TEOLOGIA A DISTÂNCIA: UMA NOVA METODOLOGIA PARA FORMAR E CONSCIENTIZAR MISSIONÁRIOS/AS E DISCÍPULOS/AS DE JESUS CRISTO? Sonia Maria Marques de Souza Cosentino1 Introdução A V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe afirma que a formação dos fiéis leigos e leigas é algo oportuno, necessário e fundamental para que estes/as possam viver sua missão e discipulado diante da realidade complexa e de graves injustiças que é a cultura contemporânea. Esta comunicação tem por objetivo discutir as possibilidades da formação e conscientização de missionários/as e discípulos/as de Cristo através de novas tecnologias, que propiciem, assegurem e permitam a articulação inseparável da reflexão teológica, do trabalho pastoral e do aprofundamento da vida espiritual, no seguimento do caminho percorrido por Jesus Cristo, tudo isto à luz de princípios de interatividade e contextualização que valorizam o diálogo com a cultura contemporânea. Processo evangelizador que leva homens e mulheres a viverem uma fé madura, onde não há lugar para dualismo entre fé e ciência, nem lugar para nenhum outro tipo de ruptura esquizofrênica. 2 Urge, portanto, realizar esta formação integral e permanente que desenvolva os dons e carismas que há em cada pessoa humana “criada à imagem e semelhança de Deus” (cf. Gn 1,27), tornando-a um adulto na fé. Não temos a pretensão de apresentar uma solução mágica para tal necessidade que hoje se apresenta à Igreja, pretendemos somente apontar, a partir de nossa própria experiência, um caminho que vem dando resultados positivos a mais de dez anos, o Projeto de Teologia a Distância da PUC-Rio, que é entendido por todos os seus membros como “um serviço que se presta à Igreja Católica do Brasil.” 3 Este projeto usa como metodologia para transmitir os principais conteúdos da fé cristã a Educação a Distância viabilizando assim um processo de ensinoaprendizagem, que leva a pessoa a aprender a aprender, a saber pensar, a criar, a construir conhecimentos, a participar ativamente de seu próprio crescimento. Podemos dizer que é um processo que busca colaborar para a humanização4 de todos os seus integrantes, onde a riqueza de dimensões que é o ser humano pretende ser contemplada sem nenhuma restrição. Com este principal objetivo a Teologia a Distância da PUC-Rio desenvolve uma reflexão teológica sempre com vistas à prática pastoral, à vida espiritual 1 Leiga, casada, mãe e avó, graduada em Teologia pela PUC-Rio, mestranda em Teologia SistemáticoPastoral pela mesma universidade. Atualmente é professora de cursos de teologia e tutora do Projeto de Teologia a Distância da PUC-Rio. 2 É muito conhecido entre nós o tipo de adulto que possui uma fé infantil e que, portanto, louva a Deus aos domingo e à ciência nos demais dias da semana. 3 TEPEDINO, A. M. Projeto de Teologia a Distância. In: VV.AA. Atualidade Teológica. Revista Semestral do Departamento de Teologia da PUC-Rio, ano I, n° 1, agosto/dezembro de 1997. p.107. Ana Maria é doutora em Teologia, professora do departamento de Teologia da PUC-Rio, primeira coordenadora do projeto de Teologia a Distância e uma de suas idealizadora. Atualmente retornou a esta coordenação. 4 Entendemos humanização como um processo que leva o ser humano a ser verdadeiramente humano, isto é, ser imagem e semelhança de Deus, concretizando em sua vida o projeto salvífico de Deus. Este projeto pode ser resumido no desenvolvimento harmonioso das quatro relações fundamentais do ser humano: relação dialógica com Deus; relação dialógica entre os seres humanos; relação de responsabilidade face ao meio ambiente; relação sincera e verdadeira com o próprio ser interior. Cf. GARCIA RUBIO, A. O Projeto de Deus sobre o ser humano (antropologia). Apostila de Iniciação Teológica do Curso de Teologia a Distância. Edição Experimental, 2007. p. 45-45. Garcia Rubio é doutor em Teologia pela Pontifícia Università Gregoriana, de Roma, professor do Departamento de Teologia da PUC-Rio e um dos idealizadores do Curso de Teologia a Distância desta mesma universidade. e à relação dialógica 5 tendo como base o Evangelho pregado e vivido por Jesus de Nazaré. Como já podemos ver é um processo que pode cooperar para formar e conscientizar cristãos/ãs sobre sua vocação missionária, pois a reflexão teológica desenvolvida nele colabora para o discernimento das vocações, dons e carismas de seus integrantes. 1. A V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe Esta Conferência reunida em Aparecida entre os dias 13 a 31 de maio de 2007 gerou um documento oficial 6, que é uma produção coletiva fruto de diferentes culturas e experiências eclesiais, buscando ser uma resposta pastoral para o hoje da Igreja latinoamericana e caribenha. A questão que moveu o Colégio Episcopal reunido em Aparecida foi a seguinte: “Como viver o mandato evangelizador no hoje do continente latinoamericano e no Caribe?” Para encontrar uma resposta adequada a esta questão o episcopado latino-americano e caribenho buscou ver a realidade que envolve estes povos e afirmou ser necessário discernir o momento presente devido às grandes mudanças que estão acontecendo, pois a partir delas mudam-se os antigos referenciais (33). Ressalta que a tradição religiosa de nosso continente começa a diluir-se (38). Mostra que a transmissão da fé corre um sério risco, pois já não é mais transmitida de uma geração à outra com a mesma fluidez que no passado (39). Finalmente caracteriza o hoje do continente latino-americano e do Caribe afirmando que vivemos uma mudança de época 7 , e seu nível mais profundo é o cultural (44). Esta afirmação do episcopado, segundo Luiz Roberto Beneditti, supõe modificações radicais na própria forma (ou mesmo natureza) da religião. 8 Estaria a Igreja do nosso continente assumindo a realidade de um horizonte sem cristandade 9? Parece-nos que está percebendo que o lugar social e eclesial não é mais o mesmo, que ele mudou radicalmente, e que, portanto é preciso adequar-se a este novo modo de ser e estar no mundo. Afirmar que há algo novo no lugar da cristandade exige da Igreja primeiramente humildade para ouvir, e em segundo lugar, ousadia para a partir da pós-cristandade buscar, e quem sabe encontrar, um novo caminho a seguir. Esta relação é incentivada e acreditamos ser vivida em todos os níveis do processo de aprendizagem deste projeto. Diálogo aberto e franco com todas as ciências e entre todos os integrantes deste projeto. 6 DOCUMENTO DE APARECIDA: Texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. Edições CNBB, Paulus e Paulinas, 2007. 7 Segundo o teólogo Carlos Palácio a mudança de época ou “tempo-eixo” introduz na consciência humana uma ruptura radical, que poderia ser resumida nestes dois traços: uma nova auto-compreensão da existência humana que está inseparavelmente unida a uma nova maneira de relacionar-se com a transcendência. Esta mudança epocal ocorreu entre os anos 800 a 200 a.C. e estaria acontecendo novamente agora. Cf. PALÁCIO, C. Novos Paradigmas ou fim de uma era teológica? In: VV.AA. Teologia Aberta ao Futuro. São Paulo: Soter e Ed. Loyola, 1997. p. 81. 8 BENEDITTI, L.R. Olhar sociológico para o Documento de Aparecida. In: VV. AA. Vida Pastoral – novembro-dezembro 2007 – ano 48 – n. 257. p 4. Grifo nosso. 9 Conceito muito questionado pelos especialistas em Historia da Igreja. Segundo José Luiz Del Roio "cristandade compreende o período que vai do Edito de Milão (313) até a segunda década do século XVI, com a consolidação da reforma protestante.” DEL ROIO, J.L. Igreja medieval. A cristandade latina. Ática, Rio de Janeiro, 1977, p. 12. Segundo Comblin a cristandade é uma prática da Igreja católica onde sua pastoral se faz a partir da posição de poder de bispos e do clero e sua evangelização se faz quase sempre por imposição. Para este teólogo somente a partir dos anos 70 do século passado começou o desmoronamento da cristandade com a grande revolução total da sociedade ocidental: revolução na ciência, na economia, na política, na cultura; revolução total e profunda com conseqüências de uma revolução na ética e na religião. Revolução que abalou todas as instituições: a família, a empresa, a escola, a universidade, o Estado e, naturalmente, as instituições religiosas. Antigos poderes desaparecem e aparecem novos poderes. Agora sim, estamos chegando ao fim da cristandade. Mas ainda não é o fim da consciência de cristandade dentro da Igreja, pois aceitar o fim da cristandade significa aceitar que a evangelização e a pastoral já não podem ser feitas de uma posição de poder. COMBLIN, J. As grandes incertezas na Igreja atual. In: REB 67. fasc. 265. Janeiro, 2007. p. 37-38. 5 Todas estas afirmações são de grande valor, pois é impossível realizar a missão evangelizadora sem antes compreender a realidade em que se vive. Consciente de mudanças tão profundas acontecidas em todo o mundo, o episcopado reunido em Aparecida tentou encontrar uma nova metodologia evangelizadora. Segundo Comblin este é um projeto ambicioso e consiste nada menos do que uma inversão radical do sistema eclesiástico. 10 Vejamos o que texto oficial desta conferência afirma a este respeito: Nenhuma comunidade deve isentar-se de entrar decididamente, com todas as forças, nos processos constantes de renovação missionária e de abandonar as ultrapassadas estruturas que já não favoreçam a transmissão da fé (365)... necessidade de uma renovação eclesial que implica reformas espirituais, pastorais e também institucionais. (367) A conversão pastoral de nossas comunidades exige que se vá além de uma mera conservação para uma pastoral decididamente missionária. (370). 11 Para o teólogo Joel Portella este é o grito desesperado de Aparecida: é preciso abandonar a pastoral de conservação ou manutenção, pastoral que pressupõe a cristandade, e adotar uma pastoral missionária. 12 Partindo, pois, destas constatações do episcopado latino-americano e caribenho podemos afirmar que se chegou a uma conclusão: o rico conteúdo da mensagem cristã não pode e nem deve mudar, entretanto a forma de apresentá-la e transmiti-la precisa ser coerente com a vida e a cultura de seus destinatários que se encontram em contextos e em tempos diferentes da evangelização do passado. Logo, a questão que precisa de solução urgente é a do método adequado de evangelização, o que significa dizer que é preciso encontrar uma maneira que articule fidelidade, originalidade, discernimento e abertura ao novo para transmitir a riqueza da mensagem cristã no diálogo com a cultura contemporânea. Ser fiel e original ao dado revelado, é ser capaz de dizer este mesmo dado a cada momento histórico com palavras e gestos que comuniquem a verdade salvífica que nos é revelada em Jesus Cristo. Abrirse ao novo é imprescindível, porém sendo capaz de discernir o que é ou não evangélico. Estas características devem fazer parte deste novo método de evangelização. 13 Portanto, fidelidade, originalidade, discernimento e abertura são desafios que a Igreja precisa enfrentar se deseja cumprir o mandato evangelizador que nos deixou Jesus Cristo (cf. Mt 28, 19-20). Logo, é preciso inculturar 14 a fé cristã na cultura contemporânea. Entretanto, como é possível inculturá-la no hoje da história, se na grande maioria das vezes o fiel católico/a não a conhece, ou a conhece muito superficialmente? Como difundir a Palavra de Deus “com alegria e ousadia” (517 h) assim como fizeram os primeiros cristãos/ãs, e como nos é pedido hoje por esta conferência? Como ser capaz de assumir “novas Cf. COMBLIN, J. O Projeto de Aparecida. In: VV.AA. Vida Pastoral – janeiro-fevereiro de 2008 – ano 49 – n. 258. p 3. 11 Grifo nosso. 12 Cf. PORTELLA AMADO, J. em sua análise feita na conferência intitulada “Aparecida: uma Igreja em Renovação” proferida na VIII Semana Teológica na PUC-Rio, realizada no dia 23 de outubro de 2007 e ainda não publicada. 13 Dizemos ser “novo” porque foi por muitos séculos esquecido pela Igreja. Entretanto, foi com estas características que nasceu a evangelização no início do cristianismo. 14 O fenômeno da inculturação é algo tão antigo quanto a história do cristianismo e precisa ser assumido hoje em nosso continente. Por ser um termo polissêmico é importante esclarecer o que entendemos aqui por inculturação. Como nos esclarece o teólogo Mário de França Miranda ele é um processo vivido em três momentos: tradução, discernimento e síntese. Cada um destes momentos apresenta características próprias que são: “primeiramente a presença e o encontro com outra cultura, que exige nova linguagem, gestos e símbolos para ser significativa; em seguida vem a fase difícil do diálogo, na qual se examina que elementos culturais podem ou não ser assumidos e valorizados pela fé cristã; finalmente chega-se a uma síntese cultural, que não só enriquece a cultura local e a Igreja local, mas ainda contribui para a catolicidade da Igreja.” MIRANDA, M. F. Inculturação da Fé. Uma abordagem teológica. Ed. Loyola: São Paulo, 2001. p. 38. Grifo nosso. 10 experiências”, e adotar novos “estilos e linguagens que possam encarnar o Evangelho na cidade.” (517 d) se não o conhecemos realmente? Como viver os princípios evangélicos hoje, diante da força e da pressão psicológica que possui a economia neoliberal sem uma formação profunda? Comblin alerta que sem esta formação “ninguém poderá abrir a boca na sociedade e todos repetirão as mentiras divulgadas pela mídia.” 15 Resumindo podemos levantar esta questão: como evangelizar hoje sem esta formação que prepara o cristão/ã para ser sal da terra e luz do mundo (cf. Mt 5, 13-14), dando-lhe as razões de sua esperança (cf. 1 Pd 3, 15)? Esta foi de certa forma a mesma questão que levantou o Papa Bento XVI na sessão inaugural dos trabalhos desta Conferência ao falar sobre a necessidade de formação dos cristãos/ãs: “como vão anunciar uma mensagem cujo conteúdo e espírito não conhecem a fundo? Temos que fundamentar nosso compromisso missionário e toda nossa vida na rocha da Palavra de Deus. Para isso, animo os pastores a esforçar-se em dá-la a conhecer.” 16 Corroborando com Bento XVI os bispos reunidos em Aparecida declaram que a formação teológica e pedagógica dos catequistas não costuma ser a desejável (296) e que estes precisam de cursos e escolas de formação permanente (299). Todos os cristãos/ãs precisam também desta formação que os prepare de tal modo para “que possam responder às grandes perguntas e aspirações de hoje e inserir-se nos diversos ambientes, estruturas e centros de decisão da vida urbana.” (517 h). É necessário, portanto, “um processo de iniciação cristã e de formação permanente que retroalimente a fé dos discípulos do Senhor integrando o conhecimento, o sentimento e o comportamento.” (518 d). O projeto missionário de Aparecida, portanto, busca formar leigos/as para que se tornem “agentes multiplicadores nas diversas dioceses, paróquias e comunidades católicas, e assim, de fato, construir um exército capilar de missionários em toda América Latina e no Caribe.” 17 Nos diz ainda esta conferência: “Se queremos que as paróquias sejam centros de irradiação missionária em seus próprios territórios, elas devem ser também lugares de formação permanente. Isso exige nelas várias instâncias formativas que assegurem o acompanhamento e o amadurecimento de todos os agentes de pastorais e dos leigos inseridos no mundo.” (306) A V Conferência Episcopal aponta para a existência desta formação, ainda que embrionária, incentivando sua propagação: “Nas últimas décadas, observamos na América Latina e no Caribe o surgimento de diversos Institutos de Teologia e Pastoral orientados para a formação e atualização de agentes de pastoral. Nesse caminho, tem-se conseguido criar espaços de diálogo, discussão e busca de respostas adequadas aos enormes desafios enfrentados pela evangelização no Continente. Ao mesmo tempo, tem sido possível formar inúmeros líderes a serviço das Igrejas particulares” (344)... “É necessário fomentar o estudo e a pesquisa teológica e pastoral frente aos desafios da nova realidade social, plural, diferenciada e globalizada, procurando novas respostas que dêem sustentação à fé e à experiência do discipulado dos agentes de pastoral. Sugerimos também maior utilização dos serviços que oferecem os institutos de formação teológica pastoral existentes, promovendo o diálogo 15 16 17 COMBLIN, J. As grandes incertezas na Igreja atual. In: REB 67. fasc. 265. Janeiro, 2007. p. 56. BENTO XVI. Sessão Inaugural dos Trabalhos da V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe. In: DOCUMENTO DE APARECIDA: Texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. Edições CNBB, Paulus e Paulinas, 2007. p.273-274. Grifo nosso. LOPES, C., MOTA, G. C. A Educação a Distância na Igreja Católica na América Latina e no Caribe: vantagens, desafios e possibilidades na formação de missionários (as). In: VV. AA. REB 67, fasc. 268, outubro-2007. p. 963. Grifo nosso. entre eles e destinando recursos e esforços conjuntos na formação de leigos e leigas. (345) 18 Apesar de todas as constatações acima sabemos que a realidade do mundo em que vivemos muitas vezes impede pessoas interessadas nesta formação integral e permanente de freqüentar Institutos de Teologia que são oferecidos em Universidades católicas.19 O que fazer diante disto? É o próprio papa que nos alerta para a urgente necessidade do uso de todos os recursos midiáticos 20 disponíveis hoje. Neste campo não se deve limitar só às homilias, conferência, cursos de bíblia ou teologia, mas é preciso recorrer também aos meios de comunicação: imprensa, rádio e televisão, sites da Internet, foros e tantos outros sistemas para comunicar eficazmente a mensagem de Cristo a um grande número de pessoas.” 21 Para reforçar esta utilização incentivada por Bento XVI o texto oficial de Aparecida relembra as palavras de Paulo VI na Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi (45) de 1976 (seria esta a data correta?): “Em nosso século tão influenciado pelos meios de comunicação social, o primeiro anúncio, a catequese ou o posterior aprofundamento da fé não podem prescindir desses meios”. “Colocados a serviço do Evangelho, eles oferecem a possibilidade de difundir quase sem limites o campo de audiência da Palavra de Deus, fazendo chegar a Boa Nova a milhões de pessoas. A Igreja se sentiria culpada diante de Deus se não empregasse esses poderosos meios, que a inteligência humana aperfeiçoa cada vez mais, Com eles a Igreja ‘proclama a partir dos telhados’ (cf. Mt 10, 27; Lc 12,3) a mensagem da qual é depositária. Neles, encontra uma versão moderna e eficaz do ‘púlpito’. Graças a eles, podemos falar às multidões.” (485)22 O documento de Aparecida já aponta para existência destes espaços de formação em que são usados recursos midiáticos na Igreja latino-americana ao afirmar a presença de “inumeráveis escolas e instituições católicas que oferecem cursos a distância de teologia e cultura bíblica.” (490) 2. Educação a Distância (EAD) Quando falamos de EAD, não imaginamos a gama de significados que englobam essas palavras. Portanto, se faz necessário esclarecer o que aqui entendemos por essa expressão. Há duas definições que segundo Maria Carmem Avelar complementam-se, e nos permitem uma aproximação mais real do que seja a EAD. São as definições de 18 19 20 21 22 Grifo nosso. Podemos apontar vários motivos, entre eles a dificuldade financeira, o distanciamento geográfico, a impossibilidade do afastamento do profissional de seu trabalho, a dificuldade em disponibilizar um tempo formal. Abrangem esses meios o rádio, o cinema, a televisão, a escrita impressa (ou manuscrita, no passado) em livros, revistas, boletins, jornais, o computador, o videocassete, os satélites de comunicações e, de um modo geral, os meios eletrônicos e telemáticos de comunicação em que se incluem também as diversas telefonias. Dicionário Eletrônico Houiass da Língua Portuguesa. BENTO XVI. Sessão Inaugural dos Trabalhos da V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe. In: DOCUMENTO DE APARECIDA: Texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. Edições CNBB, Paulus e Paulinas, 2007. p 274. Grifo nosso. Grifo nosso. Dohmem 23 e Aretio 24: “Educação a Distância (Forstudium) é uma forma sistematicamente organizada de autoestudo, onde o aluno se instrui a partir do material que lhe é apresentado; onde o acompanhamento e a supervisão do sucesso do aluno são levados a cabo por um grupo de professores. Isto é possível a distância, através da aplicação de meios de comunicação capazes de vencer essa distância, mesmo longa” (Dohmen); e: “O ensino a distância é um sistema tecnológico de comunicação bidirecional, que pode ser massivo e que substitui a interação pessoal, na sala de aula, de professor e aluno, como meio preferencial de ensino, pela ação sistemática e conjunta de diversos recursos didáticos e pelo apoio de uma organização e tutoria que propiciam a aprendizagem independente e flexível dos alunos (Aretio).” 25 Como podemos perceber destas definições a EAD torna possível a realização de processos de aprendizagem e desenvolvimento de pessoas por intermédio de interações dos aprendizes com os disseminadores do conhecimento, utilizando recursos de Tecnologia da Informação. Esses disseminadores podem ser pessoas localizadas remotamente, que interagem com os alunos mediante a troca de comunicações eletrônicas com eles, assim como podem interagir face a face (tutor/a), disponibilizando bases de conhecimento, de informações ou de dados, nas quais os alunos poderão realizar pesquisas, consultas, interagir e exercitar os conteúdos programáticos relativos aos temas em discussão. Para uma melhor compreensão do que seja a EAD elencamos a seguir alguns de seus principais elementos: • “Distância” física professor aluno: a presença física do professor, que é a fonte do conhecimento, com quem o estudante vai dialogar não é necessária e indispensável para a aprendizagem; • Estudo individualizado e independente: o estudante deve construir seu caminho e seu conhecimento por ele mesmo, a partir do material que lhe é indicado, se tornando assim ator e autor de suas práticas e reflexões; • Processo de ensino-aprendizagem mediatizado: a EAD deve oferecer suporte e estruturar um sistema multimídia que viabilize e incentive a autonomia dos estudantes nos processos de aprendizagem; • Organização de apoio-tutoria: é a instituição promotora do curso que tem a obrigação de acompanhar, motivar, apoiar os alunos, durante o processo ensinoaprendizagem. Isto é feito por meio da tutoria, onde o tutor/a age como orientador/a da aprendizagem do aluno/a, à distância ou face a face, individualmente ou em pequenos grupos; • Comunicação bidirecional: o estudante não é mero receptor de informações e de mensagens. Apesar da distância, busca-se estabelecer relações dialogais, criativas, críticas e participativas. Segundo a professora Marimar M. Stahl do Departamento de Educação da PUC-Rio e coordenadora do núcleo de Educação a Distância desta universidade quando de seu 23 24 25 Citado em LANDIM, P. F. Educação a Distância. Algumas considerações. Rio de Janeiro: 1997. p. 24. Citado em Ibid. p. 30. Cf. AVELAR, M. C. C. Curso de Iniciação Teológica a Distância – PUC/Rio. Uma nova modalidade do saber teológico. In: VV.AA. Atualidade Teológica. Revista Semestral do Departamento de Teologia da PUC-Rio, ano VI, n° 12, setembro/dezembro de 2002. p.384-385. Grifo nosso. Maria Carmem é doutora em Teologia pela PUC-Rio, mestre em Educação pela Fundação Getúlio Vargas do Rio, tendo sido uma das idealizadoras do Projeto de Teologia a Distância, curso que coordenou por vários anos. Recomendamos este artigo para as pessoas que desejam conhecer um pouco mais da história, da grade curricular, da duração, dos aspectos organizacionais, da sistemática operacional, dos centros regionais de apoio e dos responsáveis pelo dinamismo deste projeto da PUCRio. nascimento, o tutor/a é: “uma peça-chave da Educação a Distância, dependendo dele a criação de uma relação com os cursistas que supere a distância, tornando menos solitário o estudo individual e independente, e fornecendo o apoio necessário ao auto-desenvolvimento de cada cursista e ao desenvolvimento de um grupo solidário, com objetivos comuns e com possibilidades de apoio mútuo.”26 Sendo, portanto, o tutor/a esta peça-chave na EAD achamos fundamental destacar as principais características da competência deste/a profissional. A professora doutora Daniela Melaré Vieira Barros, especialista em Educação a Distância pelo Instituto de Pesquisas em Educação do Rio de Janeiro e pesquisadora do grupo LANTEC-UNICAMP elenca as oitos características que se seguem como sendo indispensáveis a todo tutor/a: • auxiliar nas dúvidas acadêmicas, burocráticas e gerais, do curso ou disciplina ao qual está vinculado; • exercer o papel de motivador do aluno/a esclarecendo dúvidas e estimulando idéias; • motivar competências; • atualizar-se constantemente na área à qual pertence; • dialogar com a docente sobre os conteúdos e metodologias; • ter consciência dos aspectos éticos que envolvem a sua função em relação ao docente (responsabilidade, respeito acadêmico e hierárquico, etc); • estabelecer um espaço com o docente para a troca de informações pedagógicas da disciplina e as dificuldades que possivelmente poderão ser sanadas no processo de ensino e aprendizagem; • ter uma cultura tecnológica para facilitar sua comunicação e interface com os alunos; • ser flexível e comunicativo. 27 A EAD apresenta-se, pois, como uma solução bastante atrativa diante da escassez de recursos, da dificuldade de acesso e da alta demanda que é a Educação em nossos dias, onde se constrói um “saber coletivo”. 3. Teologia a Distância (TAD) A tarefa principal da Teologia Cristã consiste em identificar o que é do Evangelho, isto é, aquilo que foi vivido, pregado e proposto por Jesus de Nazaré. Sabemos que ele veio anunciar a alegria da chegada do Reino de Deus e que o centro do cristianismo é a proclamação da ressurreição, que é promessa de vida e vida em abundância (cf. Jo 10,10). Portanto, o papel da Teologia é o de ajudar no discernimento dos seguidores/as do mestre de Nazaré para que possam traduzir o núcleo básico do cristianismo em vida concreta 28. É claro que existem outras tarefas na Teologia Cristã, porém, esta é a maior entre todas as outras. Tendo sempre diante de si este principal objetivo, o de ser uma Teologia-Vida, o projeto de Teologia a Distância da PUC-Rio, segundo Maria Carmem Avelar é uma inovadora modalidade de educação e de preparação de agentes evangelizadores que articula diferentes saberes: o teológico, o educativo-pedagógico, o sociológico, o psicológico, além de técnicas e instrumentais oferecidos pela comunicação, 26 27 28 STAHL, Marimar M. A Tutoria em Educação à Distância. Material do Curso a Distância OPE@D - Oficina de Projetos de Educação à Distância. PUC-Rio/SENAI-BA. 1996. BARROS, D. M. V. Educação a Distância. Disponível em: http://www.professoresonline.net/dmelare/textos/sabado_ensino_medio_historia_e_geografia_dia6.ppt. Acessado em: 26/02/2008. Podemos afirmar que aqui se encontra a salvação: quando o ser humano é capaz de viver a vida como Jesus a viveu, a saber, a vivência da subjetividade aberta. Para aprofundar este conceito ver GARCIA RUBIO, A. Elementos de Antropologia Teológica: salvação cristã: salvos de quê e para quê? Petrópolis: Vozes, 2004. p. 155-157. pela informática, em seus diferentes desdobramentos. 29 Na nossa prática como tutora, podemos dizer que se articulam ainda muitos outros saberes quando se está acompanhando pessoas neste processo extremamente inquietante e enriquecedor. Diznos ainda Maria Carmem que o projeto da TAD é uma “ousada missão de superar a superficialidade na assimilação da proposta do Evangelho... propiciando a leigos e leigas aprofundar a reflexão teológico-pastoral e a espiritualidade cristã.”30 Logo, esta modalidade inovadora pretende ser um processo sólido de formação integral que articula fé e vida dando a seus integrantes a possibilidade de viver esta fé no compromisso com os valores evangélicos de solidariedade, fraternidade e alteridade, gerando ações que possibilitem a vivência do Reino de Deus no “já” da história. Tudo isto é vivido em pequenas comunidades 31 (tutorias) onde se desenvolve a reflexão teológico-pastoralespiritual, baseada na experiência concreta de cada integrante. 32 A partir de tudo o que já foi dito até aqui podemos afirmar que a TAD busca ser o exercício da reflexão teológica a partir da transdisciplinaridade. No Manifesto da Transdisciplinaridade Basarab Nicolescu, físico romeno, afirma que “a transdisciplinaridade projeta uma nova concepção do mundo e da vida que transgride as falsas dualidades entre “sujeito/objeto, subjetividade/objetividade, matéria/consciência, natureza/divino, simplicidade/complexidade, reducionismo/holismo, diversidade/unidade, com o reconhecimento da existência de complexas pluralidades no mundo da vida. Afirma ainda que rigor, abertura e tolerância são componentes constitutivos da transdisciplinaridade. Para Nicolescu os quatro pilares deste novo tipo de educação são: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser.” 33 Acreditamos que seja isto exatamente o que se busca com a Teologia a Distância: 1“aprender a conhecer” toda a realidade e os diversos saberes para que o conhecimento adquirido ganhe importância na vida cotidiana; 2-“aprender a fazer” o que permite o aprendizado da criatividade que transpõe os limites de uma especialização teológica; 3“aprender a conviver” respeitando todo ser humano como imagem e semelhança de Deus, como um ser único e irrepetível, o que significa dizer respeitando sua individualidade e diferença, o que possibilita o enriquecimento de todos/as; 4- “aprender a ser” é o contínuo aprendizado que o ser humano vive em toda sua existência e que no espaço da Teologia a Distância se busca exercitar continuamente. Achamos fundamental neste momento de nossa reflexão fazer uma pequena síntese do pensamento de Edgar Morin34 quando fala da Educação do Futuro. Segundo este 29 30 31 32 33 34 Cf. AVELAR, M. C. C. Curso de Iniciação Teológica a Distância – PUC/Rio. Uma nova modalidade do saber teológico. In: VV.AA. Atualidade Teológica. Revista Semestral do Departamento de Teologia da PUC-Rio, ano VI, n° 12, setembro/dezembro de 2002. p.384-385. Maria Carmem é doutora em Teologia pela PUC-Rio, mestre em Educação pela Fundação Getúlio Vargas do Rio, tendo sido uma das idealizadoras do Projeto de Teologia a Distância, curso que coordenou por vários anos. Cf. AVELAR, M. C. C. Curso de Iniciação Teológica a Distância – PUC/Rio. Curso de iniciação Teológica por tutoria a distância. In: VV.AA. Atualidade Teológica. Revista Semestral do Departamento de Teologia da PUC-Rio, ano VI, n° 18, setembro/dezembro 2004. p. 443. Segundo JOEL PORTELLA em sua análise feita na conferência intitulada “Aparecida: uma Igreja em Renovação” proferida na VIII Semana Teológica na PUC-Rio, realizada no dia 23 de outubro de 2007 e ainda não publicada, esta é a opção pastoral de Aparecida. (DA 372). Michel Maffesoli sociólogo contemporâneo autor do livro “O Tempo das Tribos: o declínio do individualismo nas sociedades de massa” defende a existência de uma nova forma de organização social, o neotribalismo que se caracteriza pela “constituição em rede de microgrupos contemporâneos, sendo estes a expressão mais acabada da criatividade das massas.” MAFFESOLI, M. O Tempo das Tribos: o declínio do individualismo nas sociedades de massa. Rio de Janeiro: Ed. Forense Universitária, 2006. Todo o capítulo IV intitulado “O Tribalismo” deste livro expõe esta tese. Aqui p. 165 A análise da experiência é o recurso mais rico para a aprendizagem de adultos. Cf. PEREIRA SILVA, C. A. Artigo sobre O Manifesto da Transdisciplinaridade. Disponível em: http://revcom2.portcom.intercom.org.br/index.php/famecos/article/viewFile/1985/1800. Acessado em: 25/02/2008. Fizemos aqui um pequeno resumo deste artigo. Em 1999, por iniciativa da UNESCO, foi solicitado a este sociólogo e pensador francês sistematizar um conjunto de reflexões que servissem de ponto de partida para repensar a educação do próximo milênio. pensador “a Educação do Futuro para ser um “conhecimento pertinente”, precisa urgentemente reformar sua forma de pensamento, sem isto continuará a ser um quebracabeça ininteligível, uma reflexão míope que acaba por ser normalmente cega, e incapaz de pensar a realidade, uma falsa racionalidade incapaz de compreender o vivo e o humano como tem acontecido nos últimos quatrocentos anos. Este enfraquecimento da percepção global conduziu-nos ao enfraquecimento da responsabilidade (cada qual tende a ser responsável apenas por sua tarefa específica), assim como ao enfraquecimento da solidariedade (cada qual não mais sente os vínculos com seus concidadãos). Tudo isto porque o parcelamento, a compartimentação, a disjunção e a especialização fechada do saber impedem que se apreenda “o que está tecido junto”, ou seja, o complexo. Não se pode esquecer que o ser humano é ao mesmo tempo biológico, psíquico, social, afetivo e racional, e que a sociedade comporta as dimensões histórica, econômica, sociológica, religiosa. Como então conhecê-los, se o todo é deixado de lado? Edgar Morin não nega o conhecimento das partes, mas o que busca, para que haja um “conhecimento pertinente”, é que o conhecimento das partes esteja articulado com a totalidade. Portanto, a Educação do Futuro para este educador exige um esforço transdisciplinar que seja capaz de rejuntar ciências e humanidades e romper com a oposição entre, corpo/alma, natureza/cultura, sujeito/objeto, existência/essência, texto/contexto, para que o pensamento alce vôos mais livres e polifônicos.” 35 Acreditamos que a TAD busca concretizar este tipo de Educação/Evangelização. Isto não significa dizer que já é capaz de viabilizá-la completamente. Fica claro para seus integrantes que, se é muito grave para a educação em qualquer nível a perda da responsabilidade e da solidariedade, como nos diz Morin acontecer quando se enfraquece a visão global, o que não dizer desta mesma perda quando se fala da Educação/Evangelização de crtistãos/ãs? Conscientes da necessidade de não perder a riqueza da complexidade que é o ser humano e o universo que este habita, os integrantes da TAD buscam, apesar de todos os limites que lhes são próprios, concretizar uma Educação/Evangelização com base no diálogo, na flexibilidade, na abertura e no discernimento, lançando um olhar e assumindo a complexidade que é a realidade que nos rodeia. 4. Testemunhos Gostaríamos de deixar aqui alguns testemunhos de pessoas que viveram e vivem este processo evangelizador, pois sabemos que o testemunho de vida convence mais do que mil palavras. Segundo Paulo VI “a Boa-Nova há de ser proclamada, antes de mais, pelo testemunho” (EN 21). Ouçamos o que nos diz uma tutora sobre sua experiência com esta nova metodologia de evangelizar: Diz o renomado teólogo Karl Rahner que “o homem é o ouvinte da palavra”. Estou certa disso, não só porque ele o disse, mas porque vivo essa experiência: ser ouvinte da revelação de Deus, não somente como Palavra, mas como ação renovadora na minha vida e na vida de tantos homens e mulheres. Esse é o grande tesouro que encerra ser teólogo-tutor do curso de Teologia a Distância. Levar a teologia até seu destinatário favorito: o povo de Deus! Testemunhar a transformação da letra do texto teológico em mudança, conversão. Ver crescer o amor pela Palavra, não mais porque é Palavra de Deus, e por si só deva ser respeitada, mas porque é a Palavra de Deus assumida na vida de cada um, percebida como individual e comunitária, ao mesmo tempo. Testemunhar que a palavra encontra seu destinatário e sentir- 35 O resultado deste trabalho é o livro “Os sete saberes necessário à Educação do Futuro” de onde colhemos algumas de suas reflexões sobre o pensamento complexo e a transdisciplinaridade. Cf. MORIN, E. Os sete saberes necessários à Educação do Futuro. 11ª edição. São Paulo: Cortez Editora; Brasília, DF: UNESCO, 2006. p. 35-46. se um pouco carteiro dessa novidade que vai transformando vidas inteiras, comunidades, transfigurando o rosto da Igreja. Dou graças ao Senhor pela vocação que me foi dada: em primeiro lugar de ir ao encontro Daquele que me criou e desejar ardentemente responder a esse chamado. Em segundo lugar, sou grata por ter minha tarefa de evangelizar incentivada pela resposta positiva dos cursistas, e em terceiro lugar por me permitir “experenciar” através dos frutos de preciosa tarefa, que o amor é a única fonte de onde se extrai toda a salvação!36 Este curso tem transformado a vida de milhares de pessoas nestes onze anos de funcionamento. Ouçamos o que nos diz uma de suas cursistas que já o concluiu: “Vivi minha vida sem saber direito qual a minha missão, freqüentei vários lugares, buscando uma definição de Deus que me acalentasse. Tentando encontrar uma força maior. Foi ai que cheguei novamente a Igreja. Bem, dinâmica como sou, logo estava envolvida em pastorais, grupos, trabalhos... Preenchia todo o meu tempo, achando que assim Deus estaria comigo. Fiz muitos amigos que me ajudaram e foram exemplos de fé. Fiz várias leituras, cursos, porém apesar de ter me acrescentado muito, não era o suficiente. Foi aí que buscando entender um sentido maior da VIDA... de DEUS... ouvi falar no curso de Teologia a Distância. Comecei a freqüentá-lo, ainda meio perdida e sem rumo. Então o estudo do Êxodo, livro que nunca havia lido, nem tão pouco entendido, nos foi apresentado. Lembro-me bem quando a tutora do grupo disse que precisávamos passar por aquele processo. Processo que nos levaria a busca da esperança... do sagrado...do transcendente... do eu... da transformação pessoal. Dizia também que essa busca era sofrida, porém reveladora e comprometedora. Resolvi então me atirar nessa busca. Não sei bem ainda quando ela vai terminar, porém, hoje me sinto bem mais forte, comprometida e aprendendo que não se pode buscar Deus e encontrá-lo sem agir... sem transformar, não só a nossa vida, mas a todos aqueles que nos rodeiam... Aprendi que a ação de Deus se dá em Jesus através do outro. Outro que se coloca no nosso caminho, que caminha junto e que busca o caminho junto a nós. Hoje estou aberta a mais e mais transformações... a mais e mais pessoas... a mais e mais caminhos até que chegue ao bem maior... Amar sem distinção... Amar de coração aberto na busca de Jesus, no outro... Minha vida hoje está mudando tanto que ainda não sei se darei conta de tantas mudanças, porém tenho a certeza que DEUS caminha comigo... não tenho mais tantos medos... sei que posso vencer e que sou forte nessa busca, porque é Ele que me leva a buscar. Deixo aqui o meu muito obrigado a minha tutora, a todos os alunos do curso, aos que hoje posso chamar de AMIGOS, aos que ainda não se tornaram tão íntimos, mas que deram a sua contribuição e a todos aqueles que fizeram esse curso acontecer. Que Deus continue suscitando em nossos corações obras como esta, para que cada vez mais pessoas possam vivenciar as maravilhas do ÊXODO COM DEUS.” 37 Vejamos agora um depoimento de alguém que está vivendo este processo evangelizador da TAD: “O curso tem trazido muitas reflexões sobre a catequese que recebi. É ‘doloroso’, pois ter que rever conceitos tão enraizados e colocar outros no lugar não é fácil. Mas a razão vai mostrando que deve ter sido assim mesmo que as coisas aconteceram e nunca fomos ensinados a pensar. O exercício da reflexão vai ajudando na fé mais madura. Algumas coisas não foram novidade para mim, mas muitas outras, sim. É um processo de descoberta a cada leitura. A cada dia descubro que nada sei. Resisto um pouco, mas tenho o impulso de querer mais. Só peço s Jesus que não deixe essa vontade morrer nunca, pois aí eu morro junto.” 38 36 37 38 Solange Jordão. Vania Cristina Sampaio Guimarães. Regina Maria Pinheiro Brasil Correa. Muitos outros poderiam ser os depoimentos, porém acreditamos que estes três são capazes de traduzir a realidade que é a TAD. 5. Considerações Finais A Teologia a Distância não é a única solução, nem pretende ser a melhor delas para as necessidades de formação e conscientização dos discípulos/as e missionários/as de Cristo que a V Conferência Episcopal Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe solicita ardentemente. Apesar de sabermos disto, não podemos deixar de afirmar que este projeto vem sendo uma forma inovadora para atender as necessidades da Igreja no Brasil. Ele é uma nova forma de prestar um serviço a um grande número de cristãos/ãs ansiosos por aprofundar sua fé diante da dura realidade de injustiças que desafia a consciência cristã e a dignidade de cada ser humano, utilizando os novos paradigmas educacionais. A TAD configura-se como uma alternativa atraente para os cristãos que, através de recursos tecnológicos e novos métodos de comunicação, os faz sair da postura de espectador e os ajude a passar a intervir no próprio processo de aprendizagem ensinando-os a pensar com a própria cabeça, sendo assim capazes de viver o mandato missionário que nos vem de Jesus. A grande esperança que une os coordenadores/as, professores/as e tutores/as da TAD é o de colaborar para o desenvolvimento de cristãos/ãs críticos/as, tornando-os capazes de refletir e transformar a sociedade. Entretanto, sabemos que grandes são os desafios a vencer. Parece-nos que o mais difícil é o de ter sempre em mente que devemos estar continuamente estruturados no diálogo com todas as ciências, na abertura ao diferente e na parceria com outras forças vivas que buscam os mesmos ideais evangélicos. Corremos o risco de esquecer que evangelizar verdadeiramente é introduzir o Evangelho na vida das pessoas a partir do serviço e nunca a partir da imposição ou da força do poder, pois devemos seguir a mesma metodologia evangelizadora do Mestre. Seu método foi o de formar pequenos grupos capazes de interiorizar suas palavras, gestos e atitudes. Sabemos que Jesus viveu de forma radical o messianismo do serviço até as últimas conseqüências, e sempre o fez em conformidade com a vontade do Pai. Ser seguidor/a de Jesus significa imitá-lo também nesta escolha metodológica de evangelização. Logo, é este tipo de metodologia que a TAD busca implementar, isto é, a evangelização baseada no serviço e nunca no poder. Esperamos ardentemente que isto esteja acontecendo e assim continue a acontecer! O padre Pedro Bassini, subsecretário de Pastoral da CNBB alerta-nos que “O Espírito é sempre novo e renova a face da terra. Contribuir com ele exige imaginação, criatividade, novas atitudes pastorais, novos ministérios, para desinstalar-se e promover um agir transformador.”39 Esperamos estar contribuindo humildemente com este Espírito renovador, confiando sempre em sua ação em nossos corações e mentes. Espírito do Pai,vem. Espírito de amor, vem. Espírito de infância, de paz, de confiança e de alegria,. Júbilo secreto, que brilha através das lágrimas do mundo, vem. Vida mais forte do que a nossa morte,vem. Pai dos pobres e advogado dos oprimidos, vem. Luz de eterna verdade e amor derramado nos corações, vem. Vem: renova e estende a tua visita dentro de nós. 39 BASSINI, P. F. Conferência de Aparecida: e agora? In: VV. AA. Vida Pastoral – novembro-dezembro de 2007 – ano 48 – n. 257. p.19. Grifo nosso. Em ti colocamos a nossa confiança. Amamos a ti que és o amor. Em ti temos Deus por Pai, porque dentro de nós tu clamas; “ Abba, Pai amantíssimo”. Habita em nós Não nos abandones na dura luta da vida E, quando chegar o seu fim E estivermos sozinhos, vem, Espírito Santo. Karl Rahner ( l904 – 1984 )