“INTERVENÇÃO SOCIAL ATRAVÉS DAS ARTES PLÁSTICAS JUNTO AO PROJETO LUZ QUE ANDA NA COMUNIDADE RURAL DE SERRA NEGRA (MG): produção de subjetividade e empoderamento do cidadão” GUIMARÃES, Alessandra¹; VIANA, Leandro Gomes²; RIOS, Maine³; FERREIRA, José Heleno4 ¹ Aluna do oitavo período do curso de Psicologia (FUNEDI/UEMG). ² Aluno do quarto período do curso de Letras (FUNEDI/UEMG). ³ Aluna do quarto período do curso de Pedagogia (FUNEDI/UEMG). 4 Professor Mestre em Educação (FUNEDI/UEMG). 1. INTRODUÇÃO O Projeto Luz que Anda surgiu no ano de 2004, na comunidade de Serra Negra, sendo esta uma pequena localidade com cerca de 130 famílias, na cidade de São Sebastião do Oeste, próxima a Divinópolis. Uma das especificidades da comunidade é que grande parte de sua população se constitui de imigrantes do norte de Minas, e alguns moradores constituíram suas famílias no local há muitas gerações. A maior parte dos habitantes é empregada por uma granja industrial próxima à comunidade. Outra parte é empregada pelos poucos fazendeiros que habitam o local. As oportunidades de participação em atividades culturais comunitárias de cultura e lazer na comunidade são centralizadas na Igreja Católica, por meio dos cultos e festas tradicionais da mesma, como, por exemplo, o congado. O projeto foi iniciado pela pedagoga brasileira Geralda Araújo, juntamente com a socióloga Bettina Völter, professora da universidade Alice Salomon, na Alemanha, que se dispôs a desenvolver um trabalho social que consistia em uma parceria entre a universidade alemã e uma comunidade brasileira. O projeto também conta com a parceria da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), e com a Fundação Educacional de Divinópolis (FUNEDI), inicialmente, através dos contatos entre a comunidade de Serra Negra e o Ponto de Cultura de Divinópolis. “Luz que Anda” significa luz em movimento. A proposta do trabalho a ser desenvolvido consistia em um resgate sócio-cultural de crianças e jovens, e da comunidade em geral, através do teatro, estimulando a criatividade e qualificando as potencialidades dos mesmos. Além de oferecer oportunidades de inserção cultural para as crianças e jovens e apoiar e incentivar o desenvolvimento do trabalho comunitário no local. O projeto se tornou conhecido na região, propiciando a valorização das crianças, adolescentes e da comunidade em geral perante, inclusive, às lideranças políticas. O mesmo não consiste apenas em uma ação de transformação cultural, mas também e principalmente social. Justificativa: Por definição, cidadão é toda pessoa que, membro do Estado e amparado pela Constituição Federal, tem seus direitos e deveres resguardados por lei, os quais lhe permitem participar da vida política e exercer a cidadania. Cidadania, por sua vez, trata-se de um conjunto de direitos políticos que permite que o cidadão possa se comprometer e intervir na direção das políticas públicas, bem como de todas as dimensões que envolvam o Estado, participando de modo direto ou indireto na formação do governo e na sua administração, seja votando, praticando o controle social, ou fiscalizando o poder público. Para além dos direitos constitucionais, cidadania também diz respeito a um desafio social, exigindo a construção de uma organização social em que os cidadãos possam lutar por mais direitos, maior liberdade, melhores garantias individuais e coletivas, e não receber de forma natural o exercício do poder e dominação seja por parte do Estado ou de outras instituições, públicas ou privadas, como também pessoas e políticos que são a favor de privilégios, favorecendo que uma maioria desassistida e sem voz seja alvo de injustiças. Ser cidadão é ter consciência de ser sujeito de direitos e deveres, além de ser também um agente social. A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá a pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social (DALLARI, 1998, p.14). Pode-se perceber que quem não está inserido no exercício da cidadania, necessariamente encontra-se segregado, apartado da realidade social que o cerca, favorecendo o processo de exclusão e reforçando as desigualdades e diferenças sociais, econômicas e culturais; deflagrando assim, uma deficiência no exercício do Estado e dos Direitos Humanos. É inegável pensar que tal fato se faz presente também na vida dos moradores da Comunidade rural de Serra Negra (MG). Durante o ano de 2009, alunos da FUNEDI/UEMG em parceria com alunos da UFOP e com os demais associados do Projeto Luz que Anda desenvolveram atividades teatrais na comunidade que se concluíram com diversas apresentações numa tarde cultural realizada no dia 20/12 deste mesmo ano. Através da observação participante e da trama social que envolve as relações dos moradores entre si, dos moradores com os serviços existentes na comunidade, dos moradores com as instituições públicas, entre outras; percebeu-se que existe uma frágil ligação de grande parte destes com o exercício da cidadania, seja por omissão das instituições governamentais no âmbito municipal, estadual e/ou federal; seja pela insatisfação e desencantamento dos moradores, diante da invisibilidade social; seja pela insuficiência de recursos para o desenvolvimento de ações que os legitimem enquanto cidadãos. Diante do exposto, na reunião de avaliação dos trabalhos realizados durante o ano de 2009 do projeto que fosse desenvolvido um trabalho em grupo com crianças, adolescentes, pais e demais moradores da comunidade. Tanto os oficineiros envolvidos no projeto quanto a população da comunidade, reconheceram a necessidade de se elucidar uma reflexão acerca do exercício da cidadania, levando em consideração a atual condição dos moradores enquanto cidadãos. Contudo, além desta linha de ação proposta pela equipe, foi levantada também a possibilidade de se desenvolver um trabalho de pesquisa etnográfica na comunidade e outras oficinas em torno do teatro, como a oficina de artes plásticas através da construção de brinquedos de sucata e a oficina de dança teatral. 1. OBJETIVOS 1) Atuar junto à comunidade, favorecendo a emergência de reflexões críticas pertinentes ao contexto social; 2) Possibilitar a construção de um espaço, através do qual os moradores possam expor suas vivências e experiências e, assim, contribuir no processo de potencialização de suas ações enquanto cidadãos; 3) Contribuir com a produção de brinquedos com sucata e peças artesanais, a fim de, durante este processo, propor discussões e ações práticas a partir dos conhecimentos da Pedagogia, das artes plásticas, e, através das quais se possa elucidar temas como responsabilidade, educação, direitos e deveres, entre outros; 4) Conscientizar através da reutilização, a importância que se deve dar aos materiais recicláveis que antes iriam parar na lixeira ou no meio ambiente. Ensinar a utilização dos três erres (reduzir, reutilizar e reciclar), dando ênfase na responsabilidade sócio-ambiental, uma vez que estes contribuem para minimizar os problemas da geração de resíduos na comunidade; 5) Proporcionar através da dança e dinâmicas de grupo, o desenvolvimento das habilidades artísticas e culturais da comunidade. Trabalhar flexibilidade corporal, a partir de alongamentos, criatividade, a partir da montagem pelos próprios alunos, de sequências coreográficas, desenvolver noções de ritmo, contagem, expressão corporal, espacialização, postura, equilíbrio e coordenação motora. Trabalhar sintonia, cooperação e organização dentro de um grupo. Realizar um estudo teórico da história da dança e seus desdobramentos. Apresentar uma coreografia criada e ensaiada pelo próprio grupo, sob a supervisão da professora, à comunidade de Serra Negra, com data, horário e local a serem definidos. 2. METODOLOGIA A metodologia adotada no projeto de extensão privilegia a ação em campo e também a produção de protocolos etnográficos após a realização das atividades na comunidade. Os relatos servem para análise da consumação ou não dos objetivos propostos pelo grupo de trabalho. Busca-se, assim, o desenvolvimento do grupo com crianças e adolescentes que estão instituídos no Projeto Luz que Anda, a fim de trabalhar com a produção de brinquedos e peças artesanais; com a dança teatral; bem como Oficinas em Dinâmica de Grupo. A realização deste trabalho em grupo será exercida semanalmente no próprio espaço do Projeto Luz Que Anda local onde as crianças, adolescentes e adultos desempenham outras tarefas propostas como: teatro, danças e encontros comunitários. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Espera-se que através do trabalho proposto seja desenvolvida a noção de identidade, a valorização da família e da própria comunidade. É esperado também que os moradores da comunidade consigam manter o projeto Luz que Anda de forma ativa. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Atualmente está sendo preparado juntamente com a comunidade o trabalho da apresentação da TARDE CULTURAL que acontece todo fim de ano com apresentações que mostram o que foi produzido pelas crianças e jovens nas diversas oficinas desenvolvidas ao longo do ano. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AFONSO, Lúcia (org). Oficinas em dinâmica de grupo: um método de intervenção psicossocial. Belo Horizonte: Edições do Campo Social, 2002 BOAL, Augusto. Jogos para atores e não-atores. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. 347 p. BOAL, Augusto. Teatro do oprimido e outras poéticas políticas. 8º ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. 303 p. DALLARI, D. A. Direitos Humanos e Cidadania. 1º. ed. São Paulo: Moderna, 1998. MEYER, Luiza de Azevedo. http://www.museudosbrinquedos.org.br/ CONSULTADO NO DIA 19/04/2010.