Atrás da
Palavra
REVISTA CATÓLICA
www.paroquiasdescalvado.com.br
Ano 1 | Nº 5 | Outubro/Novembro 2014
Nossa
Senhora
Aparecida
AS APARIÇÕES
MARIANAS
Ao longo da história cristã,
contam-se cerca de duas
mil indicações relativas a
aparições marianas
A consagração da Rainha
Domingos Garcia,
João Alves e Filipe
Pedroso não sabiam,
mas estavam
edificando o pilar da
fé do povo brasileiro
FESTA DE TODOS
OS SANTOS
O sentido dessa festa
ressalta o chamamento
de Cristo a cada cristão
para segui-lo
VIDA DE SANTIDADE
|
PAPA FRANCISCO
|
FAMÍLIA - PAIS E FILHOS
|
RELIGIÃO
|
ESPIRITUALIDADE
Editorial
EXEMPLO DE FÉ
e obediência
Queridos irmãos em Cristo,
Para os que creem no amor infinito de Deus, este é um tempo de despertar para o mais
perfeito modelo de fé e de obediência que a Bíblia nos revela: o “sim” de Maria. Em
outubro, quando celebramos a festa de Nossa Senhora Aparecida, a igreja nos oferece
um momento de vivificar essa forte presença da Mãe de Jesus em nossas vidas.
Por esse motivo, escolhemos a história dos três pescadores e da imagem milagrosa
que se tornou o mais importante símbolo de fé em nosso país como reportagem de
capa desta edição. E para fortalecer a devoção de nossos leitores por Maria, queremos
nos aprofundar um pouco mais em sua história mostrando suas aparições e manifestações pelo mundo.
Nesse período, não poderíamos deixar de registrar duas importantes datas que para
nós, cristãos, são oportunidades de celebrar a vida eterna e a comunhão íntima com
Deus: o Dia de Todos os Santos e o Dia de Finados. Entender o significado dessas datas
é, sobretudo, um amadurecimento da fé cristã.
Nas próximas páginas, nosso querido leitor vai encontrar artigos sobre a família – esse
maravilhoso plano de Deus para os homens – e um pouco da história de 3 Santos que
são modelo de vida para todos nós: São Benedito, São Francisco e São Judas Tadeu.
Abordaremos também a importância e o caminho para sermos verdadeiros “Missionários”, e atender o convite que Jesus nos faz.
A editoria que revela a trajetória dos descalvadenses a cada edição, desta vez tem
como tema a questão da saúde no Descalvado antigo, suas doenças, a morte e a
celebração do dia de Finados. Esta é, na verdade, a melhor maneira de manter viva na
memória a história de nossa querida cidade. Um abraço fraterno aos nossos paroquianos e que Nossa Senhora da Conceição Aparecida continue rogando por nós.
Boa leitura
Pe. Antonio Carlos de Almeida
Nesta Edição
PAPA FRANCISCO Dia de Finados | RELIGIÃO As aparições Marianas | FAMÍLIA O papel dos
pais na formação dos filhos | RELIGIÃO Festa de todos os santos | ESPIRITUALIDADE
Superando o “si” mesmo | MATÉRIA DE CAPA Nossa Senhora Aparecida | VIDA DE SANTIDADE
São Judas Tadeu | MISSÕES Uma Igreja em constante missão | VIDA DE SANTIDADE São
Benedito | COMUNIDADE EM DESCALVADO Nossa Senhora da Aparecida | DESCALVADO
PELA MEMÓRIA DO POVO O dia de finados | VIDA DE SANTIDADE São Francisco
SEMPRE AQUI
NOTAS E CURIOSIDADES | SOCIAL | ESPAÇO DA CRIANÇA
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Atrás da Palavra
Outubro / Novembro 2014
Atrás da
Palavra
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das Paróquias de Descalvado
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Quatrocor Gráfica e Editora
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Religião
Foto • giulio napolitano / Shutterstock.com
Papa Francisco
Dia
de
Adaptação Por Pe. Valdinei Antonio da Silva e Pe. Angelo Rossi
Finados
A morte representa, para o cristão, uma transição entre a forma de vida física
que se extingue e, com ela inicia-se o processo de uma nova etapa da vida.
N
o mês de novembro, voltamos
nossa atenção à realidade da oração que a Igreja nos chama a fazer pelos falecidos. A “Igreja peregrina” nesse
mundo – que somos nós – é chamada
ao culto e à oração pela “Igreja triunfante” – que são nossos irmãos que já
terminaram sua caminhada na terra.
Dia 02 de novembro, a Igreja nos convida a celebrar de modo especial a memória dos nossos irmãos e irmãs falecidos, no Dia de Finados. Certamente,
a meditação sobre esse dia precisa ser
iluminada pelas palavras do Papa Francisco e sobre o ensinamento da Igreja
acerca da realidade da morte cristã.
“Entre nós, comumente, há um modo
errado de olhar para a morte. A morte
diz respeito a todos, e nos interroga de
modo profundo, especialmente quando nos toca de modo próximo,(...) Se
entendida como o fim de tudo, a morte assusta, aterroriza, transforma-se
em ameaça que infringe todo sonho,
toda perspectiva, que rompe toda
relação e interrompe todo caminho.
Isso acontece quando consideramos
a nossa vida como um tempo fechado entre dois polos: o nascimento e
a morte; quando não acreditamos
em um horizonte que vai além daquele da vida presente; quando se
vive como se Deus não existisse. Esta
concepção da morte é típica do
pensamento ateu, que interpreta a
existência como um encontrar-se casualmente no mundo e um caminhar
para o nada. Mas existe também um
ateísmo prático, que é um viver somente para os próprios interesses e
viver somente para as coisas terrenas.
A “Igreja peregrina”
nesse mundo – que
somos nós – é chamada
ao culto e à oração pela
“Igreja triunfante” –
que são nossos irmãos
que já terminaram sua
caminhada na terra.
Se nos deixamos levar por esta visão
errada da morte, não temos outra
escolha senão ocultar a morte, negá-la ou banalizá-la, para que não nos
cause medo.” A morte é condição da
vida humana. Experiência pela qual
todos nós passaremos um dia. A
morte representa, para o cristão, uma
transição entre a forma de vida física
que se extingue e, com ela inicia-se o
processo de uma nova etapa da vida.
Continua o Papa: “E então qual é o
sentido cristão da morte? Se olhamos
para os momentos mais dolorosos da
nossa vida, quando perdemos uma
pessoa querida – os pais, um irmão,
uma irmã, um cônjuge, um filho, um
amigo – nos damos conta de que,
mesmo no drama da perda, mesmo
dilacerados pela separação, sai do coração a convicção de que não pode
estar tudo acabado, que o bem dado
e recebido não foi inútil. Há um instinto poderoso dentro de nós que
nos diz que a nossa vida não termina
com a morte”.
Revista Católica
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Papa Francisco
ESPERANÇA EM JESUS
À luz de nossa fé uma certeza nos consola, como Jesus Cristo ressuscitou,
também vamos ressuscitar com Ele.
Esta sede de vida encontrou a sua resposta real e confiável na ressurreição de
Jesus Cristo. A ressurreição de Jesus não
dá somente a certeza da vida além da
morte, mas ilumina também o próprio
mistério da morte de cada um de nós.
Se vivemos unidos a Jesus, fiéis a Ele,
seremos capazes de enfrentar com
sabedoria e serenidade mesmo a
passagem da morte. A Igreja, de fato,
prega: “Se nos entristece a certeza de
dever morrer, consola-nos a promessa
da imortalidade futura”. Uma bela oração esta da Igreja! Uma pessoa tende
a morrer como viveu. Se a minha vida
foi um caminho com o Senhor, um
caminho de confiança na sua imensa
misericórdia, estarei preparado para
aceitar o último momento da minha
existência terrena como o definitivo
abandono confiante em suas mãos
acolhedoras, à espera de contemplar
face-a-face o seu rosto. Essa é a coisa
mais bela que pode nos acontecer:
contemplar face-a-face aquele rosto
maravilhoso do Senhor, vê-Lo como
Ele é, belo, cheio de luz, cheio de
amor, cheio de ternura. Nós caminhamos para este ponto: ver o Senhor.
São Paulo diz, “Não quero que vocês
fiquem tristes, se lamentando pela
morte. Porque nós somos chamados
a uma vida eterna. E a morte é apenas
uma passagem, um túnel escuro, mas
que pode ser iluminado pelas luzes da
fé e que certamente, vai nos conduzir
para o outro lado dessa mesma estrada que é a vida”.
E a morte é
apenas uma
passagem, um
túnel escuro,
mas que pode
ser iluminado
pelas luzes
da fé e que
certamente, vai
nos conduzir
para o outro
lado dessa
mesma estrada
que é a vida”.
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Atrás da Palavra
Outubro / Novembro 2014
Foto • Renata Sedmakova / Shutterstock.com
Religião
Então sua santidade continua: “Neste
horizonte se compreende o convite
de Jesus a estarmos sempre prontos,
vigilantes, sabendo que a vida neste
mundo nos foi dada também para
preparar a outra vida, aquela com o
Pai Celeste. E para isto há um caminho
seguro: preparar-se bem para a morte,
estando próximo a Jesus. Esta é a segurança: o meu preparo para a morte
estando próximo a Jesus. E como se
fica próximo a Jesus? Com a oração,
nos Sacramentos e também na prática da caridade.
Recordemos que Ele está presente nos
mais frágeis e necessitados. Ele mesmo identificou-se com eles, na famosa
parábola do juízo final, quando disse:
“Tive fome e me destes de comer, tive
sede e me destes de beber, era peregrino e me acolhestes, nu e me vestistes, enfermo e me visitastes; estava na
prisão e viestes a mim…Tudo aquilo
que fizestes a um destes meus irmãos
mais pequeninos, foi a mim mesmo
que o fizestes” (Mt 25, 35-36. 40).
Portanto, um caminho seguro é recuperar o sentido da caridade cristã e da
partilha fraterna, cuidar das feridas corporais e espirituais do nosso próximo.
Um caminho seguro
é recuperar o sentido
da caridade cristã e
da partilha fraterna,
cuidar das feridas
corporais e espirituais
do nosso próximo.
A solidariedade no
partilhar a dor e
infundir esperança é
premissa e condição
para receber por
herança aquele Reino
preparado para nós.
A solidariedade no partilhar a dor e
infundir esperança é premissa e condição para receber por herança aquele
Reino preparado para nós.
Quem pratica a misericórdia não
teme a morte. Pensem bem nisto:
quem pratica a misericórdia não
teme a morte!”. Essa é uma recordação fundamental: a morte é páscoa,
passagem de uma realidade à outra.
Para nós seres humanos, pela convicção da fé, não se trata, simplesmente,
só de atravessar o mar ou atravessar o rio, ou de fazer uma mudança.
Trata-se de uma mudança profunda
que faz toda a diferença: de escravos
a homens livres, por causa da graça
de Deus e do gesto de Jesus Cristo,
que inaugurou para todos nós essa
nova realidade. A Igreja nos convida
a vivermos nesse mundo realizando
em nosso dia a dia, nossas pequenas ‘páscoas’ pela nossa conversão
e mudança de vida. Pela nossa participação na Igreja de Jesus Cristo, e
o serviço concreto junto dos irmãos.
Pela vivência da Palavra de Deus, pela
transformação daquilo que nós somos – enquanto pessoas humanas –
em algo melhor. Para nós um esforço
que deve fazer de nós homens e mulheres – mais santos. “Crer na ressurreição de Jesus Cristo e, portanto, na
páscoa – a passagem – é crer que o
homem tem conserto. Não está tudo
perdido”... (Pe. Zezinho) Assim nos diz
o Papa Francisco: “Se abrirmos a porta
da nossa vida e do nosso coração aos
irmãos mais pequeninos, então também a nossa morte se tornará uma
porta que nos introduzirá no céu, na
pátria bem-aventurada, para a qual
estamos caminhando, desejando habitar para sempre com o nosso Pai,
Deus, com Jesus, com Nossa Senhora
e com os santos.” ■
“Crer na ressurreição de Jesus
Cristo e, portanto, na páscoa
– a passagem – é crer que o
homem tem conserto. Não
está tudo perdido”.
Revista Católica
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Religião
Aparições Marianas
Surgiu no céu
um grande sinal:
as aparições
marianas
Ao longo da história cristã, contam-se cerca
de duas mil indicações relativas a aparições
marianas, com alguma relevância histórica.
Por Pe. Antonio Carlos de Almeida
A
o longo da história da Igreja Católica sempre existiram
as chamadas “aparições marianas”, manifestações onde
uma ou mais pessoas ‘veem’ a Virgem Maria, recebendo dela
mensagens a respeito da fé cristã. E a Igreja sempre foi muito
ponderada sobre esse assunto, por isso estabelece critérios
para averiguar a legitimidades de tais aparições marianas.
Em primeiro lugar, há uma diferença entre visão e aparição, onde a primeira – visão – é de índole espiritual. Enquanto a segunda – aparição – é de ordem física, ou seja,
existe a experiência real e sensível de quem aparece.
Em segundo lugar, compete ao bispo diocesano, ao arcebispo metropolitano – em tempos mais recentes às conferencias episcopais do território – e ao Papa, o discernimento sobre a veracidade dos fatos apresentados que se
referem à visão ou aparição mariana. Após a consideração
dos pressupostos, institui-se uma comissão teológica,
Ao longo da história da Igreja
Católica sempre existiram as
chamadas “aparições marianas”,
manifestações onde uma ou mais
pessoas ‘veem’ a Virgem Maria,
recebendo dela mensagens a
respeito da fé cristã.
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Atrás da Palavra
Outubro / Novembro 2014
que investigará os videntes e avaliará os testemunhos e
também eventuais mensagens ligadas à aparição. Se a
autoridade eclesiástica verificar que tratou-se de fraude
ou até da fantasia de algum visionário, o julgamento é
“constat de non supernaturalitate”, isto é, consta a não sobrenaturalidade.
Caso o julgamento seja interlocutório e não possível apurar a veracidade, mas nem desmenti-la, se adota a fórmula
“non constat de supernaturalitate”, isto é, não consta a sobrenaturalidade, mas isso não exclui que possa ser verificada em um segundo momento – é a situação de Medjugorje. E por fim, quando há a autenticação pela autoridade
eclesiástica, as manifestações extraordinárias gozam de liberdade de adesão, ressaltando que a fé pública se presta
só a revelação pública de Deus concluída com a morte do
último dos apóstolos.
O reconhecimento das aparições marianas pela Igreja não
as torna uma verdade de fé e o fiel católico não é obrigado
a acreditar nelas. A Igreja considera concluída a revelação
pública com a morte dos apóstolos e, portanto, todas as
aparições, todas as mensagens posteriores, mesmo que
tenham um valor universal, são consideradas revelações
“privadas”, as quais o fiel não é obrigado a acreditar, porque não acrescentam nada à mensagem evangélica e ao
Magistério da Igreja.
Ao longo da história cristã, contam-se cerca de duas mil indicações relativas a aparições marianas, com alguma relevância
histórica, mas reconhecidas oficialmente
pela Igreja são cerca de uma dezena, entre as quais:
• Guadalupe, no México (1531);
• Rue du Bac (Paris -1830),
• La Salette (1846) e Lourdes (1858),
na França;
• Fátima, em Portugal (1917);
MÉXICO 1531
Guardalupe
AS APARIÇÕES EM
Segunda tradição arraigada, a imagem da Virgem de Guadalupe apareceu impressa na manta do índio Juan
Diego (canonizado em 2002 pelo
papa São João Paulo II) em 1531, na
cidade do México. Por isso permaneceu alguns dias na capela episcopal
do bispo D. Frei Juan de Zumárraga e
depois na Sé. Em 26 de dezembro do
mesmo ano, foi solenemente levada
para uma ermida aos pés do cerro de
Tepeyac. Seu culto propagou-se rapidamente, muito contribuindo para
a difusão da fé entre os indígenas.
Após a construção sucessiva de três
templos ao pé do mesmo cerro, edificou-se o atual, concluído em 1709
e elevado à categoria de Basílica por
São Pio X em 1904.
Em 1754 Bento XIV confirmou o patrocínio da Virgem de Guadalupe sobre toda a Nova Espanha (do Arizona
à Costa Rica) e concebeu a Primeira
Missa e Ofício próprios. Em 1910, São
Pio X proclamou-a Padroeira da América Latina e em 1945 Pio XII deu-lhe o
título de “Imperatriz da América”.
A veneração da Virgem de Guadalupe,
solícita a prestar auxílio e proteção em
todas as tribulações, desperta no povo
grande confiança filial. Constitui, além
disso, um estímulo à prática da caridade cristã, ao demonstrar a predileção
de Maria pelos humildes e necessitados, bem como sua disposição em
assisti-los. A celebração litúrgica da
Festa de Nossa Senhora de Guadalupe
acontece no dia 12 de dezembro.
Foto • Takamex / Shutterstock.com
Em 1978, depois de quatro anos de
estudo, a Congregação para a Doutrina da Fé emitiu o documento Normas da Congregação da Doutrina da
Fé sobre o modo de proceder para
julgar as supostas aparições e revelações. O documento estabelece
que se deve obter “informação precisa sobre os fatos sob observação e
a reunião de testemunhas dos sinais
de fé, exame da mensagem sujeita
no fato sobrenatural, que não deve
estar contra a fé cristã, diagnóstico
médico-psicológico para garantir a
saúde e a normalidade do vidente,
e também para descartar a possibilidade de fenômenos alucinatórios;
nível de educação do vidente, seu
conhecimento da doutrina, sua vida
espiritual, seu grau de comunhão
eclesial, frutos espirituais, como o
retorno da fé dos afastados; moralidade e eclesialidade da existência,
cooperação na evangelização do
mundo, cultura e costume, eventuais curas milagrosas que se recebem em razão da referida revelação
privada, o juízo da Igreja”.
• Banneux, na Bélgica (1933);
• Amsterdã, na Holanda (1945);
• Akita, no Japão (1973);
• Kibeho, em Ruanda (1981).
As aparições marianas sempre possuem um significado de ajuda, de
apoio, às vezes de advertências aos
fiéis, além de um convite à oração e
à conversão.
A veneração
da Virgem de
Guadalupe, solícita
a prestar auxílio e
proteção em todas as
tribulações, desperta
no povo grande
confiança filial.
Revista Católica
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Religião
Aparições Marianas
FRANÇA 1858
Lourdes
AS APARIÇÕES EM
Havia apenas quatro anos que Pio IX enriquecera a Igreja com
o sinal luminoso do poder salvador concedido pelo Pai ao Redentor: Maria, sua Mãe, cheia do Espírito Santo, totalmente preservada do pecado, é Imaculada – dogma da Imaculada Conceição. A 11 de fevereiro de 1858, Maria manifestou-se, cerca de
dezoito vezes, com a “Imaculada” adolescente Bernadete Soubirous, numa gruta de Lourdes, até 16 de julho.
O perene “milagre” de Lourdes é a Eucaristia. Para além do “fenômeno” religioso, permanecem os efeitos da mensagem fundamental do Evangelho, proclamada fortemente por Maria: a
“conversão”, e do grande gesto de Cristo, que é “dar o próprio
corpo e o próprio sangue” para a salvação dos seres humanos.
A alegre aceitação dos sofrimentos, em união com Cristo, por
parte dos doentes, a admirável doação de tantos jovens aos
pobres e sofredores, o “clima” ininterrupto de intensa oração
em Lourdes só são compreensíveis à luz da Missa, que tem
sempre o primeiro lugar na “cidadela” de Maria.
A celebração litúrgica – memória facultativa – de Nossa Senhora
de Lourdes é no dia 11 de fevereiro, quando também se reza
mundialmente pelos doentes.
PORTUGAL 1917
Fátima
AS APARIÇÕES EM
No dia 13 de maio de 1917 realizou-se
em Fátima a primeira das seis aparições
da Virgem aos privilegiados videntes Lúcia (que ainda vive) Francisco e Jacinta,
quando o mundo se debatia ainda nas
violências e atrocidades da guerra.
A Virgem Maria apareceu seis vezes em
Fátima aos três pastorinhos e, através
deles, a Santa Mãe de Deus recomendou insistentemente aos homens a firmeza da fé e o espírito de oração, penitência e reparação.
O culto de Nossa Senhora de Fátima,
depois de ter sido aprovado pelo Bispo da diocese e mais tarde confirmado
pela Autoridade Apostólica, foi especialmente honrado com a peregrinação
do papa Paulo VI ao local das aparições
no ano 1967 e pelo santo Papa João
Paulo II, no ano 1982.
Atualmente não consta uma data específica universal no calendário litúrgico
da Igreja: trata-se mais de devoção local
(Portugal) e popular. ■
Fontes consultadas:
Liturgia das Horas l www.santoprotetor.com.br
www.wikipédia.org
10 Atrás da Palavra
Outubro / Novembro 2014
O papel dos pais
O PAPEL DOS PAIS
NA FORMAÇÃO
RELIGIOSA DOS
filhos
PARTE 2
Por Luis Pedezzi
S
endo poucas as disponibilidades de
formação aos pais e filhos, podemos destacar uma da qual faço parte.
O Movimento Familiar Cristão, que
por sua essência é de formação cultural, social e religiosa. Embora o
Movimento Familiar Cristão seja ecumênico, aqui em Descalvado ele está
fortemente calcado na Igreja Católica.
Temos várias atividades, como a que
vivemos nos dias 26 e 27 de julho
passado em Tupã com o nosso 2º Encontro Estadual.
Nos dividimos em comunidades de
reflexão, com os seguintes temas: “O
Poder da mídia na educação da família”, “Banalização da sexualidade”,
“Valores... Perdidos ou esquecidos?”,
“Novos tipos de família e suas consequências”, entre outros. As crianças
executaram atividades lúdicas relacionadas aos temas e os jovens refletiram sobre os mesmos temas de forma
mais adequada para eles.
Toda esta reflexão aconteceu em um
ambiente fraterno e acolhedor.
Por que toda esta propaganda? Um
dos mais belos gestos do cristianismo
é a partilha. E partilhar uma maravilha
que acontece em nossa vida com outros nos faz discípulos de Jesus, fazendo o que Ele nos mandou: “Amai-vos
uns aos outros como eu vos tenho
amado” (São João 13, 34).
Família
Há muito a refletir e
a crescer com relação
a sermos pais e filhos.
qual nos identificamos, pois como São
Tiago afirma: “Assim como o corpo sem
a alma é morto, assim também a fé sem
obras é morta” (São Tiago 2, 26).
Há muito a refletir e a crescer com
relação a sermos pais e filhos. E
quando nos unimos a outros com
os mesmos desafios, esta reflexão
e crescimento ganham velocidade,
nos tornando melhores. ■
Um dos mais belos
gestos do cristianismo
é a partilha. E partilhar
uma maravilha que
acontece em nossa vida
com outros nos faz
discípulos de Jesus.
Deus usa várias formas para nos tocar,
basta que nos abramos a elas. Este é
apenas um dos vários movimentos e
pastorais disponíveis para nossa formação e ação. Vamos buscar aquele com o
Revista Católica 11
Todos os santos
santos
Festa de todos os
Foto • Angelina Dimitrova / Shutterstock.com
Religião
O sentido dessa festa
ressalta o chamamento
de Cristo a cada
cristão/ã para segui-lo.
Por Pe Valdinei Antonio da Silva
N
o início do mês de novembro a Igreja celebra a festa
século seguinte, que o Papa Bonifácio IV, ao fazer exorcizar, pude Todos-os-Santos marcada por honrar a memória
rificar e benzer o antigo Panteão romano — que fora dedicado
de todos os santos e mártires, conhecidos ou não pelos
“a todos os deuses do Império” — dedicou-o a Nossa Senhora e
fiéis. Na perseguição de Diocleciano o número de mára todos os mártires. Ele passou a chamar-se Sancta Maria ad
tires foi tão grande que não se podia instituir para cada
Martyres e depois, Nossa Senhora da Rotonda, por causa de sua
um deles uma festa particular. Mas,
forma circular. Para lá mandou levar
No início do mês de
como a Igreja queria que todo mármuitos ossos de mártires que haviam
novembro a Igreja celebra nos vários cemitérios e catacumbas
tir fosse venerado, apontou um dia
comum para todos. O primeiro traa festa de Todos-os-Santos de Roma. A partir de então, todos os
ço disso encontramos no ano 359,
anos, no dia dessa dedicação, havia
marcada por honrar a
em Edessa, que celebrava no dia 13 memória de todos os santos uma celebração em honra de todos
de maio a “memória dos mártires de
os mártires que ali se veneravam.
e mártires, conhecidos ou
Por volta do ano 731, o Papa Gretodo o mundo”. Vemos também uma
não pelos fiéis.
gório III consagrou, na igreja de São
menção dessa comemoração em
Pedro, uma capela em honra de todos os santos, e desde
um sermão de Santo Efrém (373) e em uma homilia de São
então celebrava-se na Cidade Eterna uma comemoração
João Crisóstomo (407). Em 411, o calendário siríaco já asem seu louvor. O Papa Gregório IV, em 837, estendeu essa
sinalava também uma “Comemoração dos Confessores”, no
festa à França e depois a toda Igreja.
sexto dia da Semana da Páscoa.
No Ocidente, embora os Sacramentários dos séculos V e VI traEm 1480, o Papa Sixto IV concedeu uma oitava à festa, o que
gam muitas missas em honra dos santos mártires, não havia
a tornou ainda mais célebre em todo o mundo, chegando a
dia fixo para sua celebração. Foi no dia 13 de maio de 610, no
ser uma das principais da Cristandade.
12 Atrás da Palavra
Outubro / Novembro 2014
A FESTA
Esta festa do 1º de novembro precede a celebração de finados. O sentido dessa festa ressalta o chamamento de Cristo
a cada cristão/ã para segui-lo buscando construir uma vida
de santidade. Uma vida que se torna correspondência ao
plano de Deus que nos fez à sua imagem e semelhança. Isto
não só faz ver que existem santos vivos (não apenas os do
passado) e que cada pessoa pode almejar por seu esforço
ser/ter uma vida de santidade, mas sobretudo faz entender
que são inúmeros os potenciais santos que não são conhecidos. O Papa João Paulo II foi um grande impulsionador da
“vocação universal à santidade”, tema renovado com grande
ênfase no Concílio do Vaticano II. Nesta celebração, o povo
católico é conduzido à contemplação do que, por exemplo, dizia o Cardeal Beato John Henry Newman: não somos
simplesmente pessoas imperfeitas necessitadas de conversão e mudança de vida (de todos os aprimoramentos possíveis), mas sim rebeldes pecadores que devem render-se,
aceitando a vida com Deus, e realizar
isso é a santidade aos olhos de Deus.
A Igreja “aqui da terra” – militante suplica a intercessão da “Igreja do
céu” - triunfante - e chama em seu
favor toda aquela admirável companhia da corte celestial.
Nos primeiros tempos do Cristianismo,
costumava-se celebrar no próprio local de seu martírio
o aniversário da morte daqueles que tinham morrido por
Jesus Cristo. No quarto século, no Oriente, dioceses vizinhas
começaram a intercambiar festas, transferir relíquias, dividi-las
e a unir-se em uma festa comum. Isso se comprova por um
convite que São Basílio de Cesaréia (379) enviou aos bispos
da província do Pontus. Pelo fato de muitos mártires terem
sofrido o martírio no mesmo dia, estabeleceu-se uma comemoração conjunta de vários deles.
POR QUE UMA FESTA PARA TODOS OS SANTOS?
A Santa Igreja quis, com essa festa, honrar também os sanve admiravelmente São João no Apocalipse: “Vi a cidade santa,
tos que não têm uma comemoração particular durante o
a nova Jerusalém, que descia do céu de junto de Deus, preparada
ano, seja porque são pouco conhecidos ou porque se faz
como uma noiva que se apronta para o seu noivo. Ouvi uma voz
menção de seus nomes apenas no dia de seu triunfo para
forte, vinda do trono, que dizia: Eis o tabernáculo de Deus com
o Céu. Seu número, incontável, impede que tenham um
os homens; Deus habitará com eles, eles serão o seu povo e ele
culto distinto e separado. Certamente não era justo deio seu Deus; enxugará as lágrimas dos seus olhos; e não haverá
xar sem honra esses admiráveis
mais morte, nem luto, nem
A Santa Igreja quis, com essa festa, clamor, nem mais dor, porque
heróis do cristianismo que serhonrar também os santos que não
viram fielmente a Deus durantudo isto passou” (Ap 21, 2-4).
têm uma comemoração particular
te sua vida mortal e empregam
E “a cidade santa (a Jerusalém
continuamente suas preces no
celeste) não tem necessidade
durante o ano, seja porque são
Céu para nos obter perdão de
de sol, nem de lua, que a ilupouco conhecidos ou porque se faz
nossos pecados e graças pode- menção de seus nomes apenas no dia minem, porque a claridade de
rosas para chegarmos à feliciDeus a ilumina, e a sua lâmde seu triunfo para o Céu.
dade de que já gozam.
pada é o Cordeiro. As nações
Era, pois, necessária uma festa que fosse uma homenagem de
caminharão à sua luz e os reis da Terra lhe trarão sua glória e sua
toda a Igreja Militante a toda a Igreja Triunfante. Por fim, na inshonra. As suas portas não se fecharão no fim de cada dia, porque
tituição desta festa dedicada a todos os Santos em um só dia, a
ali não haverá noite. Levantará à glória e à honra todas as nações.
Igreja propôs aos fiéis que desejassem a felicidade inestimável
Não entrará nela coisa alguma contaminada, nem quem cometa
e a glória a que foram elevados, as riquezas e as delícias de que
abominação ou mentira, mas somente aqueles que estão inscrigozam na mansão eterna os bem-aventurados, como descretos no livro da vida do Cordeiro” (Ap 21, 23-27).
O QUE FAZER PARA PARTICIPAR
DESSA FELICIDADE E GLÓRIA
NA JERUSALÉM CELESTE?
Temos os Mandamentos a doutrina da Igreja e os exemplos
dos santos. Todos os santos brilham no Céu, de uma luz que
é participação da luz do próprio Deus. Mas no Céu os santos de Deus, apesar da uniformidade do amor que os abrasa,
resplandecem com diferentes luzes, de acordo com a virtude
com que mais brilharam na Terra. ■
Revista Católica 13
Social
Eventos
Fique por dentro das festas e eventos que aconteceram em nossas Paróquias.
FESTA DA PADROEIRA NOSSA SENHORA DO BELÉM • Paróquia Nossa Senhora do Belém
SEMANA DA FAMÍLIA • Quase Paróquia São Judas Tadeu
14 Atrás da Palavra
Outubro / Novembro 2014
NOVENA DE NOSSA SENHORA DO BELÉM • Paróquia Nossa Senhora do Belém
SEMANA DA FAMÍLIA • Quase Paróquia São Judas Tadeu
Revista Católica 15
Religião
Espiritualidade
Espiritualidade
que dá sentido:
SUPERANDO O “SI” MESMO
“Se alguém quiser me seguir renuncie a si mesmo, tome sua cruz e me siga.”
Por Pe. Alex Sander Turek Machado
A
partir da experiência espiritual
não há só coisas e fatos. Começam a existir a irradiação das coisas e o
sentido que vem dos fatos. Nas crises
mais profundas, mesmo quando morre um ente querido, quando se desfaz
um matrimônio, quando perdemos um
filho por causa das drogas, podemos
sempre perguntar: qual o significado
disso tudo para mim? Que direção essa
realidade quer me mostrar?
Não basta chamar um terapeuta, não
é suficiente tomar um antidepressivo
e dormir horas a fio. É preciso que nos
confrontemos perguntando corajosamente: que sentido mais profundo esta
realidade traz para mim? De que me purifica? Em que me faz crescer?
Em momentos assim a espiritualidade é
fundamental. Saber que não estamos vivos apenas porque ainda não morremos,
mas porque a vida é uma oportunidade
para crescer, para aceitar nossos limites,
nosso envelhecimento e nossa mortalidade. Só assim vamos amadurecer para
outro tipo de vida: a interior, a espiritual.
É preciso construir
um pensamento
que se volte para a
ideia da renúncia.
16 Atrás da Palavra
Outubro / Novembro 2014
Para superarmos este contexto em
que vivemos e tão marcado pelos desafios da nossa existência, é preciso
construir um pensamento que se volte para a ideia da renúncia. Renunciar
tornando-se livre para o alcance de
nossa liberdade compreendida como
alicerce da manifestação do crescimento de nossos horizontes. Quanto
mais compreendemos, dando sentido
para os fatos e interligando-os com a
espiritualidade da renúncia, mais subimos e enxergamos do alto aquilo que
a princípio se estreita aos nossos olhos
e aos nossos sentimentos.
RENUNCIAR
Expressão maior desta renúncia está
na Palavra de Jesus que nos convida
a “renunciar a si mesmo”. Esta forma de
renúncia produz uma espiritualidade
de forma específica e contraditória
com nossos tempos atuais. Talvez uma
espiritualidade que aos poucos deixada para trás , mas que necessita ser
multiplicada como proposta desafiadora e plena de sentidos.
Espiritualidade que vive da gratuidade
e da disponibilidade, que vive da capacidade de enternecimento e de compaixão, que vive da honradez em face
da realidade e da escuta da mensagem
que vem permanentemente desta rea-
lidade. Quebra a relação de posse das
coisas para estabelecer uma relação de
comunhão com as coisas.
“Se alguém quiser me seguir renuncie
a si mesmo, tome sua cruz e me siga”
Renunciar a si mesmo não significa fazer
algo para se anular. Ao contrário é uma
proposta de vida que valoriza nossa vida
e nos oferece uma autêntica espiritualidade para nossos tempos marcados por
uma cultura do egoísmo.
Esta forma de
renúncia produz
uma espiritualidade
de forma específica
e contraditória com
nossos tempos atuais.
Quando falamos de “cultura” entendemos aquele pensar comum da nossa
sociedade onde são admirados comportamentos interesseiros e de esperteza. Hoje é muito comum, por exemplo, ouvir expressões como “o que eu
ganho com isso?” que é símbolo desta
cultura de egoísmo. Nossa vida não
pode ser movida apenas por interesses:
há muitas coisas que nos enriquecem
e que são feitas por amor, por compaixão, solidariedade, generosidade, e não
para ganhar alguma coisa. Ouvimos
também a expressão “o que tenho a
ver com isso?”, é como se a indiferença
estivesse sendo instituída como modo
de viver. Isso nos faz lembrar uma passagem da Bíblia, quando por inveja, Caim
mata seu irmão Abel. Deus pergunta
para Caim: “onde está o teu irmão?”. A
resposta de Caim é: “por acaso sou eu
vigia do meu irmão?”. Esta resposta, símbolo de uma consciência pesada e de
falta de responsabilidade, é muito parecida com a frase que disse antes “o que
eu tenho a ver com isso?”
NA CONTRAMÃO
DO MUNDO
Nesta cultura dos tempos atuais a pessoa que aceita o convite de Jesus e
renuncia ao egoísmo como forma de
vida, se torna uma luz que brilha e que
nos mostra que a vida de fraternidade
e responsabilidade comum, é possível
e cheia de significados. Qual a melhor
forma de desejar uma espiritualidade
senão esta marcada pelo desabrochar
interior desta força maior que é o amor?
Nele se descobre sentido novo, novos
coloridos. Descobrimos as respostas de
nossas indagações existenciais e desesperadoras, mas não como respostas definitivas, e sim alívio para quem caminha
e sabe que existe chão pra pisar.
Olhar para o nosso lado, e movidos
pelo espírito fraterno/solidário, vamos descobrindo que a vida é tão pequena se colocada diante dos fatos
que nos atingem isoladamente. Existe a dor que se transforma em cruz,
contudo existe forma de dar um novo
significado à dor, colocando nela um
bálsamo quando confrontada e partilhada com o sofrimento de quem
convive ao nosso lado.
Por isso compreendemos a cruz no
início do cristianismo como sinal do
amor infinito de Deus na pessoa do
Seu filho Jesus Cristo. Portanto, um
símbolo de amor aos poucos se tornou um símbolo de sofrimento: neste pensamento, carregar a cruz significaria então carregar o sofrimento.
Carregar a cruz, porém, significa assumir o amor na nossa vida com todas
suas consequências. Carregar a cruz é
fazer todo dia o esforço de acreditar
no amor e vivê-lo em todas as situações. Precisamos resgatar este sentido construtivo da cruz e não pensar
que carregar a cruz significa se deixar
esmagar pela dor. Por isso lutamos
contra todo sofrimento, e assumimos
com dignidade as situações difíceis
que acontecem na vida, não deixando de amar e lutar por um mundo
melhor e mais partilhado. Este é nosso desafio: construir uma espiritualidade que seja uma tentativa acertada
de dar resposta e direção para nossa
vida a partir do alargamento de nossos horizontes e pela ativa manifestação da nobreza dos sentimentos
humanos e cristãos. ■
Revista Católica 17
Matéria de capa
Nossa Senhora Aparecida
A consagração da
Rainha
Q
uando Domingos Garcia, João
Alves e Filipe Pedroso rezaram
para a Virgem Maria para pedir sua
intercessão naquela difícil pescaria de
outubro de 1717, não imaginavam a
dimensão que essa história iria tomar.
Era tempo de capitanias hereditárias e
de escravidão e as famílias viviam basicamente da agricultura e da pesca.
Apesar de ser uma época imprópria
para pescaria, os três pescadores da
região de Guaratinguetá, interior de
São Paulo voltaram com tantos peixes que tiveram que retornar ao Porto
de Itaguassu, no rio Paraíba, para que
seus barcos não afundassem.
O milagre foi atribuído à imagem de
Nossa Senhora da Conceição que eles
encontraram quando lançaram as redes. No primeiro lance, apenas uma
parte da imagem, quebrada na altura
do pescoço, foi resgatada. Na segunda tentativa, os pescadores encontraram a cabeça. Naquele momento,
Domingos, João e Filipe não sabiam,
mas estavam edificando o pilar da fé
do povo brasileiro.
O nome Aparecida
foi incorporado
pela devoção
popular, já que a
santa milagrosa
“apareceu” na rede
dos pescadores.
20 Atrás da Palavra
Outubro / Novembro 2014
O COMEÇO
A história dos peixes percorreu a capitania e as pessoas criaram o hábito de rezar
diante da imagem da santa, que peregrinou, entre 1717 e 1732, em Ribeirão do Sá,
Ponte Alta e Itaguassu, sempre nas casas
dos pescadores. Com o tempo, a devoção atravessou as fronteiras e pessoas de
todos os lugares vinham em romaria para
ver a imagem da Nossa Senhora da Conceição. O nome Aparecida foi incorporado
pela devoção popular, já que a santa milagrosa “apareceu” na rede dos pescadores.
Como o número de fiéis não parava de
aumentar, em 1745 o vigário de Guaratinguetá resolveu construir uma capela no
alto do Morro dos Coqueiros para comportar uma quantidade maior de peregrinos. Algum tempo depois, foi iniciada
a construção de uma igreja ainda maior
– hoje conhecida como Basílica Velha –
inaugurada em 1888. Naquele mesmo
ano, a princesa Isabel ofertou à santa uma
coroa de ouro cravejada de diamantes e
rubis e um manto azul, em pagamento a
uma promessa que ela havia feito.
Em 1894 um grupo de padres e irmãos
da Congregação dos Missionários Redentoristas se estabeleceu na vila criada ao
redor da igreja para atender os romeiros.
Os relatos de milagres eram ouvidos por
toda a parte e muitos fiéis se instalavam
no vilarejo. Tamanha movimentação contribuiu para a emancipação política da
região que deu origem ao município de
Aparecida, nome escolhido em homenagem à santa milagrosa.
O SANTUÁRIO
A história de fé originada pelos três
pescadores teve continuidade com
a construção do Santuário Nacional
de Aparecida algumas décadas mais
tarde. Projetado pelo arquiteto Benedito Calixto, o complexo possui a
forma de uma cruz grega, com 173
metros de comprimento e uma cú-
pula de 70 metros de altura. Em sua
visita ao Brasil em 1980, o papa João
Paulo II consagrou a Basílica de Nossa Senhora Aparecida como o maior
santuário mariano do mundo.
A extensão total do complexo dedicado à Nossa Senhora Aparecida
é de 143 mil metros quadrados de
área construída e em nada lembra
o pequeno oratório no Porto de Ita-
guassu construído pelo filho do
pescador Filipe Pedroso para receber os fiéis que vinham rezar diante da imagem da santa. Só a Basílica, onde fica a exposta a imagem
milagrosa da Padroeira do Brasil,
possui 72 mil metros quadrados.
Tudo isso para atender os 12 milhões de peregrinos que visitam
anualmente o Santuário Nacional.
OS MILAGRES
Tamanha fé tem explicação nos incontáveis milagres atribuídos à Nossa
Senhora Aparecida. E eles são muitos.
Uma prova disso está na Sala dos Milagres que fica no subsolo do Santuário.
O lugar conta com uma exposição de
mais de 70 mil fotografias e diversos
objetos em madeira, barro, gesso, tecido e cera, tudo em agradecimento
à ajuda espiritual recebida de Deus
por intercessão de sua Mãe. Para se
ter uma ideia, são 18,5 mil objetos entregues mensalmente como testemunho das graças alcançadas.
O primeiro milagre concedido por
intercessão de Nossa Senhora Aparecida foi a pesca milagrosa testemunhada pelos três pescadores em
1717. Depois disso, outros seis relatos
foram ganhando domínio público:
as velas que se acenderam sozinhas
durante um momento de oração entre os devotos; as correntes de um
escravo que se romperam enquanto
ele rezava diante da santa; a ferradura de um cavalo que ficou cravada na
pedra da escada quando o cavaleiro
ia entrar na igreja para zombar dos
fiéis; a recuperação da visão de uma
menina cega; e o salvamento de um
menino que estava prestes a se afogar. De lá pra cá, os testemunhos não
pararam mais de crescer.
PADROEIRA DO BRASIL
Os títulos de Rainha e Padroeira do
Brasil foram conferidos à Nossa Senhora da Conceição Aparecida pelo papa
Pio XI em um decreto assinado no ano
de 1930. Antes disso, porém, em 1904
a imagem já havia sido coroada, em
função de um decreto da Santa Sé assinado pelo papa Pio X. A festa da Mãe
Aparecida é celebrada em 12 de outubro. Mas nem sempre foi assim. Até o
início da década de 50, as comemorações não tinham um dia fixo até que
uma assembleia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), realizada em 1953, definiu outubro como
o período mais apropriado para a comemoração, por ser o mês em que a
imagem foi descoberta. Oficialmente
no Brasil a data só foi reconhecida por
uma lei de 1980.
Revista Católica 21
Matéria de capa
Nossa Senhora Aparecida
O ATENTADO
Em maio de 1978, um rapaz de 19 anos quebrou o vidro de proteção
da imagem de Nossa Senhora Aparecida e levou a santa consigo. No
momento em que ele foi preso pelos policiais, arremessou a imagem
no chão e ela se partiu em mais de 200 pedaços. Os fragmentos da
imagem foram levados para o Museu de Arte de São Paulo, onde a
imagem foi restaurada pela artista Maria Helena Chartuni. Em agosto
do mesmo ano a imagem voltou à cidade num carro do Corpo de
Bombeiros, seguida por um grande cortejo de fiéis.
O JUBILEU
Em 2017 será celebrado o Jubileu de 300 anos do aparecimento da
imagem de Nossa Senhora da Conceição. Para os brasileiros um ano
de festa e de reafirmação do amor de Maria Santíssima.
Oração à
Nossa Senhora
Aparecida
Milagres
Incontáveis são as graças alcançadas pelos devotos de Nossa Senhora
Conceição Aparecida e muitos deles relatados nos meios de comunicação.
“Ó Maria Santíssima, que em vossa
querida imagem de Aparecida espalhais inúmeros benefícios sobre todo o Brasil; eu, cheio(a)
do desejo de participar dos benefícios de vossa
misericórdia, prostrado(a) a vossos pés consagro-vos meu entendimento, para que sempre pense
no amor que mereceis.
FELIPE MASSA - Uma reportagem no site do Globo Esporte de outubro de
2013 aponta a intercessão da Padroeira do Brasil na recuperação do piloto
Felipe Massa por conta do grave acidente sofrido durante o treino classificatório para o GP da Hungria, em 2009. Foram 11 dias de internação e, de
acordo com o texto, provavelmente um fã do piloto fez uma promessa para
salvá-lo. O piloto, totalmente recuperado do acidente, desconhece a promessa, mas o fato é que atualmente uma de suas sapatilhas autografada é a
relíquia mais visitada na Sala das Promessas do Santuário Nacional.
Consagro-vos minha língua, para que
sempre vos louve e propague vossa devoção. Consagro-vos meu coração, para que, depois de Deus,
vos ame sobre todas as coisas.
O MENDIGO PARALÍTICO - Um dos missionários redentoristas do começo do século narra a história de um menino paralítico que pedia esmolas
pela rua e foi curado após rezar uma novena à Nossa Senhora Aparecida.
Recebei-me, ó Rainha incomparável, no
ditoso número de vossos filhos e filhas. Acolhei-me
debaixo de vossa proteção. Socorrei-me em todas
as minhas necessidades espirituais e temporais e,
sobretudo, na hora de minha morte. Abençoai-me,
ó Mãe Celestial, e com vossa poderosa intercessão
fortalecei-me em minha fraqueza, a fim de que,
servindo-vos fielmente nesta vida, possa louvar-vos, amar-vos e dar-vos graças no céu, por toda
eternidade. Assim seja.”
22 Atrás da Palavra
A CURA - Relato publicado em 1935 no jornal “A Tribuna”, de Campinas, mostra a história de uma senhora chamada Ernestina Santos, que ficou por sete
meses praticamente imobilizada em seu leito e chegou a ser desenganada
pelos médicos até que, em uma visita à Capela de Nossa Senhora Aparecida,
sentiu-se tocada durante as orações e começou a andar sem dificuldade.
O MENINO DE CUIABÁ - Em seu livro “História de Nossa Senhora da Conceição Aparecida”, o padre Júlio Brustoloni, missionário redentorista, relata o
testemunho de uma família que veio de Cuiabá, Mato Grosso, para agradecer
pela vida do filho pequeno que foi resgatado debaixo de um caminhão em
movimento com apenas alguns ferimentos leves após a invocação do nome
de Nossa Senhora Aparecida.
SEM QUEIMADURAS - Outro relato do padre Júlio Brustoloni mostra a
graça de um casal de Guandu, Bahia, que teve sua filha salva de um incêndio
pela intercessão da Mãe Aparecida. ■
Outubro / Novembro 2014
São Judas Tadeu
Vida de Santidade
São Judas
Tadeu
Foto • Renata Sedmakova / Shutterstock.com
PADROEIRO DAS
CAUSAS DESESPERADAS
Seus numerosos milagres o
transformaram no Patrono dos Aflitos
e Padroeiro das Causas Desesperadas.
N
ascido em Cana da Galiléia, na
Palestina, Judas Tadeu era filho
de Alfeu, irmão de São José, e de
Maria Cléofas, prima irmã de Maria
Santíssima. Alguns pesquisadores
afirmam que ele era um fazendeiro
e que falava grego e aramaico, assim como os seus contemporâneos
naquela região. Um de seus irmãos,
Tiago, assim como o próprio Judas
Tadeu, também foi discípulo de Jesus.
Na Bíblia, é São Judas Tadeu que pergunta a Jesus: “Senhor, por que razão
hás de manifestar-te a nós e não ao
mundo?”, ao que Ele responde: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra e meu Pai o amará, e nós viremos
a ele e nele faremos nossa morada.
Aquele que não me ama não guarda
as minhas palavras. A palavra que tendes ouvido não é minha, mas sim do
Pai que me enviou”. (Jo 14, 22-24).
Conta a história que São Judas sempre
foi um dos mais fervorosos entre os
apóstolos e que, depois da ascensão
de Jesus Cristo e após ter recebido
o dom do Espírito Santo, iniciou sua
pregação de fé na Galiléia, em meio a
muitas perseguições.
Também divulgou a Palavra na Judéia, Samaria, Idumeia e em várias
outras populações judaicas. Evangelizou na Mesopotâmia, atual Pérsia,
Edessa, Arábia, Síria, Armênia e Líbia.
Sua morte teria acontecido juntamente com a de Simão, o zelote, na
Pérsia. Há relatos de que ambos foram martirizados cruelmente e mortos a golpes de machado.
A Carta de São Judas que está na Bíblia demonstra a fé e as graças do céu
que acompanhavam suas pregações:
“Que a misericórdia, a paz e o amor
se realizem em vós copiosamente” (Jd
1, 2). Mas também é uma advertência
contra os falsos mestres e um convite
ao verdadeiro exercício da vida cristã,
com exortações à fé, à oração e à confiança na misericórdia de Jesus Cristo.
“Que a misericórdia,
a paz e o amor se
realizem em vós
copiosamente.” (Jd 1, 2)
A devoção a São Judas Tadeu como
advogado das causas desesperadas e dos supremos momentos de
angústia surgiu na França e na Alemanha no fim do século XVIII. No
Brasil, essa devoção se tornou mais
fervorosa no início do século XX.
Seus numerosos milagres o transformaram no Patrono dos Aflitos e
Padroeiro das Causas Desesperadas.
A imagem de São Judas tem o livro,
que é a Palavra de Deus por ele anunciada, a machadinha, o instrumento
de seu martírio, e uma auréola, símbolo de Pentecostes. Seus restos mortais
foram guardados por algum tempo
no Oriente Médio e na França, até serem transferidos definitivamente para
Roma, na Basílica de São Pedro.
Sua festa litúrgica é celebrada em 28 de
outubro, provável data de sua morte. ■
Revista Católica 23
Religião
Missão
Ide e
anunciai:
UMA IGREJA
EM CONSTANTE
MISSÃO
Jesus nos dá uma responsabilidade:
a de sair e fazer a todos(as) seus
discípulos e seguidores.
Por Irmã Zenilda das Neves Lopes
D
eus, na pessoa de Jesus Cristo,
constantemente nos convoca a
sermos Discípulos(as) Missionários(as).
Então, vamos refletir um pouco sobre esta Missão para a qual somos
convocados(as).
A missão tem sua origem no Deus
Trinitário e vem para toda a humanidade, é o mistério do amor – envio de salvação. Jesus nos dá uma
responsabilidade, como nos coloca
a leitura de Mt 28,19-20: a de sair e
fazer a todos(as) seus discípulos e
seguidores. O(a) missionário(a) é a
presença de Deus e da esperança na
realidade em que se encontra.
A missão é o coração da Igreja que
tem dois movimentos: envia para a
periferia do mundo, aonde pouca
gente vai. Convoca ao retorno para
a libertação – purificação. Somos enviados para articular uma grande rede
de solidariedade e unidade na diversidade. A viver certa utopia da nova
criação, pois se formos missionários
no lugar em que nos encontramos,
consequentemente sairemos para a
periferia, nos deixando tocar por esta
24 Atrás da Palavra
realidade e assumindo o grande desafio de trazê-la para o nosso meio.
O nosso compromisso é encontrar o
Novo – o Reino do Senhor que se faz
presente onde estou. Nossa tarefa de
discípulos(as) é a do Profeta peregrino que anuncia e denuncia. O profeta
é aquele que faz uma análise crítica
da realidade, a partir do que o Senhor
o inspira, testemunhando o que o Senhor quer do seu povo.
A primeira missão
do discípulo é estar
com o seu Mestre.
É levar a cruz e
estar disposto a
doar a vida.
Outubro / Novembro 2014
A missão só transforma se atinge o
coração, pois é o coração que leva a
uma resposta, a uma ação. A missão
só é autêntica quando nasce desse apaixonamento pelo Cristo e seu
Reino, não perdendo nosso ponto
de partida. Lembrando que o ponto
de partida da missão é o ser humano.
É preciso sair de si e ir ao encontro do
diferente. E como bem diz Dom Hélder Câmara: “missão é partilha. É sair
de si, caminhar, deixar tudo...É deixar a
porta aberta para encontrar os outros.
É sempre partir.”
Uma questão que merece ser refletida é: TEMOS SAÍDO PARA O ENCONTRO COM OS MESMOS OU COM OS
DIFERENTES? É esse encontro com o
diferente, que nos leva a ser ousados,
criativos e inovadores diante da novidade evangélica. Porque evangelizar é
fazer surgir, fazer brotar o que já tem.
É uma tarefa de escultor, uma vez que
anterior à nossa chegada a qualquer
lugar, Deus já está presente. E isso me
leva a perceber que a missão não depende de mim, que sou colaborador(a)
Daquele que confia em mim.
O objetivo da missão é a Paz, aquela
que garante a vida dos que sofrem,
dos que perderam o sentido da vida,
na busca de perceber o sentido que
Deus dá. Toda pessoa é sujeito de mudança, por isso tem a capacidade de
se levantar e resgatar a sua dignidade.
A missão se faz a partir da realidade,
os resultados não lhe pertencem, o
que lhe cabe é se situar no coração
de Deus que sempre lhe conduzirá a
um serviço maior. O projeto de Deus
quebra os meus projetos para que o
Seu se efetive.
A MÍSTICA MISSIONÁRIA
É A ESSÊNCIA DA
VIDA CRISTÃ E POSSUI
TRÊS EIXOS:
Itinerância (caminho) – é uma experiência de liberdade que vai formando
um programa de vida. Para corresponder à realidade tenho que estar a caminho – movimento, que é lugar de
aprendizagem.
Despojamento – é o exercício cotidiano que envolve todas as dimensões da vida. O desapego é central
para desprender-se, a fim de deixar
algo ser dentro de mim.
Militância – é vida de serviço, de dedicação ao Projeto de Jesus, à causa do
Reino. É estar aberto para a questão
universal a partir do Espírito de Jesus.
O objetivo da missão é a Paz,
aquela que garante a vida dos
que sofrem, dos que perderam
o sentido da vida, na busca de
perceber o sentido que Deus dá.
ATITUDES
MISSIONÁRIAS
Portanto neste caminho temos que
assumir algumas atitudes missionárias:
SENTIRSE VULNERÁVEL – ter cons-
ciência dos próprios limites, não ser autossuficiente, porque diante da dor do outro somos
incapazes de dar uma resposta. A fraqueza é
a porta de entrada para conhecer a ternura e a
misericórdia de Deus.
TER COMPAIXÃO – viver na vida a dinâmica da misericórdia, que é deixar Deus passar à minha frente. A compaixão exige que olhemos nos
olhos e entremos em uma relação com o outro.
SER DISPONÍVEL – deixar-se conduzir por
Deus aonde Ele quer e precisa.
PROCURAR O TESOURO – reconhecer
onde está o tesouro da sua vida. É a intensa experiência de Deus que vai te levar a querer destacar
e proclamar aquilo que encontrou.
APRENDER DO OUTRO – partilhar o
que tenho e sou não diminui a minha identidade.
IRMÃOÃ UNIVERSAL – é uma abertura sem fronteiras, sem confins aos irmãos e
irmãs, testemunhando o amor que é para todos.
UM GRANDE DESAFIO
Nosso grande desafio é pensar sobre
o essencial. O QUE É ESSENCIAL, NECESSÁRIO E IMPRESCINDÍVEL PARA MINHA VIDA? Se tenho clareza disso não
me perco com o consumismo, egoísmo, imediatismo, soberba, ganância...
contexto que me remete à sociedade
atual, num emaranhado de informações inúmeras e velozes que precisamos filtrar diante da nossa busca.
Somos chamados(as) a fazer de nossa
vida um sinal de oportunidades a todos aqueles(as) que se encontram ao
nosso redor. Uma vez que levantamos
a vista do nosso pequeno círculo para
olhar adiante, descobrimos as oportunidades da vida que Deus nos oferece.
A primeira missão do discípulo é estar com o seu Mestre. É levar a cruz e
estar disposto a doar a vida. Temos de
perceber na sutileza do seguimento o
segredo de começar sempre de novo.
Se sabemos o que buscamos, quando
abater o desânimo e o cansaço, saberemos dar um novo sentido à nossa
presença e contar com a leveza e suavidade do jugo do Senhor, que acima
de todas as coisas resplende o amor
total, sublime e sem reservas. A vida
se torna significativa quando se torna
canal de vida doada aos outros. ■
“Missionário(a) é aquele(a) que
descobre a direção do outro.”
(José Comblim)
Revista Católica 25
Notas
Curiosidades
?
Você
Sabia
DIA DE FINADOS
Em novembro é celebrado o Dia de Finados
ou o Dia dos Fiéis Defuntos, uma tradição
religiosa que teve início no século 5. Naquela
época, a igreja já dedicava um dia do ano para
rezar pelos mortos, especialmente por aqueles
que não eram lembrados por ninguém.
Somente no século 13, é que o dia 02 de
novembro foi definido pela igreja como a data
dedicada aos falecidos.
O mundo todo celebra essa data e cada um
tem uma tradição diferente. Para os católicos,
essa é o momento de homenagear a vida
eterna que é a comunhão íntima com Deus.
Santos
DIA DE TODOS OS
O Dia de Todos os Santos, comemorado e celebrado pela
igreja católica em 1º de novembro, é uma homenagem a
todos os santos mártires, apóstolos e servos – conhecidos
ou não – que tiveram vida exemplar e que comungam
da presença de Deus. Antes de estabelecer uma data
para a celebração, a tradição religiosa já realizava missas,
vigílias e orações para lembrar o aniversário da morte dos
cristãos martirizados pelo testemunho de sua fé. A comemoração regular começou no ano 609 DC. Para o catolicismo esse é também um chamamento de Jesus Cristo para os
cristãos viverem à imagem e semelhança de Deus.
HÓSTIA
Na Antiguidade, chamava-se hóstia o animal sacrificado
para honrar os deuses ou a vítima oferecida para honrar
a divindade. Já em latim, língua oficial do Vaticano e da
igreja católica, a palavra hóstia quer dizer vítima. Para o
cristianismo, a hóstia é o Cordeiro de Deus, imolado, morto
e ressuscitado para o perdão dos pecados humanos.
26 Atrás da Palavra
Outubro / Novembro 2014
Milagres
Milagres são eventos ou situações sobrenaturais,
ou seja, algo que não pode ser realizado nem
pelo homem nem pela natureza, e que só pode
ser entendido pela fé. Depois que a imagem de
Nossa Senhora Aparecida foi encontrada, muitos
milagres foram atribuídos a ela. Veja os primeiros milagres atribuídos à santa relatados no site
do Santuário Nacional de Aparecida:
Menina cega
Em 1874, uma senhora chamada Gertrudes
Vaz levou sua filhinha, que era cega desde o
nascimento, para conhecer a capela de Nossa
Senhora Aparecida. A viagem demorou três
meses e, quando chegou na estrada que levava
ao santuário, a menina disse: “Olhe, mamãe, a
capela da Santa!”. Agradecidas, mãe e filha se
puseram a rezar.
Zacarias
Um escravo chamado Zacarias, ao ser resgatado
por seu feitor depois de fugir, pediu para rezar
para Nossa Senhora Aparecida quando passava
pela capela. Com muita fé, Zacarias olhou para a
imagem da santa e, quando estava fazendo suas
orações, as correntes de sua algema se soltaram.
Assim, ele ficou livre.
Velas
Certa noite, quando o povo da aldeia dos pescadores se reunia para rezar para Nossa Senhora
Aparecida as velas que ficavam ao lado da imagem se apagaram. Quando uma das senhoras,
chamada Silvana da Rocha, se levantou para
acender as velas novamente, elas se acenderam
sozinhas, misteriosamente.
Salvamento
Durante uma pescaria, uma correnteza forte
derruba um menino no rio. O pai, desesperado
porque o filho não sabia nadar, pediu a intercessão de Nossa Senhora Aparecida. No mesmo
momento, o corpo do menino parou de ser arrastado mesmo com a correnteza forte e o pai
consegue salvar seu filho.
Foto • Roberto Tetsuo Okamura / Shutterstock.com
São Benedito
São
Vida de Santidade
Cuiabá, Mato Grosso / BR - Rosário e São Benedito
Um dos marcos fundadores da da cidade.
A VIDA DE
Por Pe. Valdinei Antonio da Silva
Benedito
B
enedito, entre todos bendito! De
todos os santos bendito! Socorre
o fiel no pranto e o coração se enche
de encanto, dos devotos de todos os
cantos! O pão não deixa faltar, a alegria devolve ao lar, os enfermos deseja
curar, pois sua bondade sem par socorre a quem invocar. Benedito, hoje e
sempre, a todos deseja amar.
Benedito dedicavase incansavelmente
na promoção e na
defesa da vida,
exortava os fiéis na
busca da salvação.
Seus pais eram africanos da Etiópia e
foram arrancados de sua pátria e vendidos como escravos na Sicília, Itália.
O pai foi vendido para um rico fazendeiro, chamado Vicente Manasseri. Na
época os escravos tinham que adotar
o sobrenome do seu senhor, assim
sendo, o pai de Benedito era Cristóvão
Manasseri. A mãe de Benedito, quando chegou à Itália, foi libertada pelo
seu senhor, porém sempre conservou
o sobrenome herdado – Diana Larcan.
Foi na Sicília que os dois se conheceram e se apaixonaram. Tornaram-se
cristãos e se casaram na Igreja Católica.
O jovem casal era exemplo de honestidade, lealdade e de fé!
ENTRE TODOS BENDITO!
No ano de 1526, nasce o primeiro filho do casal e na pia batismal recebe
o nome de Benedito, que significa
“abençoado”. O maior presente que
o pequeno Benedito recebeu foi a
carta de alforria do senhor Manasseri.
Logo em seguida nasceram Marcos,
Baldassa e Fradella. Foram desde
muito cedo orientados na fé e nos princípios cristãos e aprenderam a rezar no
joelho de D. Diana. Eram muito pobres
e jamais tiveram condições de estudar,
trabalhavam no arado da terra e com o
pastoreio de ovelhas.
Nosso Santo era humilhado e escarnecido por seus colegas da lavoura. O preconceito era escandaloso contra Benedito e ele tudo suportava por amor.
Um dia entre os insultos dos jovens,
uma voz enérgica se fez ouvir:
“-AH! Hoje zombais desse pobre negro!
Mas logo vereis sua fama correr pelo
mundo!” Era frei Jerônimo Lanza, o eremita, que assim profetizava. O jovem Benedito sente o chamado, se alegra com
as palavras do Frei Jerônimo e deixa o arado e o trabalho com os bois. Implorando
a bênção dos pais, parte para o eremitério dos Franciscanos. A cada dia os frades
se alegravam com a presença do irmão
Benedito, ele tornara-se tudo para todos.
Revista Católica 27
Vida de Santidade
São Benedito
O PÃO NÃO DEIXA FALTAR
Era generoso, simpático e muito piedoso. Depois de 5 anos, irmão Benedito fez
sua profissão religiosa, professando a
irmã pobreza, a obediência, a castidade
e vida de contínua penitência. No eremitério viviam em extrema pobreza e
alimentavam-se com o pão que mendigavam e as verduras que plantavam. Viviam a perfeita pobreza como ensinava
a regra do seráfico Pai Francisco de Assis.
Aos poucos, o povo da cidade e região
foi percebendo naquele irmão negro,
de olhar brilhante e sorriso luminoso,
algo de extraordinário e sobrenatural. O
povo cada vez mais queria ouvir os conselhos do irmão Benedito e ser por ele
abençoado. Longas filas eram formadas
todos os dias na porta do mosteiro. Com
a morte de frei Jerônimo, os eremitas
procuraram abrigo em outros conventos franciscanos. Frei Benedito foi para
o convento de Santa Maria de Jesus, na
Sicília, onde permaneceu até a morte.
O primeiro trabalho de Benedito foi
como cozinheiro, ele transformou a
cozinha num santuário de oração.
Quando tudo faltava na dispensa, Benedito rezava e o milagre acontecia. Os
frades a cada dia eram surpreendidos
com manifestações extraordinárias,
como peixes frescos que apareciam
nos jarros, pães que se multiplicavam,
o vinho que não terminava, a lenha
para o fogo no rigor do inverno.
Quando tudo faltava
na dispensa, Benedito
rezava e o milagre
acontecia.
Os frades gritavam: “Milagre, milagre!”
No dia de Natal e tendo a visita do
bispo para o almoço, o convento estava em festa e Benedito, de joelhos
na capela, contemplava em êxtase a
cena do nascimento do Menino Jesus. Perde-se no tempo e se esquece
do almoço, todos estão a sua procura
e o encontram em oração. Benedito
sai correndo e, com toda confiança na
providência, fecha a cozinha. Os frades, quando olham pela janela, ficam
extasiados, pois contemplam dois seres luminosos na cozinha ajudando
frei Benedito. O almoço servido parecia um manjar dos céus! Frei Benedito
foi eleito por unanimidade superior
da província. Ficou profundamente
angustiado, e suplicou que revissem
a escolha, pois era grande a responsabilidade para um pobre e analfabeto
irmão. Em nome da santa obediência,
frei Benedito aceita, com respeito e
amor, a responsabilidade inerente de
um superior.
A ALEGRIA DEVOLVE AO LAR
Benedito torna-se um pai para todos
os frades e um modelo de acolhimento para todos os fiéis que visitavam o convento. Uma senhora
saía do convento em uma charrete
e trazia em seus braços seu filhinho
adormecido. Um susto fez com que
os cavalos derrubassem da charrete a mãe com a criança. A criança
morreu para desespero da mãe, que
aos berros chamava Frei Benedito. O
bondoso frei tomou o menino nos
“eu não curo braços, orou com grande fervor e
ninguém,
o menino voltou à vida. Um jovem
mas vamos com o pescoço coberto de tumores
rezar aos
foi levado diante de Frei Benedito
pés de Jesus para que o curasse. O frade responSacramentado deu: “eu não curo ninguém, mas
e da Virgem vamos rezar aos pés de Jesus SacraMaria, eles é mentado e da Virgem Maria, eles é
que curam”. que curam”. O milagre aconteceu,
para espanto de todos. E assim, em
sua biografia encontram-se incontáveis fatos e milagres extraordinários.
28 Atrás da Palavra
Outubro / Novembro 2014
A TODOS DESEJA AMAR
Benedito dedicava-se incansavelmente na promoção e na defesa da vida,
exortava os fiéis na busca da salvação.
No ano de 1589, Frei Benedito, com 63
anos, percebe que é chegada a hora
de sua partida para a pátria celeste.
Suas forças chegam ao fim e com o
olhar fixo no alto, implora o perdão dos
confrades e tendo o rosto transfigurado, entrega sua santa alma a Deus. O
povo da cidade só soube da morte do
santo depois do sepultamento. Todos
estavam numa festa na cidade vizinha.
Em poucos dias, centenas de milhares
de pessoas chegaram ao mosteiro para
rezar diante de seu túmulo. O povo já
aclamava Frei Benedito como santo.
Foi beatificado em 1763 e canonizado
em 1807. No Brasil a devoção ao bem-aventurado Frei Benedito chegou em
1686 na Bahia, com a ereção canônica
da Irmandade dos Homens Pretos. ■
Nossa Senhora Aparecida
Comunidade em Descalvado
Nossa
Senhora da Aparecida
COMUNIDADE
QUASE PARÓQUIA SÃO JUDAS TADEU
A
comunidade surgiu no início da
década de 1980, através de um
grupo de fiéis devotos que rezavam
o terço levando a imagem de Nossa
Senhora Aparecida às casas do bairro
onde residiam, na cidade de Descalvado. A iniciativa da reza do terço foi da
devota Maria Daniel Teribele.
Posteriormente, o terço continuou
a ser rezado na garagem da casa de
Maria Inês Mauri, em 1985. O primeiro
ministro da palavra e da eucaristia da
comunidade foi João Rubens Gouveia,
hoje já falecido. A primeira missa na
comunidade foi celebrada na creche
Renata Gentil e foi presidida pelo Monsenhor José Canônico.
Ainda durante algum tempo, as missas
foram realizadas na creche, até o momento em que a direção da mesma
não mais permitiu a celebração naquele local, ocasião em que as missas passaram a ocorrer na garagem da casa de
Maria Inês Mauri, da mesma forma que
os trabalhos de catequese.
Esse mesmo grupo de fiéis, então bem
organizado, decidiu solicitar junto ao
Monsenhor José Canônico que era o
responsável pela única paróquia de
nossa cidade, uma outra igreja que pudesse abrigar o movimento que estava
em franco crescimento.
A CONSTRUÇÃO DA IGREJA
Como na época havia sido lançado
um loteamento de terrenos no bairro,
hoje Recanto dos Ipês, de propriedade
da família Mauri, a paróquia e o grupo de fiéis fizeram um pedido formal
para que a família cedesse um desses
terrenos para a paróquia. Assim, de
forma muito generosa, a doação foi
concretizada e, com a ajuda e o envolvimento de toda comunidade e dos
cidadãos descalvadenses, através da
realização de quermesses e doações,
foram levantados os recursos financeiros necessários para a construção da
igreja Nossa Senhora Aparecida, que
atualmente está totalmente concluída
e localizada na Avenida Descalvado.
A imagem em madeira de Nossa Senhora Aparecida que está até hoje
exposta na igreja da comunidade foi
adquirida em Aparecida do Norte e
doada pelo Pe. Angelo Rossi em cerimônia religiosa realizada com a presença de inúmeros fiéis.
Nos dias de hoje, a comunidade Nossa Senhora Aparecida, que está sob
a orientação da Quase Paróquia São
Judas Tadeu, cujo responsável é o Pe.
Alex Sander Turek Machado, realiza as
missas semanalmente, aos sábados, às
19h30, bem como as atividades de catequese e as demais funções pastorais
da comunidade. Que a graça de Deus
seja sempre derramada a todos os fiéis
devotos da querida e amada Nossa Senhora Aparecida. ■
Revista Católica 29
História
Descalvado pela memória do povo
SOCIEDADE E IGREJA NO BRASIL1
ODoenças,
DIA
DE
FINADOS
morte e celebração no Descalvado antigo
O Dia de Finados,
em 02 de novembro,
era um momento
especial de lembrança
e reverência aos entes
falecidos, saudosos
e queridos.
Por Marco Antonio Pratta
O
velho sertão paulista, como era conhecido no século XIX,
estendia-se a partir da cidade de Campinas, abrindo-se
por todo o interior da então província de São Paulo. A região
era assolada por muitas doenças epidêmicas, como a febre
amarela e a malária, com grande número de óbitos. Em Belém
do Descalvado a situação não era diferente.
“Estado sanitário. Não tem melhorado, infelizmente, o
nosso estado sanitário. As providências que temos instantemente reclamado não se tem tomado. Em uma casa
á Rua Uruguayana2 já falleceram de febre amarella três
pessoas; entretanto até hoje não nos consta que se tenha
procedido á desinfecção que exige esse prédio, onde não
se observa nenhuma condição de asseio” (jornal Gazeta
de Descalvado, 06/03/1892, 01).
O primeiro cemitério da cidade, chamado na época de Campo Santo, foi um espaço próximo à Matriz,
onde hoje está a Praça Barão do Rio Branco (Jardim
Velho). Ainda no final do século XIX esse cemitério foi
desativado, uma vez que o coreto da praça atual, por
exemplo, foi inaugurado em 15 de novembro de 1900.
Entre as ruas Pedro de Alcântara Camargo e José Bonifácio,
onde hoje está a Praça Santa Cruz das Almas, funcionou o segundo cemitério urbano, desativado completamente em 1958.
30 Atrás da Palavra
Outubro / Novembro 2014
O atual Cemitério Municipal, inaugurado em 1893, foi necessário por dois motivos: o grande número de falecimentos devido à febre amarela, entre 1892 e 1893, e a nova legislação,
decorrente da Constituição republicana de 1891, que exigia a
separação entre a Igreja Católica e o Estado. Assim sendo, os
cemitérios passaram a ser administrados pelo poder público.
Além das epidemias, era muito grande também o número de
brigas e desentendimentos nas fazendas, somados com outras
doenças e situações, que também provocavam muitas mortes.
O atual Cemitério Municipal,
inaugurado em 1893, foi necessário
por dois motivos: o grande número
de falecimentos devido à febre
amarela, entre 1892 e 1893, e a
nova legislação, decorrente da
Constituição republicana de 1891.
“Ferido. Na fazenda Santa Maria, no município, foi offendido com diversas facadas o Sr. José Adam, filho do velho Adam de Campos. Os aggressores, dous italianos,
evadiram-se. Desejamos prompto restabelecimento”
(jornal O Descalvadense, 11/09/1902, 03).
“O trachoma3. Conforme previamente annunciei tenho
percorrido várias fazendas deste município com o fim de
orientar-me sobre o número de pessoas atacadas de trachoma. (...) Sendo o maior número de doentes italianos,
tem sido destribuído instruções no respectivo idioma,
encarregando-se os administradores de fazer larga destribuição entre os colonos” (jornal Correio de Descalvado.
07/04/1907, 02).
“Infelizmente, nesta comarca, o número de suicídios tem
augmentado consideravelmente, motivados quase sempre
por desiquilíbrios mentais e algumas vezes pela miséria-negra, a companheira inseparável dos desprotegidos da sorte.
(...)” (jornal O Descalvadense, 25/09/1910, 02).
Além das epidemias, era muito
grande também o número de
brigas e desentendimentos nas
fazendas, somados com outras
doenças e situações, que também
provocavam muitas mortes.
Com a grande produção cafeeira e a chegada da ferrovia
o acesso aos meios de prevenção e aos cuidados médicos
melhorou um pouco, mas mesmo assim a situação geral da
saúde pública era bastante precária.
“Relatório da Delegacia de Hygiene Municipal de Descalvado apresentado ao snr. Cap. Prefeito Municipal no dia 16
de Janeiro de 1909.
Obituário – 1908 – 353 óbitos:
Pela idade: 0 – 7 annos: 237; 7 – 20 annos: 18; 21 – 30 annos:
17; 31 – 60 annos: 50; 61 – 99 annos: 31.
Pela nacionalidade: Brasileiros: 284; Italianos: 44; Hespanhòes: 12; Allemães: 3; Austríacos: 2; Norte-americano: 1; Nacionalidade ignorada: 7” (jornal O Descalvadense,
01/03/1909, 03).
Lazareto (1910)
Outro grave problema do município era a hanseníase, conhecida popularmente como lepra ou morphéia4. Sem cura
na época, quando alguém aparecia infectado a saída para
a maioria era retirar-se para a Vila de São Lázaro, o Lazareto,
que se localizava próxima às margens do Ribeirão Bonito,
defronte à atual Rua Pedro de Alcântara Camargo.
“Sociedade Beneficiente dos Morphéticos do Descalvado.
Movimento de Doentes na Villa São Lázaro: Existiam internados – 14. Entraram durante o mêz – 3. Sahíram durante
o mêz – 4. Ficaram – 31. Thesoureiro – Juvenal Macedo”
(jornal O Descalvadense, 24/03/1918, 03).
Com a grande produção cafeeira e
a chegada da ferrovia o acesso aos
meios de prevenção e aos cuidados
médicos melhorou um pouco, mas
mesmo assim a situação geral da
saúde pública era bastante precária.
Tal como atualmente, o Dia de Finados, em 02 de novembro, era
um momento especial de lembrança e reverência aos entes falecidos, saudosos e queridos, celebrado após o Dia de Todos os
Santos, na época também um feriado guardado pela maioria. ■
Nos textos antigos está mantida a ortografia original da época.
Atual Rua Coronel Rafael Tobias. O antigo nome fazia alusão a uma
batalha da Guerra do Paraguai.
3
Oftalmopatia crônica, de causa infecciosa, que compromete a córnea, levando à fotofobia, dor e lacrimejamento (Novo Dicionário
Aurélio da Língua Portuguesa, 1986, 1696).
4
Morpheu, Morfeu: identificado como o Deus do sono, dos sonhos
e das sombras na antiga mitologia grega. Posteriormente foi identificado com a morte.
1
2
Bibliografia:
DESCALVADO. Arquivo de jornais da Biblioteca Pública Municipal
“Gérson Alfio de Marco”.
KASTEIN, Luiz Carlindo Arruda. Conheça Descalvado. Descalvado, 1996.
Revista Católica 31
São Francisco
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Vida de Santidade
Francisco
o irmão de todas as criaturas
Por Pe. Valdinei Antonio da Silva
O
ser humano de todos os tempos
sonha com a paz. Almeja por algo
que o leve para além de si mesmo, a
uma realidade superior. Francisco,
tomando esta consciência da busca
por algo superior, descobre que a via
para alcançar tal patamar é a palavra
de Deus. E cantou essa palavra com a
sua vida. São Francisco vive a presença e o encontro místico com Deus em
No pensamento
franciscano
das origens, a
caridade ocupa
um lugar central.
32 Atrás da Palavra
Outubro / Novembro 2014
sua vida em todos os instantes e não
deixa, de forma alguma que algo lhe
atrapalhe, pois a experiência de Deus
é única e o que ele simplesmente faz
é “cantar” esta grande e única vivência
de Deus, feita na criação. “Onipotente e bom Senhor, a ti a honra, glória
e louvor; Todas as bênçãos de ti nos
vêm e todo o povo te diz: Amém”!
Quando encontrou o bispo, Dom
Guido de Assis, que aconselhou Francisco a ser menos radical com a vida:
(‘Vossa vida me parece dura e áspera,
pois não possuís nada neste mundo’),
Francisco responde: ‘Senhor, se tivéssemos bens, precisaríamos dispor
também de armas para defendê-los.
AMOR AO PRÓXIMO
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É da riqueza que provêm discussões
e brigas, e assim se impede de muitas
maneiras tanto o amor a Deus, quanto
o amor ao próximo. Por isso não queremos possuir nenhum bem material
neste mundo’. Francisco acaba por
aqui; não acrescenta o fácil conselho:
‘Vós também deveríeis mudar’. No
projeto do santo há um ponto a ser
ressaltado – apenas o exemplo positivo pode induzir alguém a mudar e se
corrigir. “Pelo exemplo, mais do que
pelas palavras, as quais, de qualquer
forma, nunca devem soar como crítica ou acusação, mas apenas como
fraterna exortação de igual para
igual” (Chiara Frugoni).
Uma das características mais marcantes da santidade nos séculos centrais
da idade média é a caridade. No pensamento franciscano das origens, a
caridade ocupa um lugar central. Ela
é amor e representa o Deus louvado
por Francisco (Tomás de Celano). Francisco vivia em uma cidade e, portanto,
conviveu, no seu dia a dia, com diversos aspectos das transformações que
marcaram o período medieval. Dentre
estes, destacamos o aumento da população citadina, a construção de grandes
prédios, a proliferação de movimentos
religiosos leigos, como a organização
de confrarias e de associações de penitentes, a perseguição às heresias, etc.
E, certamente, teve contato com letrados, clérigos, pobres, leprosos, jograis
e prostitutas nas ruas da cidade. Francisco também sofreu diretamente o impacto dos conflitos entre as diferentes
instâncias de poder na Península Itálica.
É da riqueza que
provêm discussões
e brigas, e assim se
impede de muitas
maneiras tanto o
amor a Deus, quanto
o amor ao próximo.
VIDA DE DEDICAÇÃO
Em 1200, quando tinha cerca de 18 anos, provavelmente
participou da revolta dos citadinos que resultou na organização da comuna de Assis. Neste momento, os nobres
se refugiaram nas cidades vizinhas, retornando após o tratado de paz assinado entre os bons homens e os homens
do povo em 1203.
Francisco iniciou, segundo os documentos, uma mudança
de comportamento que culminou com o rompimento do
seu ofício de mercador para a adoção da vida de penitente.
Assim, começou a restaurar templos, dar esmolas, praticar o
jejum e dedicar-se à oração em locais retirados, até que finalmente rompeu com a família, por volta de 1206, e passou a
viver na Igreja de São Damião. Alguns anos depois, em 1208,
iniciou sua atividade de pregação, que exortava à penitência. A partir deste momento começou a atrair seguidores.
Provavelmente por mediação do bispo de Assis, em 1209,
Francisco e seu grupo foram a Roma solicitar ao então Papa
Inocêncio III aprovação para o seu modo de vida religioso.
Nos seus dois últimos anos de vida, Francisco dedicou-se à
meditação e à oração, fazendo ainda viagens de pregação.
Estava já muito doente, chegando a fazer alguns tratamentos médicos, como uma cauterização nos olhos. Ele faleceu
em 1226, em Assis. Dois anos após a sua morte, Francisco foi
canonizado pelo papa Gregório IX após um processo, como
era então a normativa papal. Seu culto foi difundido paulatinamente a fim de registrar e propagar a sua memória. ■
Revista Católica 33
Espaço Criança
Falando de Jesus
Decifrando
Palavras
B
C
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Ela é rainha
brasileira,
Mãe de todos nós.
Nossa querida
padroeira,
Rogai sempre
por nós!
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p a r a i b a
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Rio em que os pescadores encontraram a
imagem de Nossa Senhora Aparecida.
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Ligue os
pontos
2
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No dia 12 de outubro, a igreja católica comemora o dia de Nossa Senhora Aparecida.
Descubra um pouco mais da história dessa
santa que é considerada a Padroeira do Brasil.
1
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——
2 Cidade aonde a imagem foi encontrada.
g u a r a t in g u e t a
——
——
——
——
——
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——
——
——
——
——
——
——
que ofereceu uma coroa de ouro e
3 Princesa
um manto azul à santa.
i s a b e l
——
——
——
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——
——
Nome de um dos pescadores que achou a
4imagem
da santa.
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——
——
——
——
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——
——
——
——
imagem de Nossa Senhora Aparecida foi
5 Amodelada
em um tipo de argila chamada.
t e r r a c o t a
—–
—–
—–
—–
2.GUARATINGUETA
3.ISABEL
—–
4. JOAO ALVES
5. TERRACOTA
34 Atrás da Palavra
—–
—–
1.RIO PARAIBA
—–
Resposta
—–
Outubro / Novembro 2014
Dia das Crianças
Você sabia que o Dia das Crianças foi criado
por um decreto? Em 1924 o deputado federal
Galdino do Valle Filho resolveu propor a criação de um dia para a “festa da criança”. A proposta foi aprovada no Congresso Nacional e
no mesmo ano o presidente Arthur Bernardes
assinou um decreto instituindo o dia 12 de outubro para essa comemoração.
Mas a data só começou a ser comemorada
mesmo em 1960, quando a fábrica de brinquedos Estrela fez uma promoção em conjunto com a Johnson & Johnson para incentivar
os pais a presentearem seus filhos. Daí para
os outros fabricantes de brinquedos criarem
promoções parecidas foi um pulo.
Para alegria das crianças e desespero dos
pais, no ano seguinte, as indústrias resolveram se unir para realizar as campanhas de
incentivo à compra de brinquedos na data já
estabelecida pelo decreto.
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Ed5_Atras-da-Palavra_final-Baixa