A educação ambiental nas escolas Maria de Fátima Messaggi Collioni1 Facos/CNEC-Osório Resumo: Este artigo propõe-se a refletir sobre “Projeto Semear, crianças construindo um mundo melhor”, desenvolvido numa escola da rede privada do município de Osório e sua contribuição na formação da cidadania dos alunos envolvidos. Busca discutir a importância de projetos de Educação Ambiental nas escolas e de que maneira estes podem auxiliar no processo de construção do conhecimento do aluno. Assim, trata de ver o aluno como construtor do seu saber, na medida em que é provocado a relacionar o que vê em sala de aula com sua vida cotidiana. Para tanto, se fez um estudo teórico sobre o assunto, usando como método a pesquisa qualitativa, com base em questionários, realizados com as famílias dos alunos participantes do Projeto Semear. Palavras-Chave: Educação Ambiental. Escola. Planejamento. Cidadania. Abstract: This article aims to reflect on "Seed Project, children build a better world" developed through a private school in the city of Osorio and his contribution to the citizenship of the students involved. Discusses the importance of environmental education projects in schools and how they can assist the process of building knowledge of the student. Thus, about seeing the student as constructor of his knowledge, as it is forced to relate what he sees in the classroom to their daily lives. Thus, it has made a theoretical study on the subject, using as a qualitative research method, based on surveys conducted with the families of students participating in Project Seed. Keywords: Ambiental Educations.School. Plain. Introdução Diariamente fazemos a leitura do ambiente que nos cerca. Esta leitura é determinada pelas condições históricas, culturais e sociais das quais fazemos parte. A educação acontece como parte integrante da ação humana de transformar a natureza em cultura, já que ao fazer a nossa leitura do mundo, atribuímos significados ao que acontece. O educador assim torna-se um mediador, uma vez que educar é mediar, buscar fazer a tradução do mundo em 1 e-mail: [email protected]. Egressa do curso de Pedagogia. Artigo desenvolvido na disciplina de Seminário de Conclusão, sob a orientação da Profª Liege Deolinda Westermann. 109 que vivemos, a partir do ambiente do qual fazemos parte. Somos seres singulares, logo estas leituras acontecem de muitas maneiras levando em conta toda a vivência do indivíduo. Por este motivo vale lembrar que é possível repensar, reinterpretar o que vemos e buscar novas ações para o que nos rodeia. A Educação Ambiental auxilia para múltiplas compreensões e leituras do mundo, favorecendo para que cada indivíduo envolvido possa se perceber como integrante de um lugar e, por este motivo, responsável por seus atos. Segundo os PCN’S de Meio Ambiente, A principal função do trabalho com o tema Meio Ambiente é contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos para decidirem e atuarem na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade, local e global. Para isso é necessário que, mais do que informações e conceitos, a escola se proponha a trabalhar com atitudes, com formação de valores, com o ensino e a aprendizagem de habilidades e procedimentos. (PCN’S, 1996, p.12) O trabalho da Educação Ambiental auxilia na formação do cidadão reflexivo e atuante no meio em que vive, já que busca desenvolver atitudes e valores que atribuem ao ser humano, outras maneiras de se enxergar no meio do qual faz parte. Por este motivo, torna-se o cidadão capaz de tomar decisões que contribuam para a sua vida e das demais pessoas. Deste modo, este artigo se justifica pela grande importância que a Educação Ambiental representa hoje para a sociedade. Pensar em Educação Ambiental é muito mais do que estudar Ecologia, Biologia ou fenômenos da natureza, é relacionar questões sociais, políticas, culturais, econômicas e pessoais que fazem parte de nossos cotidianos e que muitas vezes não olhamos com o valor necessário por estarmos acostumados a ver diariamente problemas que julgamos menores, frente aos que já possuímos. Para a realização desta pesquisa utilizei como coleta de dados questionários (disponível anexo I) que foram entregues as quinze famílias dos alunos que participam do Projeto Semear. A proposta dos questionários foi fazer com que estas famílias pensassem sobre o trabalho que vem sendo desenvolvido com 110 seus filhos e dessem as suas contribuições para analise desta proposta, bem como também analisar os resultados já alcançados ou não com as atividades desenvolvidas. Das quinze famílias envolvidas com a pesquisa, apenas uma não entregou suas respostas. Das outras quatorze famílias as contribuições e avaliação sobre o trabalho desenvolvido, demonstraram que os resultados já podem ser observados em algumas mudanças de comportamento dos filhos, desde manter a torneira fechada durante a escovação dos dentes até o cuidado com lixo em momentos de lazer fora de casa. Tudo isso mostra que o Projeto Semear tem contribuído na formação social destes alunos e como consequência dos grupos sociais ao qual fazem arte. Projeto semear, crianças construindo um mundo melhor Os projetos de Educação Ambiental podem auxiliar no processo de aprendizagem, onde o indivíduo passa a se perceber integrante da sociedade e responsável pelo que faz com o meio ambiente e, por este motivo, capaz de buscar mudanças para o quadro de poluição e desigualdades que se apresenta. Segundo Chassot, “A cidadania que queremos é aquela que passa a ser exercida através de posturas críticas sobre a nossa realidade cotidiana, buscando modificações possíveis no ambiente natural.” (2001, p.137). Nesta perspectiva, um estudo que nos auxilie numa melhor compreensão sobre a Educação Ambiental, e de que modo ela pode auxiliar no processo de formação dos alunos, enquanto cidadãos trará a convicção de que a Educação Ambiental precisa estar cada vez mais evidente nos currículos escolares de todas as nossas escolas. Assim, é importante estudar de que maneira os projetos de Educação Ambiental podem contribuir no processo de formação do aluno enquanto cidadão. Para isso, este trabalho utiliza como metodologia de estudo questionários, buscando saber a opinião de algumas famílias envolvidas no Projeto Semear, crianças construindo um mundo melhor, realizado numa 111 Escola de Ensino Fundamental da rede privada do município de Osório. Neste estudo busca-se investigar a contribuição, ou não, deste projeto de Educação Ambiental, na formação dos alunos envolvidos. O Projeto Semear já vem sendo desenvolvido há três anos numa escola de ensino privado do município de Osório e atende crianças numa faixa etária entre 5 a 9 anos. O trabalho realizado busca desenvolver atitudes de valores, iniciando pequenas práticas de preservação ambiental onde os alunos aprendem a utilizar de modo consciente nossos recursos naturais, a separar o lixo, reutilizar materiais e muito mais. Os trabalhos desenvolvidos envolvem trabalhos de conscientização ligados a comunidade, também saídas a campo para observação do nosso meio e a importância dos cuidados com o meio ambiente. Buscando outros olhares Nossas ideias ou conceitos organizam o mundo, tornando-o legível e familiar. São como lentes que nos fazem ver isso e não aquilo e nos guiam em meio à enorme complexidade e imprevisibilidade da vida. Acontece que, quando usamos óculos por muito tempo, a lente acaba fazendo parte de nossa visão a ponto de esquecermos que ela continua lá, entre nós e o que vemos, entre os olhos e a paisagem. (CARVALHO, 2008, p. 33) É a partir de imagens e conceitos que criamos as nossas concepções sobre o que nos cerca. Nosso modo de ver e pensar muitas vezes são influenciados por aquilo com que nos deparamos diariamente e que infelizmente nos acostumamos a ver, tornando-se assim comum aos nossos olhos e não despertando mais nossa indignação sobre assuntos importantes para a continuação da vida. Nesta perspectiva, Carvalho (2008) afirma que somos reféns das nossas visões e conceitos e que para nos libertarmos precisamos mudar o modo de ver o mundo à nossa volta para que, assim, tenhamos uma visão mais ampla do que acontece diariamente ao nosso redor. “Desnaturalizar” significa propormos outros modos de ver o mundo. Criando novas concepções sobre conceitos que nos são passados e trabalhados, cria112 se outros aprendizados para nos renovarmos diante dos acontecimentos da vida. Quando falamos em meio ambiente, logo nos vem à cabeça ideias de “animais”, “vegetais”, “fenômenos da natureza”, “recursos naturais”. Essa visão que muitos têm do meio ambiente, remete a conceitos e concepções que são passados de geração em geração e que, de certa forma, acabam influenciando o modo de pensar das pessoas, como se esta fosse a única forma de pensar sobre o meio ambiente, como se nós não fizéssemos parte deste ambiente e também de tudo o que provocamos nele. Esta visão “naturalizada” tende a ver a natureza como um mundo autônomo, constituído em oposição ao mundo humano, percebendo qualquer forma de interferência como uma ameaça a integridade da mesma, prejudicial. Buscar outra maneira de compreender esta relação seria uma riquíssima prática que nos traria novas informações e concepções sobre como podemos conviver de maneira harmônica neste ambiente comum a todos os seres vivos. Nesta linha de pensamento, Carvalho (2008) nos faz refletir sobre o “socioambiental”, onde a sociedade e o ambiente estabelecem uma relação de mútua interação formando um único mundo. A visão socioambiental orienta-se por uma racionalidade complexa e interdisciplinar e pensa o meio ambiente não como sinônimo de natureza intocada, mas como um campo de interações entre a cultura, a sociedade e a base física e biológica dos processos vitais, no qual todos os termos dessa relação se modificam dinâmica e mutuamente. (2008, p.37) Desta forma, as modificações causadas por esta interação nem sempre são negativas na visão socioambiental, também podendo ser sustentáveis. Nesta perspectiva, é muito importante que nas escolas sejam abordados assuntos que possibilitem aos alunos reorganizar suas ideias, a fim de que percebam a interação do ser humano com a natureza, do quanto auxiliamos no enriquecimento (ou empobrecimento) deste ambiente. Mas para isto acontecer é necessário pensarmos até que ponto esta interação está sendo produtiva para ambas as partes e não somente pelo ângulo do interesse humano. “É preciso compreender a natureza como ambiente, lugar de interações da base física e cultural da vida neste planeta” (Carvalho, 2008, p. 38.). 113 Lendo sobre história da palavra ECOLOGIA, podemos perceber o quanto algumas certezas foram sendo trocadas para que nossos saberes se afirmassem. O surgimento da ecologia no âmbito das ciências está associado ao ano de 1866, quando o biólogo Ernest Haeckel, usou este conceito para definir a ciência das relações dos organismos com o mundo exterior. Em 1935, o ecólogo inglês Arthur Tansley a definia como o principal objeto dos estudos ecológicos sobre os ecossistemas. De modo geral, a Ecologia busca compreender as inter-relações entre os seres vivos, procurando alcançar níveis ainda mais altos de compreensão da vida e de sua organização no planeta. No mundo social esta palavra foi associada e retraduzida por uma diversidade de práticas não científicas, como as ações e movimentos sociais e acabou ganhando novos significados, agora ligados a um mundo “melhor”, ambientalmente preservado e socialmente justo. Mais do que a ciência ecológica, é o ecologismo que constitui a origem da Educação Ambiental e da busca pela formação do sujeito ecológico, que compreende sua relação com o meio ambiente e convive em harmonia com ele. A escola precisa oportunizar maneiras e ações onde os alunos possam refletir sobre o que acontece diariamente ao nosso redor, para que assim possam compreender a importância daquilo que fazemos todos os dias. Quando se pensa nestes atos, não se quer discutir apenas a prática da separação do lixo ou outros cuidados com o meio ambiente, é preciso ir além. A conversa em sala de aula precisa também abranger assuntos relacionados a valores, atitudes de solidariedade e respeito. É necessário que haja um trabalho onde a valorização do ser humano seja posta em primeiro lugar, levando para dentro da sala de aula assuntos tais como falta de emprego, de moradia e de saúde. Isso poderá auxiliar no processo educacional onde do qual se esperam resultados de atitudes novas e mudanças no modo de pensar e agir dos alunos, compreendendo a real importância do cuidado com o nosso meio ambiente, ambiente este, do qual as pessoas também fazem parte. Segundo os PCNs (1996, p. 13): “É importante que o professor trabalhe com o objetivo de desenvolver, junto aos alunos, uma postura crítica frente à realidade, a informações e valores veiculados pela mídia e àqueles trazidos de casa”. 114 O trabalho em sala de aula precisa ser expandido para dentro das casas dos protagonistas desses estudos. Esta extensão será possível, a partir do momento em que o aluno se sentir envolvido e despertar o interesse em saber mais, levando este conhecimento para outras pessoas de seu vínculo social e criando assim uma rede de informações e atitudes. O professor precisa atualizar-se constantemente para estar ligado ao que os meios de comunicação falam sobre o assunto. Ele precisa cada vez mais buscar saber sobre o assunto e também levar seus alunos a quererem saber mais, a fim de que analisem as propostas e medidas escolhidas pela sociedade e façam uma auto-avaliação sobre qual a melhor contribuição neste processo de conscientização sobre o meio ambiente. Assim como Freire (1996) já nos lembrava “... ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou construção.” É preciso dar significado para aquilo que se trabalha em sala de aula e criar condições para o aluno conseguir usar na prática do seu dia a dia, o que estuda em sala de aula. De nada adianta saber da importância de separar o lixo, se não vivenciar esta prática e observar o quanto este processo simples auxilia a vida de muitas pessoas que retiram sua renda familiar da venda do lixo reciclável, por exemplo. Nesta concepção a escola precisa estar atenta ao grupo social de que faz parte e levar este cotidiano para dentro da sala de aula. O trabalho com a realidade local possui a qualidade de oferecer um universo acessível e conhecido e, por isso, passível de ser campo de aplicação do conhecimento. Grande parte dos assuntos mais significativos para os alunos estão circunscritos à realidade mais próxima, ou seja, sua comunidade, sua região. (PCN’S, 1996, p.30) Buscando tornar a realidade em que vivemos algo acessível aos alunos, estaremos criando condições para que vejam na prática, como um ser precisa da ação do outro, e que, desta forma, podemos melhorar nosso meio de vida, criando situações onde o respeito e a solidariedade faça parte de nossas atividades diárias. A educação ambiental auxiliando na formação da cidadania 115 O espaço escolar é um ambiente onde várias questões são tratadas e trabalhadas. Neste local há espaço para muitos assuntos, mas é preciso dar ênfase para aqueles que fazem parte da vida dos alunos. Mesmo sem querer questionar integralmente o currículo das escolas, há que refletir sobre sua reorganização, para que temas mais atuais e urgentes também estejam presentes e façam parte de maneira mais ativa da vida dos alunos. Pensar na Educação Ambiental é refletir sobre de que maneira precisamos agir para que possamos viver numa relação harmoniosa com o meio ambiente. Nosso futuro depende das atitudes que tomamos hoje e de que maneira utilizamos os recursos naturais. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais sobre o Meio Ambiente, O trabalho de Educação Ambiental deve ser desenvolvido a fim de ajudar os alunos a construírem uma consciência global das questões relativas ao meio para que possam assumir posições afinadas com os valores referentes à sua proteção e melhoria. Para isso é importante que possam atribuir significado àquilo que aprendem sobre a questão ambiental. (PCN’S, 1996, p. 29) Muito já se vem fazendo sobre este assunto, mas é importante que os trabalhos sobre meio ambiente se tornem mais significativos para os alunos, pois assim, eles terão aprendido a real importância sobre nossas ações e que o futuro, depende delas e de como nos relacionamos com as demais pessoas. A responsabilidade e a solidariedade precisam estar presentes desde a relação das pessoas com o meio em que vivem, até a relação com outros povos e nações que precisam ser companheiras na preservação do meio, que é de todos. Nesta perspectiva pode-se citar o projeto Semear, desenvolvido numa escola da rede privada do município de Osório, objeto de estudo desta pesquisa, o qual tem desenvolvido práticas diárias que buscam a conscientização sobre a questão ambiental, como se pode observar no relato de uma pessoa das famílias entrevistadas: “Desenvolver projetos que semeiem os valores da preservação e conservação das espécies é muito importante para o desenvolvimento dos alunos e isto é observado no Projeto Semear”. 116 O projeto Semear surgiu com o objetivo de tornar mais visível a toda à comunidade escolar o trabalho desenvolvido na escola com os alunos, em relação às atitudes práticas vivenciadas no dia-a-dia, sobre questões ambientais, como possibilidade de fazer a diferença na formação dos alunos. Na escola em estudo, desde as primeiras séries da Educação Infantil este tema está presente, já plantando uma semente de que nossas atitudes fazem a diferença no cuidado com o lugar em que vivemos, brincamos e estamos. Inicia-se com o trabalho de separar o lixo na sala, usando a ludicidade como apoio, para tornar a ação significativa. As lixeiras adaptadas para atingir o interesse de cada turma é um bom exemplo: o lixo orgânico é colocado numa lixeira em forma de urso, pois “ele adora comer nossos lanchinhos”, já o lixo seco é colocado numa lixeira branca, pois o “ursinho não gosta de comer os potinhos dos iogurtes”. Desta maneira, o hábito de separar o lixo se torna algo prazeroso e divertido e o resultado pode ser visto nas turmas maiores, pois já reconhecem que não podemos colocar tudo junto na mesma lixeira. Segundo Freire, “... nas condições de verdadeira aprendizagem os educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador, igualmente sujeito do processo.” (1996, p.29) Os resultados deste trabalho podem ser observados também em casa, na rotina diária dos alunos, como é relatado por membros de uma das famílias entrevistadas: “Na minha casa o resultado foi surpreendente, pois minha filha chegou me explicando e impondo que nós começássemos a separar o lixo e não jogar o óleo de cozinha na pia e isto me fez repensar o quanto estava errando e assim junto com minha filha estamos mudando e se adaptando as maneiras certas de cuidar do meio ambiente.” Neste relato é possível ver que um trabalho levado a sério, com dedicação e envolvimento por parte da escola, alunos e família encontra resultados satisfatórios que podem fazer a diferença no espaço em que vivemos. 117 Vivemos num ambiente em constantes mudanças, onde pessoas e ambiente natural buscam um relacionamento em que todos possam conviver de maneira harmoniosa. Para que isto aconteça é importante que cada um saiba o seu lugar e qual a sua responsabilidade sobre ele. “A educação acontece como parte da ação humana de transformar a natureza em cultura, atribuindo-lhe sentidos, trazendo-a para o campo da compreensão e da experiência humana de estar no mundo e participar da vida.” (Carvalho, 2008, p. 77). Um sujeito cidadão precisa reconhecer-se como parte de um grupo, em que um precisa do outro. Na Educação Ambiental o trabalho com valores é muito importante, pois é necessário compreender que a ação de separar o lixo atinge não só a natureza, mas muitas pessoas que retiram seu sustento da reciclagem de materiais jogados fora. O desafio da construção de uma cidadania ativa se configura como elemento determinante para constituir e fortalecer sujeitos cidadãos que, portadores de direitos e deveres, assume a importante missão de abrir novos espaços de participação, onde o respeito entre os seres esteja em destaque. Um trabalho significativo precisa ter uma base sólida para que professores e alunos realizem práticas que possam influenciar a vida cotidiana dos envolvidos. A articulação destes temas a outras áreas do conhecimento facilita ao aluno ver que a questão ambiental faz parte de um todo, não apenas de algumas pessoas ou situações. O currículo escolar precisa se articular com a Educação Ambiental para que assuntos e vivências possam ser interligados a outros temas e experiências e assim criar uma rede de conhecimentos, onde o aluno se veja num todo e não em partes. Segundo Rocha (2004), “A ação interdisciplinar aliada às práticas pedagógicas, sendo a reconstrução dos conteúdos disciplinares a relação do ser-no-outro, valorizando assim a descoberta das diferenças e a riqueza da diversidade”. Observando esta proximidade entre o trabalho da escola e a vida cotidiana dos alunos, outro membro de famílias entrevistadas para tal trabalho relata que “O trabalho do projeto Semear contribui muito para a formação social dos alunos envolvidos, pois o que os alunos aprendem na escola é levado para casa 118 contribuindo para alcançar muitas outras pessoas.” Pode-se perceber que quanto mais cedo este trabalho se inclui na vida dos alunos, mais relações e conhecimentos são construídos. A família e a escola precisam ser parceiros neste trabalho para atingir um número maior de pessoas, pois sabemos que é na escola que constituímos muitas etapas de nossa formação social. O trabalho integrado a outras áreas do conhecimento busca uma reestruturação da maneira como nos posicionamos perante o conhecimento. Trata-se de mudarmos as lentes e sermos capazes de novas leituras do real, mesmo que ainda sejamos aprendizes desta nova gramática de sentido que nos permita chegar aos novos territórios de um saber interdisciplinar, que busque um trabalho significativo onde a aprendizagem seja construída. (Carvalho, 2008, p. 123) Como podemos ver, a Educação Ambiental pode levar o aluno a refletir ainda mais sobre o seu meio de vida social, buscando novas maneiras de agir ou melhorar o seu cotidiano. Apoiado e relacionando os conhecimentos construídos na escola, o aluno busca torná-los mais significativos, de modo que se perceba integrante ativo da realidade. A educação ambiental e o planejamento, o desafio de encontrar outras formas de ver e pensar Pensar em planejamento na Educação Ambiental é abrir um leque de opções para refletir sobre a realidade que nos cerca. A partir das opiniões e hipóteses que surgem em sala de aula, o professor pode iniciar um processo onde cada aluno poderá buscar sua forma de ver o tema em questão e quais caminhos ele quer tomar na busca do seu conhecimento. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1996), cada aluno é sujeito de seu processo de aprendizagem, enquanto que o professor é o mediador na interação deste aluno com o objeto de estudo. Cada um tem a sua forma de pensar e enxergar a realidade, assim em sala de aula não é possível que ainda se busquem respostas iguais e que todos aprendam da mesma forma. 119 Ainda em suas orientações didáticas, os Parâmetros Curriculares Nacionais descrevem alguns tópicos considerados essenciais ao desenvolvimento de uma proposta educativa integral que busque auxiliar na formação de um sujeito pensante, que compreende e busca saber mais sobre a realidade a sua volta. O primeiro deles é a autonomia, “uma opção metodológica que considera a atuação do aluno na construção de seus próprios conhecimentos”. Na Educação Ambiental, o aluno se depara com situações que fazem parte da sua realidade ou de uma realidade próxima, desta maneira trabalhar com estes assuntos pode se tornar uma maneira de despertar seu interesse e auxiliá-lo na construção do seu conhecimento. Quando o aluno percebe que suas atitudes fazem a diferença, consegue se tornar um construtor de saberes e ações, refletindo sobre aquilo que conhece na escola. Isto pode ser observado no relato de membros mais duas famílias entrevistadas: Meu filho decidiu que sua profissão é ser lixeiro, porque ele quer limpar o mundo, não caminha na grama porque é um ser vivo, não deixa a torneira aberta se não a água acaba. Minhas filhas me cobram para que não jogue papel de bala no chão, para que não cortemos galhos, flores... Até com os estranhos ou pessoas da família que vem nos visitar, elas chamam a atenção para que todos cuidem da natureza. Nestes relatos é possível perceber que aquilo que foi desenvolvido em aula tornou-se significativo e passou a fazer parte da rotina destes alunos. Outro tópico é o da interação e cooperação, onde o foco principal é o estabelecimento do diálogo e do trabalho em grupo, de maneira cooperativa. Devem ser incentivadas as situações em que se aprenda a dialogar, a ouvir o outro e a ajudá-lo, aproveitar críticas e situações que surjam. Para desenvolver este tipo de trabalho é necessário que o professor aceite opiniões e faça diariamente uma avaliação do seu trabalho para, se necessário, refazer sua prática com o objetivo de buscar a participação de todos os alunos. Em seu livro Pedagogia da Autonomia, Freire 1996, p.29 já destacava “nas condições de verdadeira aprendizagem os educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador, igualmente sujeito do processo.” 120 Ainda o tópico dos PCN’S que comenta sobre a disponibilidade para aprender, nos faz refletir sobre como é importante a motivação do aluno para que ele possa aprender. Por este motivo, levar para a sala de aula situações que desafiem o aluno é uma maneira de desacomodá-lo e fazê-lo refletir sobre o objeto de estudo. O aluno quando é desafiado se sente com maior vontade de encontrar, se não uma resposta, outra forma de compreender aquilo que o professor o desafiou. A Educação Ambiental possibilita que inúmeros temas sejam abordados em sala de aula, sem precisar subdividir os temas. Nesta proposta de trabalho os alunos são convidados a conversar sobre assuntos que fazem parte da nossa realidade e por consequência do meio ambiente. Mas para que isso aconteça é importante que o professor busque se atualizar e estudar cada vez mais, para que consiga levar até a sala de aula novas formas de ver e pensar o mundo em que vivemos. Trata-se de desfragmentar o ensino que buscou até então através das partes, conhecer o todo. Quando se estuda e busca-se saber mais sobre algum assunto, consegue-se despertar o desejo em saber mais também nos alunos, auxiliando para que se tornem sujeitos capazes de interferir e melhorar a nossa realidade. Considerações finais Este artigo buscou investigar a contribuição de projetos de Educação Ambiental na formação da cidadania dos alunos. Em especial investigou de que forma o Projeto Semear, Crianças construindo um melhor tem contribuído na formação social de um grupo de alunos, de uma escola da rede privada de Osório. Os resultados desta pesquisa nos mostram que a Educação Ambiental precisa estar cada vez mais presente no currículo escolar de todas as escolas. Através das entrevistas feitas com as famílias, ficou claro o quanto este tipo de trabalho pode contribuir na formação dos alunos. A Educação Ambiental abre muitas possibilidades de trabalho, onde o aluno tem a oportunidade de se enxergar 121 personagem do que está estudando. Desta forma, a construção do conhecimento se dá de maneira concreta, onde a realidade está presente nas discussões e observações, já que todos somos responsáveis pelo meio onde vivemos. É importante buscarmos outras formas de vermos o mundo que nos cerca e tudo o que dele faz parte. Nesta perspectiva, a Educação Ambiental construída na escola pode contribuir muito, pois seu ensino torna-se uma prática diária, como pode ser visto em todos os relatos obtidos das famílias que contribuíram para esta pesquisa. Quando aprendemos algo com sentido, a construção do conhecimento se dá de maneira natural e os resultados se tornam práticas sociais que iniciam dentro de nossas casas e se estendem aos grupos sociais dos quais fazemos parte. Por isso, cabe à escola comprometer-se com um dos objetivos da Educação Ambiental, ou seja, fazer do conhecimento um instrumento de mudança. Referências BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria do Ensino Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais Meio Ambiente. São Paulo, 1996. 56p. Disponível em: http://www.meioambiente.pr.gov.br/arquivos/File/meioambiente/parametros_cur riculares.pdf. - Acesso em: 29/08/2010. CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. SP: 4ª edição, Cortez, 2008. CHASSOT, Attico. Alfabetização científica: questões e desafios para a educação. Ijuí: Unijui, 2001. 122 FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. 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