Desvelando Caminhos por um Brasil literário:
ontem, hoje e sempre!
Junho de 2012
Equipe de Leitura – SME/ D.C.
Junho de 2012
Para início de conversa...
“Não restam dúvidas de que isto é leitura:
reescrever o texto da obra dentro
do texto de nossas vidas”
Roland Barthes
Queridos Dinamizadores,
considerando que este ano nosso projeto não se prende à nenhuma efeméride e a Literatura
flui plena e livre por nossas leituras, escolhas e escolas, neste segundo passo – História de quem
conta histórias – optamos por deixar que os próprios autores, suas vidas e obras figurassem como
personagens principais nessa apostila.
Todos os escritores citados por vocês em dezembro passado aparecem aqui. Os que já foram
homenageados ou cujas palavras nortearam nosso trabalho também. E ainda os que estiveram
conosco este ano e estão conosco hoje.
E Bia Bedran nossa homenageada, claro!
Além disso, vocês ainda vão encontrar textos voltados para a pedagogia da leitura, no espaço
chamado Construindo Sentidos e Significados; e poderão revisitar algumas Sugestões de atividades.
Sintam-se à vontade para inserirem outros autores e obras, desde que justificados em seus
projetos. Afinal, ninguém melhor do que vocês – Dinamizador de Leitura e Dinamizador de
Biblioteca – para reconhecerem que palavras serão melhor absorvidas e entrelaçadas à história de
suas escolas e alunos.
Nossa intenção, como sempre, é contribuir. Mas, desta vez, também queremos provocar! Sim,
provocar.
Provocar o desejo de se tornarem autores de seus projetos de trabalho, ligados à SME,
vinculados à Equipe de Leitura, como sempre, mas, cada vez mais com identidade, com a assinatura
de vocês, como representantes e articuladores de leitura de suas Unidades Escolares.
Afinal, reiteramos a assertiva de Barthes “isto é leitura: reescrever o texto da obra dentro do
texto de nossas vidas”! E é por este motivo, somado à capacidade e responsabilidade que cada um
de vocês têm com a promoção da leitura, que foram escolhidos para esta função!
Levantem esta bandeira com vigor e vontade, porque apenas com intensidade, continuidade
e paixão é que vamos também inscrever a nossa história particular na História de quem conta
histórias.
Hellenice Ferreira
Duque de Caxias, 05 de junho de 2012.
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Construindo sentidos e significados...
LITERATURA: LEITURA DE MUNDO, CRIAÇÃO DE PALAVRA
Bartolomeu Campos de Queirós
Se a literatura é uma extensão do autor, a mim ela surge
pela falta. Meu desejo é talvez de contar para os mais jovens
aquilo que gostaria que fosse narrado a mim. Mas o ato de
escrever dá sentido ao meu cotidiano. Na medida em que
escrevo e me surpreendo com aquilo que eu não sabia que sabia
eu me torno mais amigo meu. Não sei se crio para estar com o
outro ou pela saudade de minha infância e, quem sabe, pela
alegria de ter vencido aquele tempo.
Desde o momento do convite me pus a perseguir uma
ideia sobre o que escrever, eu que cada dia descubro, perplexo
diante do universo, que nada sei. A cada dia que vivo mais tomo
posse do tanto ainda por saber. E o meu exercício de vida tem sido o de estar procurando o que não foi feito
ainda, o que ainda não sei fazer. Só me interesso pelo que me falta. E falta tanto... O que sei não me basta ou
satisfaz. Isso por acreditar, com convicção, que o mundo só muda quando acrescentamos a ele o nosso poder
de reinventar a vida com seus tantos significantes. Acredito demais na capacidade inventiva do homem.
Posso afirmar que pela criação tanto o sujeito se redimensiona como também se acrescenta ao mundo. Criar,
para mim, é a alternativa derradeira para abrandar o peso do não-sabido. E eu tenho um desejo imenso de
alterar a comunidade em que vivo.
Não que eu tenha uma proposta para ser cumprida. Mas é na medida em que travamos um profundo
diálogo entre o nosso ser real e nosso ser ideal que determinamos a crença, a ideologia, o mundo a ser
sonhado. Eu gostaria de viver em uma sociedade mais reflexiva, em que o silêncio fosse um pré-requisito
essencial para toda ação, assim como ele existe no ato da criação. Almejo estar entre pessoas amantes de sua
origem, capazes de ler o mundo com a mesma sensibilidade com que o tempo acaricia os anos com suas
estações. Gostaria de viver numa sociedade em que não fôssemos dirigidos pelos caprichos de alguns, mas
num movimento estabelecido pela soma de todos nós. Num mundo pleno de dúvidas, numa vez que para
mim a dúvida nos torna mais cuidadosos, mais cautelosos, mais delicados com as relações. Quem supõe ter
encontrado a verdade, passa a um estado de fanatismo. E isso no exercício do poder é muito perigoso. Meu
sofrimento advém de estar e viver numa sociedade tão injusta, em que as diferenças não concorrem para o
enriquecimento, mas a diferença é apenas uma maneira arbitrária de dividir os homens em classe. Sofro por
viver em uma comunidade analfabeta, como eu, marcada pela impossibilidade de ler o seu entorno. Uma
sociedade em que o sofrimento nos impossibilita de participar da poesia existente. Uma vez que as
necessidades básicas são mais prementes.
Mas o tema que me proponho pensar é: “A literatura e o encontro de dois mundos”, e me conduz a
dois entendimentos. É que a literatura destinada aos mais jovens é uma conversa entre dois mundos: o
mundo adulto e o mundo da criança. É uma longa distância. E essa literatura (mais uma vez posso dizer a
partir de mim) acontece quando uma nostalgia me ameaça, trazida pela minha infância irremediavelmente
perdida. É uma literatura difícil de ser construída. Ao configurar meu trabalho me vem sempre o medo de
estar querendo amadurecer a criança mais cedo, roubando dela a infância e colocando-a do meu lado para
não me sentir ameaçado por ela. Esses dois mundos contidos na escrita – a infância vivida e a infância ainda
por viver – me envolvem de cuidados. É que cada sujeito, para mim, é proprietário de uma vida, um único fio
que não deve ser cortado para que o tecido não apresente falhas.
E depois, a vida para mim nunca foi um processo de soma, mas sim, de subtração. Viver um dia é ter
menos um dia. Nesse sentido eu, como adulto, já subtraí bastante e sei que concretamente a criança tem mais
vida a viver do que eu. Diante da infância eu tenho que ser humilde o suficiente para reconhecer esses dois
mundos.
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Minhas funções talvez sejam a de me abrir com minhas fantasias e minha suposta verdade diante dos
mais jovens, para que eles não repitam o meu percurso, mas que procurem o caminho das diferenças. É pela
diferença que enriquecemos o mundo e a nós. Na medida em que escrevo e o leitor se inscreve no texto é que
elaboramos um terceiro tempo, democraticamente. Isso me alivia ao
saber que o leitor vai além de mim
enquanto procura decifrar a minha metáfora. Eu sempre preferi
dizer que escrevo pela criança que aconteceu em mim e não escrevo
“para” a criança.
Mas todo ato criador é cheio de infância. Se me pergunto
quais os elementos que inauguram a infância, eu me respondo ser a
liberdade, a espontaneidade, a fantasia, a inventividade. E se me
indago sobre os elementos que estão presentes no ato criador, eu
também me respondo ser a liberdade, a espontaneidade, a fantasia, a
inventividade.
Daí estar a criança tão próxima da arte. Falar assim me
assusta na medida em que crescer é perder as qualidades da infância e entrar no mundo da contenção. E que,
na medida em que vivo, ouço dizer que a pessoa é educada quando mais contém os seus impulsos. Acredito
pois que crescer é mais perder do que ganhar. Criar, assim pensando, é a única maneira de preservar a
juventude.
Vivo numa sociedade que não encara a fantasia como o mais profundo do ser.
Quando nos propomos a expressá-lo, estamos trazendo à tona o que há de mais reservado em nós.
Daí sentir como difícil é para os processos educacionais a aceitação da literatura em seu contexto.
A literatura é feita de fantasia. A escola, por ser servil, quer transformar a literatura em instrumento
pedagógico, limitado, acanhado, como se o convívio com a fantasia fosse um bem menor.
A escola não percebe que a literatura exige do leitor uma mudança, uma transferência movida pela
emoção. Não importa o que o autor diz, mas o que o leitor ultrapassa. E a literatura é feita de palavras, e é
necessário um projeto de educação capaz de despertar o sujeito para o encanto das palavras. Eles não
descobriram, por exemplo, que toda palavra é composta. Quando se diz a palavra “pai”, sei que cada indivíduo
ouvinte adjetiva essa palavra com sua experiência. Para alguém, pai é aquele que o abandonou, para outros, o
que adoçou, para outros, o que eles não conheceram, e assim por diante. Nenhuma palavra é solitária. Cada
palavra remete o leitor ou o ouvinte para além de si mesma. Haverá tarefa mais significativa para a escola do
que esta de sensibilizar o sujeito para desvendar as dimensões da palavra? Por ser assim, trabalhar com a
palavra é compreender seus deslimites e apresentar para o leitor um convite para adivinhar o que está
obscuro no texto e só ele pode desvendar.
Na medida em que o texto tem como figura maior a construção da
metáfora, é possível ir muito além do escrito. A metáfora cria arestas, faces,
dúvidas. E esta metáfora em função da arte, da beleza, abrirá portas para
muitas e infindáveis paisagens que já existiam na alma do leitor.
Eu venho de um país onde a diversidade cultural é a nossa
identidade. São tantas e várias as manifestações que nele sobrevivem. E só
poderia ser assim. Somos uma mistura. O negro que veio para o Brasil não
veio por vontade própria, mas como um castigo. Mesmo lá seu coração era
só saudade e banzo. Daí ele não ter se desligado de suas origens religiosas,
artísticas, alimentares. E todos os outros valores trazidos foram praticados
nesta outra terra. De outro lado, os índios que lá estavam com suas antigas
crenças e hábitos eram forçados a um trabalho independente de seus anseios.
Mas também eles não abandonaram os seus ritos. E os portugueses traziam sua cultura milenar e
mais um desejo desenfreado de conquistar misturado com um espírito de grandes viagens, tesouros e
colonizações. Esses muitos aspectos foram somados e nos conduziram a um lugar onde as explicações do
mundo nos são dadas e sem nos surpreender, por muitas vertentes.
Convivemos com um pensamento rico em que o imaginário, em seus diversos ângulos, nos é bastante
familiar e próximo do nosso cotidiano. Sempre procuramos e praticamos uma explicação para nossos
destinos por diversos caminhos e crenças, já que nossa realidade é, por si só, fantástica e não nos espanta. E o
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nosso cotidiano é nosso grande tema, nosso maior assunto. A mobilidade e a flexibilidade de pensamento nos
amarram e nos aproximam. Nossos hábitos não são europeus. Não estamos ocupados ou preocupados em
racionalizar os mistérios do mundo dos homens.
Acreditamos não precisar de um enredo norteador, mas de relatar a existência por meio de
explicações apenas apaziguadoras. Nosso real é, muitas vezes, mais fantástico que a fantasia. O milagre, para
nós, é um acontecimento quase natural.
O diálogo entre o velho mundo e a América Latina me parece semelhante ao diálogo estabelecido
pelo adulto ao se propor escrever para as crianças. Ou convidamos o leitor a viajar pela fantasia ou somos
também colonizadores, querendo convencê-lo, e não encantá-lo.
Um mundo antigo só pode estar do lado de um mundo jovem na medida em que dialogamos por meio
dos elementos que configuram o processo criador – neste caso a literatura. O mundo adulto só é possível
para os jovens quando pode ser alterado, transformado,
transferido para situação de seu interesse.
O adulto está esgotado – como o velho mundo – mas vejo
a infância aberta e sem preconceitos. O mais jovem possui a
vivacidade, a força transformadora como elemento mobilizador
da vida.
Mas nós precisamos do velho mundo, não para
chegarmos lá onde ele está. O jovem precisa do mais velho em
muitas vertentes, não para simplesmente repeti-lo, mas para
ultrapassá-lo, para romper. Só assim o
passado é útil.
Nós, da América Latina e do terceiro mundo em geral,
precisamos cuidar para que não reeditemos simplesmente o
primeiro mundo. O poeta brasileiro Abgar Renault pronunciou
um discurso em que dizia que para a sociedade de hoje “um país
desenvolvido é aquele capaz de matar mais e melhor”.
Mas toda a obra de arte, neste caso a literatura, é
contemporânea, atual, universal. Na medida em que a arte
trabalha com os sentimentos que fundam o homem – a busca, a perda, o desencanto, o medo, a esperança, o
luto, o ciúme, a paixão, a fraternidade - ela é uma linguagem comum a todos os homens, independentes do
lugar onde vivemos e da posição deste lugar numa classificação econômico-financeira. A arte é movida pela
força de Eros, força que nos amarra, nos aproxima, nos enlaça, nos torna iguais. Não há distância entre os
criadores, não há distâncias entre as literaturas.
O intercâmbio entre literaturas de diferentes povos atualiza as relações entre os homens e confirma
que o essencial é inerente ao homem, ainda que as formas de expressão difiram segundo suas origens. Nesse
sentido, a arte aproxima os povos.
Por tudo isso, vejo nas atividades e objetivos que norteiam o IBBY (International Board on Books for
Youth) um trabalho utilíssimo e até urgente de aproximar, o mais cedo possível, as crianças da leitura. Isto
nos leva a crer que podemos almejar, para um futuro próximo, um mundo cheio de paz, democracia e
fraternidade.
YUNES, ELIANE (org.). Pensar a Leitura: Complexidade. Ed. PUC – Rio; São Paulo: Loyola, 2002.
Sugestão de leitura:
PAZ, OTÁVIO. O arco e a lira. Tradução de Olga Savary. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1982.
CANETTI, ELIAS. A consciência das palavras. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
RAMOS, MARIA LUIZA. Interfaces. Belo horizonte: Rio de Janeiro. Ed. Nova Fronteira, 1990.
SANT’ANNA, AFFONSO ROMANO DE. A sedução da palavra. Rio de Janeiro: Letraviva, 2000.
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UMA JANELA PARA A LITERATURA INFANTIL BRASILEIRA
Celso Sisto¹
Não vou entrar aqui naquela discussão, infrutífera, mas tão comum,
se deveria existir ou não, uma divisão entre literatura e literatura infantil ou
juvenil ou qualquer outro rótulo que se queira empregar para separar os
segmentos literários. Literatura infantil é aquela que visa o leitor criança, e
pronto! Mas também acredito que só merece ser chamada de literatura
infantil, as obras que não se desviaram do caminho da arte, e conseguiram,
aliar público leitor, forma e conteúdo, sem fazer concessão ao didático, ao
utilitário e ao insuportável vício do ensinamento e do moralismo, que ainda
cismam (alguns) em cobrar das obras destinadas ao leitor infantil! Portanto,
nem todo livro pra criança é literatura infantil!
Considerando que o Brasil tem uma rica e diversificada produção
editorial para crianças, também é bom prestar atenção ao quadro atual de
vertentes, temas e autores. No panorama contemporâneo, há linhas bem
nítidas e nomes que são também sinônimos de qualidade, criatividade, profissionalismo, pesquisa séria e
garantia de uma leitura lúdica, principalmente.
Vale lembrar que para atingirmos o estágio atual de qualidade e crescente multiplicação de leitores,
alguns fatores foram (e continuam sendo) importantes: o aumento da circulação de boas obras, o surgimento
de novas editoras e distribuidoras, a credibilidade de alguns prêmios existentes no país, (responsáveis pela
divulgação de obras e autores recomendáveis, especialmente os prêmios da Fundação Nacional do Livro
Infantil e Juvenil e o prêmio Jabuti), a democratização dos programas de leituras espalhados pelo país, a
preocupação com a formação do leitor como parte integrante da formação da cidadania, o aumento do
número de bibliotecas no país e o incremento de pesquisas acadêmicas na área da literatura infantil. Mas
ainda faltam outras tantas, bem sabemos, especialmente, ações que criem e garantam espaços permanentes
para a crítica aprofundada das obras literárias infantis, nas diversas mídias, e que vá além das resenhas de
divulgação espalhadas pelo marketing e pelos departamentos de divulgação das editoras.
Para pensarmos o quadro atual de obras e autores, podemos falar em basicamente seis linhas de
trabalho, nas quais estas obras se inserem: 1. uma linha inventiva, fantasista, que está preocupada com uma
maneira nova e original de escrever histórias para as crianças, seja pela forma, seja pelo tema, mas
principalmente, pela linguagem adotada. 2. uma linha que vai buscar na cultura popular os elementos para
as suas obras. 3. uma linha que está preocupada em explorar a linguagem poética. 4. uma linha que está
preocupada com as intertextualidades (e que dialoga com outras obras e autores) e que aposta na
desconstrução dos clássicos, seja pela paródia, pelo humor, pela atualização dos enredos. 5. uma linha com
clara preocupação social (em geral, mais realista, construída em torno de temas mais urbanos, novos
modelos familiares, crianças independentes e com vozes, crítica ao modelo tradicional escolar, etc.) 6. uma
linha informativa (que produz biografias, livros mais de aquisição de conhecimento, feitos à altura do leitor
criança, às vezes com linguagem também poética, mas sempre
lúdicos). Nada disso pode ser visto de forma estanque e rígida.
Essas linhas se interpenetram, se mesclam, se misturam! Note
que estamos falando apenas de narrativas e de literatura
infantil.
Para cada uma destas vertentes, há autores em destaque
(mesmo correndo o risco de esquecer alguém...). Na vertente
“inventiva”, preste atenção nas obras de Rosa Amanda Strausz,
Eva Furnari, Léo Cunha, Odilon Moraes, Marcio Vassalo, Adriana
Falcão. Na vertente da “cultura popular”, preste atenção em
Roger Mello, Daniel Munduruku, Carolina Cunha, Reginaldo
Prandi, Fernando Vilela, Fátima Miguez, André Neves. Na
vertente “poética” procure conhecer a obra de Stela Maris
Resende e Graziela Bozano Hetzel. Na vertente que “retrabalha
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os clássicos”, veja a produção de Paula Mastroberti. Na vertente de “cunho mais social”, preste atenção em
Lia Zatz, Nilma Gonçalves Lacerda, Gabriel, o pensador. E por fim, na linha da literatura informativa, preste
atenção em Lúcia Fidalgo e Kátia Canton. Esses nomes são mais do que suficientes para que possamos ter
uma boa ideia da produção contemporânea. E claro, não esgotam o que de muito bom tem-se feito nesta
área.
Não podemos esquecer que a literatura infantil atual vem sinalizando algumas mudanças
importantes, como o aparecimento de novos gêneros (a crônica para crianças é um belo exemplo, sobretudo
nos textos de Gilberto Dimenstein e Fernando Bonassi); o espaço cada vez maior para a
poesia destinada ao leitor criança; a exploração, cada vez maior, nas obras, dos novos papéis sociais, novas
famílias e novos temas urbanos. Por outro lado, há também a permanência de elementos fundamentais,
como o lugar garantido para o humor, a manutenção de uma escrita baseada na oralidade, a exploração das
intertextualidades. A grande novidade do mercado editorial tem sido a busca frenética das editoras por
textos que contemplem o pequeno leitor.
Mas ainda que esse panorama provoque um grande alento e um enorme estímulo, ainda somos todos
tributários dos “modelos” instaurados lá nos anos 70 e 80 por Ruth Rocha, Ana Maria Machado, Sylvia
Orthof, Lygia Bojunga, Ziraldo, Angela Lago, Ricardo Azevedo, Elias José, Rogério Andrade Barbosa, Joel
Rufino dos Santos, Tatiana Belinky, Marcelo Xavier, Marina Colasanti, Bartolomeu Campos de Queirós, Pedro
Bandeira – que de algum modo são ainda os responsáveis pela “grande virada” na literatura infantil
brasileira.
E para finalizarmos esse panorama, vale a pena lembrar que a literatura infantil continua tendo que
lidar com problemas como: a divisão por faixa etária nos catálogos das editoras, o difícil acesso às obras das
editoras de médio e pequeno porte; a pouca abertura para a publicação dos novíssimos autores e
ilustradores, a falta de continuidade da leitura além do âmbito escolar, a dificuldade em se afastar,
principalmente, do utilitarismo e do “pedagogismo”, o excesso de traduções derramadas no mercado
editorial por conta do “barateamento” da produção, a falta de espaço na mídia para a crítica literária, o
preconceito em relação ao livro de imagem ou livro sem texto, e a quase
inexistência de publicações de literatura dramática. Problemas que merecem toda
a nossa atenção (e a de quem possa ajudar a pensar em saídas e soluções!).
E num último desejo de partilha, fica aqui a indicação de obras
imperdíveis, para quem quer começar a se aventurar nos caminhos modernos
dessa literatura infantil brasileira: Uma ideia toda azul, Doze reis e a moça no
labirinto do vento (de Marina Colasanti); Tchau, O meu amigo pintor, A casa da
madrinha (de Lygia Bojunga); Menina bonita do laço de fita, História meio ao
contrário, Bisa Bia, Bisa Bel, De olho nas penas (de Ana Maria Machado);
Tampinha, Sua alteza, a Divinha, De morte (de Angela Lago); Classificados
poéticos, Jardins, Receitas de olhar, Retratos (de Roseana Murray); Meninos do
mangue (de Roger Mello); Marcelo, marmelo, martelo, Historinhas malcriadas (de
Ruth Rocha); O coração de Corali (de Eliane Ganem); Os bichos que tive, A viagem
de um barquinho, Galo, galo não me calo, Chora não! (de Sylvia Orthof); O menino
maluquinho, O menino quadradinho, A professora maluquinha, Vitor Grandam (de
Ziraldo); Tigres no quintal (de Sérgio Capparelli); Ciganos, Mário, Pedro, Indez,
Correspondência (de Bartolomeu Campos de Queirós); Vera Mentirosa, O último
dia de brincar (de Stela Maris Rezende); Feito à mão (de Nilma Gonçalves
Lacerda). Depois da leitura dessas obras, ninguém será o mesmo!
Celso Sisto é escritor, ilustrador, contador de histórias do grupo Morandubetá (RJ), ator, arte-educador, especialista em literatura infantil e juvenil,
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Doutorando
em Teoria da Literatura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e responsável pela formação de inúmeros grupos de
contadores de histórias espalhados pelo país. Tem 36 livros publicados para crianças e jovens e recebeu os prêmios de autor revelação do ano de
1994 (com o livro Ver-de-ver-meu-pai, Editora Nova Fronteira) e ilustrador revelação do ano de 1999 (com o livro Francisco Gabiroba Tabajara Tupã,
da editora EDC); ambos concedidos pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ). Vários dos seus livros também receberam o selo
Altamente Recomendável, desta mesma Fundação.
Disponível em: http://www.celsosisto.com
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Ana Maria Machado
Ana por ela mesma – Por que escrevo?¹
Por que escrevo? Porque a linguagem me fascina, me encanta, me intriga.
Porque desde criança sempre adorei navegar nos mares das histórias – ouvindo,
lendo, inventando. Porque a leitura é para mim um deslumbramento e a escrita é o
outro lado das moedas desse tesouro.
Por nenhuma dessas razões apenas, e por todas elas. E muito mais. Sempre
gostei de gente, bicho e planta – e um dia percebi que linguagem, histórias e ideias
são a marca do humano. E, já que eu não sou capaz de fazer como as árvores e
transformar gás carbônico em oxigênio, devia tentar alguma coisa que eu pudesse
fazer, para que veneno virasse fonte de vida.
Desde menina, sabia que era sensível, me emocionava facilmente, reparava
em coisas miúdas que passavam despercebidas para muita gente. Chorava à toa, era
uma manteiga derretida. Uma menina que usava palavras esquisitas. Alguns colegas
riam de mim por causa disso e não me deixavam esquecer minha diferença. Uma das
minhas irmãs tinha sempre o cuidado de me corrigir quando eu contava um caso –
Aos 5 anos, em 1947
“Não foi bem assim, a Ana já está exagerando de novo...” Alguns professores e amigos
dos meus pais também apontavam outras coisas – “A Ana tem cada ideia!” – e diziam que eu era muito
racional.
Meu avô era professor de física e vivia elogiando meu espírito científico, gabava minha objetividade,
minha memória para os detalhes, minha fidelidade a um fato observado. Em suma, eu era uma contradição
ambulante. O que me deixava sempre com a sensação de ser meio marginal em tudo.
Na hora de escolher profissão, nem pensei que escrever podia entrar nesta categoria. Fiz teste
vocacional, descobri que devia escolher entre ser artista ou cientista. Pensei em estudar agronomia (para
lidar com planta e bicho) ou química (em que eu tinha ótimas notas) ou arquitetura (porque ficava no meio
do caminho entre a ciência e a arte). Acabei escolhendo geografia, um vestibular sem matemática nem latim.
Sonhava com geografia humana, não aguentei um ano estudando rochas e me rendi. No ano seguinte, fiz
outro vestibular. Desta vez para letras, ia ser professora. Mas não pensava em escrever. E como já estava
começando no jornalismo, pude concentrar no texto de jornal meu gosto pela escrita, minha capacidade de
observação, minha fidelidade aos fatos. Meu lado cientista objetivo, enfim.
Artista, sim, eu sabia que era, e não tinha jeito. Mas não achava que isso fosse profissão. Era minha
porção delirante à procura de um canal de escoamento. Estudei piano muitos anos. Fiz parte de um grupo de
teatro experimental. Fui pintora com paixão (até hoje pinto e adoro), fiz exposições onde estranhos
compraram meus quadros, fui elogiada pela crítica, comecei a entrar no circuito profissional.
Mas um dia, pelo fim dos anos 1960, fui percebendo que os títulos de muitos quadros e as entrevistas
de certos pintores estavam tendo mais importância que a pintura em si.
Pensei: “Se é para usar palavras, por que não escrever logo, em vez de ficar
tentando explicar o quadro?” Desse modo, entendi que minha arte era
outra – verbal mesmo. Encontrei as palavras. Ou elas me encontraram.
Escrevendo, juntei todos os meus lados e porções, colei meus cacos
internos, dei uma certa ordem ao caos interior. Fui me apaixonando pelas
possibilidades infinitas que a escrita literária me abria, pela intensa
liberdade
que
me
trazia.
Um
dia,
segui
o
conselho
de Ernest Hemingway, quando disse que o jornalismo nunca fez mal algum
a um escritor... desde que largado a tempo. Demorei um pouco, talvez, mas,
depois de 17 anos em redações, me despedi delas.
Também escrevo por causa de outros fatores. Um deles é muito
importante: minhas circunstâncias. Se eu tivesse nascido numa família
analfabeta e sem contato com livros, ou em uma das tantas regiões
paupérrimas do Brasil, ou em uma geração anterior, dificilmente poderia
Pintando nos idos da década de 70
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ser escritora profissional viver disso. Ainda mais sendo mulher. Minhas avós, por exemplo, não tiveram
diante de si essa escolha. Minha avó materna nasceu na roça, nunca foi à escola, só foi ler e escrever depois
que casou. Minha avó paterna, que estudou no Colégio Sion, falava francês correntemente e era apaixonada
por literatura, bem que tentou escrever, mesmo com sete filhos pra criar. Foi uma pioneira corajosa –
mantinha uma coluna regular num jornal de Petrópolis. Mas assinava com pseudônimo, porque moça de
família não faz essas coisas. E, evidentemente, escrevia de graça – porque o atraso sempre acha que trabalho
intelectual não precisa ser remunerado, já basta a honra de ser prestigiado.
Nesse ponto, eu dei muita sorte. Por isso, pude escrever – e este é um
porquê importantíssimo. Descobri que era escritora depois que uma geração de
mulheres (a quem rendo homenagem e gratidão) já tinha aberto as primeiras
portas da imprensa e da literatura. E num momento em que o mercado editorial
brasileiro começava a se ampliar. Foi graças a ele que eu pude existir como autora.
Em 1969, a Editora Abril lançou a revista infantil Recreio. Fui convidada a
colaborar. Em pouco tempo, chegavam a vender 250 mil exemplares semanais,
quando as histórias eram assinadas por mim ou por Ruth Rocha. Com esse
sucesso, cada vez mais pediam textos nossos. Em início de 1970, eu partira para o
exílio e, lá longe, inventava histórias para meu filho. Depois as mandava pra
Recreio. A acolhida dos leitores era a minha garantia.
Escrevo hoje porque eles me profissionalizaram, me permitiram escrever –
mesmo obras aparentemente áridas, como meu primeiro livro, Recado do nome,
um ensaio sobre Guimarães Rosa. Depois fui começando a publicar contos e novelas infantis em livros. Só
pude continuar escrevendo porque os leitores me leram, os críticos me premiaram, os editores me deram
espaço. A eles também devo gratidão e reconhecimento. Sem essa preciosa ajuda, não dava para continuar.
Em 1983, ousei publicar meu primeiro romance, Alice e Ulisses, guardado na gaveta havia cinco anos.
Desde então venho alternando obras para crianças, jovens e adultos – leitores de qualquer idade, sem os
quais o livro não existe. Escrevo porque eles me leem. E me aflige muito pensar na quantidade de escritores
que não conseguem chegar aos leitores, no número de livros que não furem o bloqueio e ficam encalhados,
sem serem lidos, mortos... Por isso, também, sou uma militante da leitura. Fui livreira, editora, vivo fazendo
palestra e dando curso de promoção da leitura por este Brasil afora. Também é por isso que escrevo: porque
amo os livros, devo tanto a eles, quero colaborar na expansão desse
universo.
Já disse isso antes, mas não me incomodo de repetir:
À medida que o tempo passa e vou amadurecendo e entendo melhor
todo esse processo, constato que escrever, para mim, se liga a dois impulsos.
O primeiro é uma tentativa de fixar uma experiência passageira e, assim,
viver a vida com mais intensidade, apreender nela aspectos que me
passavam despercebidos, compreender seu sentido. O outro é a vontade de
compartilhar, de oferecer aos outros essa visão e essa compreensão, para
que de alguma forma isso fique, para que minha passagem pelo mundo –
ainda efêmera – não seja inútil. Na trajetória da escrita à leitura, a palavra se
multiplica e se reproduz, fecundante de criação compartilhada. ²
Por que escrevo? Simplesmente porque é da minha natureza, é isso
que sei fazer direito. Se fosse árvore, dava oxigênio, fruto, sombra para todo
mundo. Mas só consigo mesmo é fazer brotar palavra, história e ideia, para
Junto da estátua de Hans Christian
dividir com todos.
Andersen, em Nova Iorque.
¹ Depoimento para a série “Encontro com o Escritor”, do Instituto Moreira Salles, junho de 2000.
² Esta força estranha, Editora Atual, 1996.
MACHADO, ANA MARIA. Texturas sobre leituras e escritos,
Editora Nova Fronteira.
Imagens: http://www.anamariamachado.com
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História de Ana
Na vida da
A volta ao Brasil veio no final de 1972, quando
escritora Ana Maria
começou a trabalhar no Jornal do Brasil e na Rádio JB - ela foi
Machado, os números
chefe do setor de Radiojornalismo dessa rádio durante sete
são sempre generosos.
anos. Em 76, as histórias antes publicadas em revistas
São 40 anos de carreira,
passaram a sair em livros. E Ana ganhou o prêmio João de
mais de 100 livros
Barro por ter escrito o livro "História Meio ao Contrário", em
publicados no Brasil e
1977. O sucesso foi imenso, gerando muitos livros e prêmios
em mais de 18 países
em seguida. Dois anos depois, ela abriu a Livraria Malasartes
somando
mais
de
dezoito milhões de
“Era uma vez uma menina linda, linda. Os olhos dela
exemplares vendidos.
pareciam duas azeitonas pretas, daquelas bem brilhantes.
Os prêmios conquistados ao longo da carreira de escritora
Os cabelos eram enroladinhos e bem negros, feito
também são muitos, tantos que ela já perdeu a conta. Tudo
fiapos da noite. A pele era escura e lustrosa, que nem o pelo
impressiona na vida dessa carioca nascida em Santa Tereza,
da pantera negra quando pula na chuva.
em pleno dia 24 de dezembro.
Ainda por cima, a mãe gostava de fazer trancinhas no
Vivendo atualmente no Rio de Janeiro, Ana começou
cabelo dela e enfeitar com laço de fita colorida. Ela ficava
a carreira como pintora. Estudou no Museu de Arte Moderna
parecendo uma princesa das terras da África, ou uma fada
e fez exposições individuais e coletivas, enquanto fazia
do reino do luar.”
faculdade de Letras na Universidade Federal (depois de
Menina bonita do laço de fita
desistir do curso de Geografia). O objetivo era ser pintora
mesmo, mas depois de doze anos às voltas com tintas e telas,
resolveu que era hora de parar. Optou por privilegiar as
com a ideia de ser um espaço para as crianças poderem ler e
palavras, apesar de continuar pintando até hoje.
encontrar bons livros.
Afastada profissionalmente da pintura, Ana passou a
O jornalismo foi abandonado no ano de 1980, para
trabalhar como professora em colégios e faculdades, escreveu
que a partir de então Ana pudesse se dedicar ao que mais
artigos para revistas e traduziu textos. Já tinha começado a
gosta: escrever seus livros, tantos os
ditadura, e ela resistia participando
voltados para adultos como os infantis.
de reuniões e manifestações. No
A Academia Brasileira de Letras elegeu, por
E assim foi feito, e com tamanho
final do ano de 1969, depois de ser
unanimidade, no dia 8 de dezembro a Diretoria que ficará
sucesso que em 1993 ela se tornou
à frente da instituição no próximo ano. A Acadêmica Ana
presa e ter diversos amigos também
hors-concours dos prêmios da
Maria Machado será a Presidente. Ela substituirá o
detidos, Ana deixou o Brasil e partiu
Fundação Nacional do Livro Infantil e
Acadêmico Marcos Vinicios Vilaça, que dirigiu a ABL nos
para o exílio. A situação política se
biênios 2006/07 e 2010/11.
Juvenil
(FNLIJ).
Finalmente,
a
mostrou
insustentável.
Segunda mulher eleita Presidente da ABL –
coroação. Em 2000, Ana ganhou o
Na bagagem para a Europa, levava
antes foi a Acadêmica Nélida Piñon, em 1997, ano do
prêmio Hans Christian Andersen,
cópias de algumas histórias infantis
centenário da Academia – a escritora Ana Maria Machado,
considerado o prêmio Nobel da
que estava escrevendo, a convite da
assim que foi confirmada sua vitória, afirmou: “Daremos
literatura infantil mundial. E em 2001,
revista Recreio. Lutando para
continuidade à linha de atividades voltadas para a
a Academia Brasileira de Letras lhe
sobreviver com seu filho Rodrigo
promoção dos melhores valores da cultura nacional e da
deu o maior prêmio literário nacional,
ainda pequeno, trabalhou como
língua portuguesa. A dinâmica da Casa será a mesma
o Machado de Assis, pelo conjunto da
iniciada pelas gestões anteriores. Independentemente
jornalista na revista Elle em Paris e
obra.
disso, dirigiremos nossa ênfase para duas celebrações em
na BBC de Londres, além de se
Em 2003, Ana Maria foi eleita
particular: o centenário de morte do Barão do Rio Branco,
tornar professora na Sorbonne.
para ocupar a cadeira número 1 da
e a celebração do centenário de nascimento de Jorge
Nesse período, ela consegue
Amado".
Academia Brasileira de Letras,
participar de um seleto grupo de
http://www.academia.org.br
substituindo o Dr. Evandro Lins e
estudantes cujo mestre era Roland
8/12/2011
Silva. Pela primeira vez, um autor com
Barthes, e termina sua tese de
uma obra significativa para o público
doutorado em Linguística e Semiologia sob a sua orientação.
infantil havia sido escolhido para a Academia. A posse
A tese resultou no livro "Recado do Nome", que trata da obra
aconteceu no dia 29 de agosto de 2003, quando Ana foi
de Guimarães Rosa. Mesmo ocupada, Ana não parou de
recebida pelo acadêmico Tarcísio Padilha e fez uma linda e
escrever as histórias infantis que vendia para a Editora Abril.
afetuosa homenagem ao seu antecessor.
Disponível em: www.anamariamachado.com
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Junho de 2012
Histórias de Ana
O menino que espiava pra dentro
ENSAIO
Recado do Nome. Rio de Janeiro: Imago, 1976. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003.
Esta Força Estranha. São Paulo: Atual, 1996.
Contracorrente. Rio de Janeiro: Ática, 1997. Em espanhol: Buenas palabras, malas palabras.
Argentina: Ed. Sudamericana, 1998.
Texturas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
Como e Por que Ler os Clássicos Universais desde Cedo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. Também
traduzido em espanhol, Bogotá: Editorial Norma, 2004.
Ilhas no Tempo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2004.
(Em espanhol, alguns dos ensaios fazem parte de Lectura, escuela y creación literária. Madrid: Anaya,
2002; e de Literatura infantil: creación, Censura y resistência. Buenos Aires: Ed. Sudamericana,
2003.)
Romântico, sedutor e anarquista: como e por que ler Jorge Amado hoje, 2006.
Balaio: Livros e Leituras. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.
ROMANCE
Alice e Ulisses. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983.
Tropical Sol da Liberdade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988.
Canteiros de Saturno. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1991. 2.ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1998.
Aos Quatro Ventos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.
O Mar nunca Transborda. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995. Em espanhol, El Mar no se Desborda.
Bogotá: Editorial Norma, 2003.
A Audácia Desta Mulher. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
Para Sempre. Rio de Janeiro: Record, 2001.
Palavra de Honra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.
LITERATURA INFANTO-JUVENIL
Bento-que-bento-é-o-frade. São Paulo: Abril 1977. Hoje Salamandra. Também publicado em espanhol
e em Portugal.
Camilão, o Comilão. São Paulo: Abril, 1977. Hoje Salamandra. Também publicado em espanhol.
Currupaco Papaco. São Paulo: Abril 1977. Hoje Salamandra. Também publicado em espanhol.
Severino Faz Chover. Reunião de quatro contos, reeditados em separado a partir de 1993, na Coleção
Batutinha. Rio de Janeiro: Salamandra.
História Meio ao Contrário. Rio de Janeiro: Ática, 1979. Também publicado em espanhol, sueco e
dinamarquês.
O Menino Pedro e Seu Boi Voador. São Paulo: Paz e Terra, 1979. Hoje Ática. Também publicado em
espanhol.
Raul da Ferrugem Azul. Rio de Janeiro: Salamandra, 1979. Também publicado em espanhol.
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Junho de 2012
A Grande Aventura da Maria Fumaça. Rio de Janeiro: Rocco, 1980. Hoje Salamandra.
Balas, Bombons, Caramelos. São Paulo: Paz e Terra, 1980. Rio de Janeiro: Moderna, 1998.
O Elefantinho Malcriado. São Paulo: Paz e Terra, 1980. Rio de Janeiro: Moderna, 1998.
Bem do Seu Tamanho. Rio de Janeiro: EBAL, 1980. Hoje
Salamandra. Também publicado em espanhol e em francês.
Do Outro Lado Tem Segredos. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1980. Hoje Nova Fronteira. Também publicado em espanhol.
Era uma Vez, Três. Rio de Janeiro: Berlendis, 1980.
O Gato do Mato e o Cachorro do Morro. Rio de Janeiro: Ática,
1980. Também publicado em espanhol.
O Natal de Manuel. São Paulo: Paz e Terra, 1980. Hoje Nova
Fronteira.
Série Conte Outra Vez (O Domador de Monstros; Uma Boa
Cantoria; Ah, Cambaxirra, Se Eu Pudesse...; O Barbeiro e o
Coronel; Pimenta no cocuruto). Rio de Janeiro: Salamandra,
1980-81. Hoje FTD. Também publicados em espanhol.
De Olho nas Penas. Rio de Janeiro: Salamandra, 1981.
Também publicado em espanhol, sueco, dinamarquês,
norueguês.
Palavras, Palavrinhas, Palavrões. São Paulo: Codecri, 1981. Hoje Quinteto. Também publicado em
espanhol.
História de Jabuti Sabido com Macaco Metido. São Paulo: Codecri 1981. Hoje Nova Fronteira.
Bisa Bia, Bisa Bel. Rio de Janeiro: Salamandra, 1982. Também publicado em espanhol, inglês, sueco e
alemão.
Era uma Vez um Tirano. Rio de Janeiro: Salamandra, 1982. Também publicado em espanhol e
alemão.
O Elfo e a Sereia. São Paulo: Melhoramentos, 1982. Hoje Ediouro. Também publicado em Portugal.
Um Avião, uma Viola. São Paulo: Melhoramentos, 1982. Hoje Formato. Também publicado em
francês.
Hoje Tem Espetáculo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983.
Série Mico Maneco (Cabe na Mala; Mico Maneco; Tatu Bobo; Menino Poti; Uma Gota de Mágica; Pena
de Pato e de Tico-tico; Fome Danada; Boladas e Amigos; O Tesouro da Raposa; O Barraco do
Carrapato: O Rato Roeu a Roupa: Uma Arara e Sete Papagaios; A Zabumba do Quati; Banho sem
Chuva; O Palhaço Espalhafato; No Imenso Mar Azul; Um
Dragão no Piquenique; Troca-troca; Surpresa na Sombra;
Com Prazer e Alegria). São Paulo: Melhoramentos, 1983-88.
Hoje, Salamandra.
Passarinho Me Contou. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1983. Também publicado em espanhol.
Praga de Unicórnio. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983.
Também publicado em espanhol.
Alguns Medos e Seus Segredos. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1984.
Gente, Bicho, Planta: o Mundo Me Encanta. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1984. Também publicado em espanhol.
Mandingas da Ilha Quilomba (O Mistério da Ilha). Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1984. Hoje Ática. Também publicado em espanhol.
O Menino Que Espiava pra Dentro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
A Jararaca, a Perereca e a Tiririca. São Paulo: Cultrix, 1985. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.
Também publicado em espanhol.
O Pavão do Abre-e-Fecha. São Paulo: Cultrix, 1985. Rio de Janeiro: Ática, 1998. Também publicado
em espanhol e em Portugal.
Quem Perde Ganha. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
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Junho de 2012
A Velhinha Maluquete. Rio de Janeiro: Livro Técnico, 1986. Rio de Janeiro: Moderna, 1988. Também
publicado em espanhol.
Menina Bonita do Laço de Fita. São Paulo: Melhoramentos 1986. São Paulo: Ática, 1998. Também
publicado em espanhol, inglês, francês, sueco, dinamarquês e japonês.
O Canto da Praça. Rio de Janeiro: Salamandra, 1986. Rio de Janeiro: Ática, 2002. Também publicado
em espanhol.
Peleja. Rio de Janeiro: Berlendis, 1986.
Série Filhote (Lugar Nenhum; Brincadeira de Sombra; Eu Era um Dragão; Maré Alta, Maré Baixa). São
Paulo: Globo, 1987. São Paulo: Global, 2001 (os três últimos). Rio de Janeiro: Salamandra, 2002 (novo
título: Dia de Chuva).
Coleção Barquinho de Papel (A Galinha Que Criava um Ratinho; Besouro e Prata; A Arara e o
Guaraná; Avental Que o Vento Leva; Ai, Quem Me Dera...; Maria Sapeba; Um Dia Desses). Os 4
primeiros na Globo, 1987. De 1994 a 1996, todos na Ática.
Uma Vontade Louca. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. Rio de Janeiro: Ática, 1998. Também
publicado em espanhol.
Mistérios do Mar Oceano. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992.
Na Praia e no Luar, Tartaruga Quer o Mar. Rio de Janeiro: Ática, 1992. Também publicado em inglês.
Vira-vira. Rio de Janeiro: Quinteto, 1992. Hoje O Jogo do Vira-vira. Rio de Janeiro: Formato. Também
publicado em espanhol.
Série Adivinhe Só (O Que É?; Manos Malucos I e II; Piadinhas Infames). São Paulo: Melhoramentos,
1993. Rio de Janeiro: Salamandra, 2000.
Dedo Mindinho. Rio de Janeiro: Livro Técnico, 1993. Hoje Rio de Janeiro: Moderna.
Um Natal Que não Termina. Rio de
Janeiro: Salamandra, 1993.
Um Herói Fanfarrão e Sua Mãe Bem
Valente. Rio de Janeiro: Ática, 1994.
O Gato Massamê e Aquilo Que Ele Vê.
Rio de Janeiro: Ática, 1994.
Exploration into Latin America.
London:
Belitha
Press,
1994.
Também publicado em espanhol,
sueco, dinamarquês, norueguês,
francês.
Isso Ninguém Me Tira. Rio de Janeiro:
Ática, 1994. Também publicado em
espanhol.
O Touro da Língua de Ouro. Rio de
Janeiro: Ática, 1995.
Uma Noite sem Igual. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995. Também publicado em espanhol.
Gente como a Gente. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996. Também publicado em espanhol.
Beijos Mágicos. Rio de Janeiro: FTD, 1996. Também publicado em espanhol.
Os Dois Gêmeos. Rio de Janeiro: Ática, 1996.
De Fora da Arca. Rio de Janeiro: Salamandra, 1996. Hoje Ática. Também publicado em espanhol.
Série Lê pra Mim (Cachinhos de Ouro; Dona Baratinha; A Festa no Céu; Os Três Porquinhos; O Veado
e a Onça; João Bobo). Rio de Janeiro: FTD, 1996-1997.
Amigos Secretos. Rio de Janeiro: Ática, 1997. Também publicado em espanhol.
Tudo ao Mesmo Tempo Agora. Rio de Janeiro: Ática, 1997. Também publicado em espanhol.
Ponto a Ponto. Rio de Janeiro: Berlendis, 1998.
Os Anjos Pintores. Rio de Janeiro: Berlendis, 1998.
O Segredo da Oncinha. Rio de Janeiro: Moderna, 1998.
Melusina, a Dama dos Mil Prodígios. Rio de Janeiro: Ática, 1998.
Amigo é Comigo. Rio de Janeiro: Moderna, 1999.
Fiz Voar o Meu Chapéu. Rio de Janeiro: Formato, 1999.
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Junho de 2012
Mas Que Festa!. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. Também publicado em espanhol e francês.
A Maravilhosa Ponte do Meu Irmão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.
O Menino Que Virou Escritor. Rio de Janeiro: José Olympio, 2001.
Do Outro Mundo. Rio de Janeiro: Ática, 2002. Também publicado em espanhol e inglês.
De Carta em Carta. Rio de Janeiro: Salamandra, 2002. Também publicado em espanhol.
Histórias à Brasileira. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2002. Também publicado em espanhol.
Portinholas. São Paulo: Mercuryo, 2003.
Abrindo Caminho. Rio de Janeiro: Ática, 2003.
Palmas para João Cristiano. São Paulo: Mercuryo, 2004.
O Cavaleiro dos Sonhos. São Paulo: Mercuryo, 2005.
Procura-se Lobo. São Paulo, Ática, 2005.
Coleção Gato Escondido (Onde Está Meu Travesseiro?, Que Lambança!, Vamos Brincar de Escola?, e
Delícias e Gostosuras). São Paulo: Salamandra, 2004-2006. Também publicados em espanhol.
O Menino e o Maestro. São Paulo: Mercuryo, 2006.
A Princesa que Escolhia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006. Publicado em espanhol.
Mensagem Para Você. São Paulo: Ática, 2007. Publicado em espanhol.
Histórias à Brasileira 3 - Pavão Misterioso e outras.. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2008.
A Minhoca da Sorte. São Paulo: Moderna, 2008.
Não se Mata na Mata: Lembranças de Rondon. São Paulo: Mercuryo Jovem, 2008.
Série 7 Mares (Odisseu e a Vingança do Deus do Mar; O Pescador e a Mãe D’Água; Simbad, o Marujo;
O velho do Mar; Pescador de Naufrágios) São Paulo: Moderna, 2008-2010.
ABC do Brasil. São Paulo: SM, 2009.
Sinais do Mar. São Paulo: Cosac & Naify, 2009.
Um pra lá, outro pra cá. São Paulo: Moderna, 2009.
Histórias à Brasileira 4 – A Donzela Guerreira e outras. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2010.
Curvo ou Reto – Olhar Secreto. São Paulo: Global, 2010.
O urso, a gansa e o leão. São Paulo: FTD, 2011.
ORGANIZAÇÃO DE ANTOLOGIAS
O Tesouro das Virtudes para Crianças. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, vols. I e II em 1999 e 2000; vol.
III em 2002.
O Tesouro das Cantigas para Crianças. Vol. I em 2001; vol. II em 2002.
POESIA
Sinais do Mar. Rio de Janeiro: Cosac & Naify, 2009.
Participações em Obras Coletivas
Hoje é Dia de Festa. São Paulo: Cia. das Letras, 2006.
Amor em Texto, Amor em Contexto. São Paulo: Papirus, 2009.
Disponível em: www.academia.org.br
O urso, a gansa e o leão
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Junho de 2012
Bartolomeu Campos de Queirós
Bartolomeu por ele mesmo (1944–2012)
Sou mineiro e vivo em Belo Horizonte. Gosto de ler e
escrever. Leio poesia, conto, romance. Ler é conversar com
as ideias do escritor. Escrevo quando tenho algo a dizer.
Gosto de registrar o que meu pensamento pensa, mesmo
sabendo que parece impossível uma formiga comer um
elefante. Sei que na literatura posso escrever tudo que
penso, sonho e imagino. Se escrevo minha fantasia, ela vira
verdade. Gosto de ter as crianças como leitoras. Elas são
capazes de fantasiar coisas muito bonitas e sérias. Elas não
se espantam com a capacidade de criar uma realidade nova
para o mundo onde vivem. E quando escrevem, as crianças
contam histórias que surpreendem. É que elas sabem ver
com o coração. Recebi muitos prêmios - no Brasil e no
Exterior - pelos muitos livros que escrevi e que foram
traduzidos para outros países. Mas saber que sou lido em
muitos lugares é o maior prêmio. Quando escrevemos, é
para ser lidos.
BARTOLOMEU CAMPOS DE QUEIRÓS por ele mesmo.
Extraída da obra ISSO NÃO É UM ELEFANTE,
Editora Abacatte, Belo Horizonte, 2009.
“Aqueles que tinham olhos de ver à primeira vista sentiam que era um menino
desarmado e feito só para o carinho. Sua maneira de olhar, seu jeito de se
oferecer ou se encostar, seu modo de se aninhar nos braços, dava nas pessoas
uma vontade muito forte de fazê-lo sumir entre carinhos. Apertá-lo em
abraços e escondê-lo no coração.”
Indez
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História de Bartolomeu
Bartolomeu Campos de Queirós viveu sua
infância em Papagaio, cidade pequena com gosto
de "laranja serra-d'água", no interior de Minas
Gerais, antes de se instalar em Belo Horizonte,
onde residiu e trabalhou.
Seu interesse pela literatura e pelo ensino
da arte o fez viajar muito por este país. Conheceu
as cidades apreciando azulejos e casas
pacientemente - um andarilho atento a cores,
cheiros, sabores e sentidos que rodeiam as
pessoas do lugar, com o mesmo encanto na alma
com que observava os rios da
Amazônia,
dos
quais
costumava sentir saudades em
Minas.
Bartolomeu só fez o
que gostava, não cumpria
compromissos sociais nem
tarefas que não lhe pareciam
substanciais. Dizia ter fôlego
de gato, o que lhe permitiu
nascer e morrer várias vezes.
"Sou frágil o suficiente para
uma palavra me machucar,
como sou forte o suficiente para uma palavra me
ressuscitar."
Em 1974 publicou seu primeiro livro, O
peixe e o pássaro, e desde então firmou seu estilo
de escrita como uma prosa poética da mais alta
qualidade.
Com formação nas áreas de educação e
arte, cursou o Instituto Pedagógico de Paris. Desde
os anos 70, teve destacada atuação como
educador, em vários níveis, contribuindo com
importantes projetos para a Secretaria de Estado
da Educação e para o Ministério da Educação.
Participa do Projeto ProLer, da Biblioteca
Nacional, dando conferências e seminários sobre
educação, leitura e literatura. Tem 43 livros
publicados no Brasil e vários deles traduzidos e
editados em outros países.
É detentor dos mais importantes prêmios
literários nacionais, como:
Prêmio Cidade de Belo Horizonte;
Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do
Livro;
Selo de Ouro, da Fundação Nacional do
Livro Infanto-Juvenil;
9ª Bienal de São Paulo;
1ª Bienal do Livro de Belo Horizonte;
Diploma de Honra da IBBY, de Londres;
Prêmio Rosa Blanca (Cuba);
Quatrième Octagonal (França);
Prêmio Nestlé de Literatura;
Prêmio Academia Brasileira de Letras.
Com o livro "Indez", foi o vencedor do
Concurso Internacional de Literatura InfantoJuvenil (Brasil, Canadá, Suécia, Dinamarca e
Noruega). Vários de seus textos foram adaptados
para o teatro, dentre eles, "Ciganos", encenado
pelo Grupo Ponto de Partida.
Sua obra tem sido tema de teses
acadêmicas (áreas de literatura
e
psicologia)
em
várias
universidades brasileiras.
Foi
presidente
da
Fundação
Clóvis
Salgado/Palácio das Artes,
membro do Conselho Estadual
de Cultura e do Conselho
Curador da Escola Guignard,
membro do Conselho de
Curador da Fundação Municipal
de Cultura. Atuava também como crítico de arte,
integrando júris e comissões de salões e fazendo
curadorias e museografias de exposições.
“Um bom texto literário faz o
leitor pensar o que ele não
sabia que ele podia pensar.”
Bartolomeu Campos Queirós
http://www.caleidoscopio.art.br/bartolomeucamposdequeiros/release
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Junho de 2012
Histórias de Bartolomeu
“Ele está sempre acordado, viajando e vigiando tudo. Sabemos que ele existe porque modifica todas as coisas.
O tempo troca a roupa do mundo. Ele muda a história, desvia águas, come estrelas, mastiga reinos,
amadurece frutos, apodrece sementes. Nada fica fora do tempo. Moramos dentro dele e impedidos de abraçálo. O tempo foge para não ser amado. Quem ama para e fica. O tempo foge.”
Tempo de voo.
ANOS 70
O peixe e o pássaro, 1971. Saraiva
Pedro, 1973. Global
Raul- Luar, 1978. RHJ
Onde tem bruxa tem fada, 1979. Moderna
ANOS 80
Ciganos, 1982. Global
Mario ou de pedras, conchas e sementes, 1983. Global
Ah! Mar..., 1985. RHJ
As patas da vaca, 1985. Global
Cavaleiros das sete luas, 1986. Global
Coração não toma sol, 1986. FTD
História em 3 atos, 1986. Global
Correspondência, 1986. Global
“Há trabalho mais definitivo, há ação
Pintinhos e pintinhas, 1986. FTD
mais absoluta do que essa de aproximar
Apontamentos, 1988. Formato
Papo de Pato, 1989. Formato
o homem do livro?”
Indez, 1989. Global
O livro é passaporte é bilhete de partida
ANOS 90
Escritura, 1990. Mazza
Minerações, 1991. RHJ
Faca afiada, 1992. Moderna.
Diário de classe, 1992. Moderna
Por parte de pai, 1995. RHT
Ler, escrever e fazer conta de cabeça, 1996. Global
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Junho de 2012
ANOS 2000
Rosa dos Ventos, 2000. Global
Bichos...são todos bichos, 2001. Brasil
De não em não, 2001. Global
Flora, 2001. Global
Os cinco sentidos, 2002. Global
Mais com mais dá menos, 2002. RHJ
A Matinta Pereira, 2002. FTD
Olhar de bichos, 2002. Dimensão
Piolho, 2003. RHJ
Menino de Belém, 2003. Moderna
Vida e obra de Aletrícia depois de Zeroastro,
2003. Moderna
Rosa e Rosa, 2003. Franco
Até passarinho passa, 2003. Moderna
Para criar passarinho, 2004. Global
O olho de vidro do meu avô, 2004. Moderna
Entretantos, 2004. Conselho Regional de Psicologia
O guarda-chuva do guarda, 2004. Moderna.
Pato pacato, 2004. Moderna
De letra em letra, 2004. Moderna
Formiga amiga, 2004. Moderna
Pé de sapo e sapato de pato, 2004. Brasil
Somos todos igualzinhos, 2005. Global
Sem palmeira ou sabiá, 2006. Peirópolis
Antes e depois, 2006. Manati
Para ler em silêncio, 2007. Moderna
Sei por ouvir dizer, 2007. Edelbra
O ovo e o anjo, 2007. Global
Foi assim..., 2008. Moderna
Anacleto, 2008. Larousse
Menino inteiro, 2009. Global
Tempo de voo, 2009. Edições SM
Nascemos livres, 2009. Edições SM
O livro de Ana, 2009. Global
ABC até Z, 2009. Larousse
“Quanto a gente fala de uma
sociedade leitora, nós estamos
justamente
tentando
uma
sociedade reflexiva, que pensa o
seu destino, que pensa o seu
caminho.”
A palavra conta
ANOS 2010
Isso não é um elefante, 2010. Abacate
2 patas e 1 tatu, 2010. Positivo
A árvore, 2010. Paulinas.
Vermelho amargo, 2011. Cosac Naify
O fio da palavra, 2011. Galera Record.
“Meu avô me convidou, naquela tarde, para me assentar ao seu lado nesse banco cansado. Pegou minha mão e, sem tirar os olhos do
horizonte, me contou:
O tempo tem uma boca imensa. Com sua boca do tamanho da eternidade ele vai devorando tudo, sem piedade. O tempo não tem pena.
Mastiga rios, árvores, crepúsculos. Tritura os dias, as noites, o sol, a lua, as estrelas. Ele é o dono de tudo. Pacientemente ele engole todas as
coisas, degustando nuvens, chuvas, terras, lavouras. Ele consome as histórias e saboreia os amores. Nada fica para depois do tempo.
As madrugadas, os sonhos, as decisões, duram pouco na boca do tempo. Sua garganta traga as estações, os milênios, o ocidente, o oriente, tudo
sem retorno. E nós, meu neto, marchamos em direção à boca do tempo.
Meu avô foi abaixando a cabeça e seus olhos tocaram em nossas mãos entrelaçadas. Eu achei serem pingos de chuva as gotas rolando sobre
meus dedos, mas a noite estava clara, como tudo mais.”
Por parte de pai
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Junho de 2012
Bia Bedran
Bia por ela mesma -
O quintal – Memórias de uma contadora de histórias...
Um quintal é o primeiro palco que uma criança pisa.
Pode ser uma área ou um pequeno pedaço qualquer
onde ela se exteriorizará, largará sua imaginação e
desenvolverá sua criatividade.
Wanda Bedran
Durante os anos 1970, minha mãe, Wanda Martini Bedran, e suas
irmãs e primas, Wilma Martini Brandão, Wandirce Martini Wörhle, Maria de
Lourdes Martini, Maria José Martini Quintas e eu fundamos, ao lado de uma
grande parte da família, o Quintal Teatro Infantil, inaugurado em 16 de
setembro de 1973, numa agradável rua do bairro de São Francisco, em
Niterói, no estado do Rio de Janeiro. O teatro Quintal, de duzentos lugares, foi
erguido literalmente no quintal da casa de umas das irmãs, Wandirce, com
projeto arquitetônico de Junir Brandão, marido da outra irmã, Wilma. Quem
passava pela rua General Rondon, 15, voltava sua atenção para uma casa de
esquina sombreada por enormes amendoeiras com um toque especial no
muro branco: uma grande margarida pintada no lugar no buraco onde era a
bilheteria. Participavam do grupo 23 membros da família, pais, mães, irmãos,
avós, primos, tias e tios, que, através da arte, conseguiram a façanha de
viabilizar a convivência entre as três gerações. A ideia da fundação de um
teatro para crianças surgiu com Wanda, Wandirce, Wilma e Maria José, que
quando jovens realizavam apresentações de teatro de bonecos nos morros.
Com o casamento de cada uma delas, o trabalho foi interrompido até 1973,
quando desejaram a volta do grupo e mobilizaram toda a família, já na segunda geração.
Ali no nosso Quintal, pudemos experimentar linguagens cênicas diversas sempre buscando falar à infância, e
nos revezávamos nas inúmeras funções pertinentes ao mundo das artes cênicas, desde a construção do próprio teatro
em formato de arena até a confecção de figurinos, cenário, bonecos e adereços, criação dos textos, músicas, direção,
produção, iluminação, controle de borderaux, organização da cantina (que se chamava A Casa do Sapo Guloso), enfim,
todos os passos que pertencem a uma trupe teatral.
Eu, então com dezessete para dezoito anos, tratava da direção musical
dos espetáculos, e todos tocávamos instrumentos de percussão, violão,
acordeom, flautas, e objetos sonoros como bacia com areia para obtermos o som
da água, ou conchas e chaves enredadas por um fio, que produziam um efeito
mágico diante dos olhos encantados das crianças e dos adultos.
Os textos das peças infantis do Quintal eram de autoria de Maria de
Lourdes Martini (também diretora-geral do grupo), Wanda Martini Bedran,
Maria Mazzeti e Maria Arminda Aguiar. Dotados de uma enorme brasilidade,
evocavam situações rurais às vezes datadas de outras épocas, o que favorecia a
minha pesquisa dentro do cancioneiro do Brasil para que as nossas
interpretações tivessem maior vigor e mostrassem às crianças e a seus pais um
mundo sonoro rico e diferenciado. Já aí se fazia presente aquela memória das
modinhas, cordéis, romances, e das estrofes rimadas e ritmadas cantadas por
minha mãe durante a infância, e toda criação das canções para os espetáculos desabrochava fertilmente, embebida da
água daquela fonte inicial. Também o modo como descobrimos juntos a força das narrativas em contraponto com a
interpretação e a caracterização dos personagens foi fundamental durante todo o processo de amadurecimento
profissional do grupo. Nossa pesquisa de linguagem, utilizando bonecos e adereços que se mesclavam com nossas
atuações, acontecia atrás e na frente da “tapadeira” ou “empanada”, como era chamado o palco dos bonecos. Eles eram
criados e manipulados com primor pelas nossas mestras: mães, avós e tias. Elas eram verdadeiras artesãs na criação e
manipulação dos bonecos, que surgiam dos mais variados materiais e adquiriam formas surpreendentes, nada
convencionais enquanto fantoches, mamulengos ou adereços que se transformavam em personagens. Sua sabedoria
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elas repassavam para nós, que éramos na época a ala jovem do Quintal, a exemplo dos costumes recorrentes na cultura
popular, em que o saber dos mais velhos é transmitido oralmente.
Durante os dez anos de duração do Quintal Teatro Infantil, a presença do narrador que atuava paralelamente
ao desenvolvimento das cenas foi crescente e marcante. Muitas vezes cabiam aos nossos personagens distanciarem-se
dos seus papéis e narrarem o que tinha acabado de acontecer, isto é, passávamos da interpretação na primeira pessoa
para a narrativa na terceira pessoa. A partir de então, comecei a entender algumas características do processo narrativo
e seu poder de intercambiar a experiência com seus ouvintes. Em todos os espetáculos montados pelo nosso Quintal
Teatro Infantil, compus a trilha sonora de modo que todos pudéssemos integrar nossas vozes, instrumentos artesanais,
o corpo e o movimento à ação cênica. Quando cantávamos, era como se fôssemos o coro grego que conta e descreve a
cena que acontecerá ou que acabará de acontecer.
Em ordem cronológica, o Quintal Teatro Infantil montou os seguintes espetáculos:
O aniversário da Princesinha Papelotes – de Maria Mazzeti – 1973.
O planeta maluco – de Maria Mazzeti – 1973
O circo de dom Pepe, Pepito, Pepom – de Wanda Bedran – 1973
O pescador e o gênio – de Wanda Bedran – 1974
Os três porquinhos – adaptação de Wanda Bedran – 1974
Estela, a estrela que caiu do céu – de Wanda Bedran – 1974
A bruxinha do caldeirão verde – de Wanda Bedran – 1974
Palha seca – de Wanda Bedran – 1975
Você tem um caleidoscópio? – criação coletiva – 1975
A estória da moça preguiçosa – de Maria de Lourdes Martini – 1975
Azul ou encarnado? – de Maria Arminda Aguiar – 1976
Terra ronca – de Maria de Lourdes Martini – 1977
Bem te vejo – de Wanda Bedran – 1978
O velho mar – de Wanda Bedran – 1979 e 1980
O espetáculo “A estória da moça preguiçosa”, com texto e direção de Maria de Lourdes Martini (a nossa Tia
Lolita), recebeu o primeiro Prêmio Molière de Teatro Infantil, em 1975, num grande reconhecimento por nossa
pesquisa de linguagem dentro do teatro infantil brasileiro.
A partir de 1977 houve uma dispersão dos elementos mais jovens do grupo pelas escolhas profissionais em
outras áreas, e as temporadas no Teatro Quintal foram interrompidas, sendo o espaço alugado esporadicamente para
outros grupos teatrais. O núcleo, integrado por Wilma Brandão, Wanda Bedran, Wandirce Wörhle e Maria José Quintas,
saiu para desenvolver projetos em escolas e praças da cidade e do interior. Finalmente elas decidiram reabrir o teatro
para sua última temporada com a peça O velho mar, uma adaptação feita por minha mãe para um dos contos das Mil e
uma noites. Fui convidada para a direção-geral do espetáculo, além de criar a trilha sonora, gravada com nossas vozes
fazendo os personagens e tendo como fio condutor o som da água: ondas quebrando, borbulhas, som de remadas.
No início dos anos 1980, quando o tempo do Quintal findou e cada um seguiu suas escolhas profissionais e
pessoais, eu já havia me decidido plenamente pelo caminho da criação artística voltada para as crianças e
absolutamente imbricada com a música e a narrativa de histórias.
Durante o processo de desenvolvimento das linguagens cênicas, musicais e narrativas dentro do Teatro
Quintal, encontrei-me, em 1974, com outros dois jovens músicos cariocas que também pesquisavam a música
tradicional brasileira e se interessavam pelo diálogo da linguagem musical com a infância,
Victor Larica e Ricardo Medeiros. Juntos, fundamos em 1977 um grupo que se chamou
Bloco da Palhoça, Música para Brincar e Cantar. Nosso grupo fez uma fusão muito
equilibrada da pesquisa do folclore com nossas composições próprias. Fazíamos
espetáculos para adultos e crianças em praças, auditórios, pátios de escolas públicas e
particulares, coretos de cidades do interior, enfim, íamos descobrindo uma linguagem na
qual o fazer artístico dialogava com a recriação de elementos do folclore ou da tradição
oral. Em nossas viagens para o interior dos estados do Rio de Janeiro, de São Paulo e de
Minas Gerais, mesclávamos a pesquisa de campo com as apresentações profissionais em
que cantávamos e tocávamos grande parte do material recolhido tanto em fontes
bibliográficas quanto o que ouvíamos e aprendíamos nas festas populares (ou folguedos, numa nomenclatura da época)
por onde passávamos: Folia de Reis, Congada, Folia do Divino, Caxambu, Jongo, Moçambique, Catiras e Rodas de
Cirandas. Todas essas manifestações culturais mesclavam o espírito religioso com o profano e nos entregavam um
retrato sonoro, rítmico e melódico, visual, coreográfico e histórico do nosso processo de mestiçagem, em que se
misturavam elementos das tradições portuguesas, indígenas e africanas.
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Denominávamos de “arquivo vivo” nosso processo de pesquisa: arquivo por causa dos registros ordenados de
todo o material recolhido, e vivo pelo fato de vivenciarmos o referido material. O termo “arquivo vivo” refere-se então à
apreensão de diversas formas musicais tradicionais de determinada comunidade através da troca de experiências, do
tocar junto aos cantadores, violeiros, sanfoneiros e percussionistas levando nossos instrumentos e permutando-os com
os deles. O resultado desta troca era um arranjo musical espontaneamente criado, acrescido do que nós, enquanto
músicos profissionais, adquirimos com o nosso trabalho e do que aquelas pessoas nos ensinavam pela maneira intuitiva
de tocar, dançar, cantar e contar. O intercâmbio destas experiências artísticas nos deixou um legado rico de influências
culturais que pudemos transmitir posteriormente em espaços cênicos e também no contexto de nossas práticas na área
da educação.
No ano de 1974 fui conhecer a Festa do Divino de São Luís do
Paraitinga, no interior de São Paulo. Era uma grande feira onde coexistiam
torneio de moda de viola, cerâmica de Taubaté, jongo, catira, Moçambique,
cavalhada e seus palhaços, missa, procissão, circo, parque de diversão...
O Divino desceu do céu
Nesta hora de alegria
Para abençoar o povo
Que veio festejar seu dia
Assim dizia um dos inúmeros versos de “Toada do Divino”
cantados pela Companhia de Seu João, que ecoava pelas ruas da cidade. Os
festejos do Divino duravam dez dias e mobilizavam toda a população de
São Luís e arredores, pobres e ricos, usufruindo das ofertas que eram arrecadadas pelos “foliões”. Assim eram
chamados os integrantes da Folia do Divino, que cantavam e arrecadavam de casa em casa, a exemplo da Folia de Reis,
bois, porcos e galinhas, que depois eram cozidos em enormes tachos de cobre e transformados no “afogado”, como é
chamado este prato típico. Ele era servido diariamente para todos, junto com paçoca, macarrão, feijão e arroz. Nesta
ocasião conheci o João Tartaruga, contador de histórias e artista do barro que esculpia dentro de pequenas cabaças.
Eram miniesculturas que ele vendia após contar a história que nela estava
contida:
Faço arte de barro, lindas paisagem de verdade
A minha fama de artista está correndo cidade em cidade
E com essa teligência me ajuda a nececidade
Serviço de pega na enchada a muito tempo já fui
Hoje sou cabroco de gosto faço pintura na cuia
Quando esto fazendo verço
Quanto mais obra eu faço
Mais dinheiro desluia
(João Tartaruga, 1974, em texto registrado pelo próprio na entrada de sua oficina)
Bloco da Palhoça
Em meio às apresentações musicais e teatrais, formei-me em
musicoterapia e licenciatura em educação artística. Tornei-me professora de educação musical e fui trabalhar em várias
escolas, procurando conjugar a arte de contar com a de cantar, tocar e criar para crianças. Com as crianças em sala de
aula, pude observar o quanto a música e a narrativa se completavam: os processos criativos meus e das crianças
geravam novos poemas, canções, histórias e dramatizações a partir de matrizes e exemplos vindos da tradição oral,
como brincadeiras, parlendas, trava-línguas, adivinhações, contos populares, literatura de cordel, enfim, todo o material
que já pertencia à pesquisa que eu vinha desenvolvendo anteriormente. Observei que as crianças tinham vontade de
recontar uma história ou canção que haviam acabado de ouvir, e eu propunha uma atividade usando uma forma de
expressão artística semelhante à de João Tartaruga, transformando em maquetes o cenário principal da narrativa ou
registrando em desenhos e colagem seus principais personagens. Depois, com seu trabalho na mão, as crianças
contavam à sua maneira, acrescida de detalhes ou fazendo uma síntese de sua própria criação.
A pesquisa que realizei pertencendo aos grupos Quintal e Bloco da Palhoça se desdobrou em diversas
abordagens dentro da arte de contar e cantar histórias, pois levei esta experiência para a TV, para o rádio, para o teatro
e para a educação. Em todos os formatos e suportes citados lá estavam impressas as marcas da tradição oral, na escolha
do repertório de contos e canções, de brincadeiras e jogos, de adivinhações e brincadeiras de roda e cirandas. São
canções que contam histórias ou histórias que trazem canções. Ouvidas em outros tempos, transmitidas oralmente,
registradas na escrita literária ou musical, e finalmente gravadas a partir da possibilidade dos suportes eletrônicos.
Músicas para brincar e cantar. Histórias para ouvir, contar e sonhar.
BEDRAN BIA. A arte de cantar e contar histórias – Narrativas orais e processos criativos,
Editora Nova Fronteira.
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História de Bia
Era uma vez Bia Bedran,
anos, era uma das mais velhas do
uma menina que nasceu para
grupo. Nesse tempo foi que eu
fazer as crianças sonharem e hoje
descobri esse mundo”, diz Bia.
ensina a quem quiser a viver feliz
A arte de contar estórias
para sempre.
veio naturalmente com o convívio
Foi em Niterói (RJ), no dia
com as crianças. Foi nessa época
26 de novembro de 1955, que Bia
que a jovem atriz entrou no
Bedran nasceu, ou melhor,
mundo mágico da contação de
estreou. Isso porque, desde
estórias. “Aí descobri que contar
criança, assim bem pequenininha,
estória era diferente do que
a menina, criada em família de
interpretar. Toda vez que eu
artistas, começou a escrever
entrava na voz da narradora,
músicas e poemas, coisas que,
percebia que a criançada prestava
geralmente, toda criança que lê e
mais atenção. A criança tem uma
se diverte com a literatura faz.
paixão pela narração, pelo texto
Ciranda da Palavra 2010
“No início, eu não sonhava em ser
contado. Quando eu narro,
artista da infância. Eu era criança e gostava de ler.
quando eu falo do personagem, eu sinto uma
Gostava de contar, fabular o que eu lia. Às vezes,
atenção maior”, explica.
só para mim mesma, para o meu fazer, gostava de
Hoje, já com 54 anos, Bia Bedran tem sete
me trabalhar artisticamente”, relembra Bia.
livros publicados, oito discos e um DVD. A artista
Na adolescência, assim já mais mocinha,
já compôs mais de 300 canções. Dessas, 100
seu pai sempre a inscrevia em concursos de
músicas foram gravadas. A atriz também foi
música e só revelava a idade da
apresentadora de televisão. De
filha depois, para ela não ser
1986 até 1993, Bia esteve à
desclassificada. Nessa fase, Bia
frente do “Conta Conto”, na
fazia sua arte pensando nos
antiga TV Educativa, atual TV
adultos. Fazia sambas, toadas,
Brasil. Em 1988 e 1989,
músicas políticas e concorria com
apresentou
o
programa
adultos em festivais de canção.
ecológico “Baleia Verde”, na
Tanto que foi muito influenciada
extinta TV Manchete, além de
por João de Barro, Braguinha,
“Lá vem História”, na TV
Lamartine Babo e pelas músicas
Cultura e “Alfabetização no
da Rádio Nacional. Precoce, não?
Canteiro de Obras”, pela
Sua carreira começou
Fundação Roberto Marinho.
para valer em 1973, aos 17 anos
Os planos dessa eterna
(nem era gente grande ainda a
menina, no entanto, não param
menina). Na época, sua família
por aí. Seu próximo passo pode
montou um grupo de teatro para
ser na telona. “Só falta agora
crianças.
As
apresentações
cinema. Não vou morrer sem
aconteciam no quintal da casa de
fazer um filme, trabalhar
Gravação DVD “Cabeça de vento”
uma tia, daí o nome Quintal
atuando ou ser uma narradora,
SESI Duque de Caxias/ 2010
Teatro Infantil. “Eu descobri a minha
mas é um sonho ainda. Minha
vocação quando tive a sorte de trabalhar
filha acabou de se formar em
no grupo que minha família criou. Éramos, ao
cinema e a gente tem conversado muito sobre isso
todo, 23 entre irmãos e primos da família Martini
ultimamente”, vibra.
Bedran. Minha mãe escrevia peças para crianças e
“QUEM CONTA ESTÓRIA FAZ O OUTRO
a família toda trabalhava. Minha avó fazia os
IMAGINAR”
vestidos e meu avô ficava na bilheteria. Eu, com 17
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Professora
concursada
mundo hoje precisa pisar no
desde 1985, Bia dava aulas de
freio.
“As
pessoas
musicalização para as crianças do
hoje, nessa vida muito corrida,
CAP (Colégio de Aplicação) da Uerj
têm
pouco
tempo
(Universidade do Estado do Rio de
para contar suas histórias
Janeiro). No início, ela só ensinava
pessoais. Em um tempo mais
música. Com o tempo, o hábito de
antigo, as pessoas tinham esse
ler e contar estórias invadiu suas
hábito naturalmente, não existia
aulas. Foi então que descobriu que
aulas de contar estória. Não tinha
bom mesmo era cantar e contar ao
televisão, as pessoas faziam uma
mesmo tempo. “São quase 25 anos
roda e o que existia era a troca de
como professora na Uerj. No
experiências, o ato de contar para
decorrer do tempo, eu já era
o outro o que você viveu”,
contadora de estórias na vida
relembra.
Seminário Direitos Humanos
artística e fui incorporando a coisa
Essa falta de tempo
Duque de Caxias - 2011
do ensinar música para as
também tem prejudicado a
crianças, mas ensinar também o fazer, o
formação das crianças. Bia comenta
contar, música dentro de uma estória, estória com
que elas precisam ler mais e não somente assistir
canções e fui mudando a minha metodologia que
televisão ou navegar pela internet. “A criança
era só de ensino musical, para fazer estórias junto
também entra num frisson de cada vez mais
com canções”, explica.
aprender conteúdo e mais conteúdo. Esse é o
Nessa época, Bia Bedran foi chamada para
momento em que o professor para e conta uma
dar aulas em uma oficina chamada A Arte de
estória. É o momento do sonho. A criança viaja
Cantar e Contar Estórias,
como se fosse uma
para
professores
e
parada no tempo, não
educadores. Seu desejo é
uma parada onde ela fica
passar para outros essa
vazia, uma parada ativa.
nobre arte. “De lá para cá já
A alma está em repouso,
se passaram 14 anos, sempre
mas ela está atenta, está
às segundas e quartas à
sentindo”, ensina.
noite. Essa oficina eu
A
professora
trabalho com educadores,
revela, ainda, dicas para
não mais crianças, e ensino
quem também quer
esse ‘making-off’ de como é
viver essa experiência.
contar estórias e como
“Quem quer contar e
Seminário O DIA da Educação em
construir
pequenos
viver de estórias tem
Movimento/Duque de Caxias 2012
adereços,
entre
outras
que descobrir o que
coisas”, revela.
quer ser. Quer ser um educador ou contar
Segundo Bia, o contar estórias revela uma
profissionalmente em eventos de literatura? É
troca de experiências muito interessante. Naquele
preciso descobrir que sente prazer com isso e
curto espaço de tempo, que pode durar dez, 20
depois focar. Trabalho em hospitais e,
minutos ou até meia hora, o intérprete só tem ali a
diferentemente de atuar em um palco, em todas
sua palavra, a sua voz, a sua mão, os seus olhos, e,
essas modalidades tem que amar contar estórias,
principalmente, a sua expressão. Todo o resto é
tem que gostar da literatura, de transformar o
imaginado por quem ouve. “Ensinar a contar
texto lido em um texto coloquialmente falado.
estória nem é tanto a coisa do ator, não é ensinar a
Treinar em casa, montar um repertório e fazer
interpretar, mas ensinar a amar esse fazer tão
cursos”, explica mais uma vez a professora que
atávico ao homem, que é esse momento que você
sabe que, no final de toda estória tem que ter um
senta, conta coisas reais e imaginárias. Às vezes
“e viveram felizes para sempre”. E quem quiser
você conta um fato que realmente aconteceu”.
que conte outra.
Artigo de 10 de Outubro de 2009.
A educadora se mostra preocupada com a
perda do hábito de conversar e acredita que o
Disponível em: http://www.jornaldeteatro.com.br
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Junho de 2012
Histórias de Bia
Deus. Ilustração Thaís Linhares: http://ilustracoesdethais.blogspot.com.br
LIVROS:
http://ilustracoesdethais.blogspot.com.br
A sopa de pedra
http://ilustracoesdethais.blogspot.com.brhttp://ilustracoesdethais.blogspot.co
O pescador o anel e o rei
m.br
Cabeça de vento
Deus…
Eu e o tempo
O palhaço Biduim
A menina do anel
Uma história sem fim
O sapateiro e os anõezinhos
O menino que foi ao Vento
Norte
CDS:
Fazer um Bem
Brinquedos cantados
Bia Canta E Conta 2
Úman
Dona árvore
Coletânea de Músicas Infantis
Bia Canta e Conta
A caixa de músicas de Bia
Bedran
Acalantos
DVDS:
“Perdi meu anel no mar
Não pude mais encontrar
E o mar me trouxe a concha
De presente pra me dar...”
O anel
Cabeça de Vento
Histórias de um João de Barro
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Carlos Drummond de Andrade
Drummond por ele mesmo (1902-1987)
Confidência do Itabirano
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e
comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e
sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança Itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
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Junho de 2012
História de Drummond
Carlos
sempre, e fecundamente, contraditórias. Torturado
Drummond
de
pelo passado, assombrado com o futuro, ele se detém
Andrade nasceu em
num presente dilacerado por este e por aquele,
Itabira do Mato
testemunha lúcida de si mesmo e do transcurso dos
Dentro - MG, em 31
homens, de um ponto de vista melancólico e cético.
de outubro de 1902.
Mas, enquanto ironiza os costumes e a sociedade,
De uma família de
asperamente satírico em seu amargor e desencanto,
fazendeiros
em
entrega-se com empenho e requinte construtivo à
decadência, estudou
comunicação estética desse modo de ser e estar.
na cidade de Belo
Vem daí o rigor, que beira a obsessão. O poeta
Horizonte e com os
trabalha sobretudo com o tempo, em sua cintilação
jesuítas no Colégio
cotidiana e subjetiva, no que destila do corrosivo. Em
Anchieta de Nova
Sentimento do mundo (1940), em José (1942) e
Friburgo RJ, de onde foi expulso por "insubordinação
sobretudo em A rosa do povo (1945), Drummond
mental". De novo em Belo Horizonte, começou a
lançou-se ao encontro da história contemporânea e da
carreira de escritor como colaborador do Diário de
experiência coletiva, participando, solidarizando-se
Minas, que aglutinava os adeptos locais do incipiente
social e politicamente, descobrindo na luta a
movimento modernista mineiro.
explicitação de sua mais íntima apreensão para com a
Ante a insistência familiar para que obtivesse
vida como um todo. A surpreendente sucessão de
um diploma, formou-se em farmácia
obras-primas, nesses livros,
na cidade de Ouro Preto em 1925.
indica a plena maturidade do
Fundou com outros escritores A
poeta, mantida sempre.
Revista, que, apesar da vida breve,
Várias obras do poeta
foi importante veículo de afirmação
foram
traduzidas
para
o
do
modernismo
em
Minas.
espanhol, inglês, francês, italiano,
Ingressou no serviço público e, em
alemão, sueco, tcheco e outras
1934, transferiu-se para o Rio de
línguas.
Drummond
foi
Janeiro, onde foi chefe de gabinete
seguramente,
por
muitas
de Gustavo Capanema, ministro da
décadas, o poeta mais influente
Com esposa Dolores e a filha Julieta
Educação, até 1945. Passou depois a
da literatura brasileira em seu
trabalhar no Serviço do Patrimônio
tempo, tendo também publicado
Histórico e Artístico Nacional e se aposentou em 1962.
diversos livros em prosa.
Desde 1954 colaborou como cronista no Correio da
Em mão contrária traduziu os seguintes
Manhã e, a partir do início de 1969, no Jornal do Brasil.
autores estrangeiros: Balzac (Les Paysans, 1845; Os
O modernismo não chega a ser dominante nem
camponeses), Choderlos de Laclos (Les Liaisons
mesmo nos primeiros livros de Drummond, Alguma
dangereuses, 1782; As relações perigosas), Marcel
poesia (1930) e Brejo das almas (1934), em que o
Proust (La Fugitive, 1925; A fugitiva), García Lorca
poema-piada e a descontração sintática pareceriam
(Doña Rosita, la soltera o el lenguaje de las flores, 1935;
revelar o contrário. A dominante é a individualidade do
Dona Rosita, a solteira), François Mauriac (Thérèse
autor, poeta da ordem e da consolidação, ainda que
Desqueyroux, 1927; Uma gota de veneno) e Molière
(Les Fourberies de Scapin, 1677; Artimanhas de
Scapino).
Alvo de admiração irrestrita, tanto pela obra
quanto pelo seu comportamento como escritor, Carlos
Drummond de Andrade morreu no Rio de Janeiro RJ, no
dia 17 de agosto de 1987, poucos dias após a morte de
sua filha única, a cronista Maria Julieta Drummond de
Andrade.
1962
Disponível em:
http://www.releituras.com/drummond_bio.asp
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Histórias de Drummond
“Minha vida, nossas vidas
formam um só diamante.
Aprendi novas palavras
e tornei outras mais belas.
Eu preparo uma canção
que faça acordar os homens
e adormecer as crianças.”
Canção amiga
POESIA
1930 – Alguma poesia
1934 – Brejo das almas
1940 – Sentimento do mundo
1942 – José
1945 – A rosa do povo
1948 – Novos poemas
1951 – A mesa
1951 – Claro enigma
1952 – Viola de bolso
1954 – Fazendeiro do ar
1955 – Soneto da buquinagem
1957 – Ciclo
1959 – A vida passada a limpo
1962 – Lição de coisas
1964 – Viola de bolso II
1967 – Versiprosa
1967 – José & outros
1968 – Boitempo & A falta que ama
1968 – Nudez
1969 – Reunião
1973 – As impurezas do branco
1973 – Menino antigo (Boitempo II)
1977 – A visita
1978 – O marginal Clorindo Gato
1979 – Esquecer para lembrar (Boitempo III)
1980 – A paixão medida
1983 – Nova reunião
1984 – Corpo
1985 – Amar se aprende amando
1986 – Tempo vida poesia
1988 – Poesia errante
1996 – Farewell
ANTOLOGIAS POÉTICAS
1956 – 50 poemas escolhidos pelo autor
1962 – Antologia poética
1971 – Seleta em prosa e verso
1975 – Amor, amores
1982 – Carmina Drummondiana
1987 – Boitempo I e Boitempo II
INFANTIS
1983 – O elefante
1985 – História de dois amores
EDIÇÕES DE POESIA REUNIDA
1942 – Poesias
1948 – Poesia até agora
1954 – Fazendeiro do ar & Poesia até agora
1959 – Poemas
1969 – Reunião
1983 – Nova reunião
1997 – Coleção Verso na Prosa Prosa no Verso
1997 – Coleção Mineiramente Drummond – A
palavra mágica
“Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo...”
As sem-razões do amor
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PROSA
1944 – Confissões de Minas
1945 – O gerente
1951 – Contos de aprendiz
1952 – Passeios na ilha
1957 – Fala, amendoeira
1962 – A bolsa & a vida
1966 – Cadeira de balanço
1970 – Caminhos de João Brandão
1972 – O poder ultrajovem e mais 79 textos em prosa e verso
1974 – De notícias & não-notícias faz-se a crônica
1977 – Os dias lindos
1978 – 70 historinhas
1981 – Contos plausíveis
1984 – Boca de luar
1985 – O observador no escritório
1987 – Moça deitada na grama
1988 – O avesso das coisas
1989 – Autorretrato e outras crônicas
CONJUNTO DE OBRA
1964 – Obra completa
ANTOLOGIAS DIVERSAS
1962 – Quadrante
1963 – Quadrante II
1965 – Vozes da cidade
1965 – Rio de Janeiro em prosa & verso (em colaboração com Manuel Bandeira)
1966 – Andorinha, andorinha, de Manuel Bandeira
1967 – Uma pedra no meio do caminho (Biografia de um poema. Com estudo de Arnaldo Saraiva)
1967 – Minas Gerais
1971 – Elenco de cronistas modernos
1972 – Don Quixote
1977 – Para gostar de ler
1979 – O melhor da poesia brasileira I
1981 – O pipoqueiro da esquina
1982 – A lição do amigo
1984 – Quatro vozes
1984 – Mata Atlântica
Disponível em: http://drummond.memoriaviva.com.br/mais-um-pouco/tudo/
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Junho de 2012
Elias José
Elias por ele mesmo (1936-2008)
Sempre gostei de ler e escrever, sem desejar ser um escritor.
Comecei fazendo jornal de escola. Com as primeiras namoradas (reais
ou idealizadas), nasceram os primeiros poemas de amor. Depois, foi a
fase de escrever crônicas para jornais do interior. Um dia, li que a
revista Vida Doméstica estava patrocinando um concurso de contos
sobre o tema “mar”. Escrevi e reescrevi o meu primeiro conto e ganhei
o prêmio, todo feliz com a “grana” e com a publicação bem-cuidada,
com ilustrações e papel de primeira. Aí não parei mais de escrever
contos, publicando-os nos suplementos literários de Minas, São Paulo e
Rio de Janeiro. Fui ganhando concursos e acumulando mais de
cinquenta histórias, até que pude, em 1970, reuni-las no livro de
estreia: a mal-amada.
Hoje, tenho mais de quarenta livros publicados, para crianças,
jovens e adultos. Muitos deles ganharam prêmios importantes nacionalmente, como: “Jabuti”, “Governador do
Distrito Federal” e “Governo do Paraná”, para contos; dois do APCA (1982 e 1987); o “Odylo Costa, filho” e
“Altamente Recomendado para Crianças”, da FNLIJ, para poesia infantil; e outros. Vários contos foram
traduzidos e publicados no México, Argentina, Polônia, Estados Unidos e Nicarágua.
Como vou muito às escolas para conversar com meus leitores, sempre me perguntam se é mais prazeroso
escrever para crianças, para jovens e adultos. Confesso que me sinto outra pessoa, mais livre, mais feliz e meio
menino quando escrevo poesias para crianças e jovens. A poesia
nos dá a oportunidade de jogar com as palavras de forma mais
criativa e musical. É um prazer buscar uma imagem poética,
explorando o que as palavras têm de essencial e de sugestivo.
Saber que tenho que contar uma história, ou explorar um instante
de emoção, em um mínimo de palavras, é um desafio. É gostoso
buscar palavras dentro de uma palavra, arrumar e desarrumar a
distribuição em versos e estrofes, deslocar ou cortar o que não
está bem. Acho que foi o poeta Décio Pignatari quem disse,
acertadamente, que o poema “é uma aventura planificada”. E essa
aventura não vale só para poeta, o criador do jogo. Se o leitor é
sensível, se aceita a aventura, se resolve cantar junto, vibrar junto,
haverá na leitura uma viagem gostosa ao país da fantasia. Mesmo
que o leitor não se interesse pela planificação (é preferível que nem perceba as dificuldades que apareceram na
construção), ele tem que viver a aventura. Cada poema é uma descoberta, uma novidade e, ao mesmo tempo, um
diálogo com outros poemas que já foram feitos. Gosto de dialogar com os poemas folclóricos, de recriar cantigas
para que elas voltem a ser cantadas. Além do prazer de criar, gosto de apresentar meus poemas em escolas. Leio
em coro ou individualmente com os estudantes, fazemos variações temáticas, buscamos novas entonações,
novos ritmos e sentidos. Muitas vezes, na hora, “pinta” um novo poema, feito por muitas vozes. Não é isso uma
viagem, uma festa, uma aventura no mundo das palavras? Experimente, caro leitor, transformar meus poemas,
musicá-los. Eles não são mais meus; depois de publicados, são de todos. Antes de entrar no jogo, porém, crie
asas, solte as emoções, ligue seus sentidos – poesia é isso!
JOSÉ, ELIAS. Segredinhos de amor. São Paulo: Moderna, 1991.
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História de Elias
Elias José nasceu em Santa Cruz da Prata, distrito do
município de Guaranésia, Minas Gerais, em 25 de agosto de
1936. Além de escritor, Elias José é professor aposentado
de Literatura Brasileira e de Teoria da Literatura na
Faculdade de Filosofia de Guaxupé (FAFIG), tendo atuado
também como vice-diretor, diretor e coordenador do
Departamento de Letras e como professor de Língua
Portuguesa e Literatura Brasileira na Escola Estadual Dr.
Benedito Leite Ribeiro.
Elias José estreou em livro com “A Mal-Amada”, em
1970, com apoio de Murilo Rubião, que reunia contos
publicados em suplementos literários do Rio de Janeiro,
São Paulo, Minas Gerais e Portugal. Antes disso, já tinha
conquistado o segundo lugar no Concurso José Lins do
Rego da Livraria José Olympio Editora, em 1968.
Em 1971, publicou “O Tempo”, “Camila”, “Minicontos”. Em 1974, “Inquieta Viagem no Fundo
do Poço” e “Contos”, ambos na Imprensa Oficial, sendo que este último ganhou o Prêmio Jabuti da
Câmara Brasileira do Livro (CBL) como Melhor Livro de Contos de 1974 e o prêmio Governador do
Distrito Federal como Melhor Livro de Ficção de 1974.
Elias José tem contos e poemas traduzidos e publicados em revistas literárias e antologias de
autores brasileiros no México, Argentina, Estados Unidos, Itália, Polônia, Nicarágua e Canadá. Já foi
várias vezes selecionado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) para
representar o Brasil em feiras de livros internacionais. Jurado de vários concursos literários,
ministrava cursos, oficinas e palestras, tendo participado de vários congressos de educação,
linguística e literatura.
Disponível em: http://www.educared.org
“Ao pé das fogueiras acesas,
Crianças, jovens, adultos,
Até os já passados dos noventa,
Teciam calorosos cantos e contos
Grupais, envolventes e encantados.
Hoje, em tempos de fogueiras apagadas,
Precisamos fuçar na memória
E catar os cacos dos sonhos
Para engrandecer a vida
E não sufocar o mito e a poesia.”
Ao pé das fogueiras acesas
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Histórias de Elias
INFANTIL E JUVENIL
As Curtições de Pitu - 1976
O Fantasma no Porão - 1979
Jogo Duro - 1979
Os que Podem Voar - 1981
Saudoso, O Burrinho Manhoso - 1981
Dança das Descobertas - 1982
Pouco de Tudo, de Bichos, de Gente, de
Flores - 1982
A Dança das Descobertas - 1982
Passageiros em Trânsito - 1983
De Repente Toda História Novamente 1983
Cidade da Pá Virada - 1983
Gente louca, maré solta! - 1983
Caixa Mágica de Surpresas - 1984
O Historiador de Catitó - 1984
O Herói Abatido - 1984
Vaidade no Terreiro - 1984
Com as Asas na Cabeça - 1985
Um Rei e seu Cavalo de Pau – 1986
Um Casório Bem Finório - 1987
Fabulosos Macacos Cientistas - 1987
Namorinho de Portão - 1987
Lua no Brejo - 1987
Machado de Assis - 1988
Os Primeiros Voos do Menino - 1988
Sorvete Sabor Saudade - 1988
Amor, Mágica e Magia - 1988
Só um Cara Viu - 1989
Mamãezinha - 2007
Primeiras Lições de Amor - 1989
Furta-Sonos e Outras Histórias - 1989
O Jogo da Fantasia - 1989
Luta Tamanha, Quem Ganha? - 1990
Os Vários Voos da Vaca Vivi - 1990
Um Curioso Aluado - 1990
Vó Melinha, Rainha e Cigana - 1990
Setecontos Setencantos - 1991
Segredinhos de Amor - 1991
Lua no Brejo - 1991
Sem Pé nem Cabeça - 1992
Bolo pra Festa no Céu - 1992
Cantigas de Adolescer - 1992
A Toada do Tatu - 1992
Sem Pé nem Cabeça - 1992
Quem Lê com Pressa Tropeça - 1992
Uma Escola Assim, Eu Quero para Mim 1993
De Amora e Amor - 1993
Vaidade no Terreiro - 1994
Mundo Criado, Trabalho Dobrado - 1996
Noites de Lua Cheia - 1996
Toda Sorte de Magia - 1996
No Balancê do Abecê - 1996
O que Conta o Faz de Conta - 1996
Bicho de pé é chulé na mulher - 2001
Lições de Telhado - 1996
Félix e seu Fole Fedem - 1996
O Mundo Todo Revirado - 1996
O Jogo das Palavras Mágicas - 1996
Cantos de Encantamento - 1996
Solos de Violões e Sonhos - 1997
O Incrível Bicho-Homem - 1997
O Baú de Sonhos - 1997
Vera Lúcia, Verdade e Luz - 1997
(Re)Fabulando (sete volumes) 1998/2005
A Cidade que Perdeu o seu Mar - 1998
O Macaco e a Morte - 1998
A Gula da Avó e da Onça - 1998
As Virações da Formiga - 1998
O Macaco e sua Viola - 1998
De como o Macaco Venceu a Onça - 1998
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O Macaco e o seu Rabo - 1998
Viagem Criada, Emoção Dobrada - 1999
A Vida em Pequenas Doses - 2000
Ri Bem Melhor Quem Junto Ri - 2000
O Amigão de Todo Mundo - 2001
O Desenhista - 2001
O que Tem nesta Venda - 2001
O Rei do Espetáculo - 2005
A Festa da Princesa, que Beleza! - 2006
Dois Gigantes Diferentes - 2006
Forrobodó no Forró - 2006
Mágica Terra Brasileira - 2006
Cantigas de Amor - 2006
Fantasia do Olhar - 2006 - Minicontos
inspirados nas obras de Aldemir Martins
Está chovendo animais famintos - 1998
Pequeno Dicionário Poético-Humorístico
Ilustrado - 2006
Ao Pé das Fogueiras Acesas - 2008
Ciranda Brasileira - 2006
Cantigas para Entender o Tempo – 2007
FORMAÇÃO
Literatura infantil: Ler, Contar e Encantar
Crianças - 2007
ROMANCE
Inventário do Inútil - 1978
Armadilhas da Solidão - 1994
O Que Você Lê Ali - 2001
Visitas à Casa da Vovó - 2001
Querido professor - 1999
Gente e mais Gente - 2001
Birutices - 2002
Um Jeito Bom de Brincar - 2002
Vidrado em Bicho - 2002
Eu Sou Mais Eu - 2002
As Histórias e os Lugares - 2002
O Contador de Vantagens - 2002
Bicho de Pena Provoca Amor e Pena 2002
Se Tudo Isso Acontecesse - 2002
Saudando Quem Chega - 2002
É Hora de Jogar Conversa Fora - 2002
De Olho nos Bichos - 2003
Poesia Pede Passagem - 2003
História Sorridente de Unhas e Dentes 2003
Que Confusão, Seu Adão! - 2003
Aquarelas do Brasil - 2003
O que se Lê no Abecê - 2003
O Dono da Bola - 2004
Dias de sucesso - 2009
Dias de Susto - 2005
Mínimas Descobertas - 2005
Quem Conta um Conto Aumenta um Ponto
- 2005
CRÔNICA
Olho por Olho, Dente por Dente - 1982
POESIA
A Dança das Descobertas – 1982
Amor Adolescente - 1999 (Atual Editora)
CONTO
A Mal-Amada – 1970
O Tempo, Camila – 1971
Inquieta Viagem ao Fundo do Poço – 1974
Um Pássaro em Pânico – 1977
Passageiros em Trânsito – 1983
O Grito dos Torturados - 1986
Disponível em: http://pt.wikipedia.org
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Jorge Amado
Jorge por ele mesmo (1912-2001) -
Nem a rosa, nem o cravo...
As frases perdem seu sentido, as palavras perdem sua significação
costumeira, como dizer das árvores e das flores, dos teus olhos e do mar,
das canoas e do cais, das borboletas nas árvores, quando as crianças são
assassinadas friamente pelos nazistas? Como falar da gratuita beleza dos
campos e das cidades, quando as bestas soltas no mundo ainda destroem os
campos e as cidades?
Já viste um loiro trigal balançando ao vento? É das coisas mais
belas do mundo, mas os hitleristas e seus cães danados destruíram os
trigais e os povos morrem de fome. Como falar, então, da beleza, dessa
beleza simples e pura da farinha e do pão, da água da fonte, do céu azul, do
teu rosto na tarde? Não posso falar dessas coisas de todos os dias, dessas
alegrias de todos os instantes. Porque elas estão perigando, todas elas, os
trigais e o pão, a farinha e a água, o céu, o mar e teu rosto. Contra tudo que é
a beleza cotidiana do homem, o nazifascismo se levantou, monstro medieval
de torpe visão, de ávido apetite assassino. Outros que falem, se quiserem,
das árvores nas tardes agrestes, das rosas em coloridos variados, das flores simples e dos versos mais belos e mais
tristes. Outros que falem as grandes palavras de amor para a bem-amada, outros que digam dos crepúsculos e das
noites de estrelas. Não tenho palavras, não tenho frases, vejo as árvores, os pássaros e a tarde, vejo teus olhos, vejo o
crepúsculo bordando a cidade. Mas sobre todos esses quadros boiam cadáveres de crianças que os nazis mataram, ao
canto dos pássaros se mesclam os gritos dos velhos torturados nos campos de concentração, nos crepúsculos se fundem
madrugadas de reféns fuzilados. E, quando a paisagem lembra o campo, o que eu vejo são os trigais destruídos ao passo
das bestas hitleristas, os trigais que alimentavam antes as populações livres. Sobre toda a beleza paira a sombra da
escravidão. É como uma nuvem inesperada num céu azul e límpido. Como então encontrar palavras inocentes, doces
palavras cariciosas, versos suaves e tristes? Perdi o sentido destas palavras, destas frases, elas me soam como uma
traição neste momento.
Mas sei todas as palavras de ódio, do ódio mais profundo e mais mortal. Eles matam crianças e essa é a sua
maneira de brincar o mais inocente dos brinquedos. Eles desonram a beleza das mulheres nos leitos imundos e essa é a
sua maneira mais romântica de amar. Eles torturam os homens nos campos de concentração e essa é a sua maneira
mais simples de construir o mundo. Eles invadiram as pátrias, escravizaram os povos, e esse é o ideal que levam no
coração de lama. Como então ficar de olhos fechados para tudo isto e falar, com as palavras de sempre, com as frases de
ontem, sobre a paisagem e os pássaros, a tarde e os teus olhos? É impossível porque os monstros estão sobre o mundo
soltos e vorazes, a boca escorrendo sangue, os olhos amarelos, na ambição de escravizar. Os monstros pardos, os
monstros negros e os monstros verdes.
Mas eu sei todas as palavras de ódio e essas, sim, têm um significado neste momento. Houve um dia em que eu
falei do amor e encontrei para ele os mais doces vocábulos, as frases mais trabalhadas. Hoje só o ódio pode fazer com
que o amor perdure sobre o mundo. Só o ódio ao fascismo, mas um ódio mortal, um ódio sem perdão, um ódio que
venha do coração e que nos tome todo, que se faça dono de todas as nossas palavras, que nos impeça de ver qualquer
espetáculo - desde o crepúsculo aos olhos da amada - sem que junto a ele vejamos o perigo que os cerca.
Jamais as tardes seriam doces e jamais as madrugadas seriam de esperança. Jamais os livros diriam coisas belas, nunca
mais seria escrito um verso de amor. Sobre toda a beleza do mundo, sobre a farinha e o pão, sobre a pura água da fonte
e sobre o mar, sobre teus olhos também, se debruçaria a desonra que é o nazifascismo, se eles tivessem conseguido
dominar o mundo. Não restaria nenhuma parcela de beleza, a mais mínima. Amanhã saberei de novo palavras doces e
frases cariciosas. Hoje só sei palavras de ódio, palavras de morte. Não encontrarás um cravo ou uma rosa, uma flor na
minha literatura. Mas encontrarás um punhal ou um fuzil, encontrarás uma arma contra os inimigos da beleza, contra
aqueles que amam as trevas e a desgraça, a lama e os esgotos, contra esses restos de podridão que sonharam esmagar a
poesia, o amor e a liberdade!
O texto acima foi publicado no jornal "Folha da Manhã", edição de 22/04/1945, e consta do livro "Figuras do
Brasil: 80 autores em 80 anos de Folha", PubliFolha - São Paulo, 2001, pág. 79, organização de Arthur Nestrovski.
Disponível em: http://www.releituras.com/jorgeamado_menu.asp
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História de Jorge
Jorge Amado
nasceu a 10 de agosto
de 1912, na fazenda
Auricídia, no distrito
de
Ferradas,
município de Itabuna,
sul do Estado da
Bahia.
Filho
do
fazendeiro de cacau
João Amado de Faria e
de Eulália Leal Amado.
1950, quando foi expulso. Em 1949, morreu no Rio de
Janeiro sua filha Lila. Entre 1950 e 1952, viveu em
Praga, onde nasceu sua filha Paloma.
De volta ao Brasil, Jorge Amado afastou-se, em
1955, da militância política, sem, no entanto, deixar os
quadros do Partido Comunista. Dedicou-se, a partir de
então, inteiramente à literatura. Foi eleito, em 6 de
abril de 1961, para a cadeira de número 23, da
Academia Brasileira de Letras, que tem por patrono
José de Alencar e por primeiro ocupante Machado de
1 ano
Assis.
A obra literária de Jorge
Com um ano de idade, foi
Amado conheceu inúmeras adaptações
para Ilhéus, onde passou a infância.
para cinema, teatro e televisão, além de
Fez os estudos secundários no
ter sido tema de escolas de samba em
Colégio Antônio Vieira e no Ginásio
várias partes do Brasil. Seus livros
Ipiranga, em Salvador. Neste
foram traduzidos para 49 idiomas,
período, começou a trabalhar em
existindo também exemplares em
jornais e a participar da vida
braile e em formato de audiolivro.
literária, sendo um dos fundadores
Jorge Amado morreu em
da Academia dos Rebeldes.
Salvador, no dia 6 de agosto de 2001.
Publicou seu primeiro
Foi cremado conforme seu desejo, e
romance, O país do carnaval, em
suas cinzas foram enterradas no jardim
1931. Casou-se em 1933, com
de sua residência na Rua Alagoinhas,
Matilde Garcia Rosa, com quem
no dia em que completaria 89 anos.
teve uma filha, Lila. Nesse ano
A obra de Jorge Amado
publicou seu segundo romance,
mereceu diversos prêmios nacionais e
Cacau.
internacionais,
entre
os
quais
Jorge e Zélia, grávida de João Jorge,
Formou-se pela Faculdade
destacam-se: Stalin da Paz (União
Nacional de Direito, no Rio de
em São João de Meriti. 1947
Soviética, 1951), Latinidade (França,
Janeiro, em 1935. Militante
1971), Nonino (Itália, 1982), Dimitrov
comunista, foi obrigado a exilar-se na Argentina e no
(Bulgária, 1989), Pablo Neruda (Rússia, 1989), Etruria
Uruguai entre 1941 e 1942, período em que fez longa
de Literatura (Itália, 1989), Cino Del Duca (França,
viagem pela América Latina. Ao voltar, em 1944,
1990), Mediterrâneo (Itália, 1990), Vitaliano Brancatti
separou-se de Matilde Garcia Rosa.
(Itália, 1995), Luis de Camões (Brasil, Portugal, 1995),
Em 1945, foi eleito membro da Assembleia
Jabuti (Brasil, 1959, 1995) e Ministério da Cultura
Nacional Constituinte, na legenda do Partido Comunista
(Brasil, 1997).
Brasileiro (PCB), tendo sido o deputado federal mais
Recebeu títulos de Comendador e de Grande
votado do Estado de São Paulo.
Oficial, nas ordens da Venezuela, França, Espanha,
Jorge Amado foi o autor da lei,
Portugal, Chile e Argentina; além de ter sido feito
ainda hoje em vigor, que
Doutor Honoris Causa em 10 universidades, no
assegura o direito à liberdade
Brasil, na Itália, na França, em Portugal e em Israel.
de culto religioso. Nesse
O título de Doutor pela Sorbonne, na França, foi o
mesmo ano, casou-se com Zélia
último que recebeu pessoalmente, em 1998, em sua
Gattai.
última viagem a Paris, quando já estava doente.
Em 1947, ano do
Jorge Amado orgulhava-se do título de
nascimento de João Jorge,
Obá, posto civil que exercia no Ilê Axé Opô Afonjá,
primeiro filho do casal, o PCB foi
na Bahia.
declarado ilegal e seus membros
perseguidos e presos. Jorge
Disponível em:
Amado teve que se exilar com a
http://www.jorgeamado.org.br/?page_id=75
família na França, onde ficou até
Cerimônia de posse na
Academia Brasileira de Letras
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Junho de 2012
Histórias de Jorge
ROMANCES:
- O País do Carnaval, 1931
- Cacau, 1933
- Suor, 1934
- Jubiabá, 1935
- Mar Morto, 1936
- Capitães da Areia, 1936
- Terras do Sem Fim, 1943
- São Jorge dos Ilhéus, 1944
- Seara Vermelha, 1946
- Os Subterrâneos da Liberdade (3v), 1954
- Gabriela, Cravo e Canela, 1958
- Os Pastores da Noite, 1964
- Dona Flor e Seus Dois Maridos,1966
- Tenda dos Milagres, 1969
- Teresa Batista Cansada da Guerra, 1972
- Tieta do Agreste, 1977
- Farda Fardão Camisola de Dormir, 1979
- Tocaia Grande: a face obscura, 1984
- O Sumiço da Santa: uma história de feitiçaria, 1988
- A Descoberta da América pelos Turcos, 1994
- O Compadre de Ogum, 1995
NOVELAS
- A Morte e a Morte de Quincas Berro D’água, 1959
- Os Velhos Marinheiros, 1976
LITERATURA INFANTO-JUVENIL:
- O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá: uma história de amor, 1976
- A Bola e o Goleiro, 1984
- O Capeta Carybé, 1986
POESIA:
- A Estrada do Mar, 1938
TEATRO:
- O Amor do Soldado, 1947 (ainda com o título O Amor de Castro Alves), 1958
CONTOS:
- Sentimentalismo, 1931
- O homem da mulher e a mulher do homem, 1931
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Junho de 2012
- História do carnaval, 1945
- As mortes e o triunfo de Rosalinda, 1965
- Do recente milagre dos pássaros, 1979
- O episódio de Siroca, 1982
- De como o mulato Porciúncula descarregou o seu defunto, 1989
RELATOS AUTOBIOGRÁFICOS:
- O menino grapiúna, 1981
- Navegação de cabotagem: apontamentos para um livro de memórias que jamais escreverei, 1992
TEXTOS AUTOBIOGRÁFICOS:
- ABC de Castro Alves, 1941
- O cavaleiro da esperança, 1945
GUIA/VIAGENS:
- Bahia de Todos os Santos: guia de ruas e de mistérios, 1945
- O mundo da paz (viagens), 1951
- Bahia Boa Terra Bahia, 1967
- Bahia, 1970
- Terra Mágica da Bahia, 1984.
DOCUMENTO POLÍTICO/ORATÓRIA:
- Homens e coisas do Partido Comunista, 1946
- Discursos, 1993
LIVRO TRADUZIDO:
- Dona Bárbara (Doña Barbara), romance do venezuelano Rómulo Gallegos, 1934
EM PARCERIA:
- Lenita (novela), com Edison Carneiro e Dias da Costa, 1929
- Descoberta do mundo (literatura infantil), com Matilde Garcia Rosa, 1933
- Brandão entre o mar e o amor, com José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Aníbal Machado e Rachel de Queiroz, 1942
- O mistério de MMM, com Viriato Corrêa, Dinah Silveira de Queiroz, Lúcio Cardoso, Herberto Sales, Rachel de Queiroz,
José Condé, Guimarães Rosa, Antônio Callado e Orígines Lessa, 1962
PUBLICAÇÕES NO EXTERIOR:
Segundo a Fundação Casa de Jorge Amado, existem registros oficiais de traduções
de obras do escritor para os seguintes idiomas: azerbaidjano, albanês, alemão,
árabe, armênio, búlgaro, catalão, chinês, coreano, croata, dinamarquês, eslovaco,
esloveno, espanhol, esperanto, estoniano, finlandês, francês, galego, georgiano,
grego, guarani, hebraico, holandês, húngaro, iídiche, inglês, islandês, italiano,
japonês, letão, lituano, macedônio, moldávio, mongol, norueguês, persa, polonês,
romeno, russo, sérvio, sueco, tailandês, tcheco, turco, turcumênio, ucraniano e
vietnamita (48 no total). Essas traduções foram publicadas no mínimo nos
seguintes países: Albânia, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Armênia, Áustria,
Azerbaidjão, Bulgária, Canadá, Chile, China, Colômbia, Coréia do Norte, Coréia do
Sul, Cuba, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Eslováquia, Estônia, Finlândia,
França, Geórgia, Grécia, Holanda, Hungria, Inglaterra, Irã, Islândia, Israel, Itália,
Iugoslávia, Japão, Letônia, Lituânia, México, Mongólia, Noruega, Paraguai, Polônia,
Portugal, República Tcheca, Romênia, Rússia, Suécia, Tailândia, Turquia, Ucrânia,
Uruguai, Venezuela e Vietnã; o Brasil também deve ser computado em função da
edição nacional em esperanto, totalizando 52 nações.
Dados extraídos de livros do autor, portais da Internet, outros livros e revistas e,
em especial, dos Cadernos de Literatura Brasileira publicados pelo Instituto
Moreira Salles.
Disponível em: http://www.releituras.com/jorgeamado_bio.asp
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Junho de 2012
Lygia Bojunga
Lygia por ela mesma –
Livro: a troca
Pra mim, livro é vida; desde que eu era muito pequena
os livros me deram casa e comida.
Foi assim: eu brincava de construtora, livro era tijolo;
em pé, fazia parede; deitado, fazia degrau de escada;
inclinado, encostava no outro e fazia telhado.
E quando a casinha ficava pronta eu me espremia lá dentro
pra brincar de morar em livro.
De casa em casa, eu fui descobrindo o mundo
(de tanto olhar pras paredes).
Primeiro, olhando desenhos; depois, decifrando palavras.
Fui crescendo; e derrubei telhados com a cabeça.
Mas fui pegando intimidade com as palavras.
E quanto mais íntimos a gente ficava, menos eu ia me lembrando
de consertar o telhado ou de construir novas casas.
Só por causa de uma razão: o livro agora alimentava
minha imaginação.
Todo dia a minha imaginação comia, comia e comia;
e de barriga assim toda cheia, me leva pra morar
no mundo inteiro:
iglu, cabana, palácio, arranha-céu, era só escolher e pronto,
o livro me dava.
Foi assim que, devagarinho, me habituei com essa troca tão
gostosa que – no meu jeito de ver as coisas –
é a troca da própria vida;
quanto mais eu buscava no livro, mais ele me dava.
Mas como a gente tem mania de sempre querer mais,
eu cismei um dia de alargar a troca:
comecei a fabricar tijolo pra – em algum lugar –
uma criança juntar com outros e levantar
a casa onde vai morar.
Mensagem de Lygia Bojunga para o Dia Internacional do Livro Infantil e Juvenil, traduzida e
divulgada nos 64 países membros do IBBY
Disponível em: http://www.casalygiabojunga.com.br/frames/livroatroca.htm
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Junho de 2012
História de Lygia
Escritora
brasileira,
escreveu
inicialmente os seus
livros sob o nome
Lygia Bojunga Nunes.
Nasceu em Pelotas no
dia 26 de agosto de
1932 e cresceu numa
fazenda. Aos oito anos
de idade foi para o Rio
de Janeiro onde em
1951 se tornou atriz
1 ano
numa companhia de
teatro que viajava pelo interior do Brasil. A
predominância do analfabetismo que presenciou
nessas viagens levou-a a fundar uma escola para
crianças pobres do interior, que dirigiu durante
cinco anos. Trabalhou durante muito tempo para
o rádio e a televisão, antes de debutar como
escritora de livros infantis em 1972.
Num continente que se tornou conhecido
por seu realismo mágico e contos fantásticos, a
literatura infantil brasileira caracteriza-se por
uma acentuada transgressão dos limites entre a
fantasia e a realidade. Lygia Bojunga é uma
escritora que perpetuou esta tradição e a tornou
perfeita. Para ela, o quotidiano está repleto de
magia: onde brotam os desejos tão pesados que
literalmente não é possível erguê-los, onde
alfinetes e guarda-chuvas conversam tão
obviamente como os peões e as bolas, onde
animais vivem vidas tão
variadas e vulneráveis
como
as
pessoas.
Imperceptivelmente, o
concreto da realidade
transforma-se
noutra
coisa, não num outro
mundo,
mas
num
mundo
dentro
do
mundo dos sentidos,
onde a linha entre o
Aos 19 anos tomada de
possível é tão difusa
paixão pelo teatro
como
fácil
de
ultrapassar. A tristeza vive com Bojunga
juntamente com o conforto, a calma alegria com a
estonteante aventura e no centro da fantasia da
escrita está a criança, muitas vezes sozinha e
abandonada, sempre sensível, sempre cheia de
fantasias. A morte não é tabu, a desilusão também
não, mas além da próxima esquina, espera a cura.
Numa prosa lírica e marcante, pinta as suas
imagens e não importa se a solidão é muito
amarga, há sempre um sorriso que expressa uma
compaixão com os mais pequenos, que nunca se
torna sentimental.
"...
naquele
tempo
escrever/criar
personagens era, pra mim, uma forma de
sobreviver e de poder construir a casa que
eu queria pra morar (a Boa Liga); só depois,
quando eu abracei a literatura, é que eu me
dei conta que escrever/criar personagens
era muito mais que um jeito de sobreviver:
era – e agora sim! – o jeito de viver que eu,
realmente, queria pra mim."
Após abandonar sua carreira de atriz
Os textos de Bojunga baseiam-se
fortemente na perspectiva da criança. Ela observa
o mundo através dos olhos brincalhões da criança.
Aqui é tudo possível: os seus personagens podem
fantasiar um cavalo no qual cavalgam a galope ou
desenhar uma porta numa parede, que
atravessam no momento seguinte. As fantasias
servem geralmente para ultrapassar experiências
pessoais difíceis: quando a personagem principal
em Corda Bamba, 1979 usa uma corda para entrar
em uma casa estranha com muitas portas
fechadas, do outro lado da rua, é na prática uma
forma de curar a tristeza depois de ter perdido os
seus pais numa morte inesperada. Em A Casa da
Madrinha, 1987 percebemos depressa que as
experiências fantásticas de Alexandre durante a
sua busca pela casa longínqua de sua madrinha
são na realidade a concretização das fantasias de
felicidade e amparo de um menino da rua
abandonado. É uma história que se aproxima do
conto de Astrid Lindgren Sunnanäng. A fantasia
psicológica de Bojunga emerge novamente nos
contos com animais: quando o tatuzinho Vítor em
O Sofá Estampado, 1980 se sente nervoso, começa
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Equipe de Leitura – SME/ D.C.
Junho de 2012
a tossir e arranhar o sofá – até entrar um
pela morte de um pintor com a ajuda das cores.
momento mais tarde nos seus tempos de infância.
Um relógio é amarelo ao tocar as horas, para
O realismo mágico e perspicácia
voltar a ser branco quando para. Amarelo é a cor
psicológica reúnem-se a uma paixão pelo social e
preferida de Bojunga, ligada à alegria da vida,
pela democracia. Bojunga, que
tornou-se o tema predileto
começou a escrever quando
desde o seu primeiro livro Os
ainda dominava a ditadura no
Colegas, 1972.
Brasil,
dirigia
atividades
Por vezes, Bojunga
subversivas. Isto torna-se mais
prefere ficar na realidade e
fácil em literatura infantil porque
mostrar então o seu olhar
– nas palavras de Bojunga – os
psicológico penetrante: Seis
generais
não
leem
livros
Vezes Lucas, 1995, descreve,
destinados às crianças. Nestes
como na obra anterior, Tchau,
livros, encontram-se galos de
1984, a infidelidade, conflitos
briga com o cérebro costurado
matrimoniais e divórcio do
Recebeu da Princesa Victoria,
da Suécia, o prêmio ALMA, 2004
com arame e pavões com filtros de
ponto de vista impotente – mas
pensamento que se removem com um sacaesperançoso – da criança.
rolhas. Os ventos da liberdade são fortes nos
Bojunga entra sem medo no domínio dos adultos,
livros de Bojunga, onde a crítica contra a falta de
na sua escolha de justificativas encostando-se com
igualdade entre os sexos é um tema recorrente.
todo o direito à sua enorme capacidade de
Mas Bojunga nunca dá sermões, o sério é sempre
concretizar e personificar as sombras interiores
equilibrado pela brincadeira e o humor absurdo.
em histórias fáceis de entender.
Os sonhos inflados de Raquel em A Bolsa Amarela,
Como Hans Christian Andersen, com quem
1976, são literalmente perfurados por um alfinete,
se aparenta claramente, Bojunga equilibra-se com
e transformados em pipas de
perícia na linha entre o humor e o
papel que voam para bem
sério. No seu mais recente livro,
distante à mercê dos ventos.
Retratos de Carolina, 2002,
Bojunga (que costuma
domina o sério. Esta escritora
apresentar-se em público com
fascinada pelo experimento tenta
monólogos dramáticos) tem o
aqui novos caminhos. Em uma
dom da narrativa oral que
narrativa que se aproxima da
prende o leitor logo na
forma do meta-romance, permite
primeira
que o leitor siga o personagem
página. Também escreveu
principal desde a infância até à
peças teatrais e gosta de usar
vida adulta. Deste modo, Bojunga
descrições cênicas. Num dos
rompe as fronteiras da
Quando a Casa Lygia Bojuga iniciou a
seus livros, Angélica, 1975, incluiu
literatura infanto-juvenil e
produção de Retratos de Carolina, a
uma peça de teatro completa. Não é
preenche assim as ambições
câmera de Peter registrou Lygia junto ao
sempre a história em si que é o mais
que enuncia no texto final e
mar – exatamente no local onde, no livro,
importante nos seus livros, por
no prefácio do livro: dar lugar
Lygia
se
despede
de
Carolina.
vezes une-se um acontecimento ao
a si própria e às personagens
outro em longas cadeias (como nas
que criou dentro duma só
narrativas orais), onde o personagem principal
casa, “uma casa que eu inventei”.
poderá por vezes desaparecer do centro de
As obras de Bojunga estão traduzidas para
atenção. A tônica está na própria narrativa, com os
várias línguas, entre as quais francês, alemão,
seus tons humorísticos e poéticos, e na sensação
espanhol, norueguês, sueco, hebraico, italiano,
estranha de liberdade que brota quando tudo é
búlgaro, checo e islandês. Recebeu vários prêmios,
possível. A forma refinada como Bojunga deixa
entre eles, o Prêmio Jabuti (1973), o prestigiado
cores
expressarem
emoções
contribui
Prêmio Hans Christian Andersen (1982) e o
fortemente para a extraordinária beleza dos seus
Prêmio da Literatura Rattenfänger (1986).
livros. Esta expressão é talvez mais marcante em
O Meu Amigo Pintor, 1978 (também transformado
Disponível:
em peça teatral), que descreve como um
http://www.alma.se/upload/alma/pristagare/20
personagem, um menino, tenta curar a sua tristeza
04/biobibliography_portugese.pdf
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Junho de 2012
Histórias de Lygia
“A literatura funciona para nós como um
espelho. Quanto mais nos olhamos nele, mais
vamos captando revelações sobre nós mesmos
e, consequentemente, sobre nossa postura face
ao mundo.”
http://educarparacrescer.abril.com.br
Os colegas , 1972
Angélica, 1975
A bolsa amarela, 1976
A casa da madrinha, 1978
Corda bamba, 1979
O sofá estampado, 1980
Tchau, 1984
O meu amigo pintor, 1987
Nós três, 1987
Livro, um encontro, 1988
Fazendo Ana Paz, 1991
Paisagem, 1992
6 vezes Lucas, 1995
O abraço, 1995
Feito à mão, 1996
A cama, 1999
O Rio e eu, 1999
Retratos de Carolina, 2002
Aula de inglês, 2006
Sapato de salto, 2006
Dos vinte 1, 2007
Querida, 2009
http://www.casalygiabojunga.com.br
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Junho de 2012
Manuel Bandeira
Manuel por ele mesmo (1886–1968) -
Autorretrato
Provinciano que nunca soube
Escolher bem uma gravata;
Pernambucano a quem repugna
A faca do pernambucano;
Poeta ruim que na arte da prosa
Envelheceu na infância da arte,
E até mesmo escrevendo crônicas
Ficou cronista de província;
Arquiteto falhado, músico
Falhado (engoliu um dia
Um piano, mas o teclado
Ficou de fora); sem família,
Religião ou filosofia;
Mal tendo a inquietação de espírito
Que vem do sobrenatural,
E em matéria de profissão
Um tísico profissional.
Disponível em:
http://www.revista.agulha.nom.br
40
Equipe de Leitura – SME/ D.C.
Junho de 2012
História de Manuel
uma das maiores obras poéticas da moderna
literatura brasileira.
De volta ao Brasil, Manuel Bandeira
iniciou a sua produção literária em periódicos.
Em 1917, publicou A cinza das horas, onde
reuniu poemas compostos durante a doença.
Em 1919 publicou o segundo livro de poemas,
Carnaval. Enquanto o anterior evidenciava as
raízes tradicionais de sua cultura e,
formalmente, sugeria uma busca da
Terceiro ocupante da Cadeira 24, eleito
simplicidade,
esse
segundo
livro
em 29 de agosto de 1940, na sucessão de Luís
caracterizava-se
por
uma
deliberada
Guimarães e recebido pelo
liberdade
de
composição
Acadêmico Ribeiro Couto em 30
rítmica. Ao lado de "sonetos
de novembro de 1940. Recebeu
que não passam de pastiches
os Acadêmicos Peregrino Júnior
parnasianos",
segundo
o
e Afonso Arinos de Melo Franco.
próprio Bandeira, nele figura o
Manuel Bandeira (M.
famoso poema "Os sapos",
Carneiro de Sousa B. Filho),
sátira ao Parnasianismo, que
professor,
poeta,
cronista,
veio a ser declamado, três anos
crítico e historiador literário,
depois, durante a Semana de
nasceu em Recife, PE, em 19 de
Arte Moderna, por Ronald de
abril de 1886, e faleceu no Rio
Carvalho. Antecipador de um
de Janeiro, RJ, em 13 de outubro
novo espírito na poesia
de 1968.
brasileira,
Bandeira
foi
Bandeira por Candido Portinari
Filho do engenheiro civil
cognominado, por Mário de
Manuel Carneiro de Sousa Bandeira
Andrade, de "São João
e de Francelina Ribeiro de Sousa Bandeira.
Transferiu-se aos 10 anos para o Rio de
Janeiro, onde cursou o secundário no
Externato do Ginásio Nacional, hoje Colégio
Pedro II, de 1897 a 1902, bacharelando-se em
letras. Em 1903 matriculou-se na Escola
Politécnica de São Paulo para fazer o curso de
engenheiro-arquiteto. No ano seguinte
abandonou os estudos por motivo de doença e
fez estações de cura em Campanha, MG,
Teresópolis e Petrópolis, RJ, e por fim
Clavadel, Suíça, onde se demorou de junho de
1913 a outubro de 1914. Ali teve como
companheiro de sanatório o poeta Paul
Eluard. Sua vida poderia ter sido breve, face à
doença. Viveu até os 82 anos, construindo
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Equipe de Leitura – SME/ D.C.
Junho de 2012
Batista do Modernismo".
seção "Mês modernista" do jornal A Noite, na
Por intermédio do amigo Ribeiro
revista A Ideia Ilustrada e na revista musical
Couto, Manuel Bandeira conheceu os
para o Diário Nacional, de São Paulo; em
escritores paulistas que, em 1922, lançaram o
1930-31, escreveu crítica de cinema para o
movimento modernista. Não participou
Diário da Noite, do Rio de Janeiro, e para A
diretamente da Semana,
Província, do Recife; em
mas colaborou na revista
Andorinha lá fora está dizendo:
1941, fez crítica de artes
"Passei
o
dia
à
toa,
à
toa!"
Klaxon e também na
plásticas em A Manhã, do
Revista
Antropofagia,
Rio de Janeiro; em 1954,
Andorinha,
andorinha,
minha
Lanterna Verde, Terra Roxa
publicou De poetas e de
cantiga é mais triste!
e A Revista.
poesia (reunião de textos
Passei
a
vida
à
toa,
à
toa...
Em 1927, viajou ao
de crítica); em 1955,
Norte do Brasil, até Belém,
começou
a
escrever
Andorinha
parando em Salvador,
crônicas para o Jornal do
Recife, Paraíba, Natal,
Brasil; de 1961 a 1963,
Fortaleza e São Luís do
escreveu crônicas semanais para o programa
Maranhão. De 1928 a
"Quadrante", da Rádio Ministério da
1929 permaneceu no
Educação; de 1963 a 1964, para os programas
Recife como fiscal de
"Vozes da Cidade" e "Grandes poetas do
bancas examinadoras de preparatórios. Em
Brasil", da Rádio Roquette-Pinto.
1935, foi nomeado inspetor de ensino
Como crítico de arte, Manuel Bandeira
secundário; em 1938, professor de Literatura
revelou particular afeição pelas velhas igrejas
coloniais da Bahia e barrocas de Minas Gerais,
Poetas: Drummond, Vinicius, Bandeira,
pela arte arquitetônica dos conventos e dos
Quintana, Paulo Mendes Campos
velhos casarões portugueses da Bahia e do Rio
de Janeiro, e pelas formas singelas das mais
humildes igrejas do interior.
Como crítico de literatura e historiador
literário, revelou-se sempre um humanista.
Consagrou-se pelo estudo sobre as Cartas
chilenas, de Tomás Antônio Gonzaga, pelo
esboço biográfico Gonçalves Dias, além de ter
organizado várias antologias de poetas
brasileiros e publicado o estudo Apresentação
da poesia brasileira (1946). Em 1954,
Universal no Externato do Colégio Pedro II;
publicou o livro de memórias “Itinerário de
em 1942, professor de Literaturas HispanoPasárgada”, onde, além de suas memórias,
Americanas na Faculdade Nacional de
expõe todo o seu conhecimento sobre formas
Filosofia, sendo aposentado por lei especial do
e técnicas de poesia, o processo da sua
Congresso em 1956. Desde 1938, era membro
aprendizagem literária e as sutilezas da
do Conselho Consultivo do Departamento do
criação poética. Sua obra foi reunida nos
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
volumes Poesia e Prosa, Aguilar (1958),
Recebeu o prêmio da Sociedade Felipe
contendo numerosos estudos críticos e
d’Oliveira por conjunto de obra (1937) e o
biográficos.
prêmio de poesia do Instituto Brasileiro de
Disponível em:
Educação e Cultura, também por conjunto de
http://www.academia.org.br
obra (1946).
Durante toda a vida, fez crítica de artes
plásticas, crítica literária e musical para vários
jornais e revistas. Em 1925, colaborou na
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Junho de 2012
Histórias de Manuel
POESIA:
Poesias, reunindo A cinza das horas, Carnaval, O ritmo dissoluto (1924); Libertinagem (1930);
Estrela da manhã (1936); Poesias escolhidas (1937); Poesias completas, reunindo as obras anteriores e mais
Lira dos cinquet'anos (1940); Poesias completas, 4a edição, acrescida de Belo belo (1948); Poesias
completas, 6a edição, acrescida de Opus 10 (1954); Poemas traduzidos (1945); Mafuá do malungo, versos de
circunstância (1948); Obras poéticas (1956); 50 Poemas escolhidos pelo autor (1955); Alumbramentos
(1960); Estrela da tarde (1960).
PROSA:
Crônicas da província do Brasil (1936); Guia de Ouro Preto
(1938); Noções de história das literaturas (1940); Autoria das Cartas
chilenas, separata da Revista do Brasil (1940); Apresentação da poesia
brasileira (1946); Literatura hispano-americana (1949); Gonçalves
Dias, biografia (1952); Itinerário de Pasárgada (1954); De poetas e de
poesia (1954); A flauta de papel (1957); Prosa, reunindo obras
anteriores e mais Ensaios literários, Crítica de Artes e Epistolário
(1958); Andorinha, andorinha, crônicas (1966); Os reis vagabundos e
mais 50 crônicas (1966); Colóquio unilateralmente sentimental, crônica
(1968).
ANTOLOGIAS:
Antologia dos poetas brasileiros da fase romântica (1937); Antologia dos poetas brasileiros da fase
parnasiana (1938); Antologia dos poetas brasileiros bissextos contemporâneos (1946). Organizou os
Sonetos completos e Poemas escolhidos de Antero de Quental; as Obras poéticas de Gonçalves Dias (1944);
as Rimas de José Albano (1948) e, de Mário de Andrade, Cartas a Manuel Bandeira (1958).
Disponível em: http://www.academia.org.br
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Junho de 2012
Manoel de Barros
Manoel por ele mesmo
Manoel por Manoel
Eu tenho um ermo enorme dentro do olho. Por um motivo
do ermo não fui um menino peralta. Agora tenho saudade do que
não fui. Acho que o que faço agora é o que não pude fazer na
infância. Faço outro tipo de peraltagem. Quando era criança eu
deveria pular muro do vizinho para catar goiaba. Mas não havia
vizinho. Em vez de peraltagem eu fazia solidão. Brincava de fingir
que pedra era lagarto. Que lata era navio. Que sabugo era um
serzinho mal resolvido e igual a um filhote de gafanhoto.
Cresci brincando no chão, entre formigas. De uma infância
livre e sem comparamentos. Eu tinha mais comunhão com as
coisas do que comparação.
Porque se a gente fala a partir de criança, a gente faz
comunhão: de um orvalho e sua aranha, de uma tarde e suas
garças, de um pássaro e sua árvore. Então eu trago das minhas
raízes crianceiras a visão comungante e oblíqua das coisas. Eu sei dizer sem pudor que o escuro me ilumina.
É um paradoxo que ajuda a poesia e que eu falo sem pudor. Eu tenho que essa visão oblíqua vem de eu ter
sido criança em algum lugar perdido onde havia transfusão da natureza e comunhão com ela. Era o menino e
os bichinhos. Era o menino e o sol. O menino e o rio. Era o menino e as árvores.
Fraseador
Hoje eu completei oitenta e cinco anos. O poeta nasceu
de treze. Naquela ocasião escrevi uma carta aos meus pais, que
moravam na fazenda, contando que eu decidira o que queria
ser no futuro. Que eu não queria ser doutor. Nem doutor que
cura nem doutor de fazer casa nem doutor de medir terras.
Que eu queria era ser fraseador. Meu pai ficou meio vago
depois de ler a carta. Minha mãe inclinou a cabeça. Eu queria
ser fraseador e não doutor. Então, o meu irmão mais velho
perguntou: Mas esse tal de fraseador bota mantimento em
casa? Eu não queria ser doutor, eu só queria ser fraseador. Meu
irmão insistiu: Mas se fraseador não bota mantimento em casa,
nós temos que botar uma enxada na mão desse menino pra ele
deixar de variar. A mãe baixou a cabeça um pouco mais. O pai
continuou meio vago. Mas não botou enxada.
BARROS, MANOEL. Memórias inventadas. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2006.
44
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Junho de 2012
História de Manoel
O poeta Manoel de Barros, patrono da
Fundação Manoel de Barros (FMB)
várias obras pelas quais recebeu prêmios como o
“Prêmio Orlando Dantas” em 1960, conferido pela
Academia Brasileira de Letras ao livro
“Compêndio para Uso dos Pássaros”. Em 1969
recebeu o Prêmio da Fundação Cultural do
Distrito Federal pela obra “Gramática Expositiva
do Chão” e, em 1997 o livro “Sobre Nada” recebeu
um prêmio de âmbito nacional.
(Praça Pantaneira)
Campo Grande /Mato Grosso do Sul
Perfil
Manoel de Barros nasceu no Beco da Marinha,
beira do Rio Cuiabá em 1916. Mudou-se para
Corumbá, onde se fixou de tal forma que chegou a
ser considerado corumbaense. Atualmente mora
em Campo Grande. É advogado, fazendeiro e
poeta. Escreveu seu primeiro poema aos 19 anos,
mas sua revelação poética ocorreu aos 13 anos de
idade quando ainda estudava no Colégio São José
dos Irmãos Maristas, Rio de Janeiro. Autor de
“O tema do poeta é sempre ele
mesmo. Ele é um narcisista: expõe o
mundo através dele mesmo. Ele quer
ser o mundo, e pelas inquietações
dele, desejos, esperanças, o mundo
aparece. Através de sua essência, a
essência
do
mundo
consegue
aparecer. O tema da minha poesia
sou eu mesmo e eu sou pantaneiro.”
Cronologicamente pertence à geração de
45.
Poeta moderno no que se refere ao trato
com a linguagem.
Avesso à repetição de formas e ao uso de
expressões surradas, ao lugar comum e ao chavão.
Mutilador da realidade e pesquisador de
expressões e significados verbais.
Temática regionalista indo além do valor
documental para fixar-se no mundo mágico das
coisas banais retiradas do cotidiano.
Inventa a natureza através de sua
linguagem, transfigurando o mundo que o cerca.
Alma e coração abertos a dor universal.
Tematiza o Pantanal, universalizando-o.
A natureza é sua maior inspiração, o
Pantanal é o de sua poesia.
Disponível em: http://www.fmb.org.br
WWW.poemasdeadrianoespindola.blogspot.com.br
45
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Junho de 2012
Histórias de Manuel
“Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.”
• Poemas concebidos sem pecado – 1937.
• Face imóvel – 1942.
• Poesias – 1956.
• Compêndio para uso dos pássaros – 1960.
• Gramática expositiva do chão – 1966.
• Matéria de poesia – 1970.
• Arranjos para assobio – 1980.
• Livro de pré-coisas – 1985.
• O guardador de águas – 1989.
• Gramática expositiva do chão - poesia quase toda – 1990.
• Concerto a céu aberto para solo de aves – 1993.
• Livro de ignorãças – 1993.
• Livro sobre nada -1996.
• Ensaios fotográficos – 2000.
• Exercícios de ser criança – 2000.
• O fazedor de amanhecer – 2001.
• Tratado geral das grandezas do ínfimo – 2001.
• Para encontrar o azul eu uso pássaros – 2003.
• Memórias Inventadas - Infância – 2003.
• Cantigas por um passarinho à toa – 2003.
• Encantador de palavras- Edição de portuguesa – 2000.
• Les paroles sans limite - Edição francesa – 2003.
• Todo lo que no invento es falso - Antologia na Espanha – 2003.
• Águas – 2001.
• Das Buch der Unwissenheiten - Edição da revista alemã Alkzent – 1996.
• Poemas rupestres – 2004.
• Memórias inventadas I – 2005.
• Memórias inventadas II – 2006.
LIVROS PREMIADOS
1.“Compêndio para uso dos pássaros”. Prêmio Orlando Dantas - Diário de notícias, 08 de setembro de 1960 - Rio de Janeiro
2.“Gramática expositiva do chão”. Prêmio Nacional de poesias – 1966. Governo Costa e Silva - Brasília
3.“O guardador de águas”. Prêmio Jabuti de poesias - 1989 - São Paulo
4.“Livro sobre nada”. Prêmio Nestlé de Poesia - 1996
5.“Livro das Ignorãnças”. Prêmio Alfonso Guimarães da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro - 1996
6.Conjunto de obras. Prêmio Nacional de Literatura do Ministério da Cultura, 05 de novembro de 1998
7.Secretaria de Cultura de Mato Grosso do Sul como melhor escritor do ano 1990. “Prêmio Jacaré de Prata”
8.Livro “Exercício de ser criança”. Prêmio Odilo Costa Filho - Fundação do Livro Infanto Juvenil - 2000
9.Livro “Exercício de ser criança” – 2000. Prêmio Academia Brasileira de Letras
10.Pen Clube do Brasil- data não anotada
11.“O fazedor de amanhecer (Salamandra) - livro de ficção do ano. Prêmio Jabuti- 2002
12.“Poemas Rupestres” - Prêmio APCA 2004 de melhor poesia- 29 de março de 2005
13.“Poemas Rupestres” - Prêmio Nestlé - 2006
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Junho de 2012
Monteiro Lobato
Lobato por ele mesmo (1882-1948)
Nasceu em Taubaté, aos 18 de abril de... 1884 (na verdade
1882). Mamou até 87. Falou tarde, e ouviu pela primeira vez, aos 5
anos, um célebre ditado: "Cavalo pangaré/Mulher que ... em pé/Gente
de Taubaté/ Dominus libera mé".
Concordou.
Depois, teve caxumba aos 9 anos. Sarampo aos 10. Tosse
comprida aos 11. Primeiras espinhas aos 15.
Gostava de livros. Leu o Carlos Magno e os doze pares de
França, o Robinson Crusoé, e todo o Júlio Verne.
Metido em colégio, foi um aluno nem bom nem mau apagado. Tomou bomba em exame de português, dada pelo Freire.
Insistiu. Formou-se em Direito, com um simplesmente no 4º ano merecidíssimo. Foi promotor em Areias, mas não promover coisa
nenhuma. Não tinha jeito para a chicana e abandonou o anel de rubi
(que nunca usou no dedo, aliás).
Fez-se fazendeiro. Gramou café a 4,200 a arroba e feijão a
4.000 o alqueire.
Convenceu-se a tempo que isso de ser produtor é sinônimo de
ser imbecil e mudou de classe. Passou ao paraíso dos intermediários.
Fez-se negociante, matriculadíssimo. Começou editando a si próprio e acabou editando aos outros.
Escreveu umas tantas lorotas que se vendem - Urupês, gênero de grande saída, Cidades mortas,
Ideias de Jeca Tatu, subprodutos, Problema vital, Negrinha, Narizinho. Pretende publicar ainda um romance
sensacional que começa por um tiro:
- Pum! E o infame cai redondamente morto...
Nesse romance introduzirá uma novidade de grande alcance, qual seja, a de suprimir todos os
pedaços que o leitor pula.
Particularidades: não faz nem entende de versos, nem tentou o raid a Buenos Aires.
Físico: lindo!
Monteiro Lobato Autobiografia
A Novela Semanal, São Paulo, nº 1, 2 de maio 1921.
Disponível em: http://www.projetomemoria.art.br
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Junho de 2012
História de Lobato
José Bento Monteiro Lobato estreou
no mundo das letras com pequenos contos
para os jornais estudantis dos colégios
Kennedy e Paulista, que frequentou em
Taubaté, cidade do Vale do Paraíba onde
nasceu, em 18 de abril de 1882.
No curso de Direito da Faculdade do
Largo São Francisco, em São Paulo, dividiu-se
entre suas principais paixões: escrever e
desenhar. Colaborou em publicações dos
alunos, vencendo um concurso literário promovido em
1904 pelo Centro Acadêmico XI de Agosto. Morou na
república estudantil do Minarete, liderou o grupo de
colegas que formou o Cenáculo e mandou artigos para um
jornalzinho de Pindamonhangaba, que tinha como título o
mesmo nome daquela moradia de estudantes. Nessa fase
de sua formação, Lobato realizou as leituras básicas e
entrou em contato com a obra do filósofo
alemão Nietzsche, cujo pensamento o guiaria
vida afora.
Diploma nas mãos, Lobato voltou a
Taubaté. E de lá prosseguiu enviando artigos
para um jornal de Caçapava, O Combatente.
Nomeado promotor público, mudou-se para
Areias, casou-se com Purezinha e começou a
traduzir artigos do Weekly Times para O Estado
de S. Paulo. Fez ilustrações e caricaturas para a
revista carioca Fon-Fon! e colaborou no jornal
Gazeta de Notícias, também do Rio de Janeiro,
assim como na Tribuna de Santos.
A morte súbita do avô determinou uma
reviravolta na vida de Monteiro Lobato, que herdou a
Fazenda do Buquira, para a qual se transferiu com a
família. Localizada na Serra da Mantiqueira, já estava com
as terras esgotadas pela lavoura do café. Assim mesmo, ele
tentou transformá-la num negócio rendoso, investindo em
projetos agrícolas audaciosos.
Mas não se afastou da literatura. Observando com
interesse o mundo da roça, logo escreveu artigo, para O
Estado de S. Paulo, denunciando as queimadas no Vale do
Paraíba. Intitulado “Uma velha praga”, teve grande
repercussão quando saiu, em novembro de 1914.
Um mês depois, redigiu Urupês, no mesmo jornal,
criando o Jeca Tatu, seu personagem-símbolo.
Preguiçoso e adepto da "lei do menor esforço",
Jeca era completamente diferente dos caipiras e
indígenas idealizados pelos romancistas como,
por exemplo, José de Alencar. Esses dois artigos
seriam reproduzidos em diversos jornais,
gerando polêmica de norte a sul do país. Não
demorou muito e Lobato, cansado da monotonia
do campo, acabou vendendo a fazenda e
instalando-se na capital paulista.
Com o dinheiro da venda da fazenda, Lobato
virou definitivamente um escritor-jornalista. Colaborou,
nesse período, em publicações como Vida Moderna, O
Queixoso, Parafuso, A Cigarra, O Pirralho e continuou em
O Estado de S. Paulo. Mas foi a linha nacionalista
da Revista do Brasil, lançada em janeiro de
1916, que o empolgou. Não teve dúvida:
comprou-a em junho de 1918 com o que
recebera pela Buquira. E deu vez e voz para
novos talentos, que apareciam em suas páginas
ao lado de gente famosa.
A revista prosperou e ele formou uma
empresa editorial que continuou aberta aos
novatos. Lançou, inclusive, obras de artistas
modernistas, como O homem e a morte, de Menotti del
Picchia, e Os Condenados, de Oswald de Andrade. Os dois
com capa de Anita Malfatti, que seria pivô de uma séria
polêmica entre Lobato e o grupo da Semana de 22: Lobato
criticou a exposição da pintora no artigo “Paranoia ou
mistificação?”, de 1917. “Livro é sobremesa: tem que ser
posto debaixo do nariz do freguês", dizia Lobato, que, para
provocar a gulodice do leitor, tratava o livro como
um produto de consumo como outro qualquer,
cuidando de sua qualidade gráfica e adotando
capas coloridas e atraentes. O empreendimento
cresceu e foi seguidamente reestruturado para
acompanhar
a
velocidade
dos
negócios,
impulsionada ainda mais por uma agressiva
política de distribuição que contava com
vendedores autônomos e com vasta rede de
distribuidores espalhados pelo país. Novidade e
tanto para a época, e que resultou em altas
tiragens. Lobato acabaria entregando a direção da
Revista do Brasil a Paulo Prado e Sérgio Milliet, para
dedicar-se à editora em tempo integral. E, para poder
atender às crescentes demandas, importou mais máquinas
dos Estados Unidos e da Europa, que iriam incrementar
seu parque gráfico. Mergulhado em livros e mais livros,
Lobato não conseguia parar.
Escreveu, nesse período, sua primeira história
infantil, A menina do narizinho arrebitado. Com capa e
desenhos de Voltolino, famoso ilustrador da época, o
livrinho, lançado no Natal de 1920, fez o maior sucesso.
Dali nasceram outros episódios, tendo sempre como
personagens Dona Benta, Pedrinho, Narizinho, Tia
Nastácia e, é claro, Emília, a boneca mais esperta do
planeta. Insatisfeito com as traduções de livros
europeus para crianças, ele criou aventuras com
figuras bem brasileiras, recuperando costumes da
roça e lendas do folclore nacional. E fez mais:
misturou todos eles com elementos da literatura
universal, da mitologia grega, dos quadrinhos e do
cinema. No Sítio do Picapau Amarelo, Peter Pan
brinca com o Gato Félix, enquanto o saci ensina
truques a Chapeuzinho Vermelho no país das
maravilhas de Alice. Mas Monteiro Lobato também
fez questão de transmitir conhecimento e ideias em
livros que falam de história, geografia e matemática,
tornando-se pioneiro na literatura paradidática - aquela
em que se aprende brincando.
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Junho de 2012
Trabalhando a todo vapor, Lobato teve que
Brasil. Empenhou seu prestígio e participou de campanhas
enfrentar uma série de obstáculos. Primeiro, foi a
para colocar o país nos trilhos da modernidade. Por causa
Revolução dos Tenentes que, em julho de 1924, paralisou
da Revolução de 30, que exonerou funcionários do
as atividades da sua empresa durante dois meses,
governo Washington Luís, ele estava de volta a São Paulo
causando grande prejuízo. Seguiu-se uma
com grandes projetos na cabeça. O que
inesperada seca, que decorreu em um corte no
faltava para o Brasil dar o salto para o
Aquarela dedicada a Purezinha
fornecimento
de
energia.
O
futuro? Ferro, petróleo e estradas
Monteiro Lobato
maquinário
gráfico
só
podia
para escoar os produtos. Esse era,
funcionar dois dias por semana. E
para ele, o tripé do progresso.
numa brusca mudança na política
Mas as ideias e os
econômica,
Arthur
Bernardes
empreendimentos
de
Lobato
desvalorizou a moeda e suspendeu o
acabaram por ferir altos interesses,
redesconto de títulos pelo Banco do
especialmente
de
empresas
Brasil. A consequência foi um enorme
estrangeiras. Como ele não tinha
rombo financeiro e muitas dívidas. Só
medo de enfrentar adversários
restou uma alternativa a Lobato:
poderosos, acabaria na cadeia. Sua
pedir a autofalência, apresentada em
prisão foi decretada em março de
julho de 1925. O que não significou o
1941, pelo Tribunal de Segurança
fim de seu ambicioso projeto
Nacional (TSN). Mas nem assim
editorial, pois ele já se preparava
Lobato se emendou. Prosseguiu a
para criar outra empresa. Assim surgiu a Companhia
cruzada pelo petróleo e ainda denunciou as torturas e
Editora Nacional. Sua produção incluía livros de todos os
maus-tratos praticados pela polícia do Estado Novo. Do
gêneros, entre eles traduções de Hans Staden e Jean de
lado de fora, uma campanha de intelectuais e amigos
Léry, viajantes europeus que andaram pelo Brasil no
conseguiu que Getúlio Vargas o libertasse, por indulto,
século XVI. Lobato recobrou o antigo prestígio,
após três meses em cárcere. A perseguição, no entanto
reimprimindo nela sua marca inconfundível: fazer livros
continuou. Se não podiam deixá-lo na cadeia, cerceariam
bem impressos, com projetos gráficos apurados e enorme
suas ideias. Em junho de 1941, um ofício do TSN pediu ao
sucesso de público.
chefe de polícia de São Paulo a imediata apreensão e
Decretada a falência da Companhia Gráficodestruição de todos os exemplares de Peter Pan, adaptado
Editora Monteiro Lobato, o escritor mudou-se com a
por Lobato, à venda no Estado. Centenas de volumes
família para o Rio de Janeiro, onde permaneceu por dois
foram recolhidos em diversas livrarias, e muitos deles
anos, até 1927. Já um fã declarado de Henry Ford,
chegaram a ser queimados.
publicou sobre ele uma série de matérias
Lobato estava em liberdade, mas
entusiasmadas em O Jornal. Depois passou
enfrentava uma das fases mais difíceis de
para A Manhã, de Mario Rodrigues. Além de
sua vida. Perdeu Edgar, o filho mais velho,
escrever sobre variados assuntos, em A
presenciou o processo de liquidação das
Manhã lançou O Choque das Raças, folhetim
companhias que fundou e, o que foi pior,
que causou furor na imprensa carioca, logo
sofreu com a censura e atmosfera asfixiante
depois transformado em livro. Do Rio Lobato
da ditadura de Getúlio Vargas. Aproximoucolaborou também com jornais de outros
se dos comunistas e saudou seu líder, Luís
estados, como o Diário de São Paulo, para o
Carlos Prestes, em grande comício realizado
qual em 20 de março de 1926 enviou "O
no Estádio do Pacaembu em julho de 1945.
nosso
dualismo",
analisando
com
Partiu para a Argentina, após associar-se à
distanciamento crítico o movimento
editora Brasiliense e lançar suas Obras
modernista inaugurado com a Semana de 22. O artigo foi
Completas, com mais de 10 mil páginas em trinta volumes
refutado por Mário de Andrade com o texto "Postdas séries adulta e infantil. Regressou de Buenos Aires em
Scriptum Pachola", no qual anunciava sua morte.
maio de 1947, para encontrar o país às voltas com os
Em 1927, Lobato assumiu o posto de adido
desmandos do governo Dutra. Indignado, escreveu Zé
comercial em Nova Iorque e partiu para os Estados
Brasil. Nele, o velho Jeca Tatu, preguiçoso incorrigível, que
Unidos, deixando a Companhia Editora Nacional sob o
Lobato depois descobriu vítima da miséria, vira um
comando de seu sócio, Octalles Marcondes Ferreira.
trabalhador rural sem terra. Se antes o caipira lobatiano
Durante quatro anos, acompanhou de perto as inovações
lutava contra doenças endêmicas, agora tinha no
tecnológicas da nação mais desenvolvida do planeta e fez
latifúndio e na distribuição injusta da propriedade rural
de tudo para, de lá, tentar alavancar o progresso da sua
seu pior inimigo. Os personagens prosseguiam na luta,
terra. Trabalhou para o estreitamento das relações
mas seu criador já estava cansado de tantas batalhas.
comerciais entre as duas economias. Expediu longos e
Monteiro Lobato sofreu dois espasmos cerebrais e, no dia
detalhados relatórios que apontavam caminhos e
4 de julho de 1948, virou “gás inteligente” - o modo como
apresentavam soluções para nossos problemas crônicos.
costumava definir a morte. Foi-se aos 66 anos de idade,
Falou sobre borracha, chiclete e ecologia. Não mediu
deixando imensa obra para crianças, jovens e adultos, e o
esforços para transformar o Brasil num país tão moderno
exemplo de quem passou a existência sob a marca do
e próspero como a América em que vivia.
inconformismo.
Personalidade de múltiplos interesses, Lobato
esteve presente nos momentos marcantes da história do
Disponível em: http://lobato.globo.com
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Junho de 2012
Histórias de Lobato
http://topicos.estadao.com.br
LITERATURA INFANTO-JUVENIL
1 – Reinações de Narizinho
2 – Viagem ao céu e O Saci
3 – Caçadas de Pedrinho e Hans Staden
4 – História do mundo para as crianças
5 – Memórias da Emília e Peter Pan
6 –Emília no país da gramática e Aritmética da
Emília
7 – Geografia de Dona Benta
8 – Serões de Dona Benta e História das invenções
9 – D. Quixote das crianças
10 – O poço do Visconde
11 – Histórias de tia Nastácia
12 – O Picapau Amarelo e A reforma da natureza
13 – O Minotauro
14 – A chave do tamanho
15 – Fábulas
16 – Os doze trabalhos de Hércules (1º tomo)
17 – Os doze trabalhos de Hércules (2º tomo)
LITERATURA GERAL
v. 1 – Urupês
v. 2 – Cidades mortas
v. 3 – Negrinha
v. 4 – Ideias de Jeca Tatu
v. 5 – A onda verde e O presidente negro
v. 6 – Na antevéspera
v. 7 – O escândalo do petróleo e Ferro
v. 8 – Mr. Slang e o Brasil e Problema vital
v. 9 – América
v. 10 – Mundo da lua e Miscelânea
v. 11 – A barca de Gleyre (1º tomo)
v. 12 – A barca de Gleyre (2º tomo)
v. 13 – Prefácios e entrevistas
Lançamento posteriores da obra adulta pela
Editora Brasiliense
v. 14 – Literatura do Minarete
v. 15 – Conferências, artigos e crônicas
v. 16 – Cartas escolhidas (1º tomo)
v. 17 – Cartas escolhidas (2º tomo)
v. 18 – Críticas e outras notas
v. s/n - Cartas de amor
OUTROS TÍTULOS
O Saci-Pererê: resultado de um inquérito(sem
indicação de autor). São Paulo, Seção de Obras de O
Estado de S. Paulo, 1918.
A menina do narizinho arrebitado. (1920) Edição
fac-similar. São Paulo, Metal Leve, 1982.
La nueva Argentina (sob pseudônimo de Miguel P.
Garcia). Buenos Aires, Editorial Acteon, 1947.
Zé Brasil. s.l., Ed. Vitória, 1947; Calvino Filho,
ilustrado por Portinari, 1948.
Georgismo e comunismo – O imposto único. São
Paulo, Brasiliense, 1948.
Disponível em:
http://lobato.globo.com
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Junho de 2012
Nelson Rodrigues
Nelson por ele mesmo (1912-1980)
“Todos nós temos histórias que encheriam uma biblioteca; qualquer um pode fazer três mil volumes sobre si mesmo.”
Nelson Rodrigues
Eu tinha quatro anos de idade quando saí do Recife. Meu pai
estava na miséria e resolveu vir arranjar emprego no Rio. Veio sozinho
dizendo à minha mãe que a chamaria logo que conseguisse emprego. Sua
intenção era ir para o Correio da Manhã. Mas o tempo passava e ele não
arranjava o emprego. Minha mãe se impacientou, vendeu todas as joias –
era uma grã-fina de Pernambuco – e veio de navio com os filhos. Ela
telegrafou a meu pai: “Vou com as crianças.”
Pegamos um vapor. Por esse gesto de minha mãe, eu me tornei
carioca.
Meu pai caiu no maior pânico de mundo, mas aguentou firme. No
dia da chegada, lá estavam ele e o Olegário Mariano no cais do porto
esperando. Meu pai, assombrado, estupefato, caiu nos braços de minha
mãe (...)
Fomos todos então para a casa de Olegário Mariano. O qual, aliás,
teve uma tremenda briga comigo tempos depois. Ele me dizia aos berros
pelo telefone: “Eu te matei a fome, desgraçado!” Foi uma discussão
terrível, na base do “canalha”, “quebro-te a cara”.
Éramos seis filhos nesta ocasião, conforme o romance da senhora Leandro Dupré, Éramos seis. E aí
chegou aquele batalhão imenso, meu pai num pânico profundo, sem um níquel no bolso, sem emprego, sem
nada; nós tivemos que passar um mês na casa do Olegário Mariano e ele realmente me matou a fome.
O José Mariano, irmão do Olegário, era amigo do Edmundo Bittencourt e conseguiu arranjar emprego
para meu pai no Correio da Manhã.
No dia seguinte à minha chegada no Rio de Janeiro – nunca me
esqueço disso – num vizinho o gramofone tocava a “Valsa do Conde de
Luxemburgo”. Até hoje, quando ouço essa valsa, sinto um vento de nostalgia.
Toda aquela atmosfera de repente desaba sobre mim novamente e fico assim
meio deslumbrado. Desencadeia em mim todo um processo de volta, de
busca, de descoberta. Isso era na Rua Alegre, em Aldeia Campista.
Bom, aí, aos seis anos, fui para uma escola da Rua Alegre, que mudou
de nome, tanto a rua como a escola, mas a escola conserva exatamente a
mesma coisa. D. Rosa se chamava a minha professora, uma senhora de
narinas apertadas, tinha, no primeiro dia, um vestido de desenho todo
florido, mas era um trocadilho com o nome.
Eu comecei a estudar, e aí que ocorreu aquele negócio da merenda...
Eu era pobre, menino pobre, e levava uma banana, e estava muito orgulhoso olhando a banana, mas quando
cheguei no recreio com a minha banana, muito maior que o momento da aula, quando puxei minha banana,
outro garoto, simultaneamente, olhando para mim e baixando os olhos e olhando para mim outra vez,
desembrulhava um sanduíche de ovo que humilhou e liquidou a minha banana. O ovo ainda estava úmido, de
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Junho de 2012
forma que escorria gema pela boca como uma papa amarela, e o garoto olhando pra mim, e eu não sabia o
que fazer com a banana.
Aliás, essa cena iria se repetir por todo o meu curso, porque meu pai era pobre. Pão e manteiga, isso
pra mim era coisa oriental das Mil e uma noites (...)
O bairro da minha infância me marcou profundamente. Tanto que nas minhas memórias – sou muito
memorialista e quando não faço memórias tenho sempre lembranças para intercalar – falo da paisagem de
Aldeia Campista e das batalhas de confete da Rua Dona Zulmira. Eram fantásticas e tinham uma fama
incrível. Não sei a razão, pois naquele tempo não havia as
coberturas de televisão.
A Tijuca teve uma coisa que me marcou: a Escola
Prudente de Moraes, onde fiz a minha primeira “A vida como
ela é...”. Houve um concurso de composição na aula. Era, se não
me engano, o 4º ano primário, e ganhamos o concurso, eu e o
outro garoto.
O outro garoto escreveu sobre um rajá que passeava
montado num elefante e eu escrevi a história de um adultério
E.M. Prudente de Moraes
que terminou com o marido esfaqueando a adúltera. Creio que a
professora dividiu o prêmio com o outro garoto como concessão à moral vigente, porque ela ficou meio
apavorada, em pânico, com a violência da minha “A vida como ela é...”. Eu, quando soube que o garoto tinha
ganho também e ouvi a história dele, a dele foi lida em voz alta, a minha não, fiz uma restrição que revela
todo o meu despeito profundo, a minha competição feroz. É que eu
teria posto na testa do rajá um diamante. Ele não tinha posto, e isso foi
minha compensação.
Foi aí que eu fiz o meu primeiro plágio, começando a história
assim: “A madrugada raiava sanguínea e fresca.”
Quando a professora começou a ler, fiquei em pânico que ela
manjasse a história. Foi um plágio cínico, em plena consciência, não foi
coincidência nem nada.
Foi já com esta “A vida como ela é...” que me senti escritor,
porque eu me entreguei a isso com um élan fabuloso. Desandei a
escrever o troço...
Continuei escrevendo e comecei a ser marcado na aula talvez
como um gênio. Era olhado pelas professoras como uma promessa de
tarado. (...)
Mudar para Copacabana foi realmente uma aventura fabulosa, por causa do mar. O mar significava
Olinda, a minha infância profunda. Portanto o mar significava a minha pátria, minha paisagem.
“Voltei” para Olinda, em Copacabana. Fui morar na Rua Inhangá, numa casa que eu achava um
palácio, porque até a Tijuca nós tínhamos morado modestamente. Na Rua Inhangá a casa era de altos e
baixos, tinha um sótão. Foi aí que eu descobri o sótão, isso é uma curiosidade porque eu usei o sótão no
Vestido de noiva. Então, eu subia para o sótão e o achava uma coisa maravilhosa.
Meu pai já estava no Correio da Manhã e foi aí, logo depois, que ele se tornou diretor do jornal.
Desde cedo eu lia meu pai, não entendia muita coisa que ele escrevia, os termos que ele usava, mas
ficava deslumbrado quando não entendia. O que é uma reação normal: até hoje, quando não entendemos
ficamos deslumbrados. E isso antecipou minha vocação, me deu uma pressa literária.
RODRIGUES, SONIA (org.). Nelson Rodrigues por ele mesmo. Editora Nova Fronteira.
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História de Nelson
Lado a lado com o teatro, o jornalismo foi
para ele um ambiente privilegiado de expressão.
Dentre seus textos propriamente jornalísticos,
destacam-se aqueles dedicados ao futebol, em que
empregou toda sua veia dramática, transformando
partidas em batalhas épicas e jogadores em
heróis. Trabalhou nos mais diversos jornais e
revistas, assinando artigos e crônicas, como a
popular e discutida coluna “A Vida Como Ela É…”.
Em 1943, a consagração no Teatro
Municipal do Rio de Janeiro: sua segunda peça,
Vestido de Noiva, montada por um grupo amador,
Os Comediantes, dirigida pelo polonês recémimigrado Ziembinski e com cenários de Tomás
Santa Rosa, revolucionava a maneira de se fazer
teatro no Brasil. Sua peça seguinte, Álbum de
Família, de 1946, que trata de incesto, foi
censurada, sendo liberada apenas duas décadas
depois. Dali em diante, sua obra despertaria as
mais variadas reações, nunca a indiferença.
Nelson Falcão Rodrigues nasceu no Recife,
em 1912. Aos 5 anos, mudou-se com a família para
o Rio de Janeiro, indo morar na Rua Alegre, em
Aldeia Campista, bairro que depois seria
absorvido pelos vizinhos Andaraí, Maracanã,
Tijuca e Vila Isabel. Em contato com a imaginação
fértil do futuro escritor, a realidade da Zona Norte
carioca, com suas tensões morais e sociais, serviu
como fonte de inspiração para Nelson construir
personagens memoráveis e histórias carregadas
de lirismo trágico.
Aos 13 anos, ingressa na carreira de
jornalista, trabalhando como repórter policial em
A Manhã, um dos jornais fundados por seu pai,
Mário Rodrigues, que marcaram época – o
segundo foi Crítica, palco de uma tragédia que
abalaria o dramaturgo profundamente: o
assassinato de seu irmão, o ilustrador e pintor
Roberto Rodrigues, em 1929.
O
prestígio
alcançado
pelo
reconhecimento de seu talento não livrou-o de
contestações ou perseguições. Classificado pelo
próprio Nelson Rodrigues como “desagradável”,
seu teatro chocou plateias, provocando não
apenas admiração, mas também repugnância e
ódio, sentimentos muitas vezes alimentados por
seu temperamento inclinado à polêmica e à
autopromoção.
Nelson Rodrigues morreu no Rio de
Janeiro, em 1980, aos 68 anos. Além dos
romances, contos e crônicas, deixou como legado
17 peças que, vistas em conjunto, colocam-no
entre os grandes nomes do teatro brasileiro e
universal.
Disponível em: http://www.funarte.gov.br
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Histórias de Nelson
ROMANCE
Meu Destino É Pecar - 1944 - com o pseudônimo de Suzana Flag
Escravas do Amor - 1946 - com o pseudônimo de Suzana Flag
Minha Vida - 1946 - com o pseudônimo de Suzana Flag
Asfalto Selvagem (2 volumes) - 1960
O Casamento - 1966
O Homem Proibido* - 1981 - com o pseudônimo de Suzana Flag
Núpcias de Fogo* - 1997 - com o pseudônimo de Suzana Flag
A Mentira* - 2002 - com o pseudônimo de Suzana Flag
A Mulher que Amou Demais* - 2003 - com o pseudônimo de Myrna
CONTO
Cem Contos Escolhidos: A Vida como Ela É... (2 volumes) - 1961
Elas Gostam de Apanhar - 1974
Pouco Amor Não É Amor* - 2002
CRÔNICA
Memórias de Nelson Rodrigues - 1967
A Menina sem Estrela - 1967
O Óbvio Ululante - 1968
A Cabra Vadia - 1970
O Reacionário - 1977
À Sombra das Chuteiras Imortais* - 1993
A Pátria em Chuteiras* - 1994
O Remador de Ben-Hur: Confissões Culturais* - 1996
Não Se Pode Amar e Ser Feliz ao Mesmo Tempo: O Consultório Sentimental de Nelson Rodrigues* - 2002 - com o pseudônimo de Myrna
O Profeta Tricolor: Cem Anos de Fluminense* - 2002
ENSAIO
O Baú de Nelson Rodrigues: Os Primeiros Anos de Crítica e Reportagem* - 2004
TEATRO
Vestido de Noiva, A Mulher sem Pecado - 1944
Álbum de Família - 1946
Anjo Negro, Vestido de Noiva, A Mulher sem Pecado - 1948
Senhora dos Afogados, A Falecida - 1956
Teatro - 1959
Otto Lara Resende ou Bonitinha, mas Ordinária - 1965
Teatro Quase Completo (com obras inéditas) - 1965
A Serpente - 1980
Os Sete Gatinhos - 1980
Teatro Completo - 1981 - 1989* - quatro volumes; com obras inéditas
*Publicação póstuma
Disponível em: http://www.itaucultural.org.br
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Roseana Murray
Roseana por ela mesma
Digo como Neruda, poeta que amo: para nascer nasci. Para
fazer poesia, amar, cozinhar para os amigos, para ter as portas da
casa e do coração sempre abertas. Nasci num dia quente de
dezembro, em 1950, dois meses antes do previsto, numa clínica em
Botafogo. Sou filha de imigrantes poloneses, Lejbus Kligerman e
Bertha Gutman Kligerman, que vieram para o Brasil antes da
Segunda Guerra fugindo do antissemitismo. Passei a infância no
bairro do Grajaú, no Rio de Janeiro.
Gosto de mato e silêncio, não sou nada urbana. Durante
muitos anos vivi em Visconde de Mauá, mas troquei Mauá por
Saquarema em 2002, já que uma cirurgia na coluna tornou a
montanha quase intransponível. Mas o meu filho André Murray
continua lá tocando as suas árvores e panelas no Restaurante Babel:
ele é Chef de Cozinha. Meu outro filho é músico, o Guga. Ele vive em
Granada, na Espanha e tem um trio no Brasil, o Um Trio Vira-Lata.
Eles são filhos do meu primeiro casamento. Desde 1997 estou
casada com o Juan Arias, jornalista e escritor.
Tenho muitos livros publicados e leitores de
todas as idades, aliás, não acredito em idade, mas sim
em experiências vividas. Fico muito feliz quando penso
que um poema que escrevi aqui na minha mesa, sozinha,
chega a lugares tão distantes e emociona tanta gente.
E falando em livros, são os livros que mandam
em mim. Com eles viajo pelo Brasil, encontro pessoas,
faço novos amigos. Minha vida gira em torno deles.
Escrever é minha grande paixão. Estou sempre
escrevendo alguma coisa, um verso, um poema, uma
carta. Gosto que as pessoas gostem do que escrevo. Não
tem nada que me deixe mais feliz. E corajosa.
“Tantos medos e outras coragens”, Roseana Murray e
http://www.roseanamurray.com
55
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Junho de 2012
História de Roseana
Nasceu no Rio de Janeiro em 1950.
Graduou-se em Literatura e Língua Francesa
em 1973 (Universidade de Nancy/ Aliança
Francesa).
Publicou seu primeiro livro infantil em
1980 (Fardo de Carinho, ed. Murinho, R.J).
Tem mais de 60 livros publicados. Tem dois
livros traduzidos no México (Casas, ed.
Formato e Três Velhinhas tão velhinhas, ed.
Miguilim/ IBEP). Seus poemas estão em
antologias na Espanha. Tem poemas
traduzidos em seis linguas ( in Um Deus para
2000, Juan Arias, ed. Desclée e Maria, esta
grande desconhecida, Juan Arias, ed. Maeva.).
Recebeu o Prêmio O Melhor de Poesia
da FNLIJ nos anos 1986 (Fruta no Ponto, ed.
FTD), 1994 (Tantos Medos e Outras Coragens,
ed. FTD) e 1997 (Receitas de Olhar, ed. FTD).
Recebeu o Prêmio Associação Paulista
de Críticos de Arte em 1990 para o livro Artes
e Ofícios, ed. FTD, S.P.
Entrou para a Lista de Honra do I.B.B.Y
em 1994 com o livro Tantos Medos e Outras
Coragens tendo recebido seu diploma em
Sevilha, Espanha.
Recebeu o Prêmio Academia Brasileira
de Letras em 2002 para o livro Jardins ed.
Manati, R.J como o melhor livro infantil do
ano.
Participou ao longo destes anos de
vários projetos de leitura. Implantou em
Saquarema, em 2003, junto com a Secretaria
Municipal de Educação, o Projeto Saquarema,
Uma Onda de Leitura.
Disponível em:
http://www.roseanamurray.com/biografia
E. M. Pedro Paulo da Silva, em Santa Cruz da
Serra, inauguração da Sala de Leitura
Roseana Murray, 2010
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Junho de 2012
Histórias de Roseana
O LIVRO É A CASA
ONDE SE DESCANSA
DO MUNDO
MAR E RIO
NO MESMO FIO
ÁGUA DOCE E SALGADA
O LIVRO É A CASA
DO TEMPO
É A CASA DE TUDO
O LIVRO É ONDE
A GENTE SE ESCONDE
EM GRUTA ENCANTADA
Falando de livros
POESIA PARA CRIANÇAS E JOVENS
Lá vem o Luis, Ed. Leya, 2011, ilustrações de Oriol San Julián
Luna, Merlin e Outros Habitantes, Ed. Miguilim, reedição 2011, ilustrações de Caó Cruz
Alves
No Mundo da Lua, Ed. Paulus, reedição 2011, ilustrações de Maria Ines Piekas.
Roseana Murray, Poemas para Ler na Escola, ed. Objetiva, 2011, seleção de Hebe
Coimbra
O Circo, ed. Paulus, 2011, ilustrações Caó Cruz Alves (reedição)
O Mar e os Sonhos, ed. Lê, reedição, 2011, ilustrações Elvira Vigna
Uma Gata no Coração, Ed. Amarilys, 2011.
Classificados Poéticos, Reedição Ed. Moderna, 2010.
Carteira de Identidade, ed. Lê, B.H, 2010 (Catálogo de Bolonha 2011)
Fardo de Carinho, ed. Lê, 2009.
Poemas de Céu, ed. Paulinas, 2009.
Kira, ed. Lê, 2009.
Arabescos no Vento, ed. Prumo, 2009.
Fábrica de Poesia, ed. Scipionne, 2008.
Poemas e Comidinhas, com o Chef André Murray, ed. Paulus, S.P, 2008
Residência no Ar, ed. Paulus, 2007.
No Cais do primeiro Amor, ed. Larousse, 2007.
Desertos, ed. Objetiva, 2006. ( Finalista do Prêmio Jabuti ) - Altamente Recomendável
FNLIJ, 2006
O traço e a traça ed. Scpionne, 2006.
O xale azul da sereia, ed. Larrousse, 2006.
O que cabe no bolso? ed. DCL, 2006.
Paisagens, ed. Lê, 2006.
Pêra, uva ou maçã ed. Scipione, 2005. (Catálogo de Bolonha 2006 e Acervo Básico,
F.N.L.I.J).
Rios da Alegria, ed. Moderna, 2005. (Altamente Recomendável, F.N.L.I.J).
Poemas de Céu ed. Miguilim, 2005. (Antigo "Lições de Astronomia").
Maria Fumaça Cheia de Graça, ed. Larousse, 2005.
Duas Amigas, ed. Paulus, 2005 (reedição).
Lua Cheia Amarela, ed. Dimensão 2004.
Caixinha de Música, ed. Manati, 2004. (Catálogo de Bolonha 2005)
Um Gato Marinheiro, ed. DCL, 2004.
Todas as Cores Dentro do Branco, ed. Nova Fronteira, 2004.
Recados do Corpo e da Alma, ed. FTD, 2003. (Altamente Recomendável F.N.L.I.J)
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Junho de 2012
Luna, Merlin e Outros Habitantes, ed. Miguilim/ Ibeppe, 2002. (Altamente Recomendável, F.N.L.I.J.)
Jardins, ed. Manati, 2001. (Prêmio Academia Brasileira de Letras de Literatura Infantil 2002)
Caminhos da Magia, ed. DCL, 2001.
Manual da Delicadeza, ed. FTD, 2001.
O Silêncio dos Descobrimentos, com Elvira Vigna, ed. Paulus, 2000.
Receitas de Olhar, ed. F.T.D, 1997, ( Prêmio O Melhor de Poesia, F.N.L.I.J. )
Carona no Jipe, ed. Memórias Futuras, 1994 e ed. Salamandra, 2006.
No final do Arco-Íris, ed. José Olímpio, 1994.
O Mar e os Sonhos, ed. Miguilim,1996, (Altamente Recomendável para a Criança, F.N.L.I.J. )
Paisagens, ed. Lê, 1996.
Felicidade, ed. F.T.D, 1995, (Altamente Recomendável para a Criança, F.N.L.I.J. )
De que riem os palhaços ed. Memórias Futuras, 1995. Esgotado
Tantos Medos e Outras Coragens, ed. F.T.D, 1994 ( Prêmio O Melhor de Poesia F.N.L.I.J e Lista de Honra do I.B.B.Y. )
Reedição com novas ilustrações em 2007.
Qual a Palavra? ed. Nova Fronteira, 1994.
Casas, ed. Formato, 1994. Editado no México, ed. Alfaguara
Dia e Noite, ed. Memórias Futuras, 1994. Esgotado
Artes e Ofícios, ed. F.T.D, 1990, (Prêmio A.P.C.A. e Altamente Recomendável para a Criança, F.N.L.I.J. ) Reedição com
novas ilustrações em 2007.
Falando de Pássaros e Gatos, editora Paulus, 1987.
Fruta no Ponto, ed. F.T.D, 1986. (Prêmio O Melhor de Poesia. F.N.L.I.J.)
Fardo de Carinho, ed. Murinho, 1980 e ed. Lê, 1985.
O Circo, ed. Miguilim/ Ibeppe, 1985.
Lições de Astronomia, ed. Memórias Futuras, 1985. Esgotado
Classificados Poéticos, ed. Miguilim/ Ibeppe, 1984, (Altamente Recomendável
para a Criança, F.N.L.I.J, e finalista do Prêmio Bienal. )
No Mundo da Lua, ed. Miguilim/ Ibeppe, 1983.
CONTOS PARA CRIANÇAS E JOVENS
Vento Distante, Ed. Escrita Fina, 2010 (Catálogo de Bolonha 2011)
Território de Sonhos, ed. Rocco, Altamente Recomendável FNLIJ, 2006.
Sete Sonhos e um Amigo, ed. FTD, 2004.
Pequenos Contos de Leves Assombros, ed. Quinteto, 2003.
Um Avô e seu Neto, ed. Moderna, 2000.
Terremoto Furacão ed. Paulus, 2000.
Um cachorro para Maya, ed Salamandra, 2000.
Uma História de Fadas e Elfos, ed. Miguilim / Ibeppe, 1998, (Acervo Básico da F.N.L.I.J - criança).
Três Velhinhas tão velhinhas, ed. Miguilim / Ibeppe, 1996.
O Fio da Meada, ed. Memórias Futuras, 1994. Ed. Paulus, 2002.
Retratos, ed. Miguilim/ Ibeppe, 1990, Altamente Recomendável para a Criança, F.N.L.I.J. )
O Buraco no Céu ed. Memórias Futuras, 1989.
POESIA
Variações sobre Silêncio e Cordas, com desenhos de Elvira Vigna. E-BOOK, edição artesanal Maurício Rosa, Visconde de
Mauá, maio de 2008.
Poesia essencial, ed. Manati, 2002.
15 poemas no livro Um Deus para Dois Mil, de Juan Arias, ed. Vozes (em seis línguas) 1999.
Caravana, inédito, vencedor do Concurso Cidade de Belo Horizonte, 1994.
Pássaros do Absurdo, ed. Tchê ,1990, vencedor do Concurso da Associação Gaúcha de Escritores.
Paredes Vazadas, ed. Memórias Futuras, 1988. Esgotado
Viagens, ed. memórias Futuras, 1984.
Revista Poesia Sempre.
Revista Microfisuras, Espanha
Correspondência
Porta a porta, com Suzana Vargas, ed. Saraiva, 1998. (Acervo Básico da F.N.L.I.J - jovem).
Disponível em: http://www.roseanamurray.com/bibliografia
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Junho de 2012
Ruth Rocha
Ruth por ela mesma – Entrevista com Ruth Rocha
Como o Marcelo, a senhora também criava palavras quando
era criança?
RUTH ROCHA: Na minha família, a gente brincava muito com
palavras. Meu pai dava corda. Sempre contava as histórias do
poeta Emílio de Menezes, um trocadilhista. Uma atriz sentava na
frente dele no teatro, aí o Emílio levantava e apontava as cadeiras
vazias: “Atrás há três, atriz atroz!” Mas era meu avô o contador de
histórias da família. Analisando hoje, sei que ele contava Andersen,
Perrault, Grimm, As Mil e Uma Noites, histórias folclóricas. Essa
fabulação toda ficou em mim. Ele era primo de 2º ou 3º grau do
Castro Alves, e declamava a obra inteira dele. Meu pai, minha mãe
e avó gostavam de cantar versos. Era uma família muito faladeira.
Todo mundo diz que meu estilo é oral. Deve ser por ter ouvido
muitas histórias.
Qual é o segredo, afinal, do sucesso do “Marcelo, Marmelo,
Martelo”?
RUTH ROCHA: Se eu soubesse, faria todos como ele! O que sei é
que um bom livro precisa ter verdade, propor novas questões e
fazer o leitor pensar. Nunca escrevo porque tal assunto pode
agradar ao público infantil, mas sempre preocupada em contar
uma boa história e ser fiel aos meus valores.
Como foi seu primeiro contato com a literatura, Ruth? Como a senhora decidiu ser escritora?
RUTH ROCHA: Meu contato com a literatura se deu através de Monteiro Lobato, sem dúvida. Mas depois, quando eu
tinha uns 13 anos e andava lendo uma porção de livros medíocres, um professor, Aderaldo Castelo, pediu na escola que
fizéssemos um trabalho sobre “A cidade e as serras”, de Eça de Queirós. Esse livro foi para mim, não um encontro com a
literatura, mas uma verdadeira trombada! Até hoje eu ainda leio esse livro de vez em quando. A minha decisão de ser
escritora se deu quando comecei a escrever para a revista Recreio. Depois de vinte ou trinta histórias percebi que era o
que eu queria realmente fazer.
Como a senhora avalia os livros infantis produzidos atualmente, por autores novos?
RUTH ROCHA: Leio pouco. Mas os que li têm problemas éticos, estéticos, de desconhecimento da criança. Histórias
indicadas para criança muito pequena, mas que parecem escritas para criança grande. Com referência a problemas que
não são de criança. Por exemplo, história de amor entre crianças. Bobagem. Os adultos é que inventam isso. A criança
até a puberdade não pensa nisso. A Luluzinha é perfeita, odeia meninos, tem o clube do Bolinha. Há também muita
história com bom-mocismo e moral no final. Ou melhor, as histórias sempre terminam com um “então, você não deve
desobedecer à mamãe, nem ao papai, pois Deus castiga.”
Seria possível dizer se os jovens de hoje gostam de ler?
RUTH ROCHA: Em todos os tempos houve jovens que gostavam de ler e outros que não tinham grande interesse. O
escritor sempre espera conquistar esse grupo.
Já aconteceu à senhora de jogar fora um livro que escreveu por não considerar que ele estivesse satisfatório?
RUTH ROCHA: Já aconteceu, sim. Segundo Ana Maria Machado, um escritor deve ter uma gaveta pequena, para guardar
originais, e uma cesta de lixo grande, para jogar fora o que não fica bom.
Fontes de pesquisa:
* http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/pratica-pedagogica/leitura-nao-pode-ser-so-folia-423575.shtml
* Revista Língua Portuguesa, Ano III, Nº 32, junho de 2008.
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Junho de 2012
História de Ruth
Ruth Rocha nasceu em
Monteiro Lobato foi sua
1931 na cidade de São Paulo.
grande influência. Em sua obra,
Filha dos cariocas Álvaro de
essa influência se traduz pelo seu
Faria Machado, médico, e
interesse nos problemas sociais e
Esther de Sampaio Machado,
políticos, na sua tendência ao
tem quatro irmãos, Rilda,
humor e nas suas posições
Álvaro, Eliana e Alexandre.
feministas.
Teve uma infância alegre e
Seu
livro
de
forte
repleta de livros e gibis. O
conteúdo crítico, “Uma História de
bairro de Vila Mariana, onde
Rabos Presos”, foi lançado em
morava, tinha nessa época
1989 no Congresso Nacional em
4 anos vestida de anjinho
muitas chácaras por onde Ruth
Brasília, com a presença de grande
passava, a caminho da escola número de parlamentares. Em
estudava no Colégio Bandeirantes. Mais tarde,
1988 e 1990 lançou na sede da Organização das Nações
terminou o Ensino Médio no Colégio Rio Branco.
Unidas em Nova York seus livros “Declaração Universal
É graduada em Sociologia e Política pela
dos Direitos Humanos” para crianças e “Azul e Lindo:
Universidade de São Paulo e pós-graduada em
Planeta Terra, Nossa Casa”.
Orientação Educacional pela Pontifícia Universidade
Participou durante seis anos do programa de
Católica de São Paulo. Casada com Eduardo Rocha, tem
televisão Gazeta Meio-Dia como membro fixo da mesa
uma filha, Mariana e dois netos, Miguel e Pedro.
de debates.
Durante 15 anos (de 1956 a 1972) foi
Em 1998 foi condecorada pelo presidente
orientadora
educacional
do
Fernando Henrique Cardoso com
Colégio Rio Branco, onde pôde
a Comenda da Ordem do Mérito
conviver com os conflitos e as
Cultural do Ministério da Cultura.
difíceis vivências infantis e com as
Ganhou
os
mais
mudanças do seu tempo. A
importantes prêmios brasileiros
liberação da mulher, as questões
destinados à literatura infantil da
afetivas e de autoestima foram
Fundação Nacional do Livro
sedimentando-se
em
sua
Infantil e Juvenil, da Câmara
formação.
Brasileira do Livro, cinco Prêmios
Começou a escrever em
“Jabuti”, da Associação Paulista de
1967, para a revista Claudia,
Críticos de Arte e da Academia
artigos sobre educação. Participou
Lendo para a filha Mariana e seus primos
Brasileira de Letras, Prêmio João
da criação da revista Recreio, da
de Barro, da Prefeitura de Belo
Editora Abril, onde teve suas
Horizonte, entre outros.
primeiras histórias publicadas a partir de 1969.
Seu livro mais conhecido é “Marcelo, Marmelo,
“Romeu e Julieta”, “Meu Amigo Ventinho”, “Catapimba e
Martelo”, que já vendeu mais de 1 milhão de cópias.
Sua Turma”, “O Dono da Bola”, “Teresinha e Gabriela”
Em 2002 ganhou o prêmio Moinho Santista de
estão entre seus primeiros textos de ficção. Ainda na
Literatura Infantil, da Fundação Bunge. Também nesse
Abril, foi editora, redatora e diretora da Divisão de
ano foi escolhida como membro do PEN CLUB –
Infanto-Juvenis.
Associação Mundial de Escritores
Publicou seu primeiro
no Rio de Janeiro.
livro,
“Palavras
Muitas
Atualmente é membro do
Palavras”, em 1976, e desde
Conselho Curador da Fundação
então já teve mais de 130 títulos
Padre Anchieta.
publicados, entre livros de
ficção, didáticos, paradidáticos e
Disponível em:
um dicionário. As histórias de
http://www2.uol.com.br/ruthroch
Ruth Rocha estão espalhadas
a/historiadaruth
pelo mundo, traduzidas em
mais de 25 idiomas.
Com seus pais e irmãos
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Junho de 2012
Histórias de Ruth
A arca de Noé , Salamandra
A árvore do Beto, FTD
A Cinderela das bonecas, FTD
A coisa, FTD
A decisão do campeonato, FTD
A escola do Marcelo, Salamandra
A escolinha do mar, Salamandra
A família do Marcelo, Salamandra
A fantástica máquina dos bichos, Ática
A flauta mágica, Callis Ed.
A história do livro, Melhoramentos
A Ilíada, Cia. das Letrinhas
A máquina maluca, FTD
A menina que aprendeu a voar, Salamandra
A menina que não era maluquinha e outras
histórias, Melhoramentos
A primavera da lagarta, Formato
A rua do Marcelo, Salamandra
Almanaque Ruth Rocha, Ática
Alvinho e os presentes de natal, FTD
Alvinho, a apresentadora de TV e o campeão,
FTD
Alvinho, o Edifício City Of, FTD
Armandinho, o juiz, FTD
As coisas que a gente fala, Salamandra
As coisas que eu gosto, Ática
As férias de Miguel e Pedro, Melhoramentos
Atrás da porta, Salamandra
Azul e lindo: planeta terra, nossa casa,
Salamandra
Boi, boiada, boiadeiro, Quinteto Editorial
Bom-Dia, todas as cores!, FTD
Borba, o gato, Ática
Carmem, Callis.
Como se fosse dinheiro, FTD
Contos de Perrault, FTD
Contos para ri e sonhar, Salamandra
Davi ataca outra vez, Ática
Declaração universal dos direitos humanos,
Salamandra
De hora em hora..., Quinteto Editorial
De repente dá certo, Salamandra
Dois idiotas sentados cada qual no seu barril...,
Ática
Elefante?, Formato
Enquanto o mundo pega fogo, Ática
Escrever e criar...É só começar! (8 Volumes),
FTD
Este admirável mundo louco, Salamandra
Eu gosto muito, Ática
Eugênio, o gênio, Salamandra
Fábula de Esopo, FTD
Faca sem ponta, galinha sem pé..., Nova
Fronteira
Fantasma existe?, Ática
Faz muito tempo, Ática
Flauta mágica, Callis.
Gabriela e a titia, Salamandra
Histórias das mil e uma noites, FTD
Historinhas malcriadas, Salamandra
Joãozinho e Maria, FTD
Joãozinho e o pé de feijão, FTD
Lá vem o ano novo, Salamandra
Leila menina, Nova Fronteira
Livro de números do Marcelo, Quinteto
Editorial
Macacote e Porco Pança, Salamandra
Marcelo, marmelo, martelo, Salamandra
Marília Bela, Nova Fronteira
Meu amigo dinossauro, Melhoramentos
Meu irmãozinho me atrapalha, Melhoramentos
Meus lápis de cor são só meus, Melhoramentos
Microdicionário Ruth Rocha, Scipione
Mil pássaros, Melhoramentos
Mil pássaros pelos céus, Ática
61
Equipe de Leitura – SME/ D.C.
Junho de 2012
Minidicionário Ruth Rocha, Scipione
Mulheres de coragem, FTD
Nicolau tinha uma ideia, Quinteto Editorial
Ninguém gosta de mim?, Ática
No caminho de Alvinho tinha uma pedra, FTD
No tempo em que a televisão mandava no
Carlinhos, FTD
Nosso amigo ventinho, Salamandra
O amigo do rei, Salamandra
O bairro do Marcelo, Salamandra
O Barba Azul, FTD
O barbeiro de Sevilha, Callis
O coelhinho que não era de páscoa, Ática
O dia em que Miguel estava muito triste,
Melhoramentos
O Guarani, Callis
O jacaré preguiçoso, Salamandra
O livro da escrita, Melhoramentos
O livro das letras, Melhoramentos
O livro das línguas, Melhoramentos
O livro das tintas, Melhoramentos
O livro de números do Marcelo, Quinteto
Editorial
O livro do lápis, Melhoramentos
O livro do papel, Melhoramentos
O livro dos gestos e dos símbolos,
Melhoramentos
O macaco bombeiro, Salamandra
O menino quase virou cachorro,
Melhoramentos
O menino que aprendeu a ver, Quinteto
Editorial
O menino que quase morreu afogado no lixo,
Quinteto Editorial
O mistério do caderninho preto, Ática
O monstro do quarto do Pedro,
Melhoramentos
O patinho feio, FTD
O pequeno Mozart, Noovha América
O piquenique do Catapimba, FTD
O que é, o que é? (3 Volumes), Quinteto
Editorial
O que os olhos não veem, Salamandra
O rato do campo e o rato da cidade, FTD
O rei que não sabia de nada, Salamandra
O reizinho mandão, Quinteto Editorial
O trenzinho do Nicolau, Salamandra
O último golpe de Alvinho, FTD
O velho, o menino e o burro e outras histórias
caipiras, FTD
Os direitos das crianças segundo Ruth Rocha,
Cia. das Letrinhas
Os amigos de Pedrinho, Melhoramentos
Os músicos de Bremen, FTD
Palavras, muitas palavras..., Quinteto Editorial
Pedrinho Pintor, Salamandra
Pedro e o menino valentão, Melhoramentos
Pesquisar e aprender, Scipione
A fantástica fábrica dos bichos
Pra que serve?, Salamandra
Pra vencer certas pessoas, Ática
Procurando firme, Nova Fronteira
...que eu vou para Angola..., José Olympio
Quando eu comecei a crescer, Nova Fronteira
Quando eu for gente grande, FTD
Quando o Miguel entrou na escola,
Melhoramentos.
Quem tem medo de cachorro?, Global
Quem tem medo de dizer não?, Global
Quem tem medo de monstro?, Global
Quem tem medo de quê?, Global
Quem tem medo de ridículo?, Global
Quem vai salvar a vida?, I. M. Salles
Romeu e Julieta, Ática
Ruth Rocha conta a Odisseia, Cia. das Letrinhas
Sabe do que eu gosto?, Ática
Sapo vira rei vira sapo: a volta do reizinho
mandão, Salamandra
Será que vai doer?, Ática
Tem uma coisa que eu gosto, Ática
Tenho medo mas dou um jeito, Ática
Tom Sawyer, Objetiva
Um cantinho só pra mim, Melhoramentos
Um macaco pra frente, Salamandra
Uma história com mil macacos, Ática
Uma história de rabos presos, Salamandra
Você é capaz de fazer isso?, FTD
62
Equipe de Leitura – SME/ D.C.
Junho de 2012
Sylvia Orthof
Sylvia por ela mesma (1932–1997) -
Autobiografia
Escrevo errado, não sei gramática, respingo vírgulas
e peco Literatura. Mea culpa!
Nasci no Rio, no Hospital dos Estrangeiros,
sou carioca, filha de austríacos.
Sou bagunceira, atrapalhei os sete pecados, escrevi oito
pecados capitais para esta coleção*. Motivo?
Distraí, fiz um conto sobre a soberba e outro sobre o orgulho
e nem reparei que era a mesma coisa, gente !
Sou mãe da Cláudia, Gê e Pedro, filhos queridíssimos.
Tenho quatro netos: Mariana, Francisco, Nina e Olívia.
Gracinhas de netos!
Moro em Petrópolis, sou casada com o Tato,
ilustrador de muitos dos meus livros .
Vim do teatro e dirijo o grupo: Teatro do Livro Aberto.
Acho que escrever é como desfilar numa escola de samba:
tem enredo, alegorias, fantasias, ritmo.
Torço sempre pela Estação Primeira de Mangueira.
Adoro mangas rosadas, sou gulosamente gorducha. Será que
a gula é mesmo um pecado tão capital quanto a inveja?
Outro pecado que é capitalíssimo é a avareza,
sobretudo no capitalismo.
A luxúria tem seus encantos.
A ira tem seus momentos.
A preguiça deu em mim... fim.
*Extraída da obra “A gula”, Coleção Eles são Sete
63
Equipe de Leitura – SME/ D.C.
Junho de 2012
História de Sylvia
Sylvia Orthof nasceu no Rio de Janeiro, em
1932, filha de um casal de judeus austríacos que
deixou Viena entre as duas guerras, para buscar
paz e trabalho. Filha única de imigrantes pobres,
teve uma infância difícil. Aprendeu a falar
primeiro alemão e falava português com sotaque e
errado até a idade escolar. Aos 18 anos, foi
estudar teatro em Paris. Um ano depois, voltou ao
Brasil e trabalhou como atriz no Teatro Brasileiro
de Comédias, em São Paulo (o TBC), e, no Rio,
atuou com grandes nomes do teatro e da TV.
Escritora muito amada, com a sua irreverência
poética inesquecível, publicou mais de 100 livros
para crianças e jovens e teve 13 títulos premiados
pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil
com o selo Altamente Recomendável para
Crianças. Sylvia morreu em 1997, mas até hoje
exerce grande influência sobre um grande número
de autores infantis.
Entrar numa história de Sylvia Orthof é
encher os olhos de susto, mas não um susto de
tremer perna ou bater queixo. O susto que as
histórias de Sylvia dão na gente são carregados de
perplexidade, arregalam a gente por dentro, dão
largura no pensamento.
Ganhadora do Prêmio Jabuti, por A Vaca
Mimosa e a Mosca Zenilda (1997), Sylvia teve
vários trabalhos adaptados para o teatro e
quebrou tudo quanto é estereótipo na literatura
infantil brasileira, com o seu texto desobediente,
esmerado, abusado, feito de riso, provocação e
arrepio. Afinal, a criatividade de Sylvia Orthof
jamais coube em rótulos. Como ela mesma já
disse, as histórias clássicas da literatura infantil
sempre tiveram um ponto de vista muito
machista. “Ninguém pergunta à Cinderela se ela
quer casar com o príncipe. Cinderela casa com o
príncipe porque ele tem dinheiro e poder. Ela se
prostitui”, disse a autora. Mas, ao mesmo tempo, a
autora defendia a leitura dos contos tradicionais,
desde que houvesse uma reflexão. “Se
Chapeuzinho Vermelho tem tanta força até hoje, é
porque tem o seu valor. Só precisamos tomar
cuidado para não apresentarmos essas histórias
com uma mensagem moralista. Vamos discutir um
pouco. Por que não podemos sair do caminho e
procurar um atalho na vida? Será que em todo
lugar há um lobo? E será que devemos ter tanto
medo dos lobos?”, questionava.
Além de questionar velhos conceitos,
Sylvia Orthof sempre vivia do modo como
escrevia: espalhando encantamento por onde
passava. Autora de um dos maiores clássicos da
literatura infantil brasileira, Uxa, Ora Fada, Ora
Bruxa (1985), que mostra, com estilo único, os
dois lados de todos nós, Sylvia era apaixonada por
jardins e flores. Aliás, a sua favorita era a Maria
sem Vergonha. “Gosto muito dessa flor. Lá em
casa, temos uma escada, no jardim. E as flores não
quiseram nascer no canteiro. Não foram
exatamente as Marias, mas também são sem
vergonha. Elas nasceram por entre as pedras do
muro. Sempre assim. Nascem nos lugares mais
impossíveis. Aí um rapaz queria cortá-las das
pedras, mas eu reagi: - Não faça isso. Elas lutaram
tanto por esse lugar”, disse Sylvia, numa
entrevista. E acrescentou: “O jardim é uma coisa
que precisa de atenção, como os livros. Mas não
gosto daqueles jardins muito cuidados. Podados
demais. As plantas, como as histórias, têm direito
de espreguiçar onde quiserem”. E as histórias da
Sylvia continuam espreguiçando, ou melhor,
continuam despertando leitores de toda idade.
Disponível em:
http://www.agenciariff.com.br
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Equipe de Leitura – SME/ D.C.
Junho de 2012
Histórias de Sylvia
ÁTICA
Tumebune, o Vaga-lume – 1995
Fada Cisco Quase Nada – 1997
Avoada, a Sereia Voadora – 1997
Pomba Colomba – 1998
Maria-Vai-com-as-Outras – 1998
A Limpeza de Teresa – 1998
A Fraca Fracola, Galinha-D’Angola – 1998
As Visitas de Dona Zefa – 1998
João Feijão – 1999
Que Saracotico! (Série: Para Gostar de Ler Júnior) –
2009
A Vaca Mimosa e a Mosca Zenilda – 2010
ATUAL
A Poesia é uma Pulga – 1991
Livro Aberto – 1996
Guardachuvando Doideiras – 2005
Quem Roubou Meu Futuro? – 2004, 2009
FTD
Uma Velha e Três Chapéus – 1986
Jogando Conversa Fora – 1986
A Gema do Ovo da Ema – 1988
O Cavalo Transparente – 1998
O Sapato que Miava – 1998
A Fada Sempre-viva e a Galinha-fada – 2000
Felipe do Abagunçado – 2009 - 53 págs.
A Rainha Rabiscada – 2009 - 23 págs.
Ponto de Tecer Poesia – 2010 - 40 págs.
FORMATO
Foi o Ovo? Uma Ova! – 1990
Galo Galo Não Me Calo – 1992
Ovos Nevados – 1997
GLOBAL
Histórias Curtas e Birutas – 1997
Ciranda de Anel e Céu – 1997
A Décima Terceira Mordida – 1997
O Rei Preto de Ouro Preto – 2003
Rabiscos ou Rabanetes – 2005
Um Pipi Choveu Aqui – 2005
Ave Alegria – 1989 (nova edição no prelo)
Você viu? Você ouviu? – 2004 (nova edição no prelo)
O Anjo de Aleijadinho – 1996 (nova edição no prelo)
A Onça de Vitalino – 1994 (nova edição no prelo)
LÊ
A Velhota Cambalhota – 1985
Bóia Bóia Lambisgóia – 1995
AO LIVRO TÉCNICO
Dona Noite Doidona – 1991
Pé de Pato – 1991
Dumonzito – 1991
MODERNA
A Viagem de um Barquinho – 2002
NOVA FRONTEIRA
No Fundo do Fundo-fundo, Lá Vai o Tatu Raimundo –
1984
Se as Coisas Fossem Mães – 1984
Uxa, Ora Fada, Ora Bruxa – 1985
Se a Memória Não Me Falha – 1987
Nana Pestana – 1987
Luana Adolescente, Lua Crescente – 1989
Zoiúdo, o Monstrinho que Bebia Colírio – 1990
Chora Não! – 1991
Zé Vagão da Roda Fina e Sua Mãe Leopoldina – 1997
Currupaco, paco e tal, quero ir pra Portugal – 2002
A Bruxa Fofim – 2002
Manual de Boas Maneiras das Fadas – 1995, 2009 - 32
págs.
Fada Fofa em Paris – 1995, 2009 - 16 págs.
Fada Fofa e os Sete Anjinhos – 1997, 2009 - 31 págs.
Fada Fofa e a Onça Fada – 1998, 2009 - 31 págs.
OBJETIVA
Contos de Estimação: mudanças no galinheiro, mudam
as coisas por inteiro – 2003,
Eu Chovo, Tu Choves, Ele Chove... – 2003
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Equipe de Leitura – SME/ D.C.
Junho de 2012
PAULINAS
Tia Carlota Tricota – 1998
Tia Libória Contando História – 1998
Tia Januária é Veterinária – 1998
Bagunça Total na Cidade Imperial – 1998
Moqueca, a Vaca – 1999
Vovô Bastião Vai Comendo Feijão – 2000
Pequenas Orações para Sorrir – 2000
PAULUS
Doce Doce Quem Comeu Regalou-se – 1987
PROJETO
Ervilina e o Princês – 1986, 2009
QUINTETO
Duas Histórias de Pernafina – 1985
Sou Miloquinha, a Duende – 1988
Malaquias – 1995
Cordel Adolescente, ó Xente! – 1998
RECORD
Papos de Anjo – 1987
As Casas Que Fugiram de Casa – 2002
Pererê na Pororoca – 2002
As Malandragens de um Urubu – 2002
ROVELLE
Vovó viaja e não sai de casa – 1994, (nova edição no
prelo)
Gato pra cá, Rato pra lá – 2012
O Livro Que Ninguém Vai ler – 1997, (nova edição no
prelo)
A Mula sem cabeça, A Flauta de Nicolau e Fada Crica
Cozinheira – 1994, (nova edição no prelo)
Senhor Vento e Dona Chuva – 1986, (nova edição no
prelo)
O Baile do Fim do Mundo e Outras Histórias – 2012
Mudanças no Galinheiro Mudam as Coisas por Inteiro –
2003, 2012
Eu Sou Mais Eu! – (nova edição no prelo)
A Folia dos Três Bois – (nova edição no prelo)
Uma 'Estória' de Telhados – (nova edição no prelo)
Cantarim de Cantará – 1984, 2010
Adolescente Poesia – 1996, 2010
SALAMANDRA
As Aventuras da Família Repinica em Busca do Tesouro
- 1984
Sonhando Santos Dumont – 1997
Os Bichos Que Tive – 2004
História Enroscada – 1997 (nova edição no prelo)
História Vira-lata – 1997 (nova edição no prelo)
História Avacalhada– 1997 (nova edição no prelo)
História Engatada – 1997 (nova edição no prelo)
SCIPIONE
O Inspetor Geral (adaptação) – 1997
SM EDIÇÕES
A Fada Lá de Pasárgada e Cabidelim, O Doce
Monstrinho – 2004
DIREITOS REVERTIDOS
São Francisco Bem Te Vi – 1993
Meus Vários Quinze Anos – 1995
Tem Minhoca no Caminho - 1995
Tem Cachorro no Salame – 1996
Tem Cavalo no Chilique – 1996
Tem Graças no Botticelli – 1996
Canarinho, Cachorrão e a Tijela de Ração – 1996
Mas que Bicho Lagarticho – 1996
Que Raio de História – 1994
Mais-que-perfeita Adolescente – 1994
Papai Bach Família e Fraldas – 1997
Cadê a Peruca do Mozart? – 1998
Quincas Plim, Foi Assim – 1998
Tia Anacleta e Sua Dieta – 1998
Dragonice Diz que Disse – 2004
“Se eu me for
vou de bagagem
sem ter mala
e compromisso.
Vou de anjo,
sem ter asa,
vou morando,
sem ter casa.
Vou medir
o infinito.”
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Equipe de Leitura – SME/ D.C.
Junho de 2012
Andrea Viviana Taubman
Andrea por ela mesma
Nasci em Buenos Aires, na Argentina em 1965.
Talvez por ter sido filha única até os seis anos de idade e a
primeira criança da minha geração numa família de leitores
vorazes, desde que me conheço por gente (bem miudinha) me
interessei pelas letras – minha mãe ri contando que eu pegava os
grampos de cabelo dela para montá-las e perguntava: mãe, que
letra é essa?
Desde então e mesmo antes disso, minha maior diversão
sempre foram os livros.
Em 1973, vim para o Brasil com meus pais e minha irmã.
Morei em São Paulo e no Rio de Janeiro. Passei a adolescência lendo,
escrevendo poemas, cantando, tocando violão, representando e
trabalhando voluntariamente com educação não formal com crianças.
Na hora de escolher a profissão, optei pelo bacharelado em
química porque era tão curiosa que queria saber do que eram feitas as
coisas do Universo. Em 1986 me formei na Universidade Mackenzie e
passei vinte anos escrevendo e traduzindo textos técnicos, manuais e
correspondências comerciais.
Nunca abandonei os livros de literatura nem me afastei das
crianças. Em 2008, já mãe de dois filhos, escrevi O MENINO QUE TINHA
MEDO DE ERRAR - que conta em versos a história de Pedro, que por
receio de virar motivo de chacota, prefere não conviver com outras
crianças. Publicado inicialmente em dezembro de 2009 com ilustrações de Judith Adler Levacov, o livro
ganhou nova edição e novas ilustrações de Camila Carrossine em
2012 (Escrita Fina).
Em outubro de 2010 tive a felicidade de ver publicado meu
segundo livro, A ESCOLA QUE EU QUERO PRA MIM – com ilustrações
de Luiza Costa (Editora Ao Livro Técnico), que fala também em versos
sobre as relações interpessoais no ambiente escolar e promove a
reflexão sobre os valores e as atitudes individuais que fazem a
diferença para que esse ambiente seja o mais acolhedor possível.
A partir deste trabalho, conheci muitas escolas, muitas
crianças e professores, muitos outros escritores e ilustradores de
literatura infantil e juvenil e pessoas envolvidas com livros e
educação. Isto tudo me trouxe de volta uma alegria que eu acreditava ter ficado lá na minha infância e
adolescência; me faz sentir que dei uma grande volta ao mundo, mas que agora estou onde sempre gostaria
de ter ficado!
Atualmente, divulgo meu trabalho e opiniões através da página pessoal no facebook
(https://www.facebook.com/andrea.taubman), da página do livro A ESCOLA QUE EU QUERO PRA MIM
(https://www.facebook.com/pages/A-ESCOLA-QUE-EU-QUERO-PRA-MIM/253189551368030 ) e do meu
blog (www.andreavivianataubman.blogspot.com.br).
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Equipe de Leitura – SME/ D.C.
Junho de 2012
Celso Sisto
Celso por ele mesmo
Nasci no mês de junho e sou do signo de
gêmeos. Caramba! Deve ser por isso que gosto tanto
disso e daquilo! Faço “trocentas” coisas ao mesmo
tempo. E adoro esse movimento, essa ocupação toda!
Às vezes, se tenho pouca coisa para fazer, acabo não
fazendo nada ou deixando tudo para a última hora!
Gosto mesmo é de tudo o que está relacionado a
livros e leituras! Escrevo diariamente e leio quase o
tempo todo! Se pudesse, leria durante o sono também!
Há tanta coisa para ler na vida, que tenho medo que
não dê tempo de ler tudo o que quero! Adoro estudar,
pesquisar, inventar projetos. Gosto de cachorros, gatos
e plantas... De mexer na terra, fazer hidroginástica,
comer doces...
Hum! Vivo perto do mar, no litoral norte do
Rio Grande do Sul. Estudei Literatura e Teatro. Quer
dizer, estudei não, continuo estudando! Sou
professor com muita honra! Dou aulas por aí, em
universidades, ministro oficinas em feiras de livros e
cursos em cidades, de longe e de perto!
Principalmente para professores, para quem quer e
gosta de contar histórias, oralmente e por escrito.
Há mais de vinte anos sou contador de
histórias do Grupo Morandubetá, um dos primeiros
grupos de contadores de histórias do Rio de Janeiro.
Além disso, adoro ilustrar! Brincar com as imagens me encanta! Para saber mais sobre mim, é sobre
mim, é só acessar meu site www.celsosisto.com
Do livro Vozes da Floresta: lendas indígenas, Cortez Editora: São Paulo, 2011.
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Equipe de Leitura – SME/ D.C.
Junho de 2012
Cora Coralina
Cora por ela mesma (1889–1985) -
Todas as Vidas
Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem-feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga.
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.
Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé do borralho,
olhando pra o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço...
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo...
Vive dentro de mim
a lavadeira do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso
d'água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde de são-caetano.
Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada, sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.
Vive dentro de mim
a mulher roceira.
- Enxerto da terra,
meio casmurra.
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos,
Seus vinte netos.
Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha...
tão desprezada,
tão murmurada...
Fingindo alegre seu triste fado.
Todas as vidas dentro de mim:
Na minha vida a vida mera das obscuras.
CORALINA, CORA. Poemas dos becos de Goiás e estórias mais. Ed. Global, 2001.
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Equipe de Leitura – SME/ D.C.
Junho de 2012
Luciana Grether Carvalho
Luciana por ela mesma
Sou Luciana Grether Carvalho, carioca e me interesso por
imagens desde cedo. Na escola, às vezes, os discursos dos professores
sumiam frente às fotografias, pinturas, filmes e mapas que eles
mostravam. Além do mais, eles foram meus primeiros modelos vivos,
desenhava-os todos, principalmente, no Ensino Médio.
Comecei a estudar desenho em 1996 ao ingressar no curso de
Design na PUC- Rio. Na universidade fui aluna de professores que me
apresentaram significativos caminhos para o despertar de uma
linguagem poética própria e me ensinaram a trabalhar junto a
diversos grupos de pesquisa. Fui ainda monitora em aulas de pintura e desenho e apaixonei-me
pelo processo criativo.
Depois de formada, já tendo ilustrado dois livros,
colaborando com ilustrações semanalmente para o Jornal
do Brasil e cuidando da minha primeira filha recémnascida, fui fazer licenciatura em Artes na Unibennett.
Aprendi a ser professora e a lidar com os aprendizados do
cotidiano escolar nas aulas de Artes Visuais no Ensino
Fundamental na Escola Oga
Mitá.
Conciliando
a
Cordel da Candelária
maternidade, as aulas nas
escolas e as ilustrações, iniciei
o Mestrado em Artes & Design
na PUC-Rio em 2004. Em 2007 nasce minha segunda filha e cada vez
mais a literatura infantil se fez presente em longas contações de
histórias que nos aproximavam e emocionavam. Em 2009 passei a dar
aulas também na PUC-Rio onde realizo um trabalho gratificante ao
orientar processos e desenhos nas aulas de projeto I e II.
Recentemente as ilustrações pra
livros
vêm
acontecendo
mais
Teatro com bicho é o bicho
intensamente e hoje já conto dezesseis
projetos editoriais ilustrados.
Nos
encontros, lançamentos, oficinas, mesas redondas tenho tido preciosas
oportunidades de conviver com autores e ilustradores. A admiração
pelos mestres da representação, as histórias e a beleza da vida são
inspirações para as ilustrações que faço. Ilustrando e ensinando
continuo aprendendo.
Namoro Encantado
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Equipe de Leitura – SME/ D.C.
Junho de 2012
Sandra Ronca
Sandra por ela mesma
Hugo
Sou carioca, filha de artistas plásticos italianos, formada em
Comunicação Social – Publicidade e Propaganda. Cursos
complementares: Desenho de Propaganda; Design e Produção Gráfica;
Aquarela; Quadrinhos; Livro Infantil: Ilustração e Design. Pós-graduada
em Design e Ilustração pelas Faculdades Pestalozzi em Niterói. Em 2010,
participei do Laboratório Cor & Ilustração com Rebeca Luciani. Em 2011,
participei de workshops de ilustração infantil com Svjetlan Junakovic
(Sarmede/IT) e Carll Cneut e Maurizio Quarello (Macerata/IT).
Como ilustradora, utilizo Aquarela, Acrílica, Colagem e Técnica
Mista. Participei de mostras em diferentes Estados no Brasil e em 2010,
tive uma ilustração selecionada para a mostra e catálogo Scarpetta
D’Oro, em Riviera Del Brenta, Italia. Em 2011, participei da mostra Dear
JAPAN: Messages of hope from picture book artists worldwide", em
Tokyo e Ishikawa, Japão, promovida por Art-Ehon em apoio às vítimas
deste país. Minha imagem foi selecionada para o mês de abril do
calendário de 2012.
Apesar de também ilustrar com mais seriedade, sempre tive
forte tendência para as figuras tidas como "infantis", onde qualquer
objeto ou personagem pode ganhar características e comportamentos
humanos. O mesmo já acontecia no contato com o barro, nas visitas ao atelier, de onde surgiam as simpáticas
"criaturas". Amo ilustrar, inventar e ver o brilho nos olhos das crianças diante dos traços, das cores e
texturas nas muitas viagens que proporciona a ilustração. Trabalho com Aquarela, Acrílica, Colagem, Técnica
Mista e Lápis Aquarelável.
Como escritora, a imaginação também vai longe. Em 2008, lancei o “Coitada da raposa!” pela Cortez
Editora. O texto está leve e vem nos mostrar, de forma divertida, que o problema de uns, às vezes, não é o
problema dos outros. E até mesmo que as alegrias de uns, podem ser um ‘problema’ para os outros.
O segundo como escritora, "Dia de vacina" foi publicado pela Editora Rovelle. Se trata de uma vivência
particular trazida a público depois de 40 anos! A história de uma menina que sempre se comportava na hora de
tomar vacina. Até que um dia, na hora H, algo inesperado aconteceu. Ela chorou e esperneou. Muito. Por quê desta
vez e, nas outras não?
O terceiro, lançado em 2011, “Com que bicho você se parece?” pela Editora RHJ, brinca com as
diferenças, e não só as dos animais... Vale a pena a leitura!
Agora em 2012, está no forno O sumiço do O. Lançamento previsto para o mês de junho.
Seja na ilustração ou na escrita, sigo aprendendo, inventando e viajando em meio a meus amigos-mirins.
www.sandraronca.com.br
www.sandraronca.blogspot.com.br
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Equipe de Leitura – SME/ D.C.
Junho de 2012
Thaís Linhares
História da Thaís
Formada pela Escola de Belas Artes UFRJ e SENAI de Artes
Gráficas, a ilustradora já conta com dezenas de obras publicadas e
bem recebidas pelo público, algumas delas incluídas nas
bibliotecas
escolares,
premiadas
como
"Altamente
Recomendável" pela FNLIJ ou expostas na BIB – Bienal
Internacional de Bratislava. Foi cenógrafa de animação na série
“Juro que Vi”– da Multirio e roteirista para "O Quarto do Jobi",
série animada da 2DLab exibida pela TV Ratimbum. Em 2008
recebeu da Secretaria de Cultura do Estado do RJ o prêmio do
edital para Desenvolvimento de Roteiro de Longa de Animação
por sua obra "O Monge e a Fada". Também escreve quadrinhos e
livros para crianças e jovens, alguns destes adotados em políticas
públicas para difusão da leitura. Participa ativamente da diretoria
da AEILIJ – Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura
Infantil e Juvenil. Thais nasceu carioca, em setembro de 1970.
Uma bancada antiga de sapateiro. Estudo para o livro novo da Bia Bedran.
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Equipe de Leitura – SME/ D.C.
Junho de 2012
SUGESTÕES DE ATIVIDADES...
Ler e fazer análise crítica das histórias
Confeccionar jornal mural sobre os autores e suas obras
Organizar a produção de um jornal falado ou notícia escrita sobre o contexto de uma história
Criar o “Clube do autor”. Atividades relacionadas a obra e vida de determinado autor, com dinâmicas para
a comunidade escolar utilizando diferentes portadores textuais sobre o mesmo: biografia, entrevista,
notícias, etc..
Organizar “Ciranda de livros” com obras de um autor específico, promovendo a circulação das obras nos
grupos de leitores por meio de sacolas, malas e caixas literárias.
Promover roda de leitura, leitura compartilhada, leitura dramatizada, sarau, chá literário, piquenique
literário sobre diversas obras e autores.
Criar a “Vitrine de autores”, divulgar a obra do autor, na comunidade escolar por meio de propagandas.
Confeccionar mural com frases sugestivas, relacionadas à leitura ou ao livro.
Elaborar “Perfil de personagens”, ou seja, construir textos descritivos com as características e
personalidades dos personagens de determinada obra. Podendo promover brincadeira de adivinhar o
personagem descrito entre os alunos.
Promover debates e/ou julgamento de personagens.
Construir linha do tempo com as obras e biografia de determinado autor, situando o contexto social e
vivências dos leitores.
Exposição visual: vida e obra de autores.
Brincar de mímica para adivinhar personagens e títulos de histórias.
Confeccionar jogos de trilha, quebra-cabeça, dominó, jogo da memória, quiz literário, bingos, utilizando o
contexto da história.
Dar vida aos personagens com criação de bonecos.
Dramatizar as histórias utilizando diversos recursos: teatro de varas, de sombras, de bonecos, fantoches,
sucatas.
Organizar com os alunos coletâneas de contos, poesias, narrativas e crônicas dos autores trabalhados
e/ou textos produzidos pelos alunos.
Promover dinâmicas a partir da literatura utilizada: história interrompida, mudança de final, criar uma
versão da história do ponto de vista de um determinado personagem, criar história em quadrinho, cartão
postal.
A partir das histórias criar esquetes, enquetes, jograis e paródias.
Contar e recontar histórias.
Montar varal utilizando diversas tipologias textuais e produções de alunos
Transformar a história em literatura de cordel.
Histórias ou poemas partidos em parágrafos, estrofes ou versos para que os alunos reorganizem o texto.
Recital e roda de poesia.
Concurso de produção de livros, de cartas para personagens de histórias, de frases sobre um tema, de
contos, crônicas, poesias, etc.
Promover um correio escolar que pode ter em seu conteúdo: poesias, considerações sobre uma obra lida,
informações sobre autores, etc.
Releitura dos textos lidos com mudança de gênero ou estilo. Ex: de poesia para canção, de canção para
pintura, de narrativa para poesia.
Comparar textos literários com adaptações audiovisuais (televisivas ou cinematográficas).
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Junho de 2012
NAVEGANDO...
Navegando nos links abaixo você encontra biografia, bibliografia, textos, poesias,
artigos, curiosidades, fotos, ilustrações, teses e muito mais sobre a vida e obra de
diversos autores.
Ana Maria Machado - http://www.anamariamachado.com/home
Informações sobre vários autores: http://www.caleidoscopio.art.br/artistas-literatura e
http://www.releituras.com/drummond_bio.asp.
Bia Bedran - http://biabedran.com.br e http://bloglog.globo.com/biabedran
Ilustradora Thaís Linhares: http://ilustracoesdethais.blogspot.com.br
Carlos Drummond de Andrade - http://drummond.memoriaviva.com.br
Jorge Amado - http://www.jorgeamado.org.br e http://www.jorgeamado.com.br
Lygia Bojunga: http://www.casalygiabojunga.com.br
Fundação Manoel de Barros - http://www.fmb.org.br
Monteiro Lobato: http://www.projetomemoria.art.br/MonteiroLobato e http://lobato.globo.com
Nelson Rodrigues: http://www.nelsonrodrigues.com.br
Roseana Murray: http://www.roseanamurray.com e http://www.roseanamurray.com/ebook
Ruth Rocha: http://www2.uol.com.br/ruthrocha
Sylvia Orthof: https://sites.google.com/site/sylviaorthof
Cora Coralina: http://casadecoracoralina.blogspot.com.br
Ilustradora Luciana Grether Carvalho:
http://ilustralu.blogspot.com.br
Escritora e Ilustradora Sandra Ronca http://www.sandraronca.com.br
Ilustradora Thaís Linhares:
http://ilustracoesdethais.blogspot.com.br e http://thaislinhares.blogspot.com.br
Celso Sisto - http://www.celsosisto.com
Portal do Ilustrador - http://ilustradores.ning.com
Academia Brasileira de Letras - http://www.academia.org.br
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Equipe de Leitura – SME/ D.C.
Junho de 2012
EQUIPE DE LEITURA...
Chefe
Hellenice de Souza Ferreira
Implementadores
Ana Rita de Castilho
Cristiane Guimarães Dantas
Daniela Mendes Vieira Alves
Fátima Regina dos Santos França
Flávio José Bonfim
Izabel Regina Docek
Marluce Moraes dos Santos
Patrícia de Sá Góes
Renata de Araújo Tomé
Vera Lúcia Santos da Silva
Assistente administrativo
Ana Paula Cabral de Lima
75
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Apostila 2 o passo História de Quem Conta Histórias