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Valor Econômico
Empresas
02/09/2014 às 05h00
Vitacon compra site para ir do tijolo ao aluguel digital
Por Graziella Valenti | De São Paulo
"Eu quero ajudar as pessoas que de repente se viram com um cavalo, sem saber o que fazer, a cuidar dele
e fazê-lo ganhar a corrida." É assim que Alexandre Frankel, o jovem empreendedor de 36 anos, fundador
da construtora Vitacon, vê sua nova empreitada.
Inquieto, ele acaba de concluir um aporte de R$ 2,5 milhões numa 'start-up' digital chamada Sampa
Housing, criada há um ano pelo casal Liliana e Alexandre Ferrarese.
A empresa gere apartamentos de proprietários que não querem usar o tempo em busca de inquilinos ou
cuidar dos serviços necessários para isso, mas nem por isso querem abrir mão da renda. Deixa os
apartamentos prontos para locação, que pode ser feita pela internet e paga com cartão de crédito reserva, contrato e pagamento tudo no próprio site. E cuida de tudo que donos e inquilinos possam
precisar. Da reforma à indicação de programas e escolas na região.
Esse é o cavalo ao qual o dono da Vitacon se refere. "Muita gente compra imóvel para investir, mas não
tem a menor ideia do que e como fazer depois que recebe a chave", explica.
A figura vem de uma lembrança da infância, de um dia em que seu pai o levou a um leilão de cavalos.
Atendendo ao pedido do filho, o pai deu lance. Foi a única oferta - portanto, a vencedora - por um cavalo
chamado Tornado Destruidor. Detalhe: a família não tinha haras. Aliás, sequer um sítio onde colocar o
animal. Muito menos um aparentemente indomável.
Após uma viagem à Tóquio e Nova York, onde pesquisou o que há de vanguarda no conceito de moradia,
Frankel voltou com ideias para facilitar a vida de proprietários e inquilinos. E pensou justamente que
poderia resolver a vida de muitos "investidores".
O empreendedor não tem medo de usar as palavras. Repete para não deixar dúvidas que seu objetivo é
"revolucionar" o mercado. "Seremos a maior rede de apartamentos administrados e mobiliados que se
tem notícia."
Com o investimento, a Vitacon passa a co-controlar a Sampa Housing, ao lado de seus criadores,
também jovens na faixa dos 35 anos. Até o fim do ano, o nome do negócio muda para Sampa Vitacon. O
destino do dinheiro novo será mão de obra, tecnologia e marketing, para suportar o crescimento após
essa parceria.
A Sampa Housing administra hoje 200 apartamentos em bairros nobres da capital paulista. Grande
parte dos inquilinos é de estrangeiros. É possível locar um apartamento por um mês ou um ano. Há
também quartos disponíveis, em apartamentos compartilhados. Modalidade que aos poucos diminuiu
no portfólio da empresa.
A segunda etapa do investimento na Sampa Housing é justamente o aporte gradual da carteira
proprietária da Vitacon. Até o fim do ano, o objetivo é que a companhia digital tenha uma oferta de até
500 apartamentos. Mas a incorporadora tem cerca de 2.000 unidades próprias com potencial para
migrar para a nova gestão.
A partir do próximo ano, o número poderá chegar a 1.000. "A partir daí, o céu é limite. Tudo dependerá
da nossa capacidade de absorver", afirma Frankel.
O crescimento virá, no mínimo, das unidades que a incorporadora colocará abaixo da Sampa Housing.
Nos próximos dois anos, no total, serão agregados o equivalente a cerca de R$ 240 milhões em imóveis
da Vitacon. Mas Frankel vê cada novo empreendimento na cidade como um potencial.
A companhia de Frankel está estreando também em um incipiente mercado de unidades proprietárias
residenciais. O foco desses empreendimentos - embora não objetivo exclusivo - é o aluguel corporativo.
Empresas que costumeiramente tragam executivos à cidade, para morar ou em viagens.
"A faixa média da diária hoteleira em São Paulo é de R$ 350 ou mais de R$ 10 mil ao mês." Para
companhias, o serviço, além da economia, melhora a vida do funcionário. "Num apartamento, a pessoa é
moradora e não hóspede", explica o executivo.
Frankel aposta que a Sampa Housing tem potencial para se tornar um negócio mais valioso do que a
própria Vitacon - cujo valor o executivo evita falar.
A inspiração, como não poderia deixar de ser, é o site que tem chacoalhado os hotéis mundo a fora, o
Airbnb, hoje avaliado em mais de US$ 10 bilhões.
Contudo, os planos dos Ferrarese e de Frankel são mais ambiciosos. Não em valor, mas em serviços. A
referência americana apenas une oferta e demanda. Entretanto, não oferece serviços adicionais. Aqui, as
facilidades já estão no pacote. E deverão ser ampliados a partir da chegada da Vitacon.
Com o encarecimento da moradia em São Paulo, o executivo acredita que, mais e mais, as pessoas vão
optar pela locação. E essas facilidades vão ditar o futuro - e servir a todos, inclusive os moradores da
cidade.
Embora a Sampa Housing tenha "digitalmente" estreado em janeiro, a experiência do casal Ferrarese
com o assunto vem desde 2010, quando praticavam o serviço de forma completar aos respectivos
empregos. Foi em julho de 2012 que decidiram viver exclusivamente desse negócio.
Acumulavam, então, 20 apartamentos decorados e geridos por eles como experiência. No começo deste
ano, inauguraram o site com uma oferta de 40 unidades - metade para aluguel de quartos avulsos e
metade, de apartamentos inteiros. E agora, ao selarem a parceria com a Vitacon, já tinham 200.
O primeiro apartamento foi no Brooklin. Praticamente bateram na porta e ofereceram o serviço. Foi
assim que tudo começou.
Com os negócios indo bem, investiram R$ 200 mil para mobiliar seis unidades e, a partir de então, mais
de R$ 300 mil, mas já na forma de reinvestimento do "lucro".
A ideia desse serviço veio da experiência de Liliana - hoteleira de formação, com MBA pela HEC Escola
de Negócios, na França - de morar fora do Brasil. Passou por Estados Unidos, França, Irlanda e Hungria.
Neste último, teve a melhor experiência como inquilina, com um contrato deste tipo.
A empresa conta com onze funcionários e um casal sueco como sócio, ex-cliente. Gustav Runeberg
Schultz, formado em empreendedorismo digital e responsável pela tecnologia. É graças Schultz que a
prestação de serviço da Sampa Housing é digital e que a exposição do imóvel é global. O site é
interligado a redes como Airbnb, Booking.com, entre outros.
A médica Lilian Antônio Freua foi uma das primeiras clientes, em 2010. Desde então, conta, seu flat não
ficou vago um mês sequer. "Eu só sei dos problemas depois. Outro dia queimou o ferro, a Liliana
comprou outro e só me avisou." O americano de 30 anos que trabalha numa start-up de oferta digital de
empregos, Adam Burgh, explicou que o serviço foi essencial para a chegada. "É tudo muito burocrático
aqui. Como eu teria um fiador? Não tinha nem conta em banco."
Ao olhar o mercado imobiliário, tudo que Frankel não quer é que pessoas como a médica Lilian desistam
de investir. Por isso, o "casamento" entre as empresas foi quase imediato: dois meses de conversas. Ele
quer só evitar o destino do cavalo de sua infância, vendido a um domador por valor simbólico, para
resolver o problema.
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Valor Econômico Caderno: Empresas Data: 02/09