A educação ambiental nas escolas
Maria de Fátima Messaggi Collioni1
Facos/CNEC-Osório
Resumo: Este artigo propõe-se a refletir sobre “Projeto Semear, crianças construindo um
mundo melhor”, desenvolvido numa escola da rede privada do município de Osório e sua
contribuição na formação da cidadania dos alunos envolvidos. Busca discutir a importância de
projetos de Educação Ambiental nas escolas e de que maneira estes podem auxiliar no
processo de construção do conhecimento do aluno. Assim, trata de ver o aluno como
construtor do seu saber, na medida em que é provocado a relacionar o que vê em sala de aula
com sua vida cotidiana. Para tanto, se fez um estudo teórico sobre o assunto, usando como
método a pesquisa qualitativa, com base em questionários, realizados com as famílias dos
alunos participantes do Projeto Semear.
Palavras-Chave: Educação Ambiental. Escola. Planejamento. Cidadania.
Abstract: This article aims to reflect on "Seed Project, children build a better world" developed
through a private school in the city of Osorio and his contribution to the citizenship of the
students involved. Discusses the importance of environmental education projects in schools and
how they can assist the process of building knowledge of the student. Thus, about seeing the
student as constructor of his knowledge, as it is forced to relate what he sees in the classroom
to their daily lives. Thus, it has made a theoretical study on the subject, using as a qualitative
research method, based on surveys conducted with the families of students participating in
Project Seed.
Keywords: Ambiental Educations.School. Plain.
Introdução
Diariamente fazemos a leitura do ambiente que nos cerca. Esta leitura é
determinada pelas condições históricas, culturais e sociais das quais fazemos
parte. A educação acontece como parte integrante da ação humana de
transformar a natureza em cultura, já que ao fazer a nossa leitura do mundo,
atribuímos significados ao que acontece. O educador assim torna-se um
mediador, uma vez que educar é mediar, buscar fazer a tradução do mundo em
1
e-mail: [email protected]. Egressa do curso de Pedagogia. Artigo desenvolvido na
disciplina de Seminário de Conclusão, sob a orientação da Profª Liege Deolinda Westermann.
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que vivemos, a partir do ambiente do qual fazemos parte. Somos seres
singulares, logo estas leituras acontecem de muitas maneiras levando em
conta toda a vivência do indivíduo. Por este motivo vale lembrar que é possível
repensar, reinterpretar o que vemos e buscar novas ações para o que nos
rodeia. A Educação Ambiental auxilia para múltiplas compreensões e leituras
do mundo, favorecendo para que cada indivíduo envolvido possa se perceber
como integrante de um lugar e, por este motivo, responsável por seus atos.
Segundo os PCN’S de Meio Ambiente,
A principal função do trabalho com o tema Meio Ambiente é contribuir
para a formação de cidadãos conscientes, aptos para decidirem e
atuarem na realidade socioambiental de um modo comprometido com
a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade, local e global.
Para isso é necessário que, mais do que informações e conceitos, a
escola se proponha a trabalhar com atitudes, com formação de
valores, com o ensino e a aprendizagem de habilidades e
procedimentos. (PCN’S, 1996, p.12)
O trabalho da Educação Ambiental auxilia na formação do cidadão reflexivo e
atuante no meio em que vive, já que busca desenvolver atitudes e valores que
atribuem ao ser humano, outras maneiras de se enxergar no meio do qual faz
parte. Por este motivo, torna-se o cidadão capaz de tomar decisões que
contribuam para a sua vida e das demais pessoas.
Deste modo, este artigo se justifica pela grande importância que a Educação
Ambiental representa hoje para a sociedade. Pensar em Educação Ambiental é
muito mais do que estudar Ecologia, Biologia ou fenômenos da natureza, é
relacionar questões sociais, políticas, culturais, econômicas e pessoais que
fazem parte de nossos cotidianos e que muitas vezes não olhamos com o valor
necessário por estarmos acostumados a ver diariamente problemas que
julgamos menores, frente aos que já possuímos.
Para a realização desta pesquisa utilizei como coleta de dados questionários
(disponível anexo I) que foram entregues as quinze famílias dos alunos que
participam do Projeto Semear. A proposta dos questionários foi fazer com que
estas famílias pensassem sobre o trabalho que vem sendo desenvolvido com
110
seus filhos e dessem as suas contribuições para analise desta proposta, bem
como também analisar os resultados já alcançados ou não com as atividades
desenvolvidas. Das quinze famílias envolvidas com a pesquisa, apenas uma
não entregou suas respostas. Das outras quatorze famílias as contribuições e
avaliação sobre o trabalho desenvolvido, demonstraram que os resultados já
podem ser observados em algumas mudanças de comportamento dos filhos,
desde manter a torneira fechada durante a escovação dos dentes até o
cuidado com lixo em momentos de lazer fora de casa. Tudo isso mostra que o
Projeto Semear tem contribuído na formação social destes alunos e como
consequência dos grupos sociais ao qual fazem arte.
Projeto semear, crianças construindo um mundo melhor
Os projetos de Educação Ambiental podem auxiliar no processo de
aprendizagem, onde o indivíduo passa a se perceber integrante da sociedade e
responsável pelo que faz com o meio ambiente e, por este motivo, capaz de
buscar mudanças para o quadro de poluição e desigualdades que se
apresenta. Segundo Chassot, “A cidadania que queremos é aquela que passa
a ser exercida através de posturas críticas sobre a nossa realidade cotidiana,
buscando modificações possíveis no ambiente natural.” (2001, p.137).
Nesta perspectiva, um estudo que nos auxilie numa melhor compreensão sobre
a Educação Ambiental, e de que modo ela pode auxiliar no processo de
formação dos alunos, enquanto cidadãos trará a convicção de que a Educação
Ambiental precisa estar cada vez mais evidente nos currículos escolares de
todas as nossas escolas.
Assim, é importante estudar de que maneira os projetos de Educação
Ambiental podem contribuir no processo de formação do aluno enquanto
cidadão. Para isso, este trabalho utiliza como metodologia de estudo
questionários, buscando saber a opinião de algumas famílias envolvidas no
Projeto Semear, crianças construindo um mundo melhor, realizado numa
111
Escola de Ensino Fundamental da rede privada do município de Osório. Neste
estudo busca-se investigar a contribuição, ou não, deste projeto de Educação
Ambiental, na formação dos alunos envolvidos.
O Projeto Semear já vem sendo desenvolvido há três anos numa escola de
ensino privado do município de Osório e atende crianças numa faixa etária
entre 5 a 9 anos. O trabalho realizado busca desenvolver atitudes de valores,
iniciando pequenas práticas de preservação ambiental onde os alunos
aprendem a utilizar de modo consciente nossos recursos naturais, a separar o
lixo, reutilizar materiais e muito mais. Os trabalhos desenvolvidos envolvem
trabalhos de conscientização ligados a comunidade, também saídas a campo
para observação do nosso meio e a importância dos cuidados com o meio
ambiente.
Buscando outros olhares
Nossas ideias ou conceitos organizam o mundo, tornando-o legível e
familiar. São como lentes que nos fazem ver isso e não aquilo e nos
guiam em meio à enorme complexidade e imprevisibilidade da vida.
Acontece que, quando usamos óculos por muito tempo, a lente acaba
fazendo parte de nossa visão a ponto de esquecermos que ela
continua lá, entre nós e o que vemos, entre os olhos e a paisagem.
(CARVALHO, 2008, p. 33)
É a partir de imagens e conceitos que criamos as nossas concepções sobre o
que nos cerca. Nosso modo de ver e pensar muitas vezes são influenciados
por aquilo com que nos deparamos diariamente e que infelizmente nos
acostumamos a ver, tornando-se assim comum aos nossos olhos e não
despertando mais nossa indignação sobre assuntos importantes para a
continuação da vida. Nesta perspectiva, Carvalho (2008) afirma que somos
reféns das nossas visões e conceitos e que para nos libertarmos precisamos
mudar o modo de ver o mundo à nossa volta para que, assim, tenhamos uma
visão
mais
ampla
do
que
acontece
diariamente
ao
nosso
redor.
“Desnaturalizar” significa propormos outros modos de ver o mundo. Criando
novas concepções sobre conceitos que nos são passados e trabalhados, cria112
se outros aprendizados para nos renovarmos diante dos acontecimentos da
vida.
Quando falamos em meio ambiente, logo nos vem à cabeça ideias de
“animais”, “vegetais”, “fenômenos da natureza”, “recursos naturais”. Essa visão
que muitos têm do meio ambiente, remete a conceitos e concepções que são
passados de geração em geração e que, de certa forma, acabam influenciando
o modo de pensar das pessoas, como se esta fosse a única forma de pensar
sobre o meio ambiente, como se nós não fizéssemos parte deste ambiente e
também de tudo o que provocamos nele. Esta visão “naturalizada” tende a ver
a natureza como um mundo autônomo, constituído em oposição ao mundo
humano, percebendo qualquer forma de interferência como uma ameaça a
integridade da mesma, prejudicial. Buscar outra maneira de compreender esta
relação seria uma riquíssima prática que nos traria novas informações e
concepções sobre como podemos conviver de maneira harmônica neste
ambiente comum a todos os seres vivos. Nesta linha de pensamento, Carvalho
(2008) nos faz refletir sobre o “socioambiental”, onde a sociedade e o ambiente
estabelecem uma relação de mútua interação formando um único mundo.
A visão socioambiental orienta-se por uma racionalidade complexa e
interdisciplinar e pensa o meio ambiente não como sinônimo de
natureza intocada, mas como um campo de interações entre a
cultura, a sociedade e a base física e biológica dos processos vitais,
no qual todos os termos dessa relação se modificam dinâmica e
mutuamente. (2008, p.37)
Desta forma, as modificações causadas por esta interação nem sempre são
negativas na visão socioambiental, também podendo ser sustentáveis. Nesta
perspectiva, é muito importante que nas escolas sejam abordados assuntos
que possibilitem aos alunos reorganizar suas ideias, a fim de que percebam a
interação do ser humano com a natureza, do quanto auxiliamos no
enriquecimento (ou empobrecimento) deste ambiente. Mas para isto acontecer
é necessário pensarmos até que ponto esta interação está sendo produtiva
para ambas as partes e não somente pelo ângulo do interesse humano. “É
preciso compreender a natureza como ambiente, lugar de interações da base
física e cultural da vida neste planeta” (Carvalho, 2008, p. 38.).
113
Lendo sobre história da palavra ECOLOGIA, podemos perceber o quanto
algumas certezas foram sendo trocadas para que nossos saberes se
afirmassem. O surgimento da ecologia no âmbito das ciências está associado
ao ano de 1866, quando o biólogo Ernest Haeckel, usou este conceito para
definir a ciência das relações dos organismos com o mundo exterior. Em 1935,
o ecólogo inglês Arthur Tansley a definia como o principal objeto dos estudos
ecológicos sobre os ecossistemas. De modo geral, a Ecologia busca
compreender as inter-relações entre os seres vivos, procurando alcançar níveis
ainda mais altos de compreensão da vida e de sua organização no planeta. No
mundo social esta palavra foi associada e retraduzida por uma diversidade de
práticas não científicas, como as ações e movimentos sociais e acabou
ganhando
novos
significados,
agora
ligados
a
um
mundo
“melhor”,
ambientalmente preservado e socialmente justo. Mais do que a ciência
ecológica, é o ecologismo que constitui a origem da Educação Ambiental e da
busca pela formação do sujeito ecológico, que compreende sua relação com o
meio ambiente e convive em harmonia com ele.
A escola precisa oportunizar maneiras e ações onde os alunos possam refletir
sobre o que acontece diariamente ao nosso redor, para que assim possam
compreender a importância daquilo que fazemos todos os dias. Quando se
pensa nestes atos, não se quer discutir apenas a prática da separação do lixo
ou outros cuidados com o meio ambiente, é preciso ir além. A conversa em
sala de aula precisa também abranger assuntos relacionados a valores,
atitudes de solidariedade e respeito. É necessário que haja um trabalho onde a
valorização do ser humano seja posta em primeiro lugar, levando para dentro
da sala de aula assuntos tais como falta de emprego, de moradia e de saúde.
Isso poderá auxiliar no processo educacional onde do qual se esperam
resultados de atitudes novas e mudanças no modo de pensar e agir dos
alunos, compreendendo a real importância do cuidado com o nosso meio
ambiente, ambiente este, do qual as pessoas também fazem parte. Segundo
os PCNs (1996, p. 13): “É importante que o professor trabalhe com o objetivo
de desenvolver, junto aos alunos, uma postura crítica frente à realidade, a
informações e valores veiculados pela mídia e àqueles trazidos de casa”.
114
O trabalho em sala de aula precisa ser expandido para dentro das casas dos
protagonistas desses estudos. Esta extensão será possível, a partir do
momento em que o aluno se sentir envolvido e despertar o interesse em saber
mais, levando este conhecimento para outras pessoas de seu vínculo social e
criando assim uma rede de informações e atitudes. O professor precisa
atualizar-se constantemente para estar ligado ao que os meios de
comunicação falam sobre o assunto. Ele precisa cada vez mais buscar saber
sobre o assunto e também levar seus alunos a quererem saber mais, a fim de
que analisem as propostas e medidas escolhidas pela sociedade e façam uma
auto-avaliação sobre qual a melhor contribuição neste processo de
conscientização sobre o meio ambiente.
Assim como Freire (1996) já nos lembrava “... ensinar não é transferir
conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou construção.”
É preciso dar significado para aquilo que se trabalha em sala de aula e criar
condições para o aluno conseguir usar na prática do seu dia a dia, o que
estuda em sala de aula. De nada adianta saber da importância de separar o
lixo, se não vivenciar esta prática e observar o quanto este processo simples
auxilia a vida de muitas pessoas que retiram sua renda familiar da venda do
lixo reciclável, por exemplo. Nesta concepção a escola precisa estar atenta ao
grupo social de que faz parte e levar este cotidiano para dentro da sala de aula.
O trabalho com a realidade local possui a qualidade de oferecer um
universo acessível e conhecido e, por isso, passível de ser campo de
aplicação do conhecimento. Grande parte dos assuntos mais
significativos para os alunos estão circunscritos à realidade mais
próxima, ou seja, sua comunidade, sua região. (PCN’S, 1996, p.30)
Buscando tornar a realidade em que vivemos algo acessível aos alunos,
estaremos criando condições para que vejam na prática, como um ser precisa
da ação do outro, e que, desta forma, podemos melhorar nosso meio de vida,
criando situações onde o respeito e a solidariedade faça parte de nossas
atividades diárias.
A educação ambiental auxiliando na formação da cidadania
115
O espaço escolar é um ambiente onde várias questões são tratadas e
trabalhadas. Neste local há espaço para muitos assuntos, mas é preciso dar
ênfase para aqueles que fazem parte da vida dos alunos. Mesmo sem querer
questionar integralmente o currículo das escolas, há que refletir sobre sua
reorganização, para que temas mais atuais e urgentes também estejam
presentes e façam parte de maneira mais ativa da vida dos alunos. Pensar na
Educação Ambiental é refletir sobre de que maneira precisamos agir para que
possamos viver numa relação harmoniosa com o meio ambiente. Nosso futuro
depende das atitudes que tomamos hoje e de que maneira utilizamos os
recursos naturais.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais sobre o Meio Ambiente,
O trabalho de Educação Ambiental deve ser desenvolvido a fim de
ajudar os alunos a construírem uma consciência global das questões
relativas ao meio para que possam assumir posições afinadas com os
valores referentes à sua proteção e melhoria. Para isso é importante
que possam atribuir significado àquilo que aprendem sobre a questão
ambiental. (PCN’S, 1996, p. 29)
Muito já se vem fazendo sobre este assunto, mas é importante que os
trabalhos sobre meio ambiente se tornem mais significativos para os alunos,
pois assim, eles terão aprendido a real importância sobre nossas ações e que o
futuro, depende delas e de como nos relacionamos com as demais pessoas. A
responsabilidade e a solidariedade precisam estar presentes desde a relação
das pessoas com o meio em que vivem, até a relação com outros povos e
nações que precisam ser companheiras na preservação do meio, que é de
todos.
Nesta perspectiva pode-se citar o projeto Semear, desenvolvido numa escola
da rede privada do município de Osório, objeto de estudo desta pesquisa, o
qual tem desenvolvido práticas diárias que buscam a conscientização sobre a
questão ambiental, como se pode observar no relato de uma pessoa das
famílias entrevistadas: “Desenvolver projetos que semeiem os valores da
preservação e conservação das espécies é muito importante para o
desenvolvimento dos alunos e isto é observado no Projeto Semear”.
116
O projeto Semear surgiu com o objetivo de tornar mais visível a toda à
comunidade escolar o trabalho desenvolvido na escola com os alunos, em
relação às atitudes práticas vivenciadas no dia-a-dia, sobre questões
ambientais, como possibilidade de fazer a diferença na formação dos alunos.
Na escola em estudo, desde as primeiras séries da Educação Infantil este tema
está presente, já plantando uma semente de que nossas atitudes fazem a
diferença no cuidado com o lugar em que vivemos, brincamos e estamos.
Inicia-se com o trabalho de separar o lixo na sala, usando a ludicidade como
apoio, para tornar a ação significativa. As lixeiras adaptadas para atingir o
interesse de cada turma é um bom exemplo: o lixo orgânico é colocado numa
lixeira em forma de urso, pois “ele adora comer nossos lanchinhos”, já o lixo
seco é colocado numa lixeira branca, pois o “ursinho não gosta de comer os
potinhos dos iogurtes”.
Desta maneira, o hábito de separar o lixo se torna algo prazeroso e divertido e
o resultado pode ser visto nas turmas maiores, pois já reconhecem que não
podemos colocar tudo junto na mesma lixeira. Segundo Freire, “... nas
condições de verdadeira aprendizagem os educandos vão se transformando
em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinado, ao lado
do educador, igualmente sujeito do processo.” (1996, p.29)
Os resultados deste trabalho podem ser observados também em casa, na
rotina diária dos alunos, como é relatado por membros de uma das famílias
entrevistadas: “Na minha casa o resultado foi surpreendente, pois minha filha
chegou me explicando e impondo que nós começássemos a separar o lixo e
não jogar o óleo de cozinha na pia e isto me fez repensar o quanto estava
errando e assim junto com minha filha estamos mudando e se adaptando as
maneiras certas de cuidar do meio ambiente.” Neste relato é possível ver que
um trabalho levado a sério, com dedicação e envolvimento por parte da escola,
alunos e família encontra resultados satisfatórios que podem fazer a diferença
no espaço em que vivemos.
117
Vivemos num ambiente em constantes mudanças, onde pessoas e ambiente
natural buscam um relacionamento em que todos possam conviver de maneira
harmoniosa. Para que isto aconteça é importante que cada um saiba o seu
lugar e qual a sua responsabilidade sobre ele. “A educação acontece como
parte da ação humana de transformar a natureza em cultura, atribuindo-lhe
sentidos, trazendo-a para o campo da compreensão e da experiência humana
de estar no mundo e participar da vida.” (Carvalho, 2008, p. 77).
Um sujeito cidadão precisa reconhecer-se como parte de um grupo, em que um
precisa do outro. Na Educação Ambiental o trabalho com valores é muito
importante, pois é necessário compreender que a ação de separar o lixo atinge
não só a natureza, mas muitas pessoas que retiram seu sustento da
reciclagem de materiais jogados fora. O desafio da construção de uma
cidadania ativa se configura como elemento determinante para constituir e
fortalecer sujeitos cidadãos que, portadores de direitos e deveres, assume a
importante missão de abrir novos espaços de participação, onde o respeito
entre os seres esteja em destaque.
Um trabalho significativo precisa ter uma base sólida para que professores e
alunos realizem práticas que possam influenciar a vida cotidiana dos
envolvidos. A articulação destes temas a outras áreas do conhecimento facilita
ao aluno ver que a questão ambiental faz parte de um todo, não apenas de
algumas pessoas ou situações. O currículo escolar precisa se articular com a
Educação Ambiental para que assuntos e vivências possam ser interligados a
outros temas e experiências e assim criar uma rede de conhecimentos, onde o
aluno se veja num todo e não em partes. Segundo Rocha (2004), “A ação
interdisciplinar aliada às práticas pedagógicas, sendo a reconstrução dos
conteúdos disciplinares a relação do ser-no-outro, valorizando assim a
descoberta das diferenças e a riqueza da diversidade”.
Observando esta proximidade entre o trabalho da escola e a vida cotidiana dos
alunos, outro membro de famílias entrevistadas para tal trabalho relata que “O
trabalho do projeto Semear contribui muito para a formação social dos alunos
envolvidos, pois o que os alunos aprendem na escola é levado para casa
118
contribuindo para alcançar muitas outras pessoas.” Pode-se perceber que
quanto mais cedo este trabalho se inclui na vida dos alunos, mais relações e
conhecimentos são construídos. A família e a escola precisam ser parceiros
neste trabalho para atingir um número maior de pessoas, pois sabemos que é
na escola que constituímos muitas etapas de nossa formação social.
O
trabalho
integrado
a
outras
áreas do
conhecimento
busca
uma
reestruturação da maneira como nos posicionamos perante o conhecimento.
Trata-se de mudarmos as lentes e sermos capazes de novas leituras
do real, mesmo que ainda sejamos aprendizes desta nova gramática
de sentido que nos permita chegar aos novos territórios de um saber
interdisciplinar, que busque um trabalho significativo onde a
aprendizagem seja construída. (Carvalho, 2008, p. 123)
Como podemos ver, a Educação Ambiental pode levar o aluno a refletir ainda
mais sobre o seu meio de vida social, buscando novas maneiras de agir ou
melhorar o seu cotidiano. Apoiado e relacionando os conhecimentos
construídos na escola, o aluno busca torná-los mais significativos, de modo que
se perceba integrante ativo da realidade.
A educação ambiental e o planejamento, o desafio de encontrar outras
formas de ver e pensar
Pensar em planejamento na Educação Ambiental é abrir um leque de opções
para refletir sobre a realidade que nos cerca. A partir das opiniões e hipóteses
que surgem em sala de aula, o professor pode iniciar um processo onde cada
aluno poderá buscar sua forma de ver o tema em questão e quais caminhos ele
quer tomar na busca do seu conhecimento. Segundo os Parâmetros
Curriculares Nacionais (1996), cada aluno é sujeito de seu processo de
aprendizagem, enquanto que o professor é o mediador na interação deste
aluno com o objeto de estudo. Cada um tem a sua forma de pensar e enxergar
a realidade, assim em sala de aula não é possível que ainda se busquem
respostas iguais e que todos aprendam da mesma forma.
119
Ainda em suas orientações didáticas, os Parâmetros Curriculares Nacionais
descrevem alguns tópicos considerados essenciais ao desenvolvimento de
uma proposta educativa integral que busque auxiliar na formação de um sujeito
pensante, que compreende e busca saber mais sobre a realidade a sua volta.
O primeiro deles é a autonomia, “uma opção metodológica que considera a
atuação do aluno na construção de seus próprios conhecimentos”. Na
Educação Ambiental, o aluno se depara com situações que fazem parte da sua
realidade ou de uma realidade próxima, desta maneira trabalhar com estes
assuntos pode se tornar uma maneira de despertar seu interesse e auxiliá-lo na
construção do seu conhecimento. Quando o aluno percebe que suas atitudes
fazem a diferença, consegue se tornar um construtor de saberes e ações,
refletindo sobre aquilo que conhece na escola. Isto pode ser observado no
relato de membros mais duas famílias entrevistadas:
Meu filho decidiu que sua profissão é ser lixeiro, porque ele quer limpar o mundo, não caminha
na grama porque é um ser vivo, não deixa a torneira aberta se não a água acaba.
Minhas filhas me cobram para que não jogue papel de bala no chão, para que não cortemos
galhos, flores... Até com os estranhos ou pessoas da família que vem nos visitar, elas chamam
a atenção para que todos cuidem da natureza.
Nestes relatos é possível perceber que aquilo que foi desenvolvido em aula
tornou-se significativo e passou a fazer parte da rotina destes alunos.
Outro tópico é o da interação e cooperação, onde o foco principal é o
estabelecimento do diálogo e do trabalho em grupo, de maneira cooperativa.
Devem ser incentivadas as situações em que se aprenda a dialogar, a ouvir o
outro e a ajudá-lo, aproveitar críticas e situações que surjam. Para desenvolver
este tipo de trabalho é necessário que o professor aceite opiniões e faça
diariamente uma avaliação do seu trabalho para, se necessário, refazer sua
prática com o objetivo de buscar a participação de todos os alunos. Em seu
livro Pedagogia da Autonomia, Freire 1996, p.29 já destacava “nas condições
de verdadeira aprendizagem os educandos vão se transformando em reais
sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinado, ao lado do
educador, igualmente sujeito do processo.”
120
Ainda o tópico dos PCN’S que comenta sobre a disponibilidade para aprender,
nos faz refletir sobre como é importante a motivação do aluno para que ele
possa aprender. Por este motivo, levar para a sala de aula situações que
desafiem o aluno é uma maneira de desacomodá-lo e fazê-lo refletir sobre o
objeto de estudo. O aluno quando é desafiado se sente com maior vontade de
encontrar, se não uma resposta, outra forma de compreender aquilo que o
professor o desafiou.
A Educação Ambiental possibilita que inúmeros temas sejam abordados em
sala de aula, sem precisar subdividir os temas. Nesta proposta de trabalho os
alunos são convidados a conversar sobre assuntos que fazem parte da nossa
realidade e por consequência do meio ambiente. Mas para que isso aconteça é
importante que o professor busque se atualizar e estudar cada vez mais, para
que consiga levar até a sala de aula novas formas de ver e pensar o mundo em
que vivemos. Trata-se de desfragmentar o ensino que buscou até então
através das partes, conhecer o todo. Quando se estuda e busca-se saber mais
sobre algum assunto, consegue-se despertar o desejo em saber mais também
nos alunos, auxiliando para que se tornem sujeitos capazes de interferir e
melhorar a nossa realidade.
Considerações finais
Este artigo buscou investigar a contribuição de projetos de Educação Ambiental
na formação da cidadania dos alunos. Em especial investigou de que forma o
Projeto Semear, Crianças construindo um melhor tem contribuído na formação
social de um grupo de alunos, de uma escola da rede privada de Osório.
Os resultados desta pesquisa nos mostram que a Educação Ambiental precisa
estar cada vez mais presente no currículo escolar de todas as escolas. Através
das entrevistas feitas com as famílias, ficou claro o quanto este tipo de trabalho
pode contribuir na formação dos alunos. A Educação Ambiental abre muitas
possibilidades de trabalho, onde o aluno tem a oportunidade de se enxergar
121
personagem do que está estudando. Desta forma, a construção do
conhecimento se dá de maneira concreta, onde a realidade está presente nas
discussões e observações, já que todos somos responsáveis pelo meio onde
vivemos.
É importante buscarmos outras formas de vermos o mundo que nos cerca e
tudo o que dele faz parte. Nesta perspectiva, a Educação Ambiental construída
na escola pode contribuir muito, pois seu ensino torna-se uma prática diária,
como pode ser visto em todos os relatos obtidos das famílias que contribuíram
para esta pesquisa.
Quando aprendemos algo com sentido, a construção do conhecimento se dá
de maneira natural e os resultados se tornam práticas sociais que iniciam
dentro de nossas casas e se estendem aos grupos sociais dos quais fazemos
parte. Por isso, cabe à escola comprometer-se com um dos objetivos da
Educação Ambiental, ou seja, fazer do conhecimento um instrumento de
mudança.
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123
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