VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM
OBSTÉTRICA E NEONATAL
Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de
Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido
24 à 26 de junho de 2009
Teresina-PI
CONHECIMENTO, ATITUDES E CRENÇAS DE MULHERES RIBEIRINHAS
FRENTE À CONCEPÇÃO E CONTRACEPÇÃO
Leila Rangel da Silva1
Raquel Faria da Silva2
1
Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta do Departamento Materno-Infantil
(DEMI) da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP) da Universidade Federal do
Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Contato: Rua Cornélio Pena, 370 – Teresópolis
– RJ – email: [email protected]
2
Enfermeira graduada pela EEAP da UNIRIO. Mestranda do Curso de PósGraduação Mestrado em Enfermagem da UNIRIO. Bolsista REUNI. email:
[email protected]
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CONHECIMENTO, ATITUDES E CRENÇAS DE MULHERES RIBEIRINHAS FRENTE À
CONCEPÇÃO E CONTRACEPÇÃO
Introdução: A saúde sexual e reprodutiva é um direito humano assegurado pela
Constituição Federal, entretanto ainda encontramos nos recôncavos do Brasil, grandes
multíparas que desconhecem os métodos contraceptivos. Objetivo: Descrever o
conhecimento e as atitudes das mulheres ribeirinhas de Vila Nova Maringá – Amazonas,
frente à concepção e contracepção. Materiais e métodos: Estudo descritivo de abordagem
qualitativa. Os sujeitos foram quinze mulheres, com idade entre dezoito e quarenta e seis
anos, todas moradoras da comunidade ribeirinha Vila Nova Maringá, na cidade de Maués,
Amazonas. A pesquisa foi autorizada pelo líder comunitário local e em seguida aprovada
pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem Ana Néri / Hospital Escola
São Franscisco de Assis sob protocolo n° 54/08. Para a coleta de dados utilizamos uma
entrevista semi-estruturada, tendo como roteiro: idade ideal para a maternidade; a primeira
gestação; a concepção; a contracepção. Para o processo analítico foi utilizada a análise
temática, com base nas entrevistas, onde foram identificadas duas categorias: 1) A idade
ideal para a maternidade e a primeira gestação de mulheres ribeirinhas; 2) O olhar das
mulheres ribeirinhas em relação a concepção e contracepção. Considerações Finais: o
presente estudo nos permitiu conhecer as carências das mulheres ribeirinhas no que tange
ao conhecimento e ações frente à concepção e contracepção. Certamente é um ambiente
de desafio profissional de saúde, pois este necessita associar os saberes populares das
mulheres ao saber científico, fornecendo o direito ao exercício da sexualidade desvinculado
da procriação.
Descritores: enfermagem; cultura; reprodução; saúde da mulher.
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INTRODUÇÃO
Entendido como um direito humano, a saúde é um direito fundamental
previsto na Constituição de 1988, no seu artigo 196 definida como um direito de
todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sócio-econômicas que visem
à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário
às ações e serviços para a sua promoção, proteção e recuperação.
A saúde reprodutiva é um estado de bem-estar físico, mental e social
completo em todos os aspectos relacionados com o sistema reprodutivo e com suas
funções e processos; e não somente a ausência de doenças ou enfermidades.
Portanto, implica na capacidade que a pessoa tem de ter uma vida sexual
satisfatória e sem riscos; capaz de procriar e a liberdade de decidir sobre se, quando
e quantas vezes o pretende fazer. (BRASIL, 2006)
Os direitos reprodutivos correspondem aos direitos já reconhecidos nas
legislações nacionais e internacionais e que são frutos de consensos, em que todos
os casais e indivíduos possuem o direito de decidir livremente e com discernimento
sobre o número de filhos, e o intervalo entre eles; dispor de informações necessárias
para tal e do direito de ter acesso ao melhor nível de saúde em matéria de
sexualidade e reprodução. (COOK; DICKENS & FATHALLA, 2003)
No exercício desses direitos – humano e reprodutivo – as necessidades de
seus filhos atuais e futuros e de sua própria responsabilidade sobre a sociedade.
Que todos exerçam esse direito de maneira responsável devendo ser o objetivo
fundamental das políticas e programas públicos, em todos os níveis.
Entretanto, essa não é a realidade de inúmeras comunidades nos recôncavos
do Brasil, onde encontramos grandes multíparas que desconhecem os métodos
contraceptivos e por seguinte vivem a gravidez não desejada.
O enfermeiro cuidando dessas mulheres deve ter ciência de que ao trabalhar
com direitos reprodutivos e planejamento familiar, irá se deparar com a realidade
cultural de cada mulher, como cada uma conhece e age diante da temática da
concepção e contracepção, reconhecendo seus saberes populares e fazendo a
intercessão com o saber científico. Pois em geral o enfermeiro ocupará o papel de
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cuidador direto, aquele que tem o maior contato com o cliente, realizando a ligação
entre
eles e
os profissionais, um
comunicador/educador. (LEININGER &
McFARLAND, 2006)
Leininger, (2006) enfermeira e antropóloga, reconhece os saberes populares
de cada cliente e como eles podem ser articulados para o cuidado. O saber popular
é o cuidado genérico conhecimento, aprendido e transmitido, indígena, tradicional ou
popular, local e as práticas para dar assistência, suporte, capacidade e facilidade
aos atos para ou dirigidos a outros com necessidades de saúde evidentes ou
antecipadas a fim de melhorar o bem-estar ou para ajudar em caso de morte e
outras condições humanas. (LEININGER & McFARLAND, 2006)
O saber popular faz parte da cultura de cada mulher a partir do momento que
a cultura segundo Leininger (2006, p.16) são “valores, crenças, normas e modos de
vida apreendidos, partilhados e transmitidos, que orienta o pensamento, decisões e
ações, de modo padronizado e freqüente entre gerações.” (LEININGER &
McFARLAND, 2006)
Madeleine Leininger associa cultura à enfermagem quando a define como
uma profissão focalizada no fenômeno e nas atividades do cuidado e
comportamento humano e suas variações determinadas pela cultura. (LEININGER &
McFARLAND, 2006)
A cultura também pode ser vista como a lente com a qual o homem vê o
mundo, ou seja, um conjunto de princípios explícitos e implícitos herdados por
indivíduos membros de uma sociedade, princípios esses que mostram aos
indivíduos como ver o mundo que os cerca, como vivenciá-lo emocionalmente e
como comportar-se nas relações. (HELMAM, 2003)
Madeleine Leininger concluiu o Curso de Doutorado em Antropologia em
1991, desenvolvendo a Teoria do Cuidado Cultural, onde o maior propósito da teoria
foi descobrir as Diversidades e Universalidades em relação à estrutura social
mundial e outras dimensões e os meios de prover o cuidado culturalmente coerente
às pessoas de culturas diferentes (diversidade) ou semelhantes (universalidade), a
fim de manter ou retornar o bem-estar (saúde), ou enfrentar a doença de modo
culturalmente apropriado. Tendo em vista que a saúde é o estado percebido ou
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cognitivo de bem-estar, que capacita o indivíduo ou grupo a efetuar as atividades
segundo os padrões desejados em determinada cultura, e esta são os valores,
crenças
e
práticas compartilhadas,
apreendidas
ao
longo
das
gerações.
(LEININGER & McFARLAND, 2006)
Durante a graduação em enfermagem realizei viagens nacionais e
internacionais, e experimentar a vivência em diferentes culturas. E foram nessas
experiências que me foi despertado o fascínio pela temática da concepção e
contracepção envolvendo aspectos culturais.
Em todas as sociedades onde estive pude observar como os valores culturais
da mulher influenciam de modo direto na forma como conhecem e agem diante da
contracepção. De todos os lugares onde estive, o ambiente que mais me chamou
atenção pela sua riqueza cultural foi o município de Maués – AM, em Julho de 2007,
em especial as comunidades ribeirinhas.
Já em 2008, durante o período de coleta de dados para a dissertação de
mestrado em enfermagem da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, na
área de saúde da mulher e da criança escolhi para o desenvolvimento da pesquisa a
comunidade ribeirinha Vila Nova Maringá em Maués, Amazônia, uma comunidade
no rio Parauari. O projeto de pesquisa do mestrado tem por temática os aspectos
culturais que envolvem o cuidado materno, mas durante a coleta de dados e a
vivência na comunidade ribeirinha, especialmente com as mulheres, pude me
deparar com informações referentes a realidade delas quanto ao conhecimento e
ações no processo concepção e contracepção. Durante os dois meses em que
passei com essa população foi possível conhecer os aspectos culturais
influenciando nesse processo.
A comunidade Vila Nova Maringá, é uma comunidade onde encontramos um
número considerável de grandes multíparas que iniciaram a maternidade a partir dos
13 anos, e acabam tomando para si a responsabilidade na criação de filhos, quantos
ter e a escolha do método contraceptivo. Muitas delas se apropriam do saber
popular adquirido de gerações, como a utilização de chás e tabelas sem fundamento
científico.
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Mesmo
estando
isolada
logisticamente
e
possuindo
características
possivelmente exóticas aos profissionais de saúde oriundos dos grandes centros,
esta comunidade merece atenção especial da saúde pública, preconizada no
Sistema Único de Saúde vigente no país. Assim como, a garantia de seus direitos
sexuais e reprodutivos, como também o direito de planejar o número de filhos,
portanto garantir às mulheres e aos homens um direito básico de cidadania: o direito
de ter ou não filhos. É sabido que a qualidade de atenção inclui seis elementos
fundamentais: escolha livre de métodos, informação para usuárias, competência
técnica, relação usuária-serviço; acompanhamento de usuárias e integração do
planejamento familiar ao atendimento em saúde reprodutiva. (BRASIL, 2002)
Como enfermeira e pesquisadora nessa comunidade vi que diferente das
mulheres da cidade, que tem dificuldade ao acesso, essas mulheres não tem oferta
de assistência a saúde na sua região, estando isoladas logisticamente da rede
básica ou hospitalar, contando apenas com uma agente de saúde local. Mulheres
que desconhecem seus próprios corpos, como ocorre a concepção e contracepção,
e que por falta de conhecimento e cuidado profissional, não fazem planejamento
familiar ou o fazem de forma incorreta. Sendo assim, traçou-se como objetivo do
estudo: Descrever o conhecimento e as atitudes das mulheres ribeirinhas de Vila
Nova Maringá – Amazonas, frente à concepção e contracepção.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo exploratório de natureza qualitativa. Nas
palavras de Minayo (2006, p.34) a pesquisa qualitativa se preocupa com um nível de
realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com “o universo de
significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a
um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não
podem ser reduzidos à operacionalização de variações”.
Para conhecer a vida das mulheres ribeirinha, o conhecimento e atitudes
frente à concepção e contracepção, foi utilizada a entrevista semi-estruturada, tendo
como roteiro: idade ideal para a maternidade; a primeira gestação; a concepção; a
contracepção.
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Segundo Gil (1991) a entrevista semi-estruturada é guiada por uma relação
de questões de interesse, tal como um roteiro, que o investigador vai explorando ao
longo de seu desenvolvimento.
A pesquisa foi realizada na comunidade ribeirinha Vila Nova Maringá, na
cidade de Maués, Amazonas. A pesquisa foi autorizada pelo líder comunitário local e
em seguida aprovada pelo comitê de Ética em Pesquisa da EEAN/HESFA protocolo
n° 54/08.
A participação para coleta de dados foi voluntária, dada a garantia do sigilo e
do anonimato dos depoimentos, conforme a Resolução n˚196/96, do Conselho
Nacional de Saúde. O Termo do Consentimento Livre e Esclarecido foi lido em
conjunto com a depoente e, após ser aceito, foi assinado, sendo garantido o
anonimato e sigilo, o respeito à privacidade e intimidade e a sua liberdade de
declinar sua participação no momento que desejasse. A coleta de dados foi entre os
meses de Julho e Agosto de 2008.
Participaram do estudo quinze (15) mulheres em idade fértil, com idade entre
dezoito e quarenta e seis anos, que vivem em comunidades ribeirinhas na cidade de
Maués há mais de dez anos, e especificamente há mais de três anos na
comunidade ribeirinha.
A fim de assegurar a privacidade das depoentes os nomes das mulheres
foram substituídos por codinomes indígenas de língua Tupi ou Guarani, justificandose pela origem indígena da cidade, sendo os significados dos nomes relacionados
com características físicas ou de personalidade das mulheres.
O processo analítico dos dados empregado foi a análise temática. Por meio
da analise de conteúdo das entrevistas, identificamos duas categorias temáticas
centrais: A idade ideal para a maternidade e a primeira gestação de mulheres
ribeirinhas; O olhar da concepção e contracepção das mulheres ribeirinhas. Estas,
foram analisadas a luz do referencial teórico das políticas públicas de atendimento à
saúde da mulher e da Teoria do Cuidado Cultural de Leininger.
ANÁLISE DOS DADOS
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A idade ideal para a maternidade e a primeira gestação de mulheres ribeirinhas
Embora 12 das 15 mulheres tenham sido mães com idade entre 13 e 18 anos,
todas as mulheres acreditam que a idade ideal pra maternidade é acima dos dezoito,
vinte anos. Como podemos ver na fala de Guaraciaba, que embora tenha sido mãe
aos 13 anos diz:
A idade boa é dos vinte e cinco anos pra cima. Porque muito nova dá muito
trabalho, ate que elas não são formadas, tem que estudar muito...
(Guaraciaba, 26 anos)
Guaraciaba se lembra de sua experiência de vida ao falar disso e coloca os
estudos como o maior prejudicado com a vinda de filhos, muita das vezes frustrando
dos sonhos das mães na adolescência. Ela mesma nos diz que:
Eu sonhava ter um bebê, depois de eu ter, não foi fácil não, eu me
arrependi muito, eu me arrependo de não ter capacidade de estudar,
oportunidade de estudar, eu me arrependo por isso. Se pudesse voltar
atrás mudaria que filho não queria mais, só estudar, nem compromisso
com homem eu queria, se voltasse atrás não queria. (Guaraciaba, 26 anos)
Guaraciaba, como todas as mulheres da comunidade que foram mães na
adolescência, vivenciou a gravidez como um fator de limitação no que tange à
educação e perspectivas futuras. No entanto, estudos recentes mostram que a
gravidez na adolescência tem sido algo almejado pelas jovens, sendo um projeto de
vida. (SOUZA, 1999)
O que me chamou a atenção na comunidade é que essas mulheres na
adolescência realmente desejavam ser mãe e, no entanto atualmente se
arrependem do quantitativo de filhos, enxergam as dificuldades da maternidade na
adolescência e não desejam a gravidez precoce para suas filhas. O que podemos
ver na fala de Japira, que foi mãe aos 14 anos e tem oito filhos:
Eu acho que menina nova de 13 anos não é futuro, se eu fosse nascer pra
ficar moça eu ia ter filho lá pros 25 anos pra lá, é que muito novinha não é
bom não. Eu via criança, achava bonitinha demais, mas ter filho não é fácil
não, a gente criar um filho é muito difícil. Eu acho que filho é bom até dois,
mas te assim como eu tenho seis, eu acho que não é futuro ter muito filho.
Eu acho que não é futuro, é difícil. (Japira, 39 anos)
Cabe-nos refletir se esse desejo de ter o filho não representa uma fuga da
realidade ou uma necessidade de auto-realização, é como se essas mulheres não
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tivessem consciência real do que seria a maternidade, com suas vantagens e
desvantagens, ate vivenciá-las.
Assim como Guaraciaba, Maiara coloca a vinda dos filhos na adolescência
como um empecilho para os estudos e as alegrias e diversões da mocidade:
Eu acho assim, a menina assim até os 16 anos eu acho que ela tem que
esperar pra uma coisa melhor, não se deixar levar, ela tem que aproveitar
bem seu estudo, aproveitar mais seu divertimento, brincadeira, porque se
ela for se deixar levar demais cedo, logo aparece filho ai ela não pode mais
sair de casa, já não vai mais poder se divertir como ela se divertia antes, eu
acho que pra mim é por isso. (Maiara, 37 anos)
Jaciaba e Piatã nos falam que a idade ideal pra maternidade é acima dos
vinte anos, pois a mulher já está mais madura. Piatã ainda nos fala a respeito de
responsabilidade:
Eu penso que uma idade mínima é de 20 anos pra lá, porque de 20 anos
pra lá a pessoa tem mais uma consciência, tem pessoas que não, não
pensa no futuro pra frente, só pensa em vaidade, é difícil ter uma pessoa
nova que tenha uma responsabilidade, é difícil. (Piatã, 45 anos)
Eu não me baseio assim por mim, porque eu fui mãe muito nova, com 14
anos, ainda era uma menina, eu acho assim que uma mocinha deve se
guardar pelo menos até os 18 anos, ai eu acho assim, de 18 pra diante, 20
que já ta mais madurinha. (Jaciaba, 38 anos)
Com isso, vemos que a realidade contradiz com o desejo da maioria (12)
dessas mulheres, que tiveram seus sonhos frustrados devido a uma gravidez
precoce, vivenciando o que Monticelli chama de rito de transição, ou seja, a
transição de “status” da menina em mulher. (MONTICELLI, 1997)
A maternidade é um processo de grande transformação na vida das
mulheres. Segundo Folle e Geib (2004) este processo se torna mais complexo,
quando se trata da mãe adolescente que, alem de vivenciar os questionamentos e
conflitos próprios da idade, se coloca frente à maternidade, tendo insegurança no
cuidado com o bebê, decorrente de sua inexperiência e imaturidade. Esse fato pode
ser comprovado na pesquisa quando 09 das 15 mulheres se achavam novas e
despreparadas para a maternidade na adolescência.
Vemos também 06 mulheres não receberam apoio do parceiro sexual na
primeira gestação. Uma dessas mulheres foi Yara que teve seu primeiro filho aos
quinze anos nos diz a respeito da primeira gravidez:
Quando eu engravidei dela foi muito ruim, porque era só eu, não tinha
quem me ajudasse... o pai dela não queria ficar comigo. (Yara, 18 anos)
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09 relataram ter companheiro, sendo que 03 dessas sofreram maus tratos
neste período. Cunhapora que foi mãe aos dezesseis anos, é uma das mulheres que
passou a sofrer maus tratos após a primeira gestação:
Quando eu apareci de barriga ele começou a ser ruim comigo, começou a
beber, a me bater, naquele tempo não tinha essa lei né, negócio da Maria
da Penha. (Cunhapora, 46 anos)
Infelizmente as gestantes não estão livres da violência doméstica: em revisão
de literatura, foram observadas prevalência de 0,9% a 20,1%. Segundo Heise (1994)
Dentre os fatores associados à violência doméstica no período gestacional estão
baixa escolaridade, uso freqüente de álcool, desemprego e baixa renda. Algumas
mulheres como Cunhapora disseram que os homens passaram a ser agressivos
depois da gestação, levando-nos a pensar que pelo fato da gravidez aumentar a
relação de dependência da mulher para com o homem, ele sente-se mais seguro
para agredir sabendo que a mulher irá suportar a agressão.
A violência contra a mulher em qualquer momento de sua vida é um grave
problema social e de saúde pública a ser enfrentado no Brasil. Por atingir a mulher
em um momento de grande fragilidade física e emocional, a violência na gestação
exige atenção especial dos serviços de saúde. (AUDI, 2008)
Alem da violência doméstica perpetrada pelo parceiro de Cunhapora durante
a gestação, podemos ver que a maioria das mulheres teve relações conflituosas na
família neste período por causa da gravidez. Alem de não receberem apoio dos
parceiros Jurema, mãe aos quinze anos e Irani, mãe aos vinte anos, foram duas das
mulheres postas pra fora de casa após a primeira gestação e precisaram trabalhar
para sustentar os filhos:
Ele (padrasto) era muito ruim, ai apareci grávida, ele disse que não me
queria lá, tenho que criar meu filho só eu, tenho que trabalhar pra criar meu
filho. (Jurema, 40 anos)
Irani ainda recebeu ameaças do pai após a gestação:
Eu não tive ajuda dele (pai), ele não quis que eu ajudasse ele, nem ficar na
casa dele, ele me jogou de casa depois que eu engravidei, queria me matar
e um monte de coisa. (Irani, 39 anos)
Vale considerar que, na gravidez, independente da idade, a mulher enfrenta
um processo de mudanças físicas, psíquicas e no âmbito social. Infelizmente a
maioria das mulheres experimentou também na sua primeira gestação o abandono
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dos parceiros, a violência doméstica e falta de apoio dos pais, uma maioria que
começou a maternidade de forma não planejada e precoce.
O olhar das mulheres ribeirinhas em relação a concepção e contracepção
Yara deu início a vida sexual aos treze anos, antes mesmo da menarca, sem
nenhuma orientação satisfatória sobre concepção, ela nos disse:
Eu sabia que engravidava, mas não sabia como, se a gente fosse fazer
logo se engravidava, depois soube que era só na menstruação, só se
menstruasse, ai depois que eu fiquei menstruada eu fiquei com medo de
fazer. (Yara, 18 anos)
Ou seja, ela sabia que podia engravidar depois que menstruasse, mas não
sabia como acontecia. Uma questão simples de ser solucionada, implantando a
abordagem da temática da concepção, contracepção e sexualidade já no ensino
fundamental, além da criação de programas de atualização, informação para
profissionais e clientes.
Cunhapora é uma das mulheres que mais falou sobre a concepção, no
entanto como podemos ver em sua fala seus conceitos sobre o ciclo menstrual estão
equivocados:
Quando ela ta pra menstruar o útero ta forte, ai o marido vem mexe ali e
pronto a menstruação já voltou, nem desce já, não vem mais, porque já
engravidou, porque o útero ta forte. (Cunhapora, 46 anos)
Podemos ver em sua fala, que Cunhapora acredita que a concepção ocorre
no período do ciclo próximo a menstruação, quando segundo ela o útero está forte
para receber uma criança.
Jaciaba também faz referencia ao útero forte relacionado à concepção:
“O útero fraco é rapidinho pra engravidar e o mais forte custa um pouco.”
(Jaciaba, 38 anos)
No caso de Jaciaba, ela utiliza o termo útero forte para o mais resistente a
gravidez, que não concebe fácil, essa é forma como ela explica a concepção.
Outra forma de explicar a concepção é ser este um ato de Deus puro e
simplesmente, o relato de Apuã acompanha a crença da maioria das mulheres da
comunidade:
Eu era muito nova, muito nova, mas foi a época que eu me engravidei, foi o
que Deus faz é bom, eu fiquei contente assim... quero que Deus me dê só
esse daí mesmo. (Apuã, 19 anos)
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Sendo assim, vemos que a concepção pode ser um mistério para as
mulheres, uma ação divina ou ainda que elas procurem explicar, seus
conhecimentos populares vão muito aquém do que ocorre verdadeiramente em seus
corpos no processo da concepção. Faz-se necessário conhecer os saberes
populares dessas mulheres e procurar adaptá-los para que elas recebam um
cuidado culturalmente coerente. (LEININGER & McFARLAND, 2006)
Neste caso, o enfermeiro ao trabalhar com essas mulheres deverá utilizar
práticas educativas de caráter participativo; permitindo a troca de informações e
experiências baseadas na vivência de cada indivíduo do grupo, respeitando a sua
cultura. A linguagem utilizada pelo profissional de saúde deve ser sempre acessível,
simples e precisa, muitas vezes, é necessário traduzir uma linguagem técnica para
uma linguagem coloquial, pra que essas mulheres assemelhem seus saberes
populares ao científico. (BRASIL, 2002)
Em relação a contracepção, apenas 06 das 15 mulheres utilizam algum
método anticoncepcional: 01 utiliza a pílula, 01 utiliza a camisinha, 01 utiliza a
tabelinha e 02 utilizam chás pra contracepção e 01 informou que realizou
laqueadura.
Moema, com quarenta e cinco anos, utiliza a pílula e tem dois filhos; Tingá,
com trinta e seis, utiliza a camisinha e tem quatro filhos; Cunhapora, com quarenta e
seis, utiliza a tabelinha e tem quatro filhos; Maiara, com trinta e sete, fez laqueadura
e tem cinco filhos. Como podemos ver essas mulheres tem idade acima de trinta e
seis anos, utilizam algum método anticoncepcional tem até cinco filhos. Já Jurema,
com quarenta anos, utiliza chás para a contracepção e tem dez filhos, e Potira, com
vinte anos, tem dois filhos. Todas essas seis mulheres fazem o uso de
contraceptivos de forma voluntária, consciente e desejosas por um planejamento
familiar. E os maiores números de filhos por mulher são entre mulheres que não
utilizam nenhum método de contraceptivo.
As 11 mulheres que foram mães com idade entre treze e dezessete anos,
desconheciam métodos contraceptivos neste período da vida. A anticoncepção na
adolescência é um tema de grande relevância social pela ocorrência da gravidez
nessa faixa etária, segundo Cavasin e Arruda (1998) 79,5% das internações de
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mulheres com idade entre 15 e 19 anos na região Norte do Brasil é devido à
gravidez, parto e pós-parto. E os motivos pelos quais adolescentes engravidam são
diversos destacando-se a falta de informação sobre os métodos.
Tingá que foi mãe aos dezessete anos e tem hoje quatro filhos, nos disse que
só após o primeiro filho soube como ocorria a concepção e como poderia fazer a
contracepção:
Depois que eu tive ele que eu fui sabendo como eram as coisas, ai não
marquei mais assim de qualquer jeito não... Camisinha, eu uso camisinha.
(Tingá, 36 anos)
Tingá atualmente com quatro filhos, é uma das poucas mulheres da
comunidade que viaja por onze horas de barco ao centro da cidade de Maués para
realizar o planejamento familiar com o intuito de controlar o número de filhos.
Cunhapora é a única mulher que utiliza a tabelinha como método, no entanto
seu conhecimento sobre o método está incorreto, como podemos ver em sua fala:
Quando ela menstrua e quando ela fica boa ela também não pode ter
relação, porque o útero ta aberto, ainda não fechou o nosso útero, ainda ta
aberto, o colo ta aberto ainda da menstruação, porque nós estávamos
menstruadas, ai nosso colo de útero só vai fechar quando a gente fica boa
três dias, ai ele fecha, com quatro dias você pode ter a relação sexual com
seu marido e não há perigo. (Cunhapora, 46 anos)
Segundo a fala de Cunhapora o período para se ter a relação sexual seria
justamente no período fértil, ou seja, no meio do ciclo menstrual, esse conceito
advêm de um saber popular de que o colo do útero estaria aberto para a descida de
menstruação e com isso facilitaria a entrada de espermatozóides no útero.
Jurema
é
uma
das
mulheres
que
utilizam
chás
como
métodos
anticoncepcionais. Jurema explica porque utiliza os chás de copaíba, carapanauba e
erva de passarinho:
Eu tomo remédio amargo carapanaúba, copaíba, eu tomo pra não pega
filho... Eu fiquei boa ontem, eu tomo o remédio hoje pra evitar a criança,
porque a copaíba não deixa a gente pega criança não, porque é amargo.
(Jurema, 40 anos)
Podemos ver na fala de Jurema algumas das razões para escolher os
remédios caseiros aos tradicionais:
Não tem outro remédio pra evitar né, vai esse remédio da terra mesmo...
pra evitar um pouco, pra não ter um em cima do outro também, tem muito
trabalho, buchuda não é fácil não, esse que é o remédio da terra, copaíba,
é carapanauba, erva de passarinho, tudo a gente toma pra evitar. (Jurema,
40 anos)
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Já Jaciaba utilizou chás no passado e nos explica porque deixou de utilizálos:
Eu tomava assim chá de carapanaúba na água, carapanaúba ficava magro
ai eu tomava, mas era só. Depois eu deixei de tomar, que o carapanaúba é
muito forte. Da muito baque forte no coração. (Jaciaba, 38 anos)
Jaciaba deixou de utilizar os chás devido a um de seus efeitos adversos que é
a taquicardia, hoje em dia não utiliza nenhum método anticoncepcional e tem sete
filhos aos trinta e oito anos, o filho mais novo tem dois anos.
Segundo o guia SUS cidadão (Brasil, 2003) o uso de copaíba e erva de
passarinho não devem ser utilizadas na gestação, pois podem provocar má
formação do recém-nascido ou mesmo o aborto, apesar disso muitas mulheres o
utilizam, pois é a única forma de controle de natalidade.
Como
vemos
no
estudo
algumas
mulheres
estão
utilizando
os
conhecimentos aprendidos e transmitidos, indígena, tradicional ou popular,
que receberam a cerca de métodos contraceptivos quando usam chás e
tabelas sem fundamento científico, dando à enfermagem o papel de negociar
esses valores e procurar adaptá-los com o proporcionar o melhor cuidado,
ajudando
essas
mulheres
no
planejamento
familiar.
(LEININGER
&
McFARLAND, 2006)
Japira é uma mulher que embora soubesse métodos anticoncepcionais, o
marido não permitia que ela os utilizasse:
Eu sabia, mas eu não tomava nada de remédio, meu marido era bravo, se
a gente tomasse remédio ele ficava bravo, tomar remédio pra não ter filho,
eu ficava com medo né, que ele era ruim, tomava não. (Japira, 39 anos)
Infelizmente essa realidade de Japira é a mesma de muitas mulheres no
Brasil. Embora o Ministério da Saúde reafirme a autonomia e a liberdade da escolha
para as usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS), tendo o direito a informações,
assistência especializada e acesso aos recursos que permitam optar livre e
conscientemente por ter ou não ter filhos. O número, o espaçamento entre eles e a
escolha do método anticoncepcional mais adequado são opções que toda mulher
deve ter de forma livre, sem discriminação, coerção ou violência. (BRASIL, 2002)
Diante desses dados podemos ver que a temática da contracepção precisa
ser abordada nesta comunidade urgentemente, garantindo as mulheres o direito
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reprodutivo. Dando à essas mulheres a oportunidade de conhecer seus corpos e
métodos contraceptivos corretamente, podendo planejar a maternidade, optando
pelo melhor método anticoncepcional para elas, ou seja, o mais apropriado às
necessidades do casal, eficaz, de fácil uso, que atenda a demanda e com um preço
acessível. (BRASIL, 2002)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo permitiu conhecer as carências das mulheres ribeirinhas
de Vila Nova Maringá no Amazonas, uma população que mostra-se não somente
isolada logisticamente do centro urbano, como também da assistência do SUS no
que tange direitos reprodutivos, a partir do momento que encontramos mulheres que
conhecem muito pouco seus próprios corpos e como ocorre a concepção.
Conhecemos muitas mulheres que enfrentaram gestações inesperadas,
difíceis, sem apoio e no período da adolescência, fora do que seria pra elas a idade
ideal para a maternidade, o que de acordo com as falas seria acima de dezoito, vinte
anos, devido ao desconhecimento de métodos contraceptivos. Grandes multíparas
que não sabem como ocorre a concepção e como podem fazer a contracepção de
forma eficiente em pleno século XXI. Mulheres que diante das necessidades utilizam
chás que prejudicam suas saúdes, ou mesmo de tabelinhas incorretas na tentativa
de controlar a natalidade.
Este ambiente torna-se um desafio para o profissional de saúde, quando sua
maior dificuldade será associar os saberes populares ao científico, com uma
linguagem simples tentando adaptar alguns dos conhecimentos que essas mulheres
trazem em suas experiências e modificando outros que são prejudiciais a sua saúde,
sensíveis aos valores culturais delas e seus modos de vida orientados pelos saberes
populares acerca da contracepção e concepção.
E acima de tudo é necessário dar a essa mulher o conhecimento sobre seu
próprio corpo, seu ciclo menstrual e o direito da escolha em ter ou não filhos,
quantos e o momento em que quer tê-los, um direito que possibilita o exercício da
sexualidade desvinculado da procriação.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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associados. Rev. Saúde Pública, Out 2008, vol.42, no.5, p.877-885.
BRASIL. Ministério da Saúde. Assistência em planejamento familiar. Área técnica
da saúde da mulher. 4ª ed. Brasília (DF); 2002.
BRASIL. Ministério da Saúde. Guia SUS cidadão. Disponível em:
http://www.saude.rj.gov.br/guia_sus_cidadao/pg_79.shtml; 2003. Acesso em:
13/04/2009.
BRASIL. Ministério da Saúde. PNDS 2006 Pesquisa Nacional de Demografia e
Saúde da Criança e da Mulher: Relatório .Brasília/DF 2008 . Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/pnds/img/relatorio_final_pnds2006.pdf . Acesso em:
12/04/2009.
CAVASIN, S.; ARRUDA, S. Educação sexual e comunicação para adolescentes.
Seminário gravidez na adolescência; 1998 jul 30-31; Rio de Janeiro, RJ. Rio de
Janeiro: Associação Saúde da Família; 1998. p.110-8
COOK,R.J; DICKENS, B.M.; FATHALLA, M.F. Reproductive health and human
rights: integrating medicine, ethics and law. New York: Oxford University Press,
2003.
FOLLE E.; GEIB L.T.C. Representações sociais das primíparas adolescentes
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HEISE, L. Violência e gênero: uma epidemia global. Cad Saúde Publica. 1994;
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2003.
LEININGER, M. M. & FARLAND, M. R. Culture care diversity and universality – a
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2006
MINAYO, M.C. O desafio do conhecimento – pesquisa qualitativa em saúde. 4ª
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ENCONTRO DAS PUÉRPERAS E FAMILIARES EM PRÉ-ALTA NA MATERNIDADE DO
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO/UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
HU/UFSC.
Eli Rodrigues Camargo Siebert1
Ingrid Elisabete Bohn Bertoldo2
Nezi Maria Martins3
1
Mestre em Assistência de Enfermagem da UFSC. Enfermeira Obstétrica Chefe do Serviço de
Enfermagem do Centro Obstétrico da Maternidade do HU/UFSC. End. Av. João Nilo Morfim, l8 – N.S.do
Rosário – São |José – SC, CEP 88110-687. [email protected].
2
Mestre em Assistência de Enfermagem da UFSC. Enfermeira responsável pela Central de Incentivo ao
Aleitamento Materno do HU/UFSC. Presidente da Comissão Pró-Aleitamento Materno da Maternidade do
Hospital Universitário HU?UFSC. Membro do Programa Integrado de Pesquisa Cuidando e Confortando da
PEN/UFSC. End. Rua Frederico Veras, 360 – Pantanal - Florianópolis – SC, CEP 88040- 200. [email protected]
3
Enfermeira Obstétrica, especialista da maternidade do Hospital Universitário UFSC. Rua: Eugênia
Pereira Cardoso, 245. Aririú, Palhoça/SC, CEP88135125. Email [email protected]
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ENCONTRO DAS PUÉRPERAS E FAMILIARES EM PRÉ-ALTA NA MATERNIDADE DO
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO/UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
HU/UFSC.
Descritores: Educação em Enfermagem; Grupos de Encontro; Aleitamento materno;
RESUMO: Este trabalho é um relato de experiência das autoras, com as mulheres
puérperas e seus familiares na unidade de alojamento conjunto (AC) do (HU/UFSC). A
metodologia é baseada em Paulo Freire e os Círculos de Cultura. Os encontros são
organizados toda quarta-feira, das 13h às 14h. Os resultados obtidos propiciam um
momento especial de interdisciplinaridade, de vital importância, para o HU. É através de
processos educativos que se consolida ou se favorece uma mudança de comportamentos e
atitudes de uma pessoa, grupo ou comunidade. “É na realidade mediadora, na consciência
que dela temos educadores e povo, que iremos buscar o conteúdo programático da
educação” (FREIRE, 1980, p.87). “O homem não pode participar ativamente na história, na
sociedade, na transformação da realidade, se não é auxiliado a tomar consciência da
realidade e de sua própria capacidade de transformá-la” (FREIRE, 1980, p.40). E dentro
desta linha de pensamento é que nós desenvolvemos esta atividade educativa “ao ensinar,
aprender”.
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INTRODUÇÃO: Este trabalho vem sendo desenvolvido junto à puérperas em préalta e seus familiares, internadas na maternidade do HU/UFSC. Esta atividade é
realizada desde a sua implantação, em 1995 e tem o propósito de, em conjunto com
as puérperas/ familiares, as autoras, juntamente com alunos do internato do curso
de medicina, reforçar as orientações dadas e, possibilitar um momento de troca de
informações e vivências de como foi o processo parturitivo. Fazemos parte da
equipe interdisciplinar deste hospital, atuando como coordenadora da Central de
Incentivo ao Aleitamento Materno e Comissão Pró-Aleitamento Materno, Chefia do
Centro Obstétrico e Enfermeira Obstetra do HU/UFSC. METODOLOGIA: A
metodologia é baseada no referencial de Paulo Freire, particularmente ao que se
refere aos Círculos de Cultura, considerado como a aproximação de pessoas que
estão vivenciando problemas e/ou situação existencial semelhantes.
A Maternidade do Hospital Universitário foi inaugurada em 24 de outubro de
1995 e é constituída de cinco unidades: Unidade de Triagem Obstétrica, Centro
Obstétrico, Unidade de Internação Obstétrica (Alojamento Conjunto), Unidade de
Neonatologia e Central de Incentivo ao Aleitamento Materno.
A inauguração ocorreu após alguns anos de trabalho de uma Comissão
Interdisciplinar composta por enfermeiros, médicos, assistente social, psicóloga,
nutricionista, economista, farmacêutico-bioquímico, administrador e docentes dos
departamentos de enfermagem, medicina e nutrição da UFSC.
Esta comissão elaborou cuidadosamente os princípios que norteiam a
filosofia da maternidade visando: a HUMANIZAÇÃO e a INTERDISCIPLINARIDADE,
tendo como uma das premissas básicas a prática do aleitamento materno.
Possibilita à mulher outras posições de parir (parto de cócoras) como também o
direito da mulher escolher a pessoa que deseja para acompanhá-la durante todo o
processo do nascimento.
Acreditamos que ao prestar o cuidado ao ser humano devemos fazê-lo com
“Arte e Ciência”. A Arte através do uso de nossa sensibilidade, criatividade,
imaginação e habilidade e a Ciência através de nosso conhecimento (CARRARO,
1994). É através de processos educativos que se consolida ou se favorece uma
mudança de comportamentos e atitudes de uma pessoa, grupo ou comunidade.
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Nesta perspectiva, com o início de nossas atividades na Maternidade do
HU/UFSC, sentimos a necessidade de formar grupos de puérperas/família em préalta para reafirmarmos orientações dadas durante a permanência das mesmas na
maternidade, na tentativa de diminuir suas dúvidas e ansiedades e também
compartilhar experiências vividas e assim “fazer saúde conhecendo a vida”
(FREIRE, 1987).
A filosofia da maternidade contempla algumas premissas:
-
É direito da mulher, do concepto, recém-nascido e familiares receberem
atendimento personalizado, no processo de gravidez, parto e puerpério;
-
É valorizada e incentivada a presença e participação do pai em todo o processo
do nascimento;
-
O alojamento conjunto facilita a criação e aprofundamento dos laços
Mãe/RN/Família, favorecendo o vínculo afetivo, a compreensão do processo de
crescimento e desenvolvimento, a participação ativa e educação de saúde dos
elementos mencionados;
-
A mulher, concepto, recém-nascido e familiares devem ser assistidos de forma
adequada por uma equipe interdisciplinar qualificada;
-
o respeito ao ser humano deve estar refletido nas atividades de ensino, pesquisa,
extensão e na assistência prestada à mulher, concepto, recém-nascido e
familiares;
-
A equipe interdisciplinar deve exercer papel atuante na educação de saúde da
mulher/acompanhante e família, em relação ao processo do nascimento
(gestação, parto e puerpério), aleitamento materno e cuidados com o recémnascido. Tal papel favorece e desenvolve a capacidade e a confiança de
gestantes e acompanhantes para cuidarem de seus filhos e executarem cuidados
básicos de saúde;
-
As rotinas hospitalares das unidades deverão ter flexibilidade, favorecendo a
assistência das gestantes, parturientes, puérperas e recém-nascidos;
-
As unidades da maternidade, bem como aquelas com quem se relacionam,
trabalham de forma integrada; e
-
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O tempo de internação fica vinculado às necessidades de assistência, cuidado e
educação da cliente.
Ao seguir esta filosofia, a maternidade possibilita um atendimento
personalizado às gestantes/puérperas e acompanhantes, bem como a participação
do pai ou acompanhante escolhido pela mulher, desde a triagem obstétrica até a alta
do alojamento conjunto ou na unidade de internação neonatológica. Procura
resgatar o papel da mulher como protagonista do processo de nascimento.
Como reconhecimento deste trabalho, em 17 de dezembro de 1997, a
Maternidade do HU recebeu, através de representantes do UNICEF/MS, o título de
Hospital Amigo da Criança, no ano de 2000 o Prêmio Galba de Araújo, por
desenvolver uma filosofia voltada para a humanização do atendimento ao parto e
nascimento, e em 2002 tornando-se centro de referência ao atendimento do
prematuro de baixo peso Método Mãe Canguru.
Com o intuito de solidificar as orientações dadas à nossa clientela, e de
avaliarmos o atendimento prestado pelos profissionais que atuam na maternidade e
compartilharmos experiências vividas no processo de parir, promovemos encontros
com as puérperas e seus familiares na unidade do alojamento conjunto nas quartasfeiras, das 13:00h às 14:00h. Neste encontro contamos com a participação da
enfermeira responsável pela Central de Incentivo ao Aleitamento Materno, da
enfermeira chefe do Centro Obstétrico, da nutricionista da maternidade e dos alunos
do último ano do curso de medicina da UFSC.
Os objetivos destes encontros são:
-
Evitar o desmame precoce, devido a experiências anteriores traumáticas ou com
pouco sucesso;
-
Discutir sobre os mitos, tabus e crenças que permeiam a prática da
amamentação e alimentação da mulher durante este período;
-
Reforçar orientações dadas durante o período pré-natal e de internação;
-
Provocar a discussão de temas que contemplem o período puerperal;
-
Proporcionar um momento de troca de informações entre familiares e equipe de
saúde;
-
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Oportunizar aos acadêmicos a prática da educação em grupo como também a
prática
da
interdisciplinaridade,
mostrando
assim
a
necessidade
de
compartilhamento de saberes;
-
Criar um fórum onde as puérperas e seus familiares possam manifestar suas
frustrações, queixas, elogios e sugestões frente ao atendimento recebido;
-
Reforçar a existência da Central de Incentivo o Aleitamento Materno como
referência para o seu atendimento mediante dúvidas e/ou dificuldades durante o
período de lactação.
Como referencial metodológico, utilizamos os Círculos de Cultura de Paulo
Freire. Estes círculos possuem um animador de debates que orienta e estimula a
participação ativa de todos durante o encontro.
“É na realidade mediadora, na consciência que dela tenhamos, educadores
e povo, que iremos buscar o conteúdo programático da educação” (FREIRE, 1980,
p. 87). É na própria ação que o grupo busca o “conteúdo programático”, ou a
“temática significativa” para sua prática social. “O homem não pode participar
ativamente na história, na sociedade, na transformação da realidade, se não é
auxiliado a tomar consciência da realidade e de sua própria capacidade de
transformá-la” (FREIRE, 1980, p. 40). E dentro desta linha de pensamento é que nós
desenvolvemos esta atividade educativa “ao ensinar, aprender”.
Estes encontros dividem-se em três momentos distintos:
-
Apresentação de cada participante do grupo, procedência e o relato da
experiência do nascimento do seu filho(a) na maternidade do HU/UFSC,
vivências anteriores de gestações, partos e amamentação.
-
Abre-se para perguntas, esclarecimento de dúvidas, discute-se as crenças e
mitos que possuem em relação ao período gravídico-puerperal;
-
Fechamento do encontro, reforçando a existências dos serviços que a
maternidade oferece caso necessário após a alta do hospital.
Os resultados até agora alcançados demonstram que este momento tem
favorecido inclusive a prática da interdisciplinaridade, mostrando assim a
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necessidade de compartilhamento de saberes, principalmente dentro de um Hospital
de Ensino.
Para ressaltar a importância dos encontros destacamos abaixo algumas
falas dos participantes:
Márcia teve parto normal vertical sem episiotomia tinha participado do Grupo
de Gestantes do Trimestre e tinha sido orientada sobre sinais e sintomas de trabalho
de parto e só veio para a Maternidade por estar com perda de líquidos. Achou que
não ter levado corte melhora a recuperação (05/04).
Vera no mesmo encontro não sabia porque não tinha levado corte, mas
acrescenta que no primeiro parto tinha sido cortada e a recuperação foi pior, mais
difícil. Explicado pelas facilitadoras aspectos fisiológicos e importância que isto tem
para a recuperação (05/04).
Esclarecendo outra puérpera que estava preocupada com o seu bebê por
estar fazendo fototerapia, a residente da pediatria esclarece o que é icterícia e
porque ocorre, fala ainda da importância do banho de sol para o desenvolvimento e
crescimento das crianças e qual o melhor horário para fazê-lo.
Puérpera de GVPV com três partos normais e um cesáreo explica porque
não teve acompanhante, sente-se mais segura e mais fortalecida sozinha, participou
de algumas reuniões no pré-natal e acha que ajudou por ter com quem conversar.
Já para Cristiane que teve parto pela primeira vez achou que a presença do
marido deu mais segurança.
O esposo de Janice relata que ficou nervoso até o nascimento do seu filho,
depois se acalmou
A pediatra responsável pela residência explica a importância da reserva
gástrica do RN e como é possível distinguir os diferentes tipos de choro.
CONSIDERA\ÇÕES FINAIS: Avaliando esta atividade pedagógica, percebemos o
quanto é fundamental, a orientação, o compartilhar os diferentes saberes e estarmos
em constante busca de aperfeiçoamento, para que instrumentalizados possamos
compartilhar conhecimentos, reafirmando o pensamento de Carraro (1994, p. 94)
“nunca paramos de conhecer quando estamos dispostos a crescer”.
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REFERÊNCIAS
CARRARO, Telma E..
Resgatando Florence Nigtingale: a trajetória da
enfermagem junto ao ser humano e sua família na prevenção de infecções. 1994.
131f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) - Programa de Pós-Graduação em
Enfermagem, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação: uma introdução ao
pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Editora Moraes, 1980, 102 p.
______. Pedagogia do Oprimido. 17. ed., Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987, 184 p.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. In: Relatório de Atividades da
Comissão Pró-Implantação da Maternidade do Hospital Universitário, 1992, p.3.
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EXPECTATIVAS E AÇÕES DE PAIS SOROPOSITIVOS PARA O HIV À ESPERA
DO DIAGNÓSTICO DO FILHO
Almeida J.M.1; Praça N.S.2
1
Enfermeira Obstétrica, Doutora em Enfermagem, docente do Departamento de Enfermagem da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Rua Antônio Aidar, 356 Parque Três Meninos –
Sorocaba/SP
CEP: 18016-280
(15) 3227-2554 E-mail: [email protected]
2
Enfermeira Obstétrica, Professor Livre-Docente do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e
Psiquiátrica da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected]
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EXPECTATIVAS E AÇÕES DE PAIS SOROPOSITIVOS PARA O HIV À ESPERA
DO DIAGNÓSTICO DO FILHO
Resumo
O trabalho realizado pelo Projeto Transmissão Vertical Zero de Sorocaba, SP, e o elevado
número de crianças expostas ao vírus da aids, no país, motivaram a realização deste estudo
qualitativo que teve como objetivo geral compreender a vivência da mãe-pai enquanto
aguardam o diagnóstico definitivo do lactente exposto à transmissão vertical do HIV. Esta
pesquisa teve como referencial teórico a Antropologia Médica e a Narrativa como referencial
metodológico. Os dados foram coletados por meio de técnica projetiva (colagem) com
gravação dos relatos sobre o sentido atribuído à construção. Participaram 11 mães e 7 pais
de lactentes expostos ao HIV atendidos em programa municipal de prevenção à aids. Com o
tratamento dos dados qualitativos, emergiram seis temas: Sentimentos de esperança e
confiança; ansiedade e expectativa; Espiritualidade e Religiosidade; Apoio; Preocupação
com a saúde do filho; Preconceito e Fazendo analogia. Os resultados possibilitaram
identificar as expectativas e as ações adotadas pelos pais enquanto aguardavam a
confirmação do diagnóstico da criança, evidenciando que a vivência do núcleo familiar é
marcada por intensa mobilização de sentimentos, preocupação com a saúde da criança e
crença no tratamento. O preconceito e o estigma à aids revelaram-se como principais fontes
estressoras, acarretando sofrimento e sentimento de culpa. O enfrentamento dessa situação
é representado pela fé religiosa e pela crença em um Ser superior. As implicações destes
achados são importantes para a enfermagem, que pode implementar cuidados
culturalmente embasados.
PALAVRAS-CHAVE: Transmissão Vertical, HIV, Enfermagem
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As mudanças no perfil do infectado pelo HIV, ao longo de duas décadas e
meia, mostram de forma decisiva a expansão da epidemia entre as mulheres,
sobretudo entre aquelas em idade fértil, o que caracteriza o fenômeno denominado
de feminilização da aids, transformando as mulheres progressivamente em um dos
segmentos de maior importância da população, para a dinâmica da epidemia no
Brasil (Ministério da Saúde, 2007).
A associação entre HIV e mulher remete à gestação que, quando ocorre em
soropositivas, se torna uma condição de alto-risco. Sob este aspecto, a gestante
necessita de abordagem adequada e completa durante o pré-natal, o parto e o
puerpério, merecendo atenção que envolva também os aspectos psicológicos,
sociais e familiares, proporcionando tratamento tecnicamente correto e humanizado.
No Brasil, a transmissão vertical continua sendo a principal via de infecção
pelo HIV em crianças, embora conte com medidas de prevenção e uso do AZT para
diminuir sua taxa de transmissão, de acordo com o Protocolo 076 ACTG – Aids
Clinical Trials Group, adotado pelo Ministério da Saúde desde 1996 (Ministério da
Saúde, 2007).
Este texto foi extraído da tese de doutorado que estudou o período de
indefinição do diagnóstico da criança verticalmente exposta ao HIV, e que teve como
objetivo compreender a vivência de pais de lactentes expostos ao HIV, durante o
período de indefinição do diagnóstico do filho (Almeida, 2008).
MÉTODO
Trata-se de um estudo qualitativo, norteado pelo referencial teórico da
Antropologia da Saúde, que destaca a visão integrada do ser humano como uma
totalidade biocultural e psíquica, que possibilita compreender o processo saúdedoença e abordar as maneiras pelas quais as pessoas, em diferentes culturas e
grupos sociais, explicam as causas dos problemas de saúde (Helman, 2003).
A Narrativa foi o referencial metodológico adotado para organizar e
apresentar os dados, permitindo a construção de um conhecimento alicerçado no
relato da experiência das pessoas sobre uma realidade vivencial (Wernet, 2007).
Para a coleta de dados foi utilizada a técnica projetiva, ferramenta que
permite compreender de forma mais abrangente o mundo vivido dos sujeitos,
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integrando a dimensão biológica com outras esferas do saber, de crenças e de
ações.
A técnica projetiva configura-se por colagens e/ou desenhos que são
consideradas formas de comunicação indireta, empregadas quando a comunicação
verbal direta nem sempre se mostra suficiente para a obtenção do material
necessário ao estudo; possibilita articulação entre desenho/colagem, e linguagem
(Farias, Furegato, 2005). Neste estudo, foi utilizada para facilitar a expressão da
vivência dos participantes que, ao concluir a dinâmica, discorreram sobre seu
significado.
As gestantes soropositivas ao HIV, participantes do estudo foram contatadas
na Clínica de DST/Aids, no município de Sorocaba, Estado de São Paulo, Brasil, a
qual oferece o Serviço de Pré-natal de alto risco para acompanhamento
especializado e tratamento das matriculadas no Projeto Transmissão Vertical Zero
(PTVZ). Os pais de seus filhos, também foram convidados a participar da pesquisa.
Os critérios de inclusão definidos para este estudo foram: mãe e pai biológico
de lactente exposto ao HIV, sem diagnóstico definido para o vírus, e com a idade de
dois a quatro meses de vida; mãe e pai maiores de 18 anos, que não
apresentassem debilidade física de modo a não prejudicar o acesso à instituição de
atenção à saúde; e mãe matriculada no PTVZ, desde a gestação.
Este estudo seguiu os princípios norteados pela Resolução 196/96 do
Conselho Nacional de Saúde e o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa, da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (N o
499/2005/CEP-EEUSP).
As duplas mãe-pai que aceitaram participar da pesquisa foram orientadas
sobre os objetivos e sobre as atividades que seriam realizadas. De todas foi obtida a
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
A coleta de dados ocorreu no período de fevereiro a novembro de 2006, e foi
realizada com as mães soropositivas para o HIV e seus parceiros. Precedendo a
coleta, uma das autoras freqüentou o ambulatório onde as mulheres submetiam-se
às consultas de pré-natal, para conhecê-las e possibilitar que as mesmas a
identificassem futuramente. As participantes em potencial foram seguidas, então,
durante a evolução da gravidez e o parto. No puerpério, foram contatadas para o
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estudo e, quando possível, convidou-se o pai da criança. A coleta de dados ocorreu
durante as consultas ambulatoriais de rotina da mãe e ou do lactente, em dois
momentos, em torno dos dois e aos quatro meses de vida da criança, situação que
coincidia com a coleta de amostras de sangue para contagem de carga viral.
A dinâmica proposta para a coleta de dados teve duração aproximada de 30
minutos, com a realização da técnica projetiva e a gravação, em áudio, dos relatos
feitos pelo casal, sobre o significado da colagem montada, a partir da questão:
“Como tem sido para você viver o dia-a-dia aguardando o resultado final do
teste anti-HIV do bebê?”
Precedendo a dinâmica, era preenchido um formulário com caracterização da
dupla mãe-pai e das condições de nascimento da criança. Após, realizava-se a
dinâmica que se constituiu em uma colagem, feita pelo binômio mãe-pai que recebia
cartolinas, canetas, cola e revistas, que eram recortadas e aderidas conjuntamente
pelos pais, de modo a responder à questão norteadora traçada para o estudo.
Foram realizadas 22 dinâmicas cujos conteúdos, se constituíram em 22
narrativas. Para o tratamento dos dados dos relatos obtidos em cada dinâmica,
foram realizadas inúmeras leituras que possibilitaram o reconhecimento dos dados,
dos aspectos da situação e da realidade de cada dupla mãe-pai, o que proporcionou
familiaridade e apreensão dos significados atribuídos pelo binômio à dinâmica
realizada. O tratamento dos dados, segundo os princípios de Meihy (2005), resultou
em uma narrativa de cada dupla mãe-pai correspondendo a cada dinâmica
realizada. Em seguida, o processo de tratamento dos dados teve continuidade ao se
submeter cada narrativa à proposta de Hammersley, Atkinson (1995), quando foram
extraídos os trechos de interesse para o estudo, os quais foram categorizados por
similaridade de conteúdo e originaram os temas.
Vale destacar os seis temas obtidos: Sentimentos, Espiritualidade e
Religiosidade, Apoio, Preocupação com a saúde do filho, Preconceito, e Fazendo
analogia.
RESULTADOS
Participaram do estudo 11 mães e 7 pais dos quais 2 eram soronegativos, 3
mães souberam da condição de soropositivas durante a gestação, o tempo de
soropositividade variou de 9 meses a 10 anos, com mediana de 4 anos. O número
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de filhos variou entre 1 e 6, com mediana de 3 filhos para cada mãe. Estas
apresentaram idades entre 21 e 33 anos e os pais de 24 a 38 anos, ambos com
idade mediana de 31 anos. A escolaridade predominante foi o ensino fundamental
para ambos, enquanto a religião católica foi citada por 9 mães.
A par dos temas obtidos com os achados, a leitura desses, também, mostrou
que a maioria das mães e pais, a gravidez representou felicidade e preocupação
com a saúde do filho, motivando-os a submeter-se ao acompanhamento e ao
tratamento anti-HIV na gestação, parto, puerpério, e no seguimento do recémnascido. A seguir apresentam-se os temas obtidos:
Sentimentos
Foi possível constatar uma amplitude de sentimentos aflorados em um
momento especial da vida do pai e da mãe com a chegada do filho. Essa
capacidade de sentir caracterizou-se por situações contraditórias, com polarizações
de sentimentos, que permeiam esse período, variando entre positivos, como
esperança, confiança, e negativos, como ansiedade, culpa e medo.
A gente tem quase certeza que ele vai se salvar, agora nós, não sei, então,
esperança. É um pouco de insegurança, medo, eu tenho mais que ela, a
gente sente muita culpa. (Binômio 12A)
A mescla de emoções dos pais, que apresentam satisfação com a gravidez,
amor e felicidade com o filho, mas também, preocupação com a situação de sua
exposição, destacada principalmente, pelo medo da infecção, se alterna com a
possibilidade de adoecimento e de finitude da vida, o que impossibilitaria o
acompanhamento do crescimento do filho. Contudo, esses pais são instados a
enfrentar essa situação de expectativa, apoiados na devoção ao filho.
Outro fato que merece destaque é a preocupação com o adoecimento e a
potencial ausência da mãe, pois os pais acreditam que terão vida curta, seja pela
falta de saúde suficiente para criar os filhos, seja pela presença de problemas físicos
decorrentes da infecção e da possibilidade de morte. Sob estes aspectos, os
binômios deste estudo afirmaram que:
E o dia que eu cair de cama, então, como vai ser? O dia que eu ficar
doente, sei lá? Isso pode acontecer. Eu não penso... eu não penso tanto
assim em mim, eu penso nos meus filhos, são muito pequenos... (10B)
Embora o sentimento de esperança e confiança auxilie os pais a enfrentarem
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a expectativa do resultado do exame, este sentimento não é suficiente para anular a
ansiedade gerada por essa circunstância. São 18 meses entre o nascimento e a
definição do diagnóstico, esse período torna-se um fardo e os mantêm aprisionados
no tempo, o resultado negativo do exame é aguardado com muita expectativa.
Espiritualidade/Religiosidade
Foi uma das principais evidências das narrativas de pais e mães. Dentre as
ações identificadas referentes ao período de espera do diagnóstico para o HIV do
filho, a fé que os pais dedicam à entidade religiosa expressa o suporte para
enfrentarem a situação social e de infecção instaladas. A importância desta fé,
enquanto recurso de luta contra os desafios da vida, principalmente, para suportar
doenças fatais, pode surgir como um recurso interno que favorece a aceitação e o
empenho no restabelecimento da doença, evita sentimentos dolorosos, e torna-se
fonte de fortalecimento para as pessoas.
Mas, eu tenho fé que vai negativar sim, simboliza uma fé, a minha fé, se
não fosse a minha fé, a fé da minha família, ele não tinha... A fé é assim, a
gente se reúne e reza, a gente pede a Deus. (5B)
Essa fé religiosa presente na vida do binômio mãe-pai proporciona segurança
e otimismo ante o tratamento e à intervenção instituída, pois os tornam capazes de
lidar com essa situação.
Estou numa fé, numa certeza, tanto é que eu fiz uma promessa pra Nossa
Senhora Aparecida me ajudar, desde quando descobri. Em junho na festa
de Aparecidinha, vou levá-lo vestido de anjo, da catedral até a igreja de
Aparecidinha. (1A)
A religiosidade é, portanto, parte relevante da vida das pessoas, pois sempre
as acolhe e acalma, trazendo-lhes alívio. Seu discurso reconfortante fortalece-as
para o enfrentamento de situações estressantes, incluindo vários aspectos da vida,
não somente a cura da doença.
Apoio e Relacionamento Familiar
Esse temas estão imbricados e reportam-se à esfera das relações familiares,
envolvendo a interação entre pai, mãe e filho, reafirmando a família como fonte de
apoio e como uma unidade primária de cuidado; também comporta o apoio de outras
pessoas e instâncias, sendo essencial no decorrer do período de indefinição do
diagnóstico.
O relacionamento entre a mãe e o pai tem na união dos parceiros a aliança
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de objetivos, de cooperação e de amor, enquanto que a cumplicidade que os une
por laços de confiança, presentes na relação conjugal, permite que dividam os
infortúnios, sendo, também, uma maneira de diminuir seus medos e a sensação de
isolamento.
Um dá força para o outro, por mais que a gente tenha problemas, a gente
tem apoio um com o outro. (2A)
Ao compartilhar a luta, transformam a jornada de espera pelo resultado do
exame do filho em suporte, que é buscado entre os parceiros.
Os relatos dos pais e mães do estudo indicam nítida variação entre a
percepção de receber e necessitar apoio. Sustentar-se em uma situação difícil
requer auxílio, seja da família, dos amigos, seja de grupos comunitários, de
profissionais envolvidos no processo e do Estado, e pode ser decisivo para os rumos
que a situação tomará.
A gente precisa conversar, quando tem que ver o resultado de um exame
meu: dá isso, dá aquilo, poxa, a cabeça a mil. Não sabe o que fala, o que
acha, o que é. É difícil... Às vezes converso com a psicóloga, é um chororó
também, aqui um pouquinho mais, é difícil. (10B)
Diversamente no período compreendido entre as duas entrevistas, verificouse que foi comum o contexto familiar ser alterado por abandono do pai, tornando a
mãe provedora da família, embora com tentativa de superação, amparada na forte
ligação afetiva com os filhos e com o bebê exposto. Outras mães já se encontravam
como provedoras da família, devido ao parceiro estar cumprindo pena em regime
fechado e internação, situação que causou queixas em relação à carência
financeira, privando as mulheres, principalmente, de remédios e alimentação
adequada e tornando-as dependentes de ajuda das redes de proteção/apoio,
presentes na comunidade religiosa e nas ações do programa municipal.
Preocupação com a saúde do filho
Este
tema
engloba
uma
inquietação
com
as
demandas do
filho,
principalmente com o tratamento, uma vez que os pais valorizam e confiam em sua
eficácia, trazendo esperança para a “cura”. Esta situação lhes proporciona conforto
enquanto aguardam a “cura” da criança, além de minimizar o próprio sofrimento
motivado pela possibilidade de terem transmitido o vírus da aids ao filho.
É uma situação bem difícil, mas superável. Tenho um supercontrole sabe,
não me desespero, se tem que tomar remédio eu tomo, se tem que dar
medicação pra ele, eu dou em dia, hora certa, sempre aguardando na
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esperança que ele seja negativado, se Deus quiser. (11B)
Embora o tratamento esteja disponível na clínica municipal de DST/Aids,
configurado no acesso às consultas pediátricas e aos exames laboratoriais, ao
fornecimento da fórmula infantil e de medicamentos, há dificuldades que limitam sua
operacionalização. Realizar estes procedimentos transcende o cumprimento de
horário e dose prescritos, implica também em adotar estratégias para manter sua
condição em sigilo, bem como para fazer o acompanhamento clínico, como contam
as mães e pais:
É difícil. Você tem que sair e esconder o remédio, isso aquilo, é duro,
entendeu? Ela não toma, mas eu tomo. Já tomou o AZT, ela vai pegar esse
medicamento agora (Bactrim), ela achava que aquele remédio era xarope. (6A)
A impossibilidade de amamentar apareceu como um dilema e foi uma
experiência penosa e emocionalmente desgastante, tornando a maternidade
incompleta, e isto acarreta culpa, frustrações, sofrimentos.
Um ponto ressaltado pelos depoimentos foi a tomada de consciência sobre a
vivência da soropositividade, possibilitando uma re-significação e/ou a construção de
novos caminhos diante da adversidade, adotando uma trajetória diferente para sua
vida, constatada na fala do pai:
Interessante que depois que aconteceu isso comigo, até melhorei, criei
responsabilidade, porque tenho medo da vida, antes eu não dava valor a
vida, não tava nem aí. (12A)
Preconceito
O tema Preconceito trata do aspecto mais característico inerente à gênese
da aids, situação que atravessou mais de duas décadas, e, apesar dos esforços
para combatê-la, ainda tem forte presença.
A gente sente mais cuidado, proteger do mundo, bem dizer do preconceito
das pessoas. Fica com mais cuidado com relação ao bebê, porque quer
proteger. É difícil. (6A)
A discriminação é proveniente de diferentes contextos, vindos da sociedade e
da família, que dificultaram o enfrentamento da infecção e a recomposição da vida
dos infectados, como afirmam:
Você leva o atestado da clínica, eu fui mandada embora exatamente por
causa desse problema, eu trabalhava de empregada doméstica e levei o
atestado da clínica de DST e na outra semana ela me mandou embora, não
falou o motivo. (11A)
O preconceito
causa agruras, contratempos e transtornos, que se
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manifestaram nas dificuldades para a realização de ações para o acompanhamento
e o tratamento da criança, principalmente, para os pais que trabalhavam.
A estigmatização é tão grande que estimula a negação e o segredo que
reforça o silêncio, esta situação é delicada para mães e pais da criança exposta, que
vão desde resguardar o seu diagnóstico, encontrar motivos que justifiquem as
constantes idas à clínica para o acompanhamento e tratamento, e mesmo para
buscar estratégias para camuflar o local de tratamento.
Por outro ponto de vista, alguns pais encaram com indiferença a
soropositividade, demonstrando despreocupação com sua revelação e evitando
pensar no HIV, enfatizado no relato:
Meu dia-a-dia é normal, eu não fico ligando, que os outros fiquem sabendo.
Na clínica eu já encontrei a sogra da minha prima e ela saiu contando... Eu
pedi pra não contar, porque ninguém sabia e mesmo assim saiu falando,
mas não devo nada pra ninguém, ninguém vem na minha casa perguntar se
está faltando alguma coisa. Quem paga as minhas contas sou eu. (12A)
Fazendo Analogia
O tema Fazendo analogia representa um recurso usado pelos pais para
interpretarem sua montagem; permitiu estabelecer semelhanças entre essas e o
significado que as mães e pais atribuíram ao período de indefinição do diagnóstico
do filho.
Essa montagem aí significa que a tartaruguinha está presa, ela está
esperando ter a liberdade, poder ser solta, ter liberdade. Assim é meu
filho... Esperando ele fazer os exames e ter resultado positivo, pra ele poder
ficar livre disso aí. Esperando a liberdade, para poder seguir em frente. (5A)
DISCUSSÃO
Os resultados deste estudo demonstram a maneira pela qual pais pensam e
reagem durante o período de indefinição do diagnóstico da criança exposta.
Possibilitou, também, a apreensão dos sentimentos, dos valores, das atitudes,
enfim, os comportamentos das mães e pais no seu cotidiano de enfrentamento à
aids.
Para muitas mulheres, a maternidade é seu destino social e a garantia do
lugar psíquico da feminilidade; é uma experiência fundamental e estruturante da
identidade feminina. Independente da classe social, a maternidade emerge como um
atributo biológico que torna as mulheres como seres mais fortes. Este sentimento
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não é só manifestado pelas mulheres, porque os homens também querem exercer a
paternidade, quer por razões religiosas, ou para dar sentido à vida, ou ainda para a
construção da sua identidade viril (Monticelli, Santos, Erdmann, 2007).
Por outro lado, o sentido dado pelas mães e pais, durante as entrevistas,
deixou transparecer os sentimentos de preocupação com a situação de exposição
do filho, destacada, principalmente, por temer a sua infecção, o medo de
transmissão do vírus ao bebê, situação também constatada por Neves, Gir (2006) e
Carvalho, Piccinini, (2006), ao estudarem mães soropositivas que sabiam da
susceptibilidade do bebê.
Os vários estudos realizados com mães soropositivas para o HIV apontam na
direção: o sentimento de felicidade está presente e representa uma afirmação da
vida, descoberta de novo sentido para a vida, impelindo uma vontade de viver,
contrapondo uma das características da aids, como doença sem cura e letal.
A Religiosidade e a Espiritualidade sempre foram consideradas importantes
aliadas das pessoas que sofrem e/ou estão doentes, especialmente quando a cura
médica não é possível influenciar no seu bem-estar.
Com o surgimento da aids, várias questões emergiram tanto da dimensão
biológica, como psicológica e social, configurando um problema com repercussões
na vida dos portadores, inclusive na perspectiva espiritual, que inclui conteúdos
existenciais e que geram significativas alterações na integração da espiritualidade
com outras dimensões na vida dos infectados com HIV/Aids. Alguns relatam
sentimento de abandono por Deus, como castigo (Castanha et al., 2007).
Demonstrou-se que, especificamente, em abordagem sobre espiritualidade
com gestantes e mães HIV positivas o envolvimento religioso esteve relacionado a
estratégias mais ativas de enfrentamento da infecção e a maiores índices de apoio
social, podendo servir como um mecanismo de redução da negação e,
conseqüentemente, de prevenção do sofrimento psicológico. Atuando como fonte de
interpretação para os acontecimentos da vida, a religiosidade pode representar
apoio para o enfrentamento das dificuldades e para a mudança de atitudes
(Tarakeshwar, Khan, Sikkema, 2006).
De uma maneira geral, os dados são convergentes com os achados de
estudos que imputam a fé em Deus e a força interior como sustentáculos
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imprescindíveis para a manutenção da saúde.
A maioria das práticas religiosas mencionadas pelas mães e pais relaciona-se
à Igreja Católica. A menção a Deus foi preponderante e descrita como símbolo de fé.
Além desse suporte espiritual, a Igreja também é vista como fonte de apoio social,
incluindo ajuda material e apoio emocional.
Outro aspecto relacionado à religiosidade refere-se à busca pela cura. Este
pensamento articula Deus como agente, como força que proporciona a cura aos
médicos, porém, está condicionada à vontade de Deus, que interfere no avanço da
Ciência para produzi-la.
Embora as mães e pais demonstrem fé religiosa que favorece o resultado
positivo para o diagnóstico do filho, ou seja, o filho será “negativado”, o que significa
não estar infectado pelo HIV, ambos são categóricos ao dizer que acreditam no
tratamento, portanto, o valorizam, e adotam as medidas terapêuticas recomendadas,
reconhecendo a importância da ação dos medicamentos e do acompanhamento
pelo serviço de saúde. Entretanto, realizar o tratamento apresentou dificuldades, em
virtude dos pais e mães desejarem manter em segredo a sua condição, isso os leva
a esconder não só o medicamento, como o local onde são atendidos.
Os depoimentos dos participantes da pesquisa apontaram o enfrentamento
de muitos desafios; essa questão é muito mais do que um evento biológico,
tornando-se, às vezes, secundário diante das situações sociais que decorrem desse
fato (Castanha et al., 2007).
Diante dessa realidade enveredam para a busca de apoio, incorporados nos
laços sociais, expressão que encampa dois conceitos, o de rede social e apoio
social, englobando as relações sociais que envolvem o indivíduo, bem como as
características de disponibilidade e freqüência de contato com amigos e parentes,
ou com os grupos de pessoas com quem há contato ou alguma forma de
participação social, por exemplo, grupos religiosos e associações.
Ao considerar que a família é a principal fonte de apoio para soropositivos, a
necessidade de apoio estende-se para além do núcleo familiar, alcançando os
amigos do casal, assim, ambos, família e amigos se constituem em expressivos
fatores de proteção àqueles que precisam enfrentar a infecção, tanto a participação
no tratamento, como fonte de apoio afetivo.
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Os sistemas de suporte fazem parte de um âmbito mais amplo da vida das
pessoas, igualmente são importantes, contribuindo para a saúde geral e para o bemestar dos portadores de HIV/Aids. Trata-se das relações estabelecidas com a
escola, o trabalho, centros religiosos ou instituições de saúde, papel das
organizações governamentais e não-governamentais e a religiosidade.
Ferreira (2007) verificou que as mulheres infectadas pelo HIV/Aids revelam a
sua condição de soropositividade à família e amigos quando há identificação com
outro soropositivo, por pressão ou confiança, busca de apoio e preocupação com
possível transmissão do vírus ao parceiro, pautadas em experiências positivas de
apoio ou quando não conseguem mentir quando questionadas. Por outro lado,
mantêm segredo em situação de medo do preconceito, de se exporem ou se houve
experiências negativas como falta de apoio, rejeição e disseminação da informação,
estabelecendo um pacto de silêncio, pois há temor de mudanças, envolvendo os
filhos menores em relação à idade.
Por outro lado, os pais deste estudo acreditam na soronegatividade do bebê
pela efetividade do tratamento. Esta dedicação está associada, tanto a aspectos
subjetivos como sociais e culturais do ser mulher e mãe. A aids entre mulheres tem
um impacto social maior do que em outros segmentos da população, uma vez que
estas, nos dias de hoje, ainda assumem culturalmente o papel de “agregadoras e
cuidadoras” dos núcleos familiares.
Outro
aspecto
a
se
considerar
relaciona-se
à
possibilidade
de
questionamento, pelos parentes, pela não-amamentação, aliada ao fato de perder a
prerrogativa da exclusividade na alimentação da criança, e ainda, porque alimentar
por mamadeira diminui o contato físico e provoca sensação de culpa.
A experiência profissional mostra que a sociedade ainda discrimina e contribui
para as dificuldades sociais dos portadores. O preconceito sofrido pelos indivíduos
portadores do HIV, muitas vezes considerado o pior da doença, pode levar a
atitudes de discriminação verificadas pelo afastamento do grupo social do doente e,
por sua vez, o doente do seu grupo social.
Mulheres portadoras de HIV/Aids têm mencionado que temem e vivenciam o
preconceito. Dentre muitos problemas relacionados a esse fato, pode surgir a
dificuldade de colocação profissional, além dos problemas familiares e daqueles
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ligados à maternidade (Carr, Gramling, 2004; Carvalho, Piccinini, 2006; Moura,
Praça, 2006).
CONCLUSÃO
A abordagem qualitativa permitiu compreender a vivência da indefinição do
diagnóstico de soropositividade para o HIV do filho exposto, e que consistiu numa
experiência sociocultural vivida de modo particular pelos participantes.
Dentre os pressupostos confirmados pelo estudo, destaca-se a fé
manifestada pela espiritualidade e religiosidade, onde acreditar em um Deus dá
forças para o enfrentamento da busca da cura do filho, expressa na espera pela
“negativação” do exame.
O grupo de mães e pais estudados, que aguardavam o diagnóstico definitivo
do lactente para o HIV, nega a transmissão do vírus ao filho, porque acredita no
tratamento realizado durante a gestação e no parto, e para o bebê. Confia
plenamente na dádiva de Deus para concretizar esse desejo, aguarda essa graça
pela fé que devota à entidade religiosa.
Passar pela experiência de ter um filho exposto ao HIV foi articulado
fortemente à própria existência da criança, ou seja, gerar o filho, ainda que nesta
situação de soropositividade, representa uma enorme satisfação, mesmo em função
do sofrimento causado pelas demandas da criança e do estresse ocasionado pelo
estigma e preconceito.
Estes pais e mães mostram que a experiência da maternidade e da
paternidade é mais intensa que a condição de soropositividade ao HIV que permeia
seu núcleo familiar.
Em síntese, este estudo captura/reconhece o contexto dos significados
compartilhados e construídos por mães e pais, os quais servem de orientação para
seu comportamento, que é influenciado pela cultura, e que, identificados, sugerem à
enfermagem pontos para nortear a assistência.
REFERÊNCIAS
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soropositivos para o HIV à espera pelo diagnóstico do filho. 2008. 183 f. Tese
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Agradecimentos: as autoras agradecem ao CNPq pelo auxílio financeiro concedido
para a realização deste estudo.
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PARTOS POR ENFERMEIRAS REALIDADE OU UTOPIA?
*LIMA CAVALCANTE, M. de F
**PEREIRA de PAULO,
**BORGES, LIMA, COSTA S.
RESUMO
O estudo teve como objetivos: Verificar se as enfermeiras obstétricas realizam partos com
freqüência na maternidade em que trabalham e identificar as dificuldades encontradas por
essas profissionais para realizarem partos em seu cotidiano profissional Trata-se de um
estudo descritivo com cláusulas qualitativas. Utilizamos relatos, opiniões, reflexões dos
entrevistados. Foram distribuídas em categorias empíricas conforme a seguir: Enfermeiras
obstétricas desmotivadas a realizar partos, Enfermeira sente-se respeitada frente à equipe
multidisciplinar. As entrevistadas foram unânimes em afirmar que não há obstáculos, em
assistir ao parto, mas de receber pela realização do mesmo. Deveriam ser remunerada por
procedimento conforme regulamenta a Portaria do Ministério da Saúde. Constatamos que, o
respeito ao trabalho da enfermeira obstétrica vem do saber cientifico, e da prática efetiva
mostrando capacidade de assumir. Entretanto, esse espaço deverá ser conquistado com o
envolvimento de todos os enfermeiros, não apenas como bons profissionais assistenciais ou
pesquisadores, mas também no campo sócio-político, iniciando pelos órgãos de classe, daí
ascendendo para posições no legislativo, executivo, seja no âmbito municipal, estadual ou
federal. Os estudos são inacabáveis, portando, não terminam aqui, pode-se dizer que esta
pesquisa aponta para uma intervenção ético-político, a fim de que, a profissão, tenha
valores reais e não apenas ideais. Esta intervenção começa agora e deve ser estendida a
sala de aula, por meio de reflexões sobre a prática onde ocorre a assistência à mulher que
se encontra no período gravídico-puerperal. De forma a haver a realização profissional em
sua em plenitude.
Descritores: Enfermagem, Obstetrícia, motivação.
*Professora da Universidade de Fortaleza – UNIFOR, da Disciplina Enfermagem em Saúde da Mulher, Mestra em Enfermagem
pela UFC, Habiltada em Ginecologia e Obstetrícia pela UECE, enfermeira da maternidade do Hosp. Municipal de MaracanaúCE
** Enfermeiras, formadas pela UNIFOR, cursando especialização.
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1. INTRODUÇÃO
A idéia de pesquisarmos sobre este assunto nasceu a partir de observações
empíricas ocorridas quando cursávamos, na graduação, a disciplina Saúde da
Mulher, onde tivemos a oportunidade de realizar a prática numa renomada
maternidade desta capital. Observamos que as enfermeiras obstétricas, mesmo
qualificadas, não realizam partos. Isso nos inquietava, levando-nos a um
questionamento. Por que as enfermeiras obstétricas não estão realizando partos
naquela instituição? Será que isto ocorre nas outras maternidades de nossa cidade?
Quais razões justificariam tal fato, já que esta especialidade da enfermagem é
regulamentada por lei?
Com esse questionamento em mente e a busca incessante em solucionar
um problema hora difícil de entender, foram os fatores motivacionais para realização
desta pesquisa.
Há alguns anos vivenciamos a problemática das enfermeiras obstétricas,
presenciando o domínio do campo da parturição por médicos com a elevação das
taxas de cesarianas no Brasil. Dessa forma, muitas enfermeiras obstétricas, não
estão conseguindo atuar na especialidade, por estarem assoberbadas de trabalho.
Por conseguinte, as enfermeiras deixam de exercer atividades da assistência direta
à mulher durante o trabalho de parto e o parto, embora sendo essa a atividade
inerente a sua profissão conforme a Lei do Exercício Profissional em vigor, passam
a atuar como gerentes, supervisoras, entre outros. Nesse aspecto, até a década de
80, essas profissionais, na rede privada, participavam da assistência ao parto. Na
última década, a introdução da enfermeira obstétrica no âmbito de sua atuação tem
sido restringida, no concernente à realização do parto (MERIGHI, 2006).
No Brasil como em alguns outros países, ocorreu um processo de
medicalização da assistência ao parto e nascimento, decorrente da introdução e
classificação dos partos como de alto, médio e baixo risco. Raciocinando desta
forma não havia parto sem risco, o que acarretou em uma organização da
assistência intervencionista centrada no hospital. Hoje em dia, esta visão está sendo
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questionada ao parto independentemente de ser normal e sem complicação
(ARAÚJO e OLIVEIRA, 2006).
Assim, o primeiro passo para a reconfiguração do campo obstétrico, com a
conseqüente desmedicalização do parto, foi à inserção da enfermeira obstétrica na
assistência ao parto como política publica. O passo seguinte vem sendo a
introdução, por essas enfermeiras, das tecnologias não invasivas de cuidado para
assistir ao parto e nascimento.
O ensino de enfermagem surge em 1890, sendo impulsionado a partir da
década de 20. Organizaram-se escolas públicas e particulares em vários estados do
país, destacando-se, nesse momento, a Escola Anna Nery no Rio de Janeiro. No
final do século XIX, foi proposto por médicos brasileiros que as parteiras fossem
também enfermeiras, sendo pensado na junção do trabalho da parteira e da
enfermeira. Após muitos anos de disputas, entre aproximações e distanciamentos
acadêmicos e legais, as duas profissões foram fundidas, sendo a obstetrícia agora
da enfermagem. Atualmente, após várias modificações no currículo de enfermagem,
a especialização se mantém como a única formação de profissionais não médicos
na área da obstetrícia (RIESCO e TSUNECHIRO, 2002).
Em evolução histórica, as profissões que regem sobre a mulher no processo
de parir e nascer são diferenciados quanto a sua formação e legislação. A parteira
ou
enfermeira
obstétrica
é
a
que
primeiro
aparece,
sendo
conhecida,
posteriormente, de obstetriz. A enfermeira obstetra, mais recente denominação,
consolida o que hoje só é concebido a partir do título de especialização conferido
apenas as enfermeiras diplomadas (RIESCO e TSUNECHIRO, 2002).
O parto era vivenciado nas mais diferentes culturas como algo íntimo e
privativo da mulher compartilhado entre si, mas com o crescimento da mortalidade
materna e perinatal, a esfera pública começou a se preocupar, tornando necessário
ao poder público garantir a todos a redução da mortalidade. Foi nesse momento que
a obstetrícia ganhou espaço como uma matéria médica, tomando as primeiras
iniciativas voltadas a disciplinar o nascimento, caracterizando-se dessa forma como
evento médico. Passando o que antes era de exclusividade feminina ao público com
o envolvimento de pessoas antes estranhas, nascendo então, o interesse médico
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em absorver para sua categoria profissional esse ato de tamanha importância na
vida da mulher, vivenciado até então com a ajuda de outras mulheres. Não havia
parteiras diplomadas e as mulheres que atendiam as parturientes recebiam uma
autorização legal para exercer a obstetrícia. Dessa maneira, as mulheres de classe
menos favorecidas passaram oficialmente a ter seus partos realizados por médicos
ou enfermeiras-parteiras (BRASIL, 2004).
Conforme as últimas discussões organizadas pela Secretaria de Estado da
Saúde de São Paulo, referentes ao índice de cesárea e à qualidade de atenção ao
nascimento e parto, tem sido colocada em evidência à importância de profissionais
não-médicos fazer parte no atendimento à gestante e parturiente, inclusive na
realização do parto. Atualmente a assistência obstétrica, está organizada, de forma
a favorecer somente ao médico a realização de partos, sendo este impossibilitado
de acompanhar o trabalho de parto, que dura, em média, 10 a 12 horas, devido à
diversidade de tarefas a ele inerente, sendo que a cesárea, com horário marcado, a
solução para este profissional (BRASIL, 1996).
No intuito de reduzir o número de cesarianas e o índice de morbimortalidade
materna e perinatal, foi que o Ministro da Saúde, José Serra, assinou a Portaria
2815, de 29 de maio de 1998 (Portaria GM/MS nº 2815 de 29 de maio de 1998) ,
que inclui na tabela de Pagamentos do Sistema de Informações Hospitalares do
Sistema Único de Saúde (SIH/SUS), o grupo de procedimentos parto normal sem
distocia realizado por enfermeiro obstetra, reforça ainda, a importância do
acompanhamento do trabalho de parto, em hospitais e em domicílio. Tal portaria tem
gerado várias polêmicas por parte dos conselhos regionais e sociedades médicas de
Ginecologia e Obstetrícia, se posicionando veementemente contra a decisão do
Ministério da Saúde. Em contra partida, essa atitude tem causado indignação e
revolta a classe de enfermeiras obstétricas com a postura das entidades médicas.
Daí a indagação, seria essa razão pela qual em algumas instituições não tem
oportunizado ao enfermeiro a realização de partos? Seria apenas com intuito de
evitar o pagamento?
No entanto, sabe-se, que remonta há vários anos a atuação do enfermeiro
obstetra, nessa área, mesmo não sendo reconhecido diante dos demais
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profissionais, apesar de ser autorizado conforme a Lei do Exercício profissional nº.
7.498 de 25 de junho de 1986, regulamentado pelo Decreto nº. 94.406 de 08 de
junho de 1987
(9)
que, define as atribuições de cada membro da enfermagem,
inclusive do Enfermeiro Obstetra. Hoje, (com o advento da portaria 2815 e a
resolução do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) – 223/99), definindo a
atuação da enfermeira na assistência à mulher no ciclo gravídico-puerperal,
legitimando o que era de fato, mas não de direito. O exercício da enfermagem
obstétrica passou a ser observada e questionada no cotidiano por médicos por
discordarem da realização de partos por enfermeira especialista.
Mediante
as
dificuldades
enfrentadas
pela
enfermeira
obstétrica
referenciadas pelos estudos em epígrafe, e ratificado pela Organização Mundial de
Saúde (ONS, 1996), quando refere ser a enfermeira parteira o profissional mais
adequado e com melhor custo - efetividade de cuidador de saúde, para se
responsabilizar pela assistência a gestante e ao parto normal, incluindo sua
capacidade em avaliar os riscos e reconhecer complicações.
Destaca ainda, o
desempenho no estimulo ao parto normal, minimizando a realização de intervenções
de maneira a interferir na redução das taxas de cesáreas.
Legitima-se o mérito desta pesquisa, por reconhecer o grande valor da
prática exercida pela enfermeira obstétrica e o interesse em solucionar um problema
ainda desconhecido, contribuindo com uma categoria tão vital para a assistência a
mulher nesse momento único e sublime de sua vida, porém vem sendo
subestimada.
Para tanto se traçou os seguintes objetivos: Verificar se as enfermeiras
obstétricas realizam partos com freqüência na maternidade em que trabalham e
identificar as dificuldades encontradas por essas profissionais para realizarem partos
em seu cotidiano profissional.
MÉTODOS
Tipo de estudo
Trata-se de um estudo descritivo que conforme Polit, Beck e Hungler (2004
p. 32), “a finalidade da pesquisa em enfermagem é responder às questões ou
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solucionar os problemas de relevância para a profissão de enfermagem, mas
existem finalidades mais específicas da pesquisa científica”. Entre esses desígnios
peculiares da pesquisa com cláusulas qualitativas estão à descrição, aonde o
pesquisador que administra esse tipo de investigação observa, conta, descreve e
classifica; e a fase de exploração, que foi abordada nesta pesquisa em beneficio da
busca, não somente pela compreensão dos fenômenos de interesse, mas averiguar
os eventos aos quais eles estão relacionados.
Ambiente de estudo
O estudo teve como cenário para obtenção dos dados a Instituição de Saúde
o hospital distrital da rede pública de nível secundário situado na cidade de Fortaleza
-CE. A referida instituição presta assistência às comunidades carentes dos bairros
localizados em suas proximidades, oferecendo atendimento dentro dos níveis
primário e secundário da atenção em saúde, tanto por demanda espontânea como
referenciados pelos centros de saúde, indo da ginecologia, desde a prevenção do
câncer ginecológico ao pré-natal, obstetrícia, internação pós - parto com sistema de
alojamento conjunto e berçário. Possuindo também os setores de clínica médica
(adulto e pediátrico), berçário de médio risco, serviço de pronto atendimento (adulto
e pediátrico). O campo de pesquisa foi escolhido em virtude de ser um hospital de
referência no atendimento à gestante. E por conhecer o trabalho realizado pela
instituição, ser campo de estágio da Universidade de Fortaleza. Desta forma,
realizamos a pesquisa enviando à direção explicando objetivos e estratégias para a
coleta dos dados.
Participantes
Fizeram parte da pesquisa todos os enfermeiros ou enfermeiras obstétricos
que trabalharam na instituição supracitada no período de setembro a outubro de
2008, que aceitaram participar deste estudo, independente do horário de trabalho e
teve como critério de inclusão, os que tinham mais de um ano de trabalho na
referida instituição.
Os participantes foram informados sobre a realização do estudo e lhes foi
oferecido o termo de esclarecimento, explicando o objetivo do mesmo e indagando
se consentiam participar da pesquisa. Aqueles que concordaram em participar
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assinaram um termo de consentimento, onde foi garantido o anonimato, o
ressarcimento de perda ou danos físicos e morais, ressaltando que em nenhum
momento foram lesados financeiramente.
Coleta de dados
Foram coletados mediante entrevista com os enfermeiros (as) utilizando
roteiro semi-estruturado, com questões norteadoras: 1. Há quanto tempo você é
enfermeira obstétrica? 2. Você realiza parto estando o médico presente ou não? 3.
Com que freqüência você realiza? 4. Existe algum obstáculo que impeça você de
realizar partos? 5. você sente-se respeitada profissionalmente como enfermeira
obstétrica? Sente-se valorizada com o tal? Escolhemos esse tipo de entrevista por
que segundo Polit, Beck e Hungler (2004 p.252). “é uma entrevista enfocada, usada
quando o pesquisador tem uma lista de tópicos que devem ser cobertos” .
Análise e organização dos dados
Análise dos dados foi feita após a transcrição das falas gravadas e leitura
detalhada das respostas dos entrevistados. Com os resultados obtidos através
dessas leituras, os dados foram organizados, em categorias empíricas e
fundamentados na literatura relacionada que abordou a temática em estudo. Sendo
que, a categorização dos dados, foi a última etapa do processo de análise
fundamentada nas principais informações e opiniões emitidas pelas entrevistadas.
De acordo com Marconi e Lakatos (2001), essa forma de organizar os dados
pondera as respostas dos sujeitos da pesquisa, a fim de que possam ser
adequadamente analisadas, fazendo-se necessário, a isto, organização, dos dados
mediante seu agrupamento em certo número de categorias temáticas. Ao finalizar
esta etapa, fizemos a seleção das falas consideradas mais significativas, as quais
autenticaram as conclusões e atribuições dos significados das mesmas.
Aspectos éticos e legais da pesquisa.
A ética esteve presente em todas as fases da pesquisa como preconiza o
Ministério da Saúde através da Resolução 196/96, mantendo sempre as diretrizes e
normas regulamentadoras a qual regeu a pesquisa envolvendo seres humanos e
que tiver aceitação esclarecimento dos participantes e o pleno acesso destes aos
objetivos do estudo. Foi garantido desta forma, acerca do anonimato dos envolvidos,
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bem como a ausência de prejuízos aos mesmos e o compromisso de não utilizar os
resultados para objetivos contrários ao estudo, obedecendo aos quatro princípios
básicos da bioética que são: autonomia, não maleficência, beneficência e justiça,
assegurando os direitos e deveres que dizem respeito à comunidade científica, aos
sujeitos da pesquisa e ao Estado.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
Percebemos a satisfação e interesse das participantes em contribuir com o
estudo, não somente referindo-se ao objetivo para realização desta, mas declarando
seus anseios do cotidiano profissional. Algumas se mostravam inseguras e
resguardadas emitindo respostas curtas, e intimidadas com o uso do gravador,
outras mais convictas pronunciando respostas longas e bem elaboradas.
No percurso observamos a sobrecarga da rotina de trabalho das
entrevistadas o que limitou a participação no que concerne a maior riqueza de
informações.
Minayo (2001), afirma que o ato de analisar e a interpretar faz parte de uma
mesma orientação, ao contemplar cautelosamente para os dados da pesquisa. O
objetivo da fase de análise é instituir uma forma de entendimento dos dados
coletados, que possa ratificar ou não o pensamento que originou a pesquisa e ainda
que venha a contemplar e responder às indagações estabelecidas. Favorecendo
uma ampliação do conhecimento sobre o tema investigado, e criando um elo entre
pesquisa e a realidade na qual a mesma está inserida, sem esquecer dos valores
culturais do contexto.
A matéria-prima desta pesquisa, os relatos, opiniões e reflexões dos sujeitos
da investigação, foram submetidos à codificação, categorizações e inferências. Para
possibilitar a análise dos dados obtidos, organizamo-los por similaridade, repetição e
distribuídos em categorias empíricas conforme a seguir:
A análise dos dados realizou-se durante o levantamento dos mesmos
sempre focalizando os objetivos da pesquisa. O estudo constou de um hospital,
onde em seu centro obstétrico trabalham nove enfermeiras obstétricas sendo
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entrevistadas apenas 08 pois uma encontrava-se de férias. De acordo com a
primeira pergunta: há quanto tempo você é enfermeira obstétrica? Todas as
entrevistadas possuem especialização em obstetrícia há mais de cinco anos.
Enfermeiras obstétricas desmotivadas a realizar partos
Esta categoria nasceu das indagações: Você realiza parto estando o médico
presente ou não no Centro obstétrico, Com que freqüência você realiza partos?
Existe algum obstáculo que a impeça de realizar parto? As entrevistadas foram
unânimes em afirmar que não há obstáculos, em assistir ao parto, mas de receber
pela realização do mesmo, pois deveriam ser remunerada por procedimento
conforme regulamenta a Portaria do Ministério da Saúde.
Diante do exposto, ratificam-se nossas afirmações com as falas a seguir:
“Não realizo quando o médico está presente, pois somente o médico ganha
pelo procedimento.” (E1).
“Não realizo, pois faço questão de ir chamá-lo, pois ele ganha pra isso. “
(E6).
“Somente realizo quando o médico está no alojamento conjunto ou no
Centro Cirúrgico” (E7).
Observou-se que algumas estão desmotivadas, por se tratar de um
procedimento regulamentado pela “Portaria 2815, de 29 de maio de 1998 (Brasil,
1998), que inclui na tabela de Pagamentos do Sistema de Informações Hospitalares
do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS), o grupo de procedimentos parto normal sem
distocia realizado por enfermeiro obstetra”. O que não ocorre, pois somente os
médicos recebem pelo procedimento. As enfermeiras recebem uma produtividade
resultante de um rateio feito para os profissionais não médicos. Isso leva a uma
insatisfação, haja vista que são profissionais de nível superior, tanto quanto os
médicos. Porque esse desnivelamento? E a isonomia não é a igualdade de todos
perante a lei, assegurada como princípio constitucional? Percebe-se que essa
prática na verdade não existe.
Em meio a todos esses questionamentos está à mulher, a mãe, a cliente que
necessita de cuidados especiais àquela que provavelmente considera esse
momento o mais importante de sua vida. Desta forma, a assistência hospitalar ao
parto necessita ser segura, garantindo a cada mulher os benefícios dos avanços
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científicos, mas principalmente, deve permitir e estimular o exercício e estimular o
exercício da cidadania feminina, resgatando a autonomia da mulher no parto. Desta
forma, percebemos que a enfermeira é uma profissional capacitada para oferecer a
parturiente um adequado apoio emocional, haja vista que a referida profissional tem
conhecimento de cada etapa do parto e dos fatores exógenos que estarão atuando
conjuntamente (2).
Progianti, Penna e Christoffel (2004), Consideram a hora do parto e do
nascimento um momento singular em toda humanidade. Essa peculiaridade possui
caráter complexo e multifacetado, pois despertam sentimentos e emoções nas
diversas culturas do mundo. Os atributos essenciais e indispensáveis a todos os
profissionais que lidam com a mulher são: ética profissional e o respeito para cuidála neste momento importante de sua vida. O trabalho de parto deve ser abordado
com tranqüilidade de forma a transmitir segurança a parturiente, isto também é
aplicável a todas as situações de atenção a saúde. A adequada identificação da
equipe médica, de enfermagem e outros profissionais de saúde, o respeito e a
privacidade da mulher além de outros aspectos devem ser obedecidos com rigor no
manejo do parto.
A tendência da enfermagem obstétrica está cada vez mais voltada para a
conquista do compromisso político-social com a melhoria das condições de saúde
da mulher. Sendo assim, é necessário que seja concretizada a atuação efetiva da
enfermeira obstetra, em todos os seguimentos da assistência à saúde da mulher,
seja na assistência direta ou na gerência de serviços. É preciso ir em busca de
competência para que aumente a valorização da enfermeira como profissional
imprescindível na assistência ao parto e nascimento normais (ARAÚJO e OLIVEIRA,
2006)
O
que
nos
leva
a
refletir
nesse
momento
é
com
relação
à
multiprofissionalidade que envolve a prática obstétrica, a integração profissional, a
divisão do trabalho e a articulação requerida para a integridade das ações, pois a
especificidade da assistência obstétrica é muito clara quanto aos limites de atuação
da enfermeira, tendo a dificuldade ou intercorrência, como marco divisor das
competências (NUNES, FERREIRA e PAIVA, 2003).
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A legalidade da assistência prestada pela Enfermeira Obstetra é um fato,
onde os bons efeitos são evidenciados em nível nacional e internacional
(2)
.
Entretanto, acreditamos que o grande protótipo desta profissão seja criar um padrão
próprio de cuidado que privilegie a participação ativa da mulher no processo de dar à
luz, primando por todo saber técnico-científico, refletindo na qualidade da assistência
prestada, reduzindo o índice de morbimortalidade perinatal e materna e aumentando
ou até mesmo introduzindo a humanização no atendimento.
Enfermeira sente-se respeitada frente à equipe multidisciplinar.
Esta categoria emergiu das colocações feitas pelas entrevistadas acerca da
pergunta Você sente-se respeitada e valorizada profissionalmente como enfermeira
obstétrica?
“Sim. O ambiente de trabalho é bastante harmônico, a equipe respeita o
trabalho do enfermeiro, discutimos juntas questões relacionadas ao trabalho
de parto e outros aspectos da assistência a gestante. A valorização
acontece quando a equipe confia na sua assistência “(E7).
“Sinto-me respeitada, porém não valorizada. Precisamos de uma força
maior (financeiro) para conseguirmos isso.”(E1).
“Em alguns momentos sim, em outros não. Depende da equipe que está
com você, do profissional que conhece seu trabalho, respeita e valoriza. Em
outros momentos, mesmo o profissional conhecendo sua competência não
valoriza. Isso acontece mais com internos e residentes, que algumas vezes
não nos respeitam. Não sei sentem-se ameaçados ou se é imaturidade
mesmo. Os profissionais (Stafs) costumam nos respeitar e valorizar nosso
trabalho.”(E2).
De acordo com as falas se pode perceber que as entrevistadas sentem-se
respeitadas e valorizadas, apesar de referir que em alguns momentos não se
sentem respeitadas. Isto nos levou a refletir que, mesmo uma das entrevistadas
haver referido se sentir respeitada, conforme a equipe com quem trabalha. Podemos
afirmar que, o respeito vem do saber cientificamente, e da prática efetiva mostrando
capacidade de assumir, é uma das formas em que se conquista o espaço.
Pois, legalmente há o respaldo da resolução 223/99 do Cofen (1996), que
dispõe sobre a atuação de enfermeiros na assistência a mulher no ciclo gravídico
puerperal fornecendo-lhe espaço profissional, de forma ética a conquistar no âmbito
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da obstetrícia, seu espaço. Dentre suas competências estão: a assistência de
Enfermagem à gestante, parturiente e puérpera; acompanhamento da evolução e do
trabalho de parto, execução e assistência obstétrica em situação de emergência;
assistência à parturiente e ao parto normal; identificação das distócias obstétricas,
dentre outras.
Segundo Barros e Silva (2004), o processo de parturição é uma etapa de
importantes mudanças para a parturiente, recém-nascido e familiar e o cuidado
prestado pela equipe multidisciplinar é de marcante significância no discernimento
do processo, podendo esse ser o momento do profissional mostrar suas habilidades
técnicas, científicas e humanísticas no processo de parir e nascer.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com os dados obtidos neste estudo, as enfermeiras obstetras
demonstraram que, ao optarem pela obstetrícia, projetaram perspectivas futuras, no
entanto, ao exercer a profissão, uma parte revelou não haver entusiasmo, ajustandose a uma situação que discorda. Por outro lado, outras demonstraram suficiente
saber e interesse em lutar pelos direitos da categoria a modificar uma prática
arraigada, possibilitando a autonomia, para uma prática efetiva, e não ficar
condicionado a atuar conforme a equipe de plantão. E quando se trata de se reger
por si e o respeito na equipe que se encontra inserida, ficou evidenciado que ao
executar atividades de sua competência, já garantidas pela Lei do Exercício
profissional, gera insatisfação e conseqüentemente, desmotivação.
A remuneração do parto realizado pela enfermeira significa um avanço para
a profissão, incitando-os a busca por qualificação, capacitação e atualização,
melhorando cada dia mais a prática.
É necessária a descoberta de futuros profissionais, líderes para assumir sua
posição na sociedade, traçando estratégias viáveis que possam alcançá-las
permitindo às novas gerações uma enfermagem obstétrica abrangente, respeitada e
valorizada.
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Os achados indicam que há muita luta ainda, pois a questão é política,
bastando a categoria se mobilizar, fazendo valer o que já é seu por direito.
Entretanto, esse espaço deverá ser conquistado com o envolvimento de
todos os enfermeiros, não apenas como bons profissionais assistenciais ou
pesquisadores, mas também no campo sócio-político, iniciando pelos órgãos de
classe, daí ascendendo para posições no legislativo, executivo, seja no âmbito
municipal, estadual ou federal.
Os estudos são inacabáveis, portando, não terminam aqui, pode-se dizer
que esta pesquisa aponta para uma intervenção ético-político, a fim de que, a
profissão, tenha valores reais e não apenas ideais. Esta intervenção começa agora e
deve ser estendida a sala de aula, por meio de reflexões sobre a prática onde ocorre
a assistência à mulher que se encontra no período gravídico-puerperal. De forma a
haver a realização profissional em sua em plenitude.
REFERÊNCIAS
1 MERIGHI MAB, Trajetória profissional das enfermeiras obstétricas egressas da
Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo: um enfoque da
fenomenologia social. Rev Latino-am enfermagem 2002 setembro/outubro;
5(10):644-53.
2 ARAÚJO, N.R.A.S; OLIVEIRA, S.C. A visão do profissional médico sobre a
atuação da enfermeira no centro obstétrico de um hospital escola da cidade do
Recife-Pe. Cogitare Enferm 2006 jan/abr; 11(1): 31-8.
3 PROGIANTI, J.M; PENNA,L.H.G; VARGENS,O.M.C. As enfermeiras obstétricas
frente ao uso de tecnologias não invasivas de cuidado como estratégias na
desmedicalização do parto.Escola Anna Nery. Revista enfermagem agosto 2004
8(2): 194-7
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4 RIESCO MLG, TSUNECHIRO HBC. Realidade e expectativas do estudante de
enfermagem quanto à capacitação e qualificação na área de enfermagem obstétrica.
Nursing: rev técnica de enfermagem 2002 outubro; 5(53):15-21.
5 MINISTÉRIO DA SAÚDE (BR). Estratégias para redução de partos cirúrgicos.
Brasília (DF); 2004.
6 MINISTÉRIO DA SAÚDE (BR). Sistema Único de Saúde. Datasus Tabnet:
nascidos vivos. Brasil(DF); 1996.
7 MINISTÉRIO DA SAÚDE (BR). Portaria GM/MS nº 2815 de 29 de maio de 1998.
Unidade que realiza assistência ao parto sem distocia por enfermeira. Brasília (DF);
1998.
8 CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGE DO CEARÁ. Lei n° 7.498 de 25 de
junho de 1986. Lei do Exercício profissional nº. 7.498 de 25 de junho de 1986.
Dispõe sobre a regulamentação do Exercício de Enfermagem e dá outras
providências. Legislação Rio de Janeiro (RJ); 2005.
9 CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DO CEARÁ, Decreto 94.406, de 08
de junho de 1987. Regulamenta a Lei n° 7.498 que dispõe sobre o Exercício da
Enfermagem e dá outras providências. LegislaçãoRio de Janeiro (RJ); 2005.
10 CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM (COFEN) - Resolução COFEN n°
223 de 03 de dezembro de 1999. Dispõe sobre a atuação de enfermeiros na
assistência a mulher no ciclo gravídico puerperal. In: Pereira VM, Maranhão AMSA,
Andreoni S. Dispositivos legais relacionados à saúde da mulher e do recém nascido – Manual. São Paulo (SP): ABENFO –SP; 2002.
11 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS). Assistência ao parto normal:
um guia prático. Genebra: Organização Mundial da Saúde; 1996.
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Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido
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15
12 POLIT DF, BECK CT, HUNGLER BP. Fundamentos de pesquisa em
enfermagem: métodos, avaliação e utilização. Porto Alegre (RS): Artmed; 2004.
13 MARCONI MA, LAKATOS EM. Técnicas de pesquisa: Planejamento e
execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisa, elaboração,
análise e interpretação de dados. São Paulo (SP): Atlas; 2001.
14 MINISTÉRIO DA SAÚDE (BR). Resolução CNS nº. 196, de 10 de outubro de
1996. Aprova diretrizes e normas técnicas regulamentadoras de pesquisas
envolvendo seres humanos. Legislação Diário Oficial da União; 1996.
15 MINAYO MCS. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Petrópolis (RJ):
Vozes;
2001.
16 PROGIANTI JM, PENNA LHG, CHRISTOFFEL M. Parto e nascimento: reflexões
de enfermeiras obstétricas. Enfermagem atual 2004 março/abril; 4(20).
17 NUNES IM, FERREIRA SL, PAIVA MS. Características do trabalho da enfermeira
obstetra. Texto e Contexto Enfermag 2003 outubro/dezembro; 12(4):504-9.
18 BARROS LM, SILVA RM. Atuação da enfermeira na assistência a mulher no
processo de parturição. Texto e Contexto Enfermag 2004 julho/setembro;
13(3):376-82.
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PROCESSAMENTO DE DADOS RELACIONADOS ÀS GESTANTES NA
ATENÇÃO BÁSICA SOB A ÓTICA DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE
1.
2.
3.
4.
Danúbia Mariane Barbosa Jardim
Helena de Oliveira Rocha
Maria Aparecida Mendes
Raquel Gomes
1. Mestranda pela Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais
Enfermeira Obstetra do Hospital Sofia Feldman e Centro de Parto Normal Doutor David
Capistrano. Endereço: Rua Estoril, n 41, apt 303 bl 11, São Francisco, BH, cep 31255190
e-mail: [email protected]
2. Graduanda do Centro Universitário UNA
3. Graduanda do Centro Universitário UNA
4. Graduanda do Centro Universitário UNA
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PROCESSAMENTO DE DADOS RELACIONADOS ÀS GESTANTES NA
ATENÇÃO BÁSICA SOB A ÓTICA DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE
A importância que a informação vem assumindo na sociedade moderna é cada vez mais
expressiva. Mudanças e alterações são introduzidas em nosso cotidiano, através de
inovações tecnológicas e metodológicas que repercutem diretamente no conteúdo, formato
e na divulgação da informação produzida. Os Sistemas de Informação em Saúde (SIS) são
instrumentos gerenciais de grande importância para a alimentação de dados que
possibilitam o acompanhamento das ações e dos resultados das atividades de saúde em
atenção básica. Neste contexto emergiu a problematização da pesquisa em questão no
intuito de investigar como se processa a informação em saúde no âmbito da rede básica no
município de Belo Horizonte, tendo como foco o processamento dos dados referentes às
gestantes sob a ótica dos próprios profissionais que trabalham nos centros de saúde e
visando o aprimoramento do processo. Trata-se de um estudo feito na perspectiva da
abordagem qualitativa de pesquisa, com o objetivo de compreender como se processam as
informações relacionadas às gestantes na rede básica de saúde do Município de Belo
Horizonte, Minas Gerais, sob a ótica dos profissionais da saúde. O estudo teve como
cenário quatro centros de saúde e a coleta de dados foi realizada através de entrevistas
semi-estruturadas com quatro enfermeiros e um médico, que trabalham nas referidas
unidades. Os discursos dos profissionais foram submetidos à técnica de análise proposta
por Fiorin e Savioli (1994), tendo como base a análise de conteúdo (BARDIN, 2004). A
análise dos discursos fez emergir as seguintes categorias: A) Conhecimento e
responsabilização dos profissionais acerca do funcionamento do sistema de informação em
saúde; B) Estrutura sistemática de informatização de consultas pré-natais: o que fazer para
melhorar?; C) Fluxo de informações no SIAB: falha na realimentação sistemática das
informações geradas pelos centros de saúde. Os profissionais relatam como compreendem
o fluxo das informações na atenção básica, em especial informações relacionadas às
gestantes, sendo possível destacar quais são as fragilidades identificadas neste processo,
como a falta de domínio dos profissionais perante o sistema de informação, a inexistência
de realimentação dos dados entre os níveis municipal, estadual e federal, entre outros. Além
disso, foi possível conhecer as opiniões dos entrevistados sobre estratégias de melhoria
para este processo. Os resultados envolvidos nesta pesquisa servem não só como
instrumento de aprendizagem, mas também para contribuir com reflexões sobre o
processamento do sistema de informação em saúde utilizado atualmente, buscando o
aperfeiçoamento do mesmo pela capacitação dos profissionais que com ele trabalha. Pois a
partir do conhecimento de onde estão os erros na execução do processo, é mais fácil definir
ações que possam tornar os profissionais hábeis nessa responsabilidade. A ação
estratégica que, de imediato, poderia solucionar tal impasse, seria uma maior
atenção dos gestores de saúde em proporcionar capacitação/qualificação dos
profissionais das equipes de saúde de forma mais aprofundada e consistente. É
extremamente importante que lhes seja esclarecido toda a potencialidade existente
num sistema de informação bem utilizado, gerando o interesse e comprometimento
dos mesmos com a produção de informações em suas área de abrangência e
tornando-os capazes de manipular tais sistemas com o intuito de planejar a
aprimorar suas ações de impacto para a população, objeto central de todo o trabalho
do setor saúde.
Palavras – chave: Programa de Saúde da Família; Sistemas de Informação em Saúde;
Sistema de Informação da Atenção Básica; SISPRE-Natal.
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1. INTRODUÇÃO
1.1 Apresentação
A importância que a informação vem assumindo na sociedade moderna é
cada vez mais expressiva. Mudanças e alterações são introduzidas em nosso
cotidiano, através de inovações tecnológicas e metodológicas que repercutem
diretamente no conteúdo, formato e na divulgação da informação produzida
(BRANCO, 2001). E isto é realidade nos mais diversos campos do conhecimento
humano, podendo-se dizer que se vive hoje na era da informação.
A informação é algo fundamental no trabalho dos profissionais de saúde.
Informações sobre os pacientes, sobre as patologias, o histórico, doenças
recorrentes, enfim, é ela que trará formas de se lidar corretamente com as situações
e as pessoas no dia-a-dia.
O setor saúde no Brasil tem passado por importantes transformações nas
últimas duas décadas. Do ponto de vista institucional, foi nos anos 90 que se
consolidou a formação do Sistema Único de Saúde o que significou mudanças
importantes na gestão e provisão dos serviços de saúde. Dentre todas as mudanças
que vêm ocorrendo, o Programa de Saúde da Família (PSF) constitui um grande
passo no que se concerne a reorganização da atenção básica (BRASIL, 1999).
Atualmente a atenção primária representa um esforço para que o sistema de
saúde se consolide, tornando-se mais eficiente, fortalecendo os vínculos entre os
serviços de saúde e a população e contribuindo para a universalização do acesso e
a garantia da integralidade e eqüidade da assistência (BRASIL, 1998).
Um dos caracteres de diferenciação desse processo é que os profissionais
das equipes de saúde devem conhecer o município onde atuam. Por sua vez, para
garantir a vinculação e identidade cultural com as famílias sob sua responsabilidade,
os agentes comunitários de saúde (ACS) devem pertencer às comunidades de suas
respectivas áreas de atuação. Os princípios da estratégia de saúde da família são:
adscrição de clientela, territorialização, diagnóstico da situação de saúde da
população e planejamento baseado na realidade local (programação das atividades
segundo critérios de risco à saúde, priorizando solução dos problemas).
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Para que os serviços de saúde tenham conhecimento atualizado e
estruturado das condições de saúde da população do seu território, é necessário um
planejamento adequado de suas ações e utilização de instrumentos viáveis e
factíveis no seu cotidiano. Assim sendo, a análise das informações disponíveis é de
suma importância, especialmente aquelas referentes e provenientes de indicadores
locais. Estas, na sua maioria, são oriundas de algum sistema de informação em
saúde (SIS). Os SIS têm a intenção de facilitar a formulação e avaliação das
políticas, planos e programas de saúde, subsidiando o processo de tomada de
decisões, a fim de contribuir para melhorar a situação de saúde individual e coletiva
(BARBOSA, 2006).
Na atenção básica tem-se o Sistema de Informação da Atenção Básica –
SIAB como o principal SIS utilizado nas Unidades de Saúde da Família. É dele que
provem à maioria dos instrumentos e fichas que a equipe preenche e têm como
fonte de informações. Os dados inseridos no SIAB são as informações coletadas
pelos ACS nas visitas domiciliares, juntamente com as informações das atividades e
procedimentos realizados por todos os profissionais da equipe, além da notificação
de algumas doenças ou condições que são objeto de acompanhamento sistêmico
(BRASIL, 2003).
Os profissionais de saúde, em sua maioria, o tem como uma ferramenta de
trabalho poderosa para melhoria de perfil epidemiológico, mas que é subutilizado.
Esta subutilização se dá muitas vezes devido a: limitações e falhas do sistema; por
ser puramente quantitativo; pela fragilidade no conhecimento da equipe e
despreparo para extrair toda sua capacidade; por uma ausência de treinamentos; e
pela falta de incentivo para análise dos dados em nível local (BARBOSA, 2006).
No caso do município de Belo Horizonte, a prefeitura criou um sistema
diferenciado, chamado Sistema Fênix, que é alimentado pelas fichas 2F6-N e 2Q6N, preenchidas manualmente pelos agentes comunitários de saúde. A consolidação
dos dados destas fichas é digitada mensalmente para alimentar o SIAB e outros
sistemas de informação federais.
Mediante o exposto, emergiu a problematização da pesquisa em questão no
intuito de investigar como se processa a informação no âmbito da rede básica de
saúde de Belo Horizonte, já que o SIAB não é utilizado neste município de forma
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direta. Para que mais detalhes fossem descritos e, sendo o SIAB responsável pela
informação de diversos segmentos da população, decidiu-se que o foco seria o
processamento dos dados referentes às gestantes: quem processa a informação,
qual a metodologia utilizada e se a mesma está de acordo com os princípios éticos e
técnico-científicos preconizados, tendo como base a vivência dos próprios
profissionais que trabalham nos centros de saúde e visando o aprimoramento do
processo.
2. OBJETIVO
Compreender como se processam as informações relacionadas às gestantes
na rede básica de saúde do Município de Belo Horizonte, Minas Gerais, sob a ótica
dos profissionais da saúde.
3. PERCURSO METODOLÓGICO
Para apreender o fenômeno a ser investigado, como se processa o sistema
de informação na rede básica de saúde de Belo Horizonte, realizou-se uma pesquisa
com a abordagem qualitativa. Essa opção de estudo oferece, entre outras
possibilidades, uma flexibilidade analítica que permitirá a interação entre o
pesquisador e os sujeitos da pesquisa. Trata-se também de um estudo de caso de
caráter descritivo exploratório, cujo propósito é observar, descrever e explorar
aspectos de uma situação. Segundo Yin (2005) o estudo de caso vem sendo
utilizado de forma extensiva em pesquisas da área das ciências sociais, como
estratégia adequada, quando se trata de fenômenos contemporâneos inseridos em
contextos da vida real e podem ser complementados por outras investigações de
caráter exploratório.
A pesquisa foi realizada em quatro centros de saúde das regionais Barreiro,
Norte e Oeste, do Município de Belo Horizonte, no período de setembro a outubro de
2008. Sendo a amostra estudada constituída por quatro enfermeiros e um médico
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destas unidades, sendo utilizado o critério de saturação para a interrupção das
entrevistas. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas em local reservado,
após assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido, sendo o pesquisado
informado sobre os riscos envolvidos na pesquisa. Segundo Minayo,
“... o que torna a entrevista o instrumento privilegiado de coleta de
informações para as ciências sociais é a possibilidade da fala ser
reveladora de condições estruturais, de sistemas de valores, normas e
símbolos (sendo ela mesma um deles) e, ao mesmo tempo, ter a
magia de transmitir, através de um porta voz, as representações de
grupos determinados, em condições históricas, socioeconômicas e
culturais específicas” (MINAYO, 1999, p.47 ).
Todas as entrevistas foram agendadas e os depoimentos gravados, assegurando o
anonimato dos participantes. Num segundo momento, as entrevistas foram transcritas na
íntegra para organização e análise exaustiva dos dados. Para proceder a análise dos dados
e construção das categorias analíticas optou-se em adotar a técnica denominada Análise de
Discurso (AD), pois ela permite considerar a significação do discurso no contexto histórico
do processo de produção. A AD produz um conhecimento a partir do próprio texto, porque o
vê como tendo uma materialidade simbólica própria e significativa, contendo uma espessura
semântica: ela o concebe em sua discursividade. A leitura na íntegra de cada entrevista
buscou subtrair a essência dos fatos e estabelecer relações entre as figuras e os temas
para, em seguida, categorizá-los por similaridade, conforme o método proposto por Fiorin e
Savioli (1997). E os dados coletados foram analisados a partir dos pontos de divergência e
dos eventuais pontos de convergência encontrados; devem-se elaborar quadros
explicativos, que poderão facilitar a redação posterior do trabalho, tornando claras estas
diferenças, igualdades, tendências ou regularidades (PÁDUA, 1991). Toda a pesquisa foi
realizada considerando os aspectos éticos que envolvem seres humanos, de acordo com a
Resolução n. º 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. O projeto foi aprovado pela
Comissão de Ética em Pesquisa do Centro Universitário UNA, de Belo Horizonte, Minas
Gerais.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na análise de discurso, feita segundo orientação de Fiorin e Savioli (1994), as
figuras e temas das entrevistas foram agrupadas o que permitiu a construção das
seguintes categorias empíricas:
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A) Conhecimento e responsabilização dos profissionais acerca do funcionamento do
sistema de informação em saúde.
B) Estrutura sistemática de informatização de consultas pré-natais: o que fazer para
melhorar?
C) Fluxo de informações no SIAB: falha na realimentação sistemática das
informações geradas pelos centros de saúde.
4.2.1
Conhecimento e
responsabilização dos
profissionais
acerca
do
funcionamento do sistema de informação em saúde
Filosoficamente, a definição clássica de conhecimento, originada em Platão,
diz que ele consiste de crença verdadeira e justificada.
E Aristóteles divide o
conhecimento em três áreas: científica, prática e técnica. Entre as diferentes
categorias ou tipos de conhecimento, destacam-se dois tipos distintos: O
conhecimento científico e o conhecimento empírico (DERRIDA, 1991).
O conhecimento científico é a explicação/ elucidação da realidade e decorre
de um esforço de investigação para descobrir aquilo que está oculto, que não está
compreendido ainda. Só depois de compreendido em seu completo modo de ser é
que um objeto pode ser considerado conhecido. Adquirir conhecimentos não é
compreender a realidade somente retendo informações, mas utilizando-se destas
para desvendá-las (LUCKESI, 1996).
Embora os mesmos trabalhem com o sistema, o discurso dos entrevistados
evidenciou a falta de domínio desses profissionais sobre tal ferramenta. Frases
como “eu não sei como”, “eu acho que é assim”, “provavelmente acontece dessa
forma” e os fragmentos a seguir revelam tal afirmação:
[...] bom [...] Nos centros de saúde o sistema de informação utilizado
na atenção básica é o Sistema Fênix [...] eu acho que é esse nome,
não tenho certeza [...] eu acredito que todos os dados coletados
através dele sejam convertidos em dados do SIAB lá na central de
dados, existente na Secretaria Municipal de Saúde e provavelmente
na Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais... Mas eu não sei
a forma como os dados são lançados para a central. (E1)
O SisPre-Natal eu nunca vi a cara dele. Eu só sei dizer do protocolo
de pré-natal de Belo Horizonte, que sigo para fazer minhas consultas.
[...] Eu não sei se somos nós, profissionais do centro de saúde, que
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deveríamos correr atrás da consolidação dos dados que geramos [...]
Sobre nossos dados, nossa cobertura de gestantes, eu sinceramente
não sei dizer [...] quem sabe informar melhor sobre isso são os ACS.
(E2)
O protocolo de atenção básica para o atendimento pré-natal do município de
Belo Horizonte define que numa equipe de PSF (Programa de Saúde da Família), o
atendimento à gestante deve ser intercalado entre médico generalista e enfermeiro.
Porém, em alguns centros de saúde, o atendimento é exclusivo do médico ou
exclusivo do enfermeiro, dependendo da dinâmica de grupo existente na equipe e da
competência do profissional.
Na modalidade de exclusividade do atendimento, isto não exclui o
envolvimento do outro profissional com a gestante. Mas é possível que, uma vez
definido que somente um profissional será responsável pelas consultas de pré-natal,
o outro não se disponha a conhecer o sistema de informação referido às gestantes,
por este grupo não fazer parte de sua rotina de atendimento. É o que nos indica o
fragmento a seguir:
Aqui no centro de saúde, cada equipe divide suas funções entre os
profissionais. No nosso caso, eu não faço o atendimento às gestantes.
Isso fica a cargo somente do médico da equipe. Por isso, eu não sei
informar direito sobre o funcionamento do fluxo de informações
referentes a este grupo de pessoas, porque eu nunca o utilizo. (E4).
Alguns problemas são discutidos em relação aos sistemas de informação da
atenção básica, pelo próprio Ministério da Saúde, e um deles é: “... capacitação
insuficiente das equipes para operar e utilizar as informações produzidas e falhas no
processo de coleta, na periodicidade e no fluxo de dado” (BRASIL, 2002, p.10). Mas
apesar disso, segundo Freitas e Pinto (2005), a persistência de vários problemas e
diversas dificuldades que, muitas vezes, se consolidam é devido, muito
provavelmente porque a população e os profissionais das instituições não visualizam
as possibilidades da utilização da informação como instrumento de negociação e
transformação da realidade – o SIAB deve ser considerado uma base de dados
fundamental para o trabalho no PSF.
Analisando o contexto descrito e tomando por base dados da observação
participante, pode-se afirmar que existe deficiência no planejamento das atividades,
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uma vez que os enfermeiros não requerem as informações a respeito de sua
produtividade, os resultados alcançados de sua equipe num determinado período. E,
portanto, não podem fazer uma análise aprofundada e mais criteriosa sobre o
impacto de suas ações.
Em estudo realizado anteriormente por Rodrigues et al, (2007) intitulado “Os
Sistemas de Informação em Saúde: Do Processo de Trabalho à Geração de Dados
em Minas Gerais”, conclui-se que em três municípios pesquisados foi relatado pelos
responsáveis das Secretarias Municipais de Saúde que a maioria das equipes de
saúde não utiliza as informações do sistema para fins de planejamento de suas
ações. Verificou-se que são inúmeras as situações encontradas nos municípios em
relação aos registros, fluxos, sistemas de informação e compromisso dos
profissionais, tanto dos funcionários administrativos dos municípios quanto dos
profissionais de saúde que atuam diretamente com a população. Em parte, a
aceitação das condições existentes deve-se à falta de conhecimento sobre a
necessidade de informações de qualidade para diagnóstico, monitoramento e
avaliação das ações de saúde, e em parte à própria negligência dos profissionais
que atuam nas diversas instâncias em que esses dados são gerados e transmitidos.
Essa negligência é verificada nos discursos da presente pesquisa, o que
mostra os seguintes trechos:
Sinceramente eu nunca vi os dados de minha produtividade, não sei o
que estou produzindo [...] E em relação especificamente aos dados de
gestantes, eu não faço o acompanhamento. Eu só abro o SisPré-Natal
e o médico da nossa equipe continua com as consultas. (E1)
Na nossa equipe, nós nunca tivemos interesse em buscar a
consolidação de dados. Até tivemos um treinamento bem no início da
implantação do sistema em Belo Horizonte, a respeito de como buscar
alguns dados no computador do próprio centro de saúde, mas eu
nunca utilizo isso. Deveria até utilizar mais. (E4)
Alguma coisa ou outra eu já tive interesse em buscar. Por exemplo
número de hipertensos acompanhados por nossa equipe. Mas dados
especificamente sobre as gestantes, nunca. [...] Se você identificar a
necessidade de alguma alteração no prontuário eletrônico, a empresa
de informática responsável permite que você envie a proposta de
alteração para os responsáveis, mas na correria do dia-a-dia ninguém
dar importância em fazer isso e não faz. (E2)
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Ao mesmo tempo em que se verifica essa tendência à desresponsabilização
dos profissionais de nível superior, os mesmos têm discursos freqüentes e bastante
parecidos quanto à importância da participação do agente comunitário de saúde no
fluxo de informações.
Para que a transferência de informação ocorra é necessário que se observem
alguns requisitos, uma delas é a qualidade da informação a ser transferida com a
capacidade do receptor em absorver conteúdos. Além disso, para que o processo
transcorra de maneira otimizada é indispensável a existência de grupos de
indivíduos em ambientes culturais com características semelhantes, chamados por
Miranda e Simeão de comunidades interpretantes (MIRANDA; SIMEÃO, 2004).
Por se tratar de um indivíduo pertencente à própria comunidade onde
trabalha, o ACS possui o nível de conhecimento daquela localidade, e, uma vez
participado de treinamento por especialistas da área, pode funcionar como mediador
no processo de transferência de informação (FUNAI et al, 2007).
O ACS é nosso primeiro contato com as famílias da área. Ele tem sob
sua responsabilidade duas fichas do Sistema Fênix, ficha 2F6N e
2Q6N. Sobre a gestante em específico, há vários questionamentos
que devem ser respondidos na folha. No final do mês o ACS fecha os
dados de toda sua microárea adstrita através da segunda ficha, que
serve como consolidado de dados. [...] O consolidado de dados dos
ACS é muito importante. E o bom é que eles o fazem à mão e,
portanto, nós, enfermeiros temos mais controle das informações
através desse profissional. (E1)
[...] A informação de que há uma nova gestante na nossa área pode
surgir de duas formas, principalmente: ou a mulher vem até o centro
de saúde espontaneamente para sanar a dúvida se está grávida ou
então é o ACS que comunica à equipe sobre uma nova gestante. [...]
E quando uma gestante não vem para uma consulta marcada, eu
preciso do ACS para buscar o porquê da falta dessa pessoa, pra
depois remarcarmos. [...] A nossa cobertura atual de gestantes quem
sabe informar melhor são os ACS. (E2)
O ACS tem um papel fundamental no processamento das informações, pois é
ele a ponte entre a família e a equipe da unidade básica de saúde. É ele também
que anota as informações coletadas adquiridas através de visitas domiciliares,
tentando assim registrar os dados com a mais clareza possível. O discurso dos
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entrevistados evidenciou que os profissionais de nível superior estão cientes da
importância do ACS e confirmam que o trabalho de um depende do outro.
Os sistemas da atenção básica contribuem para que os membros da equipe
agreguem os dados das famílias da área de abrangência da UBS. Podendo após
análise e reflexão determinar as prioridades de atenção à saúde a partir dos perfis
epidemiológicos, e principalmente, para a fiscalização da aplicação dos recursos
públicos destinados à área social, verificando assim se a operacionalização do SUS
está se concretizando (NICHIATA; FRACOLLI, 2004).
4.2.2 Estrutura sistemática de informatização de consultas pré-natais: o que
fazer para melhorar?
De acordo com o Manual Técnico de Assistência ao Pré- Natal, (BRASIL,
2005) a consulta destinada à mulher gestante, no contexto da atenção básica,
insere-se no Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher. O enfermeiro é
citado no manual como profissional apto a realizar as consultas de pré-natal no
acompanhamento de gestantes com baixo risco obstétrico, em conformidade com o
previsto na Lei 7498 do Exercício Profissional.
Conforme o referido manual, todos os esforços, na atenção básica, devem ser
desenvolvidos no sentido de garantir o desenvolvimento de uma gravidez segura,
sendo preconizadas ações de prevenção de agravos, promoção da saúde e
tratamento dos problemas que ocorrem durante o ciclo gravídico-puerperal.
Conforme protocolo de atenção saúde da Mulher da prefeitura de Belo
Horizonte (2008) a primeira consulta, necessária para o cadastramento da gestante,
deve ser realizada pelo enfermeiro ou pelo médico, enfocando os seguintes itens:
Anamnese: verificar a idade gestacional, data provável do parto, esquema vacinal, a
atualização do exame preventivo, identificação de doença pregressa, gestação de
risco, fazer a avaliação do estado geral/psicológico e levantamento de informações
sobre gestações e aleitamento anteriores.
Quanto ao exame físico da cliente, o protocolo norteia para a realização dos
seguintes procedimentos: ausculta de batimentos cardio-fetais, mensuração de
fundo uterino, avaliação das mamas, verificação da presença de edema, coleta de
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material histológico para realização de exame preventivo, a verificação da pressão
arterial e exame ginecológico. Há ainda os exames laboratoriais de rotina no prénatal que devem ser solicitados e os resultados devidamente registrados.
O preenchimento da ficha específica de Sispré-natal que, contém campos
para serem preenchidos todos os itens mencionados acima, deve ser realizado a
cada consulta e ao final agendar os retornos.
Diante das falas dos entrevistados, foi possível perceber que, apesar de o
sistema de consultas de pré-natal apresentar uma cobertura bem abrangente para o
acompanhamento das gestantes e um protocolo eletrônico com uma boa estrutura, o
mesmo ainda apresenta lacunas. Isto porque, segundo os entrevistados, quando a
gestante deixa de fazer acompanhamento com determinada equipe para procurar
atendimento por convênios não há como descrever no sistema que a mesma,
apesar de não estar sendo acompanhada por essa determinada equipe, não deixou
de receber acompanhamento particular.
[...]” Mas no caso de gestante que faz pré-natal particular, nós do
centro de saúde, não alimentamos isso. Então, se a microárea tem
muita gestante que faz esse tipo de acompanhamento fora da unidade
básica, fica-se como se essas gestantes não fossem atendidas. Então
gera o conflito de informações. Portanto,os dado tem que ser sempre
contextualizado. Porque não há espaço no sistema para as
justificativas.”[...] (E3).
[...]” O protocolo informatizado é um pouco “engessado”, mas serve
bem. Alguns dados importantes não têm campo próprio, aí eu
descrevo tudo na parte livre para notas do exame físico. Algumas
coisas que escrevo não saem na impressão, então depois tem que
reescrever...”[...](E2).
Conforme dados relatados nas entrevistas, esse fator prejudica a realização
do detalhamento de quais gestantes estão sendo acompanhadas pela unidade
básica de saúde e quais não estão.
[...] tem sempre aquelas gestantes que não fazem acompanhamento
aqui, fazem pelo convênio e outras que não conseguimos captar. Eu
sei que tem uma gestante adolescente que faz pré-natal de alto risco
e com ela eu não tenho contato e algumas fazem o acompanhamento
particular.[...] (E1).
Tais relatos demonstram a falha do sistema em relação ao que é preconizado
pelo Programa de Humanização do Pré-Natal e Nascimento (PHPN), que possui
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como um de seus objetivos o cadastramento de todas as gestantes adscritas na
área de abrangência de uma unidade básica de saúde, levando a uma cobertura
efetiva dessas mulheres, com o inicio da assistência durante o pré-natal, se
estendendo ao parto e puerpério (BRASIL, 2005).
Em virtude dos problemas levantados, os entrevistados opinaram sobre o que
pode ser feito para melhorar o sistema. E mais uma vez, a questão da participação
efetiva do profissional foi levantada.
A estratégia principal é que haja discussões entre os profissionais da
ponta: enfermeiros, médicos... Ver o que realmente precisamos e
afinar isso. O sistema é bom, mas ele precisa ser mais bem
estruturado na questão de recuperação de dado. [...] Tem também a
questão de que deve haver mais computadores disponíveis, pois nem
sempre há. Se o sistema é informatizado não adianta preencher nada
no papel. Outra coisa importante também é que tudo deve ser
preenchido corretamente. Ás vezes o profissional não preenche todos
os campos do sistema, gerando dificuldades para os dados das
gestantes [...] É necessário comprometimento por parte do
profissional. (E3)
Em relação ao protocolo informatizado, pouca coisa é necessária.
Talvez a forma como os medicamentos estão dispostos no formulário,
alguns vêm com escrita errada... Mas na verdade o sistema é aberto a
alterações. O ideal seria que sempre que você identificar a
necessidade de alterar alguma coisa, mandasse a proposta para a
PRODABEL [Empresa de Informática da Prefeitura de Belo Horizonte].
O problema é que na correria do dia-a-dia ninguém faz isso. ( E2).
Bohm (1989), afirma que uma forma estruturada de armazenar dados e
informações, que podem posteriormente ser utilizados, são as bases de dados,
coleções integradas de dados organizados em arquivos. Este conjunto de
informações tem por objetivo facilitar o dia-a-dia dos enfermeiros, tanto nas
atividades administrativas, assistenciais, educativas e de pesquisa. Portanto, é de
grande valia que as discussões sobre possíveis ações visando a melhoria do
processamento de dados, incluindo a capacitação dos profissionais a ele
relacionado, devam existir e passar do campo teórico para o campo prático.
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4.2.3 Fluxo de informações no SIAB: falha na realimentação sistemática das
informações geradas pelos centros de saúde.
Na área de saúde o enfermeiro é o profissional que cada vez mais vem sendo
requisitado à desempenhar funções gerenciais em todos os níveis de atenção à
saúde, principalmente na saúde coletiva. O enfermeiro na função gerencial enfrenta
constantemente situações diversas e adversas que necessitam de tomada de
decisão e esta, por sua vez, necessita de informações muitas vezes conseguidas
por um processo de avaliação.
A importância da avaliação na área de saúde deve-se ao seu caráter
processual, multidisciplinar e social, e situa-se na possibilidade de extrair subsídios
para a tomada de decisão, de verificação da eficácia, da efetividade e da eficiência
das ações de saúde desenvolvidas e na possibilidade de redirecionamento das
mesmas para as reais necessidades da comunidade (BRANCO, 1996).
Assim, a contribuição que a avaliação pode proporcionar é inestimável, não
apenas no sentido de apontar acertos e ou falhas, mas principalmente por
possibilitar o delineamento de soluções, reorganizar atividades e serviços,
vislumbrando caminhos alternativos, com o intuito de maximizar a utilização de
recursos disponíveis. Este aspecto tem sido relevante, principalmente em países de
recursos financeiros escassos. O alto custo da atenção à saúde exige dos gestores
decisões que beneficiem maior número de usuários e que consigam resultados mais
eqüitativos com os mesmos recursos disponíveis (MELO, 2001).
O discurso comum na maioria das entrevistas realizadas aponta para a
dificuldade de realizar essa avaliação do serviço prestado devido a falta de
realimentação do sistema de saúde vigente.
[...] Mas, sinceramente, eu nunca vi minha própria produção, não sei o
que eu estou produzindo, eu acredito que o SIAB é a melhor forma,
pois com ele você vê o que produz. Por exemplo, num município
menor, como o que eu já trabalhei (Montes Claros) você consegue ver
o retorno do que você fez e dar esse retorno para a população. E
através da visualização desse retorno, se torna possível comparar
dados reais dos períodos em que a produção esteve melhor ou esteve
pior, chegar às causas de porque há essa diferença... Então, com o
SIAB, você vê o que você fez, vê o que pode melhorar... Como em
Belo Horizonte cada equipe tem a sua, e a produção nossa vai para o
sistema, se nós mesmos não formos atrás para conhecermos os
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dados que produzimos num mês, o que se pode melhorar para o mês
que vem, nunca conheceremos isso... Não temos esse retorno. [...]
Nisso o sistema peca. E peca muito. (E1)
Segundo Silva et al (2005), a realimentação dos sistemas de informações
deve ser considerada como um dos aspectos fundamentais para o processo
continuado de aperfeiçoamento, gerência e controle da qualidade dos dados.
[...] E nuca chegou para nós os consolidados finais. Por exemplo,
nunca o distrito se preocupou em dar um retorno pra gente(E4).
[...] É. Seria interessante saber nosso
realimentação nós não temos.[...].(E2).
desempenho.
Essa
De acordo com Pinho (1995), importa levar em conta o fluxo da informação,
desde a coleta, processamento, análise, interpretação até a transferência aos níveis
decisórios, dando particular atenção à retroalimentação, porque estimula e reforça
os níveis geradores a prestarem melhor atendimento e a manterem a boa qualidade
dos dados.
[...]Em relação ao fluxo, temos uma dificuldade importante. Ele é
informatizado, mas o retorno dessa informatização nos é custoso[...] (
E3).
Nesta mesma linha de raciocínio Silva et al (2005) acrescentam e afirmam
que uma informação relevante pode gerar um conhecimento sustentado, o qual por
sua vez, pode levar à sua comunicação transparente, podendo resultar novas
informações e novos conhecimentos, de forma a se produzir uma realimentação de
todo o processo em questão.
Esta afirmativa demonstra a importância de o enfermeiro, ao gerenciar o
cuidado, conhecer a situação atual dos SIS, principalmente quando se diz respeito
ao SIAB, seus dados e indicadores existentes e disponíveis na base federal,
estadual e municipal. Para a partir deste dados institucionalizar e socializar os
mesmos para a comunidade, utilizando-o como instrumento de direcionamento das
ações de cuidado de saúde no seu município ou na sua área de atuação e avaliando
continuamente sua produtividade.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados envolvidos nesta pesquisa servem não só como instrumento de
aprendizagem, mas também para contribuir com reflexões sobre o processamento
do
sistema
de
informação
em
saúde
utilizado
atualmente,
buscando
o
aperfeiçoamento do mesmo pela capacitação dos profissionais que com ele
trabalha. Pois a partir do conhecimento de onde estão os erros na execução do
processo, é mais fácil definir ações que possam tornar os profissionais hábeis nessa
responsabilidade.
Quanto aos objetivos propostos inicialmente, pode-se dizer que foi possível:
identificar qual a metodologia utilizada pelos profissionais no processamento dos
dados referentes às gestantes; compreender como os profissionais percebem e
realizam o fluxo; e por fim, elucidar algumas debilidades e dificuldades neste
processamento.
Ao analisar cada discurso e um pouco da rotina destes profissionais no centro
de saúde, conclui-se que, a maioria deles defende verbalmente a importância dos
sistemas de informação em saúde, principalmente SIAB e SISPRENATAL. Todos
concordam que são instrumentos valiosos para o planejamento, tratamento e
acompanhamento das ações.
No entanto, na prática, esses sistemas são subutilizados pelos profissionais e,
portanto, não geram os resultados que gerariam se fossem arraigados a rotina de
trabalho, se todos discutissem mais a respeito. Os prováveis motivos para isso
acontecer, são diversos, pode ser por falta de treinamento adequado, que esclareça
ao profissional a importância destas ferramentas e o deixe preparado para manejálas satisfatoriamente; falta de incentivo, falta de tempo para se dedicar a este
assunto, priorização de outras atividades assistenciais que não as atividades
relacionadas à geração de dados e informações dentre outros problemas
levantados.
Um bom SIS depende da periodicidade do fluxo de fornecimento dos dados e
de um criterioso preenchimento dos instrumentos de coleta. Além disto, que
proporcione relatórios e resultados viáveis para utilização no planejamento de
atividades das unidades (BRASIL,1999). Mas é necessário que as pessoas
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envolvidas na sua manutenção tenham clareza sobre suas possibilidades para
assim conseguir extrair o seu potencial e transformar uma realidade local,
detectando focos prioritários, levando ao planejamento das suas atividades e ao
norteamento e execução das ações da equipe de forma adequada.
O próprio SIAB apresenta debilidades e deficiências, como foi pontuado na
pesquisa: a falha na realimentação de dados, a falha no cadastramento de gestantes
não acompanhadas na unidade básica de saúde. Mas alguns profissionais também
apresentam dificuldades na hora de manipulá-lo, tanto na alimentação do SIS
quanto na análise crítica de seus relatórios, pois isto não é adotado como rotina nas
unidades (MELO, 2001). Isto se torna, portanto, o principal problema identificado no
processamento das informações em saúde.
A ação estratégica que, de imediato, poderia solucionar tal impasse, seria
uma maior atenção dos gestores de saúde em proporcionar capacitação/qualificação
dos profissionais das equipes de saúde de forma mais aprofundada e consistente. É
extremamente importante que lhes seja esclarecido toda a potencialidade existente
num sistema de informação bem utilizado, gerando o interesse e comprometimento
dos mesmos com a produção de informações em suas área de abrangência e
tornando-os capazes de manipular tais sistemas com o intuito de planejar a
aprimorar suas ações de impacto para a população, objeto central de todo o trabalho
do setor saúde.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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PROCESSO DA PARTURIÇÃO VIVENCIADO POR MULHERES
ACOMPANHADAS POR DOULAS
MARTA MARIA SOARES HERCULANO1
PATRÍCIA LINARES BASTOS2
LYDIA VIEIRA FREITAS3
ANA KELVE CASTRO DAMASCENO4
ANA KARINA BEZERRA PINHEIRO5
1. Enfermeira da Maternidade Escola Assis Chateaubriand. Especialista em
Obstetrícia. Mestranda em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará.
Membro do Grupo de Pesquisa / CNPq: Enfermagem na Promoção da Saúde
Materna. Rua Ministro Joaquim Bastos, 471, apto. 701, Fátima, Fortaleza/CE,
CEP 60415-040, E-mail: [email protected]. Tel. (85) 3257.3877,
(85) 9992.2196.
2. Enfermeira do Hospital Curadars. Rua 24 de Maio, 1130 – Centro, Fortaleza/CE,
CEP 60020-001, e-mail: [email protected], Tel. (85)
8827.9950.
3. Enfermeira. Mestranda em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará.
Membro do Grupo de Pesquisa / CNPq: Enfermagem na Promoção da Saúde
Materna. Av. Porto Velho, 650, Henrique Jorge, Fortaleza-CE, CEP: 60510-040.
E-mail: [email protected] . Tel: (85) 3233-4024 / (85) 8899-0803.
4. Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta do Curso de
Enfermagem da Universidade Federal do Ceará. Rua Alexandre Baraúna, 1115
– Rodolfo Teófilo – Fortaleza/CE, e-mail: [email protected], Tel. (85) 32851476 / (85) 9991-9360 / (85) 8789-6964 / (85) 3366-8454.
5. Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta do Curso de
Enfermagem da Universidade Federal do Ceará, Rua Alexandre Baraúna, 1115
– Rodolfo Teófilo – Fortaleza/CE, e-mail: [email protected]
1
PROCESSO DA PARTURIÇÃO VIVENCIADO POR MULHERES
ACOMPANHADAS POR DOULAS
Resumo
A presença de um acompanhante para auxiliar a parturiente durante o trabalho de parto
configura-se uma importante estratégia de resgate da humanização do parto e nascimento.
Com base nisto, realizou-se um estudo descritivo, com abordagem qualitativa, cujo objetivo
foi compreender a parturição de mulheres acompanhadas por doulas. Foram entrevistadas
12 puérperas em uma maternidade de Fortaleza-Ce. Os dados foram coletados por meio de
um formulário semi-estruturado sobre vivências de parturição, bem como o suporte de
doulas durante este processo, de agosto a outubro de 2008. A análise dos dados ocorreu
através da técnica de análise de conteúdo dividida em três etapas: pré-análise, exploração
do material e tratamento dos resultados. Os dados foram adequados em duas categorias. A
primeira se referia à vivência do trabalho de parto e parto, que apontou como negativo o
fato de as mulheres se referirem ao parto como um evento doloroso, moroso e cansativo.
Quanto a experiências positivas, algumas entrevistadas informaram que seu trabalho de
parto e parto foram mais rápidos e menos dolorosos e traumáticos do que esperavam. A
categoria suporte intraparto realizado por doulas foi descrita pelas mulheres como
positivo, que influenciou diretamente o desempenho das mulheres durante o trabalho de
parto e parto. Conclui-se que as atividades e orientações realizadas pelas doulas foram de
extrema relevância para as parturientes, embora ainda haja muito a se aperfeiçoar.
Palavras-chave: Enfermagem obstétrica; Trabalho de parto; Parto Normal.
2
INTRODUÇÃO
A evolução histórica da assistência obstétrica as mulheres vem nos últimos
séculos passando por diversas modificações, seja na mudança de cenário de
acontecimento do parto ou no aumento do número de intervenções intrahospitalares,
contribuindo para que a mulher passe a ser um agente passivo nesse processo tão
dinâmico que é o parto.
Em meados do século XIX iniciou-se o processo de institucionalização da
assistência ao parto. Neste período a obstetrícia passou a ser incorporada pela
medicina e a tradição de familiares participarem do nascimento, principalmente as
mulheres, foi sendo desconsiderada, e as mães passaram a ser atendidas nos
hospitais apenas por profissionais de saúde, permanecendo sozinhas durante um
longo período do trabalho de parto (LEÃO e BASTOS, 2001).
Concomitante a isto, o apoio oferecido à mulher durante o parto foi substituído
por um conjunto de ações medicalizadoras, subestimando-se a importância do
tratamento humanizado embasado nas necessidades da parturiente a fim de se
obter um parto mais tranqüilo, saudável e menos traumatizante para mãe e bebê.
A atenção humanizada é um conceito amplo o qual envolve um conjunto de
conhecimentos, práticas e atitudes que visam à promoção do parto e do nascimento
saudáveis e a prevenção da morbi-mortalidade materna e perinatal (BRASIL, 2000).
Para oferecer esta atenção humanizada no que se refere à assistência à
mulher, é imperioso a compreensão da gestação, do parto e do puerpério como
eventos naturais da vivência reprodutiva feminina. E para que tal experiência seja
especial, positiva e enriquecedora, é necessário que a mulher receba apoio e
incentivo por parte do parceiro, família e comunidade durante este processo.
A presença do acompanhante escolhido pela parturiente durante o trabalho
de parto, parto e pós-parto imediato, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), é
um direito assegurado pela Lei nº 11.108, de 07 de abril de 2005. O respeito à
escolha da mulher de ser acompanhada por pessoas em que confia e com quem se
sinta à vontade durante o trabalho de parto é ressaltado no Guia prático de
assistência ao parto normal da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Com o resgate da humanização da assistência ao parto e o nascimento, foi
necessário resgatar a figura da doula, que recebeu o papel de destaque no
acompanhamento de parturientes desde os primórdios da humanidade, sendo citada
3
no Manual de Humanização da Assistência ao Pré-Natal, Parto e Puerpério, como
aliadas no incentivo à humanização da assistência ao parto, aconselhando medidas
de conforto, proporcionando e orientando contato físico e explicando sobre o
trabalho de parto e procedimentos obstétricos que devem ser realizados.
"Doula" é uma palavra de origem grega que significa aquela que serve. As
doulas eram aquelas mulheres mais experientes no que tange à maternidade as
quais auxiliavam outras mulheres na hora do nascimento de seus filhos e nos
cuidados iniciais da criança (ANDO, 2006).
Ensaios clínicos sugerem que o acompanhamento da parturiente pela doula
reduz a duração do trabalho de parto, o uso de medicações para alívio da dor e o
número de partos operatórios. Além destas vantagens, também é observado que os
grupos de parturientes acompanhadas durante o parto pela doula têm menos
depressão pós-parto e amamentam seus recém-nascidos nas primeiras seis
semanas de vida em maior proporção que as parturientes dos grupos de controle
(LEÃO e BASTOS, 2001).
O recente manual de incentivo ao parto humanizado publicado pelo Ministério
da Saúde considera que a presença de uma pessoa treinada para acompanhar o
trabalho de parto não é dispendiosa nem requer infra-estrutura ou aparelhagem
específica, além de não apresentar prejuízo. A preocupação em melhorar a vivência
das parturientes estimula a implantação dessas ações, e tais medidas deveriam ser
objeto de estudos mais detalhados sobre sua efetividade em diferentes contextos,
com o objetivo de aumentar o conhecimento real de seus efeitos sobre a saúde.
Diante do exposto e redirecionando a nossa prática profissional que confirma
a fragilidade da parturiente no momento do parto e a necessidade de alguém estar
próximo a ela, surgiu interesse pelo estudo e considerando que se trata de uma
temática nova no Brasil torna-se fundamental a avaliação das iniciativas de
incorporação das doulas como suporte durante a parturição. Nessa compreensão
surge a seguinte questão: Como mulheres acompanhadas por doulas vivenciaram
seu processo de trabalho de parto e parto?
Nesse contexto temos como objetivo compreender a vivência da parturição de
mulheres acompanhadas por doulas.
CAMINHO METODOLÓGICO
4
Trata-se de um estudo descritivo, com abordagem qualitativa, pois esta
corresponde a indagações de cunho particular, por investigar um espaço de
acontecimento das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser
reduzidos à operacionalização de variáveis (MINAYO, 1993).
O estudo foi realizado no Alojamento conjunto-AC de pós-parto normal da
Maternidade Escola Assis Chateaubriand- MEAC que possui um projeto de doulas
estabelecido no Centro de Parto Humanizado.
Participaram do estudo, doze puéperas de parto normal, internadas no
alojamento conjunto, que foram acompanhadas por doulas, durante o trabalho de
parto e parto durante o período de agosto a outubro de 2008. Quanto ao número de
sujeitos, foi determinado pela saturação dos dados, quando as falas dos informantes
iniciam um processo de repetição. A técnica utilizada para a coleta de dados foi uma
entrevista semi-estruturada na qual o investigador encontra-se presente junto ao
informante, elaborando questões relacionadas ao seu problema (LEOPARDI, 2001).
Conforme determinado, a entrevista foi gravada e transcrita pelas pesquisadoras.
Os dados obtidos foram avaliados a partir da análise de conteúdo, que utiliza
três etapas para trabalho dos dados: a pré-análise, a exploração do material e o
tratamento dos resultados (BARDIN, 2004).
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da MEAC
através do ofício nº 088/08 sob o protocolo 50/08. Todo processo da pesquisa
obedeceu aos princípios éticos dispostos na Resolução Nº 196/96, do Conselho
Nacional de Saúde.
Os nomes citados ao longo deste estudo são fictícios e fazem referência a
deusas gregas: Afrodite (deusa do amor e da beleza), Ártemis (deusa dos
nascimentos), Atena (deusa da sabedoria), Deméter (deusa da fertilidade), Eileitia
(deusa do parto), Eirene (deusa da justiça), Gaia (deusa criadora), Hebe (deusa da
juventude), Hera (deusa protetora do casamento), Héstia (deusa da família) e Íris
(deusa mensageira), Thea (deusa da luz). Esses pseudônimos visam homenagear
as mulheres a que eles se referem, relacionando-se às qualidades de cada
participante, bem como garantir o anonimato.
5. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Inicialmente realizamos a caracterização sóciodemográfica e obstétrica das
participantes como forma de caracteriza melhor a nossa amostra.
5
Participaram deste estudo puérperas procedentes tanto de Fortaleza (11)
como do interior (1). O predomínio de entrevistadas oriundas da capital denota a
facilidade do acesso destas mulheres à instituição, bem como o fato da maternidade
ser referência no município.
A faixa etária das puérperas variou de 16 a 34 anos. Oito entrevistadas
tinham entre 20 e 35 anos e quatro eram menores de 19 anos. As idades das
puérperas entrevistadas no estudo de Silva e Siqueira7. tiveram correspondente
variação entre 15 a 36 anos. Ambos achados corroboram com os resultados do
estudo realizado pelo Ministério da Saúde o qual apontou para o início mais cedo da
vida sexual entre as nordestinas. Foi visto que, enquanto no ano de 1996 a idade
média da primeira relação sexual era de 19,4 anos, em 2006 essa média caiu para
16 anos (Brasil, 2008).
Em relação aos anos de estudo, nove puérperas tinham mais de oito anos de
estudo e três cursaram o ensino por menos de oito anos. O estudo realizado pelo
PNDS (2006) confirma esse resultado ao destacar que mais da metade das
mulheres brasileiras (54%) superaram os 8 anos de estudo e que 46% tinham
menos de oito anos de estudo, isto indica, portanto, que as brasileiras, no mínimo,
possuem o ensino fundamental completo. O supracitado estudo ainda confirma que
o acesso ao pré-natal aumenta com a progressão da escolaridade da mulher e tende
a diminuir com o aumento do número de filhos.
Entre as entrevistadas, nove afirmaram ter um relacionamento estável, seja
este formal ou não, e três eram solteiras. Esses dados nos fazem pensar que a
maioria das participantes possuía um apoio conjugal o qual apresenta importância
significativa no desempenho destas mulheres durante sua gestação e parto. Em um
estudo sobre o valor do suporte à parturientes foi encontrado perfil semelhante
entre as puérperas entrevistadas com relação à situação conjugal. A união estável,
incluindo consensual e formal, foi predominante, 80%. As solteiras somaram 20% da
amostra (SILVA e SIQUEIRA, 2007).
A renda familiar de oito puérperas foi de dois a três salários mínimos, uma
vivia com 1 salário mensal e duas se mantinham com menos de 1 salário mínimo por
mês.
Com relação aos dados obstétricos de nossa amostra, no que se refere a
paridade, nove eram multíparas e três eram primíparas. Quantitativamente, os
partos anteriores somaram 18 experiências pregressas, destes 17 foram vaginais e
6
uma cesariana. O fato de grande parte das mulheres possuírem uma vivência de
trabalho de parto e parto anterior possibilitou que as mulheres comparassem as
diferentes experiências vividas o que enriqueceu o presente estudo.
Com respeito ao número de filhos, sete mulheres tinham um ou dois filhos
sendo que: três estavam experienciando sua primeira gestação e quatro na segunda
gestação, uma destas tinha história de um aborto anterior. As outras cinco possuíam
três filhos ou mais, entre estas, três relataram um aborto anterior. Em uma pesquisa
com puérperas acompanhadas por doulas também foi expressivo o número de
mulheres com um ou dois filhos (70%) em comparação aquelas com três ou mais
rebentos (30%) (SILVA e SIQUEIRA, 2006). Esses resultados confirmam os dados
expostos pela pesquisa do Ministério da Saúde a qual revelou que o número de
filhos por mulher brasileira caiu de 3,1 para 1,8 entre 1996 e 2006, e a média de
idade para o primeiro filho que em 1996 era de 22 anos, em 2006, passou a ser de
20 anos (PNDS, 2006).
Com relação à análise quantitativa do pré-natal, o número de consultas, sete
entrevistadas relataram a realização de seis ou mais consultas, duas realizaram
entre uma a cinco consultas e três não realizaram acompanhamento de pré-natal
nesta última gestação. Este resultado responde às recomendações do PHPN. O
Ministério da Saúde evidenciou grandes avanços na região nordeste no que tange
ao acesso das mulheres ao pré-natal. Em 1996, 26,1% das grávidas não tiveram
acompanhamento durante a gestação (PNDS, 2006). Em 2006, esse número caiu
para 2,1%.
No que se refere ao qualitativo, de um modo geral, foi observado nas falas
das mulheres que realizaram pré-natal que houve a passagem de informações sobre
o trabalho de parto e parto durante as consultas realizadas, embora os discursos
apresentados mostrem conhecimentos superficiais e dispersos.
“Ela me falou sobre as posições certas e o jeito de colocar força” (THEA)
“Minha doutora falou como era bom ter o parto normal... que eu deveria
contar os minutos de uma contração para outra quando começasse a sentir
dor” (ARTÉMIS)
“O médico disse que quando tava em trabalho de parto primeiro a barriga
fica dura... depois começa a dor de cólica e a bolsa rompe.” (HÉSTIA)
Apesar de o pré-natal ser considerado um dos quatro pilares da maternidade
segura, poucas são as avaliações realizadas sobre a efetividade destes programas,
a fim de determinar quais intervenções teriam melhores resultados (GOODBURN e
CAPBELL, 2001; WHO, 2002).
7
Para garantir a mulher uma atenção de qualidade durante seu ciclo gravídicopuerperal é necessário o desenvolvimento de ações integradas onde a idéia do todo
não seja perdida (SERRUYA, LAGO e CECATT, 2004).
“Considerando que o acesso das gestantes e recém-nascidos a atendimento
digno e de qualidade no decorrer da gestação, parto, puerpério e período neonatal
são direitos inalienáveis de cidadania;...” (BRASIL, 2000)
Para análise dos discursos, inicialmente identificamos as idéias recorrentes a
partir da leitura flutuante das respostas obtidas nas entrevistas.
Exploração do Material: Esta fase foi constituída de cinco etapas.
Na 1ª etapa de Decomposição do texto, elegemos, dentre as respostas dos
formulários, as falas mais expressivas com relação à vivência do trabalho de parto e
parto e o suporte realizado por doulas às parturientes. Em seguida, identificamos
semelhanças nos diversos discursos, as chamadas isotopias.
ISOTOPIAS
“Foi horrível! Muita dor...” (HEBE)
“Eu fiquei sofrendo desde as cinco horas da manhã até as cinco da
tarde... era muita dor!” (AFRODITE)
“Foi melhor do que eu imaginava, tive ajuda e foi muito rápido” (ATENA)
“Foi diferente dos outros, nesse eu não senti dor... (DEMÉTER)
“... eu tava preocupada com o bebê porque a bolsa tinha rompido e eu
tava com medo de faltar o líquido pra ela, o oxigênio.” (HÉSTIA)
“Meu sentimento era dor e vontade de vê ele pra saber se era
saudável... é o primeiro homem da família!” (EILEITIA)
“Tava com medo porque ela era prematura, tinha medo dela nascer
doente, com deformação, mas ela nasceu perfeitinha.” (HERA)
“Senti muita dor e emoção, tudo misturado.” (THEA)
“Eu achei bom porque ela fica conversando com a gente, dando apoio.
Ela me ajudou a ter o bebê mais rápido” (GAIA)
“Foi ótimo, muito bom. Só a sensação de você ter uma pessoa ali do
seu lado, dando força, lhe orientando. Acho que se ela não tivesse lá
teria sido diferente...” (DEMÉTER)
“Ela teve paciência, mandava eu respirar, conversava comigo... minha
tia tava comigo mas pra mim foi importante a presença dessa outra
acompanhante porque minha tia só ficava calada.” (HERA)
“Ela dizia pra mim ter calma, fazer exercícios no cavalinho e na bola,
ficar andando pra não sentir muita dor... me deu banho, fez massagem.
A ajuda dela foi excelente.” (THEA)
“Ela dizia que se eu chorasse e gritasse eu ia ficar mais cansada e ia
ser mais ruim pro neném sair.” (EIRENE)
“Ela dizia: „é assim mesmo, quando vier à dor você abaixa a cabeça e
faz força‟. Passava a mão na minha barriga e conversava comigo pra
me distrair e eu não pensar na dor. Ah! Ela me disse também como eu
devia respirar” (ATENA)
“Eu me senti mais segura com ela ali perto. Toda hora que eu chamava,
ela vinha rápido.” (AFRODITE)
“Ah! Eu gostei muito do apoio dela. Tanto que agradeci e disse que ela
era minha anja...” (ATENA)
“Eu senti até que ela era alguém da minha família, confiei nela...”
CATEGORIAS
Experiência negativa e
positiva no trabalho de
parto e parto.
Sentimentos durante o
trabalho de parto e
parto.
Influência da doula no
desempenho das
parturientes.
Suporte realizado por
doulas às parturientes.
Afeição e
agradecimento às
doulas.
8
(HÉSTIA)
“Não me lembro... é um nomezinho complicado, mas se eu vê ela eu
conheço.” (ARTÉMIS)
“Olha, ela se apresentou, mas eu não me lembro o nome. Agora, o rosto
dela eu não me esqueço nunca mais...” (ATENA)
“Se fosse pra dá nota eu dava 1000. Muito bom, eu gostei muito,
maravilhoso!” (ATENA)
“Eu acho muito bom porque às vezes não pode alguém da família tá
com a gente.” (GAIA)
“Esse acompanhamento foi ótimo, muito importante pra gestante.
Fiquei sabendo até que é voluntário, né?! (HÉSTIA)
Lembrança dos nomes
das doulas.
Avaliação da
experiência de
acompanhamento.
A 2ª etapa foi a Definição das categorias de base pertinentes as quais
possibilitam uma visão geral das respostas deste estudo. Cada grupo de isotopias
acima definidas originou uma categoria que representa o sentido principal dele.
Deste modo, sugerimos oito categorias: experiência negativa no trabalho de parto e
parto, experiência positiva no trabalho de parto e parto, sentimentos durante o
trabalho de parto e parto, influência da doula no desempenho das parturientes,
suporte realizado por doulas às parturientes, afeição e agradecimento às doulas,
lembrança dos nomes das doulas e avaliação da experiência de acompanhamento.
A fim de reduzir o número de categorias, as reagrupamos a partir do contexto
proposto, o que compôs a 3ª etapa o Reagrupamento semântico. Obtivemos o
seguinte resultado: experiências durante o trabalho de parto e parto, papel da doula
na assistência intraparto, lembranças e agradecimento às doulas, avaliação da
experiência de acompanhamento.
Na 4ª etapa determinamos as Categorias temáticas a partir da criação de
categorias semânticas que representaram o conteúdo principal das categorias
definidas. Alcançamos desta forma dois grupos: vivência do trabalho de parto e
parto e suporte intraparto realizado por doulas.
Aqui, constituímos o Estabelecimento dos núcleos (5ª etapa) que representam
as temáticas anteriormente descritas, de forma organizada e em cadeia, com o
objetivo de reafirmar os pontos mais importantes. Identificamos dois núcleos:
1. Trabalho de Parto – experiência positiva – experiência negativa – sentimentos.
2. Doula – influência no desempenho das parturientes – suporte intraparto – afeição,
agradecimento e lembrança - avaliação.
Tratamento dos Resultados
9
A categoria vivência do trabalho de parto e parto foi discutida, levando em
consideração os seguintes tópicos: experiências negativas, experiências positivas e
sentimentos durante o trabalho de parto e parto.
No que se refere a experiências negativas no trabalho de parto e parto, a
maioria das mulheres descreveu seu parto como um evento doloroso, moroso e
cansativo, ainda assim alguns relatos evidenciam a preferência pelo parto vaginal a
cesariana.
A experiência de parto envolve um elevado desconforto e emoções negativas,
entre as quais a dor se apresenta como uma das dimensões mais marcantes e
muitas vezes referidas, especialmente nos casos em que existe maior discrepância
entre as expectativas que foram construídas e o modo como o parto é experienciado
(MACLEAN, MCDERMOTT e MAY, 2000). Entretanto a qualidade dessa experiência
varia, na dependência de uma multiplicidade de fatores individuais, sociais e
situacionais, tais como a participação ativa ou não da mulher nas decisões médicas,
as expectativas prévias da grávida, a utilização ou não de métodos analgésicos, e
principalmente, o tipo de parto (COSTA et al, 2003).
Um maior percentil de mulheres assinalou que o parto não decorreu como
esperava, ocorrendo pior ou muito pior. Também a maioria das mulheres referiu que
seu trabalho de parto durou além do que elas esperavam, fatos contribuintes para
uma avaliação negativa da parturição das participantes (COSTA et al, 2003).
A percepção negativa da experiência de parto tem sido associada a elevados
níveis de ansiedade traço e dor, que implicaram maior intervenção médica,
reforçadora de sentimentos prévios de impotência e incapacidade para lidar com a
situação. No entanto, em sua pesquisa realizada com 2428 mulheres foi revelada
que a percepção da experiência de parto ao 6º mês do puerpério, comparativamente
às 48h é dominada por uma menor percepção de experiência negativa, por uma
melhor percepção de experiência positiva e menos preocupações acerca do impacto
do parto na saúde da própria e do bebê (WALDENSTRÖM, 2003).
Quanto a experiências positivas, algumas entrevistadas informaram terem
vivenciado de forma positiva seu trabalho de parto e parto, relatando que foi mais
rápido e menos doloroso e traumático do que esperavam.
Foi descrita uma mudança temporal na percepção da experiência de parto no
sentido das mulheres encararem de forma mais positiva a vivência de seu parto com
o passar do tempo, tal evento pode ser associado ao sentimento de alívio decorrente
10
do término do parto, às reações eufóricas decorrentes do nascimento de uma
criança saudável e ao início dos processos de vinculação (WALDENSTRÖM, 2004).
Sobre os sentimentos experimentados pelas mulheres durante o trabalho de
parto e parto prevaleceram dor, ansiedade, medo, emoção e alegria. Havendo, na
maioria das vezes, a descrição de uma combinação de sentimentos e percepções
por parte das entrevistadas. O medo descrito relacionava-se, na maioria das vezes,
a iminência de morte própria ou do bebê ou a algo desconhecido, mas ameaçador
que pudesse acontecer à parturiente.
Durante o trabalho de parto e parto a generalidade das mulheres não vê
confirmadas muitas das suas expectativas prévias. Além disso, elas são excluídas
das decisões médicas,
tem
poucos conhecimentos e
pouca
preparação,
favorecendo o afloramento de um elevado número de emoções negativas, assim
como níveis elevados de dor (COSTA, 2003).
O sofrimento, a dor, a agonia, a provação, o terror e a morte são
historicamente associados às vivências do trabalho de parto e ainda pontuam que
tais sentimentos muitas vezes emergem durante a gravidez e não costumam ser
objeto de cuidado na atenção ao pré-natal (SILVA e SIQUEIRA, 2007).
Nos estudos destes autores também o medo e a dor figuraram como agentes
estressores preponderantes. Estes autores concluíram que tal estado de tensão
decorria de numerosos fatores, entre os quais, os processos fisiológicos da
parturição, sentidos como insuportavelmente dolorosos, assim como os processos
psicológicos sinalizados por manifestações de angústia e ansiedade.
Os sentimentos negativos derivam, na maior parte das vezes, da dor sentida,
e complementa que a dor é uma das dimensões mais preponderantes da
experiência de parto pois a maior parte das mulheres espera sentir muita dor e
acaba por vivenciar um parto realmente doloroso ou mesmo insuportável
(MACLEAN, MCDERMOTT e MAY, 2000).
A categoria suporte intraparto realizado por doulas relaciona-se ao
segundo objetivo. O acompanhamento da doula foi descrito por todas as
entrevistadas como algo positivo que influenciou diretamente o desempenho das
mulheres durante o trabalho de parto e parto e mesmo aquelas que desfrutavam da
presença de um acompanhante familiar ressaltaram a importância do suporte da
doula durante a parturição.
11
As parturientes devem receber o apoio de doulas, mesmo aquelas que
tenham a presença de acompanhantes familiares ou amigos (BRASIL, 2000).
A respeito das orientações e apoio fornecidos pela doula, todas as
entrevistadas ressaltaram que as doulas forneceram orientações acerca do trabalho
de parto e parto, apoiaram e estimularam as parturientes, realizaram técnicas de
conforto e relaxamento, bem como desenvolveram ações promotoras do
amadurecimento cervical que facilitaram a evolução do parto natural.
Relatos de influência positiva, sentimentos de segurança e confiança, bem
como sensações de relaxamento e calma por parte das parturientes, a partir do
acompanhamento da doula durante o trabalho de parto (SILVA e SIQUEIRA, 2007).
Os objetivos das doulas é acalmar, relaxar, orientar ou compartilhar
experiências com a parturiente acompanhada (LEÃO e OLIVEIRA, 2006).
Os benefícios da assistência prestada pela doula, principalmente pelo fato
dela não ter que assumir decisões, nem prestar cuidados a outros pacientes e,
ainda, não trabalhar em esquema de plantão, podendo ela dedicar todo o seu tempo
para uma única mulher (STEIN, KENNELL e FULCHER, 2003).
Com relação à afeição e agradecimento para com as doulas, os relatos
evidenciam o carinho com que as entrevistadas se referiam as doulas que lhe
acompanharam, bem como foram destacadas palavras de gratidão com o suporte
recebido.
No que tange à lembrança dos nomes das doulas, nenhuma das participantes
deste estudo lembrou o nome da doula que lhe acompanhou durante seu trabalho
de parto e parto. Embora todas as doulas atuantes na maternidade possuam
crachás de identificação e se apresentam às parturientes quando vão acompanhálas. As mulheres atribuíram tal esquecimento às dores e ansiedades vivenciadas
naquele momento, embora não recordem o nome afirmaram que se encontrassem a
doula que lhe acompanhou reconheceriam.
Quanto à avaliação desta experiência de acompanhamento durante o trabalho
de parto e parto as entrevistadas fizeram uma análise positiva da postura das doulas
e evidenciaram a importância da incorporação desta atividade em outras instituições,
bem como a perpetuação desta prática na maternidade em estudo.
Em um estudo as parturientes concluíram que a presença da doula influencia
diretamente na avaliação das mulheres no que se refere a qualidade da assistência
12
sendo o diferencial mais apreciado pelas mulheres nas modalidades de atenção
recebidas (SILVA e SIQUEIRA, 2007).
Vale ressaltar que o termo “doula” era desconhecido pela maioria das
participantes deste estudo. Estas acompanhantes tiveram sua figura associada à de
enfermeiras, o que denota um ponto positivo para a equipe de enfermagem que teve
seu perfil atribuído ao ato de acompanhar, ficar ao lado, apoiar.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As duas categorias finais, vivência do trabalho de parto e parto e suporte
intraparto realizado por doulas, evidenciam que o suporte realizado pelas doulas
exerceu influência direta na vivência de parturição para as mulheres deste estudo.
Os resultados consideram que, para a maioria das mulheres, o processo de parto é
doloroso e cansativo, e a figura da doula orientando, acalmando e incentivando
configurou-se um apoio importante para que as parturientes vivenciassem de forma
menos insegura seu trabalho de parto.
A partir do compartilhamento de vivências, medos, inseguranças, crenças e
valores foi possível compreender o significado e a influência da presença da doula
durante o trabalho de parto para as parturientes acompanhadas. Assim, pessoa
acolhedora, fonte de apoio e suporte tanto físico quanto emocional definiu, para as
mulheres deste estudo, a figura da doula.
Receber, durante o trabalho de parto e parto, este acompanhamento
qualificado com alguém capacitado foi compreendido, pelas participantes, como algo
de importante relevância para manutenção do equilíbrio emocional da parturiente e o
desenrolar de uma parturição mais tranqüila.
Este estudo, todavia, evidencia que o termo doula, assim como seu papel,
ainda é desconhecido pela população, isso mostra a necessidade de apresentarmos
a doula à comunidade, enfatizando sua função no acompanhamento de parturientes.
Neste contexto, cabe ressaltar também que os conhecimentos das mulheres sobre o
processo do parto ainda são incipientes, como apresentado nos resultados.
Esperamos que este estudo contribua para a reflexão da prática dos
profissionais de saúde, no sentido de melhorar a assistência prestada as mulheres,
a partir da compreensão de suas reais necessidades e especificidades, durante este
importante momento de suas vidas.
13
Os resultados deixam clara a relevância das ações e orientações realizadas
pelas doulas no suporte de parturientes durante o parto normal, tendo como foco a
humanização da assistência prestada a mulher e apontam que as doulas podem ter
uma função muito mais abrangente,
atuando desde o pré-natal, passando pela
parturição e continuando no puerpério, esclarecendo e incentivando às mães quanto
a amamentação e cuidados com o recém-nascido.
Embora ainda haja muito a se aperfeiçoar, o trabalho desenvolvido pelas
doulas já dá sinais de que um novo membro está surgindo capaz de agregar valor à
equipe de saúde encarregada da assistência ao parto e nascimento. Este membro
assume a responsabilidade de atender às necessidades e carências da parturiente,
acalmando-a, transmitindo-lhe segurança e confiança, respeitando, acima de tudo,
seus desejos e cultura.
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em: 16 de mai. de 2008.
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14
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2002.
VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM 1
OBSTÉTRICA E NEONATAL
Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de
Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido
24 à 26 de junho de 2009
Teresina-PI
REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE ADOLESCENTES GRÁVIDAS ACERCA DO USO
DE ÁLCOOL DURANTE O PERÍODO GESTACIONAL
LEONARDO BARBOSA ROLIM Acadêmico de Enfermagem – Faculdade Santa
Maria, Cajazeiras – PB. End: Rua João Liberato de Abreu, 69, AP.104, Jardim Oasis.
Cajazeiras-PB. CEP: 58900000. Email:[email protected]
HALINE GOMES LEAL DE SOUSA Acadêmica de Enfermagem– Faculdade Santa
Maria, Cajazeiras – PB – [email protected]
JOSEANE RAFAELA SANTOS DE ANDRADE Acadêmico de Enfermagem–
Faculdade Santa Maria, Cajazeiras – PB- [email protected]
MARIA APARECIDA DE SÁ SILVA Acadêmico de Enfermagem– Faculdade Santa
Maria, Cajazeiras – PB - [email protected]
THIAGO BATISTA SANTOS Prof docente orientador da Faculdade Santa Maria,
Cajazeiras – PB- [email protected]
VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM 2
OBSTÉTRICA E NEONATAL
Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de
Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido
24 à 26 de junho de 2009
Teresina-PI
REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE ADOLESCENTES GRÁVIDAS ACERCA DO USO
DE ÁLCOOL DURANTE O PERÍODO GESTACIONAL
A gestação na adolescência tem se tornado um importante problema de saúde pública.
Associado a isto estudos demonstram que cada vez mais aumenta o consumo de álcool
pelas gestantes adolescentes. Desse modo, duas problemáticas se fundem, a gravidez
precoce e o consumo de álcool durante o período gestacional. Nesta prespectiva, o objetivo
do estudo foi verificar os elementos âncorados da Representação Social de adolescentes
grávidas acerca do consumo de álcool durante o período gestacional. Trate-se de um estude
de campo, de caráter exploratório adotando uma abordagem do tipo quanti-qualitativa,
realizado em três Unidade básica de saúde de família, localizadas no Município de AbaiaraCE, a amostra foi composta por 20 adolescentes grávidas. As participantes responderam um
roteiro de entrevista semi-estruturado composto por Questões sócio-demográficas e
Questões Subjetivas. Os resultados foram analisados e discutidos à luz da literatura
pertinente à temática. Desse modo foi verificado que: 16 (80%) das participantes afirmam o
consumo de álcool durante a gestação como “atitude inconseqüente”, e ainda como “algo
natural”, sendo exposto por 2 (10%) delas. No que diz respeito à reação das adolescentes
caso presenciassem uma gestante consumindo álcool. A maior parte 14 (70%) delas
afirmaram que iriam aconselhar sobre os riscos que estaria proporcionando ao feto. Outras
4 (20%) relataram que não tomariam nenhuma providencia diante da situação. Dessa
forma, ficou demonstrada a necessidade de uma assistência voltada ao modelo holístico,
em que cada paciente é tratado como um ser biopsicosocioesperitual, no qual há um
acompanhamento direcionado para todas as suas necessidades.
Palavras – chave: gravidez na adolescência, representação social, consumo de álcool.
VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM 3
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Teresina-PI
INTRODUÇÃO
A gestação na adolescência tem se tornado um importante problema de saúde
pública. Assim, a idade de 15 a 19 anos, período de adolescência tardia, que
durante muito tempo, foi tida como etapa ideal para engravidar, hoje, é considerada
como sendo uma idade precoce para a mulher ter filhos. Estima-se que cerca de
20% de todos os nascimentos ocorram em mulheres adolescentes e, embora a
freqüência de partos em adolescentes esteja em declínio nos países desenvolvidos,
há somente modesto declínio ou até ascensão nestas taxas nos países em
desenvolvimento (CARVALHO; SILVA; MELLO, 2008; CHARLEM, et al., 2007;
FIORENTIN; VARGAS, 2006; LIMA et al., 2004; MAGALHÃES et al., 2006;
SABROZA et al., 2004.).
Estudos demonstram que cada vez mais aumenta o consumo de álcool pela
população feminina e, em conseqüência disso, grande parcela de mulheres e seus
fetos são expostos a doses variáveis desse agente (FIORENTIN; VARGAS, 2006).
Desse modo, duas problemáticas se fundem, a gravidez precoce que se associa
ao consumo de álcool durante o período gestacional. De acordo com Gonçalves;
Knauth (2006) a adolescência é caracterizada como um período de curtição de
sociabilidade e lazeres específicos, cujas regras sociais sinalizam que há um tempo
finito, uma idade de se fazer, de ser de um jeito. Tal fato, permiti-nos afirmar que a
adolescência é uma fase de vida que predispõe o consumo de álcool, levando a
gestante adolescente a usufruir dessa medida pra garantir seu bem-estar em lazeres
presentes em seu cotidiano.
No entanto, a enfermagem pouco tem produzido sobre o alcoolismo em geral. Em
se tratando do alcoolismo feminino, percebe-se desinteresse ainda maior, talvez pelo
fato deste acontecimento ser mais discreto do que o alcoolismo masculino.
Pelo fato do enfermeiro ser um dos profissionais que mais tem contato com a
gestante, considerando a pouca atenção da enfermagem sobre a questão do
alcoolismo feminino e levando em consideração que a adolescência é uma fase de
vida complicada, é de suma importância o estudo das Representações Sociais (RS),
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Teresina-PI
uma vez que este é capaz de expressar os pensamentos que podem refletir nas
ações do cotidiano das gestantes adolescentes.
As RS compreendem pensamentos, sentimentos, emoções, práticas, afetos e
cognição, que se apresentam em constante mudança no tempo e na história, são
como o conjunto organizado de informações, atitudes, crenças que um indivíduo ou
um grupo elabora a propósito de um objeto, de uma situação, de um conceito, de
outros indivíduos ou grupos, apresentando-se, portanto, como uma visão subjetiva e
social da realidade, assim, toda representação é construída na relação do sujeito
com o objeto representado, não existindo representação sem objeto. Desse modo,
uma RS não pode ser compreendida enquanto processo cognitivo individual, uma
vez que é reproduzida no intercâmbio das relações e comunicações sociais, em que
o objeto, seja ele humano, social, material ou uma idéia, será apreendido através da
comunicação (PINTO; SILVA, 1998).
Nesta prespectiva, o objetivo do estudo foi verificar e ainda averiguar os
elementos âncorados da RS de adolescentes grávidas acerca do consumo de álcool
durante o período gestacional, uma vez que se faz necessário conhecer os fatores
co-relacionados que podem influenciar a adesão de tal prática pela população em
estudo.
Considera-se de grande importância analisar aspectos mais subjetivos
daquela que vivencia uma gestação. Assim, verificar a RS das adolescentes
gestantes acerca do consumo de álcool durante o período gestacional ajuda a
enfermagem a buscar e obter algumas respostas ao nível da intersubjetividade e na
singularidade do sujeito como ser psicossocial, proprcionando meios para oferecer à
população estudada uma assistência pré-natal atenta a tal problemática.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Gravidez na Adolescência
A adolescência é definida cronologicamente como o período compreendido entre
10 e 19 anos, sendo dividido em adolescência precoce (10 - 14 anos) e
adolescência tardia (15 -19 anos), no qual acontecem grandes mudanças físicas e
psicológicas. Este grupo constitui 1/3 da população mundial e, embora ainda em
fase de crescimento e desenvolvimento, vem participando efetivamente no aumento
das taxas de fecundidade. Estima-se que 20% de todos os nascidos vivos no Brasil
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nos últimos 5 anos foram concebidos por mães adolescentes (CHALEM et al., 2007;
KASSAR et al., 2006; MAGALHÃES et al., 2006).
A pesquisa Nacional Sobre
Demografia e Saúde, realizada em 1996, mostrou que 18% das adolescentes tardias
brasileiras já tiveram pelo menos um filho ou estavam grávidas, e em 2006 estimouse um aumento para cerca de 20% (CARVACHO; SILVA; MELLO, 2008; LIMA et al.,
2004; MAGALHÃES et al., 2006).
O aumento da fecundidade no grupo etário das adolescentes tem se tornado um
sério problema social e de saúde pública em virtude do impacto que pode trazer à
saúde materno-fetal e ao bem-estar social e econômico de um país, devido às
repercussões biológicas, psicológicas e sociais que podem ser acarretadas nesta
faixa-etária, tal problemática foi tida como a chamada epidemia da maternidade na
adolescência (CARVACHO; SILVA; MELLO, 2008; CHALEM et al., 2007; SABROZA
et al., 2004).
Segundo Gonçalves; Knauth (2006) a adolescência é uma fase tida como tempo
de “aproveitar a vida” que, em sua forma usual e corriqueira, significa inicialmente
sair, namorar, ficar, divertir-se, paquerar, dançar e curtir, o que também implica em
consumir álcool em determinadas ocasiões, tornando-se uma problemática entre as
adolescentes durante o período gestacional.
2.2 Uso de Álcool por Gestantes
O consumo de álcool durante a gestação é sério problema de saúde pública, pois
envolve grande risco relacionado à embriotoxidade e teratogenicidade fetal (FABBRI;
FURTADO; LAPREGA, 2007).
Neste mesmo sentido, outra pesquisa na qual o objetivo foi identificar o perfil
sócio-demográfico e comportamental de gestantes adolescentes, apontou que 266
entrevistadas (26,6%) admitiram ter ingerido álcool pelo menos em uma ocasião
durante a gestação, sendo 28 (2,8%) de forma abusiva. Desse modo, pode-se
verificar que a associação de gravidez precoce a outros comportamentos de risco,
como o uso de álcool, necessita de abordagens específicas e urgentes para
proporcionar uma assistência materno-infantil de qualidade no âmbito da saúde
pública (CHALEM et al., 2007).
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Segundo Fabbri; Furtado; Laprega (2007) as gestantes costumam omitir o
consumo de álcool durante a consulta médica, esse fato é devido ao estigma social,
associado ao conceito de imoralidade, agressividade e comportamento sexual
inadequado. Essas mulheres geralmente possuem sentimento de culpa e vergonha,
além do medo de perder a guarda dos filhos.
Ao fazer referência a várias pesquisas (Chalem et al.; 2007; Fabbri; Furtado;
Laprega, 2007, Kassar et al., 2006; Magalhães et al., 2006, Sabroza et al., 2004)
que demonstraram uma elevada incidência de adolescentes grávidas expostas ao
consumo de álcool em diferentes estados brasileiros, como também a dificuldade do
profissional de saúde identificar esse problema durante a consulta pré-natal, é de
suma importância citar as conseqüências que este ato pode ocasionar ao recémnascido. Segundo Costa et al. (1998); Delgado et al. (1991); Fiorentini; Vargas
(2006), a exposição pré-natal ao álcool pode levar a um amplo espectro de
alterações fetais, que dependem da concentração sanguínea de álcool, da idade
gestacional do concepto, da paridade e da cronicidade do uso do álcool.
O álcool ingerido pela gestante atravessa a barreira placentária, o que faz com
que o feto esteja exposto às mesmas concentrações do sangue materno. Porém, a
exposição fetal é maior, devido ao metabolismo e eliminação serem mais lentos,
fazendo com que o líquido amniótico permaneça impregnado de álcool não
modificado (etanol) e acetaldeído (metabólito do etanol) (DELGADO et al.,1991;
FREIRE et al., 2005; FIORENTINI; VARGAS, 2006).
Através de estudos controlados, considera-se os efeitos intensos que ocorrem
em casos de mães grandes consumidoras (5 ou 6 doses em uma só ocasião ou 45
doses por mês; 1 dose = 15 ml de álcool). No caso de consumidoras moderadas
(menos de 45 doses por mês e nunca mais que 5 doses em uma só ocasião), o risco
de danos fetais é menor, mas ainda assim coloca em risco a saúde materno-infantil
(DELGADO et al., 1991 ; FIORENTIN; VARGAS, 2006; PISSINI JÚNIOR, 2006.).
Quanto ao nível seguro de consumo de álcool, de acordo com Freire et al. (2005);
Pissini Júnior (2006); a determinação de “doses seguras” na gestação não pode ser
feita experimentalmente, pois seria obviamente antiético expor gestantes a doses
variadas de álcool para testar seus efeitos.
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Pelo fato do enfermeiro ser um dos profissionais que mais tem contato com a
gestante, considerando a pouca atenção da enfermagem sobre a questão do
alcoolismo feminino e levando em consideração que a adolescência é uma fase de
vida complicada, é de suma importância o estudo das RS, uma vez que este é capaz
de expressar os pensamentos que podem refletir nas ações do cotidiano das
gestantes adolescentes.
2.3 Teoria das Representações Sociais: sua influência no comportamento de
saúde
A RS é uma teoria que foi introduzida por Serge Moscovici, através do estudo “A
psicanálise, sua imagem e seu público”, publicado em Paris, no início da década de
70 e posteriormente em 1978 no Brasil com o título: “A representação social da
psicanálise”
As RS compreendem pensamentos, sentimentos, emoções, práticas, afetos e
cognição, que se apresentam em constante mudança no tempo e na história, são
como o conjunto organizado de informações, atitudes, crenças que um indivíduo ou
um grupo elabora a propósito de um objeto, de uma situação, de um conceito, de
outros indivíduos ou grupos, apresentando-se, portanto, como uma visão subjetiva e
social da realidade, assim, toda representação é construída na relação do sujeito
com o objeto representado, não existindo representação sem objeto. Desse modo,
uma RS não pode ser compreendida enquanto processo cognitivo individual, uma
vez que é reproduzida no intercâmbio das relações e comunicações sociais, em que
o objeto, seja ele humano, social, material ou uma idéia, será apreendido através da
comunicação (MOSCOVICI, 2003).
Com base em WACHELKE. (2007), as RS são como sistemas de interpretação
que conduzem nossa relação com o mundo e com os outros, orientando e
organizando nossas condutas. Com as RS, o conhecimento do senso comum
passou a receber a atenção necessária, posto que era visto como conhecimento
confuso, inconsistente e fragmentado. A teoria tem como pressuposto verificar o
conhecimento comum produzido por intermédio das comunicações de determinados
grupos sociais e demonstra que os processos por meio dos quais os indivíduos
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concebem o mundo são extremamente dinâmicos entre a subjetividade e o mundo
social dos indivíduos.
Ao analisar a formação das RS, faz-se necessário a contribuição de dois fatores:
a objetivação e a ancoragem. Segundo WACHELKE (2007), o primeiro diz respeito
à forma como se organizam os elementos constituintes da representação e ao
percurso através do qual tais elementos adquirem materialidade e se tornam
expressões de uma realidade pensada como natural. Esse processo desenrola-se
em um percurso que envolve três momentos: 1) construção seletiva, 2)
esquematização e 3) naturalização (maiores detalhes ver Figura 1 abaixo).
ANCORAGEM
Conhecimentos
Anteriores
OBJETIVAÇÃO
Construção seletiva
Construção
seletiva
ANCORAGEM
Enraizamento do
Enraizamento
do
sistema
sistema
depensamento
pensamento
de
Esquematização
Esquematização
Atribuição
de
Atribuição
de sentido
sentido
Naturalização
Naturalização
Instrumentalização
do
Instrumentalização
dosaber
saber
Figura 1 – Esquema Geral das Representações Sociais.
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A construção seletiva é o meio pelo qual as informações disponíveis são
selecionadas, implicando que apenas uma parte da informação disponível acerca do
objeto seja útil. A esquematização diz respeito a organização dos elementos, para
constituírem um padrão de relações estruturadas. E a naturalização é o processo
pelo qual os elementos do pensamento se concretizam, assim, o conceito deixa de
ser pura idéia, para tornar-se uma entidade autônoma.
Já a ancoragem, refere-se ao fato de qualquer construção ou tratamento de
informação exigir pontos de referência: quando um sujeito pensa um objeto, o seu
universo mental não é, por definição, tábua rasa. Pelo contrário, é por referência a
experiências e pensamento já adquiridos que um objeto novo pode ser pensado. A
ancoragem, igualmente a objetivação, é dividida em três estruturas: 1) enraizamento
do sistema de pensamento; 2) atribuição de sentido e 3) instrumentalização do
saber. Todavia, a ancoragem refere-se à assimilação de um objeto novo por objetos
já presentes no sistema cognitivo (MOSCOVICI, 2003).
A ancoragem, enquanto uma das fases de formação das RS precede e procede a
objetivação, pois toda imagem ou significado é objetivado para ser ancorado mas
desta necessita para ser desenvolvido, sendo ambos processos psicossociais
constantes e contínuos. Ambos são necessários e multuamente influenciados, pois
um suscede e antecede o surgimento do outro. Assim, buscou-se nas RS o
embasamento para compreender o senso comum, ou seja, a realidade social no
contexto da saúde e sua concepção acerca de problemáticas, tais como o consumo
de álcool durante o período gestacional, bem como a influência do meio social no
comportamento de saúde e na enfermagem.
De acordo com Carvalho; Camargo (2001) a importância de estudos no campo
das RS relacionados à prática de saúde está na possibilidade de obtenção de
processos e mecanismos pelos quais o significado do objeto em estudo é construído
pelos sujeitos concretos, em suas relações cotidianas. A saúde e a doença
constituem um dos mais pertinentes locais de estudo da relação da RS. Nesse
contexto, aponta-se a utilização da teoria das RS no campo da saúde, como uma
forma moderna de pensá-la dentro de um espaço que focalize as mudanças sociais
que ocorrem em decorrência das relações inter e intragrupais.
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3 CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS
Este estudo caracteriza-se por ser de campo, de caráter exploratório e adotar
uma abordagem do tipo quanti-qualitativa.
O estudo foi realizado em três Unidades Básicas de Saúde da Família (UBSF),
localizadas no Município de Abaiara-CE. Os referidos locais foram escolhidos por
possuírem adolescentes grávidas realizando consultas de pré-natal. O município
conta com uma população de 10.227 habitantes e encontra-se habilitado na gestão
plena da Atenção Básica, pertencendo à 19ª Microrregião de Saúde. Possui 3
equipes de Saúde da Família cadastradas, sendo 2 da zona urbana e 1 da zona
rural.
A população selecionada para a pesquisa foi composta por 20 adolescentes
grávidas, com idade variando entre 15 a 19 anos, com média de 17 anos; 10
solteiras e 10 casadas; em relação à situação econômica, 16 afirmaram ser da
classe humilde e 4 da classe média e quanto ao grau de escolaridade, 16 possuíam
o ensino fundamental e 4 o ensino médio. A amostra foi composta por 20 gestantes,
que concordaram com os seguintes critérios: 1) estar na faixa etária entre 15 e 19
anos; 2) realizar acompanhamento nas citadas UBSF; 3) aceitarem participar e
assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
As participantes deste estudo responderam um roteiro de entrevista semiestruturado composto por duas partes:

Questões sócio-demográficas: A fim de caracterizar a amostra de
participantes estes responderam itens relacionados ao tipo de idade, nível de
escolaridade, entre outros aspectos.

Questões Subjetivas: Além disso, o questionário possui um Roteiro-
estória para guiar a entrevista que ficou composta por dois questionamentos que
buscaram apreender as representações dos portadores de hanseníase acerca do
consumo de álcool durante o período gestacional. Considerou-se que com estas
pôde-se captar informações direcionadas a acessibilidade ao álcool de cada
gestante
Após aprovação do Comitê de Ética, deu-se início a coleta de dados
propriamente dita, esta ocorreu no mês de Setembro, no turno vespertino, de acordo
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com a disponibilidade das gestantes. A cada participante foi informado o caráter
acadêmico da pesquisa e foi apresentado o TCLE.
A análise dos dados foi realizada em duas etapas: inicialmente, analisou-se os
dados objetivos que descreveram as características sócio-demográficas das
participantes. A segunda etapa iniciou a partir da transcrição na íntegra das
entrevistas. Os resultados serão analisados e discutidos à luz da literatura pertinente
à temática (TRIVINUS, 1994).
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Visando conhecer melhor a subjetividade das adolescentes grávidas acerca do
consumo de álcool durante o período gestacional, as participantes relataram
aspectos de sua vivência. Para melhor compreensão das repostas, estas foram
agrupadas em categorias, segundo a literatura pertinente. Assim, durante a
entrevista, primeiramente, foi apresentado um Roteiro-estória, seguido de dois
questionamentos que buscaram captar as representações sociais das entrevistadas
acerca do consumo de álcool no período gestacional. Desse modo, das 20
gestantes, 16 (80%) representam o consumo de álcool durante a gestação como
“atitude inconseqüente”, uma vez que relataram ser um costume que pode prejudicar
a criança, pois o álcool proporciona mal ao feto e que pode causar vários danos ao
recém-nascido. As entrevistadas afirmaram ainda que, sair e beber é uma maneira
de se divertir, coisa de gente jovem, e que as amizades e o companheiro (marido ou
namorado), podem influenciar tal prática, mas que reconhecem o perigo e negam o
consumo, o que pode ser expresso através dos seguintes depoimentos:
“Eu acho que sair para tomar uma cervejinha é muito bom, é coisa de
gente jovem, agente que é jovem gosta desses movimentos e
quando ta a galera toda reunida, todo mundo me oferece a bebida,
amigas e até mesmo o meu namorado, até parece que naquela hora,
todo mundo esquece que tô grávida, mas que fico esperta e não
aceito, por que sei que pode prejudicar o meu filho” (EAL, 18 anos).
“Sempre nego a bebida, pode qualquer um me oferecer, por que
penso mais em meu filho do que em qualquer outra coisa” (MLSE, 17
anos).
Pode-se perceber através dos relatos que as gestantes são incentivadas por
pessoas de seu convívio ao consumo do álcool, mesmo estando numa fase em que
cuidados devem ser adotados. Segundo Burrow; Ferris (1996) o uso de álcool em
adultos jovens é frequentemente um mal estimulado por pressão de companheiros.
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Vale destacar que apesar de “serem adolescentes” e viverem uma fase de grandes
mudanças, nota-se segurança e maturidade ao afirmarem “não aceito”, “sempre
nego a bebida” e “proteger o meu filho”. Assim, com base em Burrow; Ferris (1996);
Chalem et al (2007); Davidoff (2004) a gravidez produz prioridades pessoais
protetoras, que as gestantes instintivamente agem no melhor interesse do feto e da
espécie.
As participantes também configuram a ingestão de bebida alcoólica durante a
gravidez como “algo natural”, sendo exposto por 2 (10%) adolescentes, em que
afirmaram não haver problemas em beber e se divertir, uma vez que reconhecem
que gravidez não é doença e ainda afirmam que jovem é para ser divertir mesmo, ou
seja, sair, namorar, brincar e beber.
“Cada um tem sua maneira de viver a vida, de pensar e de agir, eu
sou assim, alegre, divertida e gosto muito de sair e não iria mudar,
deixar de ser jovem, apenas por que estou grávida. Por isso que
acho que a menina da estória deve acompanhar o marido dela e
continuar bebendo e saindo, como sempre fez, Ana Maria é que ta
certa” (FF, 17 anos).
Ao citar e concordar com a personagem “Ana Maria”, apresentada no Roteiroestória, a entrevistada demonstra ser a favor do consumo de álcool durante a
gestação, uma vez que tal personagem afirma que “não iria deixar de se divertir
apenas por que estava grávida”, sendo tal percepção condizente com o depoimento
da referida pesquisada.
Ademais, observa-se nas falas a ausência do reconhecimento de que o álcool
pode prejudicar o feto, sendo algo desconhecido pelas gestantes ou pouco
valorizado. De acordo com Fabbri; Furtado; Laprega (2007) publicações recentes
têm ressaltado o problema do consumo de álcool entre gestantes brasileiras, assim
como a relação entre consumo de álcool e sintomas psiquiátricos na gestação. A
assistência pré-natal no Brasil ainda carece do desenvolvimento de rotinas e
instrumentos confiáveis que auxiliem profissionais de saúde nas ações de prevenção
e diagnóstico precoce para esses problemas relacionados ao consumo de álcool.
Por último 2 (10%) participantes representam o consumo de álcool durante a
gravidez como “algo errado, mas impossível de resistir”, em que afirmaram que
sempre beberam e que é difícil parar.
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“Concordo com o pensamento de Flávia, mas eu mesmo na minha
gravidez eu bebo muito, pois minhas amigas me convidam para sair
e eu saio com elas, como nós tudim sempre bebemos, fica difícil não
aceitar, já que é costume da gente” (RMS, 15 anos).
“Eu sei que pode fazer mal, mas como na minha primeira gravidez eu
bebi e não fez mal para meu filho, resolvi arriscar na segunda, pois
não me controlo quando vejo todo mundo bebendo e eu só olhando”
(MNT, 16 anos).
Ao fazer referência à personagem “Flávia” do Roteiro-estória, as gestantes se
apresentam contra o consumo de álcool durante a gestação, mas confessam ser
algo difícil de ser evitado, chegando a ser até incontrolável, ao optarem por colocar a
vida do seu filho em risco. De acordo com Chalem et al. (2007) a associação de
gravidez precoce a outros comportamentos de risco, como o uso e abuso do álcool
numa população jovem, caracteriza a população estudada como extremamente
vulnerável, necessitando assim, de abordagens específicas e urgentes no âmbito da
saúde pública.
No presente estudo, foi possível identificar que “atitude inconseqüente”, “algo
natural” e “algo errado, mas impossível de resistir” constituem-se em elementos
basilares das RS das adolescentes grávidas sobre o consumo de álcool na fase de
vida que estão vivendo. Assim, por meio desta compreenção é possível pensar em
estratégias e propor ações que considerem a realidade real e significante daquelas
que, enquanto sujeitos sociais, experienciam uma realidade com diversos fatores
interligados e por isso, exigindo uma assistência biopsicossocial.
O segundo questionamento realizado diz respeito à reação das adolescentes
caso presenciassem uma gestante consumindo álcool. Das 20 entrevistadas, 14
(70%) afirmaram que iriam conversar e aconselhar, falando sobre os riscos que
estaria proporcionando ao feto, como também propor que parasse de beber.
“Daria conselho para não beber, pois causa muito mal à criança, sei
disso por que minha prima bebeu durante a gravidez e a filha dela
nasceu com um monte de problemas, o médico falou que tudo foi por
causa da bebida e por isso a criança vai ter que tomar remédios para
o resto da vida” (JSS, 16 anos).
Com base em Burrow; Ferris (1996) a farmacologia de drogas obviamente
determina o impacto patológico e é correto considerar-se que nenhuma droga é
absolutamente segura para o uso durante a gravidez. A teratogênese, o retardo de
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crescimento intra-uterino, a lesão placentária e as contrações uterinas prematuras
são efeitos comuns das drogas.
Outras 4 (20%) entrevistadas relataram que não tomariam nenhuma providencia
diante da situação, pois preferem não interferir na vida de ninguém, afirmaram ainda
que não adiantaria falar nada, pois todo mundo sabe que o álcool prejudica a
gravidez.
“Ficaria na minha, não faria nada, pois ela tava sabendo o que tava
fazendo e os riscos que tava correndo, cada pessoa faz da sua vida
o que bem entende” (AFL, 16 anos).
E, por último 2 (10%) entrevistadas afirmaram que não fariam nada, pois
consideram tal comportamento completamente normal, sem problemas.
“Não faria nada, pois acho normal a pessoa beber estando grávida.
Gravidez não é doença e devemos aproveitar as fases boas da
nossa vida” (FF, 17 anos)
Assim, com base em WACHELKE (2007), as RS são como sistemas de
interpretação que conduzem nossa relação com o mundo e com os outros,
orientando e organizando nossas condutas. Com as RS, o conhecimento do senso
comum passou a receber a atenção necessária, posto que era visto como
conhecimento confuso, inconsistente e fragmentado.
Nesse contexto, ao conhecer as RS das adolescentes grávidas acerca do
consumo de álcool no período que estão vivenciando, é capaz de orientar os
profissionais de saúde, especificamente o enfermeiro que atua na atenção básica, a
conhecer o cotidiano dessa população, com a finalidade de propror e executar
atividades que trabalhem tal problemática, garantindo dessa forma uma assistência
integral de acordo com a proposta das políticas públicas de saúde brasileira.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo deparou-se com a subjetividade do que é ingerir bebida alcoólica
durante a gravidez. As adolescentes a representam como “atitude inconseqüente”,
uma vez que é um costume prejudicial a criança, “algo natural” por não haver
problemas em beber e se divertir, como também “algo errado, mas impossível de
resistir”, em que ao manter o hábito da bebida, torna-se difícil parar.
Assim, ficou demonstrada a necessidade de uma assistência voltada ao modelo
holístico, em que cada paciente é tratado como um ser biopsicosocioesperitual, no
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qual há um acompanhamento direcionado para todas as suas necessidades. A
realização de um trabalho educativo também é percebida, ao observar nas falas das
participantes o desconhecimento das conseqüências que o consumo de álcool
durante o período gestacional pode acarretar. Ao observar tais lacunas existentes
nesse âmbito, vale salientar que estas precisam ser estudadas, questionadas e
principalmente trabalhadas.
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Revista
Interamericana
de
Psicología/Interamerican Journal of Psychology , Vol. 41, Num. 3 pp. 379-390,
2007.
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PERCEPÇÕES DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM
SOBRE AS AÇÕES DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE NO
PLANEJAMENTO FAMILIAR
MARILENE FONSECA DE ARAÚJO1
JOSÉ REGINALDO PINTO2
1
Enfermeira do Programa Saúde da Família do município de Massapê-CE, Especialista em
Formação Pedagógica na Área de Saúde: Enfermagem e em Saúde da Família. Rua Travessa José
Amâncio, S/N – Centro – Massapê-Ce. E-mail: [email protected]. Contato pelo fone:
(88) 36431223.
2
Enfermeiro do Programa Saúde da Família do município de Massapê-CE, especialista em Saúde da
Família. E-mail: [email protected]. Contatos pelos fones: (88) 3643 1235, (88) 99012599.
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PERCEPÇÕES DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM SOBRE AS AÇÕES DE
EDUCAÇÃO EM SAÚDE NO PLANEJAMENTO FAMILIAR
A Estratégia Saúde da Família, como concepção inovadora, redimensionou o fazer
dos profissionais, ultrapassando sua formação tecnicista para mediadora e estimuladora de
práticas promotoras de saúde. E sendo a Educação em Saúde considerada como uma das
ferramentas para o alcance desta proposta, pretendeu-se através desta pesquisa conhecer
a percepção dos profissionais de enfermagem sobre as ações de educação em saúde no
Planejamento Familiar na Estratégia Saúde da Família em Massapê (CE). Objetivou-se
avaliar como são desenvolvidas essas ações, descrevendo suas metodologias utilizadas,
identificando se esses profissionais realizam as orientações adequadamente e se tem
dificuldade em realizá-las. O estudo proposto foi desenvolvido através de uma abordagem
qualitativa, onde foram aplicadas entrevistas semi-estruturadas para a coleta de
informações, as quais foram executadas de janeiro a março de 2008. A amostra foi
constituída por dez profissionais de enfermagem inseridos em unidades básicas da zona
urbana e rural. Concluiu-se que nas unidades básicas de saúde ocorriam semanalmente
ações educativas de modo individual e coletiva, voltada apenas para usuárias do sexo
feminino. Os profissionais de enfermagem reconheciam a importância da educação em
saúde para o planejamento familiar e citaram como entraves para realização dessa atividade
a escassez de material pedagógico como suporte para essas ações e a limitação de
métodos contraceptivos disponibilizados para as usuárias. Espera-se que as considerações
apresentadas possam servir de estímulo para melhorar a qualidade das ações educativas
no planejamento familiar, como ferramenta para aproximar a comunidade dos profissionais
que atuam nesse serviço.
Palavras chave: Educação em Saúde; Planejamento Familiar; Estratégia Saúde da Família.
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INTRODUÇÃO
Com a reorganização da atenção à saúde no Brasil, o Programa Saúde da
Família (PSF), foi implantado gradativamente em todo o país, a partir de 1994,
somado a acontecimentos como a descentralização de poder, através da gestão
local de saúde e a criação de mecanismos de participação popular e controle social.
Com o novo modelo visando, principalmente, à promoção da saúde e a
prevenção das doenças, o reconhecimento do poder compartilhado se fez
necessário, em substituição ao modelo biomédico com sua postura autoritária.
Oliveira10 constata que a exigência de modificação na prática assistencial da
saúde, o profissional ao adentrar na Equipe Saúde da Família (ESF) com o seu
conhecimento técnico-científico, sentiu-se desafiado a ampliar conhecimentos
antropológicos e sociológicos, para compreender o ciclo familiar e também teve
dificuldade de trabalhar com a promoção da saúde de forma intersetorial e
interdisciplinar. De acordo com Barroso2, o movimento de promoção da saúde
reforça a necessidade de compartilhar poder, isso envolve a noção de parceria entre
profissionais e indivíduos ou comunidades, para superar o relacionamento mais
tradicional e hierárquico do fornecedor/cliente.
Segundo Ducan7, a educação em saúde constitui-se em uma das áreas
fundamentais de atuação em saúde e pode ser vista como um mecanismo de
interação entre o saber científico e o popular, com o objetivo de socialização do
saber científico e de reconhecimento social do saber popular. Assim, esta pode ser
reconhecida como uma estratégia de atuação que possibilita a médio e a longo
prazo, que os indivíduos exerçam maior prevenção e controle de doenças que
possam vir a instalar-se e que a coletividade seja um agente organizado de
interação sobre determinantes imediatos ou estruturais do processo saúde-doença.
A educação em saúde faz parte de ação conjunta como uma alavanca de
reorientação do modelo promotor da Estratégia Saúde da Família.
Para Costa Neto5, o profissional da Equipe de Saúde da Família precisa ser
capaz de atuar com criatividade e senso crítico, mediante uma prática humanizada,
competente e resolutiva, que envolve ações de promoção, prevenção, recuperação
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e de reabilitação. Um profissional capacitado para planejar, organizar, desenvolver e
avaliar ações que respondam às necessidades da comunidade, articulando os
diversos setores envolvidos na promoção da saúde. E para que isto aconteça, é
preciso uma permanente interação com a comunidade, no sentido de mobilizá-la e
estimular sua participação nas ações de educação de saúde.
Até a década de 1970, as políticas públicas com relação à saúde das
mulheres se preocupavam com a função procriativa e eram traduzidas em cuidados
ao ciclo grávido-puerperal com ênfase na visão da mulher como mãe, constituindo o
modelo materno-infantil4.
Com o aprofundamento da crise do setor saúde e o processo de
democratização da saúde que desemboca no movimento da “Reforma Sanitária”
surgem condições para o questionamento do modelo de atenção à saúde da mulher.
Em 1983 é criado o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM)
como proposição do movimento feminista, resultante de sua crítica ao modelo
materno-infantil a partir da perspectiva de gênero. Desta forma, é incorporado um
novo enfoque nas políticas públicas voltadas para a saúde da mulher, centrado no
conceito de saúde integral e com ênfase na função educativa dos serviços.
Apesar deste avanço normativo, “a tradução da proposta política do Programa
de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM) para a organização concreta dos
serviços não é simples nem automática”6, assim, preponderantemente, as ações
voltadas à questão reprodutiva são reduzidas ao aspecto biológico, dentro de um
enfoque reducionista não considerando os direitos sexuais e reprodutivos. Como
conseqüência, temos uma baixa qualidade da assistência ao Planejamento
Familiar3.
Sabe-se que as práticas contraceptivas e os métodos de controle da
fertilidade sempre existiram na história da humanidade e, no mundo moderno,
estiveram intimamente relacionadas às necessidades econômicas e políticas das
sociedades industriais e tecnológicas.
A partir desse contexto, vale argumentar que se fez necessário a elaboração
desse trabalho, onde se avalia como as ações de educação em saúde, estão sendo
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desenvolvidas pelos profissionais de enfermagem na Estratégia Saúde da Família
na assistência ao Planejamento Familiar dispensado às famílias de cada território.
De acordo com o Ministério da Saúde3, as atividades educativas devem ser
desenvolvidas com o objetivo de oferecer à clientela os conhecimentos necessários
para a escolha e posterior utilização do método anticoncepcional mais adequado,
assim como propiciar o questionamento e reflexão sobre os temas relacionados com
a prática da anticoncepção, inclusive a sexualidade.
Como enfermeiros atuantes em Unidades Básicas da Estratégia Saúde da
Família, trabalhando com o planejamento familiar, percebemos as dificuldades que
os profissionais encontram para a realização das ações de educação em saúde em
cada área, fato observado durante nossa vivência profissional. O relato dos demais
colegas profissionais da “Saúde da Família” de Massapê-CE, em conversas
e
reuniões das equipes motivou-nos a elaborar esta pesquisa.
A importância desse trabalho está na possibilidade de melhorar as ações de
educação em saúde desenvolvidas atualmente, bem como controlar a natalidade, o
número de gestantes adolescentes, o número exorbitante de pacientes com
Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST’s).
Um dos pontos fundamentais para a efetividade das ações do Planejamento
Familiar é o acesso às informações que possibilite ao indivíduo condições de realizar
escolhas conscientes a partir da sua realidade e, de tal forma, que promova o
desenvolvimento da sua autonomia, resultando na melhoria das suas condições de
vida e saúde. Em nosso contexto assistencial não é ainda comum o reconhecimento
e a valorização da educação nas práticas de saúde. Freqüentemente, encontramos
profissionais de saúde que não percebem que em suas ações está implícita uma
ação educativa (mesmo que não tenha este propósito de forma consciente),
enquanto outros reproduzem uma ação educativa vertical e despersonalizada,
baseada numa compreensão restrita de saúde como ausência de doença e de
educação como mera transmissão de informações1.
Pensar saúde relacionada à qualidade de vida implica em realizar atividades
de educação em saúde inseridas numa perspectiva participante num processo que
proporcione condições de exercer maior controle sobre sua saúde e meio ambiente.
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Todos os profissionais de saúde devem exercer a educação em saúde em
todo momento e em qualquer ocasião: no consultório médico, na sala de vacina, no
grupo de gestantes etc. Para exercerem essa função educativa, é necessário que
haja uma transmissão de conhecimento através de um mecanismo de comunicação
que facilite a compreensão e estimule a sua prática.
Os profissionais da Estratégia Saúde da Família, por trabalharem com
população adscrita, priorizando as ações de promoção, proteção e recuperação da
saúde dos indivíduos e da família, de forma integral e contínua, têm um papel
importante com relação a estas questões.
Costa Neto5 defende que se deve buscar a formação de profissionais de
saúde capazes de perceber a multicausalidade dos processos mórbidos, sejam
físicos, metais ou sociais, tanto individuais como coletivos, sempre visualizando o
indivíduo em seu meio ambiente e seu contexto familiar e social.
Essa investigação se deve ao fato de que a educação em saúde é uma das
metas do novo pacto e enquanto profissionais de enfermagem temos trabalhado
para inserir uma abordagem de educação em saúde na ESF em que atuamos.
OBJETIVOS
 Geral:
- Conhecer como os profissionais de enfermagem percebem as ações de educação
em saúde no Planejamento Familiar no Município de Massapê-CE;
 Específicos:
- Avaliar como as ações de educação e saúde estão sendo desenvolvidas pelos
profissionais de enfermagem que atuam no Saúde da Família;
- Descrever as metodologias utilizadas por esses profissionais para a realização
dessas ações;
- Identificar se os profissionais realizam as orientações de educação em saúde
adequadamente no Planejamento Familiar e se há dificuldade em executá-las;
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METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de delineamento transversal numa investigação
exploratória-descritiva
com
abordagem
qualitativa.
Conforme
Leopardi9,
a
investigação qualitativa é uma das formas válidas de pesquisar e buscar o
conhecimento no âmbito científico, pois se trata de uma estratégia bastante útil,
principalmente quando se opera com fenômenos complexos sobre os quais não se
tem conhecimento suficiente para se testar hipóteses prévias. Assim sendo uma
pesquisa qualitativa visa realizar estudos descritivos e exploratórios sobre um tema
que ainda não foi suficientemente desenvolvido, de modo a servir como parâmetros
para futuras investigações preocupadas em testar hipóteses e generalizar
conhecimentos em torno de um objeto determinado. Além disso, a abordagem
qualitativa permite maiores possibilidades interpretativas, uma vez que a vivência do
pesquisador torna-se material fundamental na análise das informações coletadas na
pesquisa de campo.
Serviu-nos como cenário da pesquisa o município de Massapê, o qual está
localizado no Estado do Ceará, possuindo 33.925 habitantes, distribuídos em 533,4
km², pertencendo a Microrregião de Sobral e à 11ª Célula Regional de Saúde do
Ceará – CRES. Limita-se ao sul com os municípios de Sobral e Meruoca; a oeste
com Alcântaras e Moraújo; a leste com Santana do Acaraú e ao norte com Senador
Sá. Possui sete distritos, sendo o mais distante localizado a 29 km da sede. Há
diversas áreas de difícil acesso, como encosta de serra, por exemplo, dificultando a
ação das equipes de saúde da família.
A população foi constituída de profissionais de enfermagem que compõem a
Estratégia de Saúde da Família no município de Massapê (CE). A amostra foi de 10
profissionais. O quantitativo de profissionais deu-se tanto pelo fator tempo, como
pela recusa de alguns em responder o instrumento de coleta de informações,
usando os critérios de acessibilidade, da aceitabilidade e da exclusividade.
As informações da pesquisa foram coletadas através de uma entrevista semiestruturada no período de janeiro a março de 2008, contendo perguntas abertas,
composta por questionamentos subjetivos relacionado à conceituação e a percepção
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dos profissionais sobre educação em saúde, os motivos pelos quais as orientações
não dão certo e os cenários utilizados para realização das ações de educação em
saúde.
Os depoimentos dos profissionais foram organizados em categorias A e B,
para distinguir enfermeiros e técnicos de enfermagem, de acordo com a similaridade
de suas idéias contidas, seguindo o método de análise de conteúdo proposto por
Leopardi9, que define categorização com uma operação que classifica elementos
constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, por reagrupamento, consideradas
suas características particulares e conforme critérios previamente definidos.
A análise foi realizada através de uma postura reflexiva, sustentada na
prática do nosso cotidiano profissional e embasada na pesquisa bibliográfica.
Por se tratar de uma pesquisa com seres humanos, foram tomadas as
providências necessárias para um enquadramento ético da pesquisa. Assim,
lançamos mão da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde que
regulamenta a pesquisa que envolve seres humanos, e procuramos atender os
princípios do respeito à autonomia individual, do direito à informação, do
consentimento esclarecido, da privacidade, da confidencialidade das informações e
da ponderação entre riscos e benefícios, com predomínio dos benefícios esperados
sobre riscos previsíveis8.
APRESENTANDO E DISCUTINDO OS RESULTADOS
Na análise a seguir foi realizada uma condensação das opiniões descritas por
categorias da Assistência de Enfermagem ao Planejamento Familiar, sendo
cognominado Profissional A, identificando por argumentos dos Enfermeiros e
Profissional B, alusivos às indagações dos Técnicos e Auxiliares de Enfermagem
entrevistados.
Definição da educação em saúde para os profissionais de enfermagem da ESF
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Quando foi questionado aos profissionais de enfermagem da Estratégia
Saúde da Família do município de Massapê-Ce como eles conceituavam a
educação em saúde como atividade de rotina em seu trabalho, obteve-se as
seguintes opiniões:
Profissional A:
“Disciplina de ação onde conhecimento e aprendizado unem-se para
desenvolver nas pessoas o senso de responsabilidade pela sua própria
saúde e pela saúde de sua comunidade”.
“Uma metodologia essencial para assegurar o envolvimento do paciente,
torná-lo co-responsável no processo de tratamento, na medida em que ele
sabe sobre a doença que lhe acomete e como ele irá aderir com mais
afinco à terapêutica recomendada, prevenir agravos entre outros”.
Profissional B:
“É uma ação da área da saúde em que a população recebe informações
sobre os conhecimentos do processo saúde e doença, a fim de prevenir as
patologias que acometem a população”.
Percepção dos profissionais entrevistados sobre Educação em Saúde dentro
do Planejamento Familiar
Quando foi indagado aos profissionais qual era a percepção deles sobre a
educação em saúde dentro do planejamento família, foi exposto o que se segue:
Profissional A:
“Percebo a necessidade de reavaliar ações em que o casal tenha uma
melhor qualidade de vida, não somente em evitar filhos, mas na busca de
uma atitude sexual bem resolvida, ter um maior conhecimento do corpo
humano”.
Profissional B:
“É essencial que se desenvolva um vínculo entre os casais e os
cuidadores, dentro deste contexto deve-se trabalhar e questionar sobre
família, maternidade,
paternidade,
opções
para os métodos
anticoncepcionais, responsabilidades e conhecimentos anatômicos e
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sensoriais sobre o corpo. Dessa forma, existirá maior participação dos
usuários com os cuidados sobre sua saúde”.
“Percebo uma necessidade extrema de explanar o verdadeiro significado
do tema que não consiste em apenas na contracepção, mas no
planejamento, quando, onde e como decidir ter um filho”.
“Ensinar o casal onde é preciso planejar o número de filhos para que se
possa adequar às condições socioeconômicas a realidade de cada família”
Como são realizadas as sessões de educação em saúde no planejamento
familiar e quais as metodologias utilizadas pelos profissionais de enfermagem
entrevistados:
Quando questionamos aos profissionais de enfermagem como eram
ministradas as sessões educativas no planejamento familiar e quais as metodologias
empregadas por eles, encontramos como resultados:
Profissional A:
“São feitas antes do atendimento ambulatorial, pois não podemos marcar
sessões educativas exclusivas para essa finalidade porque muitas
mulheres não irão participar. Geralmente, para fazermos as sessões
educativas sobre os métodos de planejamento familiar utilizamos apenas a
explanação oral, ou quando não, utilizamos pôster explicativo.”
Profissional B:
“As exposições sobre os métodos contraceptivos são bastante rápidas
devido à impaciência das usuárias, as quais querem ser atendidas
imediatamente ao chegarem na unidade. Muitas até nem prestam atenção
na exposição da enfermeira. A profissional também tem pressa em terminar
a palestra, pois sempre está atendendo uma grande demanda de mulheres
que querem pegar seus comprimidos.”
Dificuldades encontradas pelos profissionais para melhorar as orientações do
Planejamento Familiar
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Ao abordarmos os profissionais sobre os motivos pelos quais eles têm
dificuldades de executar ações de educação em saúde no planejamento familiar,
obtivemos como respostas:
Profissional A:
“Falta de material áudio-visual, material de expediente, espaço físico
adequado, métodos (condom, Dispositivo Intra-uterino - DIU,
anticoncepcional injetável - ACI, condom feminino, laqueadura, etc.),
equipe multidisciplinar, ausência de políticas públicas”.
“Falta de envolvimento do casal, já que ainda somente a mulher busca a
unidade de saúde para tal finalidade. E quando propomos reunirmos o
casal em palestras, há uma evasão quase total do sexo masculino,
ausentando-se com justificativa de ser provedor do sustento familiar e ter
que trabalhar. Falta de material didático para o profissional ser estimulado
a proferir oficinas entre outros”.
“A ausência de alguns métodos na unidade; o esquecimento na tomada
dos comprimidos e as reações adversas fazem com que grande parte das
mulheres não tomem ou tomem de forma irregular o contraceptivo”.
Profissional B:
“Maior participação dos casais, principalmente do homem (parceiro), bem
como de todos os participantes da família, pois sabemos que há influências
dos membros da família sobre o uso dos métodos contraceptivos”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se observar que os profissionais de enfermagem da Estratégia Saúde
da Família do município em estudo reconhecem a relevância da educação em saúde
como ferramenta indispensável para consolidar seu trabalho no Planejamento
Familiar, entretanto foi possível revelar várias dificuldades implicadas como entraves
determinantes da qualidade dessa assistência.
Com relação às ações da Equipe de Enfermagem no Planejamento Familiar
foi
possível
constatar
que
os profissionais
realizam
palestras
educativas
semanalmente para famílias assistidas que fazem uso de contraceptivos. Porém, o
público alvo dessas sessões são as mulheres, sem que haja a participação
masculina da figura paterna.
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Apesar de ser perceptível o empenho e a vontade dos profissionais em
desenvolver atividades educativas nessa assistência, observou-se a falta de
capacitação técnica, pedagógica, bem como a limitação de material didático para a
sua consecução. A pesquisa aponta para a necessidade de mais capacitações dos
profissionais envolvidos no Planejamento Familiar, favorecendo o desenvolvimento
de ações promotoras de saúde com abordagens metodológicas participativas e
problematizantes, de forma a oportunizar discussões que promovam reflexão crítica
do grupo com troca de saberes para aquisição de autonomia e maturidade,
possibilitando que o direito de escolha seja garantido.
Além de capacitação do pessoal de saúde, é preciso que haja divulgação do
serviço de planejamento familiar, para que esta atenção seja efetiva e satisfatória.
O conhecimento sobre a forma de realizar o planejamento familiar é um
conjunto extenso de saberes necessários para o sucesso. Para a realização deste é
preciso que a mulher e/ou o homem seja conhecedor de seu corpo e de todas as
mudanças que podem ocorrer em seu organismo e estilo de vida e ainda dos direitos
que os amparam. O planejamento familiar está inserido em um contexto que envolve
não apenas o desejo ou não de ter filhos, engloba fatores como situação social,
demográfica, cultura e também religião.
É importante lembrar que exercício do direito e da escolha livre e informada
requer a oferta de insumos em diversidade de métodos e em quantidade adequada,
o que não vem representando uma realidade em Massapê-Ce.
Também foi possível constatar que as Unidades Básicas de Saúde
apresentam estrutura física inadequada para o funcionamento de atividades que
favoreçam a qualidade do atendimento com humanização, principalmente no que se
refere às ações de Educação em Saúde realizadas em grupos, onde a inadequação
do espaço físico foi mais significativa.
Espera-se que as inferências aqui apresentadas sirvam de estímulo para a
compreensão do papel que cada um de nós desempenha no processo de
construção da saúde, e a partir deste reconhecimento possamos assumir uma
postura que crie condições objetivas para a transformação que se concretize em
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práticas humanizadas e comprometidas com a qualidade de vida e saúde da
população.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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