dense cujos interesses por seus portos. europeus são tratados pela França. Diariamente procuraEle lembra que o mercado brasileiro de batata congemos adaptar o modelo belga à realidade brasileira. Mas é lada é de 330 mil toneladas, um terço das quais vem da muito difícil. O marketing brasileiro é visto de uma forma; Europa. O Brasil produz 90 mil e outras 120 mil vêm da o belga, de outra.” Argentina, sem pagar imposto de importação. A globalização, segundo ele, fará cada vez mais com “Vamos supor que o ICMS na importação é de 20%. De que diversos setores se consolidem. O executivo lemrepente, nós mesmos resolvemos importar batata para bra que a recente compra da Lutosa pela canadense revender, já que estamos aqui e temos o know-how. VaMcCain Foods Limited foi a primeira grande transação mos pagar 20%, enquanto um frigorífico carioca, por exno setor mundial de batata. “O primeiro maior do setor, portar frango, ou por isso ou aquilo, paga apenas 5%, por que produz 2,1 milhões de toneladas, comprou a quinter incentivo fiscal do governo do Rio. De modo que eu ta maior, que produz 400 mil. Antes, essas operações mesmo vou dizer para o meu cliente não importar diretaeram com empresas de 80 mil a 100 mil toneladas. A mente. Até supermercados que importavam com a gente segunda maior é a americana LambWeston, que propassaram a importar via tradings”, exemplifica. duz 1,6 milhão de toneladas e chegou a anunciar que Sobre os requisitos que os gestores precisarão ter para iria comprar a Lutosa, mas não conseguiu e agora vai enfrentar os desafios, Luiz Lampert Conde diz que eles tentar comprar outra.” INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 sondagem 40 41 EDIÇÃO benchmarking CASE STUDIES REVISTA BRASILEIRA DE MANAGEMENT as empresas que são as referências no management O fundo 3G Capital, do trio Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles – controlador da Inbev e que recentemente adquiriu a Heinz e a Burger King – foi a empresa mais citada como referência de gestão empresarial no Brasil pelos 20 empresários, executivos e consultores ouvidos por Case Studies. Gerdau, Votorantim, Natura e Banco Itaú também se destacaram. Marco Antônio Bologna destaca como referências do management no Brasil empresas de diversos segmentos. Grupo Votorantim: “Criou uma governança que conseguiu uma forma de reunir a família, composta por quatro ramos, já na terceira geração, com estabilidade no corpo de executivos, atuando de forma competente nos mais diversos ramos de negócio, do cimento ao alumínio, da mineração ao setor financeiro.” Grupo Gerdau: “É hors concours. Todo mundo no Brasil admira a Gerdau, que acabou virando uma multinacional.” Grupo Odebrecht: “Criou um sistema interessante de inovação e empreendedorismo. É impressionante como eles se reinventam e têm capacidade de formação de executivos.” Grupo Suzano: “Quando chegou o ciclo de sucessão de seu fundador, o senhor Leon, a própria família Feffer partiu para uma profissionalização interna e deu o tom da busca da governança corporativa.” Banco Itaú: “O banco que admiro é o Itaú, na figura do Roberto Setúbal, que tem uma aplicação consistente de governança. Apesar de ter controle familiar, de duas famílias, é notável a preocupação que eles têm com a transparência, com a informação e com a relação com investidores e funcionários.” Grupo BTG Pactual: “É conduzido por André Esteves, um jovem que está sempre empreendendo, desenvolven- do e criando inovações na área de banco de investimento. É admirável a quantidade de geração de valor que acaba criando de maneira bastante transparente.” TAM: “Os próprios filhos do comandante Rolim partiram para a profissionalização e para a governança corporativa. Eles perseguem esses princípios, agora mais do que nunca com a fusão com a LAN, que acabou criando o grupo Latam, uma multinacional sul-americana.” Hospital Albert Einstein: “Apesar de não ter fins lucrativos, criou um estilo de governança. Tem um Conselho e um executivo com metas, que consegue lidar com a classe médica, o que exige uma grande aplicação de processos, destacando-se na entrega de um serviço adequado de saúde.” Por sua vez, Eduardo Bernini diz que citar nomes tende a criar ciumeiras, mas que tanto no setor privado quanto no público há algumas ilhas de excelência em gestão que vão muito além do personalismo. No setor privado, cita as construtoras Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão, que “foram extremamente eficientes em construir uma cultura empresarial e em formar pessoas e lideranças”. No setor financeiro, menciona Bradesco e Itaú, “exemplos de cultura de eficiência e de capacidade de adaptação”. No industrial, destaca os grupos Votorantim e Gerdau, bem como a Embraer, “por toda a evolução que apresentou, desde suas raízes no CTA e no ITA, baseada em tecnologia, ensino e capacitação”. No setor público, destaca o BNDES, o Banco do Brasil e a Embrapa, “exemplos evidentes de que temos capacitação quando há vontade política e disposição das pessoas a se engajarem em um projeto transformador”. Elias Rogério da Silva cita Roberto Setúbal e Antônio Ermírio de Moraes. Em relação ao primeiro, destaca o lado humano, de simplicidade. “O Roberto gosta muito de ter uma comunicação direta com os colaboradores. É muito fácil uma pessoa em posição de liderança esconder-se em vários níveis hierárquicos e ficar longe de quem de fato faz a coisa acontecer e bota a mão na massa. O Roberto, não.” De acordo com ele, Roberto Setúbal “vai lá na ponta conversar de igual para igual com o gerente da agência, para ouvir as dificuldades que ele tem. Apesar de ser herdeiro, é um cara que começou a carreira trabalhando numa agência, uma pessoa que de fato agrega valor, porque tem conhecimento do que está falando, não fala só baseado em conceito, do que estudou em Harvard”. Sobre o segundo, diz: “Gostaria que os políticos olhassem para o país como Antônio Ermírio olhou para as empresas dele. Ele sempre se posicionou como uma pessoa simples, como mais um trabalhador, e nunca teve a menor necessidade de ostentar e mostrar poder. Usou o seu conhecimento e sua capacidade de trabalho para criar valor para os seus negócios.” Para Francisco Turra, Jorge Gerdau é um nome de referência na gestão empresarial no Brasil. “Ele foi o responsável pela transformação de um grupo brasileiro em uma marca global. E hoje se dedica a pregar a necessidade de um Brasil Competitivo, com a máxima qualidade na gestão.” Também Cledorvino Belini destaca a Gerdau. “Aprecio particularmente o trabalho de Jorge Gerdau Johannpeter. Ele percorreu com sucesso um caminho de grandes desafios empresariais, dando passos difíceis e imprescindíveis para o crescimento de seu negócio. Esteve à frente do processo de transformar uma empresa de origem familiar em um gigante mundial do setor siderúrgico, combinando o acesso ao mercado de capitais com boa governança e com uma estratégia ousada de expansão no exterior, consolidando-se como uma empresa global de origem brasileira.” Paralelamente, acrescenta, Jorge Gerdau exerceu e continua a exercer um notável papel de liderança sobre o empresariado nacional em temas como qualidade, inovação e competitividade. “E também estende sua influência ao setor público, ao qual propõe os mesmos princípios de eficiência e qualidade que se aplicam ao setor privado, na busca de um Estado aliado do desenvolvimento sustentado.” Por sua vez, João Cox Neto diz que há muitos empresários e empresas competentes no Brasil, muitos ainda desconhecidos da maioria, mas que, sem dúvida, o trio Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, do fundo de investimentos 3G Capital, assim como a família Odebrecht e a Organização Odebrecht, qualificam-se como expoentes. Também Luiz Lampert Conde cita a Inbev e o trio Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, pelo “mesmo desafio da Lutosa, de unir duas culturas, o conservadorismo belga, com visão de longo prazo, e a agressividade brasileira, de visão imediatista”. Wilson Ferreira Júnior é outro que destaca o trio Lemann, Sicupira e Telles na dimensão da competitividade e da globalização. “A Ambev, talvez a melhor criação deles, mostra que não há limite. Eles consolidaram a empresa no Brasil e depois foram aos Estados Unidos, onde estão fazendo uma revolução no Burger King. Mais recentemente (em fevereiro deste ano) eles compraram a Heinz” (em associação com o fundo Berkshire Hathaway, do megainvestidor Warren Buffett). Já na dimensão da sustentabilidade, ele destaca a Natura e seus sócios Antônio Luiz Seabra, Pedro Luiz Passos e Guilherme Leal. “São empreendedores brasileiros que desenvolveram conceitos alinhados ao tema da sustentabilidade, de marca, de utilidade, de boa governança, de respeito ao meio ambiente e de excelência.” Guilherme Leal, da Natura, também é citado como referência por José Luís Alquéres, ao lado de Alexandre Costa, da Cacau Show, de Fabio Barbosa, ex-Santander Brasil e INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 42 43 atual presidente da Editora Abril, e de Eduardo Andrade, do Grupo Andrade Gutierrez. Também Ricardo Gonçalves destaca a Natura, bem como O Boticário, por terem “uma cultura organizacional muito sólida, com consistência na administração e continuidade naquilo que fazem, aliada a um espírito corporativo muito bom”. E também a Coca-Cola, “um mastodonte que vem entrando em novos segmentos, como o de sucos, sem alterar a forma como trabalha e como se comunica com os consumidores”. Gilberto Xandó elege como referência os irmãos Batista, da JBS, “por sua capacidade de tomar riscos e andar para a frente, como demonstrado com a compra da Seabra, que elevou o faturamento da empresa a R$ 100 bilhões”. E também Antônio Luiz Seabra, um dos fundadores da Natura, empresa que “tem uma gestão diferenciada e se renova, inova e avança, tendo sido eleita a segunda companhia mais sustentável do mundo”. Celina Borges Torrealba Carpi prefere destacar empresas nas quais a participação das mulheres é um “tema estratégico na gestão de RH”. Cita Michelin, Coca-Cola, Pepsi, Whirpool, KPMG, Natura, Avon, Masisa e Colliers. Fora estas, destaca o Itaú, pela habilidade com que conduziu a união com o Unibanco, tirando dela valor e mantendo o controle das famílias Setúbal e Moreira Salles. Carlos Eduardo Paes Barreto destaca o presidente da OAS, César Mata Pires, “exemplo de líder que formou uma empresa e pensa vinte anos à frente, além de ser alguém com tato para as pessoas e o entendimento do negócio”. Outra referência pessoal foi seu avô, Carlos Eduardo Paes Barreto, pioneiro do setor de petróleo e da petroquímica, responsável pela construção da Refinaria de Mataripe, da Refinaria União e da Petroquímica União, da qual foi presidente. Rodolpho Tourinho destaca o nome de Carlos Vila, controlador da Solvi, empresa formada em 2006 por ex-dirigentes do grupo francês Suez. A Solvi é uma holding controladora de empresas que atuam nos segmentos de resíduos, saneamento, valorização energética e engenharia e que se apresenta como “a maior e melhor empresa de soluções em engenharia ambiental do país”. Segundo Tourinho, é uma empresa low profile que tem uma governança corporativa muito boa. Álvaro de Souza cita Ambev, Natura, Weg, Itaúsa e Renner. Rodolfo Landim disse que algumas empresas estão há vários anos apresentando bons resultados e sendo bem administradas, mas não quis citar nenhuma em particular, “mesmo porque as pessoas vão falar sobre o que estão ouvindo, sem estar dentro das empresas, o que é complicado”. Ele cita o exemplo do Grupo EBX, “que chegou a ser apontado há algum tempo pela revista Veja como modelo, algo que não se sustentou”. Outro que prefere não citar nome de empresa ou de executivo é Christian Lohbauer. “Para mim, exemplo de gente que está fazendo a coisa certa no Brasil vem de pequenos e médios empresários brasileiros que não têm acesso a recursos do BNDES, a promoção comercial, a benefício fiscal e que têm de lidar com limitações financeiras e de infraestrutura e continuam tentando. Esses são os caras.” INSIGHTCase Studies 44 SETEMBRO/OUTUBRO 2013 45 INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 setembro/outubro 2013 INSIGHTCase Studies 46 47 top cases os 10 DESTAQUES DAS 100 edições Para escolher os dez melhores trabalhos publicados desde o número zero de Case Studies, a Insight Comunicação constituiu um grupo de cinco renomados especialistas em gestão empresarial. O júri que selecionou os Top Cases foi formado por Antonio Freitas, pró-reitor de Ensino, Pesquisa e Graduação da Fundação Getulio Vargas (FGV); Eduardo Lucano da Ponte, superintendente-geral da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca); Marco Antonio Bologna, presidente da TAM S/A; Roberto Terziani, ex-presidente da Associação Brasileira dos Analistas do Mercado de Capitais (Abamec); e Roberto Teixeira da Costa, presidente da Câmara de Arbitragem do Mercado da BM&F Bovespa e ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). antonio freitas Eduardo Lucano da Ponte Marco Antônio Bologna Pró-reitor da FGV Superintendente executivo Presidente da TAM S/A da Abrasca Terziani, que foi o criador do “Prêmio Mario Henrique Simonsen – Concurso Nacional de Case Studies”, fez sua avaliação a partir de seis atributos: qualidade do texto; linguagem simples ou complexa para o leitor comum; impacto na estratégia da empresa; impacto na gestão da empresa; nível de inovação; e que fosse exemplo ou referência para outras empresas. Lucano confessou-se impressionado sobre como cases publicados em 1997 continuam atuais. “É o caso da gestão de risco pelo Banco da Bahia (atual Banco BBM). Grandes empresas quebraram por deficiência nesta EDIÇÃO área mais de dez anos depois. E os autores do case, Sérgio Werlang e Eduarda La Rocque, prosseguiram em bem-sucedidas trajetórias profissionais”, destacou. CASE STUDIES A seleção de cases pelo júri também reflete a evolução da gestão empresarial desde os anos 1990 até os REVISTA BRASILEIRA DE MANAGEMENT dias de hoje – as organizações passando a incorporar, de forma cada vez mais prioritária, questões ligadas à sustentabilidade e à responsabilidade social corporativa. À exceção de terem os textos ajustados às normas ortográficas em vigor e ao projeto gráfico atual de Case Studies, os dez Top Cases são apresentados – em ordem cronológica – como foram publicados pela primeira vez, inclusive no que diz respeito à posição profissional que seus autores ocupavam à época. Roberto Terziani Roberto Teixeira da Costa Ex-presidente da Abamec Ex-presidente da CVM INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 Latasa 48 49 EDIÇÃO Latasa (Edição 3 / Maio-Junho de 1997) CASE STUDIES REVISTA BRASILEIRA DE MANAGEMENT José Roberto Giosa Da lata do lixo ao lucro da lata Praia de Copacabana, próximo à rua Figueiredo Magalhães, quinta-feira de verão. O termômetro marca 39 graus. Mais de 80 sacos com latas de alumínio vazias ficam amontoados em torno do posto de coleta, uma barraca de lona e metal de 12 metros quadrados. O dia de sol generoso e a reconhecida paixão do brasileiro por uma cervejinha nacional enlatada explicam o surpreendente crescimento do consumo da bebida. Enquanto isso, ao lado do restaurante da orla, as latas amontoadas deixam mais visível o trabalho dos catadores, garçons, donas de casa e porteiros das redondezas. Nesse dia, a cidade ficou um pouco mais limpa, muita gente garantiu uma renda extra para o orçamento doméstico, a consciência ambiental ganhou mais uns pontos nas mentes dos cariocas e turistas. Ao mesmo tempo, a Latasa conseguiu um pouco mais de matéria-prima para suas linhas de fabricação de latas e o índice nacional de reciclagem de latas manteve seu crescimento surpreendente. Essa cena, repetida ali há cinco verões, torna mais significativa a simbiose entre a reciclagem e o cidadão e reforça a poderosa alquimia que, desde outubro de 1991, vem gerando números, fatos e resultados cuja velocidade e consistência tornaram um aparente modismo em tendência irreversível. A reciclagem de latas de alumínio no Brasil atual é um negócio que envolve milhões de pessoas e dólares em praticamente todo o País, em nada lembrando a pregação e o esforço de poucos quando dava seus primeiros passos organizados, em abril de 1991. Nessa época, a Latasa, pioneira na fabricação de latas de alumínio para cervejas e refrigerantes no Brasil, resolveu tentar seguir o exemplo, também pioneiro, da Reynolds Metals Company nos Estados Unidos. Era uma maneira de marcar sua entrada no País e testar uma nova ferramenta para alavancar suas vendas. A ideia era passar a imagem de um produto “amigo” do meio ambiente, fácil de carregar e que era um recém-chegado ao país das garrafas. Estava, também, cumprindo um compromisso expresso no acordo de acionistas, o de tornar permanente um programa de reciclagem de alumínio no Brasil, nos mesmos moldes aplicados lá. Mas desde o início ficou claro que a experiência americana pouco poderia contribuir para a nossa realidade, tão distinta e multifacetada. A decisão de se tentar estabelecer um programa de reciclagem no Brasil baseava-se na necessidade da Latasa de definir uma linha de comunicação com o público externo. Como fabricante de embalagem para bebidas gaseificadas para os grandes produtores brasileiros de cervejas e refrigerantes, a empresa tinha que definir como aplicar o “marketing meio”, já que as latas levavam a marca e o rótulo do cliente. O consumidor final jamais saberia que aquela lata era um produto Latasa. A resposta foi utilizar como marketing da empresa e do produto a principal característica da embalagem – sua reciclabilidade sem fim. As dúvidas e questionamentos eram muitos. Como chegar ao público e convencê-lo de que deveria passar a coletar lixo? Que tipo de linguagem e abordagem utilizar? Onde estavam, se é que existiam, máquinas e equipamentos adequados para tratar aquele lixo? Seria possível montar-se no Brasil o ciclo completo da reciclagem, que vai da coleta da lata vazia até sua transformação em uma nova lata, como em outros países? Enfim, não faltavam obstáculos formidáveis e muitas perguntas sem resposta. O Brasil é um dos campeões mundiais do desperdício. Da lavoura à indústria, passando pelo mau uso incrível da água e da energia elétrica nas casas, não faltam exemplos. O custo social embutido na cultura do desperdício é difícil de calcular, mas certamente é altíssimo. Nesse cenário, a própria palavra “reciclagem” era uma desconhecida, afinal, só apareceu num dicionário em 1978 (no Webster’s). Do estudo à observação, chegamos a algumas conclusões: > a palavra “lixo”, além da conotação de algo inútil, era A reciclagem de latas de alumínio no Brasil é um negócio que envolve milhões de pessoas e dólares em praticamente todo o país indesejada para designar-se um material nobre como o alumínio. Utilizaríamos “sucata de material reciclável” daí por diante; > o cidadão médio tinha uma cultura arraigada sobre resíduos de modo geral e seria difícil mudar essa atitude em espaço de tempo reduzido; > não havia literatura sobre reciclagem em linguagem didática e calcada na realidade brasileira; > a reação dos consumidores era absolutamente desconhecida, pois não havia uma experiência anterior na qual pudéssemos recolher dados; > a médio prazo, o programa deveria ser autossustentável para perpetuar-se e crescer. Neste cenário, a lata de alumínio, introduzida no mercado um ano antes, detinha menos de 1% de market share no mercado de cervejas e refrigerantes e ainda guardava na lembrança dos consumidores a semelhança com as antigas latas de aço, sem brilho, com costura lateral, pesadas e cujo anel ia para o lixo depois de abertas. Concentramos esforços em duas frentes – supermercados e escolas. Os primeiros porque eram então o grande canal de distribuição de bebidas em latas, possuíam espaço físico suficiente para receber as latas vazias que o público levaria (na nossa imaginação e desejo ardente, é claro!), tinham grande experiência em atendimento ao público e promoções, viviam um momento de muita competição no setor e ainda guardavam na memória inflacionária das donas de casa uma imagem pouco atraente. Já o trabalho com as escolas visava atingir um público receptivo a novidades, pronto para ouvir e sem preconceitos. Imaginávamos que, por aí, poderia começar um caminho que nos levaria a tornar a reciclagem da lata de alumínio algo que envolvesse e cativasse as pessoas. Depois, organizamos os passos seguintes, que era achar mercado para as latas que seriam recolhidas e fundidas em instalações ambientalmente adequadas, para se INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 Latasa 50 51 à Alcan, a única empresa da América Latina capacitada a processar as Reciclagem Brasil: barras de alumínio em chapas que toneladas de latas recicladas – 1990/1996 dariam origem a novas latas, em sua 50.000 unidade de Pindamonhangaba, SP. A essa altura, a imprensa já vinha 45.000 40.700 recebendo havia alguns meses infor40.000 mativos a respeito dos benefícios e 35.000 vantagens que a reciclagem poderia 31.200 30.000 trazer ao meio ambiente, aos recicladores, à cidade e ao País, já que ela 25.000 evita que mais bauxita (o minério de 20.000 17.000 onde se extrai o alumínio) fosse ex15.000 traída das reservas brasileiras. Come10.600 temos alguns enganos nessa etapa, 10.000 5.100 tais como tentar explicar tecnica4.500 3.500 5.000 mente o porquê da reciclagem (não 0 era o momento adequado) e a exces1993 1994 1995 1996 1990 1991 1992 siva preocupação em não causar meAno lindres às pessoas sobre a questão do Fonte: Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) desperdício. transformarem em barras de alumínio, convertidas em No primeiro mês, os postos receberam 96.000 latas, chapas de alumínio, em novas latas nas fábricas da Latasa algo como 1,5 tonelada, levadas, em sua grande maioria, e assim voltar ao mercado, dando início a um novo ciclo pelas crianças atraídas pelo inusitado e pela profusão de no vaivém sem-fim da reciclagem. Em cada etapa dessa cores das latas amassadas. Ficamos impressionados pelos cadeia havia contas a fazer, de modo que houvesse uma números, esperávamos menos. Aos poucos, as pessoas remuneração justa aos agentes envolvidos e a roda girasse iam se acostumando com aquele lugar que recebia sucasob os mesmos critérios para todos os participantes – suta (a palavra “lixo” virou palavrão). As reações dos adultos permercados, escolas, sucateiros, fundições e a Latasa. eram engraçadas: alguns passavam de longe, olhando de Assim, depois de nove meses de estudos e insônias, soslaio; outros passavam perto, com ar de enfado, como abrimos, em outubro de 1991, nos supermercados Paes se já conhecessem de sobra o que acontecia, mas pouMendonça, na Barra da Tijuca, no Sendas Penha e no Três quíssimos criavam coragem de se aproximar e perguntar o Poderes, na Taquara, todos no Rio de Janeiro, os primeiros que era aquilo e como funcionava. Postos de Reciclagem das Latas de Alumínio da Latasa. As latas, levadas pelo público – no início basicamente comO PROJETO ESCOLA posto de crianças, donas de casa e alguns estrangeiros reA escolha das escolas mostrou-se, desde cedo, uma sidentes no País, acostumados com sistemas semelhantes opção acertada. Fazíamos pequenas palestras nas escoem seus países de origem – eram trocadas por um cupom, las, tomando o cuidado de evitar termos técnicos e cacalculado à base do preço da tonelada de latas no mercaprichar na simplicidade da informação, além de preparar do de sucata e que poderia ser trocado por qualquer item textos distintos para alunos do primeiro e segundo graus. à venda no próprio supermercado, servindo como dinheiA partir daí, organizamos visitas de grupos de estudantes ro vivo na hora do consumidor passar pelo caixa. Ao fim do aos postos de troca, que incluía a observação da recepção mês, garantíamos a compra daquele “lixo” junto ao superdas latas, a prensagem e a emissão dos vales, além de uma mercado, passando-o a uma fundição e posteriormente visita ao supermercado, seguida de um lanche, porque TONELADAS Gráfico 1 ninguém é de ferro. Os Serviços de Atendimento O empurrão que faltava O trabalho com ao Consumidor dos supermercados já estavam esveio de uma constatação as escolas visava truturados para essas visitas e o resultado acabou simples: as escolas eram atingir um público muito bem. Aqui cabe um parêntese: naquela époas mais interessadas na ca, com inflação nas nuvens, a imagem dos superreciclagem e as palestras receptivo a mercados perante a opinião pública não era o que mostravam a carência das novidades, pronto se poderia chamar de excelente, pois as donas de unidades, sobretudo as para ouvir e sem casa conheciam a inflação como filha legítima das escolas públicas, em magôndolas desses estabelecimentos. Isso, no entanteriais e equipamentos. As preconceitos to, ajudou a fixar a imagem da reciclagem e trouxe escolas poderiam, então, aos supermercados uma fonte geradora de simpacoletar latas e, em troca, tia perante os consumidores. Assim, o casamento receber os equipamentos supermercado-escola começou a dar frutos e contribuiu de que necessitavam, já que a sucata de alumínio é a que excepcionalmente para divulgar a novidade. possui o mais alto valor residual de mercado em compaA receita cresceu depressa: os primeiros Postos de Troração com outras sucatas – papel, vidro, plástico, ferro. ca em São Paulo foram inaugurados apenas três meses Assim, nasceu o Projeto Escola dentro do programa de depois e o número de escolas solicitando palestras não reciclagem. Montamos uma Tabela de Trocas, que ofereparava de crescer. Nesse estágio, outra invenção estracia desde bolas de futebol, pelo equivalente a 2.300 latas nha mostrou sua utilidade: o Disklata, uma linha telefônica vazias, até microcomputadores 286 (já estamos nos 586). destinada exclusivamente a atender escolas. Eram 14 diferentes itens, úteis nas escolas, tais como miO número de ligações diárias saltou da média de cinco meógrafos a álcool, impressoras, projetores de slides e até para 50 e as questões tornavam-se mais abrangentes – mesmo um software especialmente desenvolvido para esquantas vezes uma lata pode ser reciclada?; as latas de leicolas, que controlava a vida dos estudantes, do primeiro te condensado também são de alumínio?; e outros detaao último ano. A Latasa retirava as latas das escolas, abria lhes ligados à fundição das latas (ou “derretimento”, como uma conta corrente em latas vazias e as escolas selecioperguntavam). navam na tabela o que gostariam de trocar por suas latas. O planejamento do lançamento levou em conta um O Projeto Escola transformou-se em um grande êxiacontecimento poderoso para o futuro do programa – a to. Começamos com três escolas municipais do Rio de realização da Eco 92, no Rio de Janeiro. Assim, quando a Janeiro e pretendíamos chegar a 25 ao fim do primeiro imprensa começou a dedicar espaço para a conferência ano. Batemos em quase 1.000 e hoje são mais de 6.000, mundial sobre meio ambiente, o nosso programa estava espalhadas por oito estados diferentes. A procura foi tão funcionando e já tinha números para exibir. Era o único grande que as inscrições foram abertas para igrejas, ensistema de reaproveitamento de embalagens no Brasil totidades beneficentes, clubes de serviço, universidades, talmente integrado, ia da coleta até a fabricação de nocentros espíritas, hospitais, hotéis e motéis, entre outros. vas latas, remunerando os consumidores pelo esforço em Até o Exército, a Marinha e a Aeronáutica aderiram. Uma coletar latas. O retorno publicitário indutivo foi excelente: unidade militar localizada na Vila Militar, no Rio de Janeiro, obtivemos mais de cinco horas nas emissoras de televisão possui ventiladores de teto em todos os alojamentos de e rádio e a centimetragem medida nos jornais e revistas soldados e oficiais, microcomputadores para administraultrapassou 60 páginas de jornal, notadamente nos estação e bebedouros de água gelada para as sentinelas, além dos de São Paulo e Rio de Janeiro, responsáveis por mais de aparelhos de som na cantina. de 60% do consumo nacional de bebidas envasilhadas em A divulgação do programa em outras praças respeitou latas de alumínio. Isso tudo num espaço de pouco mais as regionalidades do continente chamado Brasil. No intede quatro meses, do início a meados de 1992 (a Eco 92 rior de São Paulo, por exemplo, onde as festas de peão começou em junho). de boiadeiro são muito populares (e onde o consumo de INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 Latasa 52 53 bebidas em lata é expressivo) mereceram uma variação curiosa e bem adaptada ao gosto local – os touros mecânicos, aparelhos que simulam com perfeição os pinotes dos cavalos e touros bravos dos rodeios e cujo dorso tem o formato de uma lata. O ingresso cobrado para uso do touro é de cinco latas vazias. Com isso, as pessoas recolhem as latas, levam até o local, se divertem e mais latas são recuperadas para a reciclagem. Já na Festa do Verde de São Paulo, 15 latas vazias valem um vaso com uma minivioleta. Neste ano, foram distribuídos mais de 2.000 vasos e a reciclagem levou sua mensagem para muitas pessoas. Há muitos outros exemplos para destacar a criatividade aplicada ao estímulo para recolhimento das latas de alumínio, todos indicando que reciclagem não é mais um modismo e sim uma tendência irreversível, hábito de consumidores e cidadãos responsáveis. No Brasil, o avanço da reciclagem já coloca o País entre os que mais reciclam latas no mundo inteiro (ver gráfico), com taxas acima de 60%. Em 1996, por exemplo, os brasileiros reciclaram mais de 2,5 bilhões de latas de alumínio, o que representa a recuperação de mais de 40.000 toneladas de alumínio e a economia de mais de 200.000 toneladas de bauxita. Gráfico 2 Taxa de reciclagem de latas de alumínio 70 63 68 62 65 60 56 50 40 50 37 44 39 45 38 30 20 33 21 31 25 23 10 0 1991 1992 1993 Fonte: ABAL – Aluminium Association – CMI 1994 Os resultados colhidos no Brasil nos animaram a exportar o programa para outros países da América Latina nos quais a Latasa possui fábricas de latas. Em Buenos Aires e Santiago, o “Plan Escuela” já beneficia mais de 5.000 escolas no total e entregou mais de 4.000 itens, em menos de dois anos. No Brasil, a Latasa já repassou às escolas mais de 10.000 itens. MULTIPLICANDO A RECICLAGEM O efeito multiplicador da reciclagem também é visível. Empregos temporários no verão e permanentes no restante do ano são gerados em torno das diversas etapas da reciclagem das latas, da coleta à fabricação de novas latas. Caso típico é o dos amassadores de latas: importados de Taiwan para distribuição às escolas, são agora produzidos no Brasil por uma indústria mecânica no interior de São Paulo. Novas fundições voltadas exclusivamente para o aproveitamento industrial das latas de alumínio vazias surgiram nos últimos cinco anos. Equipamentos que separam as impurezas da sucata e produzem fardos de latas prensadas deixaram de ser novidade. Microempresas voltadas para a coleta das latas e revenda às fundições surgiram nos grandes centros urbanos. Hoje, uma estimativa conservadora revela que a reciclagem da lata de alumínio no Brasil é um mercado que movimenta mais de US$ 50 milhões – eram US$ 3 milhões em 1991. Grandes fabricantes de 63 bebidas criaram áreas vol62 58 tadas para a reciclagem de materiais e proteção ambiental sem suas indústrias. A Coca-Cola foi uma das pioEUA neiras, ao criar a Gerência de Brasil 35 Meio Ambiente, seguida pela Japão Europa Brahma, que mantém em sua estrutura a Gerência de Reciclagem e Novos Meios. Ambas participam de diversas atividades em conjunto com a Latasa. A importância 1995 da reciclagem ultrapassou o próprio setor de bebidas – uma das promoções mais gratificantes que fazemos, a “Sede de Saber”, que consiste em trocar cadernos por latas no início do ano letivo, tem a participação da Cia. Suzano de Papel e Celulose. Ao fim de seis anos de atividades, pudemos constatar alguns fatos que desmentem mitos e confirmam algumas crenças: > o brasileiro gosta, sim, de participar de trabalhos voltados para a proteção do meio ambiente, desde que tenham consistência e credibilidade; > o velho ditado segundo o qual “a palavra comove, o exemplo arrasta” é uma verdade forte e simples; > o aumento da consciência ambiental exige educação, que leva tempo para mostrar resultados. Em outras palavras: a continuidade do esforço de educar é fundamental para criar novas gerações de cidadãos responsáveis; > campanhas de impacto de curta duração voltadas para a educação coletiva (como as de acidentes de trânsito) chocam num primeiro momento e produzem resultados modestos a longo prazo. Novamente, a persistência num esforço contínuo e dirigido é caminho seguro para as mudanças sociais desejadas; > o brasileiro está mais atento aos desperdícios e vai, aos poucos, perdendo a vergonha. Quem não conhece alguém que pede a sobra da pizza no restaurante e leva para casa, sem dizer que é para o cachorrinho? Realizamos mais de 300 palestras todos os anos, abrangendo escolas de quatro estados, além da Argentina e Chile. Distribuímos gratuitamente mais de 10.000 amassadores de latas e 300 fitas de vídeo com o filme didático “Reciclagem da Lata de Alumínio – sua Próxima Tarefa” para as escolas. Aprendemos mais uma lição: convencer primeiro o público interno a aderir conscientemente à filosofia empresarial adotada é condição indispensável para o sucesso de qualquer negócio, seja capitalista ou beneficente. Assim, em nossos depósitos, reciclamos também os sacos plásticos que não se prestam mais ao uso, o papelão que envolve alguns fardos de latas que recebemos, os jornais que lemos e as latas de ferro que se misturam às de alumínio. “A palavra comove, o exemplo arrasta.” Devo dizer que há também combustível extra no programa: o salário indireto que recebemos pela satisfação de poder proporcionar um reforço no orçamento doméstico de muitas famílias, através da coleta e venda das latas a todas as empresas voltadas para a reciclagem, a melhoria das condições de ensino nas escolas e constatar o envolvimento de crescentes segmentos da sociedade no esforço para ajudar quem precisa. Um exemplo recente e muito gratificante foi a campanha que desenvolvemos em conjunto com a Igreja Adventista no Rio de Janeiro. Durante dois meses, mais de 200 unidades da Igreja espalhadas pelo Estado do Rio de Janeiro coletaram 2 milhões de latas, que foram trocadas por uma ambulância Fiat doada para o Hospital Gaffré e Guinle, centro de referência no tratamento de Aids no Rio. Outro caso é o Projeto “Praia Limpa”, citado no início deste artigo, desenvolvido em conjunto com a Prefeitura do Rio de Janeiro, Movimento Viva Rio e Administrações Regionais de Copacabana e Ipanema. Motivo de orgulho para todos nós foi a concessão do Prêmio Top de Ecologia, em 1996, conferido pela Associação dos Dirigentes de Marketing e Vendas do Brasil (ADVB), pelo trabalho desenvolvido no Projeto Escola nesses anos. Hoje, a Latasa é mais conhecida pelo público por suas atividades voltadas para a reciclagem do que pela produção de latas e tampas de alumínio. A empresa desfruta de uma imagem positiva, que agrega valor e simpatia ao seu nome e, consequentemente, aos seus produtos. É o corolário da função social que toda empresa deve ter. Uma organização empresarial não deve existir apenas para dar lucro a curto prazo, mas para perpetuar-se e contribuir para o desenvolvimento da comunidade. É a nossa crença. José Roberto Giosa é economista formado pela Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), com curso de especialização em Orçamentos e Custos. É também jornalista, tendo atuado em importantes jornais e revistas do País. Atualmente exerce o cargo de diretor de reciclagem da Latas de Alumínio S/A (Latasa) e é ainda coordenador da Comissão de Reciclagem da Associação Brasileira de Alumínio (Abal). INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 Banco da Bahia 54 55 EDIÇÃO Banco da Bahia (Edição 3 / Maio-Junho de 1997) CASE STUDIES REVISTA BRASILEIRA DE MANAGEMENT Sérgio Ribeiro da Costa Werlang Eduarda Cunha de La Rocque Um RiskControl made in Brazil O gerenciamento de risco é de grande importância no ambiente extremamente volátil que é o mercado financeiro brasileiro. Com o objetivo de medir e controlar sua exposição ao risco de mercado, o Banco da Bahia Investimentos S.A. foi pioneiro no Brasil no desenvolvimento e implantação de um sistema para gerenciamento de risco consolidado. O objetivo maior deste trabalho é difundir o sistema que foi desenvolvido e implantado para uso interno no Banco da Bahia Investimentos S.A.: o Bahia RiskControl. Antes de apresentá-lo, faz-se um balanço da evolução do mercado financeiro nas últimas décadas. Com este balanço, pretende-se evidenciar a importância de que empresas, instituições financeiras e investidores institucionais tenham um sistema integrado para o gerenciamento de seus Riscos de Mercado.1 A evolução do mercado financeiro nas últimas duas décadas evidenciou a importância do risco de mercado, aspecto que até então era menos relevante no mundo de negócios. Acostumadas a uma relativa estabilidade e protegidas por regulamentações mais rígidas, as instituições financeiras mantinham sua atenção voltada para os riscos de liquidez e de crédito. Já as empresas concentravam suas preocupações no risco operacional. No entanto, em 1973, com o fim do Sistema de Bretton Woods e a consequente liberalização das taxas de câmbio, os mercados financeiros tornaram-se significativamente mais voláteis. As taxas de juros e de câmbio flutuam hoje em dia muito mais do que em qualquer outra data desde o Crash de 1929. Ao mesmo tempo, as margens de lucro das instituições (financeiras ou não) têm sido reduzidas pela queda das barreiras alfandegárias e crescente O CONCEITO DO As taxas de juros competição internacional. O resultado foi que insVALUE-AT-RISK e de câmbio tituições do mundo inteiro têm sido forçadas a lidar Neste contexto em que o flutuam hoje em mais ativamente com seus riscos financeiros – iggerenciamento integrado de norar os riscos das taxas de juros, taxas de câmbio e risco provou-se fundamental, dia muito mais do mercadorias pode ser tão prejudicial a uma instituio conceito de Value-at-risk que em qualquer ção quanto o fracasso de um novo produto. (VaR) entrou na ordem do dia. outra data desde o O desenvolvimento do mercado de derivativos VaR é uma técnica que permié uma tendência constante desde então. Derivate o conhecimento de quanto Crash de 1929 tivos oferecem às instituições a oportunidade de o valor de uma carteira – que alavancar seu capital e também de especular. Mas inclua tanto hedges quanto oferecem, principalmente, a chance de reduzir seus exposições – tenderá a variar riscos financeiros. Infelizmente, os sistemas de controle de entre hoje e um determinado período de tempo (como um risco não se desenvolveram tão rápida e extensivamente dia ou um mês) dentro de determinado intervalo de conquanto o mercado de derivativos. Por conseguinte, várias fiança (como 95%). A principal vantagem do VaR é integrar foram as grandes perdas envolvendo operações com derinum único número a maior parte das informações relevanvativos nos últimos anos. tes em outras medidas de risco, como delta, gama e vega. O impacto sofrido por aqueles envolvidos com esses Ele mede o risco total da carteira de investimentos sob anáfiascos financeiros variou bastante, tendo sido, entretanto, lise, englobando no seu cálculo todos os ativos e passivos. quase sempre devastador. No caso da Procter & Gamble Sendo assim, com um único número, é capaz de res– que no ano de 94 perdeu 157 milhões numa posição ponder uma pergunta básica, de fácil compreensão e alavancada em swaps cambiais –, significou uma drástica suma importância: “o quão ruim as coisas podem ficar?” queda de receitas combinada a uma mudança radical de VaR é o conceito do momento. Ele tem sido adotado por direção estratégica. Foi alavancagem mal administrada em operadores e usuários finais, e abraçado pela comunidade mercados futuros que afundou o Barings, o mais antigo regulatória. Estudos recentes indicam que o percentual de banco comercial inglês. Operações de derivativos combioperadores da comunidade internacional que utilizam alnadas à ausência de controles apropriados foram capazes guma medida do risco de mercado integrado do tipo VaR de promover, inclusive, a falência de toda uma indústria passou de 30% em 1994 para 43% em 1995, saltando para (caso da US Saving and Loans). 80% em 1996. No que diz respeito aos investidores instituA enxurrada de notícias recentes sobre gigantescas cionais, 60% dos Fundos de Pensão americanos disseram perdas sofridas por instituições financeiras, corporações, estar utilizando medidas do tipo VaR no ano de 1995. Os administradores de fundos e municipalidades acendeu números para empresas não financeiras giram em torno um sinal amarelo na corrida dos derivativos. A imprensa de 32% para o mesmo ano.2 mundial e a comunidade regulatória manifestaram-se. Os Em abril de 1995, o Comitê da Basileia propôs que aos mais catastróficos previram um novo desastre financeibancos fosse permitido calcular suas necessidades de rero, cujo epicentro seria o mercado de derivativos. Mas servas bancárias com a utilização de seus próprios modemesmo os mais otimistas concordam que a experiência los VaR. Algumas regulamentações posteriores vieram no dos últimos anos vem trazer-nos uma grande lição: tosentido de tornar as exigências mais rígidas (como fixar o dos os riscos de uma instituição devem ser medidos inperíodo para cálculo do VaR e penalizações caso as perdas tegralmente. As instituições devem garantir não apenas no período superassem o capital reservado), mas o estaque cada componente de gerenciamento de risco seja belecido é que: eficaz, mas também que estes componentes como um 1. Exige-se que todos os bancos de países signatários todo funcionem para otimizar o trade-off entre risco e do Acordo da Basileia tenham um modelo VaR de risco retorno da instituição. integrado; INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 Banco da Bahia 56 57 2. Permite-se que cada banco tenha e processe o seu próprio modelo. No Brasil, a cultura de gerenciamento de risco está apenas começando a estabelecer-se, mas já dá sinais claros de que – acompanhando a tendência mundial – firmar-se-á de forma bastante forte GERENCIAMENTO DE RISCO NO BRASIL No Brasil, a “cultura” de gerenciamento de risco está apenas começando a estabelecer-se, mas já dá sinais claros de que – acompanhando a tendência mundial – firmar-se-á de forma bastante forte. Já há vários cursos sendo ministrados no mercado (incluindo o curso de Métodos Quantitativos da BM&F, que possui um módulo inteiro – 18 horas – integralmente dedicado à análise de risco). O Banco do Brasil abriu recentemente uma concorrência para o desenvolvimento e implantação de um Modelo de Gerenciamento de Risco de Mercado. Do ponto de vista prático, alguns bancos brasileiros já tomaram a iniciativa de implantar sistemas de gerenciamento de risco de mercado. A maior parte destas instituições – constituída majoritariamente por bancos de investimentos e algumas poucas instituições de médio porte – concentrou-se, entretanto, apenas em acompanhar os riscos de operações selecionadas, de acordo com a concentração e importância dos diversos ativos financeiros em suas carteiras. Alguns bancos de maior porte no varejo também experimentaram soluções localizadas, mas nenhum chegou a desenvolver um modelo realmente abrangente. No que diz respeito à regulamentação em vigor no Brasil, os conceitos do Comitê da Basileia estão parcialmente refletidos no Anexo IV da Resolução nº 2.099 de 17.8.94, que disciplina a obrigatoriedade da manutenção de valor de patrimônio líquido ajustado compatível com o grau de risco das operações ativas das instituições financeiras. É muito provável que, num futuro próximo, o Brasil torne-se signatário do Comitê da Basileia, e, consequentemente, incorpore as suas propostas integralmente. Neste caso, todos os bancos brasileiros serão obrigados a ter seus próprios modelos VaR para avaliação de seu risco integrado de mercado. Independentemente de obrigações regulamentares, o ambiente brasileiro hoje é particularmente propício para o estabelecimento da “cultura” de gerenciamento de risco. Com a estabilidade da economia, tornou-se muito mais difícil “ganhar dinheiro”, pois acabaram as receitas fáceis do “ganho inflacionário”. As instituições brasileiras terão que aprender a atuar num mercado que se torna cada vez mais competitivo. E não apenas internamente, pois com o advento da globalização, a competição externa está chegando cada vez mais perto... Quanto maior a competição, maior a necessidade de “tornarem-se riscos”. E, quanto maiores forem os riscos, maior a necessidade de gerenciá-los! Por outro lado, as oportunidades são muitas: temos o terceiro maior mercado de derivativos do mundo (a BM&F é a quarta maior bolsa de derivativos em volume de negócios). E, tal como já realçado acima, a utilização de derivativos pode ser, caso gerenciada adequadamente, muito benéfica; podendo contudo tornar-se bastante perigosa, caso a administração não seja cuidadosa (ou seja, pode ser ao mesmo tempo – nas palavras de Lilian Chew –3 a Retorno Todo investidor busca a apreciação de seu capital investido. O retorno é uma medida numérica desta apreciação. “bela ou a fera”). Há uma célebre frase que diz que um homem esperto aprende com os próprios erros, um homem sábio aprende com erros alheios e um idiota nunca aprende. Deve-se aprender com os desastres passados – e antecipar-se a uma eventual e provável obrigação: modelos integrados de gerenciamento de risco são a ordem do dia! São, em geral, dois os objetivos almejados por uma instituição ao adotar uma medida integrada de risco: garantir a segurança de suas operações e, ao mesmo tempo, melhorar sua lucratividade de longo prazo (ou seja, seus resultados em termos da relação entre risco e retorno). Não devemos, contudo, esquecer que há ainda um terceiro fator, que surge como efeito colateral, de forma bastante benéfica: a utilização da imagem de segurança como valor mercadológico. Risco de Mercado O risco de mercado pode ser definido como uma medida para as possíveis perdas (ou, então, “não apreciação de capital”) associadas com as posições do banco. Pode ser medido de duas formas: BAHIA RISKCONTROL Existem três conceitos importantes quando se investe no mercado financeiro: Incerteza Infelizmente, ao se investir não se tem certeza absoluta do qual o retorno que será obtido à frente. Existe, portanto, uma incerteza associada ao retorno esperado. Risco Qualquer medida numérica da incerteza associada aos retornos esperados é chamada de risco. O objetivo do Banco da Bahia Investimentos S.A. ao desenvolver e, por conseguinte, implementar o Bahia RiskControl foi o de medir a incerteza associada com as possíveis perdas devido às suas operações diárias no mercado local e internacional. Risco é um conceito multidimensional. Vários tipos diferentes de risco estão presentes nas operações diárias do Banco da Bahia Investimentos S.A.: risco de mercado, risco de crédito, risco operacional, risco legal, risco de regulamentação etc. O Bahia RiskControl foi desenvolvido para o gerenciamento do risco de mercado do Banco da Bahia Investimentos S.A. Risco de Mercado Relativo Mede o risco de descolamento de uma carteira de investimento em relação a um índice previamente adotado como benchmark. Por exemplo: ao se indexarem carteiras de ações ao Ibovespa, o risco de mercado relativo é uma medida do possível descolamento da carteira em relação ao Ibovespa. Risco de Mercado Absoluto Mede o risco de perdas associadas a uma carteira de investimentos, sem qualquer relação com índices de mercado. O Bahia RiskControl mede o risco de mercado absoluto diário de todas as posições do Banco da Bahia Investimen- tos S.A. Existem quatro grandes grupos para o cálculo do risco de mercado (absoluto) segundo proposta do Comitê da Basileia, todos cobertos pelo Bahia RiskControl: 1. Risco do Mercado de Ações 2. Risco do Mercado de Câmbio 3. Risco do Mercado de Juros 4. Risco do Mercado de Commodities Medidas de risco de mercado Existem várias medidas que podem ser usadas no cálculo do risco de mercado de um banco, carteira de investimentos ou instrumento financeiro. Algumas dessas possibilidades são: desvio padrão dos retornos passados, raiz quadrada da semivariância dos retornos passados, downside risk dos retornos passados, aversão absoluta ao risco, aversão relativa ao risco, perda máxima para um conjunto de cenários gerados, Value-at-Risk etc. O Bahia RiskControl utiliza o Value-at-Risk como sua medida de risco. A definição formal do conceito de Value-at-Risk é a seguinte: se é uma variável aleatória usada para representar o ganho/perda de uma carteira de investimentos em um período de tempo é um nível de significância escolhido (com ), então o valor absoluto da solução para a equação: é o VaR da carteira de investimentos. Mais simples é interpretar a definição de VaR: a carteira de investimentos sob análise poderá perder mais que o VaR durante o período de tempo , com uma probabilidade igual a . A grande motivação para o uso do VaR é que ele integra em uma só medida numérica o risco total da carteira de investimento sob análise, englobando no seu cálculo todos os ativos e passivos. A grande dificuldade com o VaR é que, conforme dito anteriormente, o conceito de risco é multidimensional, logo seu cálculo requer simplificações para integrar diferentes tipos de risco. Metodologias para o cálculo do risco absoluto Existem três metodologias para o cálculo do VaR de uma carteira de investimentos: INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 Banco da Bahia 58 59 > Metodologia Analítica > Metodologia da Simulação Histórica > Metodologia da Simulação Monte Carlo A metodologia usada no Bahia RiskControl é a analítica. Está fora do escopo deste trabalho explicar e comparar as três metodologias mencionadas acima. Portanto, no restante deste trabalho nos concentramos na metodologia analítica com o objetivo de apresentar o Bahia RiskControl. Mostra-se na Figura 1 uma representação do fluxo de informações entre as diferentes fases dos cálculos no Bahia RiskControl. No restante desta seção, descrevemos em detalhes cada etapa representada na Figura 1. Dados do Banco Existem cinco grandes mercados que são cobertos pelo Bahia RiskControl: > Mercado de Ações > Mercado de Câmbio > Mercado de Bradies > Mercado de Juros Interno > Mercado de Juros Externo Estes são os cinco mercados de interesse para o Banco da Bahia Investimentos S.A., por isso o Bahia RiskControl foi desenvolvido para cobri-los. Todos os ativos negociados nestes mercados, e que são de interesse do Banco da Bahia Investimentos S.A., são considerados no Bahia Existem três grandes grupos de informações que forneRiskControl. cem informações para o Bahia RiskControl: O número de instrumentos a ser coberto é, na realida> Dados do Banco de, muito alto. Por esse motivo, o Bahia RiskControl co> Dados do Mercado bre especificamente o que chamaremos, daqui em dian> Preferências te, de “fatores”. Os fatores que foram incluídos no Bahia RiskControl até a presente data são: > Para o mercado de ações, temos Ibovespa, FGV100, Telebrás figura 1 PN, Vale PN, Petrobras PN etc. fluxograma de cálculo no Bahia RiskControl > Para o mercado de câmbio, temos dólar comercial e dólar fluDADOS DO BANCO DADOS DO MERCADO PREFERÊNCIAS tuante. > Para o mercado de bradies, teVolatilidades mos o IDU, C, EI etc. Instrumentos Horizonte Correlações Nível de confiança > Para o mercado de juros inPreços/Taxas ternos temos que estimar a volatilidade da estrutura a termo da taxa Desmembramento de juros brasileira. Para tal, usamos taxas de juros como CDI-CETIP, SELIC, taxas implícitas nos futuros de Mapeamento DI negociados na BM&F etc. > Para o mercado de juros externos temos que estimar a volatiMapa final Cálculo do Risco lidade da estrutura a termo da taxa de juros percebida pelo Banco da Bahia Investimentos S.A. quando Outros Risco por fatores Risco diversificado captando recursos no exterior. Para tal, usamos a estrutura a termo norte-americana juntamente com os Risco com diversificação spreads implícitos em bradies. figura 2 desmembramento de instrumentos e mapeamento aos fatores Instrumento 1 Fator 1 Instrumento 2 Fator 2 Mapa final Instrumento 3 Fator 3 Instrumento 5 Fator 4 Instrumento N Cada instrumento de interesse do Banco da Bahia Investimentos S.A. deve ser inicialmente desmembrado em cada um dos fatores que explicam as alterações em seus preços, de acordo com uma aproximação de primeira ordem. Esta etapa satisfaz certos critérios de forma a tornar o fluxo desmembrado mais representativo. Uma vez que os instrumentos de interesse do Banco da Bahia Investimentos S.A. tenham sido desmembrados em fatores, estes fluxos são mapeados para o risco associado com cada unidade deste fator. Um exemplo de desmembramento e mapeamento é dado a seguir no caso de um contrato a termo de outro. Vamos assumir que o Banco da Bahia Investimentos S.A. tenha se comprometido a comprar 1 quilo de ouro em 100 dias do Banco XYZ, pagando por tal a quantia de R$ 13.500,00. Este contrato pode ser desmembrado em duas posições: 1. “Comprado” em ouro, 1 quilo, em 100 dias. 2. “Vendido” em R$ 13.500,00, em 100 dias. Finalmente, estas duas posições podem ser mapeadas para os fatores usados no Bahia RiskControl: 1. Quilo de ouro para o fator Ouro BM&F (pronto). 2. R$ 13.500,00 para a estrutura a termo da taxa de juros brasileira. (Existem certos detalhes operacionais que não estamos descrevendo neste exemplo de forma a mantê-los propositalmente simples). Em linhas gerais, o objetivo aqui está representado na Figura 2, onde partindo-se de um número muito elevado de instrumentos (N), desmembramo-los em poucos fatores (M, onde M é bem menor que N) para então obter o Mapa Final a ser usado no Bahia RiskControl. A Tabela 1 ilustra o caso de seis instrumentos e quatro fatores. Uma vez obtido o Mapa Final, o usuário deve considerar os Dados de Mercado e Suas Preferências (vide Figura 1). Dados de mercado Como primeiro passo nesta fase devemos calcular a volatilidade de cada um dos fatores selecionados na fase anterior. Para tal, usamos uma combinação das estimativas de máxima verossimilhança dos modelos Generalized Autoregressive Conditional Heterocedasticity (GARCH) ou então da variância dos retornos (assumindo que estes últimos sigam um processo ruído branco). Os modelos GARCH que usamos são modelados como: onde denota o preço de fechamento no dia do fator sob análise, existem termos autorregressivos para o retorno do fator, é o número de variáveis exógenas ao modelo, e os resíduos , são normalmente distribuídos com média zero e variância ht dada por: Onde . Um exemplo é o modelo ajustado em 10 de abril de 1996 para o Ouro BM&F (pronto), que é dado por: INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 Banco da Bahia 60 61 tabela 1 tabela 2 exemplo de desmembramento e mapeamento Value-at-Risk de uma Carteira de Investimentos IBOVESPA (Índice) Fut. de IBOVESPA R$/US$ (Com.) Estrutura a Termo Brasileira • Fut. de Dólar Com. Estrutura a Termo Externa • • • BBCs • • NTN-D • • Fut. de Dis. Captações Ext.* O gráfico para a volatilidade obtida para o preço do Ouro BM&F (spot) é apresentado na Figura 3. O que ilustramos no caso do fator Ouro BM&F (pronto) deve ser repetido para cada um dos demais fatores adotados no Bahia RiskControlTM (seja usando modelos GARCH ou desvio padrão, caso o processo dos retornos seja ruído branco). O passo seguinte é o de estimar a matriz de correla- Value-at-Risk (1%) 200.000 R$ 1.509,37 Telebrás PN 500.000 R$ 1.519,05 Usiminas PN 30.000.000 R$ 1.627,11 Vale PN 50 R$ 4.351,25 R$ 7.890,02 • * Captações externas podem ter sua exposição a câmbio mapeada para o fator R$/US$ (Flut.) Onde os resíduos são normalmente distribuídos com média zero e variância , dada por: Posição Petrobras PN Diversificado • • Ativo ção, o que fazemos por máxima verossimilhança, após assumir para o processo multivariado dos retornos um processo ruído branco. Um exemplo de matriz de correlação estimada está na Figura 4. Finalmente, o critério adotado para a coleta diária de preços e de taxas de juros é o seguinte: > Se o ativo for negociado tanto no Brasil quanto em Nova York, será sempre dada preferência aos preços de fechamento no Brasil. Dentro do Brasil, será dada preferência à Bolsa em que o ativo possuir maior liquidez. > Para ativos negociados fora do Brasil serão adotados, preferencialmente, os preços de fechamento fornecidos pelo Bloomberg, e, em segunda instância, os valores fornecidos pelo Reuters. Preferências Finalmente, é necessário especificar os valores para e (veja Equação 1) no cálculo do VaR. No Banco da Bahia Investimentos S.A. usamos igual a um dia, e = 0.4%, 1%, 10% e 20%. Dois Exemplos > Value-at-Risk de um instrumento Ilustramos o cálculo do Value-at-Risk de um instrumento usando os Contratos Futuros de DI negociados na BM&F. O valor para Value-at-Risk para um nível de significância de é dado por: figura 3 volatilidade do ouro bm&f (PRONTO) Volatilidade anualizada (%) 7.6 7.4 7.2 7 17-Jul-95 21-Jul-95 27-Jul-95 02-Ago-95 08-Ago-95 14-Ago-95 18-Ago-95 24-Ago-95 30-Ago-95 05-Set-95 12-Set-95 18-Set-95 22-Set-95 28-Set-95 04-Out-95 10-Out-95 17-Out-95 23-Out-95 27-Out-95 03-Nov-95 09-Nov-95 16-Nov-95 22-Nov-95 28-Nov-95 04-Dez-95 08-Dez-95 14-Dez-95 20-Dez-95 27-Dez-95 04-Jan-96 10-Jan-96 16-Jan-96 22-Jan-96 29-Jan-96 02-Fev-96 08-Fev-96 14-Fev-96 22-Fev-96 28-Fev-96 05-Mar-96 11-Mar-96 15-Mar-96 21-Mar-96 27-Mar-96 02-Abr-96 10-Abr-96 9 8.8 8.6 8.4 8.2 8 7.8 11-Jul-95 OURO (R$) onde denota a função inversa da função de probabilidade acumulada de uma distribuição normal padrão, a posição é incluída já decomposta para algum fator usado no Bahia RiskControl e levando em consideração a sensibilidade do instrumento a este fator, e a volatilidade usada é a do fator utilizado no mapeamento. A volatilidade é calculada para o período de tempo de interesse no cálculo do Value-at-Risk. O Value-at-Risk de um dia em 23 de abril de 1996 para dez contratos futuros de DI com vencimento em junho de 1996 era de 1.65 x 10 x 50000 x 0.0002 = R$ 196.00 para = 5%. > Value-at-Risk de uma carteira Uma carteira de investimentos é composta de vários instrumentos. Uma vez obtido o Value-at-Risk de cada instrumento na carteira, o Value-at-Risk da carteira como um todo é dado por: Como um exemplo simples consideremos a Tabela 2, onde apresentamos o cálculo do Value-at-Risk de um dia para uma carteira com quatro ações em 23 de abril de 1996. Usos do Bahia RiskControl No Banco da Bahia Investimentos S.A. o Value-at-Risk do Banco é calculado diariamente, considerando-se todas as posições do banco tanto no mercado local quanto no mercado internacional. Os quatro grandes usos para o Bahia RiskControl são: > Disseminação de informação interna sobre as possíveis perdas de cada área isoladamente, e do banco como um todo. > Limitação do risco máximo permitido para áreas do banco e/ou operadores. > Alocação de recursos de forma mais eficiente do ponto de vista risco-retorno. > Capacidade para satisfazer plenamente a legislação (quando existente e requerido). Limitações do Bahia Risk-Control Como a grande maioria dos modelos matemáticos desenvolvidos e utilizados no mercado financeiro, o Bahia RiskControl possui limitações que devem ser entendidas e respeitadas. Uma limitação importante é que, em sua primeira versão, o Bahia RiskControl aproximava a exposição de posições com opções usando apenas o chamado “risco delta”. Em sua próxima versão (a ser operacionalizada antes do fim do corrente ano) já serão considerados os riscos “gama”, “rho” e “kappa” para as posições com opções. Em uma extensão futura (para a qual já estamos em fase adiantada de estudos) usaremos a simulação Monte Carlo para a análise de posições com opções. INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 62 63 figura 4 matriz de correlação estimada para seis fatores R$/US$ R$/US$ (COM.) (FLUT.) 0.99 0.01 0.99 1.00 R$/US$ (com.) 0.01 R$/US$ (flut.) IBOVESPA FGV 100 -0.04 0.06 0.06 -0.02 -0.02 0.06 0.06 -0.02 1.00 0.48 -0.20 -0.21 -0.04 -0.02 0.48 1.00 -0.12 -0.14 IBOVESPA 0.06 0.06 -0.20 -0.12 1.00 0.76 FGV 100 0.06 0.06 -0.21 -0.14 0.76 1.00 CETIP SELIC CETIP 1.00 SELIC Situações catastróficas não podem ser facilmente cobertas por modelos matemáticos. O Bahia RiskControl não escapa desta limitação. De fato, o Bahia RiskControl não foi desenvolvido ¾, logo não deve ser usado ¾ para estas situações. Situações catastróficas devem ser cobertas através da análise de cenários caóticos (ou, para usar a terminologia mais comum no mercado financeiro, stress testing). Verificação e calibragem do Bahia RiskControl A verificação ex post de como qualquer modelo matemático se comporta na prática é tarefa necessária. Duas são as verificações que adotamos no Banco da Bahia Investimentos S.A. no que se refere ao Bahia RiskControl: > Volatilidades e correlações: diferentes estimativas e previsões são testadas e comparadas regularmente. > Resultado diário do banco e Value-at-Risk estimado: da mesma forma que no caso anterior, comparamos qual o percentual de vezes que nossas estimativas para perdas do banco foram violadas na prática. Os resultados obtidos para a verificação e acalibragem do Bahia RiskControl têm sido tão satisfatórios que nos incentivam a ampliar regularmente o modelo de forma a incorporar outras metodologias e/ou instrumentos. CONCLUSÃO O desenvolvimento e a implantação de modelos para o gerenciamento de risco é uma necessidade, dadas as incertezas existentes nos mercados financeiros local e internacional. Muito embora o gerenciamento de risco já seja uma realidade nos mercados financeiros internacionais, ainda está em fase de germinação no Brasil. O nosso objetivo neste trabalho foi fundamentalmente o de apresentar o Bahia RiskControl, o primeiro sistema para gerenciamento integrado de risco desenvolvido e implantado no mercado financeiro brasileiro. Esperamos, dessa forma, estar contribuindo para o desenvolvimento da área de gerenciamento de risco no Brasil. 1 Tendo em vista as necessidades do mercado e as especificidades do sistema financeiro brasileiro (principalmente do mercado de renda fixa), o Banco da Bahia e a Andersen Consulting decidiram se associar, através da formação de um consórcio, para desenvolver e implantar Modelos de Gerenciamento de Risco de Mercado. 2 Estas estatísticas são discutidas em “Value-at-Risk (2)”, by Charles Smithson, Risk Magazine, vol. 9, nº 2, 1996. 3 Chew. L. (1996), Managing Derivative Risks – The Use and Abuse of Leverage, John Willey & Sons, 1996. Sérgio Ribeiro da Costa Werlang é engenheiro formado pela UFRJ, com mestrado em Matemática pelo IMPA e doutorado em Economia pela Princeton University. Foi diretor da Escola de Pós-Graduação em Economia da FGV, no Rio, até 1994 e professor visitante no Departamento de Economia da Pennsylvania University. Diretor adjunto do Banco da Bahia, responde pelas áreas de Research e Administração de Recursos de Terceiros. Eduarda Cunha de La Rocque é economista, com doutorado em Economia pela PUC-RJ. Foi assessora da diretoria nas áreas Internacional, Financeira e de Crédito do BNDES. Atualmente é gerente de Pesquisa em Análise de Risco do Banco da Bahia e responsável pelo Bahia RiskControl. INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 bradesco 64 65 EDIÇÃO Bradesco (Edição 6 / Novembro-Dezembro de 1997) CASE STUDIES REVISTA BRASILEIRA DE MANAGEMENT Romulo Nagib Lasmar A força de uma marca na identidade corporativa A marca da Evolução. Assim pode ser definida a nova Marca Corporativa da Organização Bradesco. Não é difícil chegar a esta conclusão. Basta associar o novo símbolo, que já está se tornando conhecido em todo o país, a figura geométrica que dá forma ao tronco e à copa de uma árvore, à trajetória construtiva do banco. Emblema de vitalidade e renovação, a árvore está intimamente associada à sensação de abrigo, raízes, identidade, conforto, energia e vigor. Mais do que isso, é a representação perfeita da semeadura de riquezas. O Bradesco, na essência, inspira essa mesma substância. Ao dar consistência e sentido à prática da modernidade, reflete a sua dimensão em servir e manter-se sempre ao lado da sociedade. Em diferentes épocas, a ideia de evoluir sempre foi o fio condutor da ascensão do Bradesco. Nos idos de 1943, quando suas dimensões modestas não ultrapassavam seis agências, já a ideia dominante era democratizar o atendimento, prestar serviços e trabalhar como legítimo agente financeiro, levando o crédito de um ponto onde existia abundância de recursos a outro onde prevalecia a demanda. Hoje, os clientes Bradesco são milhões e de qualquer ponto do planeta podem fazer operações de home banking via internet. Mas a estratégia de funcionar como ferramenta de trabalho da sociedade e da economia não mudou. Evoluiu na escala e na sua abrangência, ampliando na mesma ordem de grandeza e eficiência e agilidade. Se no passado a meta era assegurar um relacionamento mais próximo com o cliente, agora a proposta básica, que vem sendo plenamente concretizada, é atendê-lo de onde quer que esteja, por múltiplos meios. Essa busca de per- manente contemporaneidade é a matéria-prima > Perfil do Pioneiro. O Se no passado a que modela os vínculos entre as posições consoBradesco era sinônimo meta era assegurar lidadas e a visão de futuro do Bradesco. Funciona de banco inovador, e vium relacionamento como um alicerce do conjunto das suas relações nha ampliando e democom os diferentes mercados. Com a nova marca, cratizando a prestação de mais próximo os traços da personalidade do banco se revelam serviços. com o cliente, por inteiro. Não por acaso, cada um dos seus com> Integração Nacional. agora a proposta ponentes expressa um atributo particular da orgaO banco estava cada dia nização: mais presente em toda básica, que vem > Os dois elementos geométricos que sugerem a geografia brasileira, do sendo plenamente o tronco da árvore têm tamanhos diferentes, repreOiapoque, no extremo concretizada, é sentando o compromisso assumido pela instituição Norte, ao Chuí, no extrede apoiar os clientes, seja qual for o seu porte. mo Sul, como uma alaatendê-lo de onde > A copa da árvore é formada por dois traços vanca de progresso do quer que esteja, por rápidos, que se complementam em significado. país. múltiplos meios Juntos, representam inovação e tecnologia. Sepa> Modernização Tecrados, fazem alusão ao globo terrestre e à projeção nológica. Tendo introduceleste sobre o Brasil, e à faixa que corta a bandeira zido o uso de computabrasileira com o lema Ordem e Progresso. dores pioneiramente no Brasil, no mesmo momento que > A interseção dos traços é uma referência à conexão, os bancos americanos, o Bradesco mantinha-se na vanao atendimento e ao relacionamento do banco com os guarda, com toda sua rede de agências interligada on-line, clientes. real-time. > O salto do autoatendimento. A Rede de AutoatendiMUDANÇA ORDENADA E PROGRESSIVA mento Bradesco, também pioneira, afirmava-se como a Por esse caminho, criou-se um novo padrão de claremaior e mais completa do gênero. za e dinamismo da identidade corporativa. É importante > Fundação Bradesco. Criada originalmente para comnotar que a mudança se deu passo a passo. A ideia existe bater o analfabetismo na infância, tinha-se transformado desde o ano de 1993, quando o Bradesco comemorou o num centro de ensino de excelência, com cursos regulaseu cinquentenário. Atento ao sentido transcendente da res de educação infantil, 1º e 2º graus, este preponderanpalavra evolução, naquilo em que o termo implica mudantemente profissionalizante, além de cursos de alfabetizaça ordenada e progressiva, o banco percebeu ter chegado ção para adultos e cursos de capacitação profissional. o momento de substituir a marca que vinha sendo utilizada, com êxito, desde a década de 1970. A seguir, em 1994, veio a campanha institucional “O A primeira fase desse ciclo evolutivo caracterizou-se dia a dia do Brasil tem Bradesco”, tema inspirado numa pela campanha institucional comemorativa dos 50 anos, indiscutível constatação: a inserção do banco nas diferende conteúdo profundamente representativo: mensagens tes etapas da atividade econômica do país, da extração de sobre pioneirismo, integração nacional, modernização matérias-primas, passando pela transformação, até o contecnológica, o salto do autoatendimento e a obra da Funsumo. Recriava-se o ciclo produtivo, através de imagens dação Bradesco, o braço principal da sua ação social, unide rara beleza, de modo a valorizar o labor do brasileiro ram-se num vasto painel comportamental da organização. e realçar a atenção concentrada e persistente que o Bra“Bradesco. Confiando no Brasil há 50 anos”, afirmava a desco dedica à produção de riquezas, ao crescimento das frase-síntese. empresas e ao bem-estar das pessoas. O retrato do banco não deixava dúvidas quanto a essa Fotografias e imagens na televisão se somaram para realidade. Vejamos o que a campanha revelava: delinear com precisão a conjunção de propósitos entre INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 bradesco 66 67 o Bradesco e o Brasil. A vasta geografia nacional o seu fundador, Walter Landor, O grande foi trazida à luz pelas lentes de fotógrafos conheafirmava: “Produtos são feitos momento cidos pela sofisticação de estilo e conhecimento na fábrica, mas marcas são da etapa de da paisagem econômica e cultural. Eram eles: Arcriadas na mente.” Essa connaldo Pappalardo, Cristiano Mascaro, David Zingg, cepção influiu decisivamente desenvolvimento J.R. Duran, Maureen Bisilliat, Otto Stupakoff, Pedro na escolha do Bradesco. da nova marca foi Martinelli, Reginaldo Manente e Sebastião Salgado. Foi um trabalho intenquando o Banco, O filme, que completou a campanha na televiso, com muitas pesquisas. O são, ficou sob a responsabilidade do conhecido digrande momento da etapa afinal, fixou-se no retor de telenovelas Jaime Monjardim. de desenvolvimento de nova símbolo da árvore O desdobramento do processo levou à campamarca foi quando o banco, nha “Bradesco. Cada vez mais serviços. Cada vez afinal, fixou-se no símbolo da mais Branco”, cujo slogan permanece até os dias árvore, partindo da constataatuais, com uma meta bem definida: tornar cristalino, aos ção de que ele se ajustava perfeitamente ao objetivo de olhos do grande público, as vantagens de ser cliente Bratornar visíveis as grandes transformações vividas ao longo desco. Foi a vez do banco destacar os serviços de Convede mais de meio século. Globalização de serviços, novos niência e Autoatendimento. Era um novo passo à frente. padrões tecnológicos, contínua especialização e, em parNo anúncio de abertura da campanha na mídia impressa ticular, a qualidade superior voltada para a democratização estava escrito: do atendimento. Nada ficou esquecido. “O Cliente Bradesco está cercado de facilidades por toEsse cuidado com os detalhes é fácil de explicar. Além dos os lados. Utiliza Serviços Bradesco e ganha tempo e code ser um traço distintivo do Bradesco, era uma necessimodidade para viver melhor. Com o Cartão Bradesco Insdade imperativa que se traduzisse a modernidade do bantantâneo é cliente de todas as agências do banco no País, co, que ao final de um século e próximo ao início de um e tem acesso a uma das maiores e mais modernas redes de novo milênio se torna ainda mais permeada pela versatiliautoatendimento bancário do mundo. Pode, ainda, usar os dade, sobretudo porque há perfeita convergência entre a Serviços Bradesco em casa, na empresa, na rua e nas comsua estratégia e os novos desafios ditados pela modernipras no comércio...” Na televisão, a campanha primava pelo zação econômica. bom humor, enfatizando a disposição do Banco de colocar De qualquer ângulo que se olhe, o Bradesco é movia tecnologia a serviço do cliente. No fundo, o Bradesco inodo por uma perspectiva de urgência do futuro e, também, vava mais uma vez na comunicação: a imagem institucional do presente. Está continuamente envolvido na busca de reforçava a venda de produtos e serviços. iniciativas de natureza prática, destinadas a ampliar e fortalecer mercados, adaptar-se a novas realidades, superáNASCE A NOVA MARCA CORPORATIVA -las, atender e antecipar-se às demandas dos clientes. Esta Em paralelo, o trabalho de concepção da nova marca, disposição para evoluir, junto com a confiança dos seus após algumas tentativas no Brasil, muito válidas, ganhava clientes, é o maior patrimônio do banco, tanto que o Brafôlego com a Landor Associates, empresa global de design, desco não chegou ao que é da noite para o dia. de experiência multicultural, com sede em São Francisco, Numa visão retrospectiva vamos encontrar o Bradesco na Califórnia. A criatividade da Landor pode ser avaliada à frente de uma sucessão de fatos marcantes. Foi o pripela criação, desenvolvimento e renovação de marcas de meiro banco brasileiro a usar computadores, duas décamuitas das mais importantes empresas do planeta. Entre das antes da sua popularização. Foi, ainda, o primeiro a elas a Microsoft, Pepsi, Kodak, General Electric, DuPont, oferecer cartões magnéticos e cartões aos seus clientes. Philips, Nec, Procter & Gamble, Nestlé, Federal Express, O primeiro a criar o sistema de autoatendimento. E o priJohnson & Johnson, AT&T, Xerox, Sony, Japan Airlines, meiro a introduzir no País o conceito de home banking e Bank of America e Fuji Bank. Vale lembrar que já em 1941, office banking. Na atualidade, destaca-se como o primeiro banco brasileiro, e um dos cinco primeiros do planeta, a oferecer serviços realmente interativos na Rede Mundial Internet, hoje com mais de 140 mil clientes nela operando, uma referência internacional. Além disso, foi o primeiro a lançar no País o smart card, o futurista cartão inteligente que tende a substituir o dinheiro e o cheque. Esse conjunto de acontecimentos, certamente, ajuda a explicar por que o Bradesco é considerado uma das 100 melhores empresas, de todo o mundo, que melhor utilizam a informática e uma das 25 que utilizaram as redes de telecomunicações de forma mais eficiente e inovadora. Explica, ainda, os muitos prêmios que, por seguidos anos, o têm distinguido como “Melhor Banco Brasileiro” e “Melhor Banco Doméstico em um Mercado Emergente” no ranking mundial da Euromoney, e dezenas de outros prêmios a evidenciar empreendimentos bem-sucedidos. A ESTRATÉGIA DA CONTEMPORANEIDADE Olha-se o perfil do Bradesco e a primeira conclusão é que sua trajetória se confunde com a própria modernização da economia brasileira. Ferramenta de trabalho de múltiplos setores, o que destaca suas ações é o foco no cliente. Não importa se o atendimento é feito pessoalmente ou por telefone, computador, fax ou mesmo pela televisão, o que efetivamente interessa é assegurar comodidade, facilidade e segurança. Em outras palavras, dar o máximo de eficiência à moderna tecnologia para atender e apoiar empresas e pessoas. Por todas essas razões, a nova marca corporativa do Bradesco surge como indiscutível evidência da sua vocação para a expansão. A contemporaneidade, sem dúvida, é a característica que mais chama a atenção na nova marca. Uma ampla gama de singularidades revela a substância da cultura e filosofia do banco, da sua visão estratégica e a objetividade com que encara responsabilidades e compromissos com a evolução. Assim, a nova marca trabalha com todos os elementos de identidade do Bradesco e se projeta para as novas etapas que estão por acontecer. É nesse momento que a árvore como símbolo sobressai-se como escolha estrategicamente correta. Na sua simplicidade, a árvore abarca riqueza infinita de representações, de intimidade com a natureza e a união entre a vida e o eterno renascer. É um desses raros ícones que falam uma linguagem compreensível por todos, promovendo singular aliança entre os melhores sentimentos de receptividade do público e a memória individual e coletiva. Numa época de grandes mudanças, convida à reflexão universal de integração, no pensar e no agir. Nesse contexto, a nova marca é um ponto de chegada e de partida. Os seus traços condensam uma filosofia e uma cultura. Mostram o quanto o banco está à altura dos desafios do hoje e do amanhã. Como aconteceu na fase de desenvolvimento, todo o trabalho de implementação da nova marca corporativa está sendo feito de forma gradativa. No início, toda a comunicação, o site na Internet, Bradesco Net-Internet Banking, impressos, formulários, talões de cheques e um primeiro núcleo de agências localizadas em pontos estratégicos. Paulatinamente, será levada a toda a rede de atendimento e empresas ligadas. Mas, desde já, passa a ser a base da identidade da organização, assim como de todos os seus produtos e serviços. O importante também é que a nova marca tem grande poder de comunicação. Testemunha disso é a repercussão positiva que vem alcançando. A campanha de lançamento foi um autêntico êxito. Na mídia impressa, na televisão, entre outras iniciativas de marketing e comunicação, foram assinalados aspectos como atualidade, modernização, apoio, agilidade e pioneirismo. Ou seja: o mosaico de características que mostram um banco que sabe unir tradição e modernidade a serviço do cliente. Um banco que conhece a arte de evoluir. As peças publicitárias tiveram a força do testemunho de realizações predominantemente evolutivas. Continham todo o itinerário de avanços que identificam o banco, retratando todo o seu universo. O sentido desse eclético painel está sintetizado no título do anúncio de apresentação da nova marca: “O Bradesco não para de evoluir porque tem os clientes mais exigentes.” Na televisão, a tônica não foi diferente. Imagens fortes e belas mostraram um após outro os traços da nova marca, que vai sendo formada na tela a partir de movimento de pessoas, com palavras-chave que evidenciam a razão de ser e a permanência das ações do Bradesco: > Agilidade: Essa é a marca do banco que sempre foi o primeiro em serviços. > Parceria. A marca do banco que sempre facilita o crédito e simplifica as transações. INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 68 69 > Estabilidade. A marca do banco que tem a preferência de milhões de pessoas. > Renovação. A marca do banco que sempre antecipa o futuro. Ainda sobre a aceitação da nova marca, merece registro uma pesquisa de resultados que demonstra o inquestionável êxito da iniciativa: o índice de 92% de aprovação, entre clientes e não clientes, logo após o lançamento. A ARTE DE EVOLUIR PERMANENTEMENTE A evolução da marca corporativa de uma organização corresponde a um determinado contexto histórico. É uma espécie de homologação daquilo que a diferencia e distingue. Como a identidade das pessoas, é uma referência de qualidades, estilo, personalidade. Mas uma referência viva que, como tal, necessita ser atualizada e aprimorada. As mudanças ao longo do tempo fazem parte desse delicado processo que é a administração da imagem de uma corporação. Não é tarefa fácil, porque dela depende toda uma plataforma de sucesso que dá alma a produtos e serviços. Mas é uma tarefa indispensável. Tanto é assim que a criatividade e o fascínio exercido pelas marcas estão vinculados à atividade empreendedora desde a Antiguidade. A importância que ganharia após a Revolução Industrial vem dessa capacidade milenar, herdada dos sinetes, selos, siglas e símbolos, de afirmar-se como referência de identidade. Em contraste com o passado, na atualidade as marcas significam mais do que um produto ou um serviço. Elas prometem e entregam um valor diferenciado ao consumidor e criam laços de fidelidade. Hoje, uma das facetas do ambiente empresarial é a relação bilateral entre o cliente e a marca corporativa. Se a marca realça atributos e valores, o cliente agrega os valo- res da confiança, da diferenciação e de todo um histórico de relacionamento. No caso do Bradesco, é exatamente o que acontece. O prestígio do banco, por tradição, vem da incansável procura da qualidade. A cultura da democratização do atendimento e da modernidade tecnológica se reforça mutuamente, num diálogo incessante. Com a nova marca, a evolução que se concretiza é um salto à frente dos mais expressivos: mais que um novo símbolo, ela é a expressão e a convergência do que existe de mais dinâmico na organização. Conhecedor de si mesmo, o Bradesco deseja partilhar com todos a profundidade desse conhecimento. Acondicionar numa imagem-símbolo as fontes do seu dinamismo. O banco esculpiu uma nova identidade, mas manteve a mesma essência, ou seja, aquelas qualidades já familiares ao público, facilmente identificadas como pioneirismo, inovação tecnológica e qualidade dos produtos e serviços. Com isso, está mais uma vez antecipando o futuro e reafirmando a sua familiaridade com o público. Esse foi também o espírito do Relatório Anual 1996, que, com uma versão também em CD-ROM, privilegiou o tema Árvores e Pessoas. A proposta foi celebrar uma mensagem de vitalidade e realçar a integração do banco com a sociedade. Este é o sentido da nova Marca do Bradesco: combinar identidade e eficiência, como caminho seguro para a competitividade num mercado globalizado. Daí o seu valor distintivo e duradouro. Efeito não só de uma época, mas também produto da História, a nova marca estabelece um vínculo indissolúvel entre o longo caminho já percorrido pelo banco e os caminhos que se ampliam no século que está por nascer. Recria, enriquece e assinala os valores permanentes de firmeza de propósitos, coerência e determinação empreendedora, valores que são a própria razão de ser do Bradesco. Romulo Nagb Lasmar é advogado formado pela Faculdade de Direito da Fundação Instituto de Ensino para Osasco. Com 32 anos de casa, exerce atualmente o cargo de diretor de Marketing do Bradesco. INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 Odebrecht 70 71 EDIÇÃO Odebrecht (Edição 13 / Janeiro-Fevereiro de 1999) CASE STUDIES REVISTA BRASILEIRA DE MANAGEMENT Márcio Polidoro O investimento para preservação do patrimônio O investimento da Odebrecht em contribuição cultural, trabalho que faz parte do Programa de Comunicação, é o maior individualmente, dentre as demais atividades de Comunicação. Chega a representar o dobro do que é aplicado em Publicidade. Orientada para iniciativas que tenham potencial de enriquecer o processo educativo dos indivíduos, a contribuição cultural é colocada em prática com base em diretrizes, as quais determinam, por exemplo, que o apoio deve ser concentrado, evitando-se, assim, a pulverização dos recursos por múltiplos programas – no caso da Odebrecht, o investimento é feito basicamente na preservação de patrimônio histórico. A primeira iniciativa de apoio cultural da Odebrecht ocorreu em 1959, com o livro Homenagem à Bahia Antiga. Durante muito tempo a empresa basicamente investiu na publicação de livros. Hoje investe também em vídeos, CD-Roms, sites na internet, exposições etc. Nestes 40 anos, foram apoiados cerca de 80 projetos. A Odebrecht é uma organização brasileira, fundada em 1944, em Salvador. A família Odebrecht chegou ao Brasil, vinda da Alemanha, em meados do século passado, por volta de 1856. O primeiro a chegar no Brasil foi o bisavô de Norberto Odebrecht, que nasceu em Recife – quando seu pai, engenheiro também, foi trabalhar em obras no Estado de Pernambuco. A família mudou-se para a Bahia em 1923. Hoje, a Odebrecht atua em quatro setores: engenharia e construção; química e petroquímica; serviços públicos, concessionados, de saneamento, energia elétrica e operação de rodovias; e celulose. É um grupo que está em 14 países, além do Brasil; tem 45 mil integrantes e fatura aproximadamente R$ 5,5 grandes problemas. Na Hoje, a Odebrecht bilhões ao ano. época, uma matéria da reatua em quatro É significativo o investimento em contribuição culvista Veja dizia que a Odesetores: engenharia tural, atividade que faz parte do Programa de Comubrecht, “de cada dez escânnicação. O total investido é o maior individualmendalos, estava presente em e construção; te, dentre as demais atividades de Comunicação. dez”. Tivemos que formular química e Chega a representar o dobro do que é aplicado em uma política de comunicapetroquímica; Publicidade. ção para o grupo no meio Todas as referências para o empresariamento e do “tiroteio” que aconteceu serviços públicos, para os relacionamentos na organização são baseem torno de todas as emconcessionados, adas na Tecnologia Empresarial Odebrecht (TEO), presas que prestavam servide saneamento, conjunto de conceitos e princípios que levados à ços ao Governo Federal, em prática configuram uma tecnologia de gestão. Essa razão dos escândalos que energia elétrica tecnologia foi desenvolvida a partir de experiências, envolveram o então presie operação de intuições, erros e acertos e está sistematizada em dente da República. rodovias; e em dois livros – de autoria de Norberto Odebrecht, Nosso primeiro aprenque se chamam Sobreviver, Crescer e Perpetuar e dizado foi que tudo o que celulose Educação pelo Trabalho. É a conceituação de uma acontece em uma empresa prática que Norberto Odebrecht vivenciou desde é decorrência da ação das que começou, com 21 anos de idade, em 1941, na pessoas. Talvez por parecer Bahia, a tocar a pequena construtora, que se transformatão óbvio, isso é particularmente importante. Porque a Oderia, em 50 anos, em um dos maiores e bem-sucedidos brecht é uma abstração, é uma marca registrada na Junta Cogrupos empresariais brasileiros. mercial. Logo, não faz nada; quem faz coisas certas ou coisas Conceituar a prática e gerar conhecimento a respeito erradas são as pessoas que a integram. Assim, o primeiro prindo que estamos fazendo continua a ser nosso desafio percípio dessa política de comunicação afirma que a formação e manente. A política de comunicação da Odebrecht, que consolidação da imagem é uma responsabilidade indelegável orienta todas as ações no campo das relações instituciode cada um dos integrantes da organização, de cada uma das nais, foi construída, ou constituída, dessa maneira. pessoas que nela trabalham, ao contrário de muitas empresas É uma obra muito recente, existe há menos de dez onde a formação de imagem é responsabilidade do Departaanos e é curioso observar que o grupo, fundado em 1945, mento de Comunicação ou coisa parecida. somente há dez anos tem uma política de comunicação Por isso, o primeiro princípio diz que, na qualidade de formalizada, organizada. O fato é que, anteriormente, a prestador de serviços ou supridor de bens a clientes inempresa não tinha, nas relações com a comunidade, a dividualizados, é dever de cada pessoa da organização preocupação de estabelecer canais de comunicação claconstruir junto ao cliente, ao fornecedor, aos parceiros e ros. Por vários motivos: à comunidade uma imagem fundada na competência, na > Atuava basicamente em um negócio de engenharia, transparência e na probidade. voltado para grandes clientes de construção pesada, priAssim, como a organização Odebrecht é resultado da mordialmente governos; integração sinérgica das pessoas que a integram e a cons> No período de regime militar o País não cultivava – tituem, a sua imagem resulta daquela que essas pessoas pela repressão – o hábito saudável da transparência; projetam individual e coletivamente junto à comunidade. > A maioria dos contratos previa que apenas o cliente E, ao mesmo tempo que conquistam e satisfazem seus podia se comunicar com a sociedade. clientes, os integrantes da empresa devem satisfazer aos Coincidentemente, a política começou a ser formulapadrões éticos e morais da comunidade, comportando-se da durante o governo Collor, período em que enfrentamos como cidadãos exemplares. INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 Odebrecht 72 73 Essa política de comunicação criou uma situação mente importantes, como Quando perguntamos muito curiosa, pois a partir do momento em que foi educação e saúde. a diversos colocada no papel e ficou clara para todos, cada Começamos, então, trabalhadores de indivíduo percebeu que quando age, em qualquer a definir qual a imacircunstância que seja – em Angola, na Amazônia, gem que queríamos ter. uma empresa qual em Los Angeles ou em São Paulo –, o resultado de Quando perguntamos a é a imagem da sua ação reflete na imagem da organização para o diversos trabalhadores sua companhia, bem ou para o mal, de forma muito simples. Um de uma empresa qual é a gerente de obra da Odebrecht que se recusa a reimagem da sua compacorremos o risco ceber um jornalista que vai visitá-lo está permitindo nhia, corremos o risco de de ouvir múltiplas que a matéria seja feita sem a versão da empresa. A ouvir múltiplas resposrespostas e consequência não se dará apenas para aquela obra tas e construir uma visão e sim para o grupo como um todo, seja no setor em fragmentada da realidaconstruir uma visão que aquele gerente atua, seja nos outros negócios. de. Nossa preocupação fragmentada da A autocompreensão quanto a papéis e comportafoi, portanto, estabelecer realidade mentos passou a ser um paradigma. atributos de imagem que, O segundo princípio diz respeito à imagem que por um lado, agregassem pretendemos projetar. Para exemplificar: a Odebrevalor à nossa marca e, cht comprou, há alguns anos, uma empresa petroquímica. por outro, servissem sempre de referências para que cada Em uma reunião, perguntei ao responsável pela comunium de nós pudesse projetá-la externamente, através de cação como era a imagem daquela empresa na comunicomportamentos e atitudes. dade. Ele disse: “Muito boa, nossa imagem é excelente.” Eu Conversamos com pessoas, fizemos reuniões, distriperguntei: “Por quê?”. “Muito simples”, ele respondeu, “as buímos questionários – foram centenas de encontros em crianças que moram perto da fábrica... nenhuma deixa de quase um ano de trabalho para que se definisse qual era a ir à escola por falta de material escolar, porque nós ofereimagem que a Odebrecht queria ter junto à comunidade cemos. Fizemos um trabalho social extraordinário nas coou como a organização queria ser reconhecida. munidades carentes. Patrocinamos todas as atividades meE concluímos que a Odebrecht deve ser reconhecida ritórias da sociedade local e por isso temos uma imagem como uma empresa: muito boa.” Eu disse: “Não. Vocês têm é a imagem de uma > brasileira; instituição de caridade. Esta é uma empresa petroquímica > sólida, competente e de negócios diversificados; que dá cadernos para as crianças e que ajuda hospitais. Óti> criativa, moderna, voltada para o atendimento às promo. É parte de sua responsabilidade social. E a imagem de priedades dos clientes; sua empresa enquanto empresa, como é que é?” > confiável; É um equívoco comum que ocorre principalmente em > que entende o ser humano como o objeto do próprio comunidades menores: o uso de determinados mecanisdesenvolvimento; mos como forma de acomodar os sentimentos das pessoas. > que atua responsavelmente em relação ao meio amSe a empresa mantém uma creche, seus dirigentes podem biente; e imaginar que têm um álibi quanto aos danos que eventual> que contribui para a sociedade, adicionalmente às mente causem ao meio ambiente. É uma política compensuas atribuições socioeconômicas, com programas sociais satória. Nossa visão é que a boa empresa petroquímica tem e projetos culturais. que ter a imagem de uma empresa petroquímica segura; geradora de riquezas; que dá emprego; que contribui para Uma vez que as pessoas tenham consciência da próo desenvolvimento do País; que respeita o meio ambiente, pria responsabilidade quanto à imagem da empresa onde e que também está comprometida com questões socialtrabalham, resta saber para que serve essa boa imagem. Entendemos que serve para: > ampliar a satisfação do cliente; > despertar em outras pessoas o desejo de ser cliente; > diferenciar a empresa no trato das questões ambientais; > desenvolver na comunidade a consciência de que é a principal beneficiária do trabalho da empresa; > ampliar, na concorrência, o respeito; > aumentar, no consumidor, a satisfação; > atrair investidores; > levar a imprensa a tratá-la de forma isenta, baseada no respeito mútuo e na verdade; > estimular nos jovens de talento o interesse em trabalhar na empresa; e > sedimentar na sociedade o prestígio que a inclua entre os grupos empresariais que são motivo de admiração e orgulho. Afirmar que a Odebrecht deveria ser motivo de orgulho para os brasileiros no auge da crise política que o Brasil viveu no início desta década de 1990 era uma ousadia. Mas assumidos esse desafio. Em meados de 1998, a revista Carta Capital fez uma pesquisa para identificar as 150 empresas mais admiradas do Brasil. A Odebrecht foi incluída entre as 40 mais admiradas. Destas, 24 eram grandes multinacionais – Coca-Cola, McDonalds, Xerox, IBM, Microsoft etc. – e apenas 14 brasileiras – das quais Brahma, Antarctica, Pão de Açúcar, Itaú, TAM, Varig, Bradesco são empresas de mercado que estão todos os dias na televisão fazendo anúncios. Dentre as empresas que produzem commodities, como nós, ou empresas voltadas para poucos clientes, num segmento específico de mercado, havia cinco ou seis. Resumindo: nossa política de comunicação define que cada um é responsável pela imagem, que é formada no cotidiano do trabalho e da vida privada, caracterizada por determinados atributos e que serve a claros objetivos. Porém, é preciso transformar isso em elemento cultural para a organização. Isso significa que a coerência entre práticas, comportamentos e atitudes deve chegar ao conhecimento da sociedade, difundida de forma eficaz. A construção de condições no campo das relações institucionais é determinante para que tais posturas se transformem em fatores de legitimação social da atividade empresarial que exercemos. Nesse sentido, nossa política de comunicação está dividida em cinco grandes capítulos: Princípios, Definições, Responsabilidades, Apoios e Serviços e Diretrizes Gerais. Entendemos por relações institucionais na empresa: > Os elos entre instituições, constituídos pelas pessoas, a partir do exercício da parceria transparente e solidária. > A atuação conjunta e a reciprocidade que levam a um conhecimento mútuo mais profundo, seguro e confiável dos valores e práticas das instituições e pessoas envolvidas. > A inserção e aceitação da empresa nos tecidos sociopolíticos, que se ampliam à medida que os seus princípios morais e éticos são identificados nos seus atos negociais e comunitários. As relações institucionais são realizadas mediante programas de comunicação empresarial, comunicação social, relacionamento na comunidade, atuação em relação ao meio ambiente e ação social. Comunicação empresarial é o conjunto de serviços de apoio e normas que disciplinam o uso de símbolos e mensagens que são transmitidos tanto para o público interno quanto para o externo, visando garantir padrão e coerência de conceitos e apresentação. A comunicação social deve ser entendida como o conjunto de atividades e práticas típicas do Relacionamento com a Imprensa dos Integrantes da Organização, visando a divulgação de fatos que permitam à sociedade compreender o papel que a organização exerce, nos âmbitos político, econômico e social. O relacionamento na comunidade implica o diálogo direto e pessoal de integrantes das empresas com representantes de grupos comunitários e formadores de opinião, entendido como fator que contribui de forma efetiva para a consolidação da imagem institucional, por demonstrar: > respeito aos cidadãos; > abertura para o diálogo permanente; > transparência nos relacionamentos; e > vontade de informar sobre a organização (história, filosofia, realizações), bem como esclarecer dúvidas relacionadas à atuação de suas empresas que possam se transformar em questões que atinjam essa imagem. O tratamento responsável das questões ambientais deve ser um dos paradigmas, por convicção e consciência, INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 Odebrecht 74 75 da ação empresarial da organização. Além disso, 3) A contribuiAs relações é fator essencial à construção e diferenciação da ção cultural deve ser institucionais imagem perante os clientes, governos, formadores orientada para iniciatisão realizadas de opinião e na comunidade. Meio ambiente é foco vas que: de atenção continuada dos meios de comunicação, > tenham potencial mediante programas com repercussão internacional nos programas de de enriquecer o prode comunicação maior porte, e indispensável elemento de competicesso educativo dos empresarial, tividade empresarial. Assim, é importante identificar indivíduos; as oportunidades de sinergia e de compatibilização > destaquem, semcomunicação social, entre os programas ambientais e os de comunipre que possível, prinrelacionamento na cação, principalmente aqueles dirigidos à redução cípios comuns aos da comunidade, atuação dos impactos dos empreendimentos ao meio anorganização, como trópico (cultural, social, econômico e histórico). a valorização do ser em relação ao meio Finalmente, entendemos que a assistência sohumano, do trabalho, ambiente e ação social cial é ação de competência do Estado. A empresa do espírito empreenprivada não deve ter a pretensão de substituí-lo. dedor, da criatividade Devemos, nas ações definidas, apoiá-lo a cumprir e da preservação do com eficácia o seu papel. A responsabilidade social do meio ambiente; empresário – ou sua ação social específica – é produzir, > abordem temas que sejam preferencialmente inéditos com competência, riquezas necessárias à comunidade, e não despertem polêmicas ou controvérsias improdutivas; inerentes à sua atividade, dar importância ao desenvolvi> contribuam para estreitar os laços de relacionamento mento dos trabalhadores, proporcionar novas oportunidada organização nas comunidades, mediante o estímulo à des de trabalho, reinvestir permanentemente os resultados participação de pessoas dessas comunidades em todo o na atividade produtiva e zelar pelo meio ambiente. processo, desde a seleção de temas e apoio nas pesquisas A contribuição adicional propiciada pela organização até a organização de espetáculos, a montagem de exposiOdebrecht às comunidades advém de concepções filosóções e o lançamento e distribuição dos produtos; ficas que priorizam programas sociais voltados para a edu> permitam o envolvimento pessoal e direto de reprecação básica, para a preparação de jovens e adolescentes sentantes da organização neste mesmo processo, visando para a vida e para o resgate e realce da produção cultuao estabelecimento de clima de real parceria entre patroral. Representa o nosso compromisso com a qualidade de cinado e patrocinador e o uso eficaz dos recursos dispovida das comunidades e visa ampliar a qualidade de nosso nibilizados. relacionamento nessas mesmas comunidades. 4) A decisão sobre o apoio a uma iniciativa cultural deve Os conceitos que orientam o trabalho na área cultural ter como referência também o reconhecimento de que são cinco: as ações mais democráticas e mais populares não são ne1) A contribuição se dá mediante o apoio financeiro a cessariamente as que oferecem espetáculos e mensagens empreendimentos de caráter cultural que, pela natureza, que cheguem à maioria, mas as que levam em conta a vase identifiquem com a filosofia e com a atuação empresariedade de necessidades e demandas da comunidade. rial da Odebrecht, contribuindo, assim, para o relaciona5) Finalmente, é importante apoiar iniciativas que promento externo e para fortalecer a imagem. movam tradições locais, já que estas contribuem para a 2) O apoio a iniciativas culturais é um meio que conmanutenção de referências históricas e culturais que distribui também para a legitimação social da organização, tinguem as comunidades. Entretanto, a diversidade geoà medida que a arte e os artistas tornam possível a consgráfica de atuação da organização exige que tais apoios trução de pontes cruciais de comunicação no âmbito das possam conectar-se nos âmbitos nacional e internacional comunidades. conferindo sentido à política e proporcionando resultados quanto à imagem institucional, onde quer que seus integrantes atuem. Destaco as seguintes diretrizes: > O apoio deve ser concentrado, evitando-se a pulverização dos recursos por múltiplos programas, ou seja, a Odebrecht investe basicamente na preservação de patrimônio histórico. > Todos os produtos, tais como livros, vídeos, discos etc., devem ser distribuídos a clientes e demais pessoas de relacionamento institucional dos integrantes. A empresa também cadastra entidades culturais, como bibliotecas, escolas, museus, universidades etc., às quais envia regularmente toda sua produção. Os direitos autorais das publicações são da Fundação Odebrecht, exclusivamente, ou compartilhados com o autor ou editor, conforme o caso. > É vedado o apoio a iniciativas de caráter estritamente comercial, como shows com ingressos pagos etc. > Devem ser evitados os apoios a projetos de autoria ou sobre integrantes da organização. > O uso dos incentivos fiscais previstos em leis municipais, estaduais e federais deve ser considerado quando da análise de projetos. Entretanto, este é um fator que favorece a decisão, mas, em nenhuma hipótese, pode ser determinante da decisão. > O apoio a instituições culturais (museus, bibliotecas, grêmios literários etc.) deve ocorrer de uma única vez, ficando vedado o compromisso de manutenção ou contribuições periódicas ou continuadas. A primeira iniciativa de apoio cultural da Odebrecht ocorreu em 1959, com o livro Homenagem à Bahia Antiga. Durante muito tempo a empresa basicamente investiu na publicação de livros. Hoje investe também em vídeos, CD-ROMs, sites, exposições etc. Nestes 40 anos, foram apoiados cerca de 80 projetos. É importante observar que a Odebrecht não faz marketing cultural, mas um exercício de responsabilidade social com o objetivo de fomentar a cultura das comunidades com as quais interage. O marketing cultural é o uso da cultura como meio, visando promoção de venda, lançamento de produto, posicionamento no mercado e até formação de imagem corporativa. É um caminho legítimo, adequado e inteligente. Mas marketing cultural é estratégia que associa o produto ao fato cultural, como, por exemplo: o Free Jazz Festival, o Carlton Dance, o Hollywood Rock, os Concertos Heineken. Finalmente, o marketing cultural cria produtos culturais que servem de suporte a objetivos mercadológicos. A Odebrecht apenas apoia iniciativas da comunidade. O resultado que obtemos é o marketing espontâneo e os benefícios para a imagem decorrem da transferência de valores intangíveis das iniciativas culturais que patrocinamos, valores esses que acabam sendo apropriados pela empresa. Quando cheguei à Odebrecht, em 1988, constatei que não era divulgada a existência desse acervo extraordinário. A explicação para tal atitude é que a Odebrecht não precisava de álibis. Ou seja: a organização não queria ser reconhecida por esta ação, mas pela qualidade dos serviços que prestava a seus clientes. Curiosamente, em um texto publicado em 1968, Norberto Odebrecht afirmava que a imagem é um dos fatores de sobrevivência de uma empresa. São três os resultados que a empresa tem que buscar para sobreviver, dizia ele: produtividade, liquidez e imagem. Mas se em 1968 ele dizia que a empresa precisava ter boa imagem para sobreviver, por que não estava totalmente preparada para enfrentar os ataques que sofreu em 1990? Porque o conceito estava restrito à imagem que se forma junto ao cliente, já que o cliente satisfeito, tendo formado uma imagem da empresa, pode contratá-la novamente ou indicá-la para outros potenciais clientes. Então, não se considerava importante formar imagem junto à opinião pública, junto à comunidade. E foi neste âmbito que a organização sofreu mais. Hoje a visão é diferente. Está saindo a terceira edição do livro em que Norberto Odebrecht trata do assunto, mas agora afirmando que a imagem importante é a criada junto ao cliente, à comunidade e ao formador de opinião. Em 1992, fizemos pesquisas de opinião e constatamos que as pessoas tinham uma imagem ruim do grupo, mas a maioria não tinha a menor ideia do que era a Odebrecht. Era uma visão distorcida da realidade, alimentada por um noticiário de imprensa nem sempre fiel à verdade. Nosso desafio, então, foi desvendar para a sociedade o que era a Odebrecht e mostrar o que ela fazia. A coleção de livros publicados entra nesse conjunto de revelações. INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 Odebrecht 76 77 A atividade cultural contribuiu expressivamente trocinar a iniciativa, e a O marketing cultural junto a determinados públicos, porque nós percebiografia foi enriquecida é o uso da cultura bemos também que, no momento agudo da crise, com um álbum. Eram como meio, visando a Odebrecht não tinha problema de imagem com dois LPs com tiragem os clientes, com quem já mantinha relacionamende cinco mil exemplapromoção de tos. Mas não éramos conhecidos na universidade, res, uma raridade. vendas, lançamento por exemplo, e a atividade cultural nos aproximou. O tempo passou e de produto, Hoje, temos relacionamentos sólidos com quase nunca mais Caymmi todas as grandes universidades brasileiras, e com conseguiu gravar. Ele posicionamento muitas fora do Brasil, e nos aproximamos de vários nos procurou em 1998 no mercado e até grupos de formadores de opinião com os quais a e disse que gostaria de formação de imagem empresa não interagia. A contribuição cultural, cerlançar aquele disco cotamente, foi a ponte decisiva para esses encontros. mercialmente. Contracorporativa Com relação a esse aspecto, há algumas experiêntamos uma empresa de cias que vale a pena relatar. produção cultural do Rio O Projeto Memória Monteiro Lobato teve, entre de Janeiro chamada Coos vários produtos, um vídeo que foi exibido pela TV Culnexão e pedimos que tentasse viabilizar a ideia. Essa empresa tura. Isso configurou uma parceria entre a TV Cultura, a conseguiu convencer a Sony Music. A condição era que a Odebrecht e a Fundação Banco do Brasil, idealizadores do Odebrecht bancasse a festa de lançamento e a publicidade. Projeto Memória. Para se divulgar o vídeo, era importante O disco foi lançado no Rio, no Copacabana Palace, com um encontrar uma rede de tevê que o mostrasse em broadshow da família Caymmi (Dorival, Nana, Dori e Danilo). casting, para depois distribuirmos para escolas, universiSaiu, então, uma grande matéria no jornal O Globo elodades etc. E a TV Cultura fez isso, no seu interesse, óbvio, giando tudo, dizendo que aquela tinha sido uma iniciativa mas no nosso interesse também. maravilhosa, porque o Caymmi não lançava um disco coJá com O Brasil dos viajantes não tivemos a mesma remercial havia mais de 20 anos etc., patrocinada por uma ceptividade. Produzimos uma série de vídeos pequenos, de “empreiteira baiana”. Isso é preconceito! Falta de matudois minutos e meio; trabalho sucinto, com um conteúdo ridade! Acho até que, enquanto prática jornalística, é um tão extraordinário que merecia ser mostrado ao maior núdesrespeito com o leitor! Eu não respeito jornalista que mero de pessoas possível. Oferecemos à Globo, eles veidiz: “Isso foi feito por uma empreiteira baiana.” Se eu sei cularam no intervalo do Fantástico, durante seis semanas quem fez e não digo, estou sonegando informação! seguidas, e nos cobraram US$ 1 milhão. Era um produto Mas há também o outro lado. Quando o projeto O Brasil cultural de excelente qualidade, apresentado pela Fernanda dos viajantes aconteceu, a Veja fez uma belíssima matéria Montenegro, que foi tratado como “anúncio”. e entrevistou a autora Ana Maria Belluzzo, que afirmou que Outra questão importante: o acionista é um ser pragmáaquilo só seria possível com o apoio de uma grande emtico, mas não quer uma empresa que só dê lucro, quer uma presa. E essa empresa era a Odebrecht. empresa que cumpra seu papel social também. Entretanto, A primeira iniciativa de apoio cultural da Odebrecht requando se investe US$ 1 milhão em um programa cultural e sultou em um livro chamado Homenagem à Bahia Antiga. não sai uma linha na imprensa dizendo que aquela ideia foi É um livro de fotografias, editado em 1959, que mostra um viabilizada graças ao apoio de uma determinada empresa, pouco do patrimônio arquitetônico de Salvador que na há uma certa frustação. A mim, causa uma profunda irritadécada de 1950 começava a se alterar, porque a cidade ção, porque eu vejo várias coisas desse tipo. se modernizava e muita coisa estava sendo demolida. A Em 1987, quando Dorival Caymmi completou 70 anos, segunda iniciativa foi a restauração e um livro em homea pesquisadora Marília Barbosa nos procurou dizendo que nagem ao Teatro Amazonas, em Manaus. Um belíssimo tinha a ideia de escrever a biografia dele. Decidimos pateatro, construído durante o ciclo de borracha. Foram duas coincidências, dois casos de patrimônio, patrimônio arquitetônico. Daí para a frente, a tendência foi olhar com mais atenção e interesse para propostas que tratassem deste tema. Continuamos insistindo nesse campo, porque nos parece que a contribuição mais substantiva que a empresa pode oferecer à sociedade é a preservação de acervos que estão sendo destruídos porque o Estado não tem recursos para preservar, como se deseja, o patrimônio histórico da nação. Outro bom exemplo nesse sentido é a obra O Brasil dos viajantes, que nasceu de uma iniciativa da professora Ana Maria Belluzzo, da USP. A ideia de transformar o projeto de pesquisa acadêmica em um projeto cultural com exposição, edição de livro, vídeos etc., nos foi apresentada por uma produtora chamada Metavídeo. E nós decidimos patrocinar. Não temos feito pesquisas para avaliar o impacto dessas ações na imagem do grupo, além da avaliação decorrente da observação e das manifestações pessoais ou por meio da imprensa (clipping). Fazemos tiragens entre 5 mil e 8 mil exemplares. Distribuímos todos. Solicitações podem ser feitas. Se a justificativa for pertinente e houver exemplares disponíveis, encaminhamos o livro. Todo o acervo está à disposição de qualquer editor que queira empreender a reedição comercialmente. Estamos, agora, promovendo iniciativas em parceria com editoras, de modo que haja uma parte para o patrocinador e uma parte para venda em livrarias. É o caso do livro Monteiro Lobato – Furacão na Botocúndia –, que ganhou o Prêmio Jabuti em 1998. A editora lançou dez mil livros, nós adquirimos 6 mil para nossa distribuição e eles colocaram 4 mil nas livrarias. Essa participação, além de “democratizar” o acesso à obra, ajuda a viabilizar a venda do livro por preço mais acessível. As decisões na Odebrecht são completamente descentralizadas. Em qualquer contrato, em qualquer obra ou fábrica, o responsável pode tomar a iniciativa de apoiar um projeto cultural, sem restrição, desde que cumpra as orientações que estão na política. Por exemplo: as iniciativas muito restritas às comunidades locais podem acontecer, mas, no mínimo, devem ter alguma ligação com a atuação externa. Isto porque se nós queremos contribuir para a formação da imagem, não adianta apoiar uma iniciativa em Goiás Velho que não vai ser compreendi- da em Nova York. Vale destacar que a organização apoia iniciativas culturais por filosofia e não pela existência de incentivos fiscais. Por isso, apenas o uso de incentivos fiscais é decisão restrita aos Conselhos de Administração das empresas. No começo de 1998, o Ministério da Cultura fez uma festa no Masp para entregar um diploma para as empresas que usaram as leis de incentivo no ano passado. Em 1995 foram 76; em 96 foram 250; em 97 foram mil. Por isso resolveram dar os diplomas. Só a Odebrecht tinha investido naquele ano US$ 3 milhões e foram usados US$ 70 mil de recursos incentivados. No caso da Odebrecht, é uma questão filosófica. Na Odebrecht, a opinião a respeito das leis de renúncia fiscal é de que, na verdade, elas representam uma forma de subsídio às empresas. E quem apoia educação e cultura por convicção não precisa desse tipo de incentivo. O investimento na área social decorre da convicção do empresário de que a responsabilidade social das empresas é produzir bens e serviços para a comunidade, pagar impostos e gerar oportunidades de trabalho. Entretanto, enquanto organismos sociais, as empresas precisam assumir responsabilidades adicionais às que citei, e a Odebrecht optou por dois campos: as ações no campo da educação, por intermédio da Fundação Odebrecht, e os investimentos em projetos culturais. Reconheço que o caminho está se alargando e cada vez mais as empresas investem. Uma indicação segura disso é que cada vez mais se amplia a divulgação do Balanço Social. Está em curso uma discussão para que se encontre um formato, um jeito para as empresas revelarem para a sociedade o que têm feito na área chamada social. E isso por quê? Porque as empresas têm feito muita coisa; simplesmente não têm encontrado as fórmulas de divulgar. Quando Betinho levantou a bandeira do Balanço Social, no Rio de Janeiro, na verdade queria incentivar as empresas a assumirem alguns papéis – como ele fez com toda a sociedade brasileira. Mas ele também estava lembrando que existem empresas fazendo muita coisa, e que o exemplo seria útil para difundir e multiplicar esse tipo de iniciativa. São duas as razões pelas quais há cinco anos a Odebrecht publica o seu Balanço Social: > a primeira, de caráter ideológico – baseada na premissa de que os recursos que as empresas utilizam – co- INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 78 79 nhecimento, pessoas e riquezas naturais – pertencem à humanidade. Logo, a cobrança da sociedade sobre como são “explorados” e como revertem para esta mesma sociedade é legítima; > a segunda, de caráter negocial – baseada na premissa de que um capitalismo saudável só pode ser construído sobre uma economia de mercado em que haja trans- A AMIL TRABALHA PARA TER 6,8 MILHÕES DE CASES DE SUCESSO parência, confiabilidade e informação no tempo certo, baseado na convicção de que a saúde de uma empresa também é medida pela valorização e desenvolvimento de seus integrantes; pelos compromissos sociais que assume na comunidade (além dos inerentes à natureza de seus negócios) e pelos cuidados com que trata o meio ambiente. Ter uma gestação tranquila, viver uma vida saudável, chegar à terceira idade com vitalidade. Para a Amil, case de sucesso é ver cada um dos seus 6,8 milhões de clientes com qualidade de vida. Porque é com saúde que se tem histórias para contar. O MAIOR PLANO DE SAÚDE DO PAÍS. Márcio Polidoro é jornalista e publicitário, com licenciatura em Letras e em Pedagogia. Atua desde 1998 na Odebrecht S/A., onde exerce o cargo de diretor de Comunicação Empresarial. amil.com.br INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 FUNDAÇÃO ROBERTO MARINHO 80 81 EDIÇÃO FUNDAÇÃO ROBERTO MARINHO (Edição 19 / Março-Abril de 2000) CASE STUDIES REVISTA BRASILEIRA DE MANAGEMENT Ana Lúcia da Costa e Silva José Roberto Whitaker Penteado FUTURA – O CANAL DO CONHECIMENTO A Fundação Roberto Marinho foi criada em novembro de 1977, numa iniciativa das Organizações Globo. O que norteou sua fundação foi a ideia de aproveitar a expertise dos diversos veículos de comunicação que compõem o grupo em prol da transformação da realidade social brasileira – com foco na educação. Esse ideal reflete-se na missão da instituição: “contribuir, através do uso dos meios de comunicação, para a solução dos problemas educacionais da maioria da população brasileira.” A Educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Constituição da República Federativa do Brasil Artigo 205 No início de 1978, a Fundação Roberto Marinho lançou o Telecurso 2º Grau – programa para educação de adultos a distância realizado em parceria com a Fundação Padre Anchieta, da TV Cultura de São Paulo. Foi a primeira iniciativa que usou os recursos da televisão de entretenimento para a educação formal. Aproveitando toda a experiência da Rede Globo na produção de programas de grande sucesso de público, o Telecurso utilizava a linguagem da televisão comercial e o apelo de grandes astros da televisão – como Francisco Cuoco, Paulo Gracindo e Antônio Fagundes – na transmissão do conteúdo do curso regular de 2º grau, preparando os “tele-estudantes” para os exames supletivos. As aulas eram apoiadas por fascículos semanais, vendidos a preços acessíveis, disponíveis nas bancas de quase 3 mil municípios brasileiros. O projeto logo se revelou um sucesso. Em sua etapa inicial, o “Telecurso 2º Grau” já mantinha uma média de venda de 100 mil fascículos semanais, e a audiência média dos programas na TV apontava para um acompanhamento diário de 800 mil famílias – sugerindo que, independentemente dos alunos interessados em prestar os exames supletivos, havia uma grande quantidade de pessoas utilizando o Telecurso como forma de reciclagem ou nova possibilidade de estudos. Em 1980, o Banco Mundial afirmou que o Telecurso 2º Grau era um exemplo de que métodos de educação a distância podem efetivamente reduzir custos e ampliar as oportunidades de acesso à educação, defendendo a expansão de programas do gênero. Diante do sucesso da iniciativa, em 1981 a Fundação Roberto Marinho decidiu estender o projeto ao ensino fundamental, lançando o Telecurso 1º grau. Ao longo de todos esses anos, o Telecurso tem auxiliado estudantes, trabalhadores e donas de casa em sua busca por conhecimento e educação. Nas provas de supletivo, os candidatos que se preparam assistindo ao Telecurso apresentam desempenho superior ao daqueles que estudam por outros meios. Hoje, o programa foi reformulado – sendo denominado Telecurso 2000 – utilizando linguagem e ritmo adequados aos dias atuais. A experiência do Telecurso constituiu-se em embrião do projeto educacional de maior alcance já realizado no Brasil: o Canal Futura, inaugurado em 22 de setembro de 1997. O PROBLEMA A Unesco classifica o Brasil entre os países de pior desempenho na área educacional. Os dados da educação brasileira, fornecidos pelo Ministério da Educação e pelo IBGE, são verdadeiramente alarmantes: > 20 milhões de pessoas com mais de 14 anos são analfabetas; > 50 milhões de adultos não terminam as primeiras séries do primeiro grau. São considerados analfabetos funcionais; > Dos 14 milhões de crianças brasileiras entre 3 e 6 anos, 10 milhões não frequentam a pré-escola, maior causa de repetência e evasão no ciclo básico, segundo o Ministério da Educação; > Apenas 3% das crianças matriculadas fazem o curso básico nos oito anos regulamentares. Na 1ª série, a repetência atinge 52%; > De cada 100 alunos que ingressam no 1º grau, apenas 33 concluem a 8ª série, levando em média 11 anos para completar o curso. tabela 1 Em cada grupo de 100 estudantes, quantos completam o 2º grau? PAÍSES PERCENTUAIS Panamá 87% Paraguai 68% Bolívia 64% Brasil 33% Os reflexos desse quadro na economia são avassaladores. Pode-se ter uma ideia do impacto da educação no desenvolvimento econômico através do exemplo do Paquistão e da Coreia do Sul. No início da década de 1960, esses dois países tinham PIBs semelhantes. Em 25 anos, o PIB coreano cresceu três vezes mais que o paquistanês. O principal motivo dessa disparidade: a educação. Na Coreia, 94% das crianças estão na escola, enquanto no Paquistão, apenas 30%. Em 1996, um relatório da ONU afirmou que “nenhum país consegue uma transformação cultural da economia sem elevar os níveis de educação básica”. Estudos do Banco Mundial indicam que um crescimento de 1% no tempo de escolaridade da força de trabalho pode levar a um aumento de até 4% na produtividade em apenas um ano. O despreparo da força de trabalho brasileira vem sendo apontado como um dos principais entraves para o desenvolvimento brasileiro. Mais uma vez, as estatísticas são assustadoras: > O trabalhador brasileiro tem, em média, 3,6 anos de escolaridade. Na Coreia, por exemplo, o trabalhador frequenta a escola por, no mínimo, sete anos; > A população economicamente ativa é formada por 71 milhões de pessoas, das quais 20% são analfabetas, e 60%, analfabetas funcionais; > Um em cada três trabalhadores não é capaz de ler um manual simples sobre sua atividade profissional; > Dos trabalhadores com carteira assinada, 16% não passaram da 1ª série, e 51%, da 4ª série. Para o Brasil deixar de ser o eterno país do futuro é preciso uma transformação radical no quadro da educação brasileira. E, mais do que ensino formal, é importante INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 FUNDAÇÃO ROBERTO MARINHO 82 83 condições de tornar efetivamente a televisão um instrumento de transformação da realidade social. tabela 2 População matriculada na faixa etária correspondente a cada nível educacional PAÍSES primário secundário superior Brasil 88% 39% 12% Chile 94% 72% Coreia 100% 88% Japão 100% 97% EUA 100% 90% proporcionar aos brasileiros acesso a conhecimentos que contribuam para o desenvolvimento de sua capacidade de interferir na realidade social. Em suma: o desenvolvimento da cidadania. A experiência bem-sucedida do Telecurso mostrava que era possível aproveitar produtivamente a linguagem da televisão comercial em favor da educação. E era possível fazer ainda mais. A presença da televisão na vida dos brasileiros é enorme. Dos 42 milhões de domicílios do país, 36 milhões têm aparelhos de TV e 10 milhões, videocassete. A indústria de eletrodomésticos vende, anualmente, cerca de seis milhões de aparelhos de televisão, o dobro do número de geladeiras. O país conta com mais de seis milhões de antenas parabólicas, e outras 70 mil são instaladas a cada mês – 25% delas nas regiões Norte e Nordeste. Em média, os telespectadores passam quatro horas por dia assistindo televisão. Entre as crianças de 6 a 11 anos, o hábito é ainda mais difundido: entre 3 e 5 horas nos dias de semana e entre 6 e 8 horas aos sábados e domingos. Mais tempo do que passam normalmente na escola. O potencial da televisão para a educação é enorme. Mas, paradoxalmente, um país que possui carências educacionais tão flagrantes e tem na televisão um de seus principais aspectos culturais, como o Brasil, só percebe a TV como fonte de entretenimento e lazer, não a utilizando como instrumento didático, nos moldes do que ocorre em países desenvolvidos. Esse foi o desafio enfrentado pela Fundação Roberto Marinho: criar um canal de televisão exclusivamente voltado para a formação educacional e cultural do brasileiro, respeitando as exigências dos telespectadores, acostumados a uma programação televisiva de alto nível técnico, inclusive pelos padrões internacionais – criando assim as Futura, O Canal do Conhecimento 23% Estava lançada a semente para a criação 40% do Futura. Com a disseminação no país das 31% televisões por assinatura, o projeto podia 76% ser concretizado. Isso porque a criação de uma emissora de televisão aberta envolve uma gama de entraves legais – é necessário obter uma concessão pública para a operação, a cobertura nacional só pode ser feita através de emissoras afiliadas – e volume de investimentos que inviabilizariam a iniciativa. Decidiu-se, assim, pela criação de um canal de televisão fechado, cujo sinal pode ser recebido por meio de antenas parabólicas, miniparabólicas (Sky/Net) ou cabo. O Futura é um canal de televisão com transmissão ininterrupta, de cunho educativo, difundindo conhecimentos aplicáveis ao cotidiano da população. Trata-se do primeiro empreendimento totalmente privado na área de TV educativa. O Futura é produzido pela Fundação Roberto Marinho, transmitido pela Globosat e tem por parceiros Banco Itaú, Confederação Nacional da Indústria, Confederação Nacional do Transporte, Fiesp, Firjan, Fundação Bradesco, Fundação Odebrecht, Grupo Votorantim, Instituto Airton Senna/Compaq, Rede Brasil Sul, Rede Globo, Sadia Concórdia, Sebrae/Nacional, Fundação Vale do Rio Doce e Turner Broadcasting System/CNN. A escolha do nome foi cuidadosa, orientada por pesquisas. Os estudos indicaram que as pessoas reagiam negativamente a uma emissora de televisão de cunho educativo que fizesse menção ao ensino no nome – como sala de aula, professor, escola ou educação. Como outros povos, os brasileiros tendem a afastar-se de programas televisivos de conteúdo educativo explícito. O nome Futura mostrou-se perfeito. Não só por superar as barreiras à ideia de canal de televisão educativo, mas por abrigar a essência do projeto: a construção de um futuro melhor para todos os brasileiros. OBJETIVOS A missão do Futura foi assim definida: “Contribuir para a formação educacional da população e possibilitar o acesso ao conhecimento, visando o desenvolvimento das capacidades básicas de iniciativa do cidadão e sua participação social.” O objetivo do projeto é contribuir para sanar o déficit educacional brasileiro. Não se trata, contudo, de uma tentativa de, simplesmente, oferecer a educação para a população como se essa pudesse ser entendida como um “produto acabado”. O Canal Futura, diferentemente dos canais convencionais, não limita seus objetivos a alcançar os índices de audiência pretendidos. Ao contrário, sua proposta é a de promover a mobilização de toda a sociedade na solução dos problemas educacionais. A ideia é incentivar a população a apropriar-se da programação oferecida, utilizando-a de acordo com a realidade de cada grupo social, ou até mesmo de cada indivíduo. A filosofia básica, que norteia todas as ações relacionadas ao Futura, é a de que os problemas educacionais brasileiros só poderão ser resolvidos quando a própria sociedade tomar para si a responsabilidade de mudar a sua realidade. E, através do Futura, ela passa a contar com um importante aliado para essa mobilização em torno da educação. O projeto é norteado por quatro compromissos básicos: Com o espírito comunitário Incentivando a solidariedade e a participação dos cidadãos na construção da sociedade, o compromisso com o bem comum, desenvolvendo a compreensão da importância do papel de cada indivíduo e do seu grupo na solução dos problemas. Com a ética Resgatando o respeito aos valores éticos, aos direitos dos cidadãos; incentivando a responsabilidade individual diante da sociedade e perante os governos. Com o espírito empreendedor Valorizando a iniciativa individual, o risco, a tomada de decisão; incentivando a responsabilidade de cada um no seu próprio crescimento e no desenvolvimento de seu país. Com o pluralismo cultural e educacional Refletindo a diversidade das manifestações culturais e didáticas, as diferenças do fazer e do pensar do brasileiro, transmitindo a noção de que a cultura brasileira não é eliminatória, mas somatória. PÚBLICOS-ALVO O Futura é voltado para a população brasileira de modo geral, independentemente de idade, classe socioeconômica ou região de moradia. Diretamente, são três os segmentos atingidos – audiência dirigida, possuidores de antena parabólica e assinantes Net –, representando um público potencial de mais de 30 milhões de pessoas. Audiência dirigida Instituições públicas ou privadas de todo o país que sejam direta ou indiretamente relacionadas à educação e formação de crianças, jovens e adultos – e os profissionais que atuam diretamente com o público. Dentre essas instituições e profissionais, destacam-se, como alvo principal das ações do Futura, as escolas e os professores. Mas o canal também é voltado para hospitais, creches, associações comunitárias, sindicatos, penitenciárias, igrejas, entre outros. Para esse público, o Futura visa tanto à capacitação e reciclagem dos profissionais envolvidos com a educação e treinamento da população como a fornecer instrumentos que facilitem a transmissão dos conhecimentos. Desse modo, as ações do Futura visam a qualificar os profissionais e, ao mesmo tempo, fornecer material didático – os programas exibidos – que auxiliem no seu dia a dia. As características do Brasil – repetindo o lugar-comum, trata-se de um país-continente – e a própria pluralidade de objetivos do projeto fazem com que o perfil deste segmento seja extremamente heterogêneo. Desde professores dos mais afastados rincões do país – que têm na televisão e no Futura uma de suas únicas fontes de informação – até profissionais que atuam nos grandes centros urbanos – que convivem com um emaranhado de fontes de informação não sistematizadas e, portanto, de difícil utilização no cotidiano com a população – são beneficiados pelo canal. Possuidores de antena parabólica O sinal do Futura pode ser captado em qualquer residência que possua uma antena parabólica instalada, INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 FUNDAÇÃO ROBERTO MARINHO 84 85 fita gravada com material didático custa, no mínimo, R$ 15,00, enquanto uma fita Média diária de audiência de televisão virgem pode ser comprada a R$ 2,00. Além disso, em muitas regiões brasileiras, há di2ª a 6ª sábado domingo ficuldade de acesso e o transporte é caro, Adultos 3,9 4,8 5,9 problema que pode ser minimizado com Jovens 3,6 3,9 4,6 a simples instalação de antena parabólica, Crianças Entre 3 e 5 Entre 6 e 8 Entre 6 e 8 televisão e videocassete, num investimento de cerca de R$ 900,00. E é assim que o Futura alcança seu público final: estuo que representa cerca de seis milhões de domicílios e dantes, adultos com baixa escolaridade que querem remais de 21 milhões de telespectadores. Esse segmento tomar os estudos, trabalhadores em busca de reciclagem é composto predominantemente por famílias de classe profissional, presidiários em preparação para o retorno à média baixa, localizado principalmente naquelas regiões vida em sociedade, entre outros grupos da população que em que a recepção dos sinais das emissoras de TV aberta são atingidos pelo projeto por intermédio de instituições não é de qualidade – cidades do interior e periferia das cadastradas e profissionais treinados pela Fundação Rograndes cidades. berto Marinho. tabela 3 Assinantes Net e Sky/Net O Canal Futura está disponível para os assinantes da operadora de TV a cabo Net – cerca de 1,8 milhão de domicílios – e da Sky/Net, através de miniparabólicas – aproximadamente 100 mil assinantes. Esse público representa 6,5 milhões de telespectadores, principalmente das classes média e média alta. Público indireto O principal público visado pelo projeto não são aquelas pessoas que têm acesso, em primeira mão, à programação exibida. O que caracteriza o Futura é seu aspecto multiplicador. A ideia básica do projeto é ser mais que um canal de televisão, tendo sido concebido como um canal de distribuição de programas de apoio à educação e transmissão de conhecimentos. Além do recebimento dos sinais através da Net e de antenas parabólicas, a Fundação Roberto Marinho autoriza – e incentiva – a retransmissão dos programas por emissoras de televisão com compromisso social, públicas ou privadas. Mais importante, o público é incentivado a gravar os programas, sendo fornecidas, junto à divulgação do canal, informações que orientam a gravação. Assim, as escolas e instituições são estimuladas a formar videotecas dos programas transmitidos, montando um acervo próprio de material didático para apoio das atividades de ensino e orientação da população. Para se ter ideia da economia que pode representar essa prática, uma ESTRUTURA DO FUTURA Programação O Futura não difere, na forma, dos demais canais de televisão convencionais. Sua grade de programação abriga os tipos de programa normalmente presentes na televisão – e com os quais os telespectadores já estão acostumados. O que o distingue é o conteúdo, totalmente voltado para a transmissão de conhecimento. E é esse o maior desafio que o canal enfrenta, conciliar forma e conteúdo percebidos como distintos e, até mesmo, antagônicos – a televisão, atraente mas com uma abordagem tradicionalmente mais superficial, e a educação, com restrições técnicas, tendendo a tornar o produto final maçante. Essa é uma questão que vem sendo enfrentada no mundo inteiro, e cuja solução passa, necessariamente, pela criação de um novo profissional: o educador que domina a linguagem e a técnica televisiva. No processo de criação e aperfeiçoamento do Futura, esse novo profissional está sendo formado. A preocupação básica é de que o canal seja sempre dinâmico, “alto astral”, desde o padrão visual até o conteúdo – apresentado de forma ágil e com profissionais de destaque da televisão convencional. A programação é definida por uma equipe de educadores e profissionais de televisão, que cuidam do conteúdo pedagógico e das formas de transmissão desse conteúdo. As 24 horas diárias da programação do figura 2 Futura incluem programas produzidos esevolução da audiência dirigida pecialmente para o canal, internacionais inéditos e do acervo de todos os parceiros. 5000 São exibidos programas para atualização de 4500 4000 educadores, telejornais, programas infantis, 3500 debates a partir da exibição de filmes, docu3000 2500 mentários, programas comunitários, séries 2000 para preparação de profissionais etc. Progra1500 1000 mas como “Globo Ecologia” e “Globo Ciên500 cia” foram reformatados para participar do 0 Jun/98 Out/98 Mai/99 Futura. Nos intervalos, são veiculados os Interprogramas. Trata-se de “programetes” de curta duração – enser Cultura, Oceanos, Descobrimento do Brasil, Patrimôtre 15 segundos e três minutos –, nos moldes dos anúnnio Cultural, Amazônia, Meio Ambiente, Música Brasileira cios publicitários, sempre voltados para a prestação de ou qualquer outro assunto educativo/cultural. Nesse dia, serviços. Nos interprogramas são abordados temas como são exibidos, ao longo da programação, diversos prograLíngua Portuguesa, Saúde, Segurança no Trabalho, Patrimas que versam sobre o tema em questão. mônio Brasileiro, Agenda Cultural, entre outros. Qualquer que seja o assunto, todos têm um só objetivo: informar ou prestar serviços de um jeito fácil e divertido. Foi também criado o Dia Temático. Uma vez por mês, a programação é dedicada a um tema especial – que pode Figura 1 Meios utilizados para comunicação com a central de atendimento Cartas 8% Correio eletrônico 32% Telefone 60% Mobilização comunitária A mobilização comunitária é um dos grandes diferenciais do Futura. Afinal, o projeto prevê a participação ativa das comunidades, que devem desenvolver suas próprias formas de utilização da programação oferecida pelo Canal do Conhecimento. Na prática, isso implica a formação de grupos e a seleção de mobilizadores voluntários dentro das comunidades. Essas pessoas, representando as instituições interessadas na recepção do canal, são treinadas por uma equipe de 44 mobilizadores do Futura – espalhados por todo o país. Os mobilizadores do Futura desenvolvem uma série de ações que visam a sensibilizar e organizar grupos e voluntários em escolas, creches, sindicatos, igrejas, empresas, hospitais, bibliotecas, penitenciárias e associações comunitárias. A interação entre o canal e os agentes sociais dessas instituições desenvolve-se através de ações diretas e com a utilização de diversas mídias e meios. Em visitas às instituições, os mobilizadores orientam sobre a forma de recepção do sinal do Futura, sugerem meios de levantar recursos, no caso de necessidade de aquisição de antena parabólica, aparelho de televisão e videocassete, orientam sobre a melhor forma de utilização do conteúdo da programação, desenvolvem trabalho INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 FUNDAÇÃO ROBERTO MARINHO 86 87 de capacitação dos orientadores e avaliam os resultados obtidos. A proposta de trabalho para utilização da programação é construída localmente pelos diversos públicos, considerando suas especificidades, interesses, prioridades e os princípios educativos do canal. Dessa forma, cada público planeja sua forma de organização para a recepção e interação com o Futura. São também promovidos seminários e eventos locais, reforçando os laços com o Futura e integrando as instituições participantes, o que proporciona a troca de experiências e, consequentemente, o aprimoramento na utilização dos instrumentos didáticos oferecidos pelo canal. Os Dias Temáticos são uma grande oportunidade para as ações de mobilização. Os mobilizadores estimulam todas as instituições participantes a desenvolver atividades relativas ao tema abordado, gerando um maior envolvimento entre o Futura e a sociedade e incentivando o debate e troca de opiniões sobre o assunto em pauta. As atividades desenvolvidas em cada localidade ajudam a divulgar a proposta do Futura, fazendo com que novas instituições entrem em contato com o Canal do Conhecimento. Central de Atendimento A integração entre o Futura e seu público é fundamental para a dinâmica da programação – que muda de acordo com as necessidades e exigências do seu telespectador. O canal transmite conhecimentos e procura relacionar-se com seu público de várias maneiras. Um dos canais de comunicação é a Central de Atendimento ao Telespectador (CAT). Esta central é ponto de referência obrigatório, por exemplo, para quem deseja ser mobilizador ou quer recepção gratuita do canal. Internet O Futura conta também com um site na internet – www.futura.org.br – que apresenta informações detalhadas sobre o canal: cadastramento de instituições, recepção do sinal, programação, entre outros. Além disso, também na internet está presente a preocupação com a prestação de serviços. A cada Dia Temático, por exemplo, são oferecidas alternativas de pesquisa para pessoas interessadas em aprofundar-se no assunto abordado, como artigos ou links para sites sobre o tema. O grande desafio é oferecer um site interativo e proativo. Uma das formas desenvolvidas para estimular a participação do público são as promoções desenvolvidas nos dias temáticos. Ao visitar a homepage, as pessoas são estimuladas a enviar mensagens, frases sobre o tema abordado, desenhos, concorrendo a brindes. Hoje, o site do Futura já é reconhecido como uma fonte de informação extremamente importante para educadores e estudantes. E a meta é fazer com que se torne, cada vez mais, referência para todo o público-alvo do canal. Núcleo de Pesquisa Um dos pontos essenciais para o sucesso da iniciativa é o acompanhamento regular da reação dos diversos públicos atendidos pelo Futura, de modo a orientar os ajustes necessários – na programação e nos veículos de comunicação com o público – de modo a adequar o canal às necessidades da sociedade, num aperfeiçoamento contínuo. O Futura conta, assim, com um núcleo de pesquisa responsável pela realização de levantamentos dos índices de audiência e, principalmente, do atendimento das expectativas e necessidades dos diversos públicos atingidos. Uma pesquisa sobre a satisfação com a programação – realizada junto à audiência dirigida – indicou que os programas oferecidos vêm tendo uma avaliação bastante positiva. A nota média conferida aos programas, numa escala de 1 a 5, foi 4,3. E os estudos vêm trazendo importantes sugestões para o aprimoramento do canal, como a solicitação de inclusão de programas sobre saúde, educação escolar e direitos do consumidor, que estão sendo introduzidos na programação. Outro exemplo da importância da realização das pesquisas para o aperfeiçoamento do projeto foi a identificação – em levantamento realizado junto à audiência dirigida em 1998 – de que havia uma demanda por indicação mais detalhada do conteúdo dos programas, bem como dicas para sua utilização. Alguns profissionais que utilizavam a programação do Futura encontravam, por vezes, dificuldades para identificar a faixa etária e tipo de público a que cada programa se destinava. Além disso, alguns professores se ressentiam da falta de sugestões de como integrar os programas ao conteúdo programático dos cursos regulares. Para solucionar esse problema, em agosto de 1999 os programas passaram a apresentar cartelas de utilização pedagógica, que aparecem no início e no fim de sua exibição. A primeira, indicando o público-alvo, temática e palavra-chave. Já a cartela apresentada ao final contém uma sugestão de utilização pedagógica para o tema enfocado no programa. Trata-se apenas de uma dica, sem pretensão de limitar as outras possibilidades de utilização do vídeo. A sugestão é dada por professores e profissionais da área, que levantam questões, reflexões e desdobramentos. É também apresentada indicação bibliográfica, para que os educadores possam aprofundar-se sobre o tema. Nesse processo de aperfeiçoamento, o Canal Futura vem-se aproximando, cada vez mais, do seu ideal de contribuir de uma forma decisiva para o completo equacionamento das graves distorções da educação brasileira. Comunicação A divulgação do Futura para o público em geral é feita através da campanhas publicitárias criadas pela agência de propaganda Ogilvy & Mather Brasil, em que são usados filmes de televisão, spots de rádio e anúncios de mídia impressa. Na fase inicial, a comunicação do Futura concentrou-se em apresentar o canal como uma fonte moderna e atualizada de conhecimento. Em seguida, a comunicação voltou-se para a construção da marca, visando aumentar Figura 3 Finalidade das mensagens Elogios 10% Sugestões Críticas 3% 6% Pedidos/ Contribuições 11% Consultas 70% o reconhecimento e reforçar a marca Futura na lembrança das pessoas. Atualmente, o objetivo é divulgar o Futura como um canal útil no dia a dia. Um canal que estimula o público a gravar os programas e usar as fitas para multiplicar o conhecimento. Para a Audiência Dirigida, além do contato pessoal estabelecido pelos mobilizadores, são usados, para comunicação com as instituições e profissionais, anúncios de rádio e televisão, revista bimensal, cartazes, faixas, telefone, internet e o próprio canal. Os parceiros são constantemente mantidos informados sobre as realizações do Futura e seus resultados, através de boletins informativos periódicos. Resultados > O que torna uma pessoa melhor? > O que faz ela crescer? > O que faz ela vencer? > O que faz ela mudar? Desde o primeiro dia no ar, o Futura vem respondendo a estas perguntas com uma programação educativa e uma série de ações de mobilização comunitária orientadas para o desenvolvimento da sociedade, a promoção da cidadania e a melhoria da qualidade de vida. Cerca de dois anos se passaram desde a criação do Futura. E os resultados obtidos até agora são extremamente animadores, indicando que a televisão pode, efetivamente, contribuir para a democratização da educação no Brasil. Contando as pessoas atingidas direta e indiretamente pelo programa, o Futura beneficia, ao todo, entre 4 e 5 milhões de brasileiros. Atualmente, são 4.710 instituições cadastradas – entre elas escolas, fábricas, presídios, creches, associações de moradores, igrejas etc. – em todo o país, que recebem gratuitamente o sinal Futura. Nessas instituições, cerca de 185 mil profissionais foram capacitados a fazer uso da programação, estando aptos a aproveitar os recursos oferecidos no ensino e orientação da população. Para os telespectadores que captam os sinais por antena parabólica, a Fundação Roberto Marinho ainda não conta com sistema de aferição da audiência. Já está sendo iniciada, contudo, a realização regular de pesquisas junto às famílias que recebem os sinais de televisão por satélite. Assim, em pouco tempo, será possível quantificar o INSIGHTCase Studies A Positivo recomenda o Windows 8. SETEMBRO/OUTUBRO 2013 88 89 número de telespectadores desse grupo que vem sendo atingidos pelo Futura. Entre os assinantes Net, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha, em novembro de 1998, dentre os 31 canais oferecidos, o Futura situa-se como o 13º mais assistido – à frente de canais como ESPN, de esportes; Shoptime, de compras; Teleuno, de variedades; entre outros –, chegando a atingir 21% dos assinantes no período de um mês, o que representa uma audiência de cerca de 1,3 milhão de telespectadores. Esses dados são ainda mais expressivos quando se leva em conta que o Futura tem pouco mais de um ano e meio de existência, período extremamente curto para a consolidação de um canal de televisão – que envolve o estabelecimento de novos hábitos de audiência por parte dos telespectadores, processo tradicionalmente lento. Mas o resultado mais importante é a utilização dos recursos oferecidos pelo Futura para o ensino e orientação de estudantes, trabalhadores, entre outros. Pois, curiosamente, é esse contingente indiretamente atingido pelo canal – através das instituições e profissionais que recebem a programação do canal e a orientação dos mobilizadores para sua utilização – que constitui, em verdade, seus beneficiários diretos. E, hoje, o Canal do Conhecimento já beneficia, diretamente, cerca de 2,5 milhões de brasileiros. Através da Central de Atendimento do Telespectador, é possível avaliar a repercussão do projeto junto ao público. A grande maioria das mensagens recebidas refere-se a consultas sobre o Futura e sua programação, mostrando que o canal vem efetivamente mobilizando seus expectadores, que procuram obter o máximo de benefícios com a iniciativa. E as mensagens de elogio e incentivo vêm supe- rando em muito as críticas – que são também importantes, por auxiliar no aperfeiçoamento do Futura. Os depoimentos a seguir ajudam a demonstrar a importância do Futura para as pessoas envolvidas no projeto: A CPU NÃO SUMIU. SUA TELA AGORA É UM COMPUTADOR COMPLETO. ECONOMIA DE ENERGIA “O Canal Futura sempre foi o sonho de quem lida com meios tecnológicos a serviço da educação, passando conhecimento de maneira lúdica e prazerosa.” Teresa Farias Mobilizadora Comunitária/PE MENOS FIOS E ECONOMIA DE ESPAÇO “Trabalho integralmente junto à mobilização, e posso dizer que fiz do Futura a minha profissão.” Márcia Pires Mobilizadora Comunitária/BA WEBCAM HD Wi-Fi REDE SEM FIO “Trabalhar em um veículo como o Canal Futura é tudo o que eu queria, ser útil para a sociedade através do que eu faço.” Stênio Garcia Apresentador do programa “Brava Gente Brasileira” “Num país populoso e de dimensões continentais como o Brasil, precisamos contar com um persistente e competente esforço de comunicação que desperte o necessário compromisso ético e a indispensável vontade política de cada brasileiro, para construirmos o futuro educacional que merecemos ter. O Canal Futura tem sido uma potente expressão deste desafio, levando a educação para o cotidiano familiar, estudantil, profissional e comunitário de milhões de pessoas em nosso país.” Viviane Senna Instituto Ayrton Senna – Instituição parceira do Futura 3D SOFTWARE 3D CHEGOU O NOVO COMPUTADOR TUDO-EM-UM DA POSITIVO. Mais espaço para sua casa e mais diversão para sua família. Positivo Union K3235 Processador Intel® Core™ i3 Windows 8 HD 320GB - 4GB de memória RAM Tela LED 18,5” widescreen HDMI Som Estéreo e Microfone Integrados DVD-RW e Leitor de Cartões Acompanha um óculos 3D Saiba mais sobre este computador em mundopositivo.com.br/union Curta fb.com/positivoinformaticaoficial Ana Lúcia da Costa e Silva é formada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com mestrado em Administração de Empresas pelo Coppead. É consultora de Marketing na área de Pesquisa de Mercado. José Roberto Whitaker Penteado é economista, consultor e jornalista especializado em Marketing e Comunicação. Atualmente exerce o cargo de vice-presidente da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Siga twitter.com/positivo_info Inscreva-se youtube.com/computadorespositivo PENSE POSITIVO. © 2013 Positivo Informática S.A. Todos os direitos reservados. Os computadores Positivo têm garantia balcão de um ano para peças e mão de obra, sendo nove meses de garantia contratual e 90 dias de garantia legal. Para acessar a internet, o cliente deve possuir uma linha telefônica fixa ativa e arcar com os custos de pulsos e/ou interurbanos ou contratar o serviço de banda larga de sua preferência, adquirindo os periféricos necessários para o uso do serviço. Microsoft® e Windows® são marcas registradas da Microsoft® Corporation nos EUA e em outros países. Copyright © 2013, Intel Corporation. Todos os direitos reservados. Ultrabook, Celeron, Celeron Inside, Core Inside, Intel, Logotipo Intel, Intel Atom, Intel Atom Inside, Intel Core, Intel Inside, Logotipo Intel Inside, Intel vPro, Itanium, Itanium Inside, Pentium, Pentium Inside, vPro Inside, Xeon, Xeon Phi e Xeon Inside são marcas registradas da Intel Corporation nos Estados Unidos e em outros países. Produto beneficiado pela legislação de informática. Imagens meramente ilustrativas. Outubro/2013. mundopositivo.com.br INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 CPFL 90 91 EDIÇÃO CPFL (Edição 37 / Março-Abril de 2003) CASE STUDIES REVISTA BRASILEIRA DE MANAGEMENT Augusto Rodrigues Um combate ao desperdício com foco na conscientização A Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) e o Instituto Cultural Mauricio de Sousa se uniram para conscientizar a população infantil na faixa de 7 a 11 anos sobre a importância do Combate ao Desperdício de Energia Elétrica, com ênfase na preservação de recursos naturais. Para isto foi criada, através das escolas públicas e particulares de 1º grau, a figura do Agente Mirim de Combate ao Desperdício de Energia Elétrica. Este projeto está em total consonância com o Programa Educativo de Eficiência Energética e Meio Ambiente CPFL/PROCEL e, como ele, tem como objetivos gerais: > reduzir o desperdício de energia elétrica nas escolas e residências dos alunos envolvidos, contribuindo para ampliar a consciência da sociedade sobre a importância da utilização correta dos recursos energéticos renováveis e não renováveis; > contribuir para uma mudança de hábitos e comportamentos no uso da energia elétrica; > contribuir para a formação, no pequeno cidadão, do conceito de consumo consciente de recursos naturais; > levar alunos e professores a conhecer o processo de geração de energia elétrica; > otimizar os resultados técnicos dos investimentos da CPFL em seu sistema elétrico; > promover a imagem da CPFL perante seus clientes. A criança não é apenas informada; ela é conscientizada e sensibilizada sobre a importância de se consumir energia responsavelmente. Durante o período do projeto, a criança tem oportunidade de compreender, através de experiências e atividades, o que é a energia elétrica, com suas fontes e formas, e entende como ela é gerada, transmitida e distribuída. Sensibiliza- Estudantes da 1ª à 5ª série do ensino fundamental, estudantes de escolas públicas municipais e estaduais, e escolas particulares Serão beneficiadas escolas estaduais, municipais e algumas particulares, tendo como critérios básicos os interesses comuns da CPFL e do PROCEL no que tange ao potencial de sensibilização e combate ao desperdício de energia elétrica. A princípio, o projeto será aplicado nos municípios da área de concessão da CPFL – Paulista e da CPFL – Piratininga. A produção dos kits Tabela 1 leva em conta a previsão de alunos, professores e diretores das escolas envolviAgente mirim – total de envolvidos em escolas estaduais em 2001 das a cada ano de aplicação do projeto. Em seu primeiro ano de aplicação, Número de alunos em 2001, a CPFL aplicou o projeto em 1ª à 4ª série 5ª série Total Alumínio – Estadual 0 0 0 escolas das cidades paulistas de AmeAlumínio – Municipal 1.157 271 1.428 ricana e Piracicaba, para alunos da 1ª Araçariguama – Estadual 0 342 342 à 4ª série. Antes da aplicação efetiva Araçariguama – Municipal 0 0 0 dos treinamentos aos professores e do Aracoiaba da Serra – Est. e Munic. 0 511 511 material aos alunos, foram realizadas Aracoiaba da Serra – Est. e Munic. 1.794 0 1.794 Campo Lindo Paulista – Estadual 304 1.162 1.466 três reuniões preparatórias com direCampo Lindo Paulista – Municipal 6.959 519 7.478 tores e professores: uma em AmericaCapela do Alto – Est. e Munic. 220 341 561 na, com 80 professores municipais, e Capela do Alto – Est. e Munic. 1.785 0 1.785 duas em Piracicaba, com 50 diretores Cubatão – Estadual 3.354 879 4.233 de escolas estaduais e 40 professores Cubatão – Municipal 6.130 1.725 7.855 municipais. Indaiatuba – Estadual 5.101 3.456 8.557 Indaiatuba – Municipal 5.518 0 5.518 Foram treinados 33.055 alunos e Itupeva – Estadual 365 508 873 1.124 professores de 1ª a 4ª série da rede Itupeva – Municipal 2.237 0 2.237 pública municipal e estadual. Jundiaí – Estadual 0 4.826 4.826 Em 2002, a CPFL e o Instituto CultuJundiaí – Municipal 19.324 187 19.511 ral Mauricio de Sousa estão estendendo Mairinque – Estadual 0 355 355 a aplicação do projeto para a 5ª série do Mairinque – Municipal 3.983 345 4.328 Porto Feliz – Estadual 1.998 792 2.790 ensino fundamental. Também está prePorto Feliz – Municipal 1.103 0 1.103 vista a ampliação expressiva do número Praia Grande – Estadual 1.542 3.668 5.210 de cidades alcançadas nas áreas de conPraia Grande – Municipal 14.776 49 14.825 cessão da CPFL – Paulista e da CPFL – Salto – Estadual 6.236 1.701 7.937 Piratininga – Companhia Piratininga de Salto – Municipal 1.046 0 1.046 Santos – Estadual 1.153 2.952 4.105 Força e Luz. Até abril de 2002, o projeto Santos – Municipal 15.491 1.364 16.855 já estava em andamento em 16 cidades Sorocaba – Estadual 21.277 10.549 31.826 e alcançando cerca de 136 mil alunos. Sorocaba – Municipal 15.492 604 16.096 Até dezembro, a meta é atingir outras 22 Votorantim – Estadual 0 1.346 1.346 cidades do interior e litoral paulista e um Votorantim – Municipal 8.108 0 8.108 total de 200 mil crianças (Tabela 1). Total 146.453 38.451 184.904 -se quando percebe os impactos que a natureza sofre com sua produção e o custo de desfrutar desta forma de energia. Depois de entender, conscientizar-se e sensibilizar-se, a criança estará preparada para atuar como Agente Mirim. Como tal, difunde seus conhecimentos e atua no lar e na vizinhança, demonstrando formas práticas de combater o desperdício de energia. No fim do projeto, completadas suas tarefas de Agente Mirim, ela se gradua como agente especial, com certificado assinado pela CPFL. INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 CPFL 92 93 Em 2001 foram investidos R$ 212.000,00 na reformulação de conteúdo, impressão de material gráfico do kit, elaboração das maquetes, treinamento dos professores e acompanhamento das atividades, cerimônia de abertura e premiação e com apresentação de peças teatrais. Em 2002, serão aplicados R$ 300.000,00, visando a capacitação de quase 100 mil estudantes (40 mil agentes mirins), além de distribuir aproximadamente 70 mil cartilhas para os estudantes da 2ª à 5ª série, em 5 cidades da área de atuação da CPFL. Este número não considera os investimentos que estamos realizando na área da CPFL – Piratininga, em torno de R$ 400.000,00. A CPFL, o PROCEL e o Instituto Cultural Mauricio de Sousa, com a Turma da Mônica, cientes dos problemas relativos às questões energéticas, resolveram enfrentá-los de maneira séria e divertida. Com base na metodologia do PROCEL NAS ESCOLAS – “A natureza da paisagem – Energia – Recursos da vida”, propuseram executar este projeto com atividades recreativas, denominado Agente Mirim de Combate ao Desperdício de Energia Elétrica. Obviamente, como qualquer outra proposta pedagógica, o projeto “Agente Mirim de Combate ao Desperdício de Energia Elétrica” apoia-se em princípios fundamentados em algo maior: a educação para o consumo. De fato, de acordo com a Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental organizada pela UNESCO em Tbilisi, na Geórgia, este projeto está baseado em princípios de educação ambiental estabelecidos nesta conferência. AS AÇÕES DA CPFL A CPFL, há muito tempo, vem desenvolvendo uma série de programas de combate ao desperdício de energia elétrica e de preservação do meio ambiente em sua área de concessão, especialmente dirigidos para crianças e adolescentes de instituições de ensino público e privado do estado de São Paulo. A seguir, um breve histórico da evolução dos programas desenvolvidos pela CPFL, até chegarmos ao projeto Agente Mirim de Combate ao Desperdício de Energia Elétrica: 1984 Primeiro programa educativo da CPFL. Monitorado por funcionários da empresa para alunos da 5a série do 1º grau de escolas públicas e particulares, consistia de um projeto de Conservação de Energia Elétrica onde eram ministradas aulas sobre a utilização de energia elétrica de forma correta e de modo racional. 1988 Junto com os Estúdios Mauricio de Sousa, e patrocinado pela ELETROBRAS/PROCEL, a CPFL desenvolveu um projeto a partir do anterior. Além de ensinar como conservar energia elétrica e usá-la de modo nacional, os monitores também distribuíam material pedagógico, especialmente elaborado com os personagens criados por Mauricio de Sousa. Também era destinado a alunos do ensino médio da rede pública e particular. Ele adotava um método de trabalho que passou a ser denominado de “Metodologia da Turma da Mônica”, incluindo fitas de vídeo, maquetes de casas que simulam o uso de energia elétrica, revistas de história em quadrinhos, jogos adesivos, manuais e painéis medidores de eletricidade. 1993 Acordo de Cooperação Técnica entre o Ministério de Minas e Energia e o Ministério de Educação e dos Desportos cria o Programa de Educação Ambiental chamado de “A Natureza da Paisagem”, desenvolvido pelo Ministério de Minas e Energia, ELETROBRAS, PROCEL E CIMA. 1996 CPFL cria o Programa de Educação Ambiental “A Natureza da Paisagem”, baseado na nova metodologia criada em 1993 e fundamentado nos mesmos oito princípios estabelecidos na Primeira Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental de Tbilisi. 2001 Em parceria com o Instituto Cultural Mauricio de Sousa, é criado o Projeto Agente Mirim de Combate ao Desperdício de Energia Elétrica. POR QUE A TURMA DA MÔNICA? Os personagens de Mauricio de Sousa estão presentes nos lares há quase quatro gerações. Pais e filhos cresceram com a turminha “dentro de casa”. Todos estes anos, Maurício e seus roteiristas se inspiraram na vida cotidiana para criar seus roteiros, e as crianças projetam-se na ima- O projeto Agente Mirim de Combate ao Desperdício de Energia Elétrica tem uma série de atividades e experiências que deve ser realizada pelas crianças em sala de aula e nas suas residências gem de personagens com os quais se identificam. Mônica, Magali, Cascão, Cebolinha e tantos outros são crianças normais e saudáveis que erram, acertam, brincam, concorrem e ficam às vezes de mal e às vezes de bem. Essa turminha genuinamente brasileira também tem frequentado as escolas brasileiras já há algum tempo. Escolas públicas e particulares utilizam-se dos personagens de Mauricio de Sousa dentro das salas de aula. Muitas escolhem as histórias em quadrinhos para trabalhar conteúdos de Língua Portuguesa, História, Estudos Sociais, Ciências, além do incentivo à leitura e alfabetização. As revistas foram transformadas em um recurso valioso que, além de integrar as várias disciplinas, possibilita aos alunos discutirem com seus professores atitudes de respeito, justiça, solidariedade, responsabilidade e conscientização sobre seus direitos e deveres. Assim, suavemente e de forma lúdica, Mauricio de Sousa está plantando, ao longo dos anos, sementes saudáveis para que, no futuro, as crianças tornem-se adultos capazes de seguir seu próprio caminho, usar sua energia para alcançar metas, atuar com determinação para superar suas dificuldades e encontrar seu papel como cidadãos. MATERIAL DISTRIBUÍDO O projeto envolve aprendizado e diversão e complementa a proposta do PROCEL NAS ESCOLAS, que é fundamentado na metodologia da “Natureza da Paisagem”. Este conjunto de ações consiste da criação da figura do Agente Mirim de Combate ao Desperdício de Energia Elétrica nas escolas públicas e particulares de 1º grau. Ele tem como principal objetivo distribuir material gráfico para realização de experiências e elaboração de atividades lúdicas com alunos da 3ª e 4ª séries do ensino fundamental das redes pública e privada. O kit de peças gráficas, a ser distribuído, é totalmente elaborado com os personagens das histórias em quadrinhos da Turma da Mônica e é composto por: Manual do Professor Contém os princípios básicos do projeto e orientações para sua aplicação em sala de aula. Revista em quadrinhos sobre Energia Elétrica História bem-humorada com a turminha, que dá as noções básicas do projeto. Revista de Atividades e Experiências Reforça as informações e interage com a criança. Álbum de Figurinhas com os Fundamentos e Dicas de Combate ao Desperdício e Uso Correto e Seguro da Energia Elétrica Informa e determina cada uma das ações que o Agente Mirim irá executar. Folha de Dicas de Ações de Combate ao Desperdício e das Atitudes Seguras com a Energia Elétrica Resume e reforça as ações básicas de um Agente Mirim. Crachá de Agente Mirim Promove a identidade e motiva o aluno como participante ativo e importante no processo do combate ao desperdício de energia elétrica. Certificado Simbólico do Agente Especial Mirim Consolida o encerramento do programa em cada localidade e a capacitação de cada aluno como novo Agente, capaz de difundir seus conhecimentos. Carteirinha de Agente Especial Mirim Reconhecimento da capacitação do aluno. Jogo de Memória com Dicas Presente especial oferecido aos Agentes Especiais. O Agente Mirim deverá entrar em contato com temas relativos a energia através das experiências e atividades e INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 CPFL 94 95 o kit deverá abordar assuntos como história da energia, questões sobre o meio ambiente, as fontes e formas energéticas, dando atenção especial ao combate ao desperdício e à segurança no uso da energia elétrica. Ele deve ser aplicado nas salas de aula, após o professor ter participado do Projeto Procel nas Escolas. Um de seus objetivos é estimular ações constantes e contínuas no sentido de uma verdadeira mudança de hábitos em todos que estiverem envolvidos no programa. O projeto tem como uma de suas principais ações a premiação dos alunos que cumprirem o programa totalmente, atribuindo-lhes o título de Agente Especial de Combate ao Desperdício de Energia Elétrica. As crianças, após terem cumprido todas as etapas propostas pelo projeto, recebem a carteirinha, o jogo da memória e o certificado de Agente Especial, e se tornam representantes da CPFL e do Procel nas questões sobre o Combate ao Desperdício de Energia Elétrica. DETALHAMENTO DO CONTEÚDO Baseado na metodologia da “Natureza da Paisagem” e no Procel nas Escolas, o projeto utiliza os princípios fundamentais da educação ambiental de Tbilisi, que afirma a educação ambiental como um processo orientado para a resolução dos problemas concretos do meio ambiente através de enfoques interdisciplinares e de uma participação ativa e responsável de cada indivíduo e da coletividade. Toda a exposição do conteúdo, tanto aos professores como aos alunos, está organizada em cinco grandes temas: 1. A importância da energia, suas histórias, fontes e formas; 2. A energia elétrica: geração, transmissão e distribuição; 3. Os impactos ambientais e o custo da energia; 4. O combate ao desperdício de energia elétrica; 5. A segurança e os cuidados no uso da energia elétrica. Os kits impressos são doados às instituições que, por sua vez, distribuirão o material a todos os alunos de 3ª e 4ª série do ensino fundamental. A simples distribuição do material não é suficiente para que o projeto seja considerado satisfatoriamente aplicado. Ele deve ser entregue pelos professores para todos os alunos, após terem mi- nistrado os cursos do Procel nas Escolas na metodologia atual – “A natureza da paisagem”. O professor é um multiplicador do programa e deverá transmitir aos alunos os princípios e conceitos do combate ao desperdício, que, por sua vez, devem estar disseminando para seus pais e familiares os assuntos abordados na aula. A metodologia de multiplicação dos fundamentos é importante e constitui um efeito em cadeia que permitirá a ampla transmissão dos conhecimentos propostos pelo programa. DETALHAMENTO DOS MÓDULOS E DAS ATIVIDADES A cada grande tema, o projeto Agente Mirim de Combate ao Desperdício de Energia Elétrica tem uma série de atividades e experiências que deve ser realizada pelas crianças em sala de aula e nas suas residências. A importância da energia, suas histórias, fontes e formas No primeiro módulo, o professor deve apresentar os conceitos gerais sobre a energia, realçar a importância da energia para o ser humano, destacar as diferentes fontes e formas de energia e chamar a atenção para as formas de energia presentes no cotidiano. Aqui, ele também deve contar a história de como o homem dominou e utilizou as diversas formas de energia. Atividades relativas ao Módulo 1 Os alunos receberão o kit de material composto pelas seguintes peças: revista sobre energia elétrica, a revista de atividades, o álbum de figurinhas para anotações, a folha de 20 dicas de combate ao desperdício e o Crachá de Agente Mirim. Também recebe as figurinhas das páginas 2, 3, 4, 5, 6 para serem coladas no álbum. As atividades e experiências a serem desenvolvidas no caderno de atividades e no álbum tratam dos temas do módulo. As atividades são relativas às páginas de 2 a 7 da revista de atividades. A energia elétrica: geração, transmissão e distribuição A eletricidade é considerada a rainha das energias e, por isso, o professor deve mostrar que ela é a forma mais nobre de energia de nossos dias. Ele também deve explicar as formas de sua geração. Neste módulo, é reconstruído o caminho que a eletricidade percorre até os locais de consumo, identificando os equipamentos utilizados para produzir, transmitir, distribuir e consumir. Por fim, aborda-se o tema de aumento do conforto e da qualidade de vida, com exemplos práticos de uso da eletricidade na indústria, comércio, residências, iluminação pública, serviços públicos e agricultura. Os Agentes Mirins transformam-se em agentes especiais de combate ao desperdício de energia elétrica Atividades relativas ao Módulo 2 Aqui, ao desenvolver o tema de energia elétrica (geração, transmissão, distribuição e consumo), colam-se as figurinhas das páginas 6 e 7 do álbum e executam-se as atividades das páginas 8, 9, 10 e 11 da revista de atividades. Ao realizar a experiência do motor e o passatempo dos caminhos que a energia elétrica percorre, o aluno reconhece como a energia pode ser armazenada e como são complexos os processos de sua geração, transmissão, distribuição e consumo. Os impactos ambientais e o curso da energia Neste módulo, o professor deve analisar os principais problemas ambientais causados pela produção e transmissão de energia elétrica gerada pelas usinas hidrelétricas. Também deve refletir sobre a expectativa geral de aumento do consumo de eletricidade, em função do crescimento populacional, da aquisição de um número cada vez maior de eletrodomésticos, da substituição de outras formas de energia por elétrica e da retomada do crescimento econômico. E, finalizando esta atividade, o professor deve mostrar que os recursos financeiros de nosso país devem ter vários destinos, principalmente os sociais, e que os investimentos em energia costumam ser elevados. Atividades relativas ao Módulo 3 As figurinhas relacionadas aos impactos ambientais e aos custos da energia devem ser coladas. As atividades recreativas, neste módulo, serão a realização de uma redação sobre os impactos ambientais e a montagem de um painel de imagens na revista de atividades que será construído com recortes de jornais e revistas que os alunos irão colar. O professor deve estimular a troca de recortes e aproveitar a criatividade dos alunos para identificar situações de agressão ao meio ambiente. Neste módulo, também podem ser destacadas questões de cidadania e as ações individuais e coletivas que devemos ter na resolução de problemas energéticos e ambientais. O combate ao desperdício de energia elétrica O professor deve ressaltar que precisamos combater o desperdício de eletricidade, mostrar a diferença entre desperdício e racionamento da energia e realçar as vantagens de se combater o desperdício, em vez de sermos submetidos a qualquer tipo de penalização em relação ao uso da energia em nossa sociedade. Ele também deve explicar que temos duas formas de combater o desperdício: usar lâmpadas e equipamentos energeticamente eficientes ou modificar os hábitos de consumo, sendo que os dois modos devem ser enriquecidos com exemplos mostrando que isto não exige nenhum sacrifício e oferece recompensas. Neste módulo também devem ser destacados os maus hábitos e como devemos fazer para usar a energia disponível no planeta de forma correta e racional. Atividades relativas ao Módulo 4 Deve-se colar as figurinhas das páginas 9 até 20, todas associadas a atividades de combate ao desperdício de energia. No álbum de figurinhas, ao lado dos textos e das figurinhas, o aluno tem algumas linhas que deverão ser preenchidas com a descrição das atividades ou ações que ele efetivamente realizou em casa, relacionadas com o tema da figurinha. Na revista de atividades, as páginas a serem executadas são 14, 15 e 16. A segurança e os cuidados com o uso de energia elétrica No último módulo, o professor deve destacar os cuidados que devemos ter no uso da energia elétrica, como não tocar em fios de alta-tensão, cuidados com as instalações elétricas nas residências, instalação de antenas de TV e rádio, não soltar pipas perto dos fios elétricos, não usar benjamins, não deixar as crianças mexerem em equipamentos elétricos, enfim, todos os cuidados com o uso da energia elétrica. Neste item, devemos mostrar para as crianças o que devemos fazer para utilizar corretamente a energia elétrica e não sofrer os prejuízos causados pelo seu uso incorreto. INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 96 97 Atividades relativas ao Módulo 5 As atividades com segurança e os cuidados com o uso de energia elétrica devem ser ressaltados ao colar as figurinhas das páginas 20 a 24 e executar as atividades das páginas 17, 18 e 19. CONCLUSÃO Ao concluir todas as atividades e experiências propostas pelo projeto, isto é, completar o álbum de figurinhas, descrever as ações realizadas em casa e na sala de aula abordando cada item do Combate ao Desperdício de Energia Elétrica e da Segurança com o Uso da Energia Elétrica e realizar as experiências descritas na Revista de Atividades, os Agentes Mirins transformam-se em agentes especiais de combate ao desperdício de energia elétrica. A partir daí, eles estão aptos a receber o restante do material gráfico: a Carteirinha de Agente Especial, o Jogo de Memória e o Certificado de Conclusão de Atividades e passarem a Agente Especial. Desta forma, os alunos tornam-se habilitados, pela CPFL, pela Turma da Mônica a serem eternos defensores das causas e das questões energéticas e do meio ambiente. AGENTES PARTICIPANTES Alunos e professores das escolas públicas e privadas envolvidos com os projetos PROCEL nas Escolas e Agente Infantil, nas áreas de concessão da CPFL e da CPFL – Companhia Piratininga de Força e Luz. Parceria A participação dos alunos, dos professores, dos pais e da sociedade, visando ao Combate ao Desperdício de Energia, é fundamental para começarmos a enfrentar os problemas ambientais. A parceria institucional que realizamos para este projeto, entre a CPFL, o Instituto Cultural Mauricio de Sousa e a Empresa Factual – que realiza a capacitação de professores – garante os recursos necessários e o comprometimento verdadeiro e efetivo na obtenção de resultados satisfatórios. RESULTADOS OBTIDOS E IMPACTO SOCIAL Para o consumidor > Ações sobre o programa de combate ao desperdício de energia elétrica e a preservação do meio ambiente. > Mudança de hábitos. > Redução do desperdício de energia elétrica nas escolas. > Redução do desperdício de energia elétrica nas residências. > Diminuição das despesas com energia elétrica nas escolas e residências. Para a CPFL > Incremento do marketing social e da imagem da CPFL junto a seus clientes. > Otimização energética do sistema elétrico com possível postergação de investimentos. > Redução do desperdício de energia elétrica. Para o Sistema Elétrico > Redução do desperdício de energia elétrica. > Otimização do sistema. > Cliente com nova cultura e novos hábitos no uso da energia elétrica e na posse de eletrodomésticos e outros equipamentos elétricos. Augusto Rodrigues é diretor de Comunicação Empresarial e Relações Institucionais da CPFL. INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 CBV 98 99 EDIÇÃO REVISTA BRASILEIRA DE MANAGEMENT Ary Graça ADMINISTRANDO O VÔLEI como uma empresa Quando assumi a Presidência da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) em 1997, sabia que enfrentaria provavelmente o maior desafio de minha carreira. Na época, o domínio absoluto do futebol e seus problemas na área administrativa conferiam um sério problema de credibilidade para o setor esportivo nacional. A tarefa à frente da CBV seria árdua, e tomei a decisão de seguir o caminho do total profissionalismo na administração da CBV, não somente visando aumentar o interesse pelo voleibol, mas, sobretudo, gerar total credibilidade desse esporte para o público, para a mídia e para as empresas patrocinadoras de eventos esportivos. Ora, o vôlei sempre foi um esporte emocionante, que aproxima as pessoas de ambos os sexos. É uma modalidade para a família, com baixíssimos índices de violência nos estádios. Seu potencial como espetáculo coletivo e entretenimento é enorme. Por que não haveria o vôlei de ter uma melhor posição no ranking dos esportes? Embora a CBV seja uma sociedade civil sem fins lucrativos, como a maioria das entidades esportivas, adotei uma nova filosofia, a fim de atingir a nossa nova meta, implantando um modelo de gestão de tal forma que a Confederação passou a ser administrada como uma empresa de fato. Para isso, trouxe para a CBV a minha experiência de atuação adquirida durante vários anos no mercado de capitais, inclusive à frente do Instituto Brasileiro de Executivos Financeiros (IBEF) e nos grupos Finasa e Supergasbras. O voleibol passou a ser o segundo esporte na preferência nacional. Temos uma administração totalmente profissionalizada, finanças equilibradas e dezenas de troféus e prêmios conquistados. O voleibol brasileiro tem, em síntese, os seguintes atributos: > Organização. > Alto profissionalismo. > Excelência. > Jovialidade. > Dinamismo. > Ausência de violência. > Atletas de nível. > Patriotismo. > Vitórias e conquistas. quadro 1 modelo de gestão da cbv Requisitos Comitê de Gestão da Qualidade Requisitos UN Seleções UN Voleibol de Praia UNIDADES DE NEGÓCIOS Tudo mudou na CBV, até o Estatuto da Confederação foi alterado, em nome do voleibol. O modelo de gestão da entidade tem seis unidades de negócios, que operam com orçamento próprio e visam resultados positivos. Ao fim de cada ano fiscal, todas as unidades têm de apresentar um balanço dos resultados para poderem se candidatar a um novo orçamento no período seguinte. Para conferir a credibilidade desejada, decidimos contratar auditores independentes para analisar as demonstrações financeiras e dar o seu parecer. A CBV passou a publicar todo ano, a partir de 1998, o balanço financeiro em jornais de grande circulação, como fazem normalmente as empresas no mercado de capitais. O último balanço publicado referente a 2002, assinado pela Trevisan Auditores, não contém ressalvas dos auditores e também nenhum dos balanços dos anos anteriores. As seis unidades de negócios são dirigidas por gerentes, equivalentes aos diretores de uma empresa, e estão assim constituídas: Seleções Essa unidade de negócios administra principalmente a logística dos planejamentos das seleções, gerencia os recursos humanos, as comissões técnicas e o Centro de Desenvolvimento Vôlei Brasil (CDVB). Esse Centro Esportivo é um complexo de 108.000 m2 com toda infraestrutura física e ferramental para as atividades de treinamento de seleções esportivas e a capacitação de profissionais, contribuindo, dessa forma, para o seu aprimoramento técnico. UN Competições Nacionais CLIENTES CASE STUDIES FORNECEDORES CBV (Edição 39 / Julho-Agosto de 2003) UN Eventos UN Viva Vôlei UN Vôlei Paraolímpico PROCESSO DE APOIO O Centro se compõe de ginásio com quatro módulos de treinamento, sala de musculação e fisioterapia, escritórios e auditórios, sala de imprensa e dois vestiários. A infraestrutura para acomodações é composta por 30 suítes para as seleções adultas e alojamentos para as seleções masculinas e femininas de base, com um total de 56 leitos, três casas para Administração e dois apartamentos para hóspedes. O Centro conta ainda com Museu do Voleibol; quadras polivalentes; campo de futebol; piscina semiolímpica; saunas seca e a vapor; quatro quadras externas de vôlei de praia; churrasqueira; sala de televisão; salão de jogos com sinuca; pingue-pongue e totó; restaurante; garagem de barcos para esportes náuticos; e duas quadras de tênis. Adicionalmente, o Centro conta com uma infraestrutura de apoio, com restaurante com cozinha industrial, lavanderia, quatro depósitos e guaritas para segurança, além de um estacionamento para 80 veículos. As seleções coordenadas pela unidade são seis (duas infanto-juvenis, duas juvenis e duas adultas – masculinas e femininas), que realizam jogos em todo o mundo. Duas seleções tinham acabado de viajar para o Pan (juvenil- INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 CBV 100 101 quadro 2 pesquisa quantitativa – público do voleibol esporte de que mais gosta – estimulada e múltipla (%) 61 Futebol 43 Vôlei 31 Natação 19 Basquete Automobilismo Tênis Nenhum destes cional e o Campeonato Brasileiro de Voleibol. Todos os estados têm seleções (108 ao todo), distribuídas em três divisões: a especial, que reúne o Sul e o Sudeste; a primeira divisão, cobrindo o Centro-Oeste e estados do Nordeste (como Pernambuco, Ceará e Bahia); e a terceira divisão, onde estão os estados do Norte e os mais pobres do Nordeste. 17 10 8 -feminina e masculino-adulta), uma estava na Itália disputando o Grand Prix (adulta-feminina), outra estava se preparando para o Mundial do Irã (juvenil-masculina), a infanto-masculina acabara de chegar da Tailândia (onde conquistou seu sexto título mundial) e a infanto-feminina treinava para jogar em setembro na Polônia o mundial de sua categoria. Somente as seleções de base já conquistaram 12 campeonatos mundiais. Voleibol de Praia Reúne as duplas que se formam espontaneamente, das quais algumas contam com patrocínio de empresas, como o Banco do Brasil. O nosso país é considerado um dos criadores e o principal incentivador do vôlei de praia no mundo. O Brasil organizou as primeiras etapas do Circuito Mundial, e foi no Rio de Janeiro que o COI aprovou o ingresso do vôlei de praia nos Jogos Olímpicos. O vôlei de praia feminino do Brasil lidera o ranking mundial desde 1994, e o masculino, desde 1996. Competições Nacionais É responsável pela produção e realização dos jogos da Liga Nacional, que tem 70 times este ano, 38 masculinos e 32 femininos, correspondente à segunda divisão do futebol. Gerencia ainda a Superliga, competição máxima do calendário nacional que reúne as melhores equipes e atletas do país, a Supercopa, o Grand Prix na- Eventos Tem como principal missão a organização e coordenação das competições envolvendo as seleções brasileiras (infanto-juvenil, juvenil e adulta, masculina e feminina) no Brasil. Coordena também a logística, as transmissões de TV e os jogos finais da Superliga masculina e feminina, e é responsável pela organização dos eventos institucionais da CBV (Melhores do Ano, Chegada das Seleções, Congressos, Assembleias etc.). O próximo evento institucional a ser organizado pela Unidade de Eventos será a inauguração do Centro de Desenvolvimento Vôlei Brasil, em Saquarema. O principal evento anual da Unidade de Eventos é a Liga Mundial, competição que reúne os 16 países mais bem ranqueados na Federação Internacional de Volleyball (FIVB) e possui uma das maiores exigências organizacionais do esporte mundial. Em 2002, o Brasil sediou as finais da Liga Mundial, estabelecendo novos recordes mundiais de público na competição. Além deste, realiza todos os anos diversas competições oficiais, entre elas Campeonatos Sul-americanos, Copa América, Torneios Classificatórios para Jogos Olímpicos e Competições Amistosas, com o objetivo de preparar nossas equipes para as disputas no Brasil e no exterior. VivaVôlei Programa organizado e dirigido pela Confederação Brasileira de Voleibol (CBV), que tem como principal objetivo educar e socializar meninos e meninas de 7 a 14 anos por meio do esporte. O programa, iniciado em 1999, é constituído por uma rede de centros para a prática do minivôlei, organizado e dirigido pela CBV, que é responsável pela manutenção, reposição periódica do kit VivaVôlei, além do fornecimento de material técnico, supervisão dos centros, treinamento e porte são aquelas que têm apresentado maior resultado acompanhamento pedagógico dos professores. nos aspectos ligados à socialização, em especial no que Atualmente, são mais de 100 Centros em atividade, se refere à criação de novos modelos para a prevenção e atendendo a cerca de 25 mil crianças e adolescentes de tratamento dos danos às crianças e adolescentes causacomunidades carentes em 15 estados brasileiros, gerando dos por problemas socioeconômicos. em torno de 350 empregos diretos e indiretos. O Programa VivaVôlei instituiu, para educar e socializar Vôlei Paraolímpico e para a aprendizagem do voleibol, o “minivôlei” como um Mais uma vez a Confederação Brasileira de Voleibol sai método de iniciação simplificado e adaptado às capacina frente e dá o exemplo de como o vôlei pode contribuir dades e necessidades das crianças, tendo como princípio para a melhoria das condições de vida e para o resgate da básico a formação lúdica, com adequação do tamanho da cidadania de nossos jovens, portadores de deficiência ou quadra, do peso da bola, da altura da rede e das regras do não. A mais nova unidade da CBV, a Unidade de Voleibol jogo a essa faixa etária. Por meio de sua força atrativa e Paraolímpico, tem, entre seus desafios, levar o vôlei paracomplexidade psicomotora, essa atividade auxilia no ensiolímpico brasileiro a participar pela primeira vez dos Jogos no esportivo, contribuindo para o desenvolvimento físico, Paraolímpicos já em Atenas 2004. social, intelectual e emocional da criança, dentro de prinA primeira etapa dessa bela viagem é treinar exaustivacípios de estímulo ao espírito de cooperação e a competimente nossa seleção e conquistar a única vaga disponível ções não agonísticas. para o continente no Panamericano Paraolímpico de VoO Projeto VivaVôlei tem a chancela e o apoio instituleibol em dezembro próximo. Nossa qualificação para Atecional da UNESCO, agência da Organização das Nações nas certamente contribuirá para focar o esporte praticado Unidas. Por meio dessa parceria, os professores do Vivapor portadores de deficiência, sensibilizando a sociedade Vôlei são capacitados para desenvolver nos alunos uma e os próprios portadores de deficiência para os benefícios cultura de paz, baseada na arte da inclusão do outro, pela da prática desportiva, multiplicando nossa ação. cooperação, socialização, diálogo, respeito ao diferente e Outra tarefa da Unidade será a de possibilitar, com a criação de um espaço saudável de convivência. realização de torneios e campeonatos regionais e nacioOs principais objetivos do VivaVôlei são: nais, que um conjunto cada vez maior de portadores de > Socializar e educar as crianças por meio do voleibol. deficiência (física motora, mental e auditiva) possa, pelo > Retirar as crianças das ruas e reintegrá-las à socievoleibol, reencontrar motivação e bem-estar do seu esdade. > Possibilitar a integração e asquadro 3 censão social. pesquisa quantitativa – público do voleibol > Procurar afastar as crianças esporte de que mais gosta (por sexo) – estimulada e múltipla (%) da criminalidade, das drogas e da ociosidade que leva ao vício. > Desenvolver fisicamente, socialmente, intelectualmente e emocionalmente as crianças carentes. > Tornar as escolas mais atrativas para as crianças. > Estimular a prática do minivôlei nas escolas e comunidades. As ações relacionadas ao es- Vôlei Futebol Natação Basquete Automobilismo Tênis INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 CBV 102 103 tado físico e emocional; enfim, um novo caminho para suas vidas. Sacar para a cidadania é o nosso papel. UM NOVO CONCEITO DE ADMINISTRAÇÃO ESPORTIVA Todas as organizações esportivas internacionais, como o Comitê Olímpico Internacional e as federações de outros países, trabalham com uma diretoria e comissões. Nós, porém, não temos comissões, mas unidades de negócios. Estamos criando um conceito empresarial e de responsabilidade. Essas unidades de negócios são como empresas, a CBV é a holding. Cada unidade de negócio possui seu orçamento próprio, que tem que ser cumprido, e, se cumprir, ganha um bônus. É um conceito que não existe nas outras entidades desportivas. Não há ninguém na CBV, a não ser eu, que não seja remunerado. As próprias unidades de negócios têm a atribuição de buscar recursos financeiros e se manter, por meio da contribuição de patrocinadores. Internamente, a única fonte de receita da CBV é proveniente do pagamento de registros dos atletas. Quando há transferência de um atleta de um clube para outro, incide também uma taxa de pagamento. Existem 85 mil atletas registrados. Embora tenhamos na entidade um quadro enxuto de apenas 45 funcionários, incluindo os gerentes, as unidades quadro 4 de negócio contam com áreas de apoio, como administração, tesouraria, gestão de pessoas e marketing, seguindo a mesma filosofia de custo e de receita, tendo ainda liberdade para a contratação de apoio profissional externo, como assessores de marketing, comunicação e vendas. Todos, sem exceção, passam por uma criteriosa avaliação periódica de desempenho. Qual é a vantagem disso? Descentralização do poder. Para harmonizar as ações em toda a nossa rede, integrada por 27 federações estaduais e cerca de 100 clubes de vôlei, instituímos um Código de Ética definindo os princípios de conduta que devem pautar as atividades esportivas e administrativas. Esse modelo não tem igual no mundo. Foi inclusive aprovado pela Assembleia da Federação Internacional de Voleibol para ser adotado em todas as federações internacionais. O objetivo é a busca incessante da excelência na administração do voleibol. Faço um paralelo com a indústria brasileira em geral, que foi pressionada a melhorar a qualidade de seus produtos após a abertura econômica do país a partir de 1990. Com a economia fechada, não havia a necessidade de melhorar o produto. A CBV é como uma economia aberta, porque não disputa só no Brasil, mas em todo o mundo. E para conquistar um patrocinador é preciso entregar um produto de altíssima qualidade, que são as seleções brasileiras de quadra, a Superliga, a Liga Nacional e os eventos de vôlei de praia, como, por exemplo, o Mundial e o Circuito Brasileiro, entre outros. pesquisa quantitativa – público do voleibol esporte de que mais gosta – estimulada e múltipla (%) 64 Vôlei Futebol 56 Natação 32 Basquete Tênis Automobilismo 29 23 20 GARANTINDO A QUALIDADE DO PRODUTO COM BASE EM PESQUISAS DE MERCADO Nossa mentalidade é tratar o voleibol como um produto. Para garantir a qualidade do produto, investimos em várias pesquisas de opinião para identificar as satisfações, expectativas e opiniões dos clientes. Para nós, os clientes são os torcedores (público), a televisão (mídia) e os patrocinadores (empresas e instituições). Os resultados dessas pesquisas de mercado nos orientaram a aperfeiçoar até mesmo as próprias regras do voleibol, não somente o gerenciamento e a or- ganização desse esporte, proporcionando um alto Nossas pesquisas sobre o A CBV procurou grau de transparência comprovada dos resultados vôlei no Brasil chegaram às setambém do produto para os atuais e os potenciais patrociguintes conclusões: inovar a nadores. Um dos pontos relevantes dessa transformação Valores e associações mentalidade de foi o estabelecimento do sistema de pontos corri> O vôlei é percebido como patrocínio dos (rally point), viabilizando a cobertura dos jogos o 2º esporte na preferência do de vôlei pela TV, o que não acontecia antes com o brasileiro. É lazer, diversão, prasistema de vantagem, quando os jogos se estenzer, mas também é saúde, alediam até por quatro horas. Os jogos de vôlei atualmente gria e paixão. não duram menos de uma hora e não passam de duas ho> O vôlei estimula, empolga, arrepia, faz vibrar, emoras. A participação da televisão na transmissão dos jogos ciona. É um jogo dinâmico, ponto sobre ponto, em que foi decisiva para o sucesso do negócio. As novas regras não tem empate e também não tem zero a zero. Termina foram vantajosas também para os jogadores, por reduzir o sempre em vitória ou derrota. desgaste físico e emocional. > Jogar vôlei exige força, raça, técnica, dedicação e Na realidade, a CBV planeja todas as suas ações e os treinamento. É necessário ter força de vontade e deterresultados baseados em pesquisas qualitativas e quantitaminação para descobrir e ultrapassar os próprios limites. tivas. Uma das pesquisas teve o objetivo de conhecer a É um jogo que reforça o coletivismo sobre o individuopinião dos atletas, dirigentes de clubes e federações, técalismo que requer uma equipe coesa, que funcione em nicos, árbitros e jornalistas da área esportiva. O resultado conjunto, como uma engrenagem em total e perfeita foi surpreendente. A administração da CBV foi aprovada sincronia. por 73,9% do universo pesquisado. O índice de rejeição foi > O vôlei exige equilíbrio emocional dos jogadores para de apenas 1,6%. Solicitados a julgar o profissionalismo da que possam atuar unidos, perfeitamente entrosados entre CBV, 81% declararam que ele é bom. si, como parceiros confiantes e confiáveis, comprometiAs nossas pesquisas indicaram que o vôlei é o segundo dos com o time. esporte, com 43% da preferência nacional, depois do fute> Essa imprescindível integração e união entre os jogabol, com 61%. Mas o vôlei lidera a preferência das mulhedores são propiciadas também pelas próprias característires, com 52%, à frente do futebol, com 43%. Além disso, cas do vôlei: o rodízio de posições, os códigos gestuais, o o público quer ver mais vôlei (64%) do que futebol (56%) constante abraço entre a equipe. pela TV. > São também as regras do vôlei que propiciam um A CBV ouviu também a opinião dos torcedores dentro jogo não violento devido à delimitação precisa dos espados estádios. Comprovou estatisticamente que o vôlei é o ços de cada equipe, à ausência de marcação e de contato esporte que mais divertimento oferece dentro dos estáentre jogadores rivais. dios. As pesquisas revelaram que as mulheres dominam os > As frequentes reversões de expectativas (“viradas” de estádios para assistir os jogos de vôlei e que este esporte resultado, o ponto sobre ponto, a impossibilidade de emtem público predominantemente jovem, na faixa de dez pate) geram fortes emoções tanto nos jogadores quanto a 25 anos. O vôlei também impôs um conceito novo de nos torcedores. show nos estádios, bem diferente do futebol. Os jogos de > O público que acompanha as partidas de vôlei é muito vôlei têm show, divertimento, locutor que anima o público mais diversificado do que o de outras modalidades espore até DJ, que bota o público para dançar. Quando se vai tivas. Homens, mulheres, crianças, famílias, muitos jovens, ao voleibol hoje, é para se divertir. Não há brigas nem atripredominantemente de classe média, alegres, coloridos, tos nos estádios. Pode-se levar toda a família. O voleibol vibram a cada ponto marcado, a cada jogada bem-feita. é mais aceito do que o futebol entre as mulheres porque Talvez em função da própria diversificação, da própria não há pancadaria. mistura de sexos e idades, da presença de famílias, são res- INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 CBV 104 105 peitados os limites da convivência civilizada. Não há agressão ou violência; há comemoração. > Vôlei é rito de passagem: é um esporte que permite uma maior socialização e que aproxima meninos e meninas, numa fase caracterizada pelo distanciamento entre os sexos. A Confederação recebeu o Certificado ISO 9001:2000 de Qualidade nos seus principais produtos Emoção compartilhada > Assistir a uma partida de vôlei significa empolgação da torcida, estimulada não só pelas belas jogadas, como também pela rivalidade entre os times. > A simbiose entre a torcida e os jogadores é tão grande que as emoções passam a ser “compartilhadas”: o sentimento dos jogadores é transmitido para a plateia. > O abraço entre os jogadores aproxima o palco e a plateia. E gera o desejo de estar ali no lugar deles, de ser como que um “7º elemento”. > A beleza das jogadas e o estímulo da torcida funcionam como polos de comunicação que transmitem entre si, numa via de mão dupla, tensão, ansiedade, nervosismo, concentração, emoção, alegria, prazer. > Essa cumplicidade entre a torcida e os jogadores é tanto maior e mais fácil porque, com o fim da vantagem, a comemoração ficou ainda mais rápida. Conta ponto a todo momento, o que confere ao jogo maior necessidade de atenção, maior dinamismo e maior vibração. Vantagens da TV > As transmissões são boas, mostram todos os lances. > Tem o replay, dá para ver mais de perto os detalhes. > Dá para saber curiosidades sobre a vida dos atletas. > O conforto (sofá, pipoca, sanduíche). Futebol x vôlei: emoções diferentes > A ginga, a tabela e o gol formam a tríade de emoções mais fortes no futebol. São diferentes das emoções vividas no vôlei. > No vôlei, a vibração é maior porque a todo momento há comemoração, é ponto sobre ponto. > As possibilidades de virar o jogo são maiores no vôlei: aquele time que está ganhando de longe pode ser o perdedor no fim. > E sempre tem um vitorioso, o que representa uma diferença substancial: nunca o fim da partida terá o silêncio cabisbaixo, típico das torcidas que saem dos estádios depois de um empate. O público faz a diferença > No vôlei há uma torcida menor que acompanha o time, é mais uma espécie de fã-clube. > Isso também provoca diferenças qualitativas. Um público menor e mais tranquilo e um ambiente melhor nos estádios, pois não há torcidas organizadas, nem bebidas alcoólicas, dois fatores que fazem explodir as brigas, comuns num estádio de futebol; e o público mais diversificado – mais família, criança, mulher – garante um maior equilíbrio e controle. > No futebol, e em outros esportes, o individualismo de certos jogadores pode criar situações conflitantes até entre atletas do mesmo time. > O individualismo não tem lugar no vôlei, pois uma de suas diferenças em relação a outros esportes é, justamente, a união entre os jogadores, o coletivismo. > É uma lição para a vida e o convívio social e profissional. > Mesmo porque as posições sofrem rodízio, o contato do jogador com a bola só pode ocorrer uma única vez. > São essas regras do vôlei que o tornam realmente um esporte de equipe, uma engrenagem que só pode funcionar em conjunto, num perfeito entrosamento entre os jogadores. CONTRIBUINDO PARA OS NEGÓCIOS DOS PATROCINADORES Procuramos também inovar a mentalidade de patrocínio, fazendo ver às empresas patrocinadoras que o vôlei, além de servir para a divulgação da imagem institucional, pode ser um instrumento de venda. Foi o que fizemos para o Banco do Brasil no Japão. Durante a competição internacional World Grand Champions Cup, o Banco do Brasil realizou uma campanha com a participação dos jogadores da Seleção Brasileira, dirigida aos dekassequis, para a captação de clientes. O esforço conjunto gerou captação de cerca de US$ 25 milhões para o banco, em cartões de crédito, CDBs e remessas para o Brasil, entre outros serviços. Foram abertas 1.854 contas durante o evento. No cômputo geral, o patrocínio do Banco do Brasil ao voleibol proporcionou-lhe ainda os seguintes resultados: > 210.085 produtos vendidos. > 15.500 contas abertas durante a realização das etapas do Circuito Banco do Brasil Vôlei de Praia. > 3.000 funcionários participaram dos torneios internos de vôlei de praia (endomarketing). > O Site Esportes-e registrou 100 mil acessos por mês e 43 mil e-mails cadastrados nas promoções atreladas aos eventos. Foi o terceiro site mais visitado do Portal BB. > Ações Sociais: 15 hospitais de oncologia infantil apoiados pela FBB – 450 crianças receberam visitas de atletas do Projeto VôleiBrasil; 19 toneladas de alimentos arrecadados durante os eventos do Projeto VôleiBrasil; e 7.200 empregos temporários gerados na temporada do Circuito BB Vôlei de Praia. > Parcerias Financeiras: R$ 1.080.000,00 investidos no Circuito BB Vôlei de Praia, pelas empresas Brasilveículos e Visa. > Parcerias Negociais: R$ 1.396.000,00 de ganho líquido, resultante do incremento da rentabilidade das empresas parcerias das Superintendências Estaduais no Circuito BB Vôlei de Praia. > Fidelização: 9.800 clientes NR1 e NR2 (clientes preferenciais) participaram das ações de marketing de relacionamento desenvolvidas nas áreas Vip dos eventos. > Público: 460 mil pessoas das diversas classes sociais, clientes e não clientes participaram dos eventos dos projetos VôleiBrasi e TênisBrasil. > Imagem: mídia Impressa = R$ 41.588.581,91, equivalentes a 386 mil cm x col; e mídia eletrônica = R$ 176.906.785,54, equivalentes a 174 horas e 40 minutos. > Top of Mind - pesquisa Datafolha: o banco mais lembrado de 1992 a 2001. Por sua vez, a parceria da Olympikus com a Confederação Brasileira de Voleibol, iniciada em janeiro de 1997, já rendeu várias conquistas. A Olympikus é Top of Mind desde 1998, o ano da Copa do Mundo, quando concorreu com várias marcas globais. Em 2001, a Olympikus foi Top of Mind, com 15%. Sua participação de mercado, que era de 2% em 1996, aumentou para 12% atualmente, segundo pesquisa do IBOPE. “A CBV é um importante parceiro da Olympikus e os excelentes resultados obtidos nos últimos anos colaboraram para o crescimento da marca em todo o mundo”, reconhece Gumercindo Moraes Neto, diretor de marketing do Grupo Azaleia, detentor da marca Olympikus. O Banco do Brasil e a Olympikus, fornecedor de material esportivo, são os atuais patrocinadores oficiais da CBV, que tem ainda como parceiros a Penalty, que fornece bolas, e a Play Piso, que instala pisos oficiais nas competições nacionais. Temos mais de 100 patrocinadores, entre eles empresas de porte como a Fiat e a Rainha (jogos da Superliga), Telemig Celular, Wizard, Shopping ABC/Santo André, BCN, Açúcar União (clubes da Superliga), BR Mania, Mikasa e Prefeituras de São Paulo e de Betim (Liga Mundial 2003). De acordo com as nossas pesquisas, os patrocinadores mais lembrados foram: > Lembrança imediata: Banco do Brasil, Olympikus e Rexona. > Seguidos por: Leite Moça, Nike e Penalty. > E por Banespa, Colgate, Palmolive e Close Up. > Nos grupos de Recife: Mizuno, TIM, Reebok, Globo, BlueLife, Pirelli, Visa, MRV e Papel Report. > Nos grupos de Belo Horizonte: MRV Engenharia, Telemig/Telemig Celular, Fiat e L’Acqua di Fiori. Certificado de Sistema de Qualidade Para fechar todo esse ciclo, acabamos de obter o Certificado de Sistema de Qualidade NBR ISO 9001:2000, da empresa DET Norske Veritas Certificadora Ltda. A CBV recebeu a certificação de qualidade para os nossos principais produtos: Eventos, Viva Vôlei, Seleções, Competições Nacionais e Voleibol de Praia. No período de seis anos, o giro do dinheiro na Confederação Brasileira de Voleibol aumentou 400%, o que demonstra o acerto da nossa nova política de gestão adotada visando credibilidade e captação de recursos dos patrocinadores. O orçamento da CBV está em torno de R$ 35 milhões atualmente. O negócio do voleibol alcança os R$ 300 milhões no Brasil, o que inclui os clubes e a Su- INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 106 107 perliga, principalmente. O Produto Interno Bruto (PIB) do vôlei, incluindo a indústria que gira em torno desse esporte, como os fabricantes de materiais esportivos, chega a R$ 4 bilhões. O resultado de todo esse programa transparece nos números que colecionamos. No triênio 1997-1999, a CBV foi eleita “a mais bem-sucedida federação nacional do mundo”. Em 2001, o voleibol brasileiro obteve a melhor performance esportiva de um país em todos os tempos, conquistando 22 competições oficiais internacionais, 17 ouros e três pratas. Em 2002, a Seleção Brasileira de Vôlei masculina foi campeã mundial e vice-campeã da Liga Mundial. Ary Graça é presidente da Confederação Brasileira de Vôlei, vice-presidente da Federação de Vôlei Internacional e presidente da Federação Sul-Americana de Voleibol. INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 gerdau 108 109 EDIÇÃO gerdau (Edição 64 / Setembro-Outubro de 2007) CASE STUDIES REVISTA BRASILEIRA DE MANAGEMENT Isabel Reis / Paulo Ratinecas EXPANSÃO MUNDIAL E APOIO À CIDADANIA A Gerdau sempre consolidou sua participação comunitária se apresentando não apenas como uma geradora de empregos e de recursos públicos pelo recolhimento de impostos. A empresa também está consolidada como geradora de ações de cidadania nas regiões onde está presente. Este case ressalta a intensa atuação social construída por meio de uma produtiva parceria entre a empresa e seus colaboradores. Um belo encontro, que vem permitindo que o público interno da Gerdau seja reconhecido não apenas como um time de ótimos profissionais, mas também de excelentes cidadãos. O Grupo Gerdau Consolidar ativos, ultrapassar fronteiras, transformar o mundo. Foi com esses princípios que o Grupo Gerdau se tornou o 14º maior produtor de aço do planeta, com unidades na América do Sul, na América do Norte, na Europa e na Ásia. Os produtos Gerdau estão cada vez mais presentes no dia a dia das pessoas. Na cidade, em estruturas de pontes, viadutos, rodovias, hidroelétricas, prédios e residências. Nas fábricas e indústrias, em máquinas agrícolas, em estruturas metálicas, em peças para o setor automotivo e em redes de transmissão de energia e telefonia. No campo, a fabricação de arames e acessórios para cercas. Para onde você olhar, tem a força da Gerdau. A filosofia da Gerdau é antecipar-se às necessidades do mercado, apresentando produtos e serviços que agreguem valor aos negócios de nossos clientes. O desenvolvimento de uma empresa está relacionado com a evolução da comunidade. Essa é a visão de responsabilidade social do Grupo Gerdau. E foi com base nessa visão que o Grupo construiu e consolidou uma cultura empresarial totalmente fundamentada em valores éticos e no respeito às pessoas e ao meio ambiente. O Grupo Gerdau é um dos agentes do processo de consolidação da siderurgia no mundo Perfil O Grupo Gerdau é um dos agentes do processo de consolidação da siderurgia no mundo. Ocupa a posição de 14º maior produtor de aço do mundo e é líder no segmento de aços longos nas Américas. Possui 234 unidades industriais e comerciais, além de cinco joint ventures e duas empresas coligadas, o que faz com que esteja presente no Brasil, na Argentina, no Chile, na Colômbia, no Peru, no Uruguai, no México, na República Dominicana, na Venezuela, nos Estados Unidos, no Canadá, na Espanha e na Índia. Possui capacidade instalada de 20,2 milhões de toneladas por ano e fornece aço para os setores da construção civil, indústria e agropecuária. O Grupo investe continuamente na capacitação de quase 35 mil profissionais e no desenvolvimento das comunidades onde está inserido, apoiando, em conjunto com colaboradores voluntários e em parceria com agentes da sociedade, mais de 800 projetos sociais. Cumpre importante papel de preservação do meio ambiente, ao reciclar anualmente 10,4 milhões de toneladas de sucata ferrosa, transformando materiais obsoletos para a sociedade em novos produtos. Hoje é um dos maiores recicladores do mundo. As ações de suas empresas estão presentes nas bolsas de valores de São Paulo, Nova York, Toronto e Madri, somando uma média diária de negociações de US$ 60 milhões. O Grupo Gerdau possui mais de 113 mil acionistas. Ao longo dos anos, o Grupo tem rompido limites e barreiras. É uma atuação sem fronteiras, que alinha processos e operações globais na busca da eficiência e do crescimento com rentabilidade, sempre comprometido com o desenvolvimento sustentável. Um pouco de história O Grupo Gerdau nasceu da visão empresarial e da capacidade de trabalho de Johannes Heinrich Kaspar Gerdau – ou João Gerdau –, emigrante alemão que saiu do Porto de Hamburgo rumo ao Rio Grande do Sul no ano de 1869 na busca de novos empreendimentos. Movido pelo seu espírito empreendedor, chegou ao porto de Rio Grande e com apenas 20 anos de idade, instalou-se na Colônia de Santo Ângelo (atual cidade de Agudo) e investiu no comércio, transporte e loteamento de terras. Transferiu-se para a cidade de Cachoeira do Sul, em 1884, onde fundou uma importante casa comercial. Sempre buscando novas oportunidades, João Gerdau muda-se com sua esposa, Alvine Gerdau, e seus três filhos, Hugo, Walter e Bertha, para Porto Alegre e lança-se no ramo industrial, adquirindo a Fábrica de Pregos Pontas de Paris, em 1901. Assim nasciam as bases do 14º maior grupo siderúrgico do mundo. Dos pregos aos vergalhões, a Gerdau vem participando do desenvolvimento da economia brasileira há mais de um século. Sua presença, hoje, é internacional, com 40 unidades siderúrgicas instaladas em 13 países. Com seus produtos, oferece soluções para um mundo em transformação, lidando, há 106 anos, com o aço e a sua evolução ao longo dos tempos. Visão estratégica O Grupo busca consolidar-se como player importante no segmento da siderurgia, em aços longos e em aços especiais. Desde a década de 1980, tem colocado seu foco no processo de internacionalização, ampliando as operações nas Américas do Sul e do Norte e, recentemente, na Europa e Ásia. A política de crescimento está norteada para a ampliação de ativos que gerem valor e retornos significativos aos acionistas e que propiciem ao Grupo avançar na trajetória de expansão, sempre comprometido com os níveis de segurança financeira que caracterizam sua atuação. Frente ao mercado, conseguiu estabelecer um patamar diferenciado de desempenho em suas usinas, pela proximidade com a matéria-prima, critérios de logística e práticas INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 gerdau 110 111 de gestão alinhadas às melhores do mundo. Na base desse desempenho está a eficiência das equipes, as quais têm contribuído, de forma decisiva, para a expansão do negócio e para que o Grupo Gerdau continue, nos próximos anos, obtendo crescentes posições de mercado no mundo. Grupo Gerdau – fatos e números – 2006 > 106 anos de existência; > Maior produtor de aços longos nas Américas; > Em 2006, reciclou 10,4 milhões de toneladas de sucata ferrosa, sendo um dos maiores recicladores do mundo; > Mercado de capitais: 113 mil acionistas; > Faturamento total: R$ 27,5 bilhões; > Receita líquida das operações no Brasil: R$ 10,7 bilhões; > Lucro líquido total: R$ 3,5 bilhões; > Produção de aço: 15,6 milhões de toneladas; > Investimentos globais previstos entre 2007 e 2009: US$ 4 bilhões (US$ 2,4 bilhões no Brasil); > Quase 35 mil colaboradores (aproximadamente, 18 mil no Brasil); > Mais de 800 projetos sociais apoiados em 2006, beneficiando 13,2 milhões de pessoas; > Investimentos em responsabilidade social somaram R$ 51 milhões; > Cerca de 3,7 mil colaboradores participam de atividades de voluntariado em todas as unidades do mundo. Missão O Grupo Gerdau é uma empresa com foco em siderurgia, que busca satisfazer as necessidades dos clientes e criar valor para os acionistas, comprometida com a realização das pessoas e com o desenvolvimento sustentado da sociedade. Visão Ser uma empresa global, entre as mais rentáveis do setor. Valores > Cliente satisfeito > Segurança total no ambiente de trabalho > Pessoas comprometidas e realizadas > Qualidade em tudo o que faz > Empreendedorismo responsável > Integridade > Crescimento e rentabilidade Instituto Gerdau Por meio da mobilização dos seus diversos públicos, o Grupo Gerdau amplia a abrangência dos projetos sociais que apoia e contribui para a busca por soluções perante os desafios globais. O Grupo Gerdau acredita que o envolvimento da sociedade é fundamental para o desenvolvimento de soluções inteligentes perante os desafios globais. Também tem a convicção de que apenas a transferência de recursos não é suficiente para transformar realidades. Por isso, busca ampliar a abrangência dos projetos sociais que apoia por meio da mobilização de seus colaboradores, clientes, fornecedores, comunidades, poder público e instituições sociais. O Grupo Gerdau também transfere para as lideranças dos seus projetos sociais o que tem de melhor: as práticas de gestão que o ajudaram a ser um dos maiores produtores de aço do mundo. As políticas e as diretrizes de responsabilidade social são coordenadas pelo Instituto Gerdau, que também colabora com todas as áreas de negócios para identificar oportunidades de desenvolvimento de projetos de sustentabilidade. Em 2006, o Grupo destinou R$ 51,6 milhões para 817 iniciativas que beneficiaram cerca de 13,2 milhões de pessoas. Em menos de dois anos de atuação, o Instituto Gerdau obteve conquistas importantes: sistematizou o repasse de verbas para as comunidades, traçando parâmetros e critérios claros para isso; integrou as experiências desenvolvidas pelas diversas unidades; uniu os colaboradores voluntários em torno de projetos comuns; criou canais de comunicação e ferramentas para interagir com os diversos públicos envolvidos nas ações; e promoveu o compartilhamento e a disseminação de experiências bem-sucedidas. Atualmente, o Instituto coordena iniciativas no Brasil e, a partir de 2007, passará a atuar na Argentina, no Chile, na Colômbia e no Uruguai. Em 2008, nos Estados Unidos, no Canadá, na Espanha, no México e no Peru. No Brasil, uma das formas de o Instituto Gerdau estimular clientes, fornecedores, parceiros e comunidade a desenvolver iniciativas sociais é por meio do Fundo Pró-Infância dos Profissionais Gerdau. O projeto informa e sensibiliza a sociedade para a importância da destinação de parte do Imposto de Renda devido a instituições sociais focadas no atendimento de crianças e adolescentes. Em 2006, foram realizadas 61 palestras de mobilização, que incentivaram a adoção do programa por importantes entidades brasileiras, como a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Desde o seu lançamento, o Fundo Pró-Infância dos Profissionais Gerdau já destinou mais de R$ 16,5 milhões – recursos do Grupo Gerdau e dos colaboradores – para 202 projetos sociais, beneficiando 28,3 mil crianças e adolescentes. Instituto Gerdau – 2006 O Instituto Gerdau, responsável pelas ações de responsabilidade e investimento social do Grupo Gerdau, encerrou 2006 com mais de 500 projetos sociais implantados no Brasil, beneficiando 11,7 milhões de pessoas. O investimento anual somou R$ 49 milhões destinados a ações na área de educação e mobilização solidária. São mais de 1,7 mil entidades sociais atendidas e uma equipe de 2,4 mil funcionários que são voluntários em projetos apoiados pelo Grupo no país. Além do Brasil, a Gerdau também desenvolve projetos sociais em outros oito países em que está presente: Canadá, EUA, Espanha, Colômbia, Peru, Chile, Argentina e Uruguai. Em números globais, o grupo apoiou, no ano passado, 817 projetos, beneficiando 13,2 milhões de pessoas. Missão Propor políticas e diretrizes de responsabilidade social para o Grupo Gerdau, promovendo e apoiando ações sociais empreendedoras, diretamente ou por meio de comitês nas unidades, que contribuam de forma eficaz para a melhoria da qualidade de vida das comunidades, objetivando o desenvolvimento sustentável. Visão Ser referência na prática de responsabilidade social que gere desenvolvimento comunitário de forma sustentável. “O Instituto Gerdau está empenhado em estimular e fazer crescer o movimento do voluntariado organizado, para realizar mais ações sociais, de forma intensa, solidária e bem administrada, a favor das instituições e das comunidades carentes próximas às nossas unidades.” Klaus Gerdau Johannpeter Presidente do Conselho do Instituto Gerdau “O fortalecimento e o crescimento do Terceiro Setor, principalmente através do trabalho voluntário, é a peça-chave que poderá nos levar a um processo de melhor equilíbrio e desenvolvimento.” Jorge Gerdau Johannpeter Desafios A visão do voluntariado como uma estratégia na formação de lideranças voltadas aos projetos de cidadania é ainda uma novidade no Brasil. Mas participar no desenvolvimento social da nação possui tal dimensão para a Gerdau que, mesmo com as várias realizações feitas no decorrer de sua história, percebeu a premência de instigar, ainda mais, o seu envolvimento comunitário. O estímulo às ações com apoio dos colaboradores – prática usual no Grupo – motivou a criação de uma rede dinâmica, para oportunizar o auxílio a programas sociais e educacionais tão necessários ao país. Tabela Evolução das ações de responsabilidade social da gerdau no brasil Grupo Gerdau - Brasil Número de projetos Número de pessoas beneficiadas Número de entidades Valor total investido (em R$) Número de voluntários no Brasil 2003 2004 2005 2006 100 119 414 592 7,6 milhões 6,4 milhões 7,3 milhões 11,8 milhões - 101 604 1741 21 milhões 35 milhões 41 milhões 49 milhões - 651 1.438 2.400 INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 gerdau 112 113 O Grupo Gerdau foca seus esforços para se manno futuro do país. Ou seja, Em comemoração ter na liderança de seus mercados e segmentos de uma plataforma de esperança ao primeiro ano atuação. Um posicionamento que oportuniza o recomeçava a ser construída. de atividade conhecimento pela inovação e pela alta qualidade. Em bases sólidas. Uma capacitação indispensável para o seu crescido Instituto mento, bem como o das comunidades ao seu enAções Gerdau, o grupo torno. A postura é oriunda da cultura empresarial Programa Voluntário criou, em 2006, disseminada por seu fundador, em que conceitos Gerdau visionários de transformação, além de reafirmarem A Responsabilidade Social o Programa um perfil vencedor, merecem ser difundidos. Para das empresas e o seu envolVoluntário fortalecer essas crenças, era essencial ir além dos vimento em iniciativas sociais, Gerdau (PVG) muros e interagir com a realidade social existente. através da criação e da proMas para solidificar esse compromisso era impresmoção de ações de voluntacindível a conivência de seus colaboradores. riado, é um indicador de dePortanto, para integrar seu público interno nesse foco, senvolvimento nas sociedades modernas. era preciso: Por acreditar nesses valores, o Grupo Gerdau, em co> Consolidar e institucionalizar políticas e diretrizes de memoração ao primeiro ano de atividade do Instituto Gerresponsabilidade social e os seus programas sociais; dau, criou, em 8 de março de 2006, o Programa Voluntário > Ativar o crescimento e o reconhecimento da responGerdau (PVG). sabilidade social e do trabalho voluntário entre os colaboA ideia era sensibilizar o seu quadro funcional no Brasil, radores; reconhecendo o trabalho voluntário em prol do desen> Continuar a direcionar as ações de responsabilidade volvimento sustentado das comunidades. A metodologia social do Grupo Gerdau no sentido de contribuir para o de capacitação foi advinda da ONG Parceiros Voluntários, desenvolvimento da sociedade. parceira do Programa. Desde o seu início, o Programa já vinha comemorando O Grupo Gerdau desejava implementar um prograo envolvimento de mais de 1,4 mil colaboradores em ativima de voluntariado, despertando os colaboradores para dades voluntárias em organizações sociais da comunidaa relevância de beneficiar o próximo e auxiliá-lo no dedes em torno das unidades do Grupo. senvolvimento de suas comunidades. Centenas desses O objetivo estabelecido foi aumentar em 30% esse conprofissionais já estavam engajados em múltiplas ações de tingente inicial. Ou seja, até o fim de 2006, a meta era que voluntariado, espalhadas pelas diferentes regiões do Bra10% de todos os profissionais do Grupo, no país, viessem sil onde a Gerdau está presente. O desejo da empresa era a exercer alguma atividade voluntária. Esse percentual reconsolidar esse processo e ainda ampliar o número de presentava um contingente de cerca de 2 mil pessoas. adesões. Sua determinação era implementar um programa Para isso, a Gerdau incrementou a disseminação dos organizado de voluntariado. valores do voluntariado organizado e oportunizou para O desafio era motivar a participação do público interno, que seus colaboradores atuassem nas diferentes ações incitar o envolvimento e implantar um processo de comusociais oferecidas. nicação contagiante e eficiente. Uma forma de o capital Assim, o Grupo criou o Programa Voluntário Gerdau. A humano do Grupo aderir, entender e compartilhar efetiprimeira ação foi a capacitação de 85 colaboradores como vamente de ações que venham favorecer o capital social coordenadores do Programa, em todas as suas unidades brasileiro. no Brasil. A responsabilidade desse grupo é sensibilizar os Assim nascia o Programa Voluntário Gerdau. O Progracolaboradores da respectiva Unidade para o voluntariado ma vinha para confirmar que a sistematização e o fortaleorganizado, bem como identificar oportunidades de aticimento do voluntariado ampliaria a confiança de todos vidades voluntárias em sua comunidade, divulgar para os colaboradores da unidade e encaminhar aqueles que tenham interesse em participar. Focos de atuação > Organizações sociais. > Instituições de ensino. > Comunidade. Capacitação em trabalho voluntário Em parceria com os Parceiros Voluntários, o Instituto Gerdau capacitou 470 colaboradores dos 22 Comitês. Cem desses profissionais formam a Coordenação do Voluntário Gerdau e integram o Comitê do Instituto em suas unidades. Objetivo O Programa Voluntário Gerdau objetiva sensibilizar, capacitar e reconhecer o trabalho voluntário de seu público interno. Tem como fundamento fomentar uma cultura de solidariedade e de crescimento dos indivíduos alicerçada na atitude voluntária, cujas ações decorrentes possam contribuir para o desenvolvimento sustentável das comunidades. Princípios > Pessoas como base do desenvolvimento sustentável das comunidades. > Transferência de conhecimento como base da contribuição para o trabalho voluntário. > Solidariedade como atitude. > Trabalho voluntário como exercício da cidadania. Diretrizes gerais > Cada Comitê do Instituto Gerdau (CIG) é responsável pela implementação e gestão de seu Programa de Trabalho Voluntário, flexibilizando-o dentro de sua realidade, de acordo com seus projetos sociais, bem como com seu pessoal disponível. > Os coordenadores do Programa Voluntário Gerdau devem integrar o Comitê do Instituto Gerdau respectivo, sendo responsáveis pelo planejamento e pela implementação das ações necessárias à condução do Programa. > Cada projeto de voluntariado definido também deve ter um coordenador, que deve constituir seu Time de Voluntários. > Nenhum voluntário participante do Programa recebe benefícios ou vantagens profissionais, assim como não há qualquer prejuízo para os que não participam. > A utilização de recursos materiais e financeiros da empresa nas ações dos projetos de voluntariado depende de avaliação e decisão do Comitê do Instituto Gerdau respectivo. > Será permitida a utilização de horas normais de trabalho para realização de atividades voluntárias, a critério do CIG, em conjunto com sua respectiva Unidade. Trabalho voluntário a ser realizado > Atuar em atividades recreativas e lúdicas (esporte, dança, música, teatro, leitura etc.). > Apoiar treinamentos para geração de renda (ensinar corte/costura, bordado, renda, marcenaria, mecânica etc.). > Auxiliar em campanhas de arrecadação de agasalhos, alimentos, brinquedos, livros, material escolar, móveis, equipamentos, etc. > Capacitar a entidade para adesão ao Fundo Pró-Infância. > Executar melhoria nas instalações físicas da entidade (limpeza, pintura, recuperação de paredes, telhados, reformas em geral, jardinagem). > Dar palestras sobre profissões. > Transferir conhecimento em metodologia de qualidade total. > Aplicar conhecimentos profissionais nas organizações. Voluntariado organizado Características > Crítico e propositivo, com vistas à transformação social. > Inserido no processo de produção do conhecimento. > Meio pedagógico de mudança de mentalidade e atitude. > Torna as pessoas beneficiadas protagonistas do processo, despertando a consciência cidadã. > Projeto coletivo e não pura opção individual. > Processo de avaliação e planejamento de suas ações e iniciativas. Fundamento > O voluntariado forma pessoas para a solidariedade com as outras pessoas, com a natureza, com o ambiente e com as gerações futuras. Nessa perspectiva, é entendi- INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 gerdau 114 115 do como a determinação firme e perseverante pelo bem comum. Consolidando a consciência social entre seus colaboradores Por sua competência tecnológica, capacidade criadora, recursos e liderança, o Grupo Gerdau almeja ser um agente de melhoria social e de mobilização das pessoas. Com ações específicas nas suas comunidades-alvo, estabeleceu, como um dos focos de atuação, o programa de voluntariado. Com o objetivo de oferecer ao público interno a possibilidade de exercer sua cidadania por meio do trabalho voluntário, desenvolveu um Programa de Voluntariado Corporativo. O engajamento no voluntariado busca reforçar a criação de um ambiente de trabalho em equipe, o aprendizado contínuo e a importância da inclusão como facilitadora do desenvolvimento e do bem-estar coletivo. O voluntário como ator social e agente de transformação, que presta serviços não remunerados em benefício da comunidade, doando seu tempo e conhecimentos, realiza um trabalho gerado pela energia de seu impulso solidário. A Gerdau faz campanhas internas para divulgar o Programa Voluntariado Gerdau e também para receber novos integrantes. Os inscritos são capacitados pela Coordenação do PVG para desenvolver plenamente o trabalho voluntário, inclusive no horário de expediente. Aos voluntários veteranos são oferecidas atividades de aperfeiçoamento e reciclagem de conhecimentos, além de informações sobre a relevância de seu trabalho na sociedade, confirmando a importância da formação e a mais-valia social. Por outro lado, é feito um reconhecimento público a todos os que contribuem para uma cidadania mais ativa. E, além disso, estreitam a sua relação com a comunidade, reconhecendo as iniciativas inovadoras e bem-sucedidas, apoiando projetos de interesse público e incentivando o voluntariado empresarial. “Queremos estimular cada vez mais o voluntariado organizado, doando tempo, recursos, talentos e nossos conhecimentos às comunidades carentes.” Klaus Gerdau Johannpeter Presidente do Conselho do Instituto Gerdau COPA VOLUNTÁRIO GERDAU: mobilização, envolvimento e comprometimento Ao lançar o Programa Voluntário Gerdau, a Empresa desejava estimular o engajamento de seu quadro funcional nas iniciativas sociais apoiadas – com o foco em educação e mobilização solidária. Para tanto, precisava divulgar o novo Programa, fomentando a cultura do voluntariado organizado e bem administrado, possibilitando reconhecimento à atuação dos participantes. Era necessário disseminar, de forma ampla e impactante, o Programa Voluntário Gerdau. 2006 era o ano do futebol. Acontecia a Copa do Mundo na Alemanha. O Brasil inteiro estava atento às vitórias resultantes desse campeonato mundial. A Gerdau vislumbrou nesse fato uma oportunidade para mobilizar, disseminar, envolver o seu time de colaboradores no Programa Voluntário Gerdau. Assim, lançou, em abril de 2006, a Copa Voluntário Gerdau. A intenção primordial era polarizar as pessoas para os objetivos do Programa e, com isso, obter uma adesão bastante representativa. A Copa, por favorecer uma maior atratividade ao Programa, tornou-se um eficiente canal para divulgar seus princípios, diretrizes e objetivos. Tanto que o seu lançamento contagiou a todo o público interno com a forte campanha de comunicação. A Copa Voluntário Gerdau foi elaborada com a formatação de uma gincana. Entretanto, sem envolver a disputa inerente a esse formato. Portanto, os colaboradores deveriam se agrupar em equipes para realizar as tarefas predeterminadas. As incumbências solicitadas visavam auxiliar às instituições sociais das comunidades. A gincana contou com sete tarefas, fazendo um paralelo aos sete jogos que o Brasil disputaria na Alemanha, caso chegasse ao fim do torneio. A diferença era que, na Copa da Gerdau, todos ganhariam: voluntários e entidades beneficiadas. Objetivo da Copa Voluntário Gerdau Despertar o interesse dos colaboradores em realizar uma atividade voluntária, beneficiando o próximo e contribuindo para o desenvolvimento de suas comunidades. Regulamento da Copa Voluntário Gerdau Artigo 1º – O que é a Copa Voluntário Gerdau? Trata-se de uma gincana social, uma iniciativa do Instituto Gerdau, em que os participantes devem formar equipes para realizar as tarefas que irão beneficiar organizações sociais de suas comunidades. O objetivo é disseminar a cultura do trabalho voluntário em toda a empresa e reconhecer a ação dos colaboradores. Artigo 2º – Público-alvo A Copa Voluntário Gerdau é dirigida a todos os colaboradores, incluindo estagiários e prestadores de serviço do Grupo Gerdau. A Copa Voluntário Gerdau foi elaborada com a formatação de uma gincana Artigo 3º – Participação As equipes deverão ter de dez a 40 componentes, podendo ser eles colaboradores, estagiários e prestadores de serviço. Elas terão também que eleger um nome e um capitão, o responsável pelo contato com o Comitê do Instituto Gerdau da Unidade. Artigo 4º – Inscrições As inscrições devem ser feitas junto ao Comitê do Instituto Gerdau da sua Unidade, a partir de uma relação com o nome, número pessoal, e-mail e ramal dos componentes da equipe. O responsável pelo RH da Unidade dos inscritos informa sobre o Comitê do Instituto Gerdau local. Após a inscrição, cada um dos participantes deve cadastrar-se no site do Voluntário Gerdau, localizado no link de Responsabilidade Social, na Gerdau Net. Artigo 5º – OSCs e escolas beneficiadas As Organizações de Sociedade Civil (OSCs) e as escolas beneficiadas pelas equipes a partir das tarefas da Copa Voluntário Gerdau serão selecionadas pelo Comitê do Instituto Gerdau e direcionadas para as equipes. Essas instituições, obrigatoriamente, devem fazer parte da comunidade onde a Unidade está instalada. Artigo 6º – Premiação das equipes vencedoras As equipes que concluírem todas as tarefas serão consideradas vencedoras. Os componentes das equipes vencedoras receberão medalhas como reconhecimento ao seu trabalho e, o mais importante, o carinho das pessoas beneficiadas. Artigo 7º – Das datas e horários As inscrições para a Copa Voluntário Gerdau, com início em 8/3/2006, deverão ser concluídas até o dia 24/3/2006 junto ao Comitê do Instituto Gerdau de cada Unidade. A divulgação dos resultados da Copa Voluntário Gerdau será em data e local a serem informados posteriormente. A Copa tem no início dia 17/4/2006, quando serão divulgadas as tarefas para as equipes. Sua duração é de sete semanas. Artigo 8º – Dos casos omissos Os casos considerados omissos neste Regulamento serão submetidos ao Comitê Organizador da Copa Voluntário Gerdau. Disseminando conceitos por meio de práticas A Copa teve o intuito de incrementar as atividades voluntárias nas ações sociais já realizadas pela empresa. Os projetos e as organizações beneficiadas estão dentro do foco de investimento social da Gerdau – Educação e Mobilização Solidária. Educação, por ser um tema muito amplo, foi dividida em cinco subfocos. Eram eles: Qualidade na Educação, Educação para o Empreendedorismo e Competitividade, Educação de Qualidade para o Terceiro Setor, Educação Ambiental e Educação pela Cultura e Esporte. A escolha da Educação como principal foco de atuação é decorrente da crença de que o desenvolvimento do Brasil está totalmente atrelado a uma melhoria desse segmento. O investimento em uma educação de melhor qualidade, hoje, oportunizará, no futuro, profissionais mais capacitados. E a Mobilização Solidária é um tema que precisa receber mais atenção no Brasil, devido à desigualdade social e à urgência nas carências de uma parcela significativa da população. Cada tarefa tinha o prazo de uma semana para sua realização. Os temas abordados foram: Meio Ambiente, Segurança, Mobilização Solidária, Geração de Renda e, ainda, tarefas conceituais sobre o tema voluntariado. Número de participantes • 6 mil colaboradores INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 gerdau 116 117 • 250 equipes • 95 unidades espalhadas pelo Brasil As tarefas eram enviadas semanalmente para os coordenadores do PVG das unidades Lançamento em grande estilo O lançamento da Copa Voluntário Gerdau contou com um solene ícone. Um grande personagem do futebol brasileiro foi especialmente convocado. Dunga, o capitão do Tetra – na ocasião ainda não era o técnico da Seleção –, foi âncora do clipe de lançamento da campanha. Esse brilhante esportista, personagem carismático no cenário nacional e com importante envolvimento em projetos sociais, foi o escolhido para conclamar todos a entrarem em campo e a mostrarem seu talento para a cidadania. Para enfatizar a linha criativa, foi concebida uma marca específica para a Copa. Um logo, semelhante aos emblemas utilizados pela Seleção Brasileira de Futebol, permeava a campanha e se destacava nos diferentes canais de comunicação internos: cartazes, pop ups na intranet, fôlderes, displays de mesa, banners, flyers, camisetas para as equipes. Um hot site, também especialmente criado, trazia todas as informações sobre a Copa. A divulgação iniciou no mês de fevereiro de 2006, através de teasers. O lançamento ocorreu no dia 8 de março. E o mês de março inteiro foi dedicado às inscrições. A Copa Voluntário Gerdau começou em abril e se prolongou até o fim de maio. Em junho, foram divulgados os resultados. Espírito voluntário, a energia alimentando a solidariedade As tarefas eram enviadas semanalmente para os coordenadores do PVG das unidades, que tratavam de encaminhá-las para os capitães das equipes participantes. Paralelamente, elas ficavam publicadas no hot site da Copa, junto com fotos, depoimento, resultados e regulamento da ação. Para incrementar a divulgação, foram disponibilizados fôlderes, cartazes e banners para as Unidades. Tarefa 1: Brasil x Croácia – Hino da Equipe Essa tarefa teve como objetivos buscar um maior entrosamento entre os componentes da equipe e reforçar conceitos sobre o trabalho voluntário. Conhecer o significado do voluntariado e os princípios que norteiam o Programa mostrava ser da maior importância, para que todos pudessem exercer, da melhor forma possível, o voluntariado organizado. O capitão de cada uma das equipes recebeu, do Comitê do Instituto Gerdau de sua Unidade, um vídeo sobre a Copa Voluntário Gerdau. O vídeo continha conceitos sobre o tema Voluntariado. As equipes se reuniram para assistir ao DVD e, ao final, compor o seu hino, utilizando os conceitos apresentados no vídeo. Após a gravação do hino, este tinha que ser entregue ao Comitê do Instituto Gerdau da Unidade. A sugestão também era que as equipes compartilhassem seus hinos com os demais colegas, a partir de uma apresentação realizada no refeitório ou em outro local da Unidade. Uma atividade opcional. Para realizá-la, era preciso fazer um contato com o Comitê do Instituto Gerdau da Unidade, para agendar data, hora e local da apresentação. Tarefa 2: Brasil x Austrália – Educação Ambiental As equipes realizaram atividades relacionadas à Campanha de Meio Ambiente 2006 do Grupo Gerdau, até então, e recentemente, divulgada em toda a empresa. Deveriam ser realizadas ações relacionadas ao tema. Alguns exemplos: > Implementar uma ou mais ações, como economia de energia elétrica e água, tratamento e reciclagem de lixo ou, ainda, cultivo de árvores e jardins em uma entidade ou escola da comunidade. Essas realizações poderiam ser por meio de palestras, representações do tema em peças de teatro, música, cartilhas ou outra forma criativa que a equipe quisesse utilizar. O Comitê do Instituto Gerdau organizou a participação das equipes em relação às escolas e às entidades, sem prejuízo de suas atividades. > Um mutirão de limpeza em uma rua ou praça da cidade. > Um mutirão para cuidar do paisagismo de uma rua ou praça da cidade, cortando a grama, plantando árvores, flores etc. > Contatos para a aproximação de cooperativas de reciclagem (se houvesse na cidade) com condomínios habitacionais, restaurantes, escolas, entidades ou empresas. A orientação para a tarefa foi: “Deixe o tema da Sustentabilidade no Meio Ambiente orientar as ideias da sua equipe!” Sua realização deveria ser documentada com fotos, vídeo, depoimentos ou qualquer outro tipo de registro e entregue para o Comitê do Instituto Gerdau da Unidade. Tarefa 3: Brasil x Japão – Segurança Segurança é um valor do Grupo Gerdau e tem sido uma das principais ênfases nos últimos anos. A empresa é responsável por propiciar os meios e os recursos adequados para que todas as atividades sejam executadas com segurança. Cada colaborador tem a responsabilidade de zelar por sua segurança e a de seus colegas. O mesmo engajamento, para a integridade dos indivíduos, deve estar presente na comunidade. Certamente, com a experiência e com a dedicação a esse tema, a empresa, além de auxiliar a comunidade, ressaltava a importância e o significado da segurança dos indivíduos. Cada equipe elaborou uma listagem com dicas sobre segurança e apresentou para grupos de alunos, professores, diretores de escola, dirigentes de organizações sociais, seus familiares, empresas da comunidade (fornecedores, prestadores de serviço e clientes), igrejas, associações comunitárias, clubes ou qualquer outro público que também pudesse utilizar esses conceitos de segurança em seus ambientes e relacionamentos. Técnicas lúdicas, como teatro, música e poesia, podiam ajudar a transmitir a mensagem. A empresa tem a convicção de que a disseminação dos conceitos de Segurança Total contribui para uma significativa melhora na qualidade de vida das suas comunidades, prestando um importante serviço de utilidade pública e de respeito ao próximo. As equipes procuraram dicas de segurança na Seção Segurança na intranet (Gerdau Net). Lá estavam disponibilizadas as publicações do Sistema de Segurança Total Família. Mais uma vez, as equipes deveriam documentar a apresentação dos conceitos sobre Segurança, com fotos, vídeo, depoimentos ou qualquer outro tipo de registro, e encaminhar para o Comitê do Instituto Gerdau. Tarefa 4: Brasil x República Checa – Mobilização Solidária Para o Instituto Gerdau, Mobilização Solidária consiste em promover ações sociais que atendam às necessidades pontuais das comunidades, mobilizando os colaboradores e os demais agentes da sociedade. Dentre as ações sociais previstas nesse foco, estão as campanhas de arrecadação que têm por princípio a solidariedade. Todos podem contribuir, de alguma maneira, para melhorar a qualidade de vida do próximo. Nessa tarefa, as equipes deveriam realizar uma campanha de arrecadação. Esta poderia ser de alimentos, agasalhos, calçados, brinquedos, livros, material escolar, material de higiene pessoal ou qualquer outro item que seja de interesse de uma organização social ou escola da comunidade. O material arrecadado deveria ser entregue em uma instituição escolhida pela equipe, juntamente com o Comitê do Instituto Gerdau. Quanto mais a equipe arrecadasse, mais a instituição iria ganhar! As equipes deveriam documentar a arrecadação e a entrega com fotos, vídeo, depoimentos ou qualquer outro tipo de registro e levar para o Comitê do Instituto Gerdau. Tarefa 5: Brasil x França – Bola da Copa do Mundo O Brasil é conhecido, no mundo inteiro, como o país do futebol. Uma personalidade que simboliza brilhantemente o futebol brasileiro é o jogador Dunga – capitão da Seleção quando da conquista do tetracampeonato da Copa do Mundo de 1994. Dunga também é reconhecido por sua dedicação ao trabalho voluntário – o craque da Seleção foi nomeado embaixador das Aldeias Infantis SOS Brasil. A ONG atende a mais de 46 mil crianças carentes em 452 Aldeias espalhadas por 132 países. Portanto, além de ser um ás no futebol, Dunga é um craque da cidadania. O capitão do Tetra autografou, voluntariamente, 268 bolas de futebol, uma para cada equipe participante. As equipes utilizaram a bola para arrecadar fundos para uma organização social – escolhida conjuntamente com o Comitê do Instituto Gerdau da Unidade. Na tarefa, as equipes deveriam se mobilizar realizando INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 gerdau 118 119 uma rifa, leilão, jogo beneficente ou qualquer outra atividade que gerasse renda, a partir da bola autografada. A equipe deveria documentar a realização da tarefa com fotos, vídeo, depoimentos ou qualquer outro tipo de registro e entregar para o Comitê do Instituto Gerdau da sua Unidade. As equipes deveriam combinar com as organizações beneficiadas uma visita posterior para conhecerem as melhorias implantadas com a verba doada. Tarefa 6: Brasil x Espanha – Integração com Geração de Renda Na penúltima tarefa da Copa, foi relembrado o conceito de que o mais importante não é dar o peixe, mas, sim, ensinar a pescar. Nessa tarefa, a equipe apoiou uma organização social na realização de um evento que promovesse alguma atividade de geração de renda. Poderia ser uma quermesse, um brechó, uma feira de pães e bolos, uma feira de artesanato, tapeçaria, crochê ou qualquer outra atividade que pudesse gerar renda para a organização. A definição do tema do evento e da atividade ficou a cargo da imaginação da equipe. Cada equipe tinha até R$ 300,00 (trezentos reais) para sua realização. A verba deveria ser retirada com o Comitê do Instituto Gerdau da Unidade (a prestação de contas seria com a apresentação das notas fiscais e o registro fotográfico). Essa tarefa deveria ser registrada com foto. Ainda nessa data, as equipes deveriam entregar algum registro do cumprimento da tarefa para o Comitê do Instituto Gerdau da Unidade. Tarefa 7: Brasil x Alemanha – Álbum da Copa Esse foi o último passo de uma jornada voluntária iniciada no dia 17 de abril. Nessa caminhada, todas as equipes realizaram ótimos trabalhos, com uma excelente contribuição para as comunidades onde a Gerdau está instalada. Para finalizar, foi solicitado que todas as equipes elaborassem o seu Álbum da Copa, ou seja, um relatório com fotos, vídeos, documentos, depoimentos, ou qualquer outro tipo de registro, de todas as tarefas realizadas. Esse álbum foi entregue para o Comitê do Instituto Gerdau da sua Unidade, juntamente com a Tarefa 6. A cidadania vivenciada pelos colaboradores As tarefas foram sendo realizadas. A cada novo desafio, maior era o aprendizado, a vivência, a chance de aprimorar o espírito solidário. Era o investimento social sendo exercido em sua plenitude. A coordenação, abrangendo a totalidade dos trabalhos da Copa Voluntário Gerdau, envolveu cerca de 250 pessoas, entre colaboradores do Instituto Gerdau, membros dos Comitês do Instituto Gerdau e coordenadores do PVG das unidades participantes da ação. A elaboração do regulamento e das tarefas foi centralizada no Instituto Gerdau; já a divulgação e o acompanhamento ficaram a cargo dos voluntários que participam dos Comitês do Instituto Gerdau das unidades. O investimento contemplando desde a elaboração das tarefas, peças gráficas até a divulgação foi de aproximadamente R$ 440.000,00. Para exprimir o reconhecimento pelo esforço efetuado, foi concedido um certificado a cada participante. As equipes que concluíram as atividades integralmente, ou seja, venceram todas as tarefas da Copa, foram contempladas com medalhas. Durante o evento de confraternização, realizado nos Comitês do Instituto Gerdau de cada Unidade, foram entregues os certificados e as medalhas, agradecendo e, simultaneamente, criando um efeito multiplicador nos presentes. As pessoas foram encorajadas a se transformarem em protagonistas de uma sociedade mais justa. A ação ressaltou o potencial de transformação que essas atitudes representam para o crescimento interior do próprio indivíduo. Isso porque a prática da cidadania favorece a todos, tanto quem recebe quanto quem a realiza. Resultados A iniciativa se mostrou vitoriosa. De tal forma que, ao fim de 2006, o Programa Voluntário Gerdau no Brasil já contava com a participação de 2.400 colaboradores. Todos se dispondo a transportar suas habilidades e eficiência profissional para apoiar os programas, planos e causas que priorizem esse tema. Um crescimento de 68% sobre o número de voluntários existentes ao fim de 2005. Um sucesso surpreendente. Todas as ações da Copa Voluntário Gerdau ocorreram nas comunidades onde estão as 91 unidades do Grupo Gerdau, em 76 cidades de 21 estados brasileiros. As atividades transcorreram em creches, escolas, ONGs, igrejas, praças públicas, entre outras. No total, 6.096 colaboradores participaram das 268 equipes que se empenharam em ações direcionadas e trabalhadas de forma sistêmica. A cada novo desafio, maior era o aprendizado, a vivência, a chance de aprimorar o espírito solidário COPA VOLUNTÁRIO GERDAU > 6.096 participantes, o que representa 33% do Quadro de Lotação do Grupo Gerdau no Brasil. > 268 equipes divididas em 91 unidades (64 filiais da Comercial Gerdau, 18 unidades Siderúrgicas e Fábricas, 8 unidades da Armafer e 1 Florestal). > 205 colaboradores trabalhando na Coordenação da Copa nas 91 unidades. > 472 organizações sociais atingidas em 76 cidades, beneficiando um total de 130.470 pessoas. Resultados 2006 do Programa Voluntário Gerdau > 5.506 horas de capacitação no Programa, com 373 colaboradores capacitados em módulos de 8 horas e 97 capacitados para coordenação do PVG, com módulos de 32 horas; > 2,4 mil voluntários cadastrados; > 211 oportunidades de trabalho voluntário disponíveis; > 137 entidades parceiras atuantes. A coesão dos colaboradores na causa social demonstrou o poder de mobilização desse público. Além disso, confirmou estarem plenamente preparados para disseminar os conceitos do Programa e aplicá-los em suas atividades. Mas o melhor de tudo foi poder perceber a capacidade para desenvolver as comunidades onde o Instituto Gerdau atua, aproximando a Empresa e as pessoas, suas famílias e comunidades que a circundam. A força de grandes campanhas de motivação, para sensibilizar o quadro funcional, mostrou sua eficácia. A Empresa tem ciência de que muitos dos participantes da Copa, que se tratou apenas de uma atividade pontual, não prosseguirão realizando um trabalho voluntário. Mas, ao mesmo tempo, também sabe que uma atitude voluntária foi despertada, pois o exemplo irradiou e, agora, muitos outros já incorporaram o tema e prestam, sistematicamente, um trabalho voluntário. Empresa valida ações de cidadania Sete provas, oito semanas, 6.096 colaboradores do Grupo Gerdau envolvidos com atividades voluntárias, 130.470 pessoas beneficiadas e um total de 472 instituições atendidas em todo o Brasil. Esses foram os resultados da Copa Voluntário Gerdau. A iniciativa do Instituto Gerdau mobilizou muitos na organização das tarefas e promoveu uma grande interação entre a empresa e as comunidades. O trabalho dos craques voluntários foi exemplar. Cheios de empenho, eles se dedicaram a transformar a realidade social de suas comunidades, trabalhando diretamente na melhoria da qualidade de vida de milhares de cidadãos. Com o término da atividade, o Instituto Gerdau reforça a importância do Programa Voluntário Gerdau, que orienta a prática do trabalho voluntário organizado na empresa. Um sucesso que pode ser confirmado assistindo aos melhores momentos da Copa Voluntário Gerdau e aos resultados das tarefas no hot site da iniciativa, disponível para acesso na intranet por todos os colaboradores do Grupo. A empresa já investia em importantes ações sociais e culturais, mas o envolvimento direto e voluntário de seu público interno foi decisivo para estreitar ainda mais os seus laços com a sociedade, obtendo importante reconhecimento e uma visão ampliada de sua função social. O Grupo Gerdau e seus colaboradores se envolveram efetivamente com a comunidade. Exerceram o verdadeiro papel de uma empresa cidadã, quando prestaram uma expressiva contribuição social com suas realizações. A satisfação de estar ajudando para o aprimoramento do ambiente social foi desfrutada entre os colaboradores e a Empresa. A evolução do desempenho profissional dos voluntários envolvidos também foi significativa, visto que o voluntariado aumenta a satisfação pessoal e auxilia no desenvolvimento de competências e habilidades pessoais, que reflete nas atividades diárias desses colaboradores. As ações foram tão significativas que cada realização despertava, nos participantes, o desejo de vestir literalmente a camisa do Voluntário Gerdau. INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 gerdau 120 121 Um Brasil educando para a cidadania Para a construção de uma nação mais solidária e ética, é preciso conclamar todos para a implantação de ações solidárias, oportunizando, assim, um Brasil maior. Se mais pessoas optarem pelo voluntariado, a chance de um mundo mais humano ficará ampliada. Um dos grandes desafios é mostrar que, com a solidariedade, é possível transformar o sonho de uma vida digna e melhor numa realidade que inclua toda a gente brasileira. O Programa Voluntário Gerdau vem enfatizando o comprometimento com a prática da cidadania e incentivando os colaboradores de diferentes áreas a usarem sua capacidade intelectual para se unirem em atitudes voltadas para auxiliar suas comunidades. A ação vem oportunizando que soluções criativas surjam em benefício da sociedade e contribuam para a existência de uma vida melhor. Para muitos. Anexos Comentários dos participantes da Copa Voluntário Gerdau “A CVG passou muito rápido, mas foi um sucesso para todos nós. Fizemos pessoas se sentirem felizes e ficamos mais felizes ainda. Aprendemos que ser solidário não é doar aquilo que está nos sobrando, mas, sim, compartilharmos o que temos, seja nosso tempo, nosso alimento, nosso agasalho, ou mesmo a nossa força. Um abraço para todas as equipes da CVG.” Equipe Esquadrão Solidário – Gerdau São José dos Campos ”A Copa Voluntário fez com que inúmeras pessoas, sem distinção de sexo, credo ou idade, se envolvessem num só objetivo: solidariedade. Muitos viam o mundo de uma forma isolada, e com este trabalho, puderam ver que com um pouco de dedicação, união e amor torna-se fácil ajudar o próximo. Foram inúmeras as pessoas, famílias e entidades que foram contempladas, porém fomos nós, Voluntários, que mais ganhamos, pois aprendemos a ser mais humanos.” Equipe Super Ação – Gerdau Açominas ”A Copa Voluntário Gerdau foi uma oportunidade que tivemos até agora para refletirmos no nosso dia a dia o quanto é gratificante e importante poder estar dedicando um pouco de nós em prol das pessoas necessitadas da nossa comunidade.” Equipe Corrente do Bem – Gerdau Divinópolis ”A Copa Voluntário chegou ao fim, todas as equipes participaram de forma expressiva, marcamos vários gols de solidariedade e o resultado final foi surpreendente. Nós, da equipe Ação e Cidadania, gostaríamos de deixar a seguinte mensagem, que representa o nosso resultado final: APRENDA amar todos indistintamente, para conseguir encontrar a luz que tanto anseia; PROCURE não distinguir o sábio do ignorante, o rico do pobre, quando se trata de ajudar; SAIBA levar aos tristes a consolação; aos que lutam, o incentivo da compreensão e do carinho; a quanta gente você pode ajudar com sua palavra, incentivar com um pensamento! AME TODOS, INDISTINTAMENTE! AJUDAR FAZ BEM À ALMA E AO CORAÇÃO.” Equipe Ação e Cidadania – Gerdau Açominas “Chegamos ao final desta Copa com a certeza de dever cumprido. Foi muito bom passar um mês podendo ajudar várias pessoas de formas diferentes. Parabéns à Gerdau pela ideia, e espero que tenhamos muitas Copas como esta aí pela frente!! Solidariedade sempre!!!!” Equipe Super Ação – Gerdau Açominas “Gostaríamos de manifestar toda a nossa gratidão por estarmos à frente de um projeto tão emocionante como é a Copa Voluntário Gerdau. Através dela, proporcionamos aos participantes a oportunidade de conhecer um pouco mais das instituições com que nós já mantemos um vínculo e, também, abrimos as portas para que os colaboradores pudessem expor suas ideias e trazer novas experiências. Foram várias as tarefas distribuídas às equipes, nas quais os participantes puderam, além de levar ajuda material às entidades, dar um pouco de carinho para aqueles que estão esquecidos. Puderam também levar uma coisa que não tem preço: o CONHECIMENTO. E dizemos mais: se nessas atividades aplicadas por nossos colaboradores, seja sobre segurança, meio ambiente ou cidadania, nós conseguimos atingir ou colocar na cabeça de 10% dos beneficiados a verdadeira importância de, por exemplo, preservar para ter, ou também, do conhecer para reciclar, posso dizer tranquilamente, que nosso objetivo foi alcançado e que estamos no caminho certo rumo à busca pela autossustentabilidade das comunidades aos arredores das unidades, e que o Grupo Gerdau, como sempre, está fazendo a sua parte em busca da igualdade para todos.” Coordenadores do Comitê do Instituto Gerdau – Gerdau Guaíra “A Copa Voluntário chegou ao seu fim? A Copa sim, mas o nosso espírito de voluntariado jamais pode acabar. Espero que, após a Copa, continuemos ajudando aqueles que precisam e que cada dia tenhamos a certeza de que fizemos uma boa ação. Um abraço a todos!!!!” Equipe Ação – Gerdau Açonorte “A Copa Voluntário chegou ao final... Na verdade, é o início de um trabalho que não tem fim, pelo contrário, se multiplica a cada dia. A equipe Porto Solidário agradece à Gerdau por essa iniciativa extraordinária que se propagou com tanta responsabilidade. É muito bom descobrir que podemos fazer muito pelo próximo e que para nós custa tão pouco. Valeu a pena!!!!!!!” Equipe Porto Solidário – Gerdau Açominas Isabel Reis é coordenadora do Programa Voluntário Gerdau. Paulo Ratinecas é sócio-diretor da MaxiMarket Gestão do Reconhecimento. INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 amanco brasil 122 123 EDIÇÃO amanco brasil (Edição 81 / Julho-Agosto de 2010) CASE STUDIES REVISTA BRASILEIRA DE MANAGEMENT Yazmín Trejos TRANSFORMANDO A CRISE EM OPORTUNIDADE A Amanco Brasil Ltda. é a subsidiária brasileira da Amanco, uma das líderes mundiais e líder absoluta na América Latina em tubos e conexões. Com quatro fábricas no país – única fabricante de tubos e conexões do Brasil a ter a tripla certificação em suas fábricas – a vadoras, produzidas com a mais alta tecnologia, ecoeficiência e qualidade. R$ 658 milhões, valor que representa 30% de todo o negócio da Amanco na América Latina. A empresa apresentou um crescimento de 59% no EBITDA em comparação com 2008. O crescimento do EBITDA suportou uma geração de caixa relevante que foi aplicada em redução de dívidas bancárias, encerrando o ano com 0,3 vez a relação entre dívida e EBITDA, contra 1,3 vez em 2008. O comportamento de mercado exigiu da empresa reavaliar todos os seus processos internos, a fim de otimizá-los e alavancar o resultado econômico-financeiro. Todas as áreas foram envolvidas na busca de oportunidades nas diversas linhas do resultado, como receita, custo de produto, manutenção, além de produtividade e capacidade. “O positivismo da gestão e o envolvimento de todos os colaboradores fizeram com que a empresa crescesse mais que o mercado. Essa gestão afirmou, durante todo o ano, que a Amanco iria transformar a crise em uma oportu- A MEXICHEM Mexichem é um grupo mexicano de empresas químicas e petroquímicas e controlador da Amanco. Com o respaldo de mais de 50 anos de trajetória, a Mexichem atua nas cadeias produtivas do flúor e do clorovinil, sendo líder em toda a América Latina nos dois segmentos de negócio para mais de 50 países. A AMANCO TRANSFORMOU A CRISE EM OPORTUNIDADE Mesmo com demanda retraída no mercado nacional, principalmente pela queda de 6% do PIB da construção, a Amanco apresentou em 2009 um crescimento em suas vendas líquidas de 4% em relação a 2008, sendo 9% de crescimento em volume. As vendas líquidas totalizaram empresa atua nos segmentos predial, infraestrutura e agrícola. Seu escritório principal se localiza em São Paulo. figura Toda a atuação da Amanco é sustentada pelo conceito de triplo resultado: econômico, social e ambiental. Ou seja, toda e qualquer ação/produto desenvolvida pela empresa deve apresentar vantagens econômicas, oferecer benefícios para a sociedade e primar pela preservação e sustentabilidade do meio ambiente. Por isso, conta com programas de ecoeficiência em todas as suas unidades fabris, o que a colocou entre as 20 empresas-modelo brasileiras, selecionadas por três anos consecutivos (20072008-2009), do Guia Exame de Sustentabilidade. Foi eleita em 2009 pela oitava vez seguida como uma das “150 Melhores Empresas para se Trabalhar no Brasil”, em pesquisa realizada pelas revistas Exame e Você S/A. Indicadores econômicos GRI EC1 VENDAS LÍQUIDAS milhões de R$ 2009 2008 2007 150 300 450 600 GRI EC1 CRESCIMENTO DO EBITDA* A AMANCO NA AMÉRICA LATINA A Amanco é uma companhia industrial, parte da Mexichem, líder latino-americana absoluta na produção e comercialização de tubos e conexões para a condução de fluidos, principalmente água. Os produtos Amanco são comercializados em 20 países do mundo por meio de uma extensa rede de mais de 50 mil pontos de venda. A Amanco conta com 27 fábricas em 11 países da América Latina, oferecendo soluções ino- 98.0% 83.0% 59.1% 59.1% 2007 2008 2009 * resultado operacional antes da depreciação, despesas financeiras e impostos. INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 amanco brasil 124 125 nidade, o que se refletiu em um crescimento de 59% no EBITDA”, destaca Maurício Harger, diretor administrativo-financeiro da Amanco Brasil. A receita líquida da Amanco totalizou R$ 658 milhões, o que representa um crescimento de 4%, frente a uma queda do mercado da construção civil de 6%. A expansão foi sustentada pela área predial e autoconstrução. Comparando as vendas líquidas de 2007 a 2009, o crescimento acumula 32%. Buscando as oportunidades externas diante da demanda estável e impactada por iniciativas internas de otimização de processos e custos, a Amanco aumentou seu EBITDA em 59%. Nos últimos dois anos, acumula 195% de crescimento. AÇÕES COMERCIAIS COMO MOTOR DA SUSTENTABILIDADE FINANCEIRA DA EMPRESA A crise econômica mundial, que também afetou o mercado de construção, sobretudo no primeiro semestre, não inibiu a estratégia comercial diferenciada da Amanco – comparando as vendas líquidas de 2007 a 2009, o crescimento acumula 32%. Pelo contrário, a área comercial não realizou cortes no orçamento e apresentou grande foco no mercado, investindo em uma série de ações de relacionamento com seus principais canais de vendas: varejistas; empreiteiras, construtoras, instaladoras; e distribuidores atacadistas. “Temos uma visão de médio e longo prazos, com ações que nos trarão a preferência do mercado”, diz Mauro Napolitano, diretor comercial da companhia. Para o varejo, a fórmula de crescimento da Amanco somou treinamento, capacitação e acesso ao crédito. Assim, além da parceria com o Senai para formação de instaladores hidráulicos, que foi intensificada, e o CredConstrução®, que se consolidou em 2009, investiu fortemente na capacitação de balconistas e dos próprios donos de lojas de material de construção. Em janeiro do ano passado, a empresa levou 80 lojistas que obtiveram os melhores desempenhos de vendas em produtos da Amanco a Nova York para participar do congresso da National Retail Federation (a maior associação de varejo mundial), e, em outubro e novembro, mais 80 a Paris, para a Batimat 2009, a maior feira de construção civil do mundo. “Os profissionais conheceram o que há de mais atual no setor, para que pudessem aplicar nos seus negócios. Oferecemos também palestras e cursos presenciais nas lojas aos balconistas para que entendessem melhor a cadeia hidráulica, além de incentivos”, explica o diretor comercial. Com empreiteiras, construtoras e instaladoras, o foco da Amanco continua sendo o de desenvolver de forma conjunta novas tecnologias, no sentido de lançar produtos que otimizem suas obras. Nesse contexto, em setembro de 2009, a empresa levou 17 clientes desse canal para a Holanda a fim conhecer inovações da Wavin, um dos principais fabricantes europeus de tubos e conexões e parceiro tecnológico da Amanco. Na ocasião eles conheceram a tecnologia empregada nas linhas Amanco Biax e Novafort, do segmento de infraestrutura. “Quem consegue ter acesso a novas tecnologias tem vantagem competitiva”, complementa Napolitano. Para distribuidores atacadistas, a Amanco também está inovando. “Dentro de uma visão de longo prazo focada no crescimento conjunto, oferecemos um programa de consultoria externa com o objetivo de aprimorar e tornar sustentáveis seus negócios nas áreas de logística, gestão e trade marketing. Começamos no ano passado com 15 clientes”, afirma o diretor. O COMPROMISSO COM A TRANSPARÊNCIA FOI REFORÇADO A crise trouxe um dilema na contratação de novos fornecedores de matéria-prima e produtos de revenda na Amanco. Com exceção dos fornecedores de transporte e resina de PVC, que representam 50% da compra total de matéria-prima e produtos de revenda, em 2009 a empresa precisou atenuar sua criteriosa avaliação de fornecedores, baseada em variáveis socioambientais, para focar a consolidação de compras em busca de economia para o grupo. Segundo Humberto Zalewski Dominoni, diretor de Supply Chain/Suprimentos e Logística da Amanco Brasil, do ponto de vista de compras, o ambiente de crise pode se transformar numa oportunidade, pois muito mais fornecedores também passaram a buscar novos negócios. Muitos se apresentam para as organizações como candidatos em potencial, o que gera mais competitividade no mercado e, consequentemente, mais possibilidade de economia para o cliente. Foi preciso avaliar econômica e financeiramente cada candidato, para determinar quem eram os fornecedores mais adequados. Porém, a empresa não conseguiu imple- mentar em todos os prospectos o sistema complegistrar entre 94 e 96 pontos gaA Amanco é a to de avaliação. rantirá a prata, mas para chegar única fabricante No entanto, ciente da relevância de uma relação à melhor posição e conquistar o de tubos e estável, a Amanco procurou acompanhar de perto ouro deve registrar acima de 97. seus fornecedores atuais, sempre com o objetivo Ao fim de 12 avaliações é conexões de assegurar para eles que haveria continuidade de feita uma média e as empresas do Brasil negócios e sinalizar qualquer mudança com antesão premiadas pela sua atuação, com tripla cedência, acompanhamento que foi sentido e permas para ter direito à premiação, cebido por eles. a transportadora tem de ter tracertificação “Nós, assim como a Amanco, sempre buscamos balhado com a Amanco por no uma relação de longo prazo com nossos parceiros. mínimo nove meses. A Amanco sempre teve uma postura transparente e Para Jean Magnos Pavanello, ética. Mesmo nos períodos mais difíceis, as negociações gerente de Compras, Transportes e Projetos Logísticos, o foram claras quanto às necessidades de cada um. Saímos SQT também gera retorno socioambiental. “Quanto mais da crise com a certeza de ter uma relação ainda mais sólida a transportadora se qualifica e se desenvolve, mais ela gae firme”, analisa Célio Andrino, diretor de Projetos Estratérante a continuidade dos negócios com a Amanco”, diz. gicos Globais da Color Matrix. O ano de 2010 traz de volta Em relação ao aspecto ambiental, ele ressalta que o cona avaliação completa de fornecedores, que será a ferratrole de emissão de fumaça, avaliado durante o processo menta-chave para a empresa encarar o desafio de garantir de inspeção do veículo, tem reflexo direto na qualidade do que o novo portfólio de empresas parceiras, incorporadas ar que respiramos. durante a crise, esteja no mesmo padrão de prática de susSegundo Odair Sutil, analista de logística, o sistema de notentabilidade que vinha sendo cobrado de todos aqueles tas é muito positivo, pois estimula as empresas a atuar de forque já trabalhavam com a Amanco, até o momento prema efetiva para superar sua classificação e subir de categoria. sente. Os novos fornecedores serão avaliados por meio de Em sua 12ª edição, o sistema de qualidade de transporvisitas e processo de autoavaliação. Como aprendizado do tes, no ano de 2009, foi um período de boas notas, visto período, ficou claro que toda crise é uma oportunidade, que todas as empresas participantes foram premiadas. No porém, “temos de criar mecanismos para que todo o prototal, foram oito bronzes, 13 pratas e dois ouros. cesso esteja no piloto automático. A sustentabilidade tem Os premiados são devidamente reconhecidos com trode estar embutida no processo”, conclui Dominoni. féu e certificado, em um evento com a participação de membros da diretoria da Amanco. PROGRAMA DE TRANSPORTADORES De olho no trabalho das transportadoras que fazem os PROGRAMA DE TREINAMENTO DE FORNECEDORES fretes de seus produtos, a Amanco criou um sistema de Motivada por sua cultura de trazer melhorias para os qualidade no transporte, o SQT, no qual todas as empreque atuam ao seu redor e satisfeita com os resultados atinsas fornecedoras são avaliadas sob cinco critérios: cumgidos dentro de casa com o programa Excelência em Práprimento de prazo de entrega, reclamações relacionadas tica, a Amanco decidiu estender o benefício para os seus ao transporte, planejamento e produtividade, inspeção de fornecedores. Em 2009, deu início à aposta no Programa veículos e retorno de informação. de Desenvolvimento de Cadeias Produtivas, que, em parAs avaliações são feitas mensalmente, cada indicador ceria com o Instituto Euvaldo Lodi (IEL), a Fiesc e o Senai, tem sua pontuação e a transportadora pode chegar até oferecerá capacitação da equipe de seus fornecedores na 100 pontos. A empresa que estiver com menos de 75 ponfilosofia de administração japonesa Lean Manufacturing. “É tos deixa de trabalhar para a Amanco e a que estiver entre uma oportunidade que vimos de levar a um grupo de pe75 e 85 será considerada satisfatória. Para se enquadrar na quenas e médias empresas, com as quais trabalhamos, um categoria bronze é necessário ficar entre 86 e 93. Se reprojeto que lhes permita evitar ou eliminar desperdícios INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 amanco brasil 126 127 nas suas operações”, explica Humberto Dominoni. de instabilidade financeira Uma ferramenta O programa tem duração de 18 meses e é ese as empresas procuravam foi considerada truturado a partir de uma empresa âncora, no caso, uma solução para cortar a Amanco, que indica sete fornecedores de sua custos, a Amanco não cedeu essencial para cadeia para participar da oficina prática e do treiàs tentações. o sucesso das namento teórico, divididos em 200 horas/aula, 100 A visão empresarial de vanações de todas as para cada disciplina, realizados na própria empresa. guarda do Grupo Mexichem, A âncora acompanha seus patrocinados e participa holding da Amanco, fez valer áreas em 2009: da avaliação, nos fóruns promovidos com todas as sua postura de sustentabilidaa comunicação equipes envolvidas. A Amanco também oferecerá de. Com esse pensamento, a uma consultoria, cada uma das empresas provedoAmanco logo descartou que a ras passará por um Kaizen de sua preferência. única solução para a crise e a Os conteúdos aplicados no programa são relacionados redução de volume esperado seria a demissão de colaaos temas: Qualidade, Inovação, Responsabilidade Socioboradores. “Nós buscamos soluções criativas, envolvendo ambiental e Produção. A primeira fase do processo comeos colaboradores nessa busca”, diz Clodoaldo Heidmann, ça com a sensibilização do fornecedor sobre a oportunigerente de Recursos Humanos da Amanco Brasil. dade. Em seguida, para aqueles que aderirem, é aplicado E, com criatividade, as ideias foram surgindo ao longo um diagnóstico para saber em qual dos pilares existe uma do ano. Entre elas, o destaque vai para o intercâmbio ennecessidade maior de aprimoramento. “Cada participante tre áreas, realizado com o cuidado de fazer a troca entre vai se beneficiar na área em que mais precisa, onde ele tem funcionários que tivessem o mesmo nível salarial. “No fim um gap”, diz Jean Magnos Pavanello, gerente de Compras, do mês é muito comum, por exemplo, o setor de logístiTransportes e Projetos Logísticos da Amanco. ca estar sobrecarregado, já que é época de fechamento. Para Pavanello, o programa mostra que a Amanco tem A gente costumava até contratar temporários para ajudar. uma visão ampla, e que promove a sustentabilidade das Com a crise, nós resolvemos utilizar colaboradores de relações de negócio com fornecedores, pois investe no produção para atuar na área de logística”, explica Eugênio desenvolvimento de gestão dentro da sua cadeia de suMafra, ex-gerente da fábrica de Sumaré. primentos também. “Vamos evitar os desperdícios desde Segundo Wanderley Venâncio, do setor de Logística, essa o início do processo, além de gerar uma relação de longo área foi a que mais se utilizou do recurso do intercâmbio, e prazo com o fornecedor. Vamos melhorar e crescer junele informa que a empresa tem um banco de dados sobre tos. Com a capacitação, a empresa se torna mais compehabilidades de cada profissional, com informações levantatitiva, mais eficiente, o que será uma contrapartida para a das no momento da contratação, o que facilitou o mapeaAmanco, além de fortalecer seu compromisso com a resmento para a troca de funções. “Foi feito um estudo para auponsabilidade socioambiental.” mentar o aproveitamento sazonal dos colaboradores.” Para Ao fim do treinamento, os participantes são avaliados ele, essa sinergia foi um esforço válido, que se mostrou eficaz e certificados pelo programa, que já foi aplicado com suem evitar demissões e gastos com serviços de terceiros. cesso em outros estados do Brasil e em outros setores. Em O expedidor Ed Gilson Venâncio, que lidava com o Santa Catarina, a Amanco será uma das pioneiras no setor produto acabado, foi remanejado para a produção e coda indústria plástica. nheceu o início do processo de fabricação. “Eu lidei com matéria-prima. Foi muito interessante a experiência.” Ele COM UMA POSTURA EQUILIBRADA considera uma decisão estratégica da empresa ter preserPensamento a longo prazo, transparência e criatividade. vado o emprego de seus colaboradores e, ainda, ofereciForam esses os principais aprendizados na gestão dos codo a oportunidade de aprimoramento. “No meu currículo, laboradores para encarar a crise durante 2009. agora posso dizer que já passei por várias áreas aqui dentro Numa época em que o mundo passava por uma fase e sei onde tudo começa”, salienta Ed Gilson. A Amanco procurou também manter os benefícios. Optou por suspender algumas atividades, como a festa de fim de ano e a distribuição de brinquedos no dia das crianças, para manter o pagamento do plano de saúde, que representa 13% da folha nominal da empresa. IMPORTÂNCIA DO LÍDER A comunicação foi a ferramenta essencial para garantir o clima no ambiente de trabalho. Por isso, a Amanco fez questão de tomar um cuidado especial em manter a transparência com seus colaboradores. Um alinhamento no discurso foi realizado, para que todos os líderes do grupo soubessem exatamente como passar as mensagens para os interessados. “O papel do líder foi importantíssimo. Se ele não está seguro, como vai ficar a cabeça daqueles para quem ele está passando a informação? Ele foi a chave do processo”, registra Adriano Perboni, gerente da fábrica de Joinville. Apesar da fase difícil atravessada pelas empresas do setor de construção civil, em 2009, Clodoaldo acredita que a Amanco absorveu aprendizados. O principal foi ser criativa na procura de soluções diferenciadas, e um motivo de orgulho foi a preservação do quadro funcional. “Não demitir foi uma decisão de risco, mas um risco calculado, que valeu a pena. A crise passou e nós não tivemos os custos com demissões, recontratações e novos treinamentos.” Em um balanço geral, já com o pensamento voltado para as oportunidades em 2010, o principal desafio é manter o nível de comprometimento e trazer ainda mais a linguagem empresarial para o entendimento de todos os colaboradores nas nossas comunicações. Na Amanco, o saldo foi um sentimento ainda maior de comprometimento e cumplicidade entre empresa e colaboradores. Hoje, todos sabem que a empresa realmente se preocupa com eles. Por tudo isso, ficou claro que a decisão de negócio baseada em critérios econômicos, sociais e ambientais é sempre a mais acertada. Procedimentos para contratação local e proporção de membros de alta gerência recrutados na comunidade local, em unidades operacionais importantes Na Amanco não houve contratação de Alta Gerência/ Diretoria nesse ano, apenas promoções de pessoas já atu- antes. Por esse motivo, consideramos os quatro diretores promovidos durante o período. A empresa possui um Procedimento Interno para Recrutamento e Seleção, no qual consta a seguinte orientação para Recrutamento Interno: Processo que visa a proporcionar oportunidades internas e criar um ambiente de estímulo ao desenvolvimento dos colaboradores. No momento da abertura de qualquer vaga, o gestor poderá optar pelo recrutamento interno ou, simultaneamente, considerar para a vaga candidatos internos e externos. Isso será determinado no início do processo, quando ocorrer o alinhamento do perfil da vaga, na área de Recursos Humanos. A divulgação interna das vagas é realizada nos meios de comunicação adequados para o tipo de vaga, como intranet, e-mail e murais e/ou outros, onde são especificadas informações tais como: cargo, descrição sumária, requisitos obrigatórios e desejáveis e detalhes relevantes do cargo ou competência do candidato, quando necessário, e a forma de inscrição dos mesmos. A partir desse processo, pode-se avaliar talentos internos qualificados para assumir uma nova função . COMUNICAÇÃO TRANSPARENTE E NO MOMENTO CERTO Entre todos os aspectos observados, uma ferramenta foi considerada essencial para o sucesso das ações de todas as áreas da Amanco: a comunicação. Em 2009, mais do que nunca, a sinceridade e a clareza das informações passadas pela empresa para todos os seus stakeholders da cadeia produtiva foram peças-chave para garantir um bom relacionamento e continuidade de negócios. “Internamente, isso refletiu em todos os nossos colaboradores, que, desde o início, entenderam a postura da Amanco de não fazer parte da crise, foram parceiros e entraram no clima para transformar as dificuldades em um momento de oportunidade de negócios para a empresa. Mantê-los bem informados e atualizados sobre os resultados da companhia quando o mercado anunciava informações pessimistas e demissões em massa, fez toda a diferença”, diz Yazmín Trejos, gerente de Comunicação Corporativa da Amanco Brasil. A estratégia da companhia foi utilizar o seu principal canal de comunicação: os líderes, que foram muito eficien- INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 amanco brasil 128 129 tes ao passar com transparência as informações nas é sucesso nos EUA, foi uma As melhorias da reuniões mensais de Pauta de Líderes. O conteúdo das decisões de negócio que gestão garantiram da pauta é feito pela própria diretoria da empresa. também colaboraram para O então coordenador da unidade Floresta, em afastar a Amanco da crise uma diminuição Joinville, e atual gerente da unidade Sumaré, Luiz financeira internacional em de 41% no tempo Carlos da Silva, que tem sob sua responsabilidade 2009. Com criatividade, foi de processo de mais de 500 pessoas, considera sua função estrapossível maximizar resultégica, pois ele funciona como um canal de ligação tados por meio de ativos já atendimento entre a alta diretoria e gerência e o “chão de fábrica”. existentes e, ainda, bater reao cliente “As reuniões são o momento em que eu estou cordes de produção. “O ano mais próximo da totalidade dos colaboradores. foi marcado pela incessante E meu trabalho é colocar em linguagem mais simbusca pelo máximo de eficiples o que vamos reportar para eles”, conta. Silva diz ainda ência operacional com o mínimo de investimento, ou seja, que uma das grandes vantagens da Pauta dos Líderes é mais do que nunca, trabalhar o conceito de ecoeficiência, nivelar a informação, que, assim, chega da mesma forma que é fazer mais com menos, mantendo a qualidade dos e vem da mesma fonte para todos. “Isso reduz muito a produtos e serviços”, explica Regina Zimmermann, direto‘rádio-peão’, os boatos e a fofoca.” ra industrial da Amanco. Além dos líderes, a Comunicação Interna da Amanco A iniciativa Excelência em Prática engajou os colabousou de várias formas para atingir o seu objetivo de levar radores na busca por aumentar a velocidade da empresa, a informação certa e oficial para o seu público, além de evitar desperdícios e usar os recursos disponíveis de forma engajar a todos. Para isso, os canais fixos de comunicação mais eficiente e focada em resultados, além de considerar foram trabalhados intensamente e ainda reforçados com a os valores ambientais e sociais que estão alinhados com a realização da campanha anual Rumo à Liderança. Um dos estratégia da Amanco. principais canais é o Cartaz de Orgulho, que teve como O primeiro passo foi sensibilizar altos líderes da empreum dos seus objetivos mais importantes acompanhar os sa, mobilizar gerentes e diretores para a necessidade da resultados, mês a mês, para todas as unidades. inserção de uma nova cultura. Ao reforçar sua mensagem de que a empresa não iria Na sequência, a ação foi fazer um mapeamento do proaderir à crise, e diante do desafio de implantar com sucesso e identificar pontos em que houvesse oportunidacesso o programa de excelência em prática, a Amanco fez des para agir. Após a identificação, os gerentes da empresa da comunicação sua principal ferramenta para disseminar quantificaram e priorizaram as ações de acordo com a esos objetivos e as metas de cada iniciativa estratégica da tratégia da Amanco e com o impacto da realização. empresa. Os temas considerados mais importantes no momenAlém de informativa, a comunicação foi imprescindíto foram tratados em eventos Kaizens, realizados com uma vel para motivar os colaboradores na busca contínua de equipe formada por 12 colaboradores, sendo que um terço resultados. “A transparência é muito importante. A gente deles pertencente à área em que está sendo feita a atuação, começou o ano já dizendo qual seria o objetivo financeiro; outro terço é formado por convidados de outros setores e com isso, todos sabem quanto o acionista está esperando o restante é proveniente de área de suporte. Dessa forma, para poder pagar o PPR de 2009 e todos corremos atrás o Kaizen tem um time multidisciplinar. de lográ-lo”, diz Clodoaldo Heidmann, gerente de RH da Amanco. ECONOMIA EM GRANDES QUANTIDADES Em números, o Excelência em Prática conseguiu tirar UM PROCESSO QUE VAI ALÉM DAS EXPECTATIVAS mais 415 toneladas de produtos por mês, com os equipaExcelência em prática. A implantação da filosofia de mentos já existentes. O novo pensamento também identifiadministração japonesa Lean Manufacturing, que também cou deslocamentos de pessoal desnecessários, fez remane- jamentos produtivos, como transferência de equipamentos e modificações nas entregas e, com isso, evitou que produtos fabricados parcialmente em uma planta fossem transportados para outra. Ganhou agilidade e velocidade para chegar ao cliente, com o adicional de também ter evitado emissões de CO2, ao diminuir o tráfego de caminhões. Na opinião de Luiz Oliveira, diretor da Ótima Estratégia e Gestão, consultor contratado para implementar a metodologia japonesa na Amanco, a empresa foi muito estratégica na decisão de aderir à cultura de melhorias em prol de gerar economias no momento de crise. Segundo Oliveira, a atitude mostra o amadurecimento da Amanco, que, diferente de muitas empresas, mais imediatistas, investiu numa cultura antidesperdício e encarou o desafio com seriedade. “Primeiro, buscou-se um alinhamento interno, o que é muito importante para a concretização e a sustentação do trabalho.” Com isso, houve o comprometimento e o envolvimento de todos. Também foi detectado um aumento de 48% nas taxas de produção dos tubos de 100 milímetros e uma redução de 71% no tempo de deslocamento do colaborador no processo, o que gerou mais 237 horas de produção/máquina, convertidas em 235 toneladas de produtos, ou seja, atingiu-se o montante de 20% a mais com o mesmo equipamento. Sobre o cliente, pode-se dizer que as melhorias na gestão garantiram uma diminuição de 41% no tempo de processo de atendimento, o que resulta em uma redução de tempo de entrega, que foi o principal reflexo para o cliente. É válido mencionar que, dessa forma, a Amanco também conseguiu um impacto importante na construção civil, pois gerou processos produtivos mais competitivos e, com sua persistência, fez com que o setor deixasse de utilizar fornecedores menos qualificados, sem qualidade e que não cumprem as normas técnicas. SINERGIA E ENGAJAMENTO Segundo a diretora industrial, o desafio da Amanco era fazer com que a Iniciativa Excelência em Prática fosse de toda a empresa e não só da área industrial. Para isso, foi preciso criar uma integração, na qual não existissem fronteiras entre áreas, com equipes multidisciplinares que trabalhassem juntas, para maximizar os resultados e, dessa forma, ter uma visão do todo. Todos os objetivos foram alcançados. Os resultados, que foram obtidos por meio de contribuições, tanto operacionais quanto administrativas, prova de sucesso e engajamento em toda a empresa, foram extraordinários para a Amanco, pois impactaram diretamente no negócio, por meio do aumento da competitividade. O consequente aumento de vendas e ganhos afastou, de vez, a temida crise. O advogado da área jurídica da Amanco Leandro Fabrício Dix, que participou do Kaizen de Nivelamento de Produção Tubo Esgoto DN 100, em Sumaré, empolgou-se e entrou no clima de engajamento. “Foi uma experiência enriquecedora. Vivenciei uma realidade que não temos oportunidade de ver na prática, só conhecemos na teoria. A ideia é muito boa. Colocar pessoas de outras áreas para dar sugestões, pois elas têm outro paradigma, o que ajuda a identificar as coisas, que, muitas vezes, estavam até fáceis de perceber, mas ninguém tinha feito o esforço de parar tudo e pensar. Com o que aprendi lá, vou poder usar quando estiver escrevendo um documento que exija algum conhecimento técnico, que antes eu não tinha. Gostei tanto que incentivei outras pessoas, disse que elas deveriam participar.” Para garantir o engajamento de todos, foi criada uma campanha de comunicação interna específica, com o objetivo de estimular a participação dos colaboradores e acompanhar a divulgação de resultados, que eram posteriormente comemorados de forma especial entre os participantes de cada Kaizen. Os ganhos foram visíveis na percepção do aumento da produtividade no trabalho, pois houve um melhor aproveitamento do quadro de pessoas para enfrentar a crise, e a empresa ainda ganhou com a revelação de novos talentos que despontaram em cada Kaizen realizado. SISTEMA DE GESTÃO DE ALTO DESEMPENHO Entre as metas estabelecidas para o ano estava a renovação da tripla certificação das quatro fábricas em Joinville, Sumaré e Suape, que foi cumprida. Desde 2004, a Amanco é a única fabricante no segmento de tubos e conexões que possui um Sistema Integrado de Gestão, certificado em conformidade com: ISO 9001 – Gestão da Qualidade, ISO 14001 – Gestão Ambiental e OHSAS 18001 – Gestão de Saúde e Segurança. INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 amanco brasil 130 131 SEGURANÇA NO TRABALHO Em um panorama de realizações, apenas um aspecto não foi tão positivo. Há anos sem ocorrências, os acidentes com afastamento em fábrica voltaram a acontecer. Em Joinville, Planta Floresta, que chegou a comemorar cinco anos sem acidentes, um fato foi registrado. O mesmo aconteceu em Sumaré, que havia passado três anos sem acidentes. Em Suape, dois casos foram registrados, após ter mantido o placar zerado por dois anos. A Planta do Glória, em Joinville, permaneceu o ano de 2009 com zero acidente. Por isso, para 2010, um dos principais desafios será realizar uma linha forte de comunicação, em relação à segurança no trabalho, com campanhas constantes. Além disso, também estarão em foco a manutenção da filosofia de excelência em prática, com metas de economia que serão estabelecidas em um novo Kaizen de liderança e a realização de um inventário de emissão de CO2 em alguns produtos e processos. Os aprendizados no setor de processo foram um bem-sucedido trabalho de equipe, com uma empresa sem fronteiras, estruturado na busca pela eficiência, criatividade e a noção de que é imprescindível manter e reforçar as campanhas de conscientização sobre segurança no trabalho. INDICADORES DE ECOEFICIÊNCIA Os indicadores de ecoeficiência (eficiência econômica e ecológica) têm como objetivo a redução na fonte, ou seja, medir e reduzir o desperdício de materiais, o consumo de água e de energia Podemos observar, nos gráficos, um aumento nos padrões de consumo de matéria-prima nos últimos quatro anos, fato este decorrente do incremento da produção e da expansão do parque fabril, realizado com o objetivo de atender à demanda de mercado. Vale ressaltar que, embora o consumo de matéria-prima tenha aumentado, é perceptível no gráfico de gerenciamento de sobrepeso que a Amanco tem produzido continuamente mais, com menor exploração de recursos, com a mesma qualidade do produto. Outro destaque foi que, do total fabricado, 83% estão relacionados ao processo de extrusão, que tem um controle rigoroso de eficiência no processo produtivo, por meio do indicador de sobrepeso. O gráfico de sobrepe- so vem demonstrando reduções expressivas ao longo dos anos. Essas diminuições se tornaram um benchmarking no Grupo Amanco e uma referência mundial de eficiência. Percentual dos materiais usados provenientes de reciclagem Com relação aos percentuais de MP usados, provenientes de reciclagem, ocorreu, de forma positiva, um aumento de aproximadamente 13%, em comparação com o apresentado no ano anterior. No que tange às toneladas recicladas, no período de 2006 a 2009, houve um aumento da demanda de matérias resultantes de reciclagem de aproximadamente 24%, o que evidencia o compromisso da Amanco com a sustentabilidade. Importante salientar que a maioria dos produtos fabricados são regidos por normas técnicas brasileiras que, na sua grande maioria, impedem a utilização de matérias-primas de origem reciclada, o que impossibilita assim o aumento significativo do consumo dessas fontes de MP. Produtos “Priorização e reconhecimento, grande desafio na estratégia de inovação da Amanco Brasil em 2009 foi, além de manter sua visão de longo prazo, priorizar, em todas as decisões, os critérios como valor de investimento, impacto de marca, necessidade comercial e tempo de implementação”, diz Laura Rosso, gerente de Inovação da Amanco Brasil. Também houve a necessidade de se ajustar à verba liberada para investimento, dar preferência à implantação de projetos que trariam retorno rápido, além de oferecer benefícios socioambientais. Em 2009, os investimentos em desenvolvimento de novos produtos e inovação, marketing e comunicação de marca chegaram a R$ 60 milhões. Em 2010, esse aporte será da ordem de R$ 200 milhões. O foco das inovações apresentadas em 2008 esteve no setor de saneamento ambiental. Os escolhidos foram a linha Amanco Biax, tubos em PVC-O – biorentados, que entram em novo mercado para competir com o ferro fundido e a fibra de vidro e o InfraCad, plug-in para o AutoCAD, utilizado para desenvolvimento de projetos de redes e infraestrutura, que auxilia na realização dos cálculos referentes aos projetos de dimensionamento para redes de distribuição de água e de coleta de esgoto, disponibilizado gratuitamente no site da Amanco. Na última ponta da cadeia, o cliente, a expectativa sobre o novo tubo é grande. O engenheiro George Luiz Saraiva Pontes, da Companhia de Saneamento do Ceará (Cagece), acredita, principalmente, na redução de custos como benefício do lançamento Amanco, mas ele também vê outras vantagens. “Um tubo com as mesmas características do ferro fundido em PVC oferecerá mais praticidade e leveza.” Sem desperdícios O novo Amanco Biax evitará o desperdício cau- Em 2010, um dos principais desafios: o estabelecimento de um processo para o desenvolvimento de novas ideias sado pela reposição de peças quebradas, algo que ocorre com frequência nos ambientes de construção, devido à falta de cuidado no manuseio e, principalmente, no transporte de produtos. “A mão de obra no Brasil ainda não é muito bem treinada e não tem a consciência do cuidado na manipulação dos tubos como deveria. O Amanco Biax tem uma alta resistência ao impacto, o que diminui o desperdício”, comemora Laura Rosso, gerente de Inovação da Amanco, que também acredita que, em termos de sustentabilidade, seria interessante medir o impacto dessa economia nas obras. Assim que foi lançado, o Biax recebeu o Prêmio de Inovação da AESABESP (Associação dos Engenheiros da Sabesp), que concedeu a premiação por considerar que o produto é realmente inovador. “O Amanco Biax não tem concorrentes no Brasil. É uma novidade que vai gerar melhores condições de assentamento e é um produto bem mais resistente”, justifica o engenheiro Gilberto Alves Martins, do Conselho Deliberativo da entidade. Segundo ele, há um bom potencial para o uso do Amanco Biax. “Existem muitos vazamentos nas grandes redes de saneamento pelo Brasil, devido à quebra de tubo na pré-instalação, e o produto pode ser visto como uma alternativa viável e eficiente para evitar o desperdício.” Segundo Rosso, em 2009, para manter ativa a estratégia de inovação, foram precisos mais foco e algumas mudanças. “Havia uma deficiência no processo de desenvolvimento. Hoje, ele é mais estruturado, criamos um sistema de acompanhamento do histórico do projeto e abrimos espaço para o pensamento criativo”, explica. No novo formato, que será lançado internamente em 2010, com comitês de inovação, criação e implementação de produtos, ficou bem definido o que cada colaborador fará no processo. Em 2010, um dos principais desafios: o estabelecimento de um processo, para o desenvolvimento de novas ideias, junto com a implantação de uma cultura de inovação na Amanco, que envolva todos os colaboradores da organização. Para o futuro, o que ain- da falta ser concretizado é a criação de um sistema estruturado de mensuração de impactos socioambientais dos produtos Amanco. A crise deixa como aprendizado a importância de focar o que é realmente importante, ser mais eficiente a curto prazo, sem deixar de pensar a longo prazo. QUALIDADES SoCIOAMBIENTAIS DO AMANCO BIAX O principal lançamento da Amanco em 2009 foi a linha Amanco Biax, que consiste em uma linha de tubos para aplicação em adução em pressão nominal de 16bar (PN16). Até hoje, no Brasil, para essa aplicação, eram somente utilizados tubos de ferro fundido ou de plástico reforçados com fibra de vidro. A linha Amanco Biax é produzida por meio de um processo de extrusão inovador, que promove a orientação molecular do PVC nos sentidos axial e radial, que permite ter um tubo com maior resistência, robustez, leveza, flexibilidade e ecoeficiência. Resistência: suporta maior pressão hidrostática interna, em comparação com os demais tubos plásticos. Robustez A combinação de resistência a impactos e ductilidade (capacidade elástica de deformação e resistência a pressão sem danos ao material) torna o produto mais robusto, o que reduz a possibilidade de danos ao tubo durante o manuseio e a instalação, e, consequentemente, menos produtos danificados que não poderiam mais ser utilizados. Leveza Facilita o transporte, o manuseio e a instalação, pois dispensa maquinários para movimentação de material pe- INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 amanco brasil 132 133 sado e, assim, reduz problemas de segurança aos operadores no manuseio. Flexibilidade Capacidade de se adaptar às curvaturas do traçado da rede, sem prejudicar sua estrutura e sem necessidade de conexões. Solução sustentável Os tubos Amanco Biax significam economia considerável em energia consumida para sua fabricação, o que minimiza os impactos ao meio ambiente. As redes de saneamento do país levam água até as famílias mais distantes das reservas e mananciais e proporcionam a possibilidade de uma vida saudável. A produção do Amanco Biax também gera menor uso de energia do que soluções em ferro fundido ou plástico reforçado com fibra de vidro, assim minimiza os impactos ao meio ambiente. A Amanco também foi responsável por dar uma injeção de ânimo nos negócios de muitos lojistas CREDCONSTRUÇÃO – A GARANTIA DE PODER CONSTRUIR MESMO EM ANO DE CRISE O programa CredConstrução® da Amanco, linha de crédito mantida em parceria com o setor financeiro, transformou a crise de 2009 numa oportunidade de crescimento. Para continuar construindo, em um momento em que os grandes bancos diminuíram o acesso ao crédito, e os investidores tiraram seu dinheiro das instituições financeiras pequenas e médias, que, por sua vez, também pararam de emprestar, o consumidor precisou de alternativas. Estava aberto o espaço para os financiamentos. A Amanco determinou sua estratégia para reagir às previsões pessimistas e, segundo Juan Agudo, ex-diretor do CredConstrução®, diferente do modelo tradicional de crédito, aplicado nas grandes lojas, enxergou nas pequenas um canal com grande potencial para expandir o programa, aumentar o número de cartões expedidos e, consequentemente, gerar fluxo de capital. Desde o início do programa, em outubro de 2008, foram emprestados 70 milhões de reais, suficientes para construir 3 mil casas populares. O programa contou com a aposta da financeira DM Card, que manteve o investimento no CredConstrução®, por considerá-lo parte da estratégia da empresa, que era de expansão com a conquista de novos mercados. “Valeu a pena; hoje podemos dizer que também conhecemos e atuamos no ramo de construção civil, isso agregou valor para o nosso negócio”, justificou Denis César Correia, sócio-diretor. O empresário conta que a financeira primeiro limitou a operação em seis meses, mas, ao confirmar que o nicho era promissor, ampliou sua atuação para o ano todo e já renovou para 2010. Para o setor de construção civil, os ganhos são significativos. “Com a facilidade de crédito, estamos criando valor para toda a cadeia, para o consumidor, para o balconista, que tem incentivos, para o lojista, que vende mais, para o governo, que arrecada mais impostos e para a indústria de materiais de construção. Todo mundo ganha. A nossa visão é mais holística que a do banco”, explica Agudo. Também diferente do padrão, o CredConstrução® é baseado na confiança do lojista em seu cliente, é ele próprio quem escolhe a quem oferece o cartão, sem necessidade de sistema de score ou documentação. A relação da Amanco com as lojas também é de confiança. Para auxiliar na construção dessa credibilidade entre as partes, a companhia criou e pôs à disposição dos lojistas sistemas avançados, que possibilitam o acesso diário ao seu índice de inadimplência e que gera um banco de dados sobre os clientes, como aniversário, contatos, entre outros. “É tudo feito com muita transparência”, conta Agudo. A lojista Claudia Bonetto, de Pedreira - SP, tem tirado bons proveitos da rede de gestão de relacionamento do CredConstrução®. Com o CRM, todo mês os seus vendedores podem tirar um relatório que contém os próximos aniversariantes, entrar em contato, cumprimentar e oferecer descontos, o que tem gerado bastante movimento para a loja e uma relação de proximidade com seu público. Em uma dessas ligações, uma de suas funcionárias emocionou uma cliente, que chorou ao telefone e disse que nem os filhos haviam se lembrado da data. “O cliente se sente satisfeito e mais valorizado”, conta Bonetto. Contabilizando Ao chegar ao fim de 2009, a aposta no crescimento da linha de crédito foi concretizada. E o número de cartões gerados ficou acima do esperado e chegou aos 150 mil em todo o Brasil. “Ao contrário do que se esperava, tivemos um aumento na geração de cartão de lojas”, comemora Agudo. Entre as conquistas e realizações em 2009, a Amanco, mesmo com a crise, conseguiu a fidelização de lojas com as quais já operava e conquistou 1,5 mil novos parceiros. Mas o grande benefício do programa foi ter garantido o ciclo de sustentabilidade no setor de construção civil, que se manteve funcionando, como comprovou a experiência de Edilson dos Santos, que teve um significativo crescimento de vendas em sua loja, em Bertioga - SP. Para ele, o cartão aumentou o número de negócios e fidelizou clientes exclusivos, que, com o acesso ao crédito, continuaram construindo o ano todo. “Comparado com o ano passado, eu vendi muito mais e posso dizer que 90% das vendas foram com o CredConstrução®. Sem ele, eu quase não teria vendido”, afirma, satisfeito. Outros números também refletem o sucesso do programa. Os produtos Amanco ganharam mais consumidores. Nas lojas que têm cartão, foi registrado um aumento de 15% a 20% nas vendas de tubos e conexões da marca. Nas inovações, com espírito de motivação e pioneirismo, a Amanco investiu em treinamento de vendedores diferente dos convencionais. Em vez de exibir palestras, foi desenvolvido um jogo interativo, no qual o treinando faz uma simulação de compra e é avaliado pela sua atuação. “Depois do treinamento, estou mais motivada, aprendi bem como oferecer o cartão para o cliente e falar dos benefícios”, conta Tammy Ojima Gonçalves, da loja W.M Ikeda. DESAFIOS O ano de 2010 deverá aquecer o mercado de linha de créditos, com a entrada de bancos públicos, que prometem oferecer juros baixíssimos. Portanto, o desafio do ano será de administrar o aquecimento do mercado. Mas a empresa já tem a solução. Continuar a trazer inovações para se diferenciar no mercado. O sucesso do programa não veio fácil. Foi preciso muito trabalho, para acompanhar o crescimento rápido das solicitações de novos cartões de crédito. “Suprir a demanda de mercado foi muito desafiante. Tivemos de montar equipe e criar processos. Tudo com muita rapidez”, ressalta o ex-diretor do CredConstrução®. Alguns tropeços também foram sentidos no caminho. Houve uma demora na percepção de algumas fraudes e na oferta de muitos créditos sem juros, que não era o ideal para a financeira. “Por ser pioneiro, você paga um preço. Tem de errar para buscar o acerto.” Para Agudo, os aprendizados do ano foram a confirmação de que vale a pena investir e ser diferente e persistente, além de que é importante ter uma pessoa focada no programa, para gerar novas ideias. “A parceria se paga, é rentável, além de ser bastante significativo o fato de termos ajudado muita gente a mudar de vida.” CASE A Amanco também foi responsável por dar uma injeção de ânimo nos negócios de muitos lojistas, que se encontravam em situação difícil com a crise de liquidez. A proprietária da loja de material de construção Alfa Mat, de São Paulo, Vanessa Roberta Manzine, viu suas vendas prosperarem após emitir 331 cartões Amanco CredConstrução®. “A maior vantagem de oferecermos o Amanco CredConstrução é a fidelização do cliente, pois ele só pode usar o cartão aqui na Alfa, de forma que vai sempre comprar conosco. Do total de vendas da loja, 15% já são feitos pelo cartão da Amanco, o que tem contribuído para um aumento nos negócios de forma geral. Para se ter uma ideia, em novembro registramos um crescimento nas vendas de 20% em relação a outubro. Além disso, como o índice de inadimplência pelo CredConstrução® é baixo, conseguimos, com a financeira, reduzir a taxa de juros. O sistema da Amanco conta com ferramentas de relacionamento, o que nos permite um acompanhamento permanente do cliente.” DOUTORES DA CONSTRUÇÃO Com a convicção de se tratar de um programa imprescindível para o crescimento do Brasil, em 2009, a comunidade Doutores da Construção contou, segundo Katia Matias, gerente geral da iniciativa, com o apoio fundamental da Amanco e mais seis indústrias, que, mesmo em um ano de crise, acreditaram no programa de qualificação, foca- INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 amanco brasil 134 135 do nos profissionais instaladores que atuam na construção civil – pedreiros, pintores, encanadores, eletricistas e vendedores de lojas de materiais. Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), 72% dos profissionais que atuam na construção civil não têm qualquer treinamento ou qualificação formal, portanto, a falta de atualização reflete negativamente no setor. Sem conhecimento, os profissionais estão mais expostos aos riscos à saúde e à segurança, além de passar por dificuldades para encontrar clientes e mantê-los. Por causa da falta de capacitação, os operários sofrem com o baixo reconhecimento, pois, em geral, 50% deles ganham menos de dois salários mínimos e apenas 13% trabalham com carteira assinada. Com sete parceiros, quatro de 2008 e três que assinaram em 2009, a comunidade de qualificação não atingiu o objetivo de aumentar o número necessário de parcerias – a proposta do ano era contabilizar 12 adesões – para viabilizar os 32 cursos idealizados para o período. Mas a visão da Amanco foi muito importante, pois ela não só arcou com sua fatia de contribuição, mas também bancou o restante indispensável para garantir os 14 novos módulos do programa, o que fez com que 14 mil novos profissionais tivessem o mesmo treinamento num ano de crise. Segundo Mauro Napolitano, diretor comercial da Amanco, existe um grande gargalo na formação da mão de obra da construção civil e, a partir de 2010, o Brasil vai realizar muitas obras e precisará de melhores profissionais para executá-las. “Um profissional mais qualificado significa economia de tempo e dinheiro”, explica. Para ele, a Doutores da Construção coloca no mercado uma mão de obra com um diferencial. Desde sua criação, já formou mais de 43 mil profissionais, ou seja, levou conhecimento e atualização para todos eles. Plataforma de negócios Para a gerente geral da Doutores, Kátia Matias, o programa é muito mais do que treinamento. “É uma plataforma de negócios que traz para a empresa resultados a médio e longo prazo.” A iniciativa gera uma cadeia de vantagens que começa no profissional, que é mais valorizado na hora de negociar seus serviços, passa pelo lojista e pela indústria, que vendem mais, e termina no consumidor final, que fica satisfeito com sua reforma ou construção. Segundo ela, um dos grandes impactos da Doutores na construção civil é unir várias empresas em um objetivo comum, o de levar capacitação aos profissionais que atuam na área, e conseguir isso por meio de sua própria cadeia de varejo, ou seja, levar o conhecimento aonde o profissional está, sem que ele precise vir à procura do aprimoramento, o que beneficia não apenas elas mesmas como também todo o setor nacionalmente. Em 2009, o programa ofereceu, gratuitamente, aulas de várias especialidades (Hidráulica, Pintura, Elétrica, Alvenaria e Revestimento), que foram transmitidas ao vivo, nas lojas credenciadas. Ao todo, foram 120 mil presenças em aula para profissionais, que só assim tiveram contato com inovações do mercado, novidades em tecnologias e com novos produtos das indústrias. Em 2009, mudou a formatação de cursos, que agora passam a ter, além do professor, também um apresentador, e houve um grande investimento em material didático – atualmente, todos os treinamentos têm suporte de apostilas – e novos recursos visuais foram incorporados para tornar os módulos mais dinâmicos e gerar atratividade. Entre outros parceiros da Doutores da Construção, além da Amanco, a aposta no programa continuou sendo valorizada e mantida. Para Marcelo Abreu, gerente de Relacionamento da Akzo Nobel, há uma boa compensação financeira na manutenção do programa. “O resultado do primeiro ano de investimento na Doutores provou que valia a pena. A gente nota que o profissional treinado valoriza o treinamento e traz retornos para as vendas. Nas 200 lojas em que temos a Doutores, conseguimos um aumento de 8% nas vendas.” Mesmo com a crise, a empresa dele não interrompeu seu aporte na Doutores da Construção. “Também levamos em conta que o Brasil sofre com o problema da falta de qualificação de mão de obra. Se parássemos com o nosso investimento, seria uma volta no tempo.” Com tais mudanças, a comunidade Doutores da Construção conseguiu uma realização digna de comemoração. Em 2009, atraiu 14 mil novos trabalhadores para os treinamentos, com a introdução dos novos cursos, principalmente na área de alvenaria e revestimento. Número de presenças – 2008 vs 2009 dividida por tipo de curso A partir de abril/2009 houve um relançamento da gra- de de treinamento, com cursos 100% apostilados, transmissão via Sky e com apoio audiovisual. Desde que houve essa mudança, os números de presenças vêm aumentando, o que mostrou todo o sucesso da Doutores. A partir de junho, foi alcançado o número de 12 mil presenças por mês (exceto dezembro, no qual a grade de cursos foi reduzida). A Amanco desenvolve, desde 2003, um trabalho de consulta e gerenciamento de impactos socioambientais Programa fidelidade A Doutores tem uma plataforma sólida para consolidar a base de 280 lojas em 2010. Segundo Katia, o programa divulga a marca da loja, mostra para o público que ela leva treinamento ao profissional, que, por sua vez, é impactado pela melhoria em sua capacitação. Para ela, que aponta também as vantagens comerciais, as empresas com visão que mantiverem seus investimentos na iniciativa terão seu retorno financeiro garantido. “Temos o Programa Fidelidade, que incentiva as vendas”, defende Edson Paiva, proprietário da Conlar Material Elétrico e Hidráulico de Construção Ltda., que conta com o programa em sua loja desde 2008 e acredita que a Doutores é a principal ferramenta de comunicação com a mão de obra e deve ser preservada em todos os momentos, sendo de crise ou de crescimento. “É o canal mais rápido para o fabricante falar diretamente com o instalador. Uma oportunidade única de relacionamento entre as partes.” Já fazem parte da lista de conquistas almejadas para 2010 crescer a base de parceiros de sete para 12 indústrias e a criação de uma nova relação da Doutores com a indústria, que amplie a sua utilização como ferramenta de marketing, além do impacto social que esse programa traz. Perpetuar seu compromisso com a inovação constante também será um desafio, pois o incremento técnico se faz necessário ao fim de cada ciclo. Nessa questão, o papel da Amanco será o de providenciar novos conteúdos para os seus cursos. Do futuro imediato, a Doutores espera realizar o desejo de atingir a percepção de ser uma ferramenta indispensável para as indústrias e para as lojas. A longo prazo, para Katia Matias, o mundo ideal seria conseguir que as empresas da construção civil tenham um olhar de sustentabilidade. “Quando o parceiro enxerga que está fazendo uma aposta sustentável, ele para de fazer algumas contas e passa a percebê-la como um investimento necessário”, conclui ela. UMA RELAÇÃO CONSISTENTE O trabalho de consulta e gerenciamento de impactos socioambientais nas comunidades do entorno das unidades fabris, que a Amanco desenvolve desde 2003, fez com que, em 2009, a empresa atingisse um bom nível de maturidade na sua relação com a vizinhança. O ano passado foi de avanços em termos de implementação de ações, pois a empresa atacou de frente os dois temas principais para as comunidades. No primeiro, o foco é o fluxo de caminhões e a postura dos caminhoneiros, e, no segundo, o ruído percebido na fábrica de Floresta, em Joinville. Mesmo com as restrições orçamentárias em razão da crise, a empresa investiu em um isolamento acústico na fábrica de Floresta, para reduzir a percepção de ruído nessa unidade. E, quanto ao fluxo de caminhões e à postura dos caminhoneiros, sentidos principalmente pelos vizinhos mais próximos da unidade de Sumaré, foi construído um espaço especialmente projetado para comportar os caminhoneiros enquanto aguardam a carga, além de a empresa dispor internamente de mais espaços para estacionamento dos caminhões, o que diminui o fluxo deles nas ruas. A empresa tem mantido a comunicação constante. “Estive em uma reunião com a Amanco pela primeira vez e fiquei muito satisfeita. Eles nos mostraram tudo que havia sido feito para resolver os temas da circulação de caminhões. Tenho ouvido comentários positivos das pessoas que moram mais próximo da fábrica e que sentiram as melhorias”, diz Luciane Muller, líder comunitária do Parque Versalhes, região de Joinville. Para ela, a empresa foi muito objetiva e minuciosa com a comunicação das ações e todos entenderam o que estava sendo feito. Em Sumaré, o líder comunitário Antônio Aldenor de Freitas reconhece o trabalho que a Amanco faz com relação à preservação do meio ambiente, no reaproveitamento de água da chuva, e à valorização que a empresa dá para o diálogo com a comunidade. “Estão sempre à disposição para nos ouvir.” A Amanco considera uma conquista a empresa ter for- INSIGHTCase Studies Banco Fator SETEMBRO/OUTUBRO 2013 Competência para negócios em um mundo de oportunidades 136 talecido e inovado no diálogo – necessidade identificada na consulta de 2008 –, realizando encontros/ reuniões com os representantes das comunidades, os líderes. E, para manter uma relação de transparência, a organização apostou na comunicação. Todas as melhorias feitas foram informadas por escrito, em cartilhas, distribuídas a quase 500 residências. O material abordou, ainda: o tema institucional, o projeto de relacionamento e gerenciamento de impactos, apresentou os casos resolvidos e falou sobre a importância do recurso natural: a água. “Antes de distribuirmos as cartilhas, chamamos os líderes para explicar com detalhes o que aconteceu, o que fizemos e o que não fizemos e na ocasião lançamos a publicação”, pontua Adriano Perboni, gerente da fábrica de Joinville. Monitoramento O processo de gestão de responsabilidade social é estruturado de forma a manter o monitoramento e a execução das ações necessárias. A cada dois anos é feita uma consulta nas casas mais próximas, que é analisada entre as diversas áreas da empresa, o que dá origem a um plano de ação. Todas as considerações feitas pela comunidade são analisadas e, nos casos em que a responsabilidade não é da Amanco, a empresa responde por meio de comunicados. Em outras situações, nas quais foi identificado que a atuação deveria ser da Prefeitura ou do Estado, a Amanco atuou como ponte entre a população local e as autoridades. Além das consultas, a empresa mantém um canal de ouvidoria aberto para atender a população durante todo o ano. Para 2010, a empresa planeja implementar um Programa de Voluntário Amanco, criado com o objetivo de sensibilizar e engajar os colaboradores da empresa em ações sociais transformadoras para motivá-los a atuar como agentes de cidadania nas comunidades do entorno da empresa. “Queremos sensibilizar a comunidade quanto à preservação dos recursos naturais para as gerações futuras, como protagonistas do tema ÁGUA”, diz Yazmín Trejos, gerente de Comunicação Corporativa da Amanco Brasil. A Amanco, em 2009, adquiriu clareza em relação às responsabilidades de cada um dentro do processo, ganhou conhecimento sobre coisas que só precisavam ser comunicadas para garantir a transparência de relacionamento e perpetuou o compromisso da área industrial na execução das ações. 137 C M Y CM MY CY CMY K Com uma bem sucedida trajetória, reconhecida pela experiência na estruturação e implementação de operações nos mercados financeiro e de capitais, o Banco Fator oferece completa assessoria no desenvolvimento de estratégias personalizadas, sem burocracia e nem soluções pré-formatadas. Investment Banking Private Banking Gestão de Recursos** Corretora de Valores* Seguradora*** (Empresas controladas pelo Banco Fator - * Fator S/A Corretora de Valores ** FAR - Fator Administração de Recursos Ltda. *** Fator Seguradora S/A) www.bancofator.com.br Yazmín Trejos é gerente de Comunicação Corporativa e de Sustentabilidade da Amanco Brasil, que foi a responsável pela edição do Relatório de Sustentabilidade SAC: 0800-77-07229 Ouvidoria Fator: 0800-77-32867 Soluções Financeiras para um Mundo de Oportunidades INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 Fundação Getulio Vargas 138 139 EDIÇÃO Fundação Getulio Vargas (Edição 91 / Março-Abril de 2012) CASE STUDIES REVISTA BRASILEIRA DE MANAGEMENT Organograma 1 Estrutura da SCM (Superintendência de Comunicação e Marketing) da FGV Marcos Facó SCM Assistente Administrativo Uma aposta nas mídias sociais como ferramenta de marketing Gerência de Marketing e Inteligência Coordenação de Comunicação e Marketing Coordenação de Planejamento Coordenação de Marketing Digital Coordenação de Comunicação e Marketing Assessoria de Imprensa Coordenação de Mídias Sociais Criação e Design Analista de SEC Eventos Marketing Digital Vestibular é um tema de muita relevância na Fundação Getulio Vargas (FGV). Através da Superintendência de Comunicação e Marketing (SCM), a instituição destina uma verba especialmente para divulgar todo o calendário de provas para seus cursos de Economia, Administração, Direito, História, Ciências Sociais e Matemática Aplicada. O case a que este texto se refere teve seu ápice na campanha Vestibular 2012, que investiu cerca de R$ 2 milhões ao longo do Comunicação ano passado, numa ação pioneira de comunicação que integrou diversos atores, em várias mídias e contribuiu efetivamente para aumentar em 19% o número de inscritos para a seleção. Pesquisas Métricas O conceito começou a ser desenvolvido no Vestibular 2010 a partir da criação do “Desafio FGV”, um teste de lógica disponibilizado na internet para os candidatos à graduação. Essa avaliação era acessada através de um hotsite criado especificamente para os exames, no qual o aluno se inscrevia para participar da seleção e onde encontrava todas as informações sobre as provas. Atenta à necessidade de se comunicar com os diferentes públicos da FGV – que vão desde os alunos do Ensino Médio de 17 anos até pós-doutores, com 70 anos – a SCM percebeu que tinha que fragmentar sua comunicação em diferentes mídias. Para falar com adolescentes que anseiam por uma graduação, nenhuma ferramenta poderia ser mais eficiente do que a internet. Consequentemente, no ano seguinte, o Desafio FGV foi parar no Facebook a fim de mobilizar ainda mais jovens para participar do teste. Ao desenhar a campanha Vestibular 2012, a SCM percebeu que, para potencializar a capilaridade de ação, deveria incluir novos atores no Desafio FGV. Convidaram 13 grandes empresas que atuam no país – Johnson & Johnson, Criação e Design Eventos Faber-Castell, C&A, Ipiranga, Icatu Seguros, Serasa Experian, BR Malls, Pinheiro Neto Advogados, Santander, Accenture, Fontes Tarso Ribeiro Advogados, Fleischmann e Goodyear – para participar do programa. A dinâmica era a seguinte: o diretor de Recursos Humanos de cada uma delas lançava um desafio para o candidato ao Vestibular FGV 2012, que era uma pergunta sempre ligada ao segmento no qual a empresa atuava. As questões iam de “como reformar o programa de estágio” até “como manter a marca presente em um mundo cada vez mais digitalizado?” Ao gestor de RH cabia também escolher a melhor resposta, bem como definir os prêmios. Para cada pergunta poderiam existir até duas recompensas. A melhor opção para cada desafio garantia ao vestibulando a possibilidade de visitar a companhia e conhecer esse diretor. Se o aluno que tivesse dado a melhor solução também passasse no vestibular da FGV, ele ganharia mais um prêmio. Dos 13 desafios, cinco alunos ganharam o “prêmio duplo”, que variou de Ipads até um curso de idiomas em Salamanca, na Espanha. As perguntas eram lançadas sobretudo no Facebook, YouTube e Twitter. Outras redes sociais, como o Flickr, ser- INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 Fundação Getulio Vargas 140 141 viam de apoio no sentido de direcionar os internauPara monitorar os resultaO setor de tas para os sites onde as perguntas eram lançadas. dos de forma eficaz e ter mais Marketing da FGV Somente no Youtube foram exibidos 18 vídeos que agilidade nas tomadas de considera que o tiveram mais de 800 mil visualizações. Já a fan page decisão, a FGV montou uma do vestibular contabilizou quase 80 mil visitas. área específica de inteligêndinamismo das Dos cerca de R$ 2 milhões investidos, 70% foram cia. Hoje, dos 22 profissionais redes sociais faz alocados nas chamadas mídias on-lines. O resultada equipe da SCM, sete atuam com que tais sites do foi além das expectativas internas. Em 99 dias, no segmento. Eles avaliam foram mais de um milhão de cliques, dois milhões desde preços, concorrência se comportem de pageviews e 265 milhões de impressões. As vie mercado até novos cursos como outro sitas ao site aumentaram 130% em relação ao ano que estão sendo lançados. O ecossistema anterior. acompanhamento diário de A campanha foi considerada um sucesso, pois tudo o que está acontecendo, dentro da internet deixou de ser apenas publicitária para se tornar como os acessos ao site, cauma nova forma de relacionamento entre a FGV e dastramento, inscrição e até os candidatos a alunos. E foi além. Não foi uma comunicaas matrículas que são efetivadas também fazem parte das ção bilateral entre a instituição e os jovens, mas envolveu atividades desempenhadas pelo setor. outros interlocutores: as empresas. O setor de Marketing da FGV considera que o dinamisCom essa campanha, a FGV inverteu a lógica de capacimo das redes sociais faz com que tais sites se comportem tar o estudante em suas escolas para que então ele pudescomo outro ecossistema dentro da internet. O comparse ser absorvido pelo mercado de trabalho. A instituição tilhamento constante de opiniões sobre os mais diversos foi uma espécie de plataforma de negócios, que se anteciassuntos na web dá a sensação de que se vive a “Era da pou e fez o link entre o aluno e as principais empresas do transparência e ranking”. Tal percepção se tornou oniprepaís, antes mesmo de ele entrar na graduação. O principal sente, exigindo novas habilidades de quem atua com covalor agregado da ação foi mostrar o quanto a FGV abre municação. portas para o futuro. Além de ter que aprender a dominar as diferentes redes A dinâmica e os resultados da ação foram positivos, por como usuários, esses profissionais têm que avaliar as cater fundido o real e o virtual. Foi através da internet que o racterísticas predominantes de cada um dos sites, a fim de aluno ficou sabendo do Desafio FGV e se inscreveu para enxergar seus diferentes potenciais, para utilizá-las como as provas. Depois de fazer o vestibular e ser aprovado “na ferramenta de marketing. A necessidade de estarem semvida real”, a FGV dá a ele a oportunidade de conhecer a pre atualizados e antenados é potencializada mesmo com empresa e o gestor de RH – que ele só conhecia no unisites considerados já tradicionais, como o Google, por verso virtual. exemplo, que está sempre inovando, alterando, criando, As redes sociais facilitam a comunicação entre pessopropondo novas formas de se relacionar. as físicas. É importante transpor para esse universo o que, O crescimento dessas novas mídias foi tão rápido que analogamente, seria como levar um cliente para sua loja o próprio mercado teve dificuldades em acompanhar seu ou fazer com que o seu produto entre na casa dele. O sedesenvolvimento. Há pouco tempo, o que definia a quagredo das redes sociais é levar o real para o virtual. lidade de uma campanha era a verba a ela destinada. Não Testar projetos em ações menores, analisar os resultararo, uma publicidade cara, com vasta exposição, era predos e depois ampliar o espectro de atuação fazem parte da miada. Hoje quem dá o prêmio é o público. estratégia de marketing da instituição. Com o advento da Só há dois anos as mudanças começaram a ser interinternet, esses ajustes se tornaram ainda mais frequentes, nalizadas. A aquisição das pequenas agências especialiuma vez que se trata de um tipo de mídia que possibilita zadas em desenvolver trabalhos na internet pelas grandes mensurações exatas. corporações publicitárias foi responsável por alavancar Infográfico 1 Desafio fgv | vestibular 2012 Algumas das maiores empresas do Brasil desafiaram os vestibulandos em 2011, com questões relacionadas ao seu dia a dia. Cada semana, uma empresa diferente lançava um desafio na fan page do vestibular FGV no Facebook e a melhor ideia era premiada. Se o aluno passasse no vestibular da FGV, ele ganhava um segundo prêmio especial, que ia desde tablets e estágios remunerados até viagens. Empresa Desafio Ideias enviadas Vencedor Prêmio Johnson & Johnson Como reformular o programa de estágio da empresa? 60 Passar um dia na fábrica e ficar Matheus M. uma semana conhecendo os Campos negócios da J&J, além de ganhar (aluno FVG) um kit de produtos da empresa Faber -Castell Como manter a marca presente e moderna em um mundo cada vez mais digitalizado? 41 Flavia Carvalho Visita de um dia à fábrica da Faber-Castell Icatu Como você convenceria os amigos da escola a fazerem um plano de previdência? 9 Michelle Carli Quinhentos reais para investir em um plano de previdência C&A O que você sugere para tornar o programa de trainee mais atrativo? 36 Um dia de visita na C&A e outro Pedro às lojas, uma semana de estágio Barros para ajudar a desenvolver o seu (aluno FVG) projeto Ipiranga Qual sugestão inovadora para diferenciar ainda mais a rede Ipiranga em 2012? 27 Fábio Varella Serasa Experian Qual a importância do crédito no desenvolvimento do Brasil e para os brasileiros? 68 Lucas Visita ao escritório e estágio Farege remunerado no Serasa Experian (aluno FVG) Fontes - Tarso Ribeiro Advogados Como conciliar liberdade de expressão e limites impostos a comportamentos ofensivos na internet? 36 Manuela Miranda Visita ao escritório da Fontes Tarso Ribeiro Advogados. Goodyear O que você criaria para que o pneu se torne uma paixão nacional? 48 Monique Garcia Volta rápida na StockCar e visita ao campo de provas BR Malls Que ações você recomenda ao longo do ano para alavancar a venda dos lojistas e o resultado dos shoppings? 29 Visita ao escritório e shoppings Pedro da BR Malls e estágio remunerado Nordskog (aluno FVG) em área de interesse Santander Como construir uma solução que maximize a conquista de futuros universitários? 40 Conhecer a sede do Santander Pedro em São Paulo e bolsa de três Monastério semanas na Universidade de (aluno FVG) Salamanca Pinheiro Neto Advogados Qual a sua ideia para baixar música sem infringir direitos autorais? 38 Marcela Feijó Visita ao escritório da Pinheiro Neto Advogados Accenture Que serviços você criaria em cloud computing para mudar a vida das pessoas? 29 Matheus Campos Visita de três dias ao escritório da Accenture Fleischmann Qual a melhor forma do marketing da Fleischmann atuar na internet? 35 Vitor Monteiro Visita ao escritório da Fleischmann Visita de um dia à sede e à unidade de produção da Ipiranga INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 Fundação Getulio Vargas 142 143 esse movimento, sobretudo por terem mantido os busca pela modernidade e Fundada em jovens pro fissionais no seu corpo de colaboradopela inovação, que contri1944, a FGV é res. O grande insight veio quando a forma de criar buem para o desenvolvimenhoje uma das foi alterada. Antes, desenvolviam a campanha para to do país. as mídias tradicionais e depois adaptavam para o Primeira instituição da mais notórias meio on-line; agora, pensam de forma estratégiAmérica Latina a criar cursos instituições de ca, de modo que uma mídia complementa a oude bacharelado em Adminisensino do Brasil tra, impactando diretamente os resultados. tração Pública e de Empresas, Explorar as redes sociais da mesma forma não a FGV formou, em meados da é uma boa iniciativa. Ao mesmo tempo que cada década de 1950, as primeisite tem um comportamento singular e apresenta suas ras turmas de administradores do continente, egrespeculiaridades, cada empresa opera em um segmento. sas da então Escola Brasileira de Administração PúbliÉ preciso investigar o capital social que existe dentro de ca (ex-EBAP, atual EBAPE, situada no Rio de Janeiro) e cada uma dessas redes para avaliar a melhor forma de da Escola de Administração de Empresas de São Paulo tirar proveito delas. (EAESP). Quando surgiu o Second Life, algumas universidaEm 1961 foi criada, no Rio de Janeiro, a escola de des apostaram alto no jogo. A FGV teve parcimônia e Economia, atual EPGE, considerada a melhor do gênero preferiu observar. Muitas empresas acabaram investindo em toda a América Latina. Hoje, a FGV totaliza oito esmuito dinheiro na iniciativa e, com exceção do retorno colas, que, além das três acima citadas, incluem a Escola de mídia espontânea que conseguiram, não foi possível de Economia de São Paulo (EESP), o Centro de Pesquisa medir os resultados da iniciativa. e Documentação de História Contemporânea do BraA mais nova sensação nos Estados Unidos das redes sil (CPDOC, que atende ao ensino de História e Ciênsociais é o Pinterest, no qual as pessoas compartilham cias Sociais), DIREITO GV (em São Paulo) e FGV Direito interesses a partir de fotos. No Brasil, a plataforma cheRio. A mais nova escola da FGV, a Escola de Matemática gou há cerca de dois meses, ainda há restrições para parAplicada (EMAp), iniciou suas atividades de mestrado em ticipar e não há mecanismos para empresas. De qualquer 2011 e esse ano tem sua primeira turma na graduação. forma, a FGV já se antecipa e estuda a hipótese. Atualmente a FGV soma 12 unidades, que, além das Paralelamente, o vestibular já está em pauta novaescolas, são compostas pelo Instituto Brasileiro de Ecomente. Para o meio do ano, como será um concurso nomia (IBRE), a FGV Projetos, a Editora FGV e o Instituto reduzido, com vagas para apenas uma escola (EAESP), de Desenvolvimento Educacional (IDE). o Desafio FGV só contará com a participação de quatro Sob o guarda-chuva do IDE estão o FGV Manageempresas. ment (que desenvolve os cursos de pós-graduação, Já para a campanha Vestibular 2013, pretende-se MBAs, entre outros, além de ter uma Rede Conveniada, seguir o mesmo mote do ano passado, ampliando os formada por cerca de 30 parceiras, presentes em mais resultados. Para isso, além de aumentar a quantidade 100 cidades brasileiras) FGV Online (braço de educação de empresas parceiras, a FGV quer dobrar o número de à distância da Fundação) e FGV In Company (que desenposts no Facebook para cada pergunta lançada. Dessa volve programas customizados pela FGV para atender forma, vão mudar a sistemática de participação. às demandas de empresas, universidades corporativas, organizações públicas e entidades do terceiro setor). Sobre a FGV A fim de estimular o estudo e o debate sobre diverFundada em 1944, a FGV é hoje uma das mais nosas questões do cenário nacional e internacional, a FGV tórias instituições de ensino do Brasil. É referência por desenvolveu alguns Centros, hoje referências em suas seus reconhecidos programas de graduação, mestrado, áreas de atuação. doutorado, pós-graduação e também por constante O Comitê de Cooperação Empresarial e Centro de Economia Mundial (CCE)/ CEM) acompanha a evolução dos principais acontecimentos políticos e econômicos mundiais, a fim de estimular o pensamento e a discussão sobre diferentes questões relacionadas à abertura da economia e a integração competitiva do Brasil em novo ambiente externo. Já o Centro de Políticas Sociais (CPS) foi criado com a finalidade de difundir conhecimentos para a sociedade Marcos Facó é superintendente de Comunicação e Marketing da FGV e dar subsídio à formulação de políticas sociais. É hoje uma referência na realização e divulgação de pesquisas sobre os temas mais urgentes da realidade econômicosocial brasileira. Por fim, há a Câmara de Conciliação e Arbitragem, que busca administrar e monitorar o procedimento arbitral, garantindo que todas as suas fases e prazos sejam cumpridos rigorosamente de acordo com a Lei. INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 144 145 Quando sua empresa diz não ao trabalho infantil, muita gente pode dizer sim para sua marca. artigos As fronteiras do management Invista nas crianças e adolescentes do Brasil e tenha o selo de reconhecimento da Fundação Abrinq. O conteúdo multidisciplinar sempre foi a característica da Case Studies – Revista Brasileira de Seja uma Empresa Amiga da Criança. diversas áreas da gestão empresarial. Nesta edição comemorativa, como não poderia deixar de ser, Saiba mais pelo site www.fundabrinq.org.br/peac ou pelo telefone 11 3848 4870 Uma iniciativa: Management. Ao longo dessas 100 edições, buscamos publicar estudos de caso sobre as mais solicitamos a 10 especialistas que escrevessem artigos abordando temas variados, relacionados aos desafios do management. Boa leitura para todos! INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 setembro/outubro 2013 146 INSIGHTCase Studies 147 EDIÇÃO CASE STUDIES Eduardo Cabrera REVISTA BRASILEIRA DE MANAGEMENT Presidente da Mazars Brasil O desafio de reter pessoas Um dos grandes desafios das empresas, hoje, é ter colaboradores engajados, que produzam com qualidade e inovação, sentindo-se responsáveis pelo processo e pelo resultado, bem como pelo impacto que este traz à organização. O alinhamento aos valores é muito importante, mas a cultura da empresa também deve ser levada em conta. Nós, por exemplo, somos uma empresa de prestação de serviços, logo, precisamos identificar pessoas que tenham o perfil desejado para esse mercado, caso contrário, o candidato não será adequado para nossa organização. O ritual das entrevistas deve ser respeitoso, além de haver olho no olho e transparência. Por sua vez, a contratação deve ser bilateral. Não basta que o departamento de Recursos Humanos procure pessoas alinhadas aos valores da organização; é preciso ter certeza de que o candidato também contratou a empresa. É preciso mostrar claramente o seu papel dentro da organização e sua importância no processo como um todo. O novo funcionário deve ser envolvido por um bom ambiente, além de receber todas as informações que impactarão a sua vida corporativa. Ao chegar, deve ser adequadamente recepcionado e ter suas tarefas claras antes de assumir seu posto de trabalho. É de suma importância que o colaborador tenha a melhor impressão da empresa, para desempenhar suas funções com excelência. Em seguida, é preciso ter em mente que os profissionais de hoje buscam aprendizagem e desafios. No passado, o profissional contribuía e queria aprender. Hoje, o discurso é diferente. O foco é a aprendizagem e contribuir se possível. Por isso, a empresa deve focar em treinamentos. O treinamento formal é muito importante, mas o treinamento diário e o feedback tempestivos são essenciais para que o colaborador sinta-se enriquecido em conhecimento. Quanto mais personalizado for o treinamento, melhor será para o profissional, bem como para a organização. A liderança é vital neste contexto, pois o time deve ver o líder como inspiração em termos de conhecimento, postura e caráter. O líder deve ter preocupação fidedigna com o desenvolvimento, orientação, coaching e feedback constantes para o colaborador, visando o crescimento e os ajustes necessários que o mesmo precisa fazer ao longo do período. O gestor deve sempre mostrar o impacto que o colaborador tem na organização como um todo. Muitas vezes, os líderes são detentores do conhecimento estratégico da empresa, mas não se reúnem com sua equipe para repassar essas informações. Logo, se a equipe inteira não compreende o rumo da empresa e qual é o seu lugar nesse processo, o trabalho fica sem sentido, apenas e puramente, operacional. Se o colaborador não sabe qual sua importância no processo, se desmotiva e, consequentemente, deixa a organização. É necessário, por outro lado, ter consciência de que turn over zero não existe e nem é saudável para a organização, visto que impossibilita a oxigenação do time, a vinda de novas ideias e novos jeitos de fazer as mesmas tarefas com melhor qualidade. Assim, o departamento de Recursos Humanos deve mapear quem são os altos potenciais, e também as equipes que brilham dentro da empresa, a fim de garantir que estes sejam recompensados e percebam o seu propósito na sua função. Propósito tem a ver com senso de pertencimento. “Eu ouço e sou ouvido dentro desta organização. Existe parte de mim aqui nesta empresa. Eu deixei um legado.” O gestor precisa primeiro entender a importância de cada um de seus colaboradores e depois ajudá-los a perceber isso. Deve estar aber- Inovação é um valor que muitas empresas têm colocado em seu core purpose, mas às vezes não estão preparadas para ouvir novas ideias to às ideias e trabalhar como coach, orientando as pessoas a colaborarem com a organização. Inovação é um valor que muitas empresas têm colocado em seu core purpose, mas às vezes não estão preparadas para ouvir novas ideias. Se o discurso for diferente da prática, haverá mais uma grande chance de insucesso. Já a qualidade de vida é outro ponto importante, especialmente para a geração Y, com idade entre 23 e 36 anos. Essa faixa etária deseja equilíbrio entre a vida profissional e a pessoal. Recentemente, realizamos uma pesquisa com este público para entender como eles pensam, visto que ainda estamos aprendendo a trabalhar com eles. Nessa pesquisa, identificamos que, independente do país, essa geração tenta evitar que a vida pessoal seja afetada pela profissional e vice-versa. Por se tratar de uma geração mais imediatista, um dos fatores que dificultam a permanência deles nas corporações é a rapidez com que desejam ser promovidos e alcançar altos níveis salariais. Temos hoje um programa de remuneração variável, muito mais vinculado ao desempenho pessoal e de grupo, e não exclusivamente da empresa como um todo. Além do salário rotineiro, oferecemos uma variável baseada em performance, que varia de um a quatro salários adicionais por ano. Esse programa, criado com consultoria externa, permite estabelecer, medir e acompanhar as metas periodicamente, por meio de avaliações de desempenho focadas no nosso setor. Temos uma equipe de Recursos Huma- nos diretamente voltada à captação das etapas que o pessoal tem que cumprir, os desafios, as metas e o feedback. Esse programa se destina a profissionais que consideramos de alto potencial e cuja carreira acompanhamos mais de perto. Atrelado a isso, os níveis salariais que se aplicam no Brasil estão totalmente fora da realidade. Os custos com os colaboradores aumentaram nos últimos seis, sete anos, o que tornou o Brasil um país menos competitivo. Outro desafio para reter seria a ausência de profissionais qualificados, o que faz com que o ciclo se torne vicioso, com profissionais ganhando salários incompatíveis com sua expertise, às vezes ainda em formação. Nas entrevistas de desligamento que realizamos com os nossos colaboradores, é fato que o salário aparece como fator motivador da troca de emprego, mas sempre procuramos entender o que levou o funcionário a buscar uma nova oportunidade. Não raro, descobrimos que o momento em que o funcionário decidiu colocar o currículo no mercado foi quando estava insatisfeito com suas atividades, não identificando desafios ou aprendizagem em sua rotina. Mais uma vez, reforçamos a nossa convicção de que o líder é o grande maestro; se ele não conduz adequadamente, percalços acontecem. Concluindo, a empresa deve ter uma cultura de reconhecer que pessoas são os bens mais importantes. Deve investir fortemente na formação de seus líderes, de modo que estes entendam seu papel como gestores de resultados e pessoas. Necessita garantir um plano de recompensa por meritocracia, premiando os que mais se destacam, além de dar treinamento específico para as equipes. É imprescindível que o departamento de Recursos Humanos seja ativo, capaz de ajudar gestores e colaboradores a exercerem seu papel e proverem mais do que 100% de retorno à empresa. INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 setembro/outubro 2013 148 INSIGHTCase Studies 149 EDIÇÃO CASE STUDIES Antoninho Marmo Trevisan Presidente da Trevisan Escola de Negócios REVISTA BRASILEIRA DE MANAGEMENT Os dois pilares da gestão para o sucesso dos negócios Empresas de todos os setores e portes somente terão sucesso e longevidade se estiverem sustentadas de modo consistente por dois pilares essenciais: capital humano competente, o maior patrimônio de toda organização; e equilíbrio contábil. A partir dessa estrutura, todos os demais aspectos da moderna administração, as atividades-meio e o foco no negócio ganham mais eficiência e musculatura. No tocante à contabilidade, a eficácia é fundamental para que a empresa tenha um fluxo de caixa saudável e possa programar de modo assertivo os seus investimentos, tendo absoluta tranquilidade para se dedicar a produção, venda, atendimento aos clientes, ações de marketing, prospecção de mercados e todas as suas atividades-fim. Saúde financeira é a grande missão da contabilidade, desde a época de seu grande difusor, o frei italiano Luca Bartolomeo de Pacioli, que registrou o sistema das partidas dobradas pela primeira vez em livro, estabelecendo a figura da responsabilidade no trato da coisa pública e privada. Esse elementar princípio, que ele descreveu em 1494, basicamente instituiu uma nova ordem econômica, que indicava ser impossível a uma pessoa ou organização aplicar um recurso sem ter a sua origem definida e calculada. Quando não se respeitam tais pressupostos, tende-se a montar orçamentos que não fecham, contas que não batem e empresas e países que quebram. No Brasil, a contabilidade floresce e se posiciona como atividade cada vez mais relevante. Trata-se de fator decisivo para atribuir credibilidade aos setores público e privado, criando base importante de sustentação para nosso crescimento econômico. Por isso, é fundamental a formação de novos contadores, altamente capacitados no plano técnico e conscientes de seu papel no processo de desenvolvimento nacional. A carreira, que havia perdido relevância durante a ditadura militar e nos anos de hiperinflação no Brasil, começou a reconquistar espaço com a redemocratização, a Lei das SA e a convergência do País às normas internacionais. Por isso, precisamos trabalhar para estimular os jovens a conhecer a carreira, sua relevância, responsabilidade, atratividade e possibilidades de bons ganhos. A oferta de recursos humanos ainda não atingiu um ponto crítico porque as empresas conseguem atrair profissionais das firmas de auditoria e dos escritórios de contabilidade e consultoria para suprir as necessidades de seus departamentos de auditoria interna, controladoria e financeiro. E essas empresas prestam bons serviços no País, contribuindo para o bom atendimento dessa demanda. Ademais, temos notado, com base nos movimentos de nossa escola, que triplicou o número de profissionais de Ad- um hiato entre o que se divocacia, Administração e Engenharia que buscam Profissionais funde e o que realmente se em Ciências Contábeis uma segunda formação talentosos são cada faz. Profissionais talentosos acadêmica. vez mais disputados são cada vez mais disputaParalelamente à formação mais ampla de profisdos pelas empresas, pois a sionais, é importante que as empresas compreenpelas empresas, qualidade dos recursos hudam, cada vez mais, o significado da contabilidade. pois a qualidade manos afeta a competitiviÉ necessário aumentar a longevidade dos negócios dos recursos dade de qualquer negócio. no País, em especial os novos empreendimentos Existem algumas ferrade pequeno e médio portes, cuja letalidade é ainhumanos afeta a mentas importantes para a da muito elevada, em especial nos primeiros cincompetitividade de definição das boas estraco anos de existência. Serviços contábeis eficazes qualquer negócio tégias de RH. As principais contribuem muito para que a organização consolisão as seguintes: diagnóstide-se, cresça e se desenvolva, reduzindo o risco do cos e planejamento, recrufechamento precoce de suas portas. tamento, seleção, análise e descrição de cargos, salários Assim, o capital humano, próprio e terceirizado, é decie benefícios, carreiras, saúde e segurança no trabalho, sivo no tocante aos serviços contábeis, como em todas as treinamento e desenvolvimento de pessoal, mudança oráreas das organizações. Esse é o segundo grande pilar de ganizacional, avaliação de desempenho e relação com sustentação dos negócios de sucesso. É necessário comfuncionários. As atividades podem ser realizadas por meio preender, com a mais absoluta clareza, o real significado da operacionalização dos mecanismos de gestão de pesdos recursos humanos, porque, sem qualquer dúvida, o soas, mas devem ser planejadas de modo a permitir que grande fator impulsionador das corporações são as pesas ações estejam vinculadas aos objetivos gerais da orgasoas. Assim, toda a gestão de pessoal deve ser pensada e nização. O foco deve ser, sempre, o de atrair, desenvolver direcionada de maneira estratégica, para que se mantenha e manter talentos. sinergia entre os colaboradores e destes com os objetivos É preciso, portanto, que a área de RH posicione-se da empresa e o foco dos negócios. Estratégias e políticas como gestora do negócio, responsabilizando-se por ativierradas no segmento da administração do pessoal podem dades como seleção, treinamento e avaliação de desemprejudicar muito a gestão e ameaçar a sobrevivência do penho. Deve atuar, sempre, em parceria com a direção negócio. da empresa. E esta, seja numa organização de pequeno, Não é sem razão que nas companhias de capital aberto, médio ou grande porte, de capital aberto ou fechado, prepor exemplo, a governança corporativa esteja assentada cisa entender que as pessoas são a mola propulsora para em uma série de práticas, disciplinas e instrumentos que o desenvolvimento organizacional e que a atuação dos diregulam relacionamentos entre acionistas/cotistas, conrigentes deve favorecer a adoção de políticas de RH comselho de administração, diretoria, auditoria independente patíveis com as metas e focos do negócio. e recursos humanos. Toda a gestão deve ser pensada de As empresas brasileiras vivem um momento decisivo, maneira estratégica para que não haja uma deterioração no qual os mercados cobrarão eficiência, produtividade, das relações entre os dirigentes e entre estes e os colabocriatividade e eficácia na prática diária. Tais requisitos soradores. É fundamental que se mantenha a sinergia e que mente poderão ser atendidos se as empresas contarem todos trabalhem com adequado comprometimento ante com colaboradores competentes e comprometidos com as metas da organização. os resultados e com um equilíbrio contábil, essencial para É preciso que o discurso de valorização das pessoque todos trabalhem focados no crescimento e no sucesas seja sempre coerente com as práticas de RH e a sua so do negócio. percepção por parte dos colaboradores. Não pode haver INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 setembro/outubro 2013 150 INSIGHTCase Studies 151 EDIÇÃO CASE STUDIES Eduardo Figueiredo REVISTA BRASILEIRA DE MANAGEMENT Diretor-presidente do IBIO Qual parte lhe cabe em um território? O licenciamento ambiental, instituído no Brasil em 1981 pela Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), é um dos principais instrumentos de avaliação e autorização para a implantação e operação de empreendimentos causadores de efetiva e potencial poluição e degradação ambiental. Após três décadas de aplicação, entretanto, está claro tanto para os poderes executivo e judiciário quanto para o setor privado que o processo carece de critérios balizadores que compatibilizem os ideais de preservação e desenvolvimento. Uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) feita com Federações de 24 estados sobre licenciamento ambiental, publicada em 2013, indica que há uma compreensão por parte do setor empresarial sobre a importância da conservação dos recursos naturais que dão suporte a suas atividades. O setor percebe seu papel como agente transformador da sociedade e fomentador do desenvolvimento sustentável, embora declare sua insatisfação em relação à precariedade do licenciamento ambiental. De acordo com o documento da CNI, a fundamentação das políticas no modelo de comando e controle, com base em restrições legais, não é coerente com o paradigma da sustentabilidade. Idealmente, a gestão ambiental deve utilizar os diversos instrumentos da PNMA de forma integrada e complementar, abordando perspectivas que vão além do prisma ambiental. O modelo ideal pressupõe ainda que o compartilhamento de responsabilidades entre os diferentes atores da sociedade seja essencial para a mudança de valores, costumes e práticas. Nesse modelo, o sistema de licenciamento deve aprimorar a interpretação do princípio da precaução e passar a ser um elemento de indução e incentivo. A visão do setor produtivo, manifestada no documento da CNI, demonstra claramente os efeitos das discussões sobre a temática ambiental, que ao longo dos últimos anos foi alçada ao patamar de sustentabilidade. Não é mais permitido ao empreendedor não considerar as questões ambientais e sociais relacionadas à sua atividade. Mais ainda, não é permitido não participar das questões de um território. Seja por obrigação condicionada ao licenciamento, ou por liberalidade, as empresas são pressionadas pela sociedade a participar de forma concreta no desenvolvimento do seu entorno e não apenas prevenir e mitigar. Uma pesquisa do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE) com 100 organizações identificou 12 diferentes áreas que receberam investimentos de mais de 2 bilhões de reais em 2011. Entre as áreas, 86% das organizações privadas investiram recursos em educação, 43% em meio ambiente e 33% em saúde. Por outro lado, a pesquisa realizada pela CNI demonstrou que 70% dos estados possuem alguma relação entre o planejamento territorial e o licenciamento ambiental. Em teoria, percebe-se que o vínculo entre o processo de licenciamento e o planejamento regional possibilitaria uma visão global do território, dando subsídio para uma compreensão mais precisa do papel efetivo do empreendedor. Entretanto, a mesma pesquisa aponta que A bacia hidrográfica é a unidade territorial para implantação das políticas e sistemas de gestão de recursos hídricos. A gestão deve ser descentralizada apenas sete estados (32%) dizem que o potencial econômico ou a vocação da região são considerados de forma efetiva no processo de licenciamento. Pode-se então concluir que o processo de licenciamento, na prática, não é adequado para indicar quais investimentos têm maior potencial para atuar em sinergia em um território dinâmico e contribuir de forma efetiva e segura para seu desenvolvimento. O que se percebe é que os investimentos são decididos conforme a característica de cada empreendedor e de como ele se relaciona com seu entorno imediato. De acordo com o estudo do GIFE, a decisão de onde investir, em geral, é tomada com base em indicadores econômicos e sociais, critérios de vulnerabilidade social ou atendendo a demandas das comunidades do entorno do empreendimento. Como identificar sua parte na gestão integrada de um território e decidir como investir sem ser assistencialista, palavra proibida em tempos de sustentabilidade, e sem assumir responsabilidades de outros setores? A bacia hidrográfica O Brasil possui uma Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) fundamentada em premissas que favorecem a utilização da bacia hidrográfica como unidade básica de planejamento de um território, por conter fatores que potencializam a integração dos diversos setores sociais (Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997). > A água é um bem de domínio público, limitado, dotado de valor econômico e cujo uso prioritário, em sua escassez, é o atendimento de uma necessidade humana básica – o consumo. > A bacia hidrográfica é a unidade territorial para im- plantação das políticas e sistemas de gestão de recursos hídricos. A gestão deve ser descentralizada, com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades, e deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas. Essa conceituação confere à água atributos valiosos que a potencializam como um fator capaz de criar uma camada de integração entre os diversos aspectos de um território, por promover a descentralização de sua gestão e por dotá-la de um valor tangível. Em um primeiro ponto, a descentralização dá poderes aos diversos setores da sociedade e responsabilidades sobre esse bem difuso. É importante notar que essa atribuição é feita de acordo com os mecanismos de cada setor. A gestão é atribuída ao estado por ser declarado o bem como de domínio público. O setor produtivo é atrelado ao processo por meio da dotação de um valor econômico à água. A comunidade é inserida por ser, fundamentalmente, a detentora do bem e sua usuária primordial. Nesse contexto, os usuários de vários setores produtivos, as diversas instâncias de governos e as organizações da sociedade civil são convocados a analisarem e negociarem suas perspectivas sobre o território por meio dos Comitês de Bacias Hidrográficas. De acordo com a PNRH, aos Comitês de Bacias cabem ações efetivamente relevantes aos recursos hídricos, contemplando tanto questões administrativas quanto deliberações sobre as regras de cobrança pelo uso da água e como os recursos serão utilizados. Portanto, há um espaço formalizado, construído por meio de um complexo processo de articulação institucional e social, para a decisão compartilhada sobre os recursos hídricos. Esse espaço apresenta legitimidade para abrigar as negociações e pactuações entre os atores de um território sobre a alocação dos recursos hídricos e aspectos relacionados à água. Segundo, a Política Nacional atribui à água um valor econômico. Esse elemento da lei, além de viabilizar a co- INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 setembro/outubro 2013 152 INSIGHTCase Studies 153 brança pelo uso da água, é de grande relevância por permitir a transposição da visão ambiental sobre um elemento que é fundamental em todos os aspectos da sociedade. De acordo com essa perspectiva, a água é um fator com poder para atravessar as diversas mesas de debate e levantar análises que integrem as carências, necessidades e desejos do ser humano em suas diversas origens. A água é essencial para a saúde e para a falta dela. É essencial para produção de alimentos, de minério, de madeira, aço, alumínio, papel e quase tudo que consumimos. A água é fundamental na vida da mulher, pois, em geral, ela é a responsável pela coleta, muitas vezes em situações de acesso precário, e pela higiene e pela saúde de crianças e idosos. A qualidade do acesso à água é diretamente relacionada à sua dignidade e bem-estar. A água é parte integrante e determinante da nossa cultura – definido por Edward Tylor como o complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adqui- ridos pelo homem como membro da sociedade. Encaramos a água conforme nos guia a nossa cultura, seja como meio perene e inesgotável de nos livrarmos de nosso lixo ou como fator limitante de produção. Considerando então que: 1. a água é um elemento dentro de um sistema de drenagem, cuja espacialização geográfica apresenta um forte caráter de identidade; 2. que sua gestão, conforme preconizado pela PNRH, é descentralizada e inclusiva; e, 3. que possui um valor transversal, reconhecido pela sociedade, podemos inferir que a água pode ser fio condutor para uma visão integrada de um território. A água é suficientemente forte para carregar consigo outros valores menos óbvios, como o respeito, o planejamento, a precaução e disciplina? Difícil responder. Entretanto, a perspectiva de bacia hidrográfica deve contribuir para um planejamento realmente integrado e indicar investimentos com grande potencial sinérgico para a promoção do desenvolvimento de um território. INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 setembro/outubro 2013 INSIGHTCase Studies 154 155 Vista da Baía de Todos os Santos (Joseph Leon Righini, século XIX) Vista geral da cidade de São Paulo (Debret, século XIX) TRADIÇÃO E EFICÁCIA na gestão de patrimônio Rio de Janeiro visto da Ilha das Cobras (Newton Smith Fielding, século XIX) • Equipe altamente especializada • Soluções financeiras estruturadas • Gestão de riscos eficiente • Máxima qualidade em produtos e serviços Rio de Janeiro Tel: +55 (21) 2514.8387 [email protected] A presente Instituição aderiu ao Código ANBIMA de Regulação e Melhores Práticas para a Atividade de Private Banking no Mercado Doméstico. São Paulo Tel: +55 (11) 3704.0505 [email protected] www.bancobbm.com.br INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 setembro/outubro 2013 156 INSIGHTCase Studies 157 EDIÇÃO CASE STUDIES Paulo Andreoli Chairman do MSLGROUP Latin America e presidente da MSLGROUP/Andreoli no Brasil. O MSLGROUP é parte do Publicis Group. REVISTA BRASILEIRA DE MANAGEMENT Os gestores e a força da reputação na imagem corporativa Logo na alvorada do Capitalismo, meio milênio antes desses nossos dias, a reputação de um negócio dependia da competência de seu titular para se exibir calculadamente em mansões desenhadas por arquitetos papais, onde recebia faustosamente à vista de retratos a óleo com sua família, de preferência assinados por grandes mestres. Imagem corporativa em meados do século XVI oscilava em proporção direta ao luxo, num teorema alegórico que procurava demonstrar abundância para enfrentar qualquer catástrofe econômica. E o método fazia sentido, pois então as atividades de risco – comércio, bancos ou manufaturas – podiam soçobrar, a qualquer minuto, por efeito colateral de guerras longevas e inconclusas, pestes, ataques de piratas ou falência planejada por monarcas que subscreviam letras de câmbio sem lastro para remediar carências nas arcas reais. Pompa suntuosa como atestado de legitimidade era ideia-força que vinha da Idade Média e mesmo da Antiguidade grega e romana. Tão arraigado era o simbolismo da ostentação que a Europa cristã a ele se acomodou, deixando de lado a pregação de modéstia e caridade. Nesse sentido, diz a intuição humana que a posse sempre definiu hierarquia social. Com o triunfo do capitalismo, também o respeito ingressou na mesma pauta, visão que paulatinamente se tornou avassaladora com a multiplicação das trocas, a revolução industrial e a globalização. Fatos estabelecidos, uma guinada importante aconteceu recentemente; e com mais nitidez a partir da última década do século passado, quando o ambiente competitivo rompeu com as fronteiras nacionais e amplificou o campo de escolha do consumidor final – que ante produto ou serviço com atributos equivalentes manifesta disposição crescente para adotar como fornecedor quem “faz a coisa certa”. O resultado dessa erupção da cidadania está na profusão de hortaliças cultivadas sem uso de pesticidas, de vinhos orgânicos, de filés de vitelos abatidos em processo indolor, de batons isentos de chumbo, assim como no lançamento de carros híbridos, bancos verdes, sistemas de entrega que pagam multas caso percam a hora contratada e, ainda, fundos de investimento que só compram papéis de companhias que não empreguem trabalho infantil – entre tantas outras manifestações da imaginação para fisgar o cliente direto no coração. Dentro desse contexto, o desafio do gestor é inédito na história, não só devido à multiplicidade de perspectivas, mas também devido ao fracionamento das áreas de ingerência. O halo dessa cruzada surge agora na multiplicação de cargos diretivos para cuidar de Sustentabilidade, reportando direto ao chefe da empresa, e cujas ações visam nome- de um funcionário irritado adamente a incrementar a reputação da empresa De nada adianta pode comprometer alguns pela atenção em tempo integral aos interesses mais o gestor decidir anos de boa reputação, variados que comparecem no cotidiano da sua atipatrocinar um com reflexos diretos nos vidade. resultados e na imagem Iniciativas e providências sintonizadas com essa filme, um time percebida. Os processos partitura inspiram a comunicação corporativa, na vencedor, gastar de gestão de crises se torbusca de simpatia e engajamento. No século XXI, milhões em naram online e são parte modéstia e bons costumes rivalizam com balanços integrante da gestão estrasadios para garantir reputação alva, num contraspublicidade se tégica dos negócios. te maniqueísta e pouco verossímil com os coma mídia social Assim como o markepetidores diretos que hesitam em seguir a mesma questiona a compra ting, a comunicação cororientação e cujo destino seria trágico. porativa cada vez mais vai Há pelo menos dois problemas desafiadores no de uma refinaria de depender de informações caminho dos gestores de empresas que adotam petróleo malfeita mais precisas e de análise. essa prática. Um, corriqueiro, é que toda empresa no exterior Neste contexto, o desafio próspera e duradoura segue as melhores práticas, estará na antecipação das paga em dia, cumpre normas dos organismos retendências com base no guladores, opera com ética, respeita as pessoas que que se convencionou chamar de “Big Data”, que consegue dela recebem salário, remunera adequadamente os aciointerpretar o “inconsciente coletivo” e orientar as emprenistas e leva a sério as opiniões da clientela – em suma, faz sas nos seus processos decisórios. a coisa certa sem aspas. Para essas, uma vistosa Diretoria As agências de comunicação também precisam rever o de Sustentabilidade é apenas pleonasmo; ou melhor, a vaseu modelo de negócios e buscar não somente corpo técriação contemporânea do luxo que pretendia comunicar nico capaz de trabalhar com esses dados estratégicos de solidez no capitalismo primitivo. tendências como também diversificar o portfólio de serviO segundo problema é mais sutil e decorre das próprias ços e ampliar de forma permanente sua área de atuação apostas necessárias para afirmar a importância e o poder por meio de parcerias estratégicas. real exercido pela área de Sustentabilidade nas decisões A MSLGROUP/Andreoli no Brasil, que presido, tem se cruciais da empresa. Antes, tínhamos a Responsabilidade empenhado na constituição desse modelo e criado uma Social; agora, a Sustentabilidade. O processo de gestão de rede qualificada e sintonizada. Uma das mais importantes empresas hoje se vê compelido a incorporar novas práticas foi estabelecida com a Insight Comunicação, que é a edique nada mais são, na essência, do que fazer a coisa certa tora da revista Case Studies e criadora do prêmio Destaque – o que sempre foi inerente às empresas bem-sucedidas. Top Case. A rapidez com que se disseminam as informações torna Os tempos da hipocrisia institucional terminaram. De as empresas vulneráveis e os gestores precisam incorporar nada adianta o gestor decidir patrocinar um filme, um time nas suas atribuições funcionais o alerta permanente sobre vencedor, gastar milhões em publicidade se a mídia social seus atos e sobre a percepção de seus produtos e serviços. questiona a compra de uma refinaria de petróleo malfeita Precisam decidir se a interatividade online lhes será benéno exterior, para citar apenas um exemplo. Existem muifica ou se a exposição pública – da qual não poderão se tos. De nada adianta adotar o slogan “orgulho de ser brasifurtar - os exporá ainda mais. leiro” se os serviços são ruins. A reputação tornou-se um ativo ao mesmo tempo esNessas duas experiências fica bem claro que a reputasencial para o sucesso e a sua maior ameaça – um desafio ção empresarial guarda fragilidades intrínsecas ao ramo do a mais para os administradores para quem o delivery connegócio, pode ser afetada por acidentes naturais, por um sistia há pouco tempo apenas em indicadores financeiros negócio malfeito, por um gesto, por uma atitude – porém de performance. Nos dias de hoje, uma atitude, um gesto INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 setembro/outubro 2013 158 INSIGHTCase Studies 159 está sujeita a devastações que se tornam custosas quando desnudam afirmações hipócritas e/ou soberbas. Isso não implica assumir que imagem corporativa é valor que só se conta nos extremos: é branco ou então será preto, sem nada pelo meio. A legitimidade conquistada é patrimônio durável, aguenta desaforos e pode ser restaurada, desde que cada experiência negativa seja tratada com transparência, rigor, inteligência e muito trabalho profissional. Altos e baixos se sucedem nas áreas de vendas, de produção, de recursos humanos e, por que não, da imagem corporativa de cada empresa. Flutuações inesperadas também pertencem ao mundo real dos negócios. O pior tipo de problema, quando se trata da reputação, surge com definições equivocadas acerca dos objetivos da companhia e do modo pelo qual essa mensagem será traduzida na linguagem destinada a informar o público não especializado. Se petróleo é poluente na origem, quem mexe com esse material corre risco desmesurado ao se apresentar como produtor de energia limpa, por exemplo. O gestor de uma empresa que levanta argumentos para desqualificar fatos termina sempre com encrenca na mão. É curioso como tanta gente capaz escorrega nessa trilha infantil, pois 500 anos de experiência já deveriam ter ensinado o caminho a gestores de negócios cujo objetivo é construir valor e gerar resultados pela ação racional e duradoura. PESQUISA PESQUISA NACIONAL NACIONAL nota nota de excelência de excelência ASSOCIAÇÃO ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA BRASILEIRA DE ESTUDANTES DE ESTUDANTES DE EADDE EAD em todos em todos os cursos os cursos 80% de80% aproveitamento de aproveitamento PESQUISA PESQUISA NACIONAL NACIONAL nota nota de excelência de excelência ASSOCIAÇÃO ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA BRASILEIRA DE ESTUDANTES DE ESTUDANTES DE EADDE EAD em todos em todos os cursos os cursos 80% de80% aproveitamento de aproveitamento PESQUISA PESQUISA NACIONAL NACIONAL nota nota de excelência de excelência ASSOCIAÇÃO ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA BRASILEIRA DE ESTUDANTES DE ESTUDANTES DE EADDE EAD em todos em todos os cursos os cursos 80% de80% aproveitamento de aproveitamento PESQUISA PESQUISA NACIONAL NACIONAL nota nota de excelência de excelência ASSOCIAÇÃO ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA BRASILEIRA DE ESTUDANTES DE ESTUDANTES DE EADDE EAD em todos em todos os cursos os cursos ACESSO ACESSO IMEDIATO IMEDIATO Mensalidades Mensalidades ACIMA DE ACIMA 5 EMDEREDAÇÃO 5 EM REDAÇÃO PARA PARA NOTASNOTAS a partir a partir de de ACESSO ACESSO IMEDIATO IMEDIATO Mensalidades Mensalidades ACIMA DE ACIMA 5 EMDEREDAÇÃO 5 EM REDAÇÃO PARA PARA NOTASNOTAS a partir a partir de de ACESSO ACESSO IMEDIATO IMEDIATO Mensalidades Mensalidades ACIMA DE ACIMA 5 EMDEREDAÇÃO 5 EM REDAÇÃO PARA PARA NOTASNOTAS a partir a partir de de ACESSO ACESSO IMEDIATO IMEDIATO Mensalidades Mensalidades PARA PARA NOTASNOTAS a partir a partir de de top10 top10 mec mec ENEM ENEM R$R$230230 top10 top10 mec mec ENEM ENEM R$R$230230 top10 top10 mec mec ENEM ENEM R$R$230230 top10 top10 mec mec ENEM ENEM R$R$230230 80% de80% aproveitamento de aproveitamento ACIMA DE ACIMA 5 EMDEREDAÇÃO 5 EM REDAÇÃO INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 setembro/outubro 2013 160 INSIGHTCase Studies 161 EDIÇÃO CASE STUDIES Jean-Claude Ramirez REVISTA BRASILEIRA DE MANAGEMENT Sócio da Bain & Company Como CIOs devem iniciar um novo desafio profissional A expectativa é sempre alta quando um novo executivo toma as rédeas de uma posição de liderança. Mas no ambiente atual de negócios, que se encontra em rápida mudança, os líderes de TI são os que se sentem mais vulneráveis e inseguros em relação às novas missões que terão dentro de uma empresa. Conforme assumem o novo papel, os CIOs enfrentam desafios profundos, amplos e conflitantes. Eles devem trabalhar arduamente para manter funcionando sistemas antigos (muitas vezes frágeis e obsoletos) de forma que possam continuar atendendo às necessidades das unidades de negócios que, por sua vez, surgem com demandas cada vez maiores e mais variadas. Enquanto isso, todos os olhos se depositam sobre esses profissionais para que levem a cabo a implantação de novas funcionalidades de TI, que incluem tecnologias sociais, móveis e de nuvem. Geralmente, no primeiro dia de trabalho do novo CIO, ele ou ela irá encontrar um ambiente formado por uma colcha de retalhos de sistemas legados e de tecnologias não adequadas às necessidades do negócio. Na maioria das empresas, a pressão para criar novas funcionalidades de TI acaba sendo priorizada no lugar de consertar o que não está funcionando ou com baixo desempenho. O resultado do acúmulo de novas funcionalidades sobre uma base tecnológica cada vez mais frágil é adicionar complexidade desnecessária aos processos e elevar os custos, tornando mais difícil para a área de TI servir em tempo hábil até mesmo as solicitações básicas de negócios. Essa complexidade dos ambientes de TI faz grandes estragos nos orçamentos das áreas de tecnologia, ocupando 85% ou mais dos desembolsos com gastos relacionados à operação e manutenção dos sistemas já existentes, deixando somente 15% à disposição de novas iniciativas. Os CIOs eficazes sabem que os sistemas legados precisam ser bem administrados e os custos de operação e manutenção devem ser reduzidos em 20% a 30%, a fim de liberar recursos para novos investimentos. Essa falta de equilíbrio entre manter sistemas antigos rodando e dar atenção às novas demandas de negócios faz com que os CIOs cedam às pressões e mergulhem no trabalho que é urgente, adiando a solução de questões maiores e mais importantes. Por outro lado, o novo executivo não pode se dar ao luxo de colocar as solicitações urgentes do dia a dia em espera enquanto endereça questões fundamentais sobre a arquitetura de TI. A partir da vasta experiência da Bain & Company em ajudar os novos CIOs a estabelecer uma gestão sólida, descobrimos que o sucesso nesse novo papel exige que o executivo consiga otimizar tempo e recursos em meio à tempestade diária de pedidos feitos à área de TI, principalmente nos meses inicias (e mais críticos) de trabalho. Os CIOs precisam definir o tom e a direção de sua gestão, avaliando os pontos fortes e fracos da área e, partir daí, desenvolver um plano equilibrado para solucionar velhos problemas e implementar novos sistemas que atendam às novas prioridades de negócios. > Construir uma base de dados a partir de fatos. Grandes ambientes de TI permeiam toda a empresa e são complexos. O novo CIO precisa analisar diversos pontos – muitas vezes ocultos – para enxergar onde os problemas estão. Precisa investir tempo em ouvir, tanto as grandes como as pequenas queixas, e procurar perceber quais são as dicas que podem fazer o TI melhorar em desempenho. Conforme o CIO aprofunda as bases de dados com fatos e não com impressões superficiais, ele ou ela poderá entender até que ponto as competências existentes da área de TI conseguem atender o negócio e que dimensões precisam ser melhoradas. > Definir expectativas. Munido de dados e insights que levam a ações concretas, a próxima tarefa do CIO é articular um business case empolgante para convencer seus clientes internos a lhe permitirem reposicionar a plataforma de TI, melhorando o que está errado enquanto consegue responder às demandas das iniciativas mais importantes da empresa. No entanto, o CIO também precisa assegurar seus clientes de que redirecionar recursos tec- O CIO também precisa assegurar seus clientes de que redirecionar recursos tecnológicos e foco gerencial criará uma base mais sólida de TI que será muito mais ágil em atender às necessidades futuras da empresa nológicos e foco gerencial criará uma base mais sólida de TI que será muito mais ágil em atender às necessidades futuras da empresa. > Enfrentar as iniciativas de maior prioridade. Com base na experiência acumulada da Bain & Company, uma consideração chave na seleção inicial de projetos de alto impacto que possam atender a algumas das prioridades mais urgentes do negócio é que estes turbinem a eficácia da área de TI. O novo CIO precisa encontrar o equilíbrio entre as metas importantes de curto e longo prazos, sempre visando ao fortalecimento da eficácia da área. O ponto certo dependerá da qualidade da infraestrutura e sistemas de TI, da competência das equipes e da maturidade da área para embarcar em iniciativas estratégicas de longo prazo. Para um novo CIO, que está aprendendo a encontrar o equilíbrio entre a resolução dos antigos problemas e a criação de nova capacidade de serviços de TI, é importante não apenas sobreviver, mas também crescer perante o novo desafio. Os veteranos também podem se beneficiar ao olhar suas organizações de TI através dos olhos de novatos para estabelecer novos alicerces que farão suas áreas ter ainda mais sucesso. INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 setembro/outubro 2013 162 INSIGHTCase Studies 163 EDIÇÃO CASE STUDIES Marcos Facó Diretor de Comunicação e Marketing da FGV REVISTA BRASILEIRA DE MANAGEMENT Desafios do Management em Marketing Há até bem pouco tempo, um profissional da área de comunicação e marketing usufruía de certa estabilidade profissional. Não entendam incorretamente. Aqui não me refiro à estabilidade no emprego, mas sim à estabilidade do conhecimento profissional. Essa realidade se passava no mundo da comunicação e do marketing, onde o conhecimento sobre a profissão mantinha-se relativamente estável. Esse tempo acabou. Gone forever and ever! Para ser um bom profissional da área, bastava ter cursado uma graduação em comunicação social, administração ou áreas afins e ter feito um bom estágio para estar preparado para encarar o mercado. Sem medos ou receios de um mundo desconhecido, pois tudo que havia estava lá. Havia uma grande estabilidade, um status quo quase fixo do saber. Mas, além desse fato, havia outra grande estabilidade: um formato consagrado do business em si, onde os atores possuíam papéis bem definidos, em que as plataformas utilizadas eram dominadas em todos os seus aspectos, dos mais rudimentares à ponta tecnológica. O cenário, os atores e as ferramentas faziam parte de uma engrenagem que se repetia cotidianamente, desde a inauguração do que se chamou de “mídia de massa”. Por décadas, profissionais das agências de comunicação, do departamento de marketing dos anunciantes e dos veículos se entenderam de forma a criar o mundo da comunicação global. O mundo da mídia massificada, que atendia à sociedade capitalista no formato de produção, promoção e consumo. Happy days. Com o surgimento do mundo digital, tudo mudou. Those days are gone! O mundo, o consumidor, o comércio, a comunicação, tudo foi alterado. Sem exageros. Onde havia subjetividade, há objetividade. Onde o emocional imperava, passa a imperar o racional. O formato do negócio da comunicação foi destroçado. Posto abaixo, tijolo por tijolo. Nesse novo palco, alguns ainda não estão se dando conta do que está acontecendo. Não percebem as mudanças ocorridas, tentam tapar os olhos para os novos desafios e insistir que os conhecimentos adquiridos nos velhos bancos das faculdades ainda lhes são úteis. Não querem acreditar. Nem os profissionais de marketing, nem os de mídia e muito menos os das agências de comunicação. Mas a realidade é mais forte. Ela se impõe de forma arrasadora, tornando constrangedora a visão daqueles que tentam sobreviver ao naufrágio de um modelo de negócios que sai de cena. Vejamos como o antigo modelo funcionava. Um agente queria vender seu produto ou serviço. Contratava uma agência de comunicação que lhe preparava um belo plano de mídia e produzia peças muito criativas. Filmes para a televisão, spots para o rádio, anúncios para revistas e jornais. Tudo muito bonito e interessante. Ao mesmo tempo, ou O consumidor potencial ficaria encantado e proOs equipamentos seja, concomitantemente, vavelmente compraria o tal produto, uma vez que foram simplificados o pessoal de mídia estava o planejamento fosse aprovado e, como se dizia, de tal forma que preparando o seu plane“fosse ao ar” – uma romântica forma de dizer “veijamento. Escolhendo os culado”. Good times. qualquer pessoa veículos e a quantidade de As vendas viriam. As mídias de massa fariam o pode produzir um inserções baseadas na verseu trabalho. Atenção quase que total do consumifilme ou um layout ba passada pelo anunciandor e, thanks god!, pouca concorrência de outros te. Até softwares baseados produtos. Pouca programação, pouca interrupção, digno e, ainda, em pesquisas informavam pouca informação. Quase nada de tudo. disponibilizar a melhor segmentação, Analisemos ao menos duas visões distintas. Priesse material para público-alvo, penetração meiramente, a visão do profissional de marketing. etc. Algumas vezes, a tarefa Tenho um belo produto, poucos concorrentes, acesso do grande poderia tornar-se monótopouca informação disponível no mercado e conpúblico ainda mais na, não fosse a bonificação. trato uma grande agência de comunicação. Uma facilmente Glory days. que seja acima de qualquer dúvida. Uma que traga Uma vez a campanha uma marca ganhadora de prêmios. Acima de qualaprovada pelo cliente: a quer suspeita. Quem poderia me criticar? Este é o beauty. Done. See you till next job. Talvez antes, para cocerto. memorarmos algum prêmio. Passo o briefing para a agência, que anota todos os O digital jogou o custo no fundo do poço. Em vários detalhes. Nada se perde. Até a fábrica querem conhecer. sentidos. Os custos de produção, por exemplo, caíram Excelentes profissionais, saídos dos melhores assentos drasticamente. Qualquer um passou a poder comprar um universitários. Após algumas semanas, uma apresentação Macbook, softwares e câmeras digitais de alta definição, é realizada. Conceitos apresentados e um planejamento além de poder aprender de forma gratuita o uso desse de mídia com alguns meses de programação é posto à ferramental, bastando acessar a internet. Os equipamenmesa. Após algumas horas de subjetividades, a campanha tos foram simplificados de tal forma que qualquer pessoa é aprovada. Algumas vezes, uma nova rodada se repetia. pode produzir um filme ou um layout digno e, ainda, disA aprovação da campanha já representava a quase totaponibilizar esse material para acesso do grande público lidade do trabalho do profissional de marketing do anunainda mais facilmente. ciante. Como a veiculação era em mídias de massa, resMilhares de portais, redes sociais, ferramentas de bustava pouco a fazer. Apenas verificar a reação das pessoas ca e plataformas de comunicação vieram tomar o espaço aos anúncios e se as vendas aconteciam. Caso houvesse das mídias tradicionais. Quebraram fronteiras e alteraram problemas com a parte comercial, isso poderia ser problecomportamentos. Nivelaram o antigo poder detido pelos ma da economia, do câmbio etc. Sempre se encontrava grandes veículos com os pequenos. Deram voz aos conuma justificativa plausível. A beauty. Done. sumidores, permitindo um equilíbrio de forças nunca antes visto. Uma nova comunicação surge, em que a multipliciA visão da agência dade de canais e sentidos faz com que o conhecimento Após receber o briefing, a dupla de criação da agência antigo seja questionado. iniciava o seu árduo trabalho na busca de um filme venEm tempos de Google, Facebook e Youtube, a coisa cedor. Será que poderemos inscrevê-lo em Cannes? Tem fica mais complicada. No início dos anos 2000, surgem potencial para competir? Buscavam a criatividade no foras primeiras métricas sérias da comunicação digital. O mato aprendido na faculdade. Algo impactante, que mexa banner passa a ser comprado por CPM (ou custo por mil com as pessoas. Algo que será lembrado. impressões). Começou a corrida pela contabilização das Mas será comprado? Isso não é problema da agência. INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 setembro/outubro 2013 164 INSIGHTCase Studies 165 impressões, seguidas pelos cliques e visitas. Iniciou-se o entendimento do comportamento do consumidor em tempo real e contínuo. Os famosos always on e everywhere anytime passaram a fazer parte do léxico dos profissionais de marketing. As agências passam a criar campanhas on e off-line, como se houvesse dois mundos distintos. Aparecem agências especializas no on-line. O que acontece com o profissional de marketing? Ele passa a ter que entender um novo mundo para o qual não foi treinado. Precisa fazer um briefing para uma agência que, muitas vezes, também não está preparada. Tudo passa a ser Beta. Quase tudo de tudo é novo. O pré-teste que as agências propunham pode ser testado no mundo real, sem custo. As otimizações, ou melhorias na redação, layout etc., podem ser feitos a todo momento. O consumidor passa a responder a todo estímulo, quer seja preço, tamanho, cor etc. Algoritmos e uma infinidade de estatísticas entram na discussão cotidiana de um profissional que não tinha muita amizade com números. Gráficos e tabelas o tiram da zona de conforto. O subjetivo passa para o segundo plano. Como para o homem das cavernas o controle do fogo passou a lhe dar poder, as métricas imbuem o profissional de um poder incontestável. Tudo pode ser medido, contabilizado e monitorado. Daí o desafio. Aprender esse novo mundo, que se impõe com disciplinas como a estatística e a matemática, até então desconhecidas desse profissional. Análises diárias, resultados instantâneos e propostas de correção de rumo em sequência alteram o seu dia a dia. A campanha que acabou de ser aprovada já precisa ser revista. O trabalho não cessa mais na aprovação, apenas começa. Os resultados gritam aos olhos dos que querem ver, suplicando correções. Uma ansiedade com os números e entendimento do que está se passando permeia o pensar do profissional, que passa a cobrar a agência de comunicação. O business mudou para a agência de comunicação também, talvez até mais fortemente. A campanha aprovada e enviada não existe mais. O on-line gera a criação de equipes inteiras para subir peças, monitorar e otimizar. Não há mais início e fim, mas um always on. A agência precisa responder às demandas do cliente com novos custos, porém com a mesma receita. Sente-se espremida num mundo onde o ato de anunciar passa a ser cada vez mais automatizado, concorrendo com as próprias mídias. Passa a ter que se esforçar para mostrar a que veio, que serviço presta, que valor agrega, dentro de um orçamento restrito ao máximo. Um novo paradigma exige um novo profissional, tanto dos anunciantes como das agências. Um profissional que esteja disposto a se renovar continuamente, a reaprender o que já havia aprendido. A estudar as novas ferramentas e as novas formas de se comunicar com o público. Que aprenda a dialogar e a interagir. Que goste de uma realidade mais racional, mais exata, permeada por métricas, conversões, números e tabelas. Um profissional com todos esses requisitos, mas sempre em Beta. Bob’s INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 setembro/outubro 2013 166 INSIGHTCase Studies 167 EDIÇÃO CASE STUDIES Mauricio Girardello REVISTA BRASILEIRA DE MANAGEMENT Sócio da TBA Advisors alizar a imensa tarefa de suprir as grandes lacunas de infraestrutura e, por conseguinte potencializar o crescimento do Brasil. Infraestrutura e gestão A infraestrutura é uma questão fundamental na estratégia de desenvolvimento econômico e social de um país em suas mais variadas dimensões. No Brasil, essas análises estão no centro das discussões sobre o futuro da nação. Não podemos continuar crescendo menos do que a média mundial e o crescimento vegetativo. Os investimentos realizados são grandes, mas aquém dos anunciados e mais longe ainda dos efetivamente realizados. Seja na iniciativa privada, seja na esfera pública. Corre-se o risco de desacelerar o desenvolvimento do país, pois os projetos não saem do papel. Um exemplo é a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), prevista para ser inaugurada este ano e que ainda não tem sequer um trilho instalado. Os caminhos a percorrer passam obrigatoriamente por mexer na estrutura dos processos de planejamento e gestão. É necessário mais ação e não apenas proposição. As três dimensões da infraestrutura Com muita frequência, há dificuldade em se distinguirem as diferentes dimensões da infraestrutura, seus desdobramentos, responsáveis, impactos e criticidades. Com o viés didático, tem-se: Infraestrutura social Hospitais, escolas, segurança, saneamento, água. Infraestrutura básica Mobilidade urbana, estradas, portos, aeroportos, telecomunicações, energia. dente do Estado, o qual vem exercendo um papel centralizador e sem a devida capacidade para re- Infraestrutura econômica Grandes projetos de capital intensivo. Essas distintas dimensões estão totalmente inter-relacionadas, pois hospitais precisam de energia elétrica; escolas precisam de água; os grandes projetos precisam de pessoas educadas e vivendo em comunidades bem estabelecidas. A infraestrutura deve ser percebida de forma ainda mais ampla, pois é fator indutor do turismo. Não podemos imaginar o crescimento sustentável do turismo sem transportes, segurança, saneamento e hotéis em quantidade e qualidade adequadas. Nesse cenário, o governo tem o papel de ator principal, com a responsabilidade de gerir os projetos de infraestrutura social e básica, bem como é o indutor de projetos da infraestrutura econômica por meio das PPPs, da concessão de benefícios fiscais, de financiamentos etc. As três esferas governamentais possuem responsabilidades segregadas. Falta às respectivas lideranças e gestores a compreensão das suas efetivas áreas de atuação. Nessa complexa governança acrescentam-se ministérios, secretarias e gabinetes com sobreposição de funções, ações e expectativas de resultados. Nesse quadro, temos um país extremamente depen- Sem o detalhamento de projetos, as previsões orçamentárias são menos realistas, os ajustes são infindáveis e as obras ficam muito mais caras O fator planejamento No tema infraestrutura, a iniciativa privada e o Estado têm interesses e posições complementares, em que cada um precisa entender as necessidades do mercado ou da população, mapear os resultados e benefícios esperados, estabelecer prioridades, avaliar riscos e identificar as fontes de investimentos. Dentro de determinada perspectiva, verificamos que muitas das carências estão identificadas e estudos preliminares foram realizados. As proposições e interesses estão claramente formalizados e há um grande número de projetos básicos realizados. Pode-se concluir que caminha-se para a frente, mas em uma velocidade e ritmo inadequados. O PAC, por exemplo, que é o principal indutor para implantação da infraestrutura do governo federal, teve apenas 47% dos investimentos previstos para o período de 2011-2014 realizados. Entretanto, falta um elemento chave: gestão e, mais especificamente, planejamento. Há um descompasso na abordagem e condução das questões relacionadas à infraestrutura, pois não há um planejamento plurianual e de longo prazo. Como consequência, os reflexos são conhecidos e onerosos. Essa constatação também se aplica ao setor privado. Os empresários realizam as análises de mercado, de tendências e conjunturas políticas em nível mundial, estudos de viabilidade, incentivos fiscais e fontes de financiamento até a tomada de decisão final. Todavia, apenas 2,5% das empresas entregam seus projetos dentro do prazo, dos custos, do escopo e com os benefícios esperados para o negócio. Há dois exemplos que, de forma emblemática, resumem o “fator planejamento”. O primeiro é uma citação do ex-presidente da Petrobras: “Dentro dos desafios de gestão na minha empresa, com mais de 5.000 projetos, o maior destruidor de valor da companhia é o atraso nos projetos.” O segundo, o histórico dos investimentos realizados pela alemã ThyssenKrupp na construção da sua planta siderúrgica em Itaguaí, no Rio de Janeiro. O custo planejado inicialmente previa investimentos da ordem de 1,5 bilhão de euros. No início das obras, houve um replanejamento e os valores subiram para 3,3 bilhões de euros. Por fim, o projeto teve custos finais de 5 bilhões de euros. Pontos de atenção Sem o detalhamento de projetos, as previsões orçamentárias são menos realistas, os ajustes são infindáveis e as obras ficam muito mais caras. Não há falta de projetos no Brasil; há carência de projetos bem planejados e detalhados. Há vários pontos de atenção neste processo de planejamento da infraestrutura: > Indefinição da governança dos projetos, canais de comunicação e reporte. > Ausência de gestão estruturada de riscos. > Insuficiência de recursos, talentos e equipamentos. Por exemplo: na construção do estádio de futebol em Durban para a Copa de 2010, não havia equipamento no país que pudesse erguer os arcos da cobertura da arena. > Perda de foco nos resultados planejados. > Subestimação das condições de contorno do empreendimento – situação típica de todos os projetos localizados em regiões mais distantes como, por exemplo, as usinas de Santo Antônio e Jirau. > Excesso de autossuficiência e confiança – superestimação da capacidade de realização. Na construção do Superporto do Sudeste em Itaguaí, o grupo investidor desembolsou R$ 10 milhões em uma casa de pescador que em condições normais valeria R$ 30 mil. > Avaliação imprecisa da complexidade das normas (requerimentos e prazos) das demandas governamentais, como o licenciamento ambiental. INSIGHTCase Studies UM DOS MAIORES CASES DO AGRONEGÓCIO MUNDIAL. E OCORREU AQUI, NO BRASIL. SETEMBRO/OUTUBRO 2013 setembro/outubro 2013 168 INSIGHTCase Studies 169 > Imprevisão das dificuldades para a realização dos benefícios fiscais contratados com o governo. Como superar essa questão? De forma simples e direta, precisa-se de melhores resultados. Ou seja, os projetos devem ficar prontos no tempo, no prazo, no custo e atendendo às necessidades propostas. O ponto de partida é a correta compreensão dos requerimentos de infraestrutura. Deve-se manter o foco no resultado ao percorrer os três passos: intenção, planejamento e ação. De maneira propositiva, precisamos: > Inserir o planejamento plurianual dentro dos estudos estratégicos. > Realizar todas as etapas de detalhamento dos projetos. > Buscar o alto desempenho em projetos. Entretanto, mesmo nos melhores cenários, muitas questões vão sair do planejado. E, sabendo-se que essas situações vão ocorrer, a boa prática de gestão sugere o mapeamento das condições de risco, ou seja, dar atenção e o tratamento adequado a todas as situações que podem dar errado e prejudicar o projeto. NA ÚLTIMA DÉCADA, O BRASIL SE TRANSFORMOU NO TERCEIRO MAIOR PRODUTOR E NO MAIOR EXPORTADOR MUNDIAL DE CARNE DE FRANGO. EM 2000, O PAÍS PRODUZIA CERCA DE 6 MILHÕES DE TONELADAS DE CARNE DE FRANGO. EM 2012, FORAM 12,6 MILHÕES DE TONELADAS. A PRODUÇÃO AVÍCOLA BRASILEIRA É PLENAMENTE SUSTENTÁVEL, USANDO PEQUENOS ESPAÇOS E RECURSOS NATURAIS RELATIVAMENTE MODESTOS. TAMBÉM POSSUI ENORME IMPORTÂNCIA SOCIAL – DE 24 MUNICÍPIOS QUE POSSUEM AGROINDÚSTRIAS AGRÍCOLAS, 14 ESTÃO ENTRE OS MELHORES DO BRASIL EM SAÚDE, EDUCAÇÃO, EMPREGO E RENDA. DOIS TERÇOS DA PRODUÇÃO SE DESTINAM AO ABASTECIMENTO DO MERCADO INTERNO. A CARNE DE FRANGO, UM PRODUTO NUTRITIVO, SAUDÁVEL E ACESSÍVEL, É UM HÁBITO ALIMENTAR DE 100% DOS BRASILEIROS, E A PROTEÍNA ANIMAL MAIS CONSUMIDA EM NOSSO PAÍS. EM 2012, AS EXPORTAÇÕES SOMARAM QUASE 4 MILHÕES DE TONELADAS. MAIS DE 150 PAÍSES, DE TODOS OS CONTINENTES, CONSOMEM O FRANGO PRODUZIDO NO BRASIL. www.ubabef.com.br www.brazilianchicken.com.br www.facebook.com/amofrango www.facebook.com/brazilianchicken www.501frangos.com.br www.youtube.com/ubabef INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 setembro/outubro 2013 170 INSIGHTCase Studies 171 EDIÇÃO CASE STUDIES Sérgio Wainer REVISTA BRASILEIRA DE MANAGEMENT Sócio da Via\W Consultoria Gestão de telecomunicações: a arte do malabarismo Não existe consenso em relação à origem do malabarismo, mas uma das correntes diz que é uma arte milenar, de procedência chinesa. Consiste em manipular simultaneamente objetos com agilidade e precisão. Segundo especialistas na arte, a destreza é função de alguns elementos essenciais: prática constante, concentração para evitar a interferência de elementos externos, lateralidade, reflexo para corrigir desvios e estudo dos princípios técnicos que o regem. Os gestores de telecomunicações, na nossa visão, são autênticos artistas de malabarismo. Eles precisam manipular simultaneamente inúmeras questões para desempenhar seu papel e cumprir com eficiência e eficácia suas responsabilidades nas empresas. Primeiramente, são internamente cobrados pelas áreas de negócio das empresas em que trabalham para atender com agilidade às demandas por mais dados, mobilidade e colaboração na comunicação, segurança das informações e velocidade de processamento. Isso apenas para se concentrar naquelas demandas mais evidentes, que visam proporcionar uma prestação de serviços de melhor qualidade aos clientes das empresas. De acordo com estudo feito pela Cisco, o volume mensal de tráfego IP pelas redes do Brasil chegará a 3,5 exabytes em 2016, ante 420 petabytes em 2011. Só para se ter uma ideia, é como se cada um dos cerca de 80 milhões de usuários de internet trafegassem o equivalente a 2 DVDs por dia (o que logicamente hoje nem em sonho seria possível, dada a baixa qualidade das redes disponíveis no país). Isso se deve ao crescimento da base de dispositivos móveis, expansão dos planos de banda e ampliação da oferta de serviços. De fato, olhando a evolução do número de conexões, essa tendência é muito evidente. De 2006 até 2012, o número de celulares saltou de 99,9 milhões para 261,8 milhões, e o número de acessos a banda larga saiu de 5,7 milhões para 17 milhões, de acordo com o portal Teleco. A julgar também pelo comportamento das pessoas em usar mais intensamente seus dispositivos móveis no ambiente de trabalho, e na, digamos, quase que necessidade de aumentarmos a prática do home-office por conta da questão de mobilidade urbana, esse quadro amplifica ainda mais a pressão sobre os gestores de telecomunicações nas demandas internas de negócio. Em segundo lugar, os gestores também precisam equilibrar uma questão de natureza extremamente complexa, que é o relacionamento com os provedores de serviços de telecomunicações. Essa complexidade é reflexo de inúmeros fatores, entre eles: a enorme (e na maioria das vezes confusa) oferta de serviços, tecnologias e planos, contratos de prestação de serviços de difícil entendimento, falta Akamai). Agora, pensem de uniformidade na maneira como as operadoras No âmbito da na missão de um gestor segmentam o mercado (o que leva, por exemplo, qualidade da de telecom que precisa de um mesmo cliente a ser atendido como grande prestação de alternativas para atender as empresa em um provedor e como média empresa filiais, ou lojas, da sua emno outro), atendimento técnico não homogêneo serviços, as presa em termos de capilano país por conta de uma infraestrutura defasada evidências são ridade e velocidade... (fatídico problema de não uniformidade na coberainda mais claras Enquanto fica claro o tura, principalmente, das redes de dados corporadescompasso entre as evitivas e de dispositivos móveis) e comprovada baixa para comprovar dentes necessidades de qualidade na prestação dos serviços (SLAs – Service a árdua tarefa investimento e as ações Level Agreements) não atendidos, erros de cobrandos profissionais de estímulo, os gestores ça, demora no reparo e problemas no cancelamende telecomunicações é to, para não cansar o leitor com a extensa lista de de telecom das que acabam sofrendo de ofensores. empresas maneira mais acentuada o Entretanto, vamos nos concentrar em dois asimpacto de uma infraestrupectos que saltam mais aos olhos, especialmente tura inadequada. porque as evidências de mercado são muito conNo âmbito da qualidade da prestação de serviços, as tundentes e exigem dos gestores muita coordenação e evidências são ainda mais claras para comprovar a árdua atenção (e por que não dizer paciência) na arte do equilítarefa dos profissionais de telecom das empresas. Um tesbrio: a questão da infraestrutura e da qualidade. te recente conduzido pelo Simet (Sistema de Medição de No que se refere a infraestrutura, há um consenso geTráfego Internet), controlado pelo Ceptro (órgão que tem ral (clientes, governo e operadoras) de que ela está muito como objetivo estudar a situação da rede no país), avaliou aquém em termos de cobertura e modernização. No ena qualidade dos serviços prestados pelas operadoras de tanto, os entraves para que algo concreto ocorra parecem telefonia celular na tecnologia 3G sob diferentes aspectos ser intransponíveis. As operadoras alegam (com razão) a (taxas de download e upload, latência e taxa de perda de pesada estrutura tributária como um dos principais elepacotes). mentos que as impedem de investir mais, mas também Em relação à taxa de perda de pacotes, apenas uma citam a falta de profissionais qualificados no mercado em operadora ficou melhor que o padrão de 2%. As perdas de quantidade suficiente e dificuldades do ponto de vista de pacote durante uma chamada VoIP causam o «picotamenregulamentação. to» da ligação, atrapalhando a compreensão da conversa. Por outro lado, o governo critica o comportamento das Em relação à latência, nenhuma das operadoras alcançou operadoras, dizendo que suas estratégias preveem exo valor de 80mS (milissegundos), considerado ideal pelo clusivamente a rentabilização dos serviços já lançados. A Simet. A latência consiste no tempo que determinada inAnatel cobra do Legislativo um avanço na regulamentação formação leva para ir e voltar para o usuário. Analisando os do setor, pois a Lei Geral das Telecomunicações, de 1997, principais ofensores na Central de Atendimento da Anatel está muito concentrada em telefonia fixa, e cobra também em 2013, tanto para os serviços de telefonia fixa quanto do setor privado mais organização para formular políticas para banda larga e telefonia móvel, as três primeiras posipúblicas. ções (com mais de 50% dos casos) foram Cobrança, ReNa matemática, chamamos isso de equação sem soluparo e Instalação. ção. Olhando para os números do setor, vemos, por exemEm suma, há debilidade em todo o ciclo de entrega do plo, que o percentual de municípios atendidos por apenas serviço: na instalação, no fornecimento, no reparo e na uma operadora de telefonia celular é de quase 40% (foncobrança. Esse tema é muito crítico para o gestor de telete: Anatel). Outro dado crítico é sobre a velocidade média com, uma vez que está implícito em sua responsabilidade dos acessos SCM no Brasil: incríveis 2.192 Mbps (Fonte: INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 setembro/outubro 2013 INSIGHTCase Studies 172 173 assegurar que o serviço prestado para os clientes tratativas específicas para o Nossa experiência internos ou externos da empresa funcione adequamercado corporativo. revela que um damente, dentro dos níveis de qualidade combiPor exemplo, a regra conhecimento nados. E com esses indicadores de qualidade obquanto ao prazo para reservados junto às prestadoras de serviços, é muito torno a uma solicitação especializado improvável que os gestores consigam garantir uma feita pelo cliente junto à do negócio das operação sem sobressaltos. operadora não especifica operadoras faz Um terceiro elemento a ser equilibrado é a o número de dias máxiquestão da eficiência, o famoso lema “fazer mais mo em que a operadora toda a diferença por menos”, sem obviamente colocar em xeque o deve responder quando para que o gestor nível de qualidade na prestação do serviço. Espese tratar de uma solicitaconsiga equilibrar cialmente em momentos como o atual, nos quais ção relacionada a telefopaira sobre o mercado um sentimento de incerteza nia fixa (ela define o prazo de maneira e falta de confiança no crescimento da economia, de 5 a 10 dias úteis para satisfatória a busca por redução de custos, assegurando no mítelefonia móvel). Quando a questão da nimo a manutenção dos SLAs existentes, torna-se uma empresa realiza uma um objetivo a ser perseguido pelas empresas, como contestação de conta, a eficiência fonte de melhoria dos resultados operacionais. regulamentação também Entretanto, alguns fatores, tais como a falta de só especifica o prazo de informação sobre contas, tarifas, contratos vigenresposta (30 dias úteis) no tes, parque de ativos e recursos existentes, e o desconhecaso de telefonia móvel. Os serviços de telecomunicações cimento tanto a respeito de preços de mercado (por tipo prestados no regime público (telefonia fixa) têm sua exisde serviço, volume contratado, região do país e provedor tência, universalização e continuidade asseguradas pela do serviço) quanto das alternativas existentes em termos União, portanto, a prestadora de serviço não pode recude serviços e operadoras criam barreiras para os gestores sar o atendimento de interessados em contratar o serviço. conduzirem processos profícuos de redução de custos. Nota-se no mercado que algumas operadoras optam por Não se trata apenas de estabelecer uma tomada de não entregar propostas a clientes interessados em promopreços no mercado! Um processo de renegociação bem ver uma negociação de preços. estruturado pode incrementar o percentual de redução de Voltando ao paralelo do malabarismo, um aspecto de10% a 15% para índices superiores a 40%, com uma conterminante na conquista de maior destreza é o conheciduta bem estruturada. Nossa experiência revela que um mento dos princípios técnicos que o regem. Mais conconhecimento especializado do negócio das operadoras, cretamente, existem teorias matemáticas que ajudam o das condições de contratação, dos preços de mercado e praticante a ser mais preciso na arte. Da mesma forma, de técnicas específicas de negociação nessa indústria faz traduzindo para o ambiente corporativo, existem conhetoda a diferença para que o gestor consiga equilibrar de cimentos específicos que conferem maior probabilidade maneira satisfatória a questão da eficiência. de sucesso para os gestores enfrentarem esses desafios. O último e não menos importante componente presenExistem também empresas especializadas em apoiar os te na relação de itens que os gestores precisam equilibrar é executivos de telecom na gestão equilibrada desses eleo tema da regulamentação. Algumas declarações públicas mentos. Pela natureza dos temas que foram levantados, recentes da Anatel vão na linha da defesa de mudanças seria ingênuo esperar uma solução externa milagrosa, para o setor também no nível legislativo, que foge à alçada uma vez que a resposta não está somente nas mãos dos da agência. Segundo a Anatel, a Lei Geral de Telecomunigestores. Porém, existem empresas que podem contribuir cações, aprovada pelo Congresso em 1997, está obsoleta, de maneira significativa na administração das intempéries pois ela tem foco ainda em telefonia fixa e não apresenta às quais os executivos estão sujeitos. Algumas consultorias especializadas detêm uma base de conhecimento a respeito dos preços praticados no mercado (por volume, serviço, região) que ajudam os gestores a endereçarem a questão da redução de custos de maneira mais assertiva, rápida e eficiente. Também faz parte do conhecimento especializado o domínio sobre a regulação do setor, que pode apoiar os gestores de maneira determinante na elaboração de contratos mais flexíveis e otimizados. Também está no escopo de atuação de algumas empresas um acompanhamento sistemático do nível de qualidade dos serviços prestados pelas operadoras, com um processo organizado para identificar e atuar rapidamente sobre eventuais falhas, tomando ativamente as medidas cabíveis junto às operadoras. Inovação, agilidade, qualidade, eficiência e regulamentação são os desafios complexos que os gestores de telecom precisam enfrentar. Equilibrar todos esses aspectos os tornam verdadeiros artistas. INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 setembro/outubro 2013 174 INSIGHTCase Studies 175 EDIÇÃO CASE STUDIES José Roberto Giosa REVISTA BRASILEIRA DE MANAGEMENT Diretor da Latasa Metais O cerrado e o executivo Eu adoro o cerrado brasileiro. Encanta-me principalmente a quantidade de água (será porque sou de Peixes?), em longos e plácidos córregos e rios, com centenas de quilômetros de extensão. O bioma tem uma flora espetacular em cores e formas, que “gritam” praticamente o ano todo. E o outono no cerrado? Ah, o outono. Maravilhoso, com dias luminosos parecendo filtrados por uma lente especial do Criador. E o que isso tem a ver com gestão empresarial? Nada, até que num daqueles dias de cavalgada matinal e com tanta exibição da fauna especialíssima do cerrado, veio-me a ideia de identificar o tipo de executivo que se assemelha àqueles animais e aves. Nós – os executivos – também vivemos num bioma, concentrado no eixo Rio-São Paulo principalmente, e disputamos a sobrevivência com outros animais e aves ao nosso redor. A única mudança é o painel de fundo – lá, vegetação variada e água limpa; aqui, concreto e água suja. O primeiro que identifiquei foi o “executivo-pomba”. Ele é um estranho no ninho, veio atraído por migalhas que caem da soja das carretas rumo ao porto. Ninguém liga para ele, pois é sem graça e um tipo comum. Carne ruim, só anda com outros “pombas”, veste camisas cinza ou azul-sei-lá-o-quê, não tem porte elegante e torce para não aparecer um carcará na empresa que acaba notando que ele não faz falta nenhuma no tal de organograma. Logo à frente, vejo o “executivo-seriema”. Comunica-se o dia inteiro, com todos à volta; barulhento, envia mails, SMS, sinais de fumaça e não vive sem uma plumagem. Transita entre cercas e divisórias com facilidade uti- lizando suas penas que se confundem com a decoração do escritório. É especialmente comunicativo logo cedo, irritando os “executivos-morcegos”, que odeiam sons matinais. Acha-se indispensável, mas é inseguro. Já o “executivo-tamanduá-mirim” só funciona bem à noite. Pena que o escritório fecha às 19. Tem uma língua enooooorme, que usa para sobreviver no bioma à base de lambidas nojentas e compridas. É sempre o primeiro a cumprimentar o aniversariante da semana, naquela festinha com bolo de padaria e guaraná quente, certeza de uma azia longa e inesquecível. Tem também uma garra afiada para cavar promoção, aumento de salário ou transferência de cidade. Desde pequeno, aprendeu a se agarrar nas costas de alguém. Usa óculos porque enxerga mal, mas tem olfato apurado para colar numa boquinha. Convive muito mal com o “executivo-cupim”. Eles realmente não se dão. Outro animal interessante é o “executivo-tatu-galinha”. Bom de furo, anda devagar e cuidadoso, com receio de que percebam que ele existe. Adora uma panelinha e ama o aconchego do escritório, sobretudo se sua mesa fica num canto invisível para os outros. Come mal, não ganha peso e usa gravatas horríveis. É o tipo que acha com frequência porque é o máximo presentear um colega de trabalho com E o “executivomal construído e derruba o um par de meias ou um lenço. De duas cores, de tucanuçu”? pobre antes que as asas gapreferência. Como é saboroso, vive com a cabeça Oportunista, age nhem força. No escritório, a prêmio e odeia se arriscar. Acha o máximo dizer o Maria-faceira está sempre que fulano caiu porque tinha iniciativa demais. pelas manhãs com um projeto novo e faz E o “executivo-tucanuçu”? Oportunista, age bisbilhotando barulho para divulgar, como pelas manhãs bisbilhotando as mesas do escrias mesas do a ave. Adora a palavra “retório antes que os outros cheguem. Não consesiliência”, que viu uma vez gue passar da média gerência porque é ruim de escritório antes numa revista tipo “Como voo. Como bom tucano, sempre tenta expandir que os outros vencer na empresa com os fringe benefits para a família toda. Vive de cilacheguem. Não aparência e sem conteúdo”. das, sempre bem vestido e cuidadoso no gel. Dá Um fato que tem me chamuita importância para a plumagem e consideconsegue passar mado a atenção é o surgira Narciso um aprendiz. Nas reuniões, começa da média gerência mento de um novo espésempre com “Na verdade...” Isso porque mente porque é ruim cime em algumas cidades bem. Como vive de ideias e iniciativas dos oumaiores do cerrado. O “exetros, vira e mexe toma tundas homéricas do “exede voo cutivo-meme”: mesmo tercutivo-quero-quero”, que anda sempre de casal e no, mesma camisa, mesma espanta o tucanuçu em pleno voo, com bicadas gravata, mesmo penteado. nas costas. O quero-quero é baixinho, metido, e Vem de um bioma distante, a avenida Paulista e redondeadora o chão, onde se sente mais seguro. Não gosta que zas, onde podem ser facilmente reconhecidos, como uma o badalem e nem que notem sua presença. Tem longa turma de Hare Krishna. É preocupante para o cerrado, vida na empresa. porque junto com eles vêm algumas pragas novas para a Mais à frente, outro tipo inesquecível e frequente. O região: a insuportável comida quilo-fast, as revendas de “executivo-maria-faceira” (a Maria-faceira é uma garcarros importados com muito vidro e arquitetura brega, ça de penas azuis e cinza, muito magra e desajeitada). quentes como o inferno, a tal da sauna a vapor e, horror Como a Maria-faceira, é um péssimo construtor de prodos horrores, unhas feitas. Não se sabe, ainda, qual herbijetos. Derruba a equipe inteira com suas ideias velhas e cida poderia ser utilizado contra o meme, que é viral. furadas, mas sempre embaladas num pacote vistoso. O Eu amo o cerrado. ninho da Maria-faceira do cerrado mata um dos filhotes INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 setembro/outubro 2013 176 INSIGHTCase Studies 177 EDIÇÃO CASE STUDIES Vicente Falconi Fundador e presidente da Falconi Consultores de Resultado REVISTA BRASILEIRA DE MANAGEMENT Gestão, aprendizado e o método cartesiano Há uns 45 anos, um grupo de professores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) foi convidado a visitar a Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer). A Força Aérea Brasileira (FAB) mandou um avião Douglas DC-3 nos buscar em Belo Horizonte e fomos direto para São José dos Campos. Passamos um dia inteiro na empresa, com muitas palestras feitas por militares que defendiam um modelo de desenvolvimento industrial para o Brasil. Depois das palestras e discussões, fomos visitar o modelo do Bandeirantes (bimotor a hélice e despressurizado), orgulho da indústria aeronáutica brasileira na época. De fato, foi um avião muito bem-sucedido, tendo sido exportado amplamente, principalmente para os EUA, que chegaram a ter uns 150 desses aviões. Recentemente fui outra vez visitar a fábrica de São José dos Campos e fiquei maravilhado com o que vi. Um galpão gigantesco com linha de montagem de aviões enormes (jatos pressurizados) com as cores de várias empresas aéreas de todo o mundo. Tudo muito iluminado, uma beleza. Comentei então com diretores que me acompanhavam: “Vocês aprenderam muito nos últimos 45 anos!” Assim como o ser humano aprende muitas coisas ao longo de sua vida, as empresas, os governos e o país também aprendem. É esse aprendizado que traz uma vida melhor para todos nós. A pergunta que se faz é a seguinte: “Como acelerar esse aprendizado?” É óbvio que a primeira ideia que nos ocorre é melhorar o sistema educacional brasileiro e esta deve ser, de fato, uma preocupação constante. No entanto, o aprendizado não termina quando uma pessoa encerra o ciclo escolar; ele continua por toda a vida, quer queiramos ou não. Repare que grande parte do conhecimento que utilizamos em nosso dia a dia foi adquirido nos últimos cinco anos! Abraham H. Maslow estudou alguns aspectos do aprendizado humano e lançou muita luz sobre esse processo. Um dos pilares de seu trabalho é o conceito de “potencial mental”, que é a quantidade de conhecimento adquirido por cada pessoa por dia. Uns aprendem mais, outros menos, mas uma pessoa aprende somente certa quantidade de conhecimento por dia e nada mais; a própria mente rejeita o resto. É por essa razão que uma criança leva nove anos para fazer o curso fundamental e outros três para completar o curso médio. Ainda não apareceu ninguém com uma invenção para fazer um download de um curso fundamental em dez mi- nutos! O aprendizado é lento e tem que ser constante, diário e por toda a vida. Um corolário desse conceito é que um dia no qual nada se aprende é um dia perdido na vida e não há como recuperá-lo, pois o dia seguinte tem sua própria cota. Este fato deve nos fazer pensar sobre o crime que nós, brasileiros, cometemos, como sociedade, em ter um sistema de ensino fraco e, em muitos locais, abandonado. Nossas crianças perdem tempo nada aprendendo e depois, quando adultos, percebem que não dá mais para recuperar. A sua vida foi comprometida por nossa irresponsabilidade, Já descobrimos em certo caso, na prática, que 70% dos executivos (de supervisor para cima) nunca haviam feito um plano de ação na vida! ignorância e desprezo! Nas empresas e nos governos ocorre exatamente o mesmo! Se essas organizações humanas não possuem uma maneira de fazer com que as pessoas estejam o tempo todo correndo atrás do conhecimento necessário para se atingirem certos resultados, dos quais depende a sua competitividade, poderão descobrir, no futuro, que já é tarde demais. Nas empresas, os departamentos de recursos humanos promovem treinamentos organizados em salas de aula, mas isto deve corresponder a apenas uns 5% do que uma pessoa deve aprender dentro de uma organização. Como aprendemos o resto? Como gastamos o resto do potencial de aprendizado diário que temos? Quando algum resultado for ruim, pergunte: “Por que este resultado não é melhor?” A resposta certa é: “Porque não sabemos o que fazer para melhorar. Se soubéssemos, já o teríamos feito.” “Por que não inovamos? Porque não sabemos o que fazer.” Só aprende quem é humilde e confessa a ignorância. Precisamos estar continuamente aprendendo para crescer como profissionais e poder melhorar os resultados de empresas, de governos e do país. Podemos pensar que esse aprendizado é coisa complicada e sofisticada, mas não é necessariamente. As pessoas, cada uma em seu nível de trabalho e responsabilidade, devem aprender aquilo que é necessário para melhorar os seus resultados. Por exemplo: pode ser que, para um operador de máquina, a descoberta de que o nivelamento diário do equipamento lhe garante 10% a mais de produtividade seja uma grande aquisição de conhecimento. Para um engenheiro, a descoberta de que a manutenção de um pH neutro e uma temperatura de 800C na mistura lhe garante a máxima produtividade da linha de produção pode ser uma grande descoberta. Por outro lado, seria uma grande ingenuidade pensar que nós, seres humanos, dentro das empresas ou dos governos, buscaremos voluntariamente o conhecimento diário de que precisamos para crescer como profissionais, para fazer as organizações crescerem e, como consequência, o país crescer. Para que isto ocorra, temos que ter uma força motriz, algo que provoque as pessoas com metas (resultados numéricos de objetivos a serem atingidos em certos prazos), cobranças e consequências. Este é o ponto em que muitos erram. Ouço muito a afirmação: “Já temos metas!” Quando se vai ver mais de perto, as metas foram mal determinadas, algumas totalmente impossíveis de serem atingidas. Alguns de nós, inocentemente, ainda pensam que para atingir uma meta basta estabelecê-la! Ledo engano. Estabelecer metas dá trabalho. Temos que calcular antes as lacunas (que são as oportunidades de melhorias quando se compara o desempenho atual com o melhor do mundo, por exemplo) e depois negociar as metas, dentro dessas lacunas, com cada um. Depois que cada pessoa tem sua meta, ela deve estabelecer seu Plano de Ação. O Plano de Ação é o instrumento que carrega o novo conhecimento sendo adquirido (quando se estabelece um, convoca-se o melhor conhecimento existente!). Já descobrimos em certo caso, na prática, que 70% dos executivos (de supervisor para cima) nunca haviam feito um plano de ação na vida! Vale lembrar que um Plano de Ação pode ser algo feito em poucos minutos, em certos casos, ou em meses, em outros! Bem, uma vez feito o Plano de Ação, vem a execução. Aqui a vasta maioria tropeça. Se cada líder não correr atrás e verificar a implementação de cada ação, ajudando quando possível, pouco acontecerá, porque é da natureza do ser humano a procrastinação. INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 178 Descartes, o pai da filosofia moderna, já dizia naquela época que “o bom senso deve ser o bem mais bem distribuído do mundo, pois ninguém deseja ter mais do que já possui”! Hoje ainda não é muito diferente, pois pessoas assumem cargos de liderança, em empresas e governos, sem que tenham a mínima formação em gestão e acreditam que o “bom senso” que possuem seja suficiente para o desempenho de suas funções. O conhecimento do Método de Gestão deveria ser pré-requisito para qualquer trabalho gerencial. O método cartesiano vem sendo designa- do por vários nomes (PDCA, DMAIC, PERA etc.). É tudo a mesma coisa e vem da mesma origem. Enfim, somente um Sistema de Gestão que “puxe” a empresa por meio de metas bem estabelecidas, focadas nas prioridades (matematicamente determinadas!), um bom ritual de cobrança, com calendário de reuniões, padronização destas, procedimento para aqueles que tiverem dificuldade de bater a meta etc. poderá provocar o aprendizado contínuo e o avanço das pessoas, da empresa, dos governos e do país. INSIGHTCase Studies Saiu no Relatório Reservado: o iG vai dar um furo atrás do outro setembro/outubro 2013 www.blogrelatorioreservado.ig.com.br NEGÓCIOS & FINANÇAS RelatórioReservado Assine a newsletter e saiba primeiro. www.relatorioreservado.com.br 179 INSIGHTCase Studies SETEMBRO/OUTUBRO 2013 180 Aos autores e colaboradores Case Studies – Revista Brasileira de Management, publicação com arbitragem eminentemente prática, está orientada para veicular as novas experiências, tecnologias e processos gerenciais desenvolvidos nas organizações. Seu objetivo é funcionar como fórum editorial permanente para a troca de conhecimentos e reciclagem de alto nível na área empresarial, por meio de estudos e ensaios multidisciplinares. Em seus artigos, assinados por dirigentes empresariais, técnicos e consultores, serão contemplados trabalhos criativos, pioneiros ou inovadores desenvolvidos dentro das suas próprias organizações ou por elas expressamente autorizados. Embora o tema seja da livre escolha do autor, sugere-se que o trabalho venha estruturado a partir de um diagnóstico ou explicitando as causas que originaram o experimento; recomenda-se a descrição do seu desenvolvimento, as dificuldades enfrentadas para a implementação e uma conclusão, com os resultados alcançados, mesmo parciais, no caso de o trabalho não estar finalizado. Sugere-se também que, se possível, sejam apresentadas medidas quantitativas, de forma a melhor ilustrar o case. Todos os trabalhos enviados para Case Studies serão analisados à luz da linha editorial da publicação, que visa a manter um nível elevado dos textos. Orientação Básica > Cada artigo enviado deverá conter, além do(s) nome(s) do(s) autor(es), sua qualificação e atividade profissional, telefone e e-mail. Não serão publicados trabalhos com codinomes. > O espaço de cada case na revista ficará a critério do editor, mas recomenda-se o envio de textos com o mínimo de dez páginas, totalizando cerca de 21 mil caracteres, excluindo gráficos e tabelas. > Os cases devem ser enviados, preferencialmente, por e-mail para o seguinte endereço: [email protected]. Os contatos com o editor podem ser feitos através do telefone (21) 2509-5399. > Todas as ilustrações (gráficos, tabelas, figuras scaneadas, desenhos etc.) deverão vir em programas compatíveis com a linha PC, como PowerPoint, Microsoft Graph, CorelDraw, Illustrator, Photoshop etc. Case Studies reserva-se o direito de eliminar as ilustrações que não puderem ser reproduzidas com qualidade. > Tabelas, gráficos e figuras deverão ser enumerados e identificados no texto. > Os arquivos deverão ser enviados para o e-mail: [email protected] > Cada autor receberá, gratuitamente, 10 exemplares da edição que contiver seu artigo publicado. I N S I G H T assine Case Studies Revista Brasileira de Management Envie um e-mail para [email protected] e veja condições especiais para assinar a melhor revista de management do Brasil Verifique, também, as condições para assinatura da Case Studies on-line.