OUTRA ECONOMIA ACONTECE: DESENVOLVIMENTO LOCAL E ECONOMIA SOLIDÁRIA NA COMUNIDADE DO RIACHÃO SILVA, Queite Marrone Soares da99 BARBOSA, Rômulo Soares 100 O presente trabalho propõe uma análise e questionamentos acerca das ações e práticas econômicas tradicionais que permeiam o cotidiano do s moradores da Comunidade do Riachão e as suas possíveis contribuições para a pr omoção do desenvolvimento local da região. O campo de estudo em questão se remete espe cialmente às atividades econômicas desenvolvidas pela associação dos agricu ltores familiares através da criação da Unidade de Beneficiamento do Coco Macaúba - UBCM e da Cooperativa do Riachão, ambas vinculadas a Associação Comunitária dos Pequenos Produtores Rurais de Riacho D’Antas, localizada na fazenda Santa Cruz, Município de Montes Claros – MG. A comunidade de Riacho D’Antas também conhecida popularmente como “Riachão”, pertence ao município de Montes Claros/MG, nesta comunidade, aproximadamente 240 famílias agricultoras extrativistas da Bacia do Rio Riachão são beneficiadas com a geração de trabalho e renda, por meio de iniciativa s pautadas nos valores e princípios da economia solidária, sendo atividades centradas no ssociativismo, cooperativismo e coletivismo. Mesmo não havendo nenhuma formalização em relação a sua autodeclaração enquanto comunidade tradicional, os trab alhadores agroextrativistas desta comunidade vivem a tradicionalidade reafirmando-a em seu cotidiano, tendo como condição para sua reprodução familiar o uso dos rec ursos naturais que dispõem em suas terras onde nasceram e cresceram. A sua organização interna é baseada nos costumes, e o conhecimento popular tradicional na comunidade é utilizado diariamente nas práticas de trabalho e geração de renda, assim como o escamb o e as trocas, logo, podemos 99 Mestranda no Programa de Pós Graduação em Desenvol vimento Social da Universidade Estadual de Montes Claros – PPGDS/UNIMONTES; Bacharel em Ciências Sociais pela UNIMONTES. 100 Doutor em Ciências Sociais pelo Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento Agricultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Mestre em Ciências Sociais pelo Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento Agricultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Montes Claros. Professor do Departamento de Ciências Sociais e Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Social da Universidade Estadual de Montes Claros. remeter ao DECRETO Nº 6.040, DE 7 DE FEVEREIRO DE 2007 que define as Comunidades Tradicionais. Em 1995, a comunidade formalizou a Associação Comun itária dos Pequenos Produtores Rurais de Riacho D’Antas, almejando a articulação d a comunidade, a restauração e conservação do rio Riachão e das áreas degradadas, o desenvolvimento de projetos de combate à pobreza, a geração de renda e a diminuiçã o do êxodo rural. A principal ação para estes objetivos foi à criação da Unidade de Be neficiamento do Coco Macaúba – UBCM em 2000, vinculada a associação, que tornaria possível a realização dessas principais metas, através do aproveitamento, beneficiamento e comercialização dos frutos da região, encontrados em abundância: coco m acaúba, coquinho azedo, mangaba, cagaita, panã, entre outros. Em 2011 surge a Cooper ativa do Riacho D’Antas - Cooper Riachão devido uma proposta de parceria que exigia a formalização de uma cooperativa, para gerar o selo social da agricultura familiar. A problemática deste estudo se refere especialmenteà seguinte questão: em que medida as práticas econômicas tradicionais desta comunidade, contribuem para fomentar o desenvolvimento local da região em evidência? A perspectiva do desenvolvimento local baseia-se nos aspectos econômicos, sociais e políticos, valorizando as características locais, objetivando a solução dos problemas básicos locais e a satisfação das necessidades e fortalecimento das potencialidades dos atores sociais. Neste sentido, destaca-se a relevân cia da introdução de inovações, determinando, por conseguinte, a elevação do bem-es tar da população local. (BARQUEIRO, 2002). A promoção do desenvolvimento na dimensão nacional, regional, ou local, necessita da participação da sociedade civil e da articulação de atores sociais. A participação é o elemento essencial para o exercício da democracia, além disso, significa um instrumento fundamental para a promoção da articula ção dos atores sociais, fortalecendo a coesão da comunidade, facilitando o acesso aos interesses comuns. (BANDEIRA, 1999). As práticas econômicas percebidas na região não est ão desassociadas das ações coletivas e do trabalho consolidado através da cooperação, reciprocidade e ajuda mútua. O trabalho associado pode ser entendido como alternativa de enfrentamento da precarização do trabalho. De acordo com Singer e So uza (2003) para se defender da exclusão social, as vítimas da crise buscam sua ins erção na produção social através de variadas formas de trabalho, autônomo, individuais e/ou coletivas optando quase sempre pela autogestão, administração participativa empreendimentos. e democrática, dos Esta característica se aproxima da realidade vivenciada pelos trabalhadores da Comunidade Riachão, onde o trabalho coletivo se des taca principalmente pela fundamentação em novas éticas, valores e princípios diferentes do sistema econômico vigente. (SINGER, 2003). Para alcançar os objetivos propostos neste trabalho , foi utilizada a metodologia qualitativa, por meio da revisão bibliográfica, tendo como instrumento de coleta de dados a entrevista semi-estruturada compostas de quinze perguntas e entrevistas livres, além das observações, diálogos, participação nas assembléias e reuniões de rotina. Destaca-se a relevância de todas as experiências adquiridas como bolsista na Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Universida de Estadual de Montes Claros ITCP/UNIMONTES101 entre os anos de 2010 à 2013. O trabalho realizado pelos associados é desenvolvido por meio de uma gestão participativa e democrática, fundamentadas nos princípios e valores que norteiam a Economia Solidária. De acordo com Singer “A economia solidária é uma criação em processo contínuo de trabalhadores em luta contra o capitalismo”. (2003, p. 13). Desta forma, todas as decisões são tomadas em assembléias e reuniões quinzenais, onde todos têm o direito de expor sua opinião, sendo que a renda varia em torno de um a dois salários mínimos. Além de participar na cooperativa, os associados trabalham em sua propriedade, durante os finais de semana e as horas de folga, lavrando as suas terras, plantando e colhendo. Para além destas relações de trabalho e produção, a comunidade articula com as questões políticas, sociais, ambientais, tanto no c ampo comunitário como das redes sociais. Dentre os desafios enfrentados no dia-a-dia, deparamos com resquícios da cultura capitalista onde os seus valores contrapõem aos princípios que pretendem ser conservados pelo grupo em sua comunidade. Contudo, consideramos legítimas as contribuições destas pessoas para a promoção de out ro desenvolvimento pautado não somente no fator econômico, mas atento as questões sociais e políticas, valorizando as características locais, a articulação, participação , e o fortalecimento das potencialidades dos atores sociais locais. 101 O projeto de criação da ITCP/Unimontes foi apresen tado à Pró-Reitoria de Extensão através do Departamento de Ciências Sociais, no final de 2006e foi institucionalizada no mês de março de 2007, através de resolução do CEPEX nº 077/2007. Palavras-chave: Comunidade, Economia Solidária, Desenvolvimento, Desenvolvimento Local. REFERÊNCIAS BANDEIRA, Pedro. Participação, Articulação de Atores Sociais e Desen volvimento Regional. Brasília: IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica A plicada, 1999. BARQUERO, Antonio Vásquez.Desenvolvimento endógeno em tempos de globalização. Porto Alegre: Fundação de Economia e Estatística, 2002. SINGER, P. e SOUZA A R. A economia solidária no Brasil: a autogestão como resposta ao desemprego. São Paulo: Contexto, 2003. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20072010/2007/decreto/d6040.htm. Acesso em 09 de março. 2014.