EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA: CONTEÚDOS E ABORDAGENS NO TRABALHO COM ALUNOS COM NECESSIDADES ESPECIAIS ARNALDO ELÓI BENVEGNÚ JÚNIOR Centro Municipal de Educação Básica Avelino Biscaro/Salto Veloso-SC [email protected] Resumo Esse trabalho nos mostra os métodos e as abordagens pedagógicas utilizadas na Educação Física Adaptada, além do papel do professor na inclusão de alunos com necessidades educacionais. O objetivo da pesquisa foi analisar e compreender tais abordagens – tanto sob seu aspecto teórico quanto prático – utilizadas na Educação Física Adaptada (EFA), a fim de auxiliar os futuros profissionais no trabalho com educandos com necessidades especiais. O autor fez o uso da pesquisa bibliográfica para a revisão do assunto em questão, elaborado a partir de livros e artigos científicos Primeiramente é importante dizermos que a EFA deve ser um programa que objetive a inclusão, baseado num programa da cultura corporal, adequado aos interesses, capacidades e limitações dos alunos. Segundo lugar, o professor deve estar aberto a mudanças, contemplar as diferenças e ser um sujeito acolhedor, respeitando a diversidade que se apresenta, pois trabalhar com EFA exige transformações e mudanças. O terceiro passo é conhecer o aluno com necessidades especiais, seja ela qual for (física, cognitiva, etc.), só assim ele poderá fazer um bom planejamento, baseado nos objetivos a serem atingidos. Valorizar aulas que envolvam a cooperação é um momento relevante para todos, visto que para isso haverá a necessidade de interação por parte dos alunos. Quanto aos métodos, é importante variá-los e ampliá-los como forma de entendimento por parte dos alunos com necessidades especiais, ser claro, se expressar bem. Enfim, a conclusão que chegamos é a de que não existe um método ou uma abordagem específica para trabalhar a EFA, mas sim formas de adequar o trabalho as características de cada aluno. O importante é o professor estar com a mente aberta para a mudança que se fará necessária. Revista Carioca de Educação Física, nº 8, 2013 Abstract This work shows the methods and pedagogical approaches used in Adapted Physical Education, and the teacher's role in the inclusion of students with educational needs. The objective of the research was to analyze and understand such approaches - both under its theoretical and practical aspect - used in Adapted Physical Education (APE) in order to help future professionals in working with students with special needs. The author made use of literature to review the subject matter, drawn from books and scientific articles First it is important to say that the EFA should be a program that aims to include, based on a program of physical culture, appropriate to the interests , capacities and limitations of students. Secondly, the teacher must be open to change, contemplating the differences and be a subject welcoming, respecting diversity that presents itself as working with EFA requires transformations and changes. The third step is to know the student with special needs, whatever it is (physical, cognitive, etc..), Just so he can do good planning, based on the objectives to be achieved. Valuing classes involving cooperation is a relevant time for all, since there is no need for this interaction by students. Regarding methods, it is important to vary them and expand them as a way of understanding by students with special needs, to be clear, express themselves well. Finally, the conclusion we reached is that there is a method or a specific approach to work EFA, but ways of adapting the work characteristics of each student. What is important is the teacher to be open-minded for change that will be required. Revista Carioca de Educação Física, nº 8, 2013 Introdução A Educação Física escolar representa um momento onde os alunos conhecerão melhor suas capacidades físicas e suas limitações, por meio da interação entre seus colegas, professor e o próprio contexto onde está inserido, tudo isso contemplado na visão da cultura corporal (jogos, lutas, ginásticas, esportes, danças). Assim, aprenderão, com a mediação do professor, respeitar a diversidade que cada vez mais se apresenta em nossa sociedade. A participação de alunos com necessidades educacionais especiais nas aulas de Educação Física no ensino regular, dessa forma, é importantíssima para que eles possam desenvolver-se corporalmente, socialmente e afetivamente, integrando-se na convivência cultural e social, de maneira lúdica e prazerosa. Desse modo, a Educação Física Adaptada, por meio de seu sujeito ativo – o professor – se mostra relevante na promoção de uma aproximação entre Educação Física, escola e a sociedade, destituída de discriminação, valorizando o respeito, a solidariedade e as diferenças físicas e cognitivas entre os seres humanos. Nesse trabalho, nos propormos a investigar e analisar os conteúdos, métodos e abordagens trabalhadas em âmbito escolar pelo professor de educação física, a fim de ajudar educadores que encontram em suas turmas alunos com necessidades especiais, sentindo-se despreparados para incluí-los em suas aulas. A proposta da Educação Física Adaptada É importante conhecermos, mesmo que de forma sucinta e objetiva, quais os objetivos e propostas da Educação Física Adaptada. Temos alguns diferentes conceitos, segundo estudiosos do assunto, sendo que nenhum deles divergente do outro. É importante dizermos que para todos os autores a Educação Física Adaptada (EFA) é uma área da Educação Física criada para atender pessoas com algum tipo de deficiência, não significando que outros não possam usufruir também de seus benefícios. Ela engloba um programa ou um conjunto de atividades previamente planejadas, considerando sempre as capacidades e limitações dos sujeitos envolvidos, que podem ir desde uma deficiência física, motora até cognitiva. Tem em sua finalidade estudar a motricidade humana, sendo que seus métodos de ensino devem estar adequados as características de cada pessoa com deficiência, respeitando diferenças individuais. Muito se fala em quais os conteúdos e atividades a serem trabalhados em Educação Física Adaptada, sendo uma dúvida para muito dos profissionais que atuam com alunos com necessidades especiais. Afinal, que conteúdos o educador físico deve trabalhar? A resposta é: com os mesmo conteúdos trabalhados em qualquer escola de ensino regular, ou seja, jogos, lutas, esportes, danças, todos pertencentes à cultura corporal. O que o profissional precisar cuidar quando trabalha com alunos com algum tipo de deficiência é que haverá restrições em algumas regras, métodos, técnicas, enfim, modificações que se farão necessárias para a inclusão dos mesmos, afinal de contas todos os conteúdos citados acima, Revista Carioca de Educação Física, nº 8, 2013 além de serem benéficos para a saúde, também são importantes em sua socialização, interação e trocas entre os sujeitos. Além disso, quando falamos de EFA, estamos tratando de um processo interventivo, isto é, onde terá um sujeito encarregado de agir e intervir nas ações, quando necessário – professor – e outro que deverá estar inserido no processo, sendo o transformador, o beneficiário – no caso o aluno. Para que isso ocorra, há de se reconstruir uma Educação Física, ainda muito tradicional em sua forma, e tornar o ensino voltado para a diversidade, para um ambiente de cooperação e inclusão. Educação Física e inclusão É impossível falarmos de inclusão atualmente sem falarmos em integração, pois essa nos apresenta como pressuposto ideológico que todas as pessoas são iguais e dessa forma precisam estar inseridas em todas as esferas da sociedade, isso inclui as aulas de Educação Física escolar. Gostaríamos de lembrar que quando falamos em inclusão, a primeira coisa que nos vem à cabeça é que tal proposta remete-se a apenas alunos com algum tipo de deficiência, o que é uma inverdade. Uma inclusão será verdadeira e efetiva apenas quando todos tiverem garantidos os direitos de acesso e permanência à educação escolar, preferencialmente no ensino regular. Vemos que em nossas atuais práticas pedagógicas poucos professores acreditarem que é possível a alunos com necessidades especiais, seja ela qual for, praticarem algum tipo de atividade física junto aos demais colegas ditos “normais”. Sabemos da dificuldade que é incluir, trabalhar com classes onde impera a diversidade, a heterogeneidade, porém essa é nossa matéria prima e precisamos nos preparar para tal. São muitos os professores que ainda realizam atividades paralelas para os alunos com necessidades especiais, pelo fato de não conseguirem integrá-los aos demais alunos, fato que está ligado à formação precária dos cursos de Educação Física. Ainda não temos um currículo que prepare o professor para essa diversidade, para essa gama de situações que serão encontradas ao assumir turmas de muitas vezes 20, 30 alunos com características e dificuldades distintas. Gostaríamos de afirmar que apenas adaptar a Educação Física a esses alunos não significa que estejamos incluindo-os no ensino regular. Pelo contrário, um professor que se diz integrador, que pratica a inclusão, deve ter em mente muito mais do que adaptar atividades, jogos, esportes, lutas, etc., para que tais alunos possam participar ativamente, mas, sobretudo criar situações compatíveis com as condições e habilidades dessas pessoas. Criar a cultura da inclusão é estar aberto, é respeitar as diferenças individuais, dando possibilidade do reconhecimento de si, do outro e do contexto ao qual está o aluno está inserido. Portanto o educador necessita estar receptivo a mudança, pois será pois passará por um processo de ensino, mas também de aprendizagem, numa troca constante professor/aluno. Revista Carioca de Educação Física, nº 8, 2013 Para que pratiquemos de fato uma Educação Física inclusiva, faz-se necessário primeiramente conhecê-la em sua essência, compreendê-la, para depois traçarmos as metas para atingirmos nossos objetivos. Ainda estamos aquém do que precisamos para romper as barreiras conservadoras e preconceituosas que encontramos diariamente, porém somente com um trabalho sério e desafiador será possível desenvolver uma prática pedagógica consistente, que sirva a todos os alunos, sem discriminação. Abordagens pedagógicas e metodológicas em Educação Física Adaptada Antes de tudo, de o professor pensar a abordagem ou o método ou até mesmo a técnica a ser utilizada nas aulas de Educação Física, é imprescindível a ele o reconhecimento de seus alunos, especialmente aqueles com necessidades especiais, que são o foco de nosso estudo. Tais conhecimentos são básicos, como tipo de deficiência, idade em que apareceu a deficiência, se é transitória ou permanente, se é motora ou cognitiva, enfim, isso tudo fará a diferença na hora do planejamento das ações a serem desenvolvidas, até porque dessa forma será capaz de conhecer as limitações de seus alunos. Dessa forma, o conhecimento a ser desenvolvido pelo professor não será de propriedade de apenas uma classe de alunos isolado, mas deverá ser algo a ser socializado ao máximo por todos. Um professor preocupado com alunos com necessidades especiais não se preocupa apenas com fim do processo, mas principalmente com seu meio. O primeiro será consequência do segundo. Outro fator que o educador deve se atentar e que está ligado ao que dissemos no parágrafo anterior refere-se a atividades competitivas em detrimentos das cooperativas. Existem professores que ainda focam em seus trabalhos a questão do desempenho, da vitória, do êxtase da conquista. Pensando na inclusão, no trabalho com alunos especiais, isso é totalmente inaceitável. Nesse sentido, precisa valorizar a interação entre os sujeitos envolvidos, do qual ele professor faz parte. Quando o educador perceber que interagindo os alunos estarão conhecendo suas limitações e ajudando-se na execução das tarefas propostas, o caminho para uma educação cidadã e integradora estará sendo desenvolvida. Queremos deixar claro que o professor deve primar sempre pelo coletivo sobre o individual. Quanto a técnicas e métodos de ensino, é relevante ao professor ter clareza nas suas explicações, a fim de que os alunos com necessidades especiais consigam ter o entendimento total da tarefa. Demonstrar sempre ajuda o procedimento, mas quanto maiores forem às formas e maneiras de explicar algo, melhor será o entendimento por parte do aluno. Importa dizer que não existe uma abordagem, um método ou uma técnica isolada e única que seja capaz de dar suporte a ação pedagógica. Por fim, a prática pedagógica do educador será efetiva quando tiver um suporte teórico, um bom planejamento, um embasamento que lhe dê capacidade para articular o ensino e fazer as mudanças quando necessárias, assim como um bom método avaliativo. E lembrando, adaptar apenas quando houver a necessidade. Revista Carioca de Educação Física, nº 8, 2013 Conclusão Para sermos bem objetivos, queremos nesse capítulo final corroborar o que dissemos até então, que consideramos relevantes para os professores de Educação Física, em especial aos que atuam com alunos com necessidades especiais e/ou algum tipo de deficiência. Conhecermos nossos alunos num primeiro momento nos dará a base para planejarmos nossas ações posteriores. Praticar a inclusão, ler sobre o assunto, estar com a mente aberta para novas mudanças que se fazem necessárias. Valorizar os jogos cooperativos em detrimento dos jogos competitivos, criando mecanismos que dêem ênfase ao processo em sim, e não somente ao fim. Fazer com que os alunos aprendam por meio da interação, da socialização, da troca de informações, do reconhecimento de suas limitações e de seus colegas, um ajudando ao outro. Pensar que não existe uma abordagem, método ou técnica específica para o trabalho com a Educação Física Adaptada (EFA), mas que o uso de vários será o caminho para um ensino eficaz. Revista Carioca de Educação Física, nº 8, 2013 Bibliografia - COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino da Educação Física. São Paulo, SP: Editora Cortez, 1992. 118 p.; - DARIDO, Suraya Cristina; BETTI, Mauro. Educação física na escola: questões e reflexões. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. 91 p.; - Educação Física Adaptada. REVISTA INTEGRAÇÃO-Edição Especial. Ministério da Educação-Secretaria de Educação Especial; Ano 14/2002, - FERREIRA, Vanja. Educação Física adaptada: atividades especiais. Rio de Janeiro: Sprint, 2010. 76p.; - NUNES, Tatiana Cortez; COUTO, Yara Aparecida. Educação física escolar e cultura corporal de movimento no processo educacional. In: I Seminário de Estudos em Educação Física Escolar, 2006, São Carlos. Anais... São Carlos: CEEFE/UFSCar, 2006; - PEREIRA, Maria Goretti Ramos. A motivação de adolescentes para a prática da Educação Física: uma análise comparativa de instituição pública e privada. 2006. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2006; - Temas em Educação Física Adaptada. Sociedade Brasileira de Atividade Motora Adaptada. – (S. L.) : SOBAMA, 2001. 101P.; - VIGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 3ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1989. 168 p. Revista Carioca de Educação Física, nº 8, 2013