SAMBAÍBA: ARTESANATO EM ROCHA E FIBRA DE BANANEIRA
Cilene Bastos de Paula - coordenadora de Programas Sociais e Sustentabilidade
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RESUMO
O Sambaíba - Programa de Responsabilidade Socioambiental da SAMA S.A. Minerações
Associadas foi criado em 2004, com diferentes frentes de atividades incluindo um projeto de
artesanato, desenvolvido com o objetivo de incluir socialmente cidadãos de Minaçu-GO e
profissionalizar pessoas de baixa renda e deficientes, oriundos da comunidade. O Artesanato
Sambaíba está dividido em dois segmentos: aproveitamento da rocha estéril da mineração,
que é transformada em peças artesanais e aproveitamento de fibras do pseudocaule de
bananeira na confecção de caixas para o acondicionamento do artesanato em rocha, entre
outras peças artesanais.
Palavras-chave: mineração; artesanato; socioambiental; comunidade.
ABSTRACT
The Sambaíba - Social and Environmental Responsibility Program of SAMA S.A.
Minerações Associadas was established in 2004, with fronts of different activities including a
craft project, developed with the objective to include people from socially Minaçu-GO and
professionalize the poor and disabled, from community. The Craft Sambaíba is divided into
two segments: utilization of barren rock mining, which is transformed into craft items and use
of fibers in the manufacture of banana boxes for packaging of craftsmanship in stone, among
other artifacts.
Keywords: mining, folk art, social and environmental; community.
INTRODUÇÃO
O Município de Minaçu, a 388 km de Brasília, tem uma população de 36 mil habitantes e sua
economia está embasada na geração de energia, mineração de amianto Crisotila e
agropecuária. O município tem vocação turística, por sua localização às margens dos Lagos
Serra da Mesa e Canabrava, com acesso fácil de Brasília, por meio da rota de Alto Paraíso em
rodovia não pavimentada e pela BR -153 de Goiânia por rodovia pavimentada. No entanto, há
pouca oferta de emprego para a população local e os jovens acabam emigrando em busca de
melhores condições de vida, deixando em situação difícil pais e outros familiares. Para
portadores de necessidades especiais esse quadro é mais grave: a oferta de empregos é ainda
menor.
A partir do compromisso com a sustentabilidade de suas atividades, a SAMA S.A. –
Minerações Associadas lançou em novembro de 2004, o Sambaíba, Programa de
Responsabilidade Socioambiental, em parceria com a Superintendência de Geologia e
Mineração da Secretaria da Indústria e Comércio de Goiás, Instituto Brasileiro do Crisotila,
Prefeitura de Minaçu, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e Lideranças
Comunitárias. A interação dos parceiros do Programa tem privilegiado a sustentabilidade do
meio ambiente, o exercício da cidadania e a qualidade de vida; sendo essa a filosofia que se
encaixa atualmente no nobre conceito da gestão de responsabilidade socioambiental.
Um dos pilares do Programa é o Projeto de Artesanato, que se baseia no trabalho planejado de
artesãos e na preservação do ecossistema. O objetivo do Projeto é viabilizar o aproveitamento
da rocha estéril, oriunda da mineração do Crisotila, até então desprezada enquanto resíduo,
para ser trabalhada e transformada em peças ornamentais, utilitárias e artesanais.
Assim, o Artesanato Sambaíba vem criando uma importante “cultura mineral” na população
envolvida e representa ainda uma fonte alternativa de renda e emprego para a comunidade,
com amplos benefícios em prol da indústria do turismo, sem agredir o meio ambiente.
Uma proposta capaz de reforçar as bases socioeconômicas da cidade de Minaçu, além de
inserir segmentos da comunidade local à atividade profissional do artesanato, evoluindo a
perspectiva de qualidade de vida.
A expectativa da SAMA é contribuir para que o município de Minaçu seja um pólo de
referência de aproveitamento da rocha estéril de serpentinito. Mas, além disso, pretende
promover a geração de novas oportunidades de profissionalização para a comunidade de
Minaçu.
DESENVOLVIMENTO
Para a viabilidade do Projeto de Artesanato, a SAMA e o SESI-GO desenvolveram o curso de
Qualificação Profissional de Artesão Mineral Artístico, que tem por objetivo geral,
proporcionar qualificação profissional de nível básico para jovens e adultos, desenvolvendo
habilidades, atitudes e conhecimentos relativos à arte de trabalhar em rochas minerais.
Para a aplicação prática do curso também foi desenvolvida uma oficina experimental que
possibilitou o aproveitamento da rocha estéril do processo de mineração da SAMA, com a
utilização de ferramentas e equipamentos apropriados, sendo alguns com adaptações
exclusivas, de acordo com as necessidades e aplicações e dentro das melhores técnicas de
trabalho seguro.
O curso além de capacitar o artesão para o aproveitamento de material mineral tido como
resíduo no processo de mineração, inclui disciplinas voltadas para o desenvolvimento das
qualidades pessoais, o encorajamento do empreendedorismo, do trabalho em equipe e das
ações associativistas. Também evidencia a educação continuada como garantia do
aperfeiçoamento e da qualificação profissional.
O artesanato em fibra de bananeira nasceu como um desdobramento do artesanato em rocha.
Para a embalagem das peças artesanais surgiu a necessidade de um material forte, capaz de
proteger e permitir o transporte seguro. Assim, a partir de técnicas especiais, os artesãos além
de produzirem todas as caixas para acondicionamento do artesanato, também fabricam uma
linha diversificada de peças decorativas e utilitárias.
A escolha da fibra de bananeira foi feita devido à sua resistência. Trata-se de um elemento
natural fácil para se trabalhar, um recurso renovável, disponível na região de Minaçu e, além
disso, o pseudocaule que dá origem ao cacho de bananas, depois de retirado, perde a utilidade
para a bananeira mãe. O aproveitamento desse material no artesanato reforça o conceito de
sustentabilidade ambiental do projeto de artesanato.
Os artesãos, que produzem as peças a partir de pseudocaule de bananeira, também participam
de um programa socioeducativo. Eles recebem orientação sobre a relação ao uso racional da
água e energia. Atualmente, além do aproveitamento do papel A4 utilizado nos escritórios da
SAMA, também são reaproveitados para a confecção das caixas, os papelões de embalagem
de materiais usados a empresa e que seriam destinados para a reciclagem. Todas as aparas dos
papéis de fibra de bananeira retornam ao processo da confecção do papel, sem geração de
resíduos.
ARTESANATO EM ROCHA
Para a parte prática do curso de formação e Qualificação Profissional de Artesão Mineral, a
arquiteta Andiara Machado de Paiva desenhou uma linha de produtos exclusiva que inclui
peças de escritório: porta clips/cartão, porta-lápis e porta-caneta, utensílios domésticos:
saboneteira, porta escova, porta pente e vasos de decoração. Os protótipos foram
desenvolvidos por um artesão do Centro de Gemologia ligado a Superintendência de Geologia
e Mineração do Estado de Goiás. Paralelamente, foi implantada na unidade SESI/SAMA a
oficina para a confecção das peças. Após o término do curso teórico e prático, iniciou-se o
aperfeiçoamento dos artesãos durante o ano de 2007, nesse período o trabalho em rocha estéril
foi direcionado para a criação livre, que resultou na linha ecológica com destaque para os
animais da fauna do Cerrado.
Linha de utensílios domésticos e artesanato livre feitos em rocha estéril
Perfil das pessoas atendidas pelo projeto
Número de pessoas atendidas
Na primeira etapa (2004) o Projeto capacitou 40 pessoas e na segunda etapa (2009) 14 alunos
entre jovens e adultos, em condições de vulnerabilidade social e/ou portadores de
necessidades especiais
Artesãos capacitados pelo Projeto Sambaíba
Perfil da população atendida
Homem / Mulher / Jovem / Portadores de Deficiência Física, sensorial, mental ou múltipla /
Dependentes químicos / Egressos do sistema penitenciário e/ou familiares / Populações Afrodescendentes
Critérios para seleção das pessoas atendidas
Os candidatos deveriam ter idade igual ou acima de 16 anos; possuir renda per capita de até
meio salário mínimo; escolaridade a partir da 4ª série e estar residindo no município de
Minaçu há três anos ou mais, serem encaminhados e inscritos por entidades locais (Igrejas;
APAE; Pastoral da Criança; Secretária de Municipal de Educação; Fundação Social;
Instituições Religiosas e Ministério Público). Os candidatos que não atenderam o requisito da
escolaridade e não estavam matriculados em nenhuma escola, foram encaminhados pelo Senai
ao Programa de Educação de Jovens e Adultos - EJA.
ARTESANATO COM FIBRA DE BANANEIRA
Um grupo de 23 pessoas da comunidade de Minaçu está trabalhando com uma técnica
inovadora: a produção de caixas e peças artesanais com papel feito com fibra da bananeira.
Parte dos alunos é portadora de necessidades especiais (visual ou auditiva) e foi selecionada
em instituições da cidade. O projeto Artesanato com Fibra de Bananeira tem por objetivo
proporcionar uma transformação social na comunidade, com uma atividade que promova a
geração de renda.
Caixas com papel feito com fibra da bananeira
Para a capacitação dos artesãos, foi desenvolvido um curso em três etapas, com o foco em
uma técnica que agrega papel, palha e fibra da bananeira.
1ª Etapa – Preparação de fibras e palhas de bananeira
Nesta etapa os aprendizes têm aulas sobre a extração da matéria-prima da bananeira, a
separação das bainhas, o corte, a secagem e a seleção da fibra e dos diversos tipos de palha.
Também são dada aula de introdução à tecelagem e ao trançado com a palha da bananeira,
que é a base para a produção de diversas peças de artesanato.
2ª Etapa – Produção de papel com bananeira
Os aprendizes têm aulas sobre as técnicas de produção de papel usando a mistura de fibras de
bananeira e papel A4 usado picotado. O papel é depois tingido em diferentes cores e
tonalidades.
3ª Etapa – Produção de caixas com papel de bananeira
O conhecimento das técnicas para a produção de caixas e outras peças artesanais é adquirido
na terceira fase do curso, quando os aprendizes também têm aulas de introdução à Arte em
Papel.
COOPEMIN
Em março de 2006, os artesãos formados pelo curso oferecido pela SAMA e seus parceiros
criaram a Cooperativa de Produção do Empreendedor Artesão de Minaçu – COOPEMIN.
Os alunos transformaram-se em cooperados e passaram a utilizar a oficina de artesanato na
unidade SESI-SAMA, equipada com uma linha de produção com 32 máquinas, para a
produção e comercialização das peças.
Hoje 41 jovens, contemplados pelo programa, fazem parte da Coopemin. A entidade deu
continuidade ao Programa Sambaíba de promover o desenvolvimento socioeconômico de uma
importante parcela da população, por meio de uma atividade eco-responsável.
A produção é vendida para a comunidade de Minaçu, para a Sama e algumas empresas da
região, que fazem encomendas de peças em série. As peças produzidas são também
comercializadas em eventos da cidade.
RESULTADO
O curso de Qualificação Profissional de Artesão Mineral Artístico é um marco na formação
de novos profissionais no país, porque integra além dos aspectos técnicos específicos os
aspectos humanos e mercadológicos.
Com a criação da Coopemin, o projeto de artesanato realizado pela SAMA e seus parceiros,
tornou-se completamente sustentável. Hoje os aprendizes que permanecem no projeto têm
uma atividade profissional e possibilidades de renda concretas, com o crescimento contínuo
dos pedidos feitos à cooperativa. O artesanato produzido com rocha de serpentinito apresenta
características únicas e aliado ao artesanato em papel de fibra de bananeira, têm levado o
nome da Coopemin para diversos pontos do país.
A COOPEMIN produz peças utilitárias, de decoração e da linha ecológica com diferentes
colorações da rocha estéril de serpentinito, coletada na Mina de Cana Brava. Isso garante a
exclusividade do seu artesanato, uma vez que as combinações de cores conferem
características únicas para cada criação. O artesanato em rocha é comercializado nos
mercados brasileiro e internacional.
PONTOS POSITIVOS COM A IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA
a) Sustentabilidade:
•
financeiros: as parcerias entre empresas privadas e governamentais garantem
o aporte financeiro para continuidade do projeto e realização de novas edições
do curso de Qualificação Profissional de Artesão Mineral Artístico e ampliação
do perfil dos alunos;
•
técnicos: a estrutura técnico-didática (Tecnologia SENAI) da formação de
artesãos permite a capacitação dos alunos e a inserção no mercado de trabalho.
•
comunitários: engajados em uma cooperativa de trabalho, os artesãos
formados pelo curso terão condição de aplicar seus conhecimentos para outras
rochas e matérias primas.
b) Replicabilidade:
•
financeiros: A redução de custo para reedição do curso de formação de artesão
mineral, após os investimentos em infra-estrutura, permitirá uma alta
replicabilidade.
•
técnicos: Os artesãos formados pelo curso poderão, guardadas as proporções,
transferir conhecimento para novos aprendizes.
•
políticos: O know-how do sistema de formação dos alunos do Projeto poderá
dar suporte a políticas públicas, inserção em redes de formação e de
divulgação.
Participação da Comunidade
Este Programa tem alta capacidade de mobilizar a comunidade local, gerar protagonismo e
solidariedade porque a Mina de Cana Brava tem uma relação direta com a economia do
município, o que favorece a sua identidade com a comunidade local. A definição dos
públicos-alvos dos projetos foi feita em parceria com a Prefeitura Municipal de Minaçu,
através da Secretária Municipal de Educação, e com o Ministério Público na Cidade, que
participou da avaliação dos projetos e indicou jovens em situação de vulnerabilidade social.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CENTRO DE PRODUÇÕES TÉCNICAS – CPT - Curso de Lapidação de Pedras; Série
Como Fazer – manual nº 351. Viçosa - MG, (2001) 114p. CDD – 553.5.
CENTRO DE PRODUÇÕES TÉCNICAS – CPT - Curso de Lapidação de Pedras para Peças
Decorativas; Série Como Fazer – manual nº 367. Viçosa - MG, (2002). 84p. CDD – 671.15.
Cláudio Scliar, Amianto, mineral mágico ou maldito?,( 2005), 2ª edição, Ed. Novatus.
SEBRAE. Capacitação de empreendedores na área de serviços de eletricidade; micro,
pequeno e médias empresas; empreendedorismo, mercado e finanças. Brasília, (2002). 67p.
CDU 658.
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