Ficha de identificação
Nome
Salomé Filipa Magalhães Ferreira
Número
6385
Estabelecimento de ensino
Instituto Politécnico da Guarda
Escola Superior de Educação Comunicação e Desporto
Organização
ASTA – Associação Sócio-Terapêutica de Almeida
Alto da Fonte Salgueira 6355-030 Cabreira, Almeida
Data de início de estágio curricular
20 de Setembro de 2010
Data de fim de estágio curricular
20 de Dezembro de 2010
Nome e grau académico do tutor
Cristina Maria Martins Monteiro
Animadora Cultural
Nome do orientador da ESECD
Maria de Fátima Bartolomeu da Cruz Gonçalves
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NÓS
Içámos as velas do nosso navio!
Queremos navegar neste mar da Vida
Nós temos connosco a força do vento
E a força de um tempo que esteve escondida
Acendemos archotes e alumiámos caminhos
Pintámos as ruas com risos e cores
Abraçámos o Mundo, colhemos esperança
Semeámos encontros e jardins de flores
Que acabem os medos
Olhem para NÓS!
P'ra poder seguir, precisamos de vós (voz)
Escutem silêncios cheios de clamor
Nós temos cá dentro um Mundo de encanto
Uma ALMA INTEIRA
Mil formas de AMOR!
(Poema feito, na ASTA, para o Ano Europeu da Pessoas com Deficiência)
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Lista de Abreviaturas e Siglas
APIE
Associação Portuguesa de Investigação Educacional
CAO
Centro de actividades ocupacionais
CDC
Carta de direitos dos clientes ASTA / Carta da Qualidade
IPSS
Instituição Particular de Solidariedade Social
RI
Regulamento Interno (ASTA)
SAB
Sociedade Antroposófica do Brasil
SPAT
Sociedade Portuguesa de Arte Terapia
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Agradecimentos
Guarda, cidade desconhecida e distante fez-me crescer e aprender um sentido de
vida diferente e que é fundamental neste processo evolutivo que é a vida. Para que tal
fosse possível esteve muita gente envolvida no desencadeamento desta oportunidade,
por isso sinto que seja necessário agradecer a todas as pessoas que de uma forma directa
ou indirecta contribuíram para o meu bem-estar ao longo destes três anos de estudo e de
folia. Como tal, há muito que agradecer e a quem agradecer, sendo o mais sensato
agradecer acima de tudo aos meus progenitores por me terem incutido valores e por me
terem criado e educado de uma forma humilde e calorosa que me fez ter sempre os pés
assentes na terra. O esforço psicológico e físico que fizeram para me terem numa cidade
tão distante não foi em vão, por isso espero ter correspondido às vossas expectativas e
ser motivo de orgulho. Às minhas irmãs pela compreensão, apoio e ajuda incondicional,
às minhas sobrinhas que inconscientemente serviam de meu motor de arranque muitas
vezes…enfim…à minha família, pela confiança e carinho que depositam em mim.
Agradeço a toda a gente que conheci nesta cidade alta e fria, minha segunda
família! Às minhas companheiras de casa, pessoas com quem vivi todos estes anos e
que agradeço o facto de terem aparecido na minha vida! A todas as pessoas que se
foram juntando à minha segunda família, com quem fui compartilhando momentos,
alegrias, melancolias, ensinamentos, reflexões e acima de tudo muitas cumplicidades...o
meu sincero reconhecimento pois foi com vocês que tudo se tornou muito mais simples.
Agradeço também a todos os professores que ajudaram na minha formação,
principalmente os mais exigentes, pois é deles que levo ensinamentos e vontade de me
superar! Á minha orientadora de estágio Maria de Fátima Gonçalves e a todos os
professores que contribuíram para a realização deste relatório.
A oportunidade de estágio neste local fantástico faz-me agradecer à Dr. Maria
José Dinis que aceitou a proposta de estágio, a todos os funcionários e companheiros da
ASTA, a vós, dirijo o meu sincero agradecimento pela forma como me integraram e
fizeram perceber um sentido de vida luminoso e simples. Não esquecendo também da
minha companheira de estágio…sozinha seria mais difícil!
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Agradeço todas as dificuldades que enfrentei, sem elas não conseguiria tornar-me mais
forte, por isso, agradeço a mim também pela minha paz, alegria e desembaraço.
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Índice
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Relatório de Estágio Curricular
ASTA – Associação Sócio-Terapêutica de Almeida
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Introdução
No âmbito do curso de Animação Sociocultural encontra-se planificada a
realização de um estágio curricular no final deste terceiro ano a fim de concluir a
licenciatura do mesmo. A presente escolha de estágio estava já há algum tempo
definida, o que facilitou a força de vontade de o realizar. A ASTA- Associação SócioTerapêutica de Almeida foi, assim, a escolha pessoal uma vez que reunia todos os
requisitos da nossa preferência a nível do futuro profissional. O trabalho com pessoas
portadoras de deficiência mental sempre foi algo que suscitou interesse sendo esta
oportunidade de estágio uma mais-valia considerando que foi possível adquirir novas
metodologias de trabalho. A oportunidade de ficar a habitar na aldeia junto da
comunidade e de alguns companheiros (utentes da ASTA) reforçou o estímulo à entrega
de aprendizagem e de exposição dos conhecimentos adquiridos. O entusiasmo
deparava-se com o receio de não conseguir estar a altura do que íamos enfrentar; novas
pessoas, pessoas diferentes, um mundo de paz (definido como tal por várias pessoas que
conhecem esta instituição). A ASTA utiliza como base do seu trabalho a Pedagogia
Curativa e a Sócio-Terapia, conceitos que foram perceptíveis através de algumas
pesquisas e observação onde encaramos integrado o papel da Animação Sociocultural.
Este relatório de estágio será dividido em três capítulos sendo que no Capítulo I
será feita a localização e a caracterização da instituição fazendo referência aos valores,
políticas, espaços de intervenção, missão e visão, direitos e deveres dos companheiros e
ateliês existentes na ASTA. No Capítulo II irá constar o enquadramento teórico
abordando as diferenças entre deficiente mental/doente mental seguido do contexto da
Animação na Terapia, terminando com uma breve exposição das pedagogias utilizadas
nesta instituição. O Capítulo III irá conter o plano de estágio, presente no (Anexo1), e
descrição de actividades realizadas durante o estágio juntamente com as dificuldades
e/ou facilidades de trabalho ao longo destes últimos três meses. Por fim, a reflexão
crítica onde estará feita a relação do estágio realizado com a Animação Sociocultural
fazendo referência à importância do curso para a execução do mesmo.
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Capítulo I
- A ASTA como instituição -
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1. Caracterização da instituição
A ASTA situa-se no Alto da Fonte Salgueira na Cabreira, pertence ao concelho de
Almeida, distrito da Guarda. A Cabreira é uma das 29 freguesias deste concelho e dista
26 km da vila e está localizada numa encosta bastante íngreme e acidentada na margem
direita da ribeira das Cabras.
Como Instituição Particular de Solidariedade Social (RI- ASTA, 2010) destina-se
a oferecer às pessoas necessitadas de cuidados especiais (essencialmente jovens a
partir dos 16 anos de idade e portadores de deficiência mental e multideficiência), uma
alternativa de vida válida e plena de sentido, contribuindo para a sua integração
social, humana e económica, criando condições de vida as mais normais e autênticas
possíveis. Mais do que normalizar, visa sobretudo individualizar, para que cada um
encontre o caminho mais adequado criando um projecto de vida e construindo um
sentido de SER.
A ASTA foi criada a 2 de Outubro de 1998, por iniciativa Maria José Dinis da
Fonseca, Directora de Serviços. Iniciou as suas actividades como Instituição Particular
de Solidariedade Social, em Outubro de 2000, na casa da própria fundadora.
Actualmente é composta por um grupo de 31 jovens (internos e externos) e 21
colaboradores, conforme a seguinte tabela:
Tabela 1 - Quadro de Colaboradores da ASTA, (ASTA 2010)
Colaborador
Categoria
Andreia Cristina Gonçalves Cordeiro
Técnica Superior de Serviço Social
Conceição Maria Monteiro da Silva
Monitor
Cristina Maria Martins Monteiro
Animador Cultural
Cristina Maria Monteiro Fernandes Fonseca
Ajudante estabelecimento apoio pessoa deficiência
Elisabete Lucas Martins Fonseca
Monitor
Filomena Neves Dias Rito
Escriturária Principal
Imelda Quinás Pereira da Fonseca
Cozinheira
Joana Vitoria
Trabalhador Auxiliar de Serviços Gerais
Jorge Amaro Dos Santos Pires
Técnico Superior de Educação Especial e Reabilitação
José Diniz
Trabalhador Auxiliar de Serviços Gerais
Lucas Sorrentino
Voluntário
Luís Manuel Santos Fonseca
Monitor
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Colaborador
Categoria
Manuel Monteiro Pinheiro
Chefe de Compras
Maria Alice Morgado dos Santos Inácio
Ajudante estabelecimento apoio pessoa deficiência
Maria de la Soledade Durán de Carvalho
Psicóloga
Maria Helena de Oliveira Pereira Miguel
Trabalhador Auxiliar de Serviços Gerais
Maria José Dinis da Fonseca
Directora de Serviços
Marilene Elza das Chagas
Ajudante estabelecimento apoio pessoa deficiência
Pedro Carlos Lopes Pimentel
Monitor
Regina Maria da Costa Silva Fonseca
Professora EBC/Hab. Profissional/ nível 9-0anos
Silvia Quináz da Fonseca Firmino
Trabalhador Hortiflorícola
A estrutura humana está hierarquizada de acordo com o cronograma que a seguir se
apresenta:
Organigrama 2 - Estrutura da ASTA, (ASTA 2010).
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Esta instituição (RI-ASTA, 2010) baseia-se nos princípios da Pedagogia Curativa
e Sócio-Terapia, cujo papel é o de orientar e produzir uma vivência rítmica e
estruturante, dignificadora e geradora de auto-estima e respeito mútuo entre as pessoas
que aqui se encontram numa vivência o mais comunitária possível. Mais do que ocupar
quer, através da convivência e do trabalho Pedagógico e Sócio-Terapêutico num
contexto comunitário de cariz rural, contribuir para a autonomia, auto-suficiência e
auto-estima, por forma a que cada um se converta num membro social digno, útil e
produtivo (respeitando sempre os potenciais e características de cada um), tendo em
conta as três condições indispensáveis para que um ser humano/cidadão se sinta
verdadeiramente incluído: uma família, um trabalho e um grupo social. A ASTA não
tem a intenção directa de normalizar mas sobretudo de individualizar, para que cada
um encontre o caminho mais adequado. As relações interpessoais têm um permanente
carácter pedagógico e terapêutico, isto é, os companheiros/clientes e colaboradores
deverão estar continuamente em situação de formação cívica, moral e socializante (CDC
ASTA, 2010).
A Directora da ASTA comenta, num vídeo à Localvisão (Dinis, 2010) que se
criou uma sociedade harmoniosa de respeito pelo outro, sendo que esta mesma
sociedade só assim o é devido a todos os seus colaboradores e companheiros.
1.1
Valores da ASTA
Os valores da ASTA estipulados na Carta de Qualidade (CDC) e dos direitos dos
clientes são acima de tudo princípios que se prezam e que se tentam transmitir não só
entre quem nela trabalha e os utentes como também a quem a visita, sendo estes (CDC
ASTA, 2010):
1. Rigor; 2. Confidencialidade; 3. Integridade ; 4. Privacidade ; 5. Solidariedade
6. Respeito; 7. Igualdade; 8. Individualidade; 9. Dignidade; 10. Espiritualidade
11. Companheirismo; 12. Cidadania e 13. Criatividade.
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1.2
Política da Qualidade da ASTA
Segundo a CDC da ASTA, a organização define, implementa e controla o seu
compromisso com a satisfação das necessidades e expectativas legítimas dos clientes e
de outras entidades interessadas. Para garantir a execução da política da qualidade, a
organização deve controlar a conformidade dos processos. A gestão da qualidade deve
melhorar a sustentabilidade da organização.
A direcção da ASTA considera que a implementação de um sistema de Gestão da
Qualidade é fundamental no alcance de uma imagem de excelência, nomeadamente no
que diz respeito às boas práticas de todos os colaboradores nela envolvidos. Para tal,
baseia-se nas seguintes linhas de acção (CDC ASTA, 2010):

criar e equipar espaços físicos adequados, susceptíveis de responder às
necessidades terapêuticas e sociais dos utentes, incluindo núcleos habitacionais
com ambiência familiar dentro da própria aldeia, (já existem três: Casa
Cristalina e Casa da Oliveira e Casa São Miguel,) aproveitando casas
degradadas que pudessem ser doadas ou adquiridas a baixo preço. Realiza-se
assim a intenção de uma verdadeira inserção e interacção na comunidade;

responsabilizar e valorizar, através da repartição de tarefas caseiras (olhando
sempre
às
potencialidades
individuais)
entre
utentes e
educadores-
colaboradores, sem privilégios, além de inserir, co-responsabilizando, nas
actividades cívicas da própria aldeia;

interagir com as famílias, para apoio e maior compreensão da globalidade de
cada utente dando apoio individualizado, através de um acompanhamento
biográfico, ocupacional/utilitário e terapêutico;

desenvolver actividades artesanais e artísticas, estimulando terapeuticamente as
potencialidades criativas e promovendo as competências através da carpintaria,
cerâmica & barro, tecelagem, música…;

estabelecer um contacto rítmico com a terra e a natureza aproveitando todo o
espaço rural circundante, através da jardinagem, agro-pecuária e agricultura
biológica;
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
promover manifestações culturais, exposições, congressos e conferências,
susceptíveis de contribuir para uma maior socialização e para o
reconhecimento e dignificação da diferença;

utilizar a Pedagogia Curativa e a Sócio-Terapia como base de trabalho e
convivência.
1.3
Espaços de intervenção
Diariamente distinguem-se os seguintes espaços de intervenção (RI- ASTA,
2010):
 antes das actividades ocupacionais, o dia inicia-se sempre com uma Abertura
conjunta de reflexão, exercícios rítmicos e canto terminando de igual forma.
 as refeições são sempre momentos de especial significado distinguindo-se das
restantes actividades pelo seu carácter de pausa, socialização com o grupo e
satisfação pessoal, marcados também pelos ritmos iniciais e finais de
agradecimento pelos alimentos.
1.4
Visão e Missão da ASTA
De acordo com o definido na CDC a visão da ASTA passa por promover um
espaço sustentável dentro de uma ambiência rural e sócio-terapêutica, onde as pessoas
com deficiência mental/intelectual possam encontrar o seu caminho numa perspectiva
bio-psico-social e espiritual.
Relativamente à missão da instituição a CDC remete para apoio e integração de
pessoas com deficiência ou multideficiência, num contexto terapêutico de cariz
comunitário e familiar, promotor de um desenvolvimento holístico e dignificador.
Os objectivos definidos na instituição são os seguintes (RI-ASTA, 2010):
 desenvolver actividades artesanais e artísticas levadas a cabo nos ateliês de
carpintaria, olaria, agricultura biológica, lavandaria e costura, tecelagem e
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reciclagem de papel entre outras, tendo em vista o desenvolvimento psicomotor e cognitivo, a responsabilização a auto-estima e o sentido utilitário do
trabalho;
 estabelecer um contacto rítmico com a terra e a natureza através da jardinagem,
agro-pecuária e horticultura por forma a despistar ansiedades e harmonizar
humores e ainda criar uma envolvência holística com o mundo mineral, vegetal
e animal;
 dar apoio individualizado através de um acompanhamento biográfico,
ocupacional e fisioterapêutico;
 estimular terapeuticamente as potencialidades criativas e socializantes através
da pintura, do teatro, da música, da dança e outras actividades artísticas;
 promover manifestações culturais, exposições, congressos e conferências
susceptíveis de contribuir para uma maior socialização e para o
reconhecimento e dignificação da diferença.
A instituição (CDC- ASTA, 2010) acredita que toda a pessoa, qualquer que seja o
seu estado mental, é mais do que a sua aparência física e que todo o ser humano está
dotado de uma existência individual. Nenhuma deficiência física ou mental é um acaso
ou uma desgraça, ela tem um sentido e uma finalidade: transformar o curso de uma
vida. Como qualquer ser humano, obrigado a lutar contra diferentes obstáculos e
doenças, a pessoa necessitada de cuidados especiais deverá aprender a viver com as suas
dificuldades e a dominá-las, procurando o possível. O grande objectivo/missão da
ASTA é ajudar nessa aprendizagem e nessa procura, dando-lhe sentido.
1.5
Direitos e Deveres
Relativamente aos direitos dos companheiros definidos pela instituição,
salientamos os seguintes (CDC-ASTA, 2010):

encaminhamento e acompanhamento terapêutico e pedagógico segundo as suas
apetências e necessidades;
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
exposição e defesa das suas opiniões e apresentação de reclamações,
proporcionando-se-lhes a possibilidade de o fazerem em sessões periódicas, em
auto-representações ou em gabinete de apoio individualizado;

respeito pela sua identidade pessoal e reserva de intimidade privada e familiar,
bem como pelos seus usos e costumes;

prestação dos serviços solicitados e contratados para a cobertura das suas
necessidades, tendo em vista manter ou melhorar a sua autonomia;

educação e reabilitação física, social e psicológica;

Animação Sociocultural;
 fruição das áreas inerentes ao CAO (Centro de Actividades Ocupacionais)
como: Refeitório; Sala de Convívio e Wc’s, num espírito familiar de partilha e
de co-responsabilização.
São deveres dos companheiros (CDC-ASTA, 2010):

respeitar os horários estabelecidos internamente;

executar as tarefas, tendo sempre em conta as suas capacidades, para as
quais sejam solicitados pelos colaboradores na manutenção da vida
colectiva da ASTA – limpeza e arrumação dos espaços dos ateliês;

preservar as instalações ou objectos que sejam de utilização colectiva ou
pessoal;

colaborar com as diversas equipas que lhe estão ligadas, no intuito de os
apoiar na satisfação dos seus interesses;

respeitar os colegas e colaboradores;

cumprir as regras estabelecidas pela Direcção, no sentido de um
funcionamento harmonioso e estabilizador;

cumprir regras da instituição, entre elas a proibição de:
o consumir qualquer tipo de estupefacientes ou medicamentos não
sujeitos a prescrição médica;
o fumar nas instalações da Instituição;
o consumir bebidas alcoólicas;
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o utilizar telemóvel e computador fora dos tempos devidamente
estipulados;
o usar chapéu no interior das instalações.
Estes direitos e deveres dos companheiros/utentes da ASTA são fundamentais para
ter uma percepção de como trabalhar com eles.
1.6 Ateliês ou Oficinas Terapêuticas existentes na ASTA
A ASTA possui vários ateliês de actividades para que os seus utentes possam
desenvolver as suas capacidades sensoriais e motoras. O trabalho sócio-terapêutico
desenvolve-se nas seguintes áreas/espaços (ASTA, 2008):
Tecelagem, Carpintaria, Terapias de (Re)habilitação, Olaria & Cerâmica,
Agricultura Biológica e Animação aqui denominado por ateliê de Movimento e
Comunicação.
De seguida iremos descrever de forma sucinta cada ateliê/oficina.
1.6.1
Tecelagem
A tecelagem é um ateliê frequentado por jovens que precisam de um contacto
continuado com o calor, onde os materiais utilizados são essencialmente a lã, o algodão,
e o linho a trabalhar nos teares de madeira. O trabalho neste ateliê permite
(particularmente nos teares) a nível terapêutico uma estimulação da psicomotricidade
global; à aprendizagem do sentido estético na conjugação de cores e formas e também
do sentido utilitário (ASTA 2008).
1.6.2
Carpintaria
Este ateliê trabalha, a madeira que, nos seus diversos estados, constitui um
elemento terapêutico por excelência. Um dos objectivos psicoterapêuticos do trabalho
com a madeira, é o de criar resistência e estabelecer limites a companheiros com
carácter mais impetuoso e/ou permitir para alguns mais introvertidos e “sismáticos”
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uma relação (quase dialogo) de trabalho evolutivo com esta matéria quente e afável
mas também forte e determinante (ASTA 2008).
1.6.3
Terapias e (Re)habilitação
Este ateliê subdivide-se em alguns como: Hidroterapia, Massagem, Arte-Terapia
(Pintura) e Desporto.
Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
1.6.4
Agricultura Biológica
Este ateliê é desenvolvido no espaço circundante da ASTA, na horta A
Sementinha e Quinta da Ribeira na aldeia da Cabreira. Este trabalho permite e promove
competências motoras e sensoriais, dissolve bloqueios neurológicos além de
desenvolver uma sensibilidade rítmica de acordo com a natureza e as estações do ano
(ASTA 2008).
1.6.5
Animação/Movimento e Comunicação
O ateliê de animação pretende despistar comportamentos, gerar autoconfiança e
impulsionar potenciais a nível dramático, musical, auto representativo e expressivo. Na
“exploração” das referidas vertentes dentro de um contexto “bio-psico-social”,
trabalha-se o sentido da responsabilidade, do respeito pelos outros e por si próprio;
treina-se a atenção, a concentração, a memória e o espírito de grupo. Á lei de todas as
componentes pedagógicas e terapêuticas, este ateliê possui um grande sentido de
cidadania e trabalho sociocultural que, tem também como objectivo, a apresentação a
diversos públicos, dos resultados finais (ASTA 2008).
1.6.6
Olaria & Cerâmica
A “olaria & cerâmica” é um ateliê de apoio onde os companheiros elementos que
o
frequentam
saem
apenas
para
actividades
individuais,
terapêuticas e/ou
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complementares. É um ateliê que utiliza como matéria-prima, o barro, moldável e
transformável, permitindo assim uma acção de despistagem diagnóstica, além de
trabalhar a motricidade fina, o conceito de forma, as polaridades (quente/frio;
duro/mole; seco/húmido; suave/rogoso; etc.) estimulando a criatividade plástica e o
sentido rítmico, estético e utilitário. Este ateliê tem um ritmo diário de continuidade
(das 9:30 às 17h, toda a semana) o que permite adquirir um espírito de trabalho e
responsabilização no sentido da criação de peças com intuito de serem adquiridas e
utilizadas (ASTA 2008).
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Capítulo II
-Enquadramento teórico -
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2. Deficiente mental/ doente mental
O termo Reabilitar na Doença Mental e o Habilitar na Deficiência Mental
(Pinheiro, 2008) expressam bem as diferenças entre estes conceitos tão distintos e tão
frequentemente confundidos. Quando nos referimos a Deficiência Mental e a Doença
Mental devemos ter presente que o termo Deficiência Mental se refere a problemas no
funcionamento intelectual e ao nível do comportamento adaptativo ao passo que a
Doença Mental está relacionada com perturbações do foro psiquiátrico.
Segundo Miguel Jorge (1995 p.39), no DSM IV (Manual de Diagnóstico e
Estatística de Distúrbios Mentais, edição de 1994), a deficiência mental é caracterizada
essencialmente por um funcionamento intelectual significativamente inferior à média,
baseando-se em sintomas quantitativos de ordem orgânica e que dizem respeito também
à comunicação, as actividades de vida diária, aos relacionamentos interpessoais e às
habilidades académicas, de trabalho, lazer, saúde e segurança. Segundo este autor,
referindo-se a este manual, a deficiência mental consiste no anteriormente referido
funcionamento intelectual abaixo da média, incluindo também o comprometimento das
habilidades adaptativas, presentes antes dos 18 anos de idade (p.40). Esses
comprometimentos são influenciados por factores genéticos, ambientais e psicológicos,
enfatizando os factores biológicos subtis, a saber: pequenas anormalidades
cromossomáticas, síndromes genéticos e várias exposições tóxicas pré-natais (1995).
Na deficiência mental, a área mais afectada é a inteligência e existem diagnósticos
quantitativos que definem diferentes graus de deficiência mental. A Associação
Americana para a Deficiência Mental (AADM) e a Organização Mundial de Saúde
(OMS) define níveis como está esclarecido na seguinte tabela:
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Tabela 3- Níveis de deficiência segundo a Organização Mundial de Saúde
Esta definição não pretende que se considere apenas o Q.I. uma vez que é
necessário dar importância ao apoio relativamente à pessoa com deficiência mental no
que diz respeito às suas habilidades de comunicação, autonomia, integração social, autocuidado, desenvolvimento autónomo, responsabilidade, colaboração e respeito pelos
outros, bem como favorecer na formação de um auto-conceito e uma auto-imagem
positivos. Posto isto e verificando o Princípio VI relativamente aos Direitos do Cidadão
Deficiente Mental, este cidadão tem direito à educação que deve contribuir para a sua
mais alargada autonomia e inserção social permitindo-lhe desenvolver as suas aptidões,
o juízo pessoal, potenciar o sentido das responsabilidades morais e sociais, e tornar-se
um membro útil à sociedade.
Voltando ao início desta pequena caracterização Reabilitar na Doença Mental e
o Habilitar na Deficiência Mental são conceitos que dizem respeito também ao
trabalho do Animador Sociocultural enquanto agente dinamizador, educador e de
integrador de grupos sociais.
O cidadão com necessidades educativas especiais requer uma inclusão por parte
da sociedade no sentido grupal e é imprescindível referir que (Albuquerque, 2009) a
inclusão da criança com necessidades educativas especiais num grupo típico de
crianças é uma mais-valia para todos. Entende-se o conceito de “Grupo”como um
conjunto de pessoas que estão em interacção durante um período de tempo
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considerável e que consigam desenvolver uma actividade colectiva com objectivos
mútuos para atingirem um fim. Um grupo tem a importância de desempenhar papéis
decisivos na vida humana já que é nele que se processa a socialização do indivíduo
imprescindível à sua formação, enquanto, pessoa. Assim, ao longo da vida do
indivíduo, uma adequada integração em grupos é indispensável para a formação de um
ser humano completo e equilibrado emocional e socialmente. Quando falamos em
grupo e em crianças com necessidades educativas especiais, falamos em interacção,
seja numa escola ou num jardim-de-infância. Esse grupo é o “Grande Grupo” onde a
criança com necessidades educativas especiais deverá ser inserida. No contexto das
crianças com Necessidades Educativas Especiais, estas considerações aplicam-se
igualmente aos adultos portadores de deficiência mental cuja integração não esteve
presente desde os seus inícios de vida. Na ASTA, a integração destes jovens e adultos
provém de uma necessidade que não está muito desenvolvida nos nossos dias. Assim,
cabe ao Animador Sociocultural trabalhar a nível da integração destes indivíduos numa
ambiência social dando-lhe o devido apoio cultural de que necessita todo o ser humano
assistindo também de uma forma terapêutica e pedagógica.
2.1 A Animação Sociocultural na Terapia
A Animação é uma metodologia de intervenção e pertence ao âmbito de acção
quer seja este social, cultural ou educativo. Por sua vez, as terapias relacionam-se mais
com a psicologia, a psiquiatria ou a medicina.
Segundo Ezequiel Ander Egg (Lopes, 2007, p.41) quando expressamos carinho a
outra pessoa, e quando a sabemos escutar, com compreensão e empatia, estes gestos e
estas formas de nos relacionarmos, podem ser mais efectivas para “curar” o mal dos
outros que fazer um bom diagnóstico médico. O olhar, o sorriso, o abraço, os beijos
têm mais relevância e significado sobre o estado de ânimo de outra pessoa que o acto
de “passar receitas”, recomendando medicamentos, que são a ultima descoberta da
industria farmacêutica. Algumas Terapias Alternativas tais como a saudoterapia, a
miradoterapia, a sorrisoterapia, a caricioterapia, a alegroterapia e beijoterapia
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ajudam o indivíduo a libertar a sua espontaneidade pois, ao libertar as suas repressões,
acrescenta a sua capacidade de se expressar, ajuda a curar feridas emocionais e,
sobretudo, fazem-no mais feliz, pois dá mais acrescentos na vontade de viver.
Marcelino de Sousa Lopes (p.77 2007). afirma que a Animação Terapêutica
apoia-se no contributo que as diferentes artes e as diferentes práticas sociais, culturais
e educativas podem trazer no sentido de levar o ser humano ao humanismo, permitindo
que a pessoa seja actor e não espectador; cidadão com cidadania plena e isto significa
a projecção de um ser autónomo, dialogante, participante, militante das causas nobres,
solidário, político e homem comprometido com o outro homem. Deste modo, a
animação requer não o produto artístico mas o processo gerado pelas diferentes artes,
suplica por um indivíduo que faça das suas práticas sociais uma via para o encontro, a
interacção e uma participação que implica desenvolvimento, reclama uma educação,
não apenas centralizada e assente unicamente no edifício escolar mas que investiga
propósitos novos, práticas partilhadas pela chamada educação comunitária. Na
perspectiva deste autor, a intervenção de programas de animação, artes e terapias podem
igualmente constituir um assinalável contributo para um vasto número de seres
dispersos por todas as faixas etárias que recorrendo a este tipo de metodologia podem
encontrar respostas satisfatórias para um conjunto de males, nomeadamente:
marginalização, exclusão, agressividade, violência, depressões, angústias, tensões,
toxicodependência, inibições, temores, alcoolismo, stress, etc.
A Animação deve então aliar-se a programas terapêuticos e começa hoje a
emergir uma nova forma de fazer política que vê na animação uma eficaz metodologia
no sentido de diminuir a violência, a delinquência juvenil, a agressividade, a
toxicodependência, o alcoolismo, isto é, uma animação terapêutica ao serviço de
politicas sociais, culturais e educativas promotoras de um novo conceito de educação
para a saúde, educação para o ambiente, educação para os valores, educação para o ócio
e o tempo livre, educação para a cidadania, educação para a participação e também uma
educação assente na prevenção (LOPES, Marcelino p.78 2007).
Por sua vez Animador é considerado aquele que anima, que faz alimentar
esperanças (do latim que dá vida). A relação entre estes dois conceitos faz todo o
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sentido também na área da Saúde Mental. A Animação Sociocultural nasce como
forma de promoção de actividades destinadas a preencher criativamente o tempo livre.
Aqui é novamente apresentado um outro conceito inteiramente ligado à temática do
tempo livre. Dumazedier (1962) atribui ao Tempo Livre três funções a função de
Passatempo, Divertimento e Desenvolvimento. Segundo este autor enquanto
passatempo, este é visto como “reparador” das deteriorações físicas e psíquicas
provocadas pela tensão quotidiana. Se enquanto passatempo é derivado do cansaço,
enquanto
divertimento
advém
sobretudo
do
aborrecimento.
A
função
de
desenvolvimento é que permite uma participação social mais ampla, mais dinâmica e
mais livre. A Animação enquanto “Ciência”, se assim a podemos definir, envolve todos
estes conceitos e definições. E na área da Saúde Mental ela não é diferente, apenas
congrega outras especificidades da área (FERREIRA, Dídia 2007). Américo Nunes
define o tempo como vida e afirma que a vida é tomar partido nos projectos em que
acreditamos, quer em tempo de trabalho quer em tempos livres ou de ócio. Por isso,
urge animar a animação. Neste mundo complexo, não existe uma animação, mas, face à
diversidade humana, às diferentes vivências e realizações pessoais e comunitárias,
existem múltiplos âmbitos da animação, que vão fazendo caminho, como, por exemplo:
animação da terceira idade, animação de adultos, animação juvenil e animação
infantil, em função da idade; animação rural e animação urbana, de acordo com o
espaço de intervenção; animação para a inclusão social, animação para as minorias
étnicas, animação para grupos com comportamentos de risco, animação sociolaboral e
de empresas, animação sanitária e hospitalar, animação turística, animação e
desenvolvimento comunitário, etc., em função de problemáticas e temas específicos.
Decorrente da mundividência destes âmbitos, urge desenvolver programas de formação
que proporcionem conhecimentos, praticas e recurso, que habilitem os animadores a
lançar no terreno projectos de intervenção nas diferentes áreas da animação. Recorrer
à pedagogia do ócio para melhorar a qualidade de vida e a realização pessoal do ser
humano é um dos grandes desafios da Animação Sociocultural. Assim, as
desigualdades e injustiças, a pobreza e a exclusão exigem uma luta sem tréguas a favor
da dignidade da pessoa humana, fundamento ético dos valores e dos direitos humanos
(Lopes, Marcelino, 2007 p.93).
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O papel multifacetado do Animador Sociocultural faz então com que este trabalhe
a nível do ócio dando ao grupo com quem trabalha uma maior dignificação e gosto pelo
trabalho. Posto isto, a Animação Sociocultural deverá abordar, numa visão pessoal,
novas metodologias de trabalho relativamente à forma como trabalhar com o cidadão
portador de alguma deficiência mental uma vez que este necessita de ser encarado na
sociedade como um ser considerado “normal”, possuidor de habilidades de trabalho e de
percepção da realidade, cabendo assim ao Animador Sociocultural o papel de fazer com
que tal se concretize a nível social.
2.2 Pedagogias aplicadas na ASTA
2.2.1
Antroposofia
O termo Antroposofia vem do grego e significa “conhecimento do ser humano”. Esta
está directamente ligada às actividades do austríaco Rudolf Steiner (1861-1925) que
esteve algum tempo ligado á Sociedade Teosófica. A definição desta diz que se trata
então de um método de conhecimento da natureza, do ser humano e do universo que
amplia o conhecimento obtido pelo método científico convencional, bem como trata da
aplicação desse conhecimento em praticamente todas as áreas da vida humana (SAB
2009). Para Rudolf Steiner, considerando os cinco sentidos, o “oculto” é aquilo que não
está acessível aos nossos sentidos físicos. Segundo Valdemar W. Setzer, estudioso da
Antroposofia desde 1961, e membro desde 1971, com os sentidos conhecidos não é
possível observar certas actividades interiores do ser humano tais como, como os
sentimentos e os pensamentos. Os nossos sentimentos e pensamentos não são
perceptíveis pelas pessoas nem por máquinas, portanto, estes são ocultos no sentido que
Steiner quis dar à palavra sendo que Stezer afirma que o que dá vida ao ser vivo é oculto
na medida em que as manifestações deste são perceptíveis através do seu próprio ser,
contudo a essência da vida não é perceptível relativamente aos nossos sentidos físicos.
Assim, diz-se que uma contribuição fundamental de Steiner foi chamar a atenção para
o facto de que esse “oculto” pode ser investigado com a mesma clareza com que se
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investigam os fenómenos físicos, ainda que essa investigação seja realizada com outros
métodos e com outros órgãos de percepção, que também são “ocultos” (SAB, 2009).
Existem itens que distinguem a Antroposofia de outros conjuntos de ideias, filosofias
e práticas sendo que um deles é a abrangência uma vez que a Antroposofia cobre toda a
vida humana e a natureza, podendo ser aplicada em todas as áreas da vida. A realização
prática desta dirige-se à Pedagogia Waldorf, existente desde 1919, e hoje aplicada em
mais de 800 escolas no mundo, 13 delas no Brasil onde é encarado do ponto de vista
físico, anímico e espiritual, e o desabrochar progressivo desses três constituintes bem
como da sua organização. Assim, cultiva-se o querer (agir) através da actividade
corpórea dos alunos em praticamente quase todas as aulas; o sentir é incentivado por
meio de abordagem artística constante em todas as matérias, além de actividades
artísticas e artesanais, específicas para cada idade. Outro aspecto, ligado ao
espiritualismo, é que o seu método propicia-se se chegar ao facto de que o universo não
é constituído apenas de matéria e energia física, mas descobre um mundo espiritual
estruturado de maneira complexa em vários níveis. Por exemplo, a Antroposofia diz
que os seres humanos têm um nível de “substância” espiritual, não-física, mais
complexa do que a das plantas e dos animais, e também descreve seres puramente
espirituais, sem expressão física e que actuam em diferentes níveis de espiritualidade.
Entende que alguns desses seres estão em níveis acima dos níveis da constituição
humana, mas ainda assim são compreensíveis por meio de uma observação directa
“supra-sensorial”. Dessa forma, diz que a substância física é uma condensação da
“substância” espiritual, não-física e para ela não existe o paradoxo do espírito actuar
na matéria, uma vez que o espírito é a origem de tudo (SAB 2009).
2.2.2
Terapia Social ou Terapia de convívio
Segundo a Sociedade Antroposófica do Brasil é importante salientar que as
necessidades dos seres humanos não são apenas físicas, como as de alimentação,
vestuário, moradia, transporte, etc. Há necessidades culturais, como a educação e a
auto educação, o contacto com obras artísticas e científicas, a obtenção de informação
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e conhecimento, etc. Há ainda necessidades essencialmente individuais, como a
possibilidade de perseguir e concretizar um ideal, realizar-se na vida, etc. Também
existem habilidades que não são puramente físicas, como resolver conflitos entre
pessoas, ter novas ideias, ser criativo (SAB 2009). É a este nível que actua a terapia
social ou terapia de convívio, integrada na Antroposofia uma vez que destina-se a
assistir pessoas já adultas que precisam de cuidados. Em 1939 o Dr. Karl König fundou,
por meio das chamadas Comunidades Camphill, diversos centros residenciais e aldeias
para pessoas com e sem problemas, criando assim uma forma de sociedade, na qual
não haveria discriminação e sim uma verdadeira sociabilidade e integração de todos.
Isso tornou-se, no "primeiro mundo", particularmente para os adultos especiais, uma
alternativa digna às instituições terapêuticas, nas quais eles eram tratados como
doentes ou deficientes. Na terapia social não se trata de educar o outro uma vez que
todos são adultos, esta ocorre por meio do ajustamento mútuo, orgânico e respeitoso
libertando a pessoa especial do rótulo de "coitadinho" e incapaz, dando-lhe não
somente auto-estima, mas uma verdadeira e valiosa função no mundo (SAB 2010). A
SAB refere que, na Terapia Social vive-se o outro lado do trabalho pois a alegria de
poder servir o outro, o gosto de poder fornecer ao outro o que ele precisa e de receber
esse serviço de maneira recíproca (SAB 2009). É basicamente por isso que as oficinas
ou ateliês são também chamadas de Oficinas Terapêuticas.
2.2.3
A Arte-Terapia
A Arte-Terapia está também aqui integrada uma vez que esta é um método de
tratamento psicológico, que visa integrar no contexto psicoterapêutico mediadores
artísticos. Tal origina uma relação terapêutica particular, assente na interacção entre o
sujeito (criador), o objecto de arte (criação) e o terapeuta (receptor) sendo que o recurso
à imaginação, ao simbolismo e a metáforas enriquece e incrementa o processo (SPAT
2004). A Arte-Terapia intervém a nível psicoterapêutico por meio de Desenho,
Colagens, Pintura, Modelagem, Escultura, Drama e Jogos Dramáticos, Marionetas,
Expressão Corporal, Música, Canto, Poesia, Escrita Livre Criativa e Contos. O
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entendimento do fenómeno psicológico em Arte-Terapia deverá ter em conta as
perspectivas afectiva-relacional, existencial e cognitiva (SPAT 2004). A expressão
artística é central nesta psicoterapia pois é através do objecto de criação que é possível o
acesso não só ao valor informativo, ou mesmo estético, mas sim pelo seu valor como
mediador da expressão, como veículo de elaboração e como ensaio do processo criativo.
Segundo a Sociedade Portuguesa de Arte Terapia, a função do imaginário é
fundamental em Arte-Terapia para aceder a pensamentos, sentimentos, memórias,
aspectos da personalidade e do self, alguns dos quais sem representação mental
consciente e carecendo se serem integrados; para uma mais intensa e profunda
compreensão do sentimento ou situação e para desenvolver a capacidade de ver e agir
através de opções criativas, evitando o recurso a uma cognição prematura e limitada.
A experiência artística pode intensificar a expressão de vivências, bem como
incrementar a consciencialização do sensorial e do equilíbrio estético. No contexto da
Arte-Terapia, a facilitação de tal tomada de consciência pode ser importante para
promover a riqueza, a vitalidade e a qualidade de vida. A expressão mediada
possibilita também a mobilização de pulsões reprimidas, facilitando assim uma vida
psicológica mais livre. Imagens de transformação e mudança, representadas nas
criações artísticas, dão expressão à função reparadora, no decurso do processo
terapêutico (SPAT 2004).
2.2.4
A Euritmia Curativa
O nome Euritmia foi proposto por Marie Steiner para a nova dança que surgia,
mas existe como palavra e como conceito desde a Época Clássica na Grécia. Na sua
obra de nome "Kanon", o conceituado escultor de Argos, Polykleitos (440 A.C.), define
extensamente o conceito eurythmia como o equilíbrio de forças actuantes no corpo
humano; eu-rhythmós – o ritmo equilibrado, belo, harmonioso é uma categoria estética
oculta das Artes Plásticas. Também o arquitecto romano Vitruv (25 A.C.) utiliza o
conceito "euritmia", relacionando-o com a harmonia na arte de construir. Na Época
Clássica de Weimar (1786-1832) surge novamente o nome Eurythmie, cujo conceito é
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definido por Herder como a "ordem benfazeja de um centro em relação a dois extremos
(BARRETO, Marília 1998).
A Euritmia é uma nova forma de dança que vem sendo amplamente desenvolvida,
especialmente na Europa (Alemanha, Holanda, Suíça e Inglaterra), desde o início deste
século. Inúmeras pesquisas nas áreas da Educação e da Medicina de inspiração
antroposófica levaram à sua adopção no currículo das mais de 400 Escolas Waldorf em
todos os continentes e como complemento terapêutico em diversos países. Como arte
ela propõe-se a pesquisar o movimento intrínseco da linguagem poética e da música,
como ele se configura no fluxo da fala e no desenvolvimento dos sons, com todos os
seus matizes de sentimento, levando também em consideração o conteúdo específico
expresso pelo poeta ou pelo compositor. Esse elemento artístico-plástico da fala e da
música é transposto para o espaço cénico através do movimento coreográfico,
complementado pelas cores das indumentárias e da iluminação. Simultaneamente com
recitação ou música ao vivo a Euritmia dança, assim, o desenvolvimento dos sons de
poesias e músicas, em toda sua complexidade (BARRETO, Marília 1998).
Estas noções de Euritmia foram essenciais na participação e monitorização,
quando solicitada do ateliê de Movimento e Comunicação.
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Capítulo III
- O Estágio na ASTA -
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3. Objectivos de trabalho
De acordo com o estabelecido no plano de estágio (Anexo1), foram determinados
alguns objectivos, os quais passamos a apresentar:

observar as dinâmicas da instituição;

assistir nos ateliês e aulas, dentro do contexto lúdico-expressivo,
nomeadamente: Papel Reciclado, Olaria, Tecelagem, Movimento e
Comunicação (Animação), Pé Coxinho, Agricultura Biológica, Carpintaria,
Manutenção e Piscina;

participar e intervir na organização e coordenação de eventos que constam
no programa de actividades da instituição e nas tardes culturais semanais;

apoiar o ateliê de Olaria, de segunda a sexta-feira todas as manhãs;

participar no ateliê de movimento e comunicação, de Terça e quinta-feira à
tarde;
Inserido no programa de actividades da ASTA (Anexo2), a participação e apoio
nestas seriam nas seguintes datas:

29 de Setembro – Comemoração do São Miguel com jogos de
coragem nas instalações da ASTA;

11 de Novembro – Festejo de S. Martinho com dramatização da
lenda na aldeia e cortejo de lanternas com a povoação e crianças das
proximidades;

2 de Outubro – Comemoração do 10º aniversário da ASTA,
marcando este ano a “Arte da ruralidade”;

2 de Dezembro – “O jardim do Advento” na ASTA;

15 de Dezembro – Representação do “Auto dos Pastores”
Os objectivos mencionados no plano de actividades concretizaram-se a todos os
níveis. A Olaria foi a actividade mais desenvolvida durante o período de estágio, uma
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vez que a instituição definiu a participação neste ateliê dando a possibilidade de ambas
as estagiárias de Animação Sociocultural trabalharem em ateliês diferentes.
Relativamente à Tecelagem, foram realizadas actividades conjuntas no ateliê de
olaria a fim de integrar novos companheiros. Na ausência Animadora Sociocultural foinos solicitada a dinamização do ateliê de Movimento e Comunicação, no entanto todas
as terças e quintas-feiras à tarde participávamos nas actividades desenvolvidas pela
Animadora.
Durante o estágio demos apoio ao grupo musical da ASTA, Pé Coxinho,
essencialmente a nível vocal, durante os ensaios.
Na Carpintaria, até meados do mês de Outubro, dois dos companheiros
pertencentes a este ateliê permaneceram na Olaria e foram desenvolvidos trabalhos com
eles no contexto do seu ateliê (Anexo em suporte informático). Durante o mês de
Dezembro, por decisão da ASTA, os almoços passaram a ser servidos na Casa da
Oliveira, na aldeia da Cabreira. Neste período realizamos o transporte da alimentação da
Instituição para a Cabreira. Esta actividade enquadrou-se no âmbito da Agricultura
Biológica. Também foram pintados os novos azulejos para a Quinta da Ribeira, com os
nomes dos animais (Anexo 4). Relativamente à Manutenção, a pintura dos planetas
existentes no exterior da instituição resultam também do apoio dado. Quanto à Piscina
Terapêutica as tarefas resumiram-se ao transporte de companheiros para almoço ou à
substituição do monitor.
4. Actividades realizadas
O dia começava às 9:30h com a abertura do salão onde companheiros e
colaboradores reunidos faziam exercícios de Euritmia, seguido com o canto de músicas
alusivas à estação do ano e à época em questão, fazendo, por fim, a oração da manhã.
Estes exercícios visam não só a trabalhar a noção de presença terrestre, no sentido
grupal, mas também a abertura para um novo dia onde o “A” e o “E” eurítmicos
significam o erradicar da terra e tudo o que esta possui, dando ao mundo o que nos é
susceptível. A oração é praticada com o objectivo de inspirar uma predisposição para o
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novo dia que se inicia, mas também vocacionada para o desenvolvimento das
capacidades existentes em cada companheiro, como por exemplo:
O dia começa e minha alma acorda e depois do acordar eu preparo-me para
agir, disponho-me a trabalhar. Eu faço parte do mundo e tenho muito para dar! Farei
tudo o que puder, farei tudo o que souber, para ter uma forma de vida, para ter uma
forma de amar.
De seguida, cada companheiro ia para o seu ateliê, local de trabalho, onde
realizavam inúmeras tarefas, tendo uma pausa às 10:30 para comer uma peça de fruta e
uma bolacha, entregue pelo monitor. Perto das 11:50 dava-mos auxílio a algumas
companheiras à casa de banho, as que se deslocam em cadeira de rodas ou, no caso da
companheira Fátima, que tem epilepsia e a qualquer momento poderia ter um ataque.
Perto do meio-dia, deslocávamo-nos para almoço, onde das quatro mesas
ocupadas, em cada mesa de cinco lugares existiam dois monitores ou colaboradores
para distribuir a refeição e manter uma ambiência harmoniosa auxiliando nas
dificuldades de cada um. Esta ambiência resultava também de um respeito pelo ritmo de
inicio e de fim das refeições, a oração. Esta oração não tem cariz religioso e pretende
acima de tudo incutir através deste ritmo, a percepção do sentido grupal. A tarefa de
monitorização da mesa também ficou a nosso cargo e do outro monitor presente,
excepto nas semanas entre 1 e 17 de Dezembro em que a monitorização da mesa era
realizada por nós, ou por outra monitora.
Durante este mês, o transporte da refeição à aldeia da Cabreira para o grupo que
trabalha na Agricultura Biológica que passou a almoçar na Casa da Oliveira. Este
transporte era realizado intercalando os dias com a colega também estagiária. O
regresso aos ateliês era às 14:30h, sendo assim o tempo desde o fim do almoço (13h) até
essa hora, momentos de convívio, de conhecimento e “brincadeira” com os
companheiros.
Por volta das 16:45h os companheiros arrumavam o ateliê e o monitor distribuía o
lanche para regressarem a suas casas às 17h.
Às sextas-feiras à tarde, todos os companheiros e monitores juntavam-se no salão
das instalações da ASTA para as “Tardes Culturais” onde se realizavam tardes de
cinema, cânticos, exercícios e danças que envolvam todos os companheiros num sentido
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grupal e de libertação pessoal. Foi elaborado um calendário pessoal onde exponho datas
e actividades realizadas (Anexo3).
4.1 Olaria & Cerâmica
Na olaria, trabalham cerca de 12 companheiros e a monitora Elisabete Fonseca.
Aqui, o trabalho iniciava-se com a escrita da data que continha a localização espacial,
temporal e identificação do planeta referente ao dia. Todos os companheiros possuem
um caderno e escrevem essa data com ou sem ajuda, dependendo das suas limitações.
Fazendo parte deste ateliê, o trabalho como animadora foi essencialmente
pedagógico e educacional ajudando cada um a criar dentro das suas limitações. Foi
nosso objectivo promover a interacção entre o sujeito (criador), o objecto de arte
(criação) e o terapeuta (receptor). O trabalho neste ateliê foi sobretudo individual, onde
cada um foi estimulado a realizar actividades assistindo no desenvolvimento não só das
suas aptidões pessoais como também dando apoio relativamente à forma como a sua
patologia poderá ser cuidada e amplificada. Reconhecemos que seja pertinente relatar
alguns casos em que o nosso trabalho foi algo de recompensador não só para a
integração do companheiro na instituição como também para o nosso crescimento e
enaltecimento enquanto Animadora Sociocultural.
A chegada de dois novos companheiros à ASTA e ao ateliê de Olaria deu-nos a
possibilidade iniciar o trabalho com eles de acordo com a sua patologia, exigindo
portanto uma concentração, estudo, observação e dedicação maiores do que é necessário
com qualquer outro grupo que não portador de deficiência. Iremos debruçar-nos sobre
estes dois companheiros em particular pois permitem demonstrar o trabalho real do
Animador Sociocultural neste contexto.
Estes novos companheiros são a Marta de 32 anos (caso A) e o Paulo de 45 anos
(caso B) que apresentam as seguintes patologias: o Défice de Atenção e
Hiperactividade (TDAH) e Síndrome de Down ou Trissomia 21 respectivamente, ambos
com repugna à sujidade1.
1
Esta característica foi, a mais difícil de controlar uma vez que no ateliê em questão têm que trabalhar o
barro, logo, há contacto com “sujidade”.
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No caso A, ou seja, no companheiro portador do Défice de Atenção e
Hiperactividade, recorremos aos critérios de diagnóstico elaborados por Jiménez, 1991
sendo estes: para perceber a patologia
a) Falta de atenção (pelo menos 3 dos seguintes sintomas):

frequentemente não consegue acabar as actividades que inicia;

frequentemente parece não estar a ouvir o que se lhe diz;

distrai-se facilmente;

tem dificuldades em concentrar-se no trabalho escolar ou em actividades que
exijam atenção focalizada (capacidade de manter o foco da atenção ao longo
do tempo);

tem dificuldades para se concentrar no jogo.
b) Impulsividade (pelo menos 3 dos seguintes sintomas):

frequentemente actua antes de pensar;

muda com excessiva frequência de uma actividade para outra;

Tem dificuldades para se organizar no trabalho;

Necessita de constante supervisão;

Há necessidade de o chamar frequentemente à atenção;

Custa-lhe aguardar pela sua vez em jogos ou noutras situações grupais.
c) Hiperactividade (pelo menos 2 dos seguintes sintomas):

Corre de um lado para o outro de forma excessiva (sobe os móveis por
exemplo);

Custa-lhe muito manter-se quieto num sítio e move-se excessivamente;

Move-se muito durante o sono;

Está sempre em «movimento» ou actua como se fosse «movido por um
motor».
Ao longo dos dois meses em contacto com este caso constatamos que a
hiperactividade pode então ser de certa forma superada com acções que chamem a
atenção de quem tem esta patologia. Através da observação dos factos verificamos que a
velha máxima “se não o consegues vencer, junta-te a ele” predomina uma vez que o
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cansaço físico acaba por compensar o cansaço psicológico. Aqui, o facto de compactuar
com certos momentos de euforia serviu para desenraizar por parte da companheira o
gosto pelo trabalho e uma maior focalização no local de trabalho, algo que inicialmente
era impossível. Aquando da sua chegada, a Marta corria de um lado para o outro de
forma excessiva por vezes subindo os móveis e não queria estar no ateliê estando
sempre a “testar” de modo a perceber qual o ponto fraco do monitor a fim de o saturar
para conseguir fazer prevalecer a sua vontade (atitude permanente em mais patologias).
Inicialmente a permanência no ateliê só era possível através da utilização de
material não pertencente à olaria uma vez que, como referimos, o facto de tocar no
barro implicava sujar as mãos, factor de repugna por parte da companheira. Dobar era a
actividade que a fazia manter então no local de trabalho pois realizava algo que gostava
sem ter que se sujar.
A primeira etapa estava então concluída, a Marta já permanecia no ateliê e sentia-se
pertencente ao mesmo, sendo o meu objectivo seguinte, fazer com que se interessasse
pelo barro. Assim, através da observação de criações dos colegas, a companheira
começou então a interessar-se por este material tentando tocá-lo mas sempre com
receio, sendo que para que esta fase fosse ultrapassada cabia-me, através de gestos
simples, tocar nas suas mãos com as minhas revestidas de barro. Cada peça que seja
produzida tem que ter uma finalidade e uma vez que o primeiro objecto criado pela
Marta foi um pequeno cilindro que por iniciativa própria foi transformado em círculo.
A ideia de tornar esses círculos proveitosos (Ilustração 1) foi a utilização destes para
realizar um suporte para velas sendo que a base foi realizada pela monitora mas a
pintura foi a própria Marta a faze-lo não tendo ainda concluído pois falta a cozedura do
barro no forno.
O segundo trabalho realizado com esta companheira foi o da pintura de azulejos,
(efectuado com todos os outros companheiros deste ateliê) trabalho este efectuado em
aproximadamente um minuto, sintoma completamente normal da sua patologia.
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Ilustração 1- Suporte de velas Marta
Seguidamente, a Marta passou a fazer bolas com barro, passando a ter assim um
maior contacto com o mesmo. Destas bolas achatava um dos lados fazendo assim uma
base onde na parte superior efectuou desenhos dando forma a colares, também estes
ainda não finalizados uma vez que necessitam de ir ao forno. Por fim, o trabalho mais
elaborado começado pela Marta foi um pote que devido ao excesso de água que esta
depositava no barro, fez com que este se quebrasse de um lado. Outros objectos
realizados por esta companheira eram pequenos potes ou bacios em miniatura que eram
feitos rapidamente e com muita facilidade. Tendo estes dois materiais ocorreu-me
realizar com eles um presépio, sendo que o primeiro pote grande serviu de estábulo e o
pequeno serviu de manjedoura. As bolas para as cabeças bem como as mantas foram
por mim pedidas à Marta que as efectuasse a fim de ajudar nesta montagem chamando
assim a sua atenção para a época em questão, bem como da utilidade do que criou,
apesar de um dos objectos ter rachado.
Ilustração 2 – Marta na construção do seu primeiro pote
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Ilustração 3 - Presépio aproveitando os trabalhos realizados pela Marta
Deste modo, o trabalho desenvolvido com esta companheira foi elucidativo uma
vez que nos fez ter a percepção de como lidar com situações deste género em que
provavelmente me irei deparar mais vezes. Foi perceptível a criatividade que o
Animador Sociocultural deve ter para que de uma forma simples consiga veicular o
indivíduo contribuindo a nível do seu tratamento comportamental fazendo-o
desenvolver a sua concentração e dedicação pelo que é capaz de realizar.
Relativamente ao caso B, segundo NEE, o Síndrome de Down implica problemas
cerebrais, de desenvolvimento físico e fisiológico e da saúde em geral do indivíduo. A
maioria das alterações orgânicas produzem-se durante o desenvolvimento fetal e o
diagnóstico pode-se realizar no momento do nascimento. Alguns autores consideram
que os maus resultados e os problemas na aprendizagem e na memorização são devidos
a dificuldades na categorização conceptual e na codificação simbólica. Desta forma,
segundo esta teoria, a criança com Síndrome de Down, apesar de não dispor de um
mecanismo de estruturas mentais de assimilação como as outras crianças, aprende
sobretudo através de imagens (o concreto) e não por conceitos (o abstracto);
(Jiménez,1991) .
O trabalho com o Paulo foi desenvolvido sobretudo através de imagens sendo que
os trabalhos por ele elaborados apenas foram por tentativa de observação da minha
parte. O Paulo chegou no dia 13 de Outubro após a morte dos seus pais com quem viveu
toda a sua vida. Este passou o seu primeiro dia a deambular pela ASTA fugindo do
contacto social e do interior das instalações sendo que ao saber que ia permanecer no
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ateliê de olaria deveria tentar fazer com que ele se integrasse. Para que tal acontecesse e
para que percebêssemos o modo de como poderia trabalhar com ele efectuávamos todos
os dias caminhadas em redor das instalações da ASTA. Durante estas caminhadas tentei
perceber melhor a linguagem do “Paulinho” bem como o seu modo de reagir ao pisar
diferentes tipos de piso, pegar em plantas ou objectos pelo caminho. Nada que
implicasse sujar era realizado por ele e o facto de pronunciar pouco vocabulário exigiu
uma maior concentração para perceber sinais de positivos ou negativos relativamente ao
proposto. Como maior relativamente ao trabalho com este companheiro defini a fadiga
e certas teimosias da sua parte sendo que com a empatia criada entre nós fez com que
estes momentos fossem menos frequentes e ajudassem na realização de certas tarefas.
Assim, as actividades que o Paulo realizou foram inicialmente a escrita da data no
seu caderno, actividade que inicialmente era impossível pois o facto de agarrar a sua
mão para escrever a data era correspondido em modo de rejeição. Passando assim esta
etapa o Paulo começou pintar diariamente no seu caderno modificando a intensidade e a
diversidade das cores que utilizava, o que fazia com que fosse mais fácil a percepção do
seu estado de espírito. De seguida começou a pegar em bolas de barro (já pintadas),
enfileirando estas no fio, contactando já com este material, na última semana do mês de
Novembro. Por fim, no decorrer de pinturas de azulejos, através da referida empatia
entre monitor e companheiro, começou a pintar azulejos fazendo os seus característicos
“riscos em linha recta”.
Tendo estes dois casos que muito contribuíram para a complementar a nossa
formação enquanto Animadora Sociocultural e acima de tudo enquanto ser humano.
Com estes trabalhos desenvolvidos, especificamente com estes companheiros, foram
também concretizados outros trabalhos com todos os que pertencem a este ateliê, sendo
pertinente abordar um outro caso, o da Maria.
Outro caso que convém salientar, No caso da companheira Maria, o seu autismo
fazia com que não conseguisse sequer fazer uma bola com o barro. A formação de uma
bola não só ia ajudar a Maria a criar algo mas também ia ajudar na formação da sua
personalidade, uma vez que possui vários “eus”. A simplicidade desta tarefa não lembra
o objectivo que esta tem. Como aqui o trabalho se faz “ombro a ombro”, ambas
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passamos algumas semanas simplesmente a fazer bolas que ao longo do tempo foram
sendo aperfeiçoadas e sempre realizadas com um objectivo. O propósito de cada objecto
é que faz com que os companheiros trabalhem com lucidez e sobriedade de pensamento,
ou seja, “eu faço porque vai ser utilizado para isto” havendo assim uma maior
motivação de trabalho. No caso da Maria, as suas bolas foram aproveitadas para vários
fins tais como bolas para os espanta-espíritos que são muito requisitados na olaria, bem
como para base de velas. O aperfeiçoamento foi se dando e o gosto pelo trabalho
realizado por parte da companheira fez com que o resultado fosse positivo uma vez que
a Maria já fizesse as bolas e as juntasse de modo a fazer assim o suporte para as velas.
Aqui está o resultado quase final do trabalho elaborado pela Maria, uma vez que ainda
falta ir ao forno para cozer, seguindo-se da pintura e nova ida ao forno para ficar com o
vidrado final.
Ilustração 4 – Suporte de velas da Maria
Outros casos Um outro companheiro cujo trabalho desenvolvido com este foi
extremamente esclarecedor do modo como lidar com um indivíduo com deficiência
visual cujo seu ateliê terapêutico é a Carpintaria. Este companheiro permaneceu no
ateliê de Olaria até meados do mês de Outubro e a preparação de um tronco para futuras
utilidades. (Anexo X).
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Ilustração 5 – Trabalho desenvolvido com o Luís
Fonte: Localvisão vídeos
Uma nova actividade desenvolvida com os companheiros deste ateliê foi a pintura
de azulejos em que cada companheiro pintou um ou mais azulejos com um corante que
com a posterior ida ao forno ficavam com um aspecto vidrado. Este procedimento
realizava-se da seguinte forma: inicialmente pintavam-se nos azulejos em branco mas já
com vidrado (Ilustração 6) onde posteriormente este azulejo ia ao forno2 e depois deixar
a temperatura baixar desde os 1098º até aproximadamente 95º. De seguida retirar as
tampas para a temperatura ir baixando mais perto dos 150º. Quando o forno marcar
cerca dos 75º, abrir a porta e deixar arrefecer, tirando de seguida o “produto final” 3.
Ilustração 6- Pintura previa do
azulejo
Ilustração 7- Forno fechado
Ilustração 8- Azulejos, resultado
final
1
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Actividades paralelas a esta foram as caminhadas realizadas às sextas-feiras de
manhã juntamente com os companheiros pertencentes ao ateliê de Tecelagem e
monitoras. Estas caminhadas tinham como finalidade verificar os efeitos da caminhada
a alguns companheiros e despertar para a caminhada a outros (Anexo 5), actividades
estas que tiveram que ser abandonadas devido ao mau tempo.
4.2 Movimento e Comunicação
As actividades realizadas neste ateliê aconteceram poucas vezes dado que já existia
Animadora Cultural na ASTA, sendo que a observação e participação da minha parte
foram as metodologias aqui utilizadas. Eram realizados exercícios eurítmicos (através
da dança e exercícios de respiração), “Conta-me Histórias”, e jogos de descontracção,
comunicação e de expressividade ao “público”. Nos dias 21 de Outubro e 12 de
Novembro de 2010 foram realizadas as actividades deste ateliê pelas estagiárias de
Animação Sociocultural e o Musicoterapeuta uma vez que a Animadora estava ausente.
Estas actividades tinham uma duração de cerca 2h e foram a continuidade do ateliê dado
a outro grupo (ao grupo de companheiros da terça-feira anterior, grupo mais autónomo).
Numa primeira sessão, todos sentados nas cadeiras dispostas em círculo realizamos
actividades rítmicas onde cada companheiro batia uma vez na perna direita e duas vezes
na perna esquerda. Seguidamente, enquanto dois companheiros faziam este ritmo,
outros 3 batiam com os pés no chão ao ritmo das batidas nas pernas e das palmas que o
outro grupo de 2 companheiros estava a fazer. Esta noção de ritmo ia sendo trocada
pelos grupos e enquanto que o monitor ia fazendo ritmos no bombo acelerando e
diminuindo o ritmo a fim de perceber a noção rítmica de cada um.
O “Conta-me histórias” que tinha sido proposto pela Animadora no ateliê de terçafeira anterior a esta, foi contar uma historia que fizesse lembrar algo ou que lhe desse
uma lição de vida ou que fizesse recordar algo como por exemplo, a história do
“Patinho feio” pode fazer lembrar a história que os nossos pais nos contavam em
pequenos mas também nos pode transmitir um carácter de positivismo relativamente à
vida e à aparência física. Esta tarefa visava acima de tudo conhecer o companheiro,
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estando atenta à forma como relaciona acontecimentos reais e imaginários e a
capacidade de abstracção, e igualmente ligação aos factos de vida pessoal e patológica.
Após esta exposição de factos e posterior comentário acerca destes, passamos a danças
já realizadas e que fomentam o sentido rítmico do corpo através de danças com carácter
eurítmico, nomeadamente a “Dança da água”, “Dança da apresentação” e “Dança da
Partilha”. Além do sentido rítmico estas danças tentam inspirar no companheiro o
sentido da presença do “outro” e noção de grupo através de movimentos que aspiram à
“espiritualidade”.
A construção de lanternas para o dia de S. Martinho e a elaboração dos envelopes de
Natal ficaram a cargo deste ateliê foram monitorizados pela colega Animadora
estagiária uma vez que esta trabalhava directamente com a Animadora Cultural da
ASTA. A minha função a este nível foi a construção pessoal de algumas lanternas nas
horas livres (a seguir ao almoço) e acompanhamento de companheiros pertencentes ao
ateliê de olaria, até à construção das mesmas, ajudando-os e explicando o procedimento.
Tanto na construção das lanternas como na dos postais de Natal, eram dispostos numa
sala os materiais necessários para a elaboração destas tarefas com as diferentes
metodologias a cumprir. Para construir as lanternas foram utilizadas folhas de tamanho
A3 com desenhos que os companheiros tinham pintado. Com a folha na horizontal,
estas eram dobradas com 2 cm em cada lado e coladas na aba superior. Na parte onde
não continha pintura (parte anterior da folha) eram desenhadas estrelas e luas pelos
companheiros e com a ajuda do colaborador estas eram recortadas com x-acto. De
seguida, colou-se papel celofane e ambas as pontas eram agrafadas a fim de formar um
cilindro. Depois, colocou-se uma base de cartão do dentro desse cilindro e os 2 cm que
não estavam apenas dobrados eram colados na parte exterior do cartão ficando assim
com uma base para colocar a vela. Por fim, fizeram-se dois furos na parte superior do
papel e colocou-se um arame e decorou-se este com bolas pintadas na olaria. Para evitar
queimaduras foi colocado um pau para ajudar na deslocação da lanterna, estando este
preso ao arame.
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Ilustração 9 – Lanternas de São Martinho
Os envelopes de Natal foram construídos com folhas de revista utilizando um molde
realizado pelo monitor da Carpintaria. A folha de revista era estendida e por cima desta
era disposto o molde onde os companheiros desenhavam este e posteriormente
efectuavam o recorte. De seguida dobravam-se as folhas de revista em forma de
envelope e colava-se1. Estas tarefas não eram conseguidas por todos os companheiros,
cabia ao monitor tentar explicar o procedimento mais simples e ajudar nesse sentido. De
seguida, com a folha de papel reciclado recortada verticalmente três vezes, colava-se a
folha de papel vegetal que continha um poema escrito pela directora e a assinatura da
mesma, completando assim, o postal de Natal (Anexo5).
Ilustração 11 – Envelopes de Natal1
Ilustração 10 – Postal de Natal2
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Foi realizada uma visita à AFACIDASE (Associação de Familiares e Amigos do
Cidadão com Dificuldades de Adaptação da Serra da Estrela) em Manteigas, com
alguns companheiros, as estagiárias de Animação Sociocultural, o Musicoterapeuta e a
Animadora Cultural a fim de demonstração de cânticos de Natal e outros, interagindo
com os utentes desta Associação. Aqui, eu e a colega estagiária, tocamos e cantamos
alguns fados.
Relativamente a um trabalho elaborado por uns colegas de Animação Sociocultural
resultou uma acção solidária com a ASTA onde se realizaram uma palestra e um
workshop de danças. Para que estas fossem possíveis, organizou-se um grupo de três
companheiros, juntamente com a Animadora Cultural, a directora Maria José e as
estagiárias de Animação Sociocultural. A minha função enquanto estagiária foi a
participação no workshop de danças a fim de ajudar os participantes nas danças (Anexo
6).
4.3 Piscina terapêutica
A participação neste âmbito deu-se devido à ausência do monitor e as actividades
desenvolvidas não puderam ser realizadas por mim dentro da piscina. Os exercícios
realizados aqui foram de percepção (uma vez que aqui estava um deficiente visual),
atirando as argolas para perto do companheiro a fim de perceber a sua noção de espaço
e de concentração. Aos restantes companheiros foi entregue uma bola e estes fizeram
estafetas com esta (Anexo 7).
4.4 Manutenção
Relativamente a este ateliê, as estagiárias de Animação Sociocultural pintaram os
planetas existentes no exterior das instalações da ASTA uma vez que a sua cor já mal se
notava. Esta foi efectuada com algumas tintas em forma de spray e com tinta existente
na instituição.
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Ilustração 12- Planetas pintados
4.5 “Mãe de casa”
A este nível, o trabalho realizado consistiu em dormir na casa de S. Miguel com os
companheiros mais autónomos. Esta presença consistia na certificação de que todos se
deveriam recolher às 21h e onde o acordar se dava para mim às 7 da manhã para de
seguida acordar os companheiros às 7.30h. Após o acordar, o companheiro teria que
realizar as tarefas diárias tais como: tratar da sua higiene, vestir e arrumar quartos. A
minha permanência na casa deveria ser com a certeza de que a ambiência pacífica se
mantinha, que os companheiros realizavam as suas tarefas matinais e que estava tudo
normal com estes. O pequeno-almoço era dado às 8h e cabia-me a distribuição da
alimentação, com oração antes da refeição com posterior distribuição de tarefas (já
habituais) pelos companheiros (lavar a loiça, varrer o chão e deixar sala arrumada). De
seguida, os companheiros saíam da casa por volta das 8.30h/8.45h e dirigiam-se para a
ASTA, no Alto da Fonte Salgueira. Até ir para as instalações da ASTA, cabia-me a
certificação de que os companheiros teriam arrumado os seus quartos e que estava tudo
dentro das normalidades. No dia 12 e de 20 a 23 de Dezembro, o trabalho como mãe de
casa deu-se na Casa da Fonte, localizada nas instalações da ASTA. Aqui os horários
foram os mesmos sendo que a única diferença era o nível de responsabilidade. Neste
caso, fiquei a dormir na parte onde dormem as companheiras sendo que de manhã era
necessário apressar todas com as suas tarefas de higiene, vestuário e arrumação dos
quartos. De seguida, eram realizados cânticos e orações matinais no refeitório. De
seguida, o dia decorria normalmente com o trabalho na Olaria terminando, porém, mais
cedo nestes dias, estando “dispensada” às 15.30h.
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4.6 Actividades dentro do Programa de Actividades da ASTA
4.6.1
29 de Setembro – Dia de São Miguel
No dia de S. Miguel decorreu com actividades entre companheiros e
colaboradores. Para a Antroposofia, devemos pedir força e coragem para afastar os
“Dragões”. Inicialmente houve uma representação onde um colaborador, com a máscara
de Dragão, percorria o salão a tentar assustar todos os presentes (significado dos
dragões) onde cada um deveria tentar afugentá-lo mostrando-se firme. O colaborador
Jorge e as estagiárias tocavam nos bombos e djembe para uma melhor caracterização da
cena. Por fim, o dragão morre e abrem-se as janelas. De seguida, todos em circulo com
uma vela no centro, desloca-se um a um ao centro para pedir a tal força para enfrentar
“dragões”.
Á tarde, o convívio foi concretizado na aldeia da Cabreira, no exterior da
Casa de São Miguel, onde as Animadoras estagiárias presentearam os companheiros e
colaboradores com músicas. Aqui cantamos músicas populares, e alguns fados às quais
todos se mostraram satisfeitos, de seguida, realizou-se um jogo de coragem proposto
pelo colaborador, onde dois a dois, um teria que fechar os olhos e cair para trás de
costas confiando no seu companheiro que estaria a segurar.
4.6.2
2 de Outubro – Aniversário da ASTA
Este aniversário constou também com a inauguração da Casa de São Miguel. O
dia começou às 10h com a missa na aldeia. A disposição da minha parte resultou em
ensaios de cânticos para a missa. Estes ensaios deram-se com a Animadora Cultural, um
voluntário e com alguns companheiros que mostraram interesse em participar nesta. De
seguida, deslocámo-nos até à casa de São Miguel para a sua inauguração. O almoço
realizou-se no parque de merendes da aldeia por volta das 13h onde todos juntos
convivemos e conhecemos melhor. A integração nesta comunidade foi rápida pois
foram todos extremamente afáveis, mas no decorrer desta festa tornou-se mais fácil a
comunicação e conhecimento. Por fim, o convívio final nas instalações da ASTA com a
actuação do grupo Pé Coxinho onde tentei juntar os envolventes numa roda de dança
onde a comunicação visual fosse mais contributiva para o conhecimento de todos (Anex
o8).
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4.6.3
11 de Novembro – São Martinho
Nesta data, as animadoras estagiárias convidaram a Ftuna, Tuna Feminina do
Instituto Politécnico da Guarda a actuar na aldeia da Cabreira para a comunidade,
colaboradores e companheiros da ASTA. A actuação da tuna às 16h (Anexo de suporte
informático_vídeo2) foi do agrado de todos e os companheiros ficaram extremamente
felizes com esta presença. Depois da actuação deu-se o desfile das lanternas pela aldeia
onde todos cantaram as tradicionais músicas referentes a esta data, estes cânticos foram
ensinados por nós (estagiárias) aos elementos da tuna, participando estas com os seus
instrumentos e vozes também no desfile. Este desfile começou junto à junta de freguesia
e decorreu até perto da igreja, onde foi realizada uma encenação da lenda de São
Martinho por colaboradores da ASTA. Posteriormente a esta encenação, o desfile
continuou até à igreja onde foi falado sobre o sentimento de partilha que é necessário ter
nesta altura. De seguida, o desfile das lanternas continuou novamente até à junta de
freguesia. Por fim, a tuna juntou-se toda na Casa da Oliveira para lanchar pelas 18h
(onde toda a comunidade da aldeia contribuiu com algum com algo para a concretização
deste). No fim deste lanche, a tuna foi pela aldeia a cantar e fomos apresentar a casa São
Miguel onde fizemos serenata a todas aos companheiros lá residentes (Anexo 8).
4.6.4
2 de Dezembro – Jardim do Advento
O jardim do advento decorreu o dia todo e a minha participação foi a nível
musical. Aqui, juntamente com a colega estagiária e o Musicoterapeuta, foram tocadas
músicas de improviso para uma melhor ambiência do espaço. Toquei lira e “cantarolei”
de improviso e o resultado foi extremamente positivo conseguindo concretizar o
objectivo da tal ambiência espiritual pretendida. No salão, foi disposta uma espiral
construída com plantas e troncos, com uma vela no centro onde cada companheiro, com
uma vela, caminhava até ao centro a pensar no que gostaria de mudar na sua vida e
melhorar nesta, esta caminhada deveria ser feita com o pensamento no acto de pedir luz
para uma nova caminhada. Chegado ao centro, teria que acender a vela e percorrer a
espiral para trás, pousando a vela “pelo caminho”.
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Ilustração 13- Palco da música
4.6.5
Ilustração 14 – Espiral junto à
música
Ilustração 14 –
Espiral
6 de Dezembro – Apresentação do teatro “Auto dos Pastores”
O “Auto dos Pastores” é uma peça de teatro que se realiza todos os anos onde
participam colaboradores e companheiros. Ensaiei para concretização desta peça a nível
vocal ajudando nos cânticos que, este ano, pelo Musicoterapeuta, foram traduzidas à
letra através da pauta, do Alemão para o Português. Ajuda-lo neste sentido mostrou-me
o referido carácter multifacetado que o animador sociocultural deverá ter, conseguindo
aplicar conhecimentos de Musicologia e Etnomusicolpogia a fim de perceber as pautas,
o som que estas transmitem e como se enquadra a língua portuguesa. Estas músicas
foram ensaiadas e transmitidas as novas versões aos participantes nesta peça. Durante os
ensaios da peça, o guião desta tinha que ser atenciosamente seguido a fim de perceber
perfeitamente quando dar o sinal aos participantes nesta para cantarem e dar o tom
inicial ou para fazer de ponto. Estes ensaios eram realizados no quase final dos ateliês,
das 16h às 17h e resultavam de uma interacção entre as monitoras da olaria uma vez que
ambas fazíamos parte desta peça. No dia 15 de Dezembro o grupo que representou esta
peça de teatro na Casa Santa Isabel, em Seia para a comunidade terapêutica. Dia 23 de
Dezembro, a ASTA decide presentear todos os seus envolventes com nova actuação da
peça de teatro sendo que desta vez a minha participação foi de “estalajadeiro”. Este
papel deveu-se ao facto de a ausência deste se dar e também por já conhecer os papéis
que os colegas representavam.
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5.
Reflexões Finais
A chegada à ASTA aconteceu no dia 20 de Setembro de 2010. Durante estes três
meses de estágio vivi na aldeia da Cabreira na Casa da Oliveira junto da comunidade e
das outras casas pertencentes à ASTA. No decorrer desta temporada o serviço prestado
numa instituição como a ASTA acaba por ser acima de tudo humanitário, de entrega
pessoal e de muita aprendizagem tanto a nível de metodologias de trabalho como de
carácter pessoal. Como futura Animadora Sociocultural, aprendi técnicas aliadas à
Terapia Social e à Educação Terapêutica que muito me ensinaram acerca das
metodologias de trabalho com pessoas portadoras de deficiência (os companheiros),
pois aqui, é fundamental fomentar a capacidade de poder viver e vivenciar o que é mais
verdadeiro no seu próprio ser. O facto de aqui todos os companheiros ocuparem um
local de trabalho faz com que estes possuam a percepção de si mesmos bem como da
realidade que os cerca fazendo com que sejam capazes de tomar decisões importantes
sobre a sua vida bem como se sentirem honradamente indivíduos pertencentes a esta
sociedade enquanto vêm o resultado do seu trabalho no âmbito social. Aqui, realizei
trabalhos no ateliê de olaria, movimento e comunicação, estive presente na piscina
terapêutica, trabalhei como “mãe de casa”, participei em actividades incluídas no
calendário da ASTA, enfim, estive presente em tudo o que foi possível participar pois
essa mesma participação e disponibilidade é que tornaram este trabalho exequível.
Em todas as actividades que se desenvolvem na ASTA está sempre patente o
sentido de ritmo, da responsabilidade, do respeito e da “espiritualidade” do trabalho
como algo de fundamental para a saúde bio-psico-social e espiritual de cada cidadão e,
contribuindo para uma sociedade mais justa, bonita e harmoniosa (ASTA 2008).
Inicialmente, o trabalho realizado passou muito pela observação de comportamentos,
reacções a estímulos, personalidades e de patologias uma vez que existia um receio de
não conseguir corresponder as expectativas. Com a integração e entrega pessoal,
consegui criar laços, laços estes fundamentais para um Animador e para qualquer
pessoa que trabalhe, pois estes mesmo laços ajudam na cooperação do grupo. Aprender
a trabalhar com o barro foi também um processo que se desenvolveu através da
observação e da ajuda da monitora Elisabete, sendo que o sentido estético e a arte como
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terapia fizeram-me perceber uma forma de tornar o belo em proveitoso e, para alguns,
vitorioso. O trabalho no ateliê de olaria foi extremamente curioso e enriquecedor, e fez
perceber que a matéria e o que se faz com ela ajuda a moldar e a definir personalidades
que estão em muitos casos quebradas em alguns dos companheiros.
O sentido de ritmo aliado a todas as actividades, depositam no companheiro e no
monitor uma maior harmonia que desperta para um sentido de trabalho que flui com
naturalidade. O trabalho enquanto Animadora Sociocultural na ASTA iria ser um pouco
limitado uma vez que a duração do período de estágio é relativamente curto para um
trabalho que exige acima de tudo observação. Contudo, a participação no ateliê de
Movimento e Comunicação (Ateliê de Animação) contribuiu para assimilar técnicas de
integração e de revelação de capacidades do ser com deficiência mental. Este visto
ainda na nossa sociedade como o “coitadinho” e incapaz, revela-se aqui um ser
comunicativo, com competências iguais aos seres ditos “normais” e com sentido de
vida. Na educação formal, a estratégia da Animação Sociocultural é operar como um
meio para motivar, complementar, articular saberes e potenciar aprendizagens
envolventes. A educação não formal corresponde à esfera de actuação da Animação
Sociocultural, entendida como um conjunto de práticas que se realizam fora do espaço
escolar, portanto, associada à ideia de uma educação em sentido permanente e atinente
com o ciclo da vida da pessoa. A educação informal considera a família e a
comunidade como agentes educativos. Há também que ter igualmente presente a
estreita ligação fundada numa relação de filiação entre a Animação Sociocultural e a
Educação Popular. De referir, dada a importância para a história da Animação
Sociocultural em Portugal, um conjunto de acções promovidas em diferentes âmbitos,
em que, através dos métodos activos da Animação, foi possível promover a educação
comunitária, educação para a saúde, educação intercultural e educação para o ócio e
tempo livre (LOPES, Marcelino 2007).
Na ASTA, não só fui ou tentei ser pedagoga como também me deixei envolver por
esta pedagogia curativa que me fascinou. O facto de estar integrada neste ambiente
familiar durante este período de tempo fez-me ter uma percepção da variedade de
escolha que Animador Sociocultural tem para trabalhar, não escolhendo locais com esta
ambiência muitas vezes por medo, o que faz com que percam excelentes oportunidades.
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Acima de tudo, o estágio serviu para me conhecer enquanto ser humano e enquanto
futura profissional, e constatei que é neste âmbito que quero trabalhar. Como diz Maria
José Dinis, no vídeo à Localvisão, é fundamental aprender a ser em vez de aprender a
ter pois tu és aquilo que és e mais importante do que aquilo que és, é aquilo que sentes.
A ASTA ensinou-me a ser, a estar, a tornar possível fazer os outros felizes através de
simples gestos de afectividade e a ter a certeza do caminho a seguir.
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Bibliografia
ALBUQUERQUE, Paula Alexandra (2009). A animação em crianças com necessidades
educativas especiais. Revista Práticas de Animação;
American Psychiatric Association (2002). DSM-IV-TR, Manual de Diagnóstico e
Estatística das Perturbações Mentais, 4ªed. Lisboa: Climepsi Editores.
JIMÉNEZ, R. (1991). Necesidades Educativas Especiales – Manual teórico práctico.
Málaga : Edicciones.Aljibe.
JORGE, Miguel R.(org). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais:DSMIV.4.ed.Porto Alegre: Artes Médicas, 1995);
LOPES, Marcelino et al. Animação, Artes e Terapias. Associação para a Promoção e
Divulgação Cultural, Abril, 2007;
FERREIRA, Dídia (Outubro de 2007). O papel da animação no processo global de
reabilitação da pessoa com doença mental. Revista Práticas de Animação;
http://www.apanat.org.br acedido a 28 de Dezembro de 2010
http://www.appc.pt acedido a 28 de Dezembro de 2010
http://www.arte-terapia.com
http://www.assterapeutica.com acedido a 3 Janeiro de 2011
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http://videos.sapo.pt/SBFUza6lTpyuFD9c4E8F (13-10-2010 “Á conversa com…Maria
José Dinis” )
http://www.sab.org.br acedido a 3 de Janeiro de 2011
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