ROTEIRO DO LONGA-METRAGEM J Ú L I A D A C O S T A A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro de: Gilson Santos De Oliveira Personagens por ordem de aparição: Júlia Da Costa (dos 48 aos 68 anos de idade) Alberico Figueira Domingos Duarte Veloso Júlia Da Costa (dos 10 aos 13 anos de idade) Rodrigo José Da Costa Alexandre José Da Costa Maria Luisa Da Costa Íria Correia (aos 10 anos de idade) 8 meninas (aos 10 anos de idade) Secretária do Colégio Jessic James Willie James Jessic James Fernando Amaro Gonçalves Dias 20 poetas – figuração José Morais (aos 8 anos de idade) Júlia da Costa (dos 23 aos 48 anos de idade) Comendador Francisco Da Costa Pereira Íria Correia (aos 23 anos de idade) José Morais (aos 18 anos de idade) 2 Casais da Sociedade de São Francisco do Sul Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 2 CENA 01 – SALA DO SOBRADO DE JÚLIA DA COSTA. SÃO FRANCISO DO SUL. INTERIOR. DIA. Música de piano, entardecer, a câmera vem se aproximando lentamente por uma fresta de uma janela que está quebrada até chegar as mãos de Júlia Da Costa que está tocando o piano, ela de costas, o chão, meio empoeirado, as paredes com pintura desbotada, quadros pendurados e amarelados pelo tempo, um sofá com tecido envelhecido, um lenço masculino (com as iniciais bordadas B. C., que não irão aparecer nesse momento), o lenço estará sobre o piano e a câmera se desloca novamente para as mãos de Júlia Da Costa que está terminando de tocar a música e quando começa a fechar a partitura ouve-se palmas do lado de fora da casa (até aqui sem aparecer o rosto de Júlia Da Costa, criando um clima de mistério), ela fecha o piano e quando ouve Alberico Figueira chamar, pega o lenço e sobe as escadas. Corta para a fachada do sobrado, onde estão Alberico Figueira e Domingos Duarte Veloso. A cena anterior continua... Júlia, de costas sobe o último degrau, close nos pés cansados. ALBERICO FIGUEIRA – (off) Júlia Da Costa, Dona Júlia. DOMINGOS DUARTE VELOSO – (off) Não deve ser este o local... Corta para: CENA 2 – FACHADA DO SOBRADO DE FRANCISCO DO SUL. EXTERIOR. DIA. JÚLIA DA COSTA. SÃO Aparecem os dois do lado de fora. DOMINGOS DUARTE VELOSO – Parece estar abandonado. ALBERICO FIGUEIRA – Só pode ser aqui, um velho sobradinho na Rua Babitonga... A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 3 DOMINGOS DUARTE VELOSO – Então ela não está em casa... ALBERICO FIGUEIRA – Dona Júlia, preciso conversar com a senhora. (num grito) Sou de Paranaguá. Corta para: CENA 03 – SALA DO SOBRADO DE JÚLIA DA COSTA. SÃO FRANCISO DO SUL. INTERIOR. DIA. Close no rosto de Júlia da Costa. JÚLIA DA COSTA – Paranaguá... Corta para: CENA 04 – FACHADA DO SOBRADO DE FRANCISCO DO SUL. EXTERIOR. DIA. Domingos Duarte Veloso desanimado, Alberico Figueira insistindo... JÚLIA DA querendo DOMINGOS DUARTE VELOSO COSTA. SÃO desistir e – O sol já está declinando, melhor seria que retornássemos amanhã. Abre-se uma janela, onde está Júlia Da Costa, na parte superior do sobrado) JÚLIA DA COSTA – Um momento senhores, vou abrir a porta. Corta para: CENA 05 – QUARTO, ESCADAS E SALA DO SOBRADO DE JÚLIA DA A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 4 COSTA. SÃO FRANCISO DO SUL. INTERIOR. DIA. Júlia Da Costa desce as escadas, com o lenço (close nas mãos) e abre a porta com as mãos trêmulas, faz um gesto de como se o sol fizesse mal aos seus olhos. JÚLIA DA COSTA – Entrem, favor. por Eles entram na sala onde está o piano e Alberico Figueira olha para os detalhes da casa, um sofá envelhecido, as cortinas e janelas fechadas (exceto aquela por onde entra a câmera, com uma fresta), a sala apesar de bonita e espaçosa, mantém um ar de abandono, em uma mesa está um vaso com flores secas, sobre uma toalha amarelada e muitos papéis e livros empilhados e espalhados, o português tira um lenço do bolso, passa sobre o rosto e seca o suor de sua testa). DOMINGOS DUARTE VELOSO – Está um pouco abafado aqui! Júlia Da Costa senta e os dois jornalistas a acompanham. ALBERICO FIGUEIRA – Somos jornalistas, me chamo Alberico Figueira. DOMINGOS DUARTE VELOSO – E eu sou Domingos Duarte Veloso. JÚLIA DA COSTA – É o senhor brasileiro? DOMINGOS DUARTE VELOSO – Não senhora, sou português... JÚLIA DA COSTA – Observei isso pela sua pronúncia. Quando eu podia ler, fui grande A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 5 admiradora versos Guerra Junqueiro Antero Quental! dos de e de ALBERICO FIGUEIRA – Trabalho desde 1905 na Revista Literária “Clube Republicano” e gostaria de fazer uma reportagem sobre a sua pessoa. DOMINGOS DUARTE VELOSO – Sabemos que a senhora não fala a ninguém, mas poderia nos falar de Paranaguá e de seu interesse pela poesia. Neste momento Júlia Da Costa levanta-se e quando está abrindo um pequeno pedaço da cortina. JÚLIA DA COSTA – Que saudades eu tenho da minha pátria. A cidade onde nasci e cresci, lembrome perfeitamente das tardes domingueiras em que eu recebia inspiração do atraente Campo Grande e do A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 6 caminho Rocio... do Corta para: CENA 06 – QUARTO DE INTERIOR/EXTERIOR. DIA. JÚLIA DA COSTA. PARANAGUÁ. E quando estiver abrindo a janela (desfoque da câmera, close em Júlia Da Costa, agora uma menina de dez anos de idade que termina de abrir a janela), então Júlia Da Costa pega uma flor que está ao seu alcance, na beira da janela e sai correndo em direção da biblioteca da casa, onde está o poeta Ricardo José Da Costa. Corta para: CENA 07 – BIBLIOTECA DA CASA DE JÚLIA DA COSTA. PARANAGUÁ. INTERIOR. DIA. Ricardo José Da Costa está escrevendo numa escrivaninha, aparecendo apenas as costas dele e clareia, dando a impressão que alguém entra no cômodo, surge então na sua frente Júlia Da Costa, ela então coloca delicadamente a flor em cima do papel que seu tio está escrevendo, ele olha para ela e demonstra um ar de contentamento. JÚLIA DA COSTA – O que tanto o senhor faz aqui na biblioteca tio Ricardo? RICARDO JOSÉ DA COSTA – Escrevo poesias, Júlia. Bem que você poderia exprimir a linguagem poética e quem sabe elegantes prosas. JÚLIA DA COSTA – O senhor acha mesmo que eu tenha A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 7 inclinação para a arte do verso? RICARDO JOSÉ DA COSTA – (levantandose, segue em direção dos livros que estão na estante e começa a folheá-los) Poderia começar lendo poetas brasileiros e franceses, que são ótimos. JÚLIA DA COSTA – O senhor acha que eu posso primaziar versos e estrofes que se aninham em meu coração? RICARDO JOSÉ DA COSTA – A arte de ser um grande poeta vem da alma, Júlia. Inicia uma música instrumental em piano, enquanto a cena vai se distanciando e Júlia sai da biblioteca e ouve, por acaso a conversa de seus pais. Corta para: CENA 08 – SALA DA CASA DE JÚLIA DA COSTA. PARANAGUÁ. INTERIOR. DIA. Estão na sala o Sr. Alexandre José Da Costa e D. Maria Luisa Da Costa conversando a respeito do futuro de Júlia e sobre a professora Jessic James. Júlia se encosta na parede atenta a conversa. A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 8 ALEXANDRE JOSÉ DA COSTA – Querida, há alguns dias estive conversando com o tenentecoronel Joaquim Correia (close nos pais de Júlia Da Costa) e ele me questionou a respeito da professora Jessic James e sua filha Willie James para a educação de nossas filhas. MARIA LUISA DA COSTA – E quem são essas educadoras? ALEXANDRE JOSÉ DA COSTA – São duas norteamericanas, que virão a cidade e irão estabelecer um Colégio Particular Feminino. MARIA LUISA DA COSTA – E quais serão as disciplinas, meu marido. ALEXANDRE JOSÉ DA COSTA – Doutrina Cristã, leitura, caligrafia, aritimética, língua portuguesa, A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 9 francesa e inglesa gramaticalmente , geografia, história, música, piano, dança, desenho, pintura e prendas domésticas. Temos que preparar a nossa Júlia para uma vida conjugal, nada deixando a desejar ao seu esposo, afinal ela já está com dez anos de idade. MARIA LUISA DA COSTA – Mas, ainda não há um pretendente? Há? (clese em Júlia Da Costa, aflita) ALEXANDRE JOSÉ DA COSTA – Não, (volta a cena dos pais), mas os pais devem se preocupar desde cedo com o futuro, principalmente de suas filhas. MARIA LUISA DA COSTA – E caso ela não se adaptar ao regime do novo colégio? ALEXANDRE JOSÉ DA COSTA – Ela A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE poderá Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 10 freqüentar o colégio em regime semiaberto, juntamente com a filha do tenente-coronel Correia. MARIA LUISA DA COSTA – Íria é uma menina que simpatiza muito com Júlia, certamente serão grandes amigas. Júlia encontra um jornal que está sobre o móvel do corredor, datado de 1854 e ela leva o texto até o tio Ricardo. Close em Júlia. MARIA LUISA DA COSTA – Quando começa freqüentar colégio? ela a o ALEXANDRE JOSÉ DA COSTA – No início do próximo ano letivo. Corta para: CENA 09 – BIBLIOTECA DA CASA DE JÚLIA DA COSTA. PARANAGUÁ. INTERIOR. DIA. Júlia entra na biblioteca, onde está o tio Ricardo está lendo e fazendo anotações. JÚLIA DA COSTA – Tio Ricardo, tio Ricardo... RICARDO JOSÉ DA COSTA – O que Júlia! JÚLIA DA COSTA – Quero A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE foi que o Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 11 senhor leia para mim essa poesia do Jornal Dezenove de Dezembro. RICARDO JOSÉ DA COSTA – Deixe-me ver... (Close nas reações de Júlia Da Costa, e no tio Ricardo lendo) “Males pungiamme a alma Na manhã fagueira e calma Em que vos fui visitar a vossa santa ermidinha Do Rocio, a beira mar Tende pena destas dores, Que acerba foi minha sorte Se a vida só me deu pranto, Enxugai no vosso manto Meus olhos depois da morte”. Fernando Amaro JÚLIA DA COSTA – Quem é Fernando Amaro, tio? O senhor o conhece? RICARDO JOSÉ DA COSTA – Fernando Amaro também é um poeta, que vive fazendo A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 12 queixas à Santa de sua devoção, protestando contra a maldade humana e confessandose cansado de viver num mundo onde o “homem é o lobo do homem”. Qualquer dia destes te levo a uma reunião literária e irá conhecer pessoalmente o poeta Fernando Amaro. Corta para: CENA 10 – QUARTO DE INTERIOR/EXTERIOR. DIA. JÚLIA DA COSTA. PARANAGUÁ. Fundo musical de piano, Júlia Da Costa está em seu quarto, sentada em um banquinho próxima a uma janela que está aberta, o céu está lindo, ela está lendo os livros emprestados por seu tio e pensa. JÚLIA DA COSTA – Quero ser uma grande poetisa, como meu tio Ricardo José Da Costa... (pausa) como Fernando Amaro. Júlia olha pela fresta da janela e imagina... JÚLIA DA COSTA – (off) “O céu é azul e os pássaros cantam...” (mostrar o céu A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 13 azul e os pássaros numa árvore cantando). A música sobe a cena vai se distanciando continua parada olhando pela janela. dela, que Corta para: CENA 11 – SALA DE AULA. COLÉGIO JESSIC JAMES. PARANAGUÁ. INTERIOR. DIA. No Colégio Jessic James, a professora Willie James está ensinando teoria de piano, e Júlia irá conversar com Íria Correia, assim que a professora sair da sala de aula. ÍRIA CORREIA – (lendo) As sete notas musicais são: dó, ré, mí fá, sol, lá e si. WILLIE JAMES – Pode entrar, por favor. SECRETÁRIA – Professora Willie James, sua mãe a chama na sala da direção. WILLIE JAMES – Meninas, façam os exercícios da próxima página, que logo retornarei para a correção. (sai) JÚLIA DA COSTA – Íria, recebi mais uma Batem na porta. A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 14 correspondência do poeta Benjamim Carvoliva. ÍRIA CORREIA – Vocês ainda continuam se correspondendo? JÚLIA DA COSTA – Com freqüência, e estou escrevendo algumas poesias, pois estou pretendendo publicar um livro. ÍRIA CORREIA – Que maravilha Júlia, mas vamos concluir os exercícios, senão a professora volta e... Corta para: CENA 12 – SALA DA DIREÇÃO. PARANAGUÁ. INTERIOR. DIA. COLÉGIO JESSIC JAMES. Dona Maria Luisa Da Costa e a professora Jessic James sentadas uma de frente para a outra na sala da diretoria do Colégio James e entra a filha da professora, a professora Willie James. JESSIC JAMES – Eu sou a professora Jesic James, e esta é minha filha Willie James, a outra educadora. A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 15 WILLIE JAMES – Encantada, senhora... MARIA LUISA DA COSTA – Gostaria de ter vindo antes, mas infelizmente não havia disponibilidade de tempo, sou mãe da Júlia Da Costa e gostaria de saber do desenvolvimento e adaptação de minha filha. JESSIC JAMES – Como senhora percebeu, exigimos alunas completo material higiene. a já das um de WILLIE JAMES – O colégio assegura o maior asseio, a mais delicada atenção para com as aluna, uma alimentação abundante e sobre tudo sadia, enfim tudo quanto é próprio de estabelecimento tais. MARIA LUISA DA COSTA – E como Júlia tem se A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 16 comportado... JESSIC JAMES – Devota fervente deste seu torrão natal, dotada de clara inteligência e decidida vocação para as letras. WILLIE JAMES – Bem, agora preciso retornar à sala de aula, pois as meninas, neste momento, estão aprendendo teoria de piano. MARIA LUISA DA COSTA – Também preciso ir, devido alguns preparativos que devo fazer para o almoço. JESSIC JAMES – Caso haja alguma dúvida a respeito da educação de sua filha, o colégio estará a sua inteira disposição. Corta para: CENA 13 – SALA DE REUNIÃO LITERÁRIA. CLUBE DA CIDADE. PARANAGUÁ. INTERIOR. NOITE. Em meio a uma garoa Ricardo chega com Júlia em uma sala, A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 17 onde está acontecendo uma reunião literária, enquanto os dois entram o barulho da chuva vai diminuindo e ouve-se a voz de Fernando Amaro recitando (close nos olhos de Júlia, brilhando e sua expressão de felicidade), no meio da poesia, ele começa a aparecer, todo de branco. FERNANDO AMARO “Em tempos passados um fogo divino Senhor desta mente, me deu o trovoar. E agora no peito nasce-me outro fogo, que o gelo da morte só pode apagar!” Poucos aplausos, neste momento encerra-se a reunião e o poeta Gonçalves Dia vai a frente para a palavra final. GONÇALVES DIAS – E assim senhoras e senhores, com os versos de Fernando Amaro, damos por encerrada mais uma reunião literária, agradecemos a presença de todos e até o próximo encontro. Todos vão se levantando e formam-se ficam a espera da fina garoa passar. Fernando Amaro, está o pequeno José aproxima dos dois juntamente com Júlia alguns grupos que Sempre ao lado de Morais. Ricardo se Da Costa. RICARDO JOSÉ DA COSTA – Gostaria de parabenizá-lo pelos A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 18 maravilhosos versos. FERNANDO AMARO – Infelizmente, com a minha pouca instrução, a sociedade não me considera como um poeta. JÚLIA DA COSTA – (dando um passo à frente) Eu o considero um grande poeta, e estou sempre lendo os seus versos. FERNANDO AMARO – Como chama? JÚLIA DA COSTA – Júlia Maria Da Costa. FERNANDO AMARO – Você ainda é uma criança, quando for adulta terá mais consciência do que a sociedade faz para destruir os homens sem pomposo nome de família. JÚLIA DA COSTA – Mas eu o admiro, sinceramente, e baseada ao senhor, já tenho os meus primeiros A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE se Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 19 escritos, prezo poesia. pois pela FERNANDO AMARO – Você é uma menina de família tradicional. JÚLIA DA COSTA – Não me importo com isso, sei que sou descendente da família Rodrigues de França e Leandro Da Costa, freqüento o Colégio Jessic James, mas a poesia fascina ricos e pobres, adultos e crianças. JOSÉ MORAIS – Isso é verdade, desde bem pequenino que eu ouço as poesias de Fernando Amaro. FERNANDO AMARO – Este é José Morais, ele é morretense e há tempos acompanha o meu trabalho literário. RICARDO JOSÉ DA COSTA – A chuva está passando Júlia, lhe trago em outras A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 20 oportunidades para rever o poeta. Se despendem e saem. Corta para: CENA 14 – SALA DA CASA DE JÚLIA DA COSTA. PARANAGUÁ. INTERIOR. NOITE. Entram em casa e Júlia Benjamim Carvoliva. recebe uma correspondência de MARIA LUISA DA COSTA – Júlia chegou esta correspondência para você, querida. JÚLIA DA COSTA – Obrigada mamãe! (pega a correspondência e corre em direção ao seu quarto). Corta para: CENA 15 – QUARTO DE JÚLIA DA COSTA. PARANAGUÁ. INTERIOR. NOITE. Ela abre a carta e lê, com muita expressão de felicidade. JÚLIA DA COSTA – Sei que sou seu confidente íntimo e que você tem escrito para mim uma valiosa série de cartas, que são verdadeiras jóias literárias, eu A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 21 as guardo como lembrança duma ditosa fase de vida de duas criaturas que até então tem se compreendido. Benjamim Carvoliva. Júlia se abraça a carta e a câmera vai se distanciando. Corta para: CENA 16 – SALA DE AULA. COLÉGIO JESSIC JAMES. PARANAGUÁ. INTERIOR. DIA. Na sala de aula ela lê uma matéria no Jornal Dezenove de Dezembro, que retrata a morte do poeta Fernando Amaro aos vinte e seis anos de idade, ela está com treze. JÚLIA DA COSTA – (off) Morre aos vinte e seis anos de idade o poeta Fernando Amaro, faleceu no último dia 14 de novembro de 1857, de congestão cerebral, na casa do amigo Vicente Ferreira Loyola. Ele que foi o pioneiro na arte de Bilac. Seus primeiros versos apareceram ilustrando as colunas deste A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 22 Dezenove de Dezembro. Ele que muito contribuiu para esse órgão de imprensa era “mais poeta de coração que de cabeça, consumiu a maior parte do melhor tempo em busca de um mundo platônico que a sorte nunca o deixara gozar, além de perscrutação. De uma inteligência superior e natural, animado pelo gênio e pela intenção de criar um nome propriamente seu, inebriouse nos cadenciosos versos de Gonçalves Dias e Magalhães e produziu as pulsações de sua alma, ainda não impressa, e outros, Zaluar e Alvim”. A voz aos poucos vai ficando baixa, o som do piano aumentando e uma lágrima rola do rosto de Júlia Da Costa. Corta para: A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 23 CENA 17 – CASA DE JÚLIA DA COSTA / BIBLIOTECA / JARDIM / PRAÇA / QUARTO / SALA DE REUNIÃO LITERÁRIA. PARANAGUÁ. INTERIOR/EXTEIOR. DIA/NOITE. Transição de Tempo: Música suave de piano, Júlia lendo poesias na biblioteca, ocupando o lugar de seu tio, no jardim, na praça, no quarto deitada, na varanda da casa e a música vai abaixando, quando ela aparece, já adulta noutra reunião literária. Todos os personagens estarão mais adultos a partir desta cena, pois saímos do ano de 1857 para o ano de 1867, ou seja, se passa uma década. GONÇALVES DIAS – Amizade, ilusão que os anos somem. Muitos aplausos, close no rosto de Júlia que sorri e bate palmas, neste momento encerra-se a reunião, então o poeta José Morais vai até a frente, (o personagem deverá ter alguma característica para ser reconhecido de imediato pelo público, uma pinta ou uma cicatriz). JOSÉ MORAIS – Gostaríamos imensamente de agradecer a presença de todos, e esperamos contar com as senhoras e com os senhores noutros encontros literários. Todos vão se levantando, formam-se alguns grupos. José Morais está conversando com Gonçalves Dias, e chega Júlia Da Costa. JÚLIA DA COSTA – José Morais, gostaria muito de lhe falar. JOSÉ MORAIS – Um momento, Júlia. A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 24 José Morais se despede de Gonçalves Dias e segue Júlia que entra num reservado. JÚLIA DA COSTA – José, tenho muita admiração pelo seu trabalho e pensei muito e estou decidida a publicar um livro de poesias e gostaria muito de contar com a sua participação neste trabalho revisando toda a minha obra. JOSÉ MORAIS – Fico muito enaltecido, Júlia, e com certeza posso ler a obra que pretende publicar. Ela lhe entrega um monte com papéis, onde estão escritas as suas poesias e se despede de José Morais. Corta para: CENA 18 – SALA DA CASA DE JÚLIA DA COSTA. PARANAGUÁ. INTERIOR. NOITE. Os pais de Júlia Da Costa estão na sala conversando. O comendador Costa Pereira irá chegar, depois Júlia Da Costa chegará. MARIA LUISA DA COSTA – Não creio que Júlia esteja preparada para se casar com o A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 25 comendador. ALEXANDRE JOSÉ DA COSTA – Ele é descendente do último capitãomor de São Francisco e hoje é uma personalidade de muita importância na Província. MARIA LUISA DA COSTA – Creio que mesmo assim, está muito cedo para apresentarmos Júlia como noiva do comendador Costa Pereira. ALEXANDRE JOSÉ DA COSTA – Mas, Maria Luisa, já fizemos o acordo com o comendador (ouve-se bater na porta) e pelo jeito ele é pontual. MARIA LUISA DA COSTA – Boa noite comendador. COMENDADOR COSTA PEREIRA – Boa senhora. noite MARIA LUISA DA COSTA – entrar, favor. ALEXANDRE JOSÉ DA COSTA – Júlia ainda não chegou, foi A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Queira por Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 26 até uma reunião literária, mas creio que não demorará. Júlia entra. ALEXANDRE JOSÉ DA COSTA – Não disse que não demoraria, esta é a minha filha, de quem tanto falávamos. COMENDADOR COSTA PEREIRA – Boa noite senhorita. JÚLIA DA COSTA – Boa noite senhor. (se dirigindo ao quarto) MARIA LUISA DA COSTA – Querida, o jantar, será servido dentro de poucos minutos. JÚLIA DA COSTA – Não me atrasarei, logo retorno (sai como se estivesse com pressa). ALEXANDRE JOSÉ DA COSTA – Esperamos que o senhor tenha gostado de nossa filha, comendador. MARIA LUISA DA COSTA – Quanto a isso não tenha dúvidas, Júlia herdou de sua A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 27 ilustre ascendência os seus pendores intelectuais. ALEXANDRE JOSÉ DA COSTA – O capitão-mor João Rodrigues de França, patriarca da família materna de Júlia, era um homem notável, não apenas pelos cabedais que possuía, pois eram tantos que possuía, tamanhos ao ponto de presentear o Rei D. João V com um frasco de ouro em pó. Corta para: CENA 19 – BIBLIOTECA DA CASA DE JÚLIA DA COSTA. PARANAGUÁ. INTERIOR. NOITE. RICARDO JOSÉ DA COSTA – Como foi reunião literária? JÚLIA DA COSTA – Encantadora, como todas as que tenho participado. Gostaria de lhe falar a respeito do livro de poesias que tenho a pretensão de A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE a Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 28 publicar. RICARDO JOSÉ DA COSTA – Dou-lhe todo o meu apoio. JÚLIA DA COSTA – José Morais está revisando toda a obra que pretendo publicar, já o senhor poderia averiguar, onde o livro poderá ser editado. RICARDO JOSÉ DA COSTA – Faço uma pesquisa e depois decidimos o melhor local para que essa sua vocação se torne realidade. Já existe um título para o livro. JÚLIA DA COSTA – Provisoriamente estou chamandoo carinhosamente de O Poeta das Rimas de Ouro. RICARDO JOSÉ DA COSTA – Em se tratando do poeta das rimas de ouro, chegou essa correspondência para você, é do Benjamim Carvoliva. A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 29 JÚLIA DA COSTA – (eufórica) Obrigada titio, estava ansiosa a resposta do músico e poeta Benjamim Carvoliva, mesmo sabendo que ele se afastou de mim por não ter coragem de assumir a relação. RICARDO JOSÉ DA COSTA – Agora vou me preparar para o jantar. (sai) JÚLIA DA COSTA – (abre a carta com pressa de ler) Recebi a sua correspondência e simpatizei muito com a poesia Poeta Escuta, considero-a uma obra prima. Em retribuição lhe envio nesta oportunidade alguns versos. De seu poeta das rimas de ouro, Benjamim Carvoliva. No momento em que ela guarda a carta, percebe que dentro do envelope há um lenço, bordado com as iniciais de Benjamim Carvoliva (B.C.), Júlia aperta o lenço sobre suas mãos e o cheira, como se estivesse apaixonada, Júlia guarda o lenço e a carta no meio de um dos livros e sai, A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 30 se dirigindo para a sala onde senta a mesa para jantar na companhia de seus pais, do comendador Costa Pereira e do tio Ricardo, in off todos conversam, bebem, comem, exceto Júlia que deverá estar pensando no lenço recebido e em Benjamim Carvoliva, com ar de quem está bem longe dali. Os pais de Júlia acompanham o comendador até a porta e se despedem, Júlia dá boa-noite aos pais e ao tio e se dirige para o seu quarto. RICARDO JOSÉ DA COSTA – Notei um certo contentamento seu durante o jantar. Não sei se estou certo, mas vocês estão planejando o casamento de Júlia com o Comendador Costa Pereira? ALEXANDRE JOSÉ DA COSTA – Não vejo nenhum impedimento para que se enlacem pelo matrimônio, e creio que o comendador será um bom esposo para nossa filha. RICARDO JOSÉ DA COSTA – Ele me pareceu ser um homem rude e sem rudimentares princípios de traquejo social e sem a mínima instrução. ALEXANDRE JOSÉ DA COSTA – Vivemos numa A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 31 época onde a mulher está enclausurada no lar, de corpo e alma, não lhe permitindo a liberdade de espírito. RICARDO JOSÉ DA COSTA – Mas a nossa Júlia nasceu para vôos altos e é uma trovadora de alma sutil e delicada. E além do mais ele é trinta anos mais velho do que ela. MARIA LUISA DA COSTA – Já conversei o suficiente com o Alexandre a respeito desse assunto, mas meu marido não vê limitações nesta união e em breve marcaremos o noivado de nossa filha com o comendador Costa Pereira e já foi acordado que a sua residência será transferida para a cidade de São Francisco, em Santa Catarina, logo após o A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 32 casamento. Corta para: CENA 20 – BIBLIOTECA DA CASA DE JÚLIA DA COSTA. PARANAGUÁ. INTERIOR. NOITE. Júlia Da Costa com o tio Ricardo, que já lhe deu a notícia do casamento, Júlia muito nervosa, a princípio close nela. JÚLIA DA COSTA – Não!!! Não posso e não quero me casar com este senhor de São Francisco, cheguei a vê-lo apenas hoje, não podem me obrigar a nada disso. RICARDO JOSÉ DA COSTA – Eu acabei de conversar com seu pai, e ele, assim como a sua mãe estão certos de que esse casamento será melhor para você. JÚLIA DA COSTA – E os meus sonhos, os meus versos, a minha literatura: tudo isso não poderá morrer. E a minha poesia. Ricardo se aproxima da sobrinha, que se senta na cadeira do tio e ele coloca suas mãos sobre seus ombros e Júlia se põem a chorar enquanto o tio tenta consolá-la. A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa RICARDO JOSÉ DA COSTA Pág.: 33 – É uma tradição em nosso tempo, os pais escolherem os maridos para suas filhas sem consultá-las, eles procuram achar um homem que possa assegurar o seu futuro, por isso seus pais vão realizar o seu casamento com este rico cidadão de São Francisco. Corta para: CENA 21 – PRAÇA. PARANAGUÁ. EXTERIOR. DIA. Triste Júlia Da Costa conversa com a amiga, Íria Correia. ÍRIA CORREIA – Júlia, você nem parece ser a mesma, sempre cantando o belo e nos últimos dias parece estar tão triste. JÚLIA DA COSTA – E não era para estar... ÍRIA CORREIA – Seu livro está prestes a ser publicado... JÚLIA DA COSTA – Não só de alegria vive a poesia, hoje eu A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 34 percebo que existe o lado ruim da vida e compreendo perfeitamente o triste e desiludido poeta Fernando Amaro. Nunca o esquecerei. ÍRIA CORREIA – O que você está querendo dizer com isso? JÚLIA DA COSTA – Lhe confidenciei que conheci o brilhante poeta e musicista Benjamim Carvoliva e entre nós nasceu uma amizade profunda, um bem querer tão grande e tão puro, que se tornou em um verdadeiro amor. Esse ideal, completamente desligado de interesses ou gozos materiais, que me faz forte de espírito e jamais um beijo foi escrito em nossas correspondência s e agora todo A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 35 o meu desejo foi obrigado a morrer. Sou obrigada a casar com um homem que não conheço. ÍRIA CORREIA – E o que você pretende fazer diante de toda essa situação? JÚLIA DA COSTA – Pensei muito, Íria e vou casar-me sem amor com este cidadão, esforçando-me por estimá-lo e respeitá-lo, como é da vontade de meus pais, devido eu ser educada e de boa cultura. ÍRIA CORREIA – Mas você não admira esse homem que, embora rico lhe ofereça apenas as torturas da limitação. JÚLIA DA COSTA – E quem se importa com isso, vivemos em tempos que os pais se preocupam apenas com o sustento material e se assim A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 36 decidiram, irei cumprir com o contrato que fizeram, sem ao menos me consultar. ÍRIA CORREIA – E o poeta das rimas de ouro? JÚLIA DA COSTA – “Tenho medo de tudo que é presente. Tenho pena de tudo que é passado. O presente é uma flor cheia de espinhos. O passado é um perfume evaporado”. E devido o presente não corresponder com o passado, decidi, juntamente com meu tio Ricardo a mudar o nome do livro, que desta feita chamar-se-á Flores Dispersas. Corta para: CENA 22 – BIBLIOTECA DA CASA DE JÚLIA DA COSTA. PARANAGUÁ. INTERIOR. NOITE. Júlia Da Costa abatida lendo um livro. Ricardo vai entrar. RICARDO JOSÉ DA COSTA – Pelo hoje colocar A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE menos tente um Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 37 sorriso em seu rosto. JÚLIA DA COSTA – Não sei se conseguirei, mas irei pensar com carinho em sua proposta. RICARDO JOSÉ DA COSTA – Agora vamos para a sala, pois em breve o comendador chega para o jantar e o noivado será oficializado. Corta para: CENA 23 – SALA DA CASA DE JÚLIA DA COSTA. PARANAGUÁ. INTERIOR. NOITE. Quando Ricardo com Júlia chegam na sala, dona Maria Luisa está abrindo a porta para o comendador Costa Pereira. MARIA LUISA DA COSTA – Boa noite comendador, queira entrar, por favor. COMENDADOR COSTA PEREIRA – Boa dona Luisa. MARIA LUISA DA COSTA noite Maria – O senhor é bem pontual, pois a empregada já está servindo o jantar. Sentese. Todos se sentam à mesa, que deverá estar disposta com A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 38 todos os apetrechos do costume da época para jantares especiais, pois se trata do noivado na única filha da família Da Costa. ALEXANDRE JOSÉ DA COSTA – A nossa filha está muito satisfeita com a novidade comendador Costa Pereira. MARIA LUISA DA COSTA – Teve uma educação social e cultural bem aprimorada, tornando-se dessa maneira, uma verdadeira dama de salão. COMENDADOR COSTA PEREIRA – E como é o relacionamento de Júlia com a sociedade? MARIA LUISA DA COSTA – Muito espirituosa e de fino trato, dado a sua graça, elegância e maneira aristocrática. COMENDADOR COSTA PEREIRA – Em São Francisco terá uma vida intensa e brilhante, pois em nossa residência ocorrerão reuniões políticas e saraus A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 39 literários, aos quais ela tanto preza. MARIA LUISA DA COSTA – Isso é muito bom, não Júlia? Júlia permanece inerte. COMENDADOR COSTA PEREIRA – Também poderá continuar a escrever para os jornais do Paraná, onde antes já colaborava e se for de sua vontade, para os de sua terra adotiva. JÚLIA DA COSTA – Não sou uma poetisa de extraordinários talentos, a minha inteligência está voltada ao serviço do coração, vamos dizer que sou uma sentimentalista . Só quero uma condição para que seja oficializado o nosso casamento? COMENDADOR COSTA PEREIRA – Diga, qual é? JÚLIA DA COSTA – Quero que a nossa cerimônia seja realizada A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 40 ao ano seguinte a publicação do meu livro de poesias. COMENDADOR COSTA PEREIRA – Quanto a isso não vejo problema algum. Corta para: CENA 24 – SALA DE REUNIÃO LITERÁRIA. CLUBE DA CIDADE. PARANAGUÁ. INTERIOR. NOITE. Enquanto Gonçalves Dias estiver falando, aparecerão trechos de poesias de Júlia Da Costa, alguns convidados, sua família e a própria poetisa. GONÇALVES DIAS – Senhores, excelentíssimas senhoras, gostaríamos de pedir a atenção de todos nesse momento. Esta é uma noite memorável, principalmente para a poetisa Júlia Maria Da Costa, que lança nesta noite a publicação de seu primeiro livro de poesias “Flores Dispersas”, que para a sua educação bastaria o próprio ambiente familiar, com seus tios A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 41 letrados e que possuem gosto literário compulsando os clássicos. Professores capazes de darem a essa jovem uma sólida instrução, mas acreditamos que ao preparo de Júlia Da Costa não tenham sido estranho o Colégio Jessic James e por sua filha Willie James, que aportadas a Paranaguá abriram seu educandário, aberto as filhas das principais famílias. Teve, porém o mérito de ser a primeira mulher paranaense que cultivou a poesia. Consagrando ao seu berço, enternecido afeto, conquistando a estima dos seus conterrâneos e cantando a beleza da sua querida Paranaguá. A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 42 Corta para: CENA 25 – QUARTO DE JÚLIA DA COSTA. PARANAGUÁ. INTERIOR. DIA. Com a ajuda de sua mãe, dona Maria Luisa, Júlia prepara suas malas para a viagem a São Francisco. MARIA LUISA DA COSTA – Filha, a partir de agora sua vida estará tomando um novo rumo, você viverá um outro período em São Francisco, juntamente com seu marido. JÚLIA DA COSTA – Não o amo, mas senhora minha mãe, não envergonharei o nome do meu esposo, nem o nome de nossa família. Irei respeitá-lo até a sua morte. MARIA LUISA DA COSTA – As malas estão prontas, vamos indo para que não se atrase para a viagem. JÚLIA DA COSTA – Avise meu marido que já estou a caminho, preciso pegar uns livros na biblioteca. A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 43 A mãe sai do quarto e ela caminha lentamente até a escrivaninha, que está próxima da cama, abre uma gaveta, olha para o lenço, fecha a gaveta, dá alguns passos, mas retorna, abre a gaveta, retira o lenço e leva-o consigo. Corta para: CENA 26 – BIBLIOTECA DA CASA DE JÚLIA DA COSTA. PARANAGUÁ. INTERIOR. DIA. Júlia entra na biblioteca e avista todo o ambiente. JÚLIA DA COSTA – Vou sentir saudades deste lugar. Corta para: CENA 27 – CAIS DO PORTO. PARANAGUÁ. EXTERIOR. DIA. No cais do porto estão Alexandre José Da Costa, Júlia Da Costa, Costa Pereira, Maria Luisa Da Costa, Ricardo José Da Costa e Íria Correia. Despedem-se e Júlia com o marido sobem na embarcação e ela abana com o lenço. JÚLIA DA COSTA – (off) “Aí! Quem me dera os sorrisos da minha terra adorada. Quando na serra a alvorada deixa seus raios cair”. Corta para: CENA 28 – FACHADA DO SOBRADO DE FRANCISCO DO SUL. EXTERIOR. DIA. JÚLIA DA COSTA. SÃO Júlia Da Costa observa o sobrado, enquanto Costa Pereira procura a chave da porta para abri-la, e ela lembra de quando era criança: “O céu é azul e os pássaros cantam...” - (CENA 10), depois fica pensativa e diz: A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa JÚLIA DA COSTA Pág.: 44 – “O céu é azul e os pássaros estão mudos”. COMENDADOR COSTA PEREIRA – O que disse? JÚLIA DA COSTA – Nada não, (entrando no sobrado) eu estava apenas pensando alto. (observa atentamente a residência). Falta um piano nesta sala. COMENDADOR COSTA PEREIRA – Já o providenciei, quando soube que você toca divinamente, mas só chegará na semana que vem. E quem diz o que falta ou não nesta casa sou eu, pois sou o cabeça do casal. JÚLIA DA COSTA – (próxima da escada, subindo os primeiros degraus, lentamente) Vou conhecer o meu quarto. COMENDADOR COSTA PEREIRA – (intervindo) O nosso quarto você quis dizer, lembrese que agora A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 45 não está sozinha. mais Corta para: CENA 29 – SOBRADO DE JÚLIA DA COSTA (SALA E COZINHA). SÃO FRANCISCO DO SUL. INTERIOR. NOITE. Júlia Da Costa em suas atividades diárias: tocando piano, arrumando a mesa, escrevendo poesias, na cama deitada e a criada preparando seu banho, jantando com o marido, arrumando quadros nas paredes, o tempo vai passando, até que ela está com vestido de gala tocando piano ao seu lado o lenço com as iniciais de Benjamin Carvoliva, um casal em pé a observa tocar, no sofá está seu marido com outro casal, são pessoas importantes da sociedade de São Francisco do Sul. Júlia Da Costa termina a música e os casais aplaudem e Costa Pereira não se mexe, mostra o seu descontentamento com a situação, reprovando a arte da esposa. COMENDADOR COSTA PEREIRA – Júlia, peça a criada que sirva mais bebida aos nossos convidados. Ela obedece prontamente. JÚLIA DA COSTA – Estou indo... Aproveito e preparo uns canapés também . ESPOSA 1 – Pode deixar que eu te acompanho Júlia. MARIDO 2 – Querida, queira acompanhá-las também. A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa ESPOSA 2 Pág.: 46 – Vou sim, sem problemas meu marido. Enquanto os três continuam bebendo, jogando conversa fora e rindo, as três se dirigem para a cozinha do sobrado. Na cozinha. ESPOSA 1 – O Comandante parece descontente com algo, será a nossa presença? JÚLIA DA COSTA – Claro que não... O descontentament o dele é em relação ao livro que acabei de publicar. ESPOSA 2 – Bouquet de Violetas... Impossível... Li nos jornais as críticas e você foi muito elogiada pelos poemas. JÚLIA DA COSTA – Esse é o problema... Costa Pereira não vê com bons olhos que eu me destaque na sociedade, ele gostaria que eu me dedicasse exclusivamente para os afazeres domésticos. A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 47 ESPOSA 1 – Mas esse pensamento é muito retrógrado para o Século XIX. JÚLIA DA COSTA – Na verdade ele é um carcereiro enciumado e por isso ele me martiriza com suas grosserias e algumas expressões burguesas. ESPOSA 2 - O que mais me atraiu na sua sala não foi o piano, e sim, os painéis, diversificament e coloridos, apresentando paisagens, cenas campesinas e interiores de lar. JÚLIA DA COSTA Tudo foi meticulosamente confeccionado durante muitos anos de solidão para curtir as dores de meu coração moralmente ferido pelo proceder daquele a quem ligara meus A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 48 dias. ESPOSA 1 – Então você vive uma existência de mágoas e de dores que externa nas suas produções, coletâneas poéticas que confirmam a sua compleição artística. JÚLIA DA COSTA Fui traída por Costa Pereira, colorario fatal de uma união desigual e sem amor. ESPOSA 2 Melhor retornarmos para sala agora... JÚLIA DA COSTA - Vamos... As esposas retornam alguns canapés. a sala com bandejas com vinhos e MARIDO 2 Júlia, comentava com o Comendador que a senhora toca piano divinamente. JÚLIA DA COSTA Bondade sua... Mas irei tocar mais uma música para A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 49 vocês distraírem. MARIDO 1 se - Por favor... Júlia abre o piano, o lenço sobre ele e ela começa a tocar. Corta para: CENA 30 – QUARTO DE JÚLIA DA COSTA. SÃO FRANCISCO DO SUL. INTERIOR. NOITE. Júlia escreve uma correspondência, a sua voz pode aparecer ou ser in off, ficará a critério do que a direção achar melhor, Júlia nessa cena já está com mais de 40 anos de idade. JÚLIA DA COSTA – As contrariedades que em tão verdes anos tenho experimentado, me tem tornado um tanto filósofa. Estando na flor da vida, olho para tudo com indiferença da decrepidez. Leia meus versos e verá quantas saudades, quantas tristezas estão gravadas nessas folhas avulsas. Não imite minha descrença, não identifique com esses termos de suprema A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 50 angústia exalada em momentos de desânimo. Tenho crença, confie no futuro e não deixe nunca a descrença, como a mim, desbotar-lhe a fronte. Nem tudo no mundo é engano, há circunstâncias na vida que nos forçam a parecer às vezes esquecida, indiferente até. Os anos passam como sombras e em breve chega o inverno da vida, sem flores, sem sorrisos. O coração humano é difícil de contentar, esta aspiração de felicidade que nos alenta, é uma prova irrecusável da imortalidade da alma. Nunca estamos satisfeitos com a nossa sorte. Embora seja-nos por ela propícia, sempre A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 51 murmuramos do destino. O mundo é um tablado escuro, onde os atores riem quando têm lágrimas e choram quando têm risos. Corta para: CENA 31 – CEMITÉRIO. JAZIDO DO COMENDADOR COSTA PEREIRA. SÃO FRANCISCO DO SUL. EXTERIOR. DIA. Transição de Tempo: Júlia Da Costa está chorando, aparece ela deitar-se sobre o jazido do comendador Costa Pereira e quando ela levanta-se, no meio da fala, ela já está bem idosa. JÚLIA DA COSTA – (off) Como deve saber o Costa esteve à morte e se escapou foi por um milagre. Em todo esse tempo eu não tive um minuto de descanso, e agora é que eu vou tornando a mim da refrega que levei. Eu vou indo nessa vegetação contínua até deixar este mundo que tão pouco tenho desfrutado. Corta para: CENA 32 – QUARTO DE JÚLIA DA COSTA. SÃO FRANCISCO DO SUL. A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 52 INTERIOR. NOITE. Júlia Da Costa angustiada escreve sobre a mesa de seu quarto. A fala poderá ser in off, ela falando ou apenas aparecendo às palavras, ficará a critério do que a direção definir. JÚLIA DA COSTA – “Nem uma gaivota paira. No azul triste dos ares; Tudo é silêncio profundo. Tudo diz agros pesares”. 3/5/1906. JÚLIA DA COSTA – Sacrifiquei uma vida não desejada, mas conservei dentro de mim o direito a um mundo interior inteiramente meu, os cantares de saudade evocam a terra parnanguara, que jamais esqueci, as flores, os pássaros, o mar, as tardes, as noites são meus temas prediletos, repetidos sem cansaço. Retornando a escrever, usar o mesmo critério anterior. JÚLIA DA COSTA noites A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE “Tantas de Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 53 agonia. Tanto sonho espedaçado. Tantos dias sem valia. Tanto sol desperdiçado”. 4/5/1906. Júlia abre sua gaveta e remexe em vários papéis e encontra um envelope, que é destinado a Benjamim Carvoliva. JÚLIA DA COSTA – Estas são jóias literárias, guardadas com meticuloso carinho. Retira os poemas e inicia a leitura de um deles. JÚLIA DA COSTA – “Há vozes que vibram, que vibram no peito e lembram pesares de um sonho desfeito”. “Há vozes que vibram, que vibram no escuro e lembram delícias de um belo futuro”. 16/5/1907. JÚLIA DA COSTA – Tive com Carvoliva um namoro secreto, mas a primeira separação foi motivada pelo afastamento dele, que não A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 54 teve coragem de assumir a relação. Uma nova decepção não alterou a minha fidelidade ao meu grande amor, mesmo sabendo que Carvoliva casara-se com outra. Corta como se retornássemos para a continuação da cena 05. CENA 33 –SALA DO SOBRADO DE JÚLIA DA COSTA. SÃO FRANCISO DO SUL. INTERIOR. ANOITECENDO. Júlia Da Costa fecha a janela de seu quarto, o sol já está se pondo. JÚLIA DA COSTA – Rejeitada, envergonhada, afastei-me do mundo isolandome neste quarto totalmente lacrado, escrevendo sempre. DOMINGOS DUARTE VELOSO – Então a senhora nunca mais retornou à Paranaguá. JÚLIA DA COSTA – Por acaso, o senhor que é de Paranaguá, conheceu os poetas José Morais e Fernando Amaro. A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 55 ALBERICO FIGUEIRA – José Morais sim, já Fernando Amaro apenas através de seus versos. JÚLIA DA COSTA – Ah! Conheci-o tanto!... DOMINGOS DUARTE VELOSO – Está ficando tarde, infelizmente temos que ir. Eles descem e saem e ela louca e quase cega começa a escrever pelas paredes, cadeiras, mesa e numa tampa de caixa de papelão, sempre grudada no lenço. JÚLIA DA COSTA “Os ventos mudos... mudo o bosque e a selva ao longe trevas... pavoroso arcano os arvoredos semelham sombras fugindo toda num bastar insano”. “Há longo tempo que em meu berço triste. A sombra existe me negando os céus! Ergue-me quero mas não vejo flores, nem vejo árvores que me lembrem Deus!”. Corta para: CENA 34 – REDAÇÃO DO JORNAL. PARANAGUÁ. INTERIOR. NOITE. A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 56 Alberico Figueira narra e datilógrafa a reportagem a respeito da vida de Júlia Da Costa, a cena também deverá mostrar a praça Fernando Amaro. ALBERICO FIGUEIRA – Um ano após a minha visita a primeira poetisa em solo paranaense, cheguei a conhecer, já em avançada idade o professor, poeta e musicista Benjamim Carvoliva, que em sua mocidade fora belo e gozara de grande prestígio. Duma feita, falando de Júlia Da Costa, que falecera a pouco tempo, o velho professor com os olhos enevoados pela saudade, teve a voz embargada pelos soluços, confessando que amara de verdade a poetisa e que fora por ela correspondido, timbrando em afirmar que fora uma paixão intensa, mas pura e sem pecado. Anjo A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 57 exilado na terra, disse-me o ancião, pela beleza moral e dotes de espírito. Depois que Júlia Da Costa veio a falecer seus conterrâneos trouxeram seus restos mortais à sua terra natal: Paranaguá, onde foram enterrados na Praça Fernando Amaro. Corta para: FIM A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE Roteiro do Longa-Metragem Julia Da Costa Pág.: 58 OBRAS CONSULTADAS Júlia da Costa. Nascimento 1945. (P 928 C837 NAS obra completa) Júnior. Dicionário Histórico e Geográfico Ermelino de Leão. Curitiba. 1994. (P 918.603 L 437 V. 3 Pág. 1073-1074) Paranaguá. do Paraná. Paranaguá e sua Gente. Brasilino de Carvalho. São Paulo. 1976. (P 981.62 C 331 Ex. 4 Pág. 148 a 150) Coisas Nossas. Vários Autores. 1.º volume. Paranaguá. 1966. (P 981.62 C 755 Pág. 104 a 106 e 127 a 128) Antologia Didática de Escritores Paranaenses. América Sabóia e Hellê Vellozo Fernandes. 1970. (P 869.93 M 514 Pág. 07 a 11) Paranaguá na História e Tradição. Manoel Viana. Paranaguá. 1976. (P 98162 V 614 Pág. 290 a 295, 227 a 228 e 327 a 335) Coisas Nossas. Vários Autores. Paranaguá. 1967. (P 981.62 I 59 Pág. 213-215) 2.º volume. Dicionário Histórico-Geográfico do Estado do Paraná. Luis Roberto N. Soares. Editora Livraria do Chain, 1991. A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE