ROTEIRO DO LONGA-METRAGEM
J Ú L I A
D A
C O S T A
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro de: Gilson Santos De Oliveira
Personagens por ordem de aparição:
Júlia Da Costa (dos 48 aos 68 anos de idade)
Alberico Figueira
Domingos Duarte Veloso
Júlia Da Costa (dos 10 aos 13 anos de idade)
Rodrigo José Da Costa
Alexandre José Da Costa
Maria Luisa Da Costa
Íria Correia (aos 10 anos de idade)
8 meninas (aos 10 anos de idade)
Secretária do Colégio Jessic James
Willie James
Jessic James
Fernando Amaro
Gonçalves Dias
20 poetas – figuração
José Morais (aos 8 anos de idade)
Júlia da Costa (dos 23 aos 48 anos de idade)
Comendador Francisco Da Costa Pereira
Íria Correia (aos 23 anos de idade)
José Morais (aos 18 anos de idade)
2 Casais da Sociedade de São Francisco do Sul
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 2
CENA 01 – SALA DO SOBRADO DE JÚLIA DA COSTA. SÃO FRANCISO
DO SUL. INTERIOR. DIA.
Música de piano, entardecer, a câmera vem se aproximando
lentamente por uma fresta de uma janela que está quebrada
até chegar as mãos de Júlia Da Costa que está tocando o
piano, ela de costas, o chão, meio empoeirado, as paredes
com pintura desbotada, quadros pendurados e amarelados
pelo tempo, um sofá com tecido envelhecido, um lenço
masculino (com as iniciais bordadas B. C., que não irão
aparecer nesse momento), o lenço estará sobre o piano e a
câmera se desloca novamente para as mãos de Júlia Da Costa
que está terminando de tocar a música e quando começa a
fechar a partitura ouve-se palmas do lado de fora da casa
(até aqui sem aparecer o rosto de Júlia Da Costa, criando
um clima de mistério), ela fecha o piano e quando ouve
Alberico Figueira chamar, pega o lenço e sobe as escadas.
Corta para a fachada do sobrado, onde estão Alberico
Figueira e Domingos Duarte Veloso. A cena anterior
continua... Júlia, de costas sobe o último degrau, close
nos pés cansados.
ALBERICO FIGUEIRA
– (off) Júlia
Da Costa, Dona
Júlia.
DOMINGOS DUARTE VELOSO
–
(off)
Não
deve ser este o
local...
Corta para:
CENA 2 – FACHADA DO SOBRADO DE
FRANCISCO DO SUL. EXTERIOR. DIA.
JÚLIA
DA
COSTA.
SÃO
Aparecem os dois do lado de fora.
DOMINGOS DUARTE VELOSO
– Parece estar
abandonado.
ALBERICO FIGUEIRA
– Só pode ser
aqui, um velho
sobradinho
na
Rua
Babitonga...
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 3
DOMINGOS DUARTE VELOSO
– Então ela não
está em casa...
ALBERICO FIGUEIRA
– Dona Júlia,
preciso
conversar com a
senhora.
(num
grito) Sou de
Paranaguá.
Corta para:
CENA 03 – SALA DO SOBRADO DE JÚLIA DA COSTA. SÃO FRANCISO
DO SUL. INTERIOR. DIA.
Close no rosto de Júlia da Costa.
JÚLIA DA COSTA
– Paranaguá...
Corta para:
CENA 04 – FACHADA DO SOBRADO DE
FRANCISCO DO SUL. EXTERIOR. DIA.
Domingos Duarte Veloso desanimado,
Alberico Figueira insistindo...
JÚLIA
DA
querendo
DOMINGOS DUARTE VELOSO
COSTA.
SÃO
desistir
e
– O sol já está
declinando,
melhor
seria
que
retornássemos
amanhã.
Abre-se uma janela, onde está Júlia Da Costa, na parte
superior do sobrado)
JÚLIA DA COSTA
–
Um
momento
senhores,
vou
abrir a porta.
Corta para:
CENA 05 – QUARTO, ESCADAS E SALA DO SOBRADO DE JÚLIA DA
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 4
COSTA. SÃO FRANCISO DO SUL. INTERIOR. DIA.
Júlia Da Costa desce as escadas, com o lenço (close nas
mãos) e abre a porta com as mãos trêmulas, faz um gesto de
como se o sol fizesse mal aos seus olhos.
JÚLIA DA COSTA
– Entrem,
favor.
por
Eles entram na sala onde está o piano e Alberico Figueira
olha para os detalhes da casa, um sofá envelhecido, as
cortinas e janelas fechadas (exceto aquela por onde entra
a câmera, com uma fresta), a sala apesar de bonita e
espaçosa, mantém um ar de abandono, em uma mesa está um
vaso com flores secas, sobre uma toalha amarelada e muitos
papéis e livros empilhados e espalhados, o português tira
um lenço do bolso, passa sobre o rosto e seca o suor de
sua testa).
DOMINGOS DUARTE VELOSO
– Está um pouco
abafado aqui!
Júlia Da Costa senta e os dois jornalistas a acompanham.
ALBERICO FIGUEIRA
–
Somos
jornalistas, me
chamo Alberico
Figueira.
DOMINGOS DUARTE VELOSO
–
E
eu
sou
Domingos Duarte
Veloso.
JÚLIA DA COSTA
– É o senhor
brasileiro?
DOMINGOS DUARTE VELOSO
– Não senhora,
sou
português...
JÚLIA DA COSTA
– Observei isso
pela
sua
pronúncia.
Quando eu podia
ler, fui grande
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 5
admiradora
versos
Guerra
Junqueiro
Antero
Quental!
dos
de
e
de
ALBERICO FIGUEIRA
–
Trabalho
desde 1905 na
Revista
Literária
“Clube
Republicano” e
gostaria
de
fazer
uma
reportagem
sobre
a
sua
pessoa.
DOMINGOS DUARTE VELOSO
– Sabemos que a
senhora
não
fala a ninguém,
mas poderia nos
falar
de
Paranaguá e de
seu
interesse
pela poesia.
Neste momento Júlia Da Costa levanta-se e quando está
abrindo um pequeno pedaço da cortina.
JÚLIA DA COSTA
– Que saudades
eu
tenho
da
minha pátria. A
cidade
onde
nasci
e
cresci, lembrome
perfeitamente
das
tardes
domingueiras em
que eu recebia
inspiração
do
atraente Campo
Grande
e
do
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 6
caminho
Rocio...
do
Corta para:
CENA
06
–
QUARTO
DE
INTERIOR/EXTERIOR. DIA.
JÚLIA
DA
COSTA.
PARANAGUÁ.
E quando estiver abrindo a janela (desfoque da câmera,
close em Júlia Da Costa, agora uma menina de dez anos de
idade que termina
de abrir a janela), então Júlia Da
Costa pega uma flor que está ao seu alcance, na beira da
janela e sai correndo em direção da biblioteca da casa,
onde está o poeta Ricardo José Da Costa.
Corta para:
CENA 07 – BIBLIOTECA DA CASA DE JÚLIA DA COSTA. PARANAGUÁ.
INTERIOR. DIA.
Ricardo José Da Costa está escrevendo numa escrivaninha,
aparecendo apenas as costas dele e clareia, dando a
impressão que alguém entra no cômodo, surge então na sua
frente Júlia Da Costa, ela então coloca delicadamente a
flor em cima do papel que seu tio está escrevendo, ele
olha para ela e demonstra um ar de contentamento.
JÚLIA DA COSTA
– O que tanto o
senhor faz aqui
na
biblioteca
tio Ricardo?
RICARDO JOSÉ DA COSTA
–
Escrevo
poesias, Júlia.
Bem
que
você
poderia
exprimir
a
linguagem
poética e quem
sabe elegantes
prosas.
JÚLIA DA COSTA
– O senhor acha
mesmo
que
eu
tenha
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 7
inclinação para
a
arte
do
verso?
RICARDO JOSÉ DA COSTA
– (levantandose,
segue
em
direção
dos
livros
que
estão
na
estante
e
começa
a
folheá-los)
Poderia começar
lendo
poetas
brasileiros
e
franceses, que
são ótimos.
JÚLIA DA COSTA
– O senhor acha
que
eu
posso
primaziar
versos
e
estrofes que se
aninham em meu
coração?
RICARDO JOSÉ DA COSTA
– A arte de ser
um grande poeta
vem
da
alma,
Júlia.
Inicia uma música instrumental em piano, enquanto a cena
vai se distanciando e Júlia sai da biblioteca e ouve, por
acaso a conversa de seus pais.
Corta para:
CENA 08 – SALA DA CASA DE JÚLIA DA COSTA. PARANAGUÁ.
INTERIOR. DIA.
Estão na sala o Sr. Alexandre José Da Costa e D. Maria
Luisa Da Costa conversando a respeito do futuro de Júlia e
sobre a professora Jessic James. Júlia se encosta na
parede atenta a conversa.
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 8
ALEXANDRE JOSÉ DA COSTA
– Querida, há
alguns
dias
estive
conversando com
o
tenentecoronel Joaquim
Correia (close
nos
pais
de
Júlia Da Costa)
e
ele
me
questionou
a
respeito
da
professora
Jessic James e
sua
filha
Willie
James
para a educação
de
nossas
filhas.
MARIA LUISA DA COSTA
– E quem são
essas
educadoras?
ALEXANDRE JOSÉ DA COSTA
–
São
duas
norteamericanas, que
virão a cidade
e
irão
estabelecer um
Colégio
Particular
Feminino.
MARIA LUISA DA COSTA
– E quais serão
as disciplinas,
meu marido.
ALEXANDRE JOSÉ DA COSTA
–
Doutrina
Cristã,
leitura,
caligrafia,
aritimética,
língua
portuguesa,
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 9
francesa
e
inglesa
gramaticalmente
,
geografia,
história,
música, piano,
dança, desenho,
pintura
e
prendas
domésticas.
Temos
que
preparar
a
nossa
Júlia
para uma vida
conjugal, nada
deixando
a
desejar ao seu
esposo, afinal
ela já está com
dez
anos
de
idade.
MARIA LUISA DA COSTA
–
Mas,
ainda
não
há
um
pretendente?
Há? (clese em
Júlia Da Costa,
aflita)
ALEXANDRE JOSÉ DA COSTA
– Não, (volta a
cena dos pais),
mas
os
pais
devem
se
preocupar desde
cedo
com
o
futuro,
principalmente
de suas filhas.
MARIA LUISA DA COSTA
– E caso ela
não se adaptar
ao
regime
do
novo colégio?
ALEXANDRE JOSÉ DA COSTA
–
Ela
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
poderá
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 10
freqüentar
o
colégio
em
regime
semiaberto,
juntamente com
a
filha
do
tenente-coronel
Correia.
MARIA LUISA DA COSTA
– Íria é uma
menina
que
simpatiza muito
com
Júlia,
certamente
serão
grandes
amigas.
Júlia encontra um jornal que está sobre o móvel do
corredor, datado de 1854 e ela leva o texto até o tio
Ricardo. Close em Júlia.
MARIA LUISA DA COSTA
–
Quando
começa
freqüentar
colégio?
ela
a
o
ALEXANDRE JOSÉ DA COSTA
– No início do
próximo
ano
letivo.
Corta para:
CENA 09 – BIBLIOTECA DA CASA DE JÚLIA DA COSTA. PARANAGUÁ.
INTERIOR. DIA.
Júlia entra na biblioteca, onde está o tio Ricardo está
lendo e fazendo anotações.
JÚLIA DA COSTA
– Tio Ricardo,
tio Ricardo...
RICARDO JOSÉ DA COSTA
– O que
Júlia!
JÚLIA DA COSTA
–
Quero
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
foi
que
o
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 11
senhor
leia
para mim essa
poesia
do
Jornal Dezenove
de Dezembro.
RICARDO JOSÉ DA COSTA
–
Deixe-me
ver...
(Close
nas reações de
Júlia Da Costa,
e
no
tio
Ricardo lendo)
“Males pungiamme a alma
Na
manhã
fagueira
e
calma
Em que vos fui
visitar
a vossa santa
ermidinha
Do
Rocio,
a
beira mar
Tende
pena
destas dores,
Que acerba foi
minha sorte
Se a vida só me
deu pranto,
Enxugai
no
vosso manto
Meus
olhos
depois
da
morte”.
Fernando Amaro
JÚLIA DA COSTA
–
Quem
é
Fernando Amaro,
tio? O senhor o
conhece?
RICARDO JOSÉ DA COSTA
–
Fernando
Amaro também é
um poeta, que
vive
fazendo
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 12
queixas à Santa
de sua devoção,
protestando
contra
a
maldade humana
e confessandose cansado de
viver num mundo
onde o “homem é
o
lobo
do
homem”.
Qualquer
dia
destes te levo
a uma reunião
literária e irá
conhecer
pessoalmente o
poeta Fernando
Amaro.
Corta para:
CENA
10
–
QUARTO
DE
INTERIOR/EXTERIOR. DIA.
JÚLIA
DA
COSTA.
PARANAGUÁ.
Fundo musical de piano, Júlia Da Costa está em seu quarto,
sentada em um banquinho próxima a uma janela que está
aberta, o céu está lindo, ela está lendo os livros
emprestados por seu tio e pensa.
JÚLIA DA COSTA
– Quero ser uma
grande poetisa,
como
meu
tio
Ricardo José Da
Costa...
(pausa)
como
Fernando Amaro.
Júlia olha pela fresta da janela e imagina...
JÚLIA DA COSTA
– (off) “O céu
é azul e os
pássaros
cantam...”
(mostrar o céu
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 13
azul
e
os
pássaros
numa
árvore
cantando).
A música sobe a cena vai se distanciando
continua parada olhando pela janela.
dela,
que
Corta para:
CENA 11 – SALA DE AULA. COLÉGIO JESSIC JAMES. PARANAGUÁ.
INTERIOR. DIA.
No Colégio Jessic James, a professora Willie James está
ensinando teoria de piano, e Júlia irá conversar com Íria
Correia, assim que a professora sair da sala de aula.
ÍRIA CORREIA
–
(lendo)
As
sete
notas
musicais
são:
dó, ré, mí fá,
sol, lá e si.
WILLIE JAMES
– Pode entrar,
por favor.
SECRETÁRIA
–
Professora
Willie
James,
sua mãe a chama
na
sala
da
direção.
WILLIE JAMES
–
Meninas,
façam
os
exercícios
da
próxima página,
que
logo
retornarei para
a
correção.
(sai)
JÚLIA DA COSTA
– Íria, recebi
mais
uma
Batem na porta.
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 14
correspondência
do
poeta
Benjamim
Carvoliva.
ÍRIA CORREIA
– Vocês ainda
continuam
se
correspondendo?
JÚLIA DA COSTA
–
Com
freqüência,
e
estou
escrevendo
algumas
poesias,
pois
estou
pretendendo
publicar
um
livro.
ÍRIA CORREIA
– Que maravilha
Júlia,
mas
vamos concluir
os exercícios,
senão
a
professora
volta e...
Corta para:
CENA 12 – SALA DA DIREÇÃO.
PARANAGUÁ. INTERIOR. DIA.
COLÉGIO
JESSIC
JAMES.
Dona Maria Luisa Da Costa e a professora Jessic James
sentadas uma de frente para a outra na sala da diretoria
do Colégio James e entra a filha da professora, a
professora Willie James.
JESSIC JAMES
–
Eu
sou
a
professora
Jesic James, e
esta
é
minha
filha
Willie
James, a outra
educadora.
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 15
WILLIE JAMES
–
Encantada,
senhora...
MARIA LUISA DA COSTA
– Gostaria de
ter
vindo
antes,
mas
infelizmente
não
havia
disponibilidade
de tempo, sou
mãe da Júlia Da
Costa
e
gostaria
de
saber
do
desenvolvimento
e adaptação de
minha filha.
JESSIC JAMES
–
Como
senhora
percebeu,
exigimos
alunas
completo
material
higiene.
a
já
das
um
de
WILLIE JAMES
–
O
colégio
assegura
o
maior asseio, a
mais
delicada
atenção
para
com as aluna,
uma alimentação
abundante
e
sobre
tudo
sadia,
enfim
tudo quanto é
próprio
de
estabelecimento
tais.
MARIA LUISA DA COSTA
– E como Júlia
tem
se
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 16
comportado...
JESSIC JAMES
–
Devota
fervente deste
seu
torrão
natal,
dotada
de
clara
inteligência e
decidida
vocação para as
letras.
WILLIE JAMES
–
Bem,
agora
preciso
retornar à sala
de aula, pois
as
meninas,
neste momento,
estão
aprendendo
teoria
de
piano.
MARIA LUISA DA COSTA
–
Também
preciso
ir,
devido
alguns
preparativos
que devo fazer
para o almoço.
JESSIC JAMES
–
Caso
haja
alguma dúvida a
respeito
da
educação de sua
filha,
o
colégio estará
a sua inteira
disposição.
Corta para:
CENA 13 – SALA DE REUNIÃO LITERÁRIA. CLUBE DA CIDADE.
PARANAGUÁ. INTERIOR. NOITE.
Em meio a uma garoa Ricardo chega com Júlia em uma sala,
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 17
onde está acontecendo uma reunião literária, enquanto os
dois entram o barulho da chuva vai diminuindo e ouve-se a
voz de Fernando Amaro recitando (close nos olhos de Júlia,
brilhando e sua expressão de felicidade), no meio da
poesia, ele começa a aparecer, todo de branco.
FERNANDO AMARO
“Em
tempos
passados
um
fogo
divino
Senhor
desta
mente, me deu o
trovoar.
E
agora
no
peito nasce-me
outro fogo, que
o gelo da morte
só
pode
apagar!”
Poucos aplausos, neste momento encerra-se a reunião e o
poeta Gonçalves Dia vai a frente para a palavra final.
GONÇALVES DIAS
–
E
assim
senhoras
e
senhores,
com
os
versos
de
Fernando Amaro,
damos
por
encerrada mais
uma
reunião
literária,
agradecemos
a
presença
de
todos e até o
próximo
encontro.
Todos vão se levantando e formam-se
ficam a espera da fina garoa passar.
Fernando Amaro, está o pequeno José
aproxima dos dois juntamente com Júlia
alguns grupos que
Sempre ao lado de
Morais. Ricardo se
Da Costa.
RICARDO JOSÉ DA COSTA
– Gostaria de
parabenizá-lo
pelos
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 18
maravilhosos
versos.
FERNANDO AMARO
– Infelizmente,
com
a
minha
pouca
instrução,
a
sociedade
não
me
considera
como um poeta.
JÚLIA DA COSTA
–
(dando
um
passo à frente)
Eu o considero
um
grande
poeta, e estou
sempre lendo os
seus versos.
FERNANDO AMARO
–
Como
chama?
JÚLIA DA COSTA
– Júlia Maria
Da Costa.
FERNANDO AMARO
– Você ainda é
uma
criança,
quando
for
adulta
terá
mais
consciência do
que a sociedade
faz
para
destruir
os
homens
sem
pomposo nome de
família.
JÚLIA DA COSTA
–
Mas
eu
o
admiro,
sinceramente, e
baseada
ao
senhor,
já
tenho os meus
primeiros
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
se
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 19
escritos,
prezo
poesia.
pois
pela
FERNANDO AMARO
– Você é uma
menina
de
família
tradicional.
JÚLIA DA COSTA
–
Não
me
importo
com
isso, sei que
sou descendente
da
família
Rodrigues
de
França
e
Leandro
Da
Costa,
freqüento
o
Colégio Jessic
James,
mas
a
poesia fascina
ricos e pobres,
adultos
e
crianças.
JOSÉ MORAIS
–
Isso
é
verdade, desde
bem
pequenino
que eu ouço as
poesias
de
Fernando Amaro.
FERNANDO AMARO
– Este é José
Morais, ele é
morretense e há
tempos
acompanha o meu
trabalho
literário.
RICARDO JOSÉ DA COSTA
– A chuva está
passando Júlia,
lhe
trago
em
outras
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 20
oportunidades
para
rever
o
poeta.
Se despendem e saem.
Corta para:
CENA 14 – SALA DA CASA DE JÚLIA DA COSTA. PARANAGUÁ.
INTERIOR. NOITE.
Entram em casa e Júlia
Benjamim Carvoliva.
recebe
uma
correspondência
de
MARIA LUISA DA COSTA
– Júlia chegou
esta
correspondência
para
você,
querida.
JÚLIA DA COSTA
–
Obrigada
mamãe! (pega a
correspondência
e
corre
em
direção ao seu
quarto).
Corta para:
CENA 15 – QUARTO DE JÚLIA DA COSTA. PARANAGUÁ. INTERIOR.
NOITE.
Ela abre a carta e lê, com muita expressão de felicidade.
JÚLIA DA COSTA
– Sei que sou
seu confidente
íntimo
e
que
você
tem
escrito
para
mim uma valiosa
série
de
cartas, que são
verdadeiras
jóias
literárias, eu
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 21
as guardo como
lembrança duma
ditosa fase de
vida
de
duas
criaturas
que
até então tem
se
compreendido.
Benjamim
Carvoliva.
Júlia se abraça a carta e a câmera vai se distanciando.
Corta para:
CENA 16 – SALA DE AULA. COLÉGIO JESSIC JAMES. PARANAGUÁ.
INTERIOR. DIA.
Na sala de aula ela lê uma matéria no Jornal Dezenove de
Dezembro, que retrata a morte do poeta Fernando Amaro aos
vinte e seis anos de idade, ela está com treze.
JÚLIA DA COSTA
– (off) Morre
aos
vinte
e
seis
anos
de
idade o poeta
Fernando Amaro,
faleceu
no
último dia 14
de novembro de
1857,
de
congestão
cerebral,
na
casa do amigo
Vicente
Ferreira
Loyola. Ele que
foi o pioneiro
na
arte
de
Bilac.
Seus
primeiros
versos
apareceram
ilustrando
as
colunas
deste
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 22
Dezenove
de
Dezembro.
Ele
que
muito
contribuiu para
esse órgão de
imprensa
era
“mais poeta de
coração que de
cabeça,
consumiu
a
maior parte do
melhor tempo em
busca
de
um
mundo platônico
que
a
sorte
nunca o deixara
gozar, além de
perscrutação.
De
uma
inteligência
superior
e
natural,
animado
pelo
gênio
e
pela
intenção
de
criar um nome
propriamente
seu, inebriouse
nos
cadenciosos
versos
de
Gonçalves Dias
e Magalhães e
produziu
as
pulsações
de
sua alma, ainda
não impressa, e
outros, Zaluar
e Alvim”.
A voz aos poucos vai ficando baixa, o som do piano
aumentando e uma lágrima rola do rosto de Júlia Da Costa.
Corta para:
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 23
CENA 17 – CASA DE JÚLIA DA COSTA / BIBLIOTECA / JARDIM /
PRAÇA / QUARTO / SALA DE REUNIÃO LITERÁRIA. PARANAGUÁ.
INTERIOR/EXTEIOR. DIA/NOITE.
Transição de Tempo: Música suave de piano, Júlia lendo
poesias na biblioteca, ocupando o lugar de seu tio, no
jardim, na praça, no quarto deitada, na varanda da casa e
a música vai abaixando, quando ela aparece, já adulta
noutra reunião literária. Todos os personagens estarão
mais adultos a partir desta cena, pois saímos do ano de
1857 para o ano de 1867, ou seja, se passa uma década.
GONÇALVES DIAS
–
Amizade,
ilusão que os
anos somem.
Muitos aplausos, close no rosto de Júlia que sorri e bate
palmas, neste momento encerra-se a reunião, então o poeta
José Morais vai até a frente, (o personagem deverá ter
alguma característica para ser reconhecido de imediato
pelo público, uma pinta ou uma cicatriz).
JOSÉ MORAIS
–
Gostaríamos
imensamente de
agradecer
a
presença
de
todos,
e
esperamos
contar com as
senhoras e com
os
senhores
noutros
encontros
literários.
Todos vão se levantando, formam-se alguns grupos. José
Morais está conversando com Gonçalves Dias, e chega Júlia
Da Costa.
JÚLIA DA COSTA
– José Morais,
gostaria muito
de lhe falar.
JOSÉ MORAIS
– Um momento,
Júlia.
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 24
José Morais se despede de Gonçalves Dias e segue Júlia que
entra num reservado.
JÚLIA DA COSTA
– José, tenho
muita admiração
pelo
seu
trabalho
e
pensei muito e
estou decidida
a publicar um
livro
de
poesias
e
gostaria muito
de contar com a
sua
participação
neste trabalho
revisando toda
a minha obra.
JOSÉ MORAIS
–
Fico
muito
enaltecido,
Júlia,
e
com
certeza
posso
ler a obra que
pretende
publicar.
Ela lhe entrega um monte com papéis, onde estão escritas
as suas poesias e se despede de José Morais.
Corta para:
CENA 18 – SALA DA CASA DE JÚLIA DA COSTA. PARANAGUÁ.
INTERIOR. NOITE.
Os pais de Júlia Da Costa estão na sala conversando. O
comendador Costa Pereira irá chegar, depois Júlia Da Costa
chegará.
MARIA LUISA DA COSTA
– Não creio que
Júlia
esteja
preparada para
se casar com o
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 25
comendador.
ALEXANDRE JOSÉ DA COSTA
–
Ele
é
descendente do
último capitãomor
de
São
Francisco
e
hoje
é
uma
personalidade
de
muita
importância na
Província.
MARIA LUISA DA COSTA
–
Creio
que
mesmo
assim,
está muito cedo
para
apresentarmos
Júlia
como
noiva
do
comendador
Costa Pereira.
ALEXANDRE JOSÉ DA COSTA
–
Mas,
Maria
Luisa,
já
fizemos
o
acordo
com
o
comendador
(ouve-se bater
na
porta)
e
pelo jeito ele
é pontual.
MARIA LUISA DA COSTA
–
Boa
noite
comendador.
COMENDADOR COSTA PEREIRA –
Boa
senhora.
noite
MARIA LUISA DA COSTA
–
entrar,
favor.
ALEXANDRE JOSÉ DA COSTA
– Júlia ainda
não chegou, foi
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Queira
por
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 26
até uma reunião
literária, mas
creio que não
demorará.
Júlia entra.
ALEXANDRE JOSÉ DA COSTA
– Não disse que
não demoraria,
esta é a minha
filha, de quem
tanto
falávamos.
COMENDADOR COSTA PEREIRA –
Boa
noite
senhorita.
JÚLIA DA COSTA
–
Boa
noite
senhor.
(se
dirigindo
ao
quarto)
MARIA LUISA DA COSTA
–
Querida,
o
jantar,
será
servido dentro
de
poucos
minutos.
JÚLIA DA COSTA
–
Não
me
atrasarei, logo
retorno
(sai
como
se
estivesse
com
pressa).
ALEXANDRE JOSÉ DA COSTA
– Esperamos que
o senhor tenha
gostado
de
nossa
filha,
comendador.
MARIA LUISA DA COSTA
– Quanto a isso
não
tenha
dúvidas, Júlia
herdou de sua
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 27
ilustre
ascendência os
seus
pendores
intelectuais.
ALEXANDRE JOSÉ DA COSTA
– O capitão-mor
João Rodrigues
de
França,
patriarca
da
família materna
de Júlia, era
um
homem
notável,
não
apenas
pelos
cabedais
que
possuía,
pois
eram tantos que
possuía,
tamanhos
ao
ponto
de
presentear
o
Rei D. João V
com um frasco
de ouro em pó.
Corta para:
CENA 19 – BIBLIOTECA DA CASA DE JÚLIA DA COSTA. PARANAGUÁ.
INTERIOR. NOITE.
RICARDO JOSÉ DA COSTA
– Como foi
reunião
literária?
JÚLIA DA COSTA
– Encantadora,
como todas as
que
tenho
participado.
Gostaria de lhe
falar
a
respeito
do
livro
de
poesias
que
tenho
a
pretensão
de
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
a
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 28
publicar.
RICARDO JOSÉ DA COSTA
– Dou-lhe todo
o meu apoio.
JÚLIA DA COSTA
– José Morais
está revisando
toda a obra que
pretendo
publicar, já o
senhor poderia
averiguar, onde
o livro poderá
ser editado.
RICARDO JOSÉ DA COSTA
–
Faço
uma
pesquisa
e
depois
decidimos
o
melhor
local
para que essa
sua vocação se
torne
realidade.
Já
existe
um
título para o
livro.
JÚLIA DA COSTA
–
Provisoriamente
estou chamandoo
carinhosamente
de O Poeta das
Rimas de Ouro.
RICARDO JOSÉ DA COSTA
–
Em
se
tratando
do
poeta das rimas
de ouro, chegou
essa
correspondência
para você, é do
Benjamim
Carvoliva.
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 29
JÚLIA DA COSTA
–
(eufórica)
Obrigada titio,
estava ansiosa
a resposta do
músico e poeta
Benjamim
Carvoliva,
mesmo
sabendo
que
ele
se
afastou de mim
por
não
ter
coragem
de
assumir
a
relação.
RICARDO JOSÉ DA COSTA
– Agora vou me
preparar para o
jantar. (sai)
JÚLIA DA COSTA
– (abre a carta
com pressa de
ler) Recebi a
sua
correspondência
e
simpatizei
muito
com
a
poesia
Poeta
Escuta,
considero-a uma
obra prima. Em
retribuição lhe
envio
nesta
oportunidade
alguns versos.
De
seu
poeta
das
rimas
de
ouro, Benjamim
Carvoliva.
No momento em que ela guarda a carta, percebe que dentro
do envelope há um lenço, bordado com as iniciais de
Benjamim Carvoliva (B.C.), Júlia aperta o lenço sobre suas
mãos e o cheira, como se estivesse apaixonada, Júlia
guarda o lenço e a carta no meio de um dos livros e sai,
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 30
se dirigindo para a sala onde senta a mesa para jantar na
companhia de seus pais, do comendador Costa Pereira e do
tio Ricardo, in off todos conversam, bebem, comem, exceto
Júlia que deverá estar pensando no lenço recebido e em
Benjamim Carvoliva, com ar de quem está bem longe dali.
Os pais de Júlia acompanham o comendador até a porta e se
despedem, Júlia dá boa-noite aos pais e ao tio e se dirige
para o seu quarto.
RICARDO JOSÉ DA COSTA
–
Notei
um
certo
contentamento
seu durante o
jantar. Não sei
se estou certo,
mas vocês estão
planejando
o
casamento
de
Júlia
com
o
Comendador
Costa Pereira?
ALEXANDRE JOSÉ DA COSTA
–
Não
vejo
nenhum
impedimento
para
que
se
enlacem
pelo
matrimônio,
e
creio
que
o
comendador será
um bom esposo
para
nossa
filha.
RICARDO JOSÉ DA COSTA
–
Ele
me
pareceu ser um
homem
rude
e
sem
rudimentares
princípios
de
traquejo social
e sem a mínima
instrução.
ALEXANDRE JOSÉ DA COSTA
– Vivemos numa
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 31
época
onde
a
mulher
está
enclausurada no
lar, de corpo e
alma, não lhe
permitindo
a
liberdade
de
espírito.
RICARDO JOSÉ DA COSTA
– Mas a nossa
Júlia
nasceu
para vôos altos
e
é
uma
trovadora
de
alma
sutil
e
delicada.
E
além
do
mais
ele
é
trinta
anos mais velho
do que ela.
MARIA LUISA DA COSTA
– Já conversei
o
suficiente
com o Alexandre
a
respeito
desse assunto,
mas meu marido
não
vê
limitações
nesta união e
em
breve
marcaremos
o
noivado
de
nossa filha com
o
comendador
Costa Pereira e
já foi acordado
que
a
sua
residência será
transferida
para a cidade
de
São
Francisco,
em
Santa Catarina,
logo
após
o
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 32
casamento.
Corta para:
CENA 20 – BIBLIOTECA DA CASA DE JÚLIA DA COSTA. PARANAGUÁ.
INTERIOR. NOITE.
Júlia Da Costa com o tio Ricardo, que já lhe deu a notícia
do casamento, Júlia muito nervosa, a princípio close nela.
JÚLIA DA COSTA
–
Não!!!
Não
posso
e
não
quero me casar
com este senhor
de
São
Francisco,
cheguei a vê-lo
apenas
hoje,
não
podem
me
obrigar a nada
disso.
RICARDO JOSÉ DA COSTA
– Eu acabei de
conversar
com
seu pai, e ele,
assim
como
a
sua mãe estão
certos de que
esse casamento
será
melhor
para você.
JÚLIA DA COSTA
– E os meus
sonhos, os meus
versos, a minha
literatura:
tudo isso não
poderá morrer.
E
a
minha
poesia.
Ricardo se aproxima da sobrinha, que se senta na cadeira
do tio e ele coloca suas mãos sobre seus ombros e Júlia se
põem a chorar enquanto o tio tenta consolá-la.
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
RICARDO JOSÉ DA COSTA
Pág.: 33
–
É
uma
tradição
em
nosso tempo, os
pais escolherem
os maridos para
suas filhas sem
consultá-las,
eles
procuram
achar um homem
que
possa
assegurar o seu
futuro,
por
isso seus pais
vão realizar o
seu
casamento
com este rico
cidadão de São
Francisco.
Corta para:
CENA 21 – PRAÇA. PARANAGUÁ. EXTERIOR. DIA.
Triste Júlia Da Costa conversa com a amiga, Íria Correia.
ÍRIA CORREIA
– Júlia, você
nem parece ser
a mesma, sempre
cantando o belo
e nos últimos
dias
parece
estar
tão
triste.
JÚLIA DA COSTA
– E não era
para estar...
ÍRIA CORREIA
–
Seu
livro
está prestes a
ser
publicado...
JÚLIA DA COSTA
– Não só de
alegria vive a
poesia, hoje eu
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 34
percebo
que
existe o lado
ruim da vida e
compreendo
perfeitamente o
triste
e
desiludido
poeta Fernando
Amaro. Nunca o
esquecerei.
ÍRIA CORREIA
– O que você
está
querendo
dizer com isso?
JÚLIA DA COSTA
–
Lhe
confidenciei
que conheci o
brilhante poeta
e
musicista
Benjamim
Carvoliva
e
entre
nós
nasceu
uma
amizade
profunda,
um
bem querer tão
grande
e
tão
puro,
que
se
tornou
em
um
verdadeiro
amor.
Esse
ideal,
completamente
desligado
de
interesses
ou
gozos
materiais, que
me faz forte de
espírito
e
jamais um beijo
foi escrito em
nossas
correspondência
s e agora todo
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 35
o
meu
desejo
foi obrigado a
morrer.
Sou
obrigada
a
casar
com
um
homem que não
conheço.
ÍRIA CORREIA
– E o que você
pretende fazer
diante de toda
essa situação?
JÚLIA DA COSTA
– Pensei muito,
Íria
e
vou
casar-me
sem
amor com este
cidadão,
esforçando-me
por estimá-lo e
respeitá-lo,
como
é
da
vontade de meus
pais, devido eu
ser educada e
de boa cultura.
ÍRIA CORREIA
– Mas você não
admira
esse
homem
que,
embora rico lhe
ofereça apenas
as torturas da
limitação.
JÚLIA DA COSTA
– E quem se
importa
com
isso,
vivemos
em tempos que
os
pais
se
preocupam
apenas
com
o
sustento
material e se
assim
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 36
decidiram, irei
cumprir com o
contrato
que
fizeram, sem ao
menos
me
consultar.
ÍRIA CORREIA
– E o poeta das
rimas de ouro?
JÚLIA DA COSTA
– “Tenho medo
de tudo que é
presente. Tenho
pena
de
tudo
que é passado.
O
presente
é
uma flor cheia
de espinhos. O
passado
é
um
perfume
evaporado”.
E
devido
o
presente
não
corresponder
com o passado,
decidi,
juntamente com
meu tio Ricardo
a mudar o nome
do livro, que
desta
feita
chamar-se-á
Flores
Dispersas.
Corta para:
CENA 22 – BIBLIOTECA DA CASA DE JÚLIA DA COSTA. PARANAGUÁ.
INTERIOR. NOITE.
Júlia Da Costa abatida lendo um livro. Ricardo vai entrar.
RICARDO JOSÉ DA COSTA
–
Pelo
hoje
colocar
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
menos
tente
um
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 37
sorriso em seu
rosto.
JÚLIA DA COSTA
– Não sei se
conseguirei,
mas irei pensar
com carinho em
sua proposta.
RICARDO JOSÉ DA COSTA
– Agora vamos
para
a
sala,
pois em breve o
comendador
chega
para
o
jantar
e
o
noivado
será
oficializado.
Corta para:
CENA 23 – SALA DA CASA DE JÚLIA DA COSTA. PARANAGUÁ.
INTERIOR. NOITE.
Quando Ricardo com Júlia chegam na sala, dona Maria Luisa
está abrindo a porta para o comendador Costa Pereira.
MARIA LUISA DA COSTA
–
Boa
noite
comendador,
queira entrar,
por favor.
COMENDADOR COSTA PEREIRA –
Boa
dona
Luisa.
MARIA LUISA DA COSTA
noite
Maria
– O senhor é
bem
pontual,
pois
a
empregada
já
está servindo o
jantar. Sentese.
Todos se sentam à mesa, que deverá estar disposta com
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 38
todos os apetrechos do costume da época para jantares
especiais, pois se trata do noivado na única filha da
família Da Costa.
ALEXANDRE JOSÉ DA COSTA
– A nossa filha
está
muito
satisfeita com
a
novidade
comendador
Costa Pereira.
MARIA LUISA DA COSTA
–
Teve
uma
educação social
e cultural bem
aprimorada,
tornando-se
dessa maneira,
uma verdadeira
dama de salão.
COMENDADOR COSTA PEREIRA – E como é o
relacionamento
de Júlia com a
sociedade?
MARIA LUISA DA COSTA
–
Muito
espirituosa
e
de fino trato,
dado
a
sua
graça,
elegância
e
maneira
aristocrática.
COMENDADOR COSTA PEREIRA –
Em
São
Francisco terá
uma
vida
intensa
e
brilhante, pois
em
nossa
residência
ocorrerão
reuniões
políticas
e
saraus
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 39
literários, aos
quais ela tanto
preza.
MARIA LUISA DA COSTA
– Isso é muito
bom, não Júlia?
Júlia permanece inerte.
COMENDADOR COSTA PEREIRA – Também poderá
continuar
a
escrever
para
os jornais do
Paraná,
onde
antes
já
colaborava e se
for
de
sua
vontade,
para
os de sua terra
adotiva.
JÚLIA DA COSTA
– Não sou uma
poetisa
de
extraordinários
talentos,
a
minha
inteligência
está voltada ao
serviço
do
coração, vamos
dizer que sou
uma
sentimentalista
. Só quero uma
condição
para
que
seja
oficializado o
nosso
casamento?
COMENDADOR COSTA PEREIRA – Diga, qual é?
JÚLIA DA COSTA
– Quero que a
nossa cerimônia
seja realizada
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 40
ao ano seguinte
a publicação do
meu
livro
de
poesias.
COMENDADOR COSTA PEREIRA – Quanto a isso
não
vejo
problema algum.
Corta para:
CENA 24 – SALA DE REUNIÃO LITERÁRIA. CLUBE DA CIDADE.
PARANAGUÁ. INTERIOR. NOITE.
Enquanto Gonçalves Dias estiver falando, aparecerão
trechos de poesias de Júlia Da Costa, alguns convidados,
sua família e a própria poetisa.
GONÇALVES DIAS
–
Senhores,
excelentíssimas
senhoras,
gostaríamos de
pedir a atenção
de todos nesse
momento. Esta é
uma
noite
memorável,
principalmente
para a poetisa
Júlia Maria Da
Costa,
que
lança
nesta
noite
a
publicação
de
seu
primeiro
livro
de
poesias “Flores
Dispersas”, que
para
a
sua
educação
bastaria
o
próprio
ambiente
familiar,
com
seus
tios
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 41
letrados e que
possuem
gosto
literário
compulsando os
clássicos.
Professores
capazes
de
darem
a
essa
jovem
uma
sólida
instrução, mas
acreditamos que
ao preparo de
Júlia Da Costa
não tenham sido
estranho
o
Colégio Jessic
James e por sua
filha
Willie
James,
que
aportadas
a
Paranaguá
abriram
seu
educandário,
aberto
as
filhas
das
principais
famílias. Teve,
porém o mérito
de
ser
a
primeira mulher
paranaense que
cultivou
a
poesia.
Consagrando ao
seu
berço,
enternecido
afeto,
conquistando a
estima dos seus
conterrâneos e
cantando
a
beleza da sua
querida
Paranaguá.
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 42
Corta para:
CENA 25 – QUARTO DE JÚLIA DA COSTA. PARANAGUÁ. INTERIOR.
DIA.
Com a ajuda de sua mãe, dona Maria Luisa, Júlia prepara
suas malas para a viagem a São Francisco.
MARIA LUISA DA COSTA
–
Filha,
a
partir de agora
sua vida estará
tomando um novo
rumo,
você
viverá um outro
período em São
Francisco,
juntamente com
seu marido.
JÚLIA DA COSTA
– Não o amo,
mas
senhora
minha mãe, não
envergonharei o
nome
do
meu
esposo, nem o
nome de nossa
família.
Irei
respeitá-lo até
a sua morte.
MARIA LUISA DA COSTA
–
As
malas
estão prontas,
vamos indo para
que
não
se
atrase para a
viagem.
JÚLIA DA COSTA
–
Avise
meu
marido que já
estou
a
caminho,
preciso
pegar
uns livros na
biblioteca.
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 43
A mãe sai do quarto e ela caminha lentamente até a
escrivaninha, que está próxima da cama, abre uma gaveta,
olha para o lenço, fecha a gaveta, dá alguns passos, mas
retorna, abre a gaveta, retira o lenço e leva-o consigo.
Corta para:
CENA 26 – BIBLIOTECA DA CASA DE JÚLIA DA COSTA. PARANAGUÁ.
INTERIOR. DIA.
Júlia entra na biblioteca e avista todo o ambiente.
JÚLIA DA COSTA
–
Vou
sentir
saudades deste
lugar.
Corta para:
CENA 27 – CAIS DO PORTO. PARANAGUÁ. EXTERIOR. DIA.
No cais do porto estão Alexandre José Da Costa, Júlia Da
Costa, Costa Pereira, Maria Luisa Da Costa, Ricardo José
Da Costa e Íria Correia. Despedem-se e Júlia com o marido
sobem na embarcação e ela abana com o lenço.
JÚLIA DA COSTA
–
(off)
“Aí!
Quem me dera os
sorrisos
da
minha
terra
adorada. Quando
na
serra
a
alvorada deixa
seus
raios
cair”.
Corta para:
CENA 28 – FACHADA DO SOBRADO DE
FRANCISCO DO SUL. EXTERIOR. DIA.
JÚLIA
DA
COSTA.
SÃO
Júlia Da Costa observa o sobrado, enquanto Costa Pereira
procura a chave da porta para abri-la, e ela lembra de
quando era criança: “O céu é azul e os pássaros cantam...”
- (CENA 10), depois fica pensativa e diz:
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
JÚLIA DA COSTA
Pág.: 44
– “O céu é azul
e os pássaros
estão mudos”.
COMENDADOR COSTA PEREIRA – O que disse?
JÚLIA DA COSTA
–
Nada
não,
(entrando
no
sobrado)
eu
estava
apenas
pensando alto.
(observa
atentamente
a
residência).
Falta um piano
nesta sala.
COMENDADOR COSTA PEREIRA –
Já
o
providenciei,
quando
soube
que você toca
divinamente,
mas só chegará
na semana que
vem. E quem diz
o que falta ou
não nesta casa
sou
eu,
pois
sou o cabeça do
casal.
JÚLIA DA COSTA
– (próxima da
escada, subindo
os
primeiros
degraus,
lentamente) Vou
conhecer o meu
quarto.
COMENDADOR COSTA PEREIRA – (intervindo)
O nosso quarto
você
quis
dizer, lembrese
que
agora
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 45
não está
sozinha.
mais
Corta para:
CENA 29 – SOBRADO DE JÚLIA DA COSTA (SALA E COZINHA). SÃO
FRANCISCO DO SUL. INTERIOR. NOITE.
Júlia Da Costa em suas atividades diárias: tocando piano,
arrumando a mesa, escrevendo poesias, na cama deitada e a
criada preparando seu banho, jantando com o marido,
arrumando quadros nas paredes, o tempo vai passando, até
que ela está com vestido de gala tocando piano ao seu lado
o lenço com as iniciais de Benjamin Carvoliva, um casal em
pé a observa tocar, no sofá está seu marido com outro
casal, são pessoas importantes da sociedade de São
Francisco do Sul. Júlia Da Costa termina a música e os
casais aplaudem e Costa Pereira não se mexe, mostra o seu
descontentamento com a situação, reprovando a arte da
esposa.
COMENDADOR COSTA PEREIRA – Júlia, peça a
criada
que
sirva
mais
bebida
aos
nossos
convidados.
Ela obedece prontamente.
JÚLIA DA COSTA
– Estou indo...
Aproveito
e
preparo
uns
canapés também
.
ESPOSA 1
– Pode deixar
que
eu
te
acompanho
Júlia.
MARIDO 2
–
Querida,
queira
acompanhá-las
também.
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
ESPOSA 2
Pág.: 46
– Vou sim, sem
problemas
meu
marido.
Enquanto os três continuam bebendo, jogando conversa fora
e rindo, as três se dirigem para a cozinha do sobrado.
Na cozinha.
ESPOSA 1
– O Comandante
parece
descontente com
algo,
será
a
nossa presença?
JÚLIA DA COSTA
–
Claro
que
não...
O
descontentament
o dele é em
relação
ao
livro
que
acabei
de
publicar.
ESPOSA 2
–
Bouquet
de
Violetas...
Impossível...
Li nos jornais
as críticas e
você foi muito
elogiada pelos
poemas.
JÚLIA DA COSTA
–
Esse
é
o
problema...
Costa
Pereira
não vê com bons
olhos que eu me
destaque
na
sociedade, ele
gostaria que eu
me
dedicasse
exclusivamente
para
os
afazeres
domésticos.
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 47
ESPOSA 1
–
Mas
esse
pensamento
é
muito
retrógrado para
o Século XIX.
JÚLIA DA COSTA
–
Na
verdade
ele
é
um
carcereiro
enciumado e por
isso
ele
me
martiriza
com
suas grosserias
e
algumas
expressões
burguesas.
ESPOSA 2
- O que mais me
atraiu na sua
sala não foi o
piano, e sim,
os
painéis,
diversificament
e
coloridos,
apresentando
paisagens,
cenas
campesinas
e
interiores
de
lar.
JÚLIA DA COSTA
Tudo
foi
meticulosamente
confeccionado
durante muitos
anos de solidão
para curtir as
dores
de
meu
coração
moralmente
ferido
pelo
proceder
daquele a quem
ligara
meus
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 48
dias.
ESPOSA 1
–
Então
você
vive
uma
existência
de
mágoas
e
de
dores
que
externa
nas
suas produções,
coletâneas
poéticas
que
confirmam a sua
compleição
artística.
JÚLIA DA COSTA
Fui
traída
por
Costa
Pereira,
colorario fatal
de
uma
união
desigual e sem
amor.
ESPOSA 2
Melhor
retornarmos
para
sala
agora...
JÚLIA DA COSTA
- Vamos...
As esposas retornam
alguns canapés.
a
sala
com
bandejas
com
vinhos
e
MARIDO 2
Júlia,
comentava com o
Comendador que
a senhora toca
piano
divinamente.
JÚLIA DA COSTA
Bondade
sua... Mas irei
tocar mais uma
música
para
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 49
vocês
distraírem.
MARIDO 1
se
- Por favor...
Júlia abre o piano, o lenço sobre ele e ela começa a
tocar.
Corta para:
CENA 30 – QUARTO DE JÚLIA DA COSTA. SÃO FRANCISCO DO SUL.
INTERIOR. NOITE.
Júlia escreve uma correspondência, a sua voz pode aparecer
ou ser in off, ficará a critério do que a direção achar
melhor, Júlia nessa cena já está com mais de 40 anos de
idade.
JÚLIA DA COSTA
–
As
contrariedades
que
em
tão
verdes
anos
tenho
experimentado,
me tem tornado
um
tanto
filósofa.
Estando na flor
da vida, olho
para tudo com
indiferença da
decrepidez.
Leia
meus
versos e verá
quantas
saudades,
quantas
tristezas estão
gravadas nessas
folhas avulsas.
Não imite minha
descrença, não
identifique com
esses termos de
suprema
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Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 50
angústia
exalada
em
momentos
de
desânimo. Tenho
crença, confie
no futuro e não
deixe nunca a
descrença, como
a
mim,
desbotar-lhe a
fronte.
Nem
tudo no mundo é
engano,
há
circunstâncias
na vida que nos
forçam
a
parecer
às
vezes
esquecida,
indiferente
até.
Os
anos
passam
como
sombras
e
em
breve chega o
inverno
da
vida,
sem
flores,
sem
sorrisos.
O
coração humano
é
difícil
de
contentar, esta
aspiração
de
felicidade que
nos alenta, é
uma
prova
irrecusável da
imortalidade da
alma.
Nunca
estamos
satisfeitos com
a nossa sorte.
Embora seja-nos
por
ela
propícia,
sempre
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 51
murmuramos
do
destino.
O
mundo
é
um
tablado escuro,
onde os atores
riem quando têm
lágrimas
e
choram
quando
têm risos.
Corta para:
CENA 31 – CEMITÉRIO. JAZIDO DO COMENDADOR COSTA PEREIRA.
SÃO FRANCISCO DO SUL. EXTERIOR. DIA.
Transição de Tempo: Júlia Da Costa está chorando, aparece
ela deitar-se sobre o jazido do comendador Costa Pereira e
quando ela levanta-se, no meio da fala, ela já está bem
idosa.
JÚLIA DA COSTA
–
(off)
Como
deve
saber
o
Costa esteve à
morte
e
se
escapou foi por
um milagre. Em
todo esse tempo
eu não tive um
minuto
de
descanso,
e
agora é que eu
vou tornando a
mim da refrega
que levei. Eu
vou indo nessa
vegetação
contínua
até
deixar
este
mundo que tão
pouco
tenho
desfrutado.
Corta para:
CENA 32 – QUARTO DE JÚLIA DA COSTA. SÃO FRANCISCO DO SUL.
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 52
INTERIOR. NOITE.
Júlia Da Costa angustiada escreve sobre a mesa de seu
quarto. A fala poderá ser in off, ela falando ou apenas
aparecendo às palavras, ficará a critério do que a direção
definir.
JÚLIA DA COSTA
–
“Nem
uma
gaivota paira.
No azul triste
dos ares; Tudo
é
silêncio
profundo. Tudo
diz
agros
pesares”.
3/5/1906.
JÚLIA DA COSTA
–
Sacrifiquei
uma
vida
não
desejada,
mas
conservei
dentro de mim o
direito
a
um
mundo interior
inteiramente
meu,
os
cantares
de
saudade evocam
a
terra
parnanguara,
que
jamais
esqueci,
as
flores,
os
pássaros,
o
mar, as tardes,
as noites são
meus
temas
prediletos,
repetidos
sem
cansaço.
Retornando a escrever, usar o mesmo critério anterior.
JÚLIA DA COSTA
noites
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
“Tantas
de
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 53
agonia.
Tanto
sonho
espedaçado.
Tantos dias sem
valia.
Tanto
sol
desperdiçado”.
4/5/1906.
Júlia abre sua gaveta e remexe em vários papéis e encontra
um envelope, que é destinado a Benjamim Carvoliva.
JÚLIA DA COSTA
–
Estas
são
jóias
literárias,
guardadas
com
meticuloso
carinho.
Retira os poemas e inicia a leitura de um deles.
JÚLIA DA COSTA
– “Há vozes que
vibram,
que
vibram no peito
e
lembram
pesares de um
sonho
desfeito”. “Há
vozes
que
vibram,
que
vibram
no
escuro
e
lembram
delícias de um
belo
futuro”.
16/5/1907.
JÚLIA DA COSTA
–
Tive
com
Carvoliva
um
namoro secreto,
mas a primeira
separação
foi
motivada
pelo
afastamento
dele, que não
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 54
teve coragem de
assumir
a
relação.
Uma
nova
decepção
não alterou a
minha
fidelidade
ao
meu
grande
amor,
mesmo
sabendo
que
Carvoliva
casara-se
com
outra.
Corta como se retornássemos para a continuação da cena 05.
CENA 33 –SALA DO SOBRADO DE JÚLIA DA COSTA. SÃO FRANCISO
DO SUL. INTERIOR. ANOITECENDO.
Júlia Da Costa fecha a janela de seu quarto, o sol já está
se pondo.
JÚLIA DA COSTA
–
Rejeitada,
envergonhada,
afastei-me
do
mundo isolandome neste quarto
totalmente
lacrado,
escrevendo
sempre.
DOMINGOS DUARTE VELOSO
–
Então
a
senhora
nunca
mais retornou à
Paranaguá.
JÚLIA DA COSTA
– Por acaso, o
senhor que é de
Paranaguá,
conheceu
os
poetas
José
Morais
e
Fernando Amaro.
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 55
ALBERICO FIGUEIRA
– José Morais
sim,
já
Fernando Amaro
apenas através
de seus versos.
JÚLIA DA COSTA
– Ah! Conheci-o
tanto!...
DOMINGOS DUARTE VELOSO
– Está ficando
tarde,
infelizmente
temos que ir.
Eles descem e saem e ela louca e quase cega começa a
escrever pelas paredes, cadeiras, mesa e numa tampa de
caixa de papelão, sempre grudada no lenço.
JÚLIA DA COSTA
“Os
ventos
mudos... mudo o
bosque
e
a
selva ao longe
trevas...
pavoroso arcano
os
arvoredos
semelham
sombras fugindo
toda num bastar
insano”.
“Há
longo tempo que
em
meu
berço
triste.
A
sombra
existe
me negando os
céus! Ergue-me
quero mas não
vejo
flores,
nem
vejo
árvores que me
lembrem Deus!”.
Corta para:
CENA 34 – REDAÇÃO DO JORNAL. PARANAGUÁ. INTERIOR. NOITE.
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
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Pág.: 56
Alberico Figueira narra e datilógrafa a reportagem a
respeito da vida de Júlia Da Costa, a cena também deverá
mostrar a praça Fernando Amaro.
ALBERICO FIGUEIRA
– Um ano após a
minha visita a
primeira
poetisa em solo
paranaense,
cheguei
a
conhecer, já em
avançada idade
o
professor,
poeta
e
musicista
Benjamim
Carvoliva, que
em sua mocidade
fora
belo
e
gozara
de
grande
prestígio. Duma
feita, falando
de
Júlia
Da
Costa,
que
falecera
a
pouco tempo, o
velho professor
com
os
olhos
enevoados pela
saudade, teve a
voz
embargada
pelos soluços,
confessando que
amara
de
verdade
a
poetisa e que
fora
por
ela
correspondido,
timbrando
em
afirmar
que
fora uma paixão
intensa,
mas
pura
e
sem
pecado.
Anjo
A PRIMEIRA POETISA EM SOLO PARANAENSE
Roteiro do Longa-Metragem
Julia Da Costa
Pág.: 57
exilado
na
terra, disse-me
o ancião, pela
beleza moral e
dotes
de
espírito.
Depois
que
Júlia Da Costa
veio a falecer
seus
conterrâneos
trouxeram seus
restos mortais
à
sua
terra
natal:
Paranaguá, onde
foram
enterrados
na
Praça Fernando
Amaro.
Corta para:
FIM
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Julia Da Costa
Pág.: 58
OBRAS CONSULTADAS
Júlia da Costa. Nascimento
1945.
(P 928 C837 NAS obra completa)
Júnior.
Dicionário Histórico e Geográfico
Ermelino de Leão. Curitiba. 1994.
(P 918.603 L 437 V. 3 Pág. 1073-1074)
Paranaguá.
do
Paraná.
Paranaguá e sua Gente. Brasilino de Carvalho. São
Paulo. 1976.
(P 981.62 C 331 Ex. 4 Pág. 148 a 150)
Coisas
Nossas.
Vários
Autores.
1.º
volume.
Paranaguá. 1966.
(P 981.62 C 755 Pág. 104 a 106 e 127 a 128)
Antologia Didática de Escritores Paranaenses.
América Sabóia e Hellê Vellozo Fernandes. 1970.
(P 869.93 M 514 Pág. 07 a 11)
Paranaguá na História e Tradição. Manoel Viana.
Paranaguá. 1976.
(P 98162 V 614 Pág. 290 a 295, 227 a 228 e 327 a
335)
Coisas
Nossas.
Vários
Autores.
Paranaguá. 1967.
(P 981.62 I 59 Pág. 213-215)
2.º
volume.
Dicionário
Histórico-Geográfico
do
Estado
do
Paraná. Luis Roberto N. Soares. Editora Livraria
do Chain, 1991.
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