durUniversidade Federal de São Carlos – UFSCar
Centro de Educação e Ciências Humanas – CECH
Departamento de Metodologia de Ensino – DME
JOHANN HEINRICH PESTALOZZI E A PEDAGOGIA ESPÍRITA
Josiane de Oliveira Serva Fabiano
SÃO CARLOS/2008
Universidade Federal de São Carlos – UFSCar
Centro de Educação e Ciências Humanas – CECH
Departamento de Metodologia de Ensino – DME
JOHANN HEINRICH PESTALOZZI E A PEDAGOGIA ESPÍRITA
Josiane de Oliveira Serva Fabiano
Trabalho
de Conclusão de Curso
apresentado ao Curso de Licenciatura Plena
em Pedagogia, da Universidade Federal de
São Carlos – UFSCar; como parte dos
requisitos para obtenção do Título de
Graduação, sob orientação da Profª Dra.
Rosa Moraes Anunciato de Oliveira.
SÃO CARLOS/2008
JOSIANE DE OLIVEIRA SERVA FABIANO
JOHANN HEINRICH PESTALOZZI E A PEDAGOGIA ESPÍRITA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal de São Carlos, como
parte dos requisitos para obtenção do Título de Graduação em Licenciatura Plena em
Pedagogia.
Aprovado em 09 de Dezembro de 2008.
BANCA EXAMINADORA
Profª Dra Rosa Maria M. Anunciato de Oliveira
(UFSCar)
_______________________________
Profª Dra Maria do Carmo de Sousa
(UFSCar)
________________________________
Profª Dra Cármen Lúcia Brancaglion Passos
(UFSCar)
________________________________
“Aos meus pais, pelo esforço diário para ensinar-me os
ensinamentos do Cristo, pelo carinho e atenção dedicados e
pelos diversos confrontos que estimularam em mim a busca da
mudança interior constante”
AGRADECIMENTOS
A Eurípedes Barsanulfo pela sua dedicação a Educação e ao Espiritismo, pelo
exemplo deixado a todos que desejam seguir Jesus, sejam estes educadores ou não e por me
ensinar a enxergar mais beleza no ato de viver.
A Leila Coelho Peres, minha eterna evangelizadora, pelo tempo e esforço dedicado
para me fazer compreender e principalmente sentir o pensamento do Cristo, por me
apresentar a vida de Eurípedes Barsanulfo e a Evangelização de Espíritos e pelo convite
para evangelizar crianças, o que despertou em mim o germe da docência.
A Família Lar de Eurípedes, pelas emoções, desabafos e conflitos compartilhados,
pela presença marcante em todos os momentos de minha vida, principalmente, nos
momentos mais difíceis.
A Juliana Viera e Simone Paludeti amigas, confidentes, companheiras de trabalho e
ideal, por permanecerem sempre comigo nessa jornada, pelos momentos de socorro e
alegria, por me ajudarem a descobrir minhas imperfeições e por me amarem mesmo
conhecendo-as.
A Profª Dra. Rosa Moraes Anunciato de Oliveira, por aceitar me orientar neste
trabalho, pela dedicação e paciência e pela renúncia de seu tempo.
A Profª Dra. Roseli Rodrigues de Mello, referência marcante desta Universidade
para minha futura atuação como educadora, pelo fundamental apoio dado durante minha
graduação.
A Vander de Oliveira, meu namorado, pela compreensão da minha ausência para
dedicar-me a este trabalho, pelo incentivo, pelo companheirismo, pelo carinho que dedica a
mim diariamente.
SUMÁRIO
RESUMO
INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 8
1- JOHANN HEINRICH PESTALOZZI: VIDA E OBRA ............................................... 12
1.1– Breves Notas Sobre Sua Vida e Sua Obra............................................................. 12
1.2- A Educação em Pestalozzi: concepção e finalidade ............................................... 14
1.2.1– Educação Ativa.............................................................................................. 17
1.3– O Método em Pestalozzi....................................................................................... 20
1.3.1- Método Intuitivo............................................................................................. 21
1.3.2- Percepção Sensorial........................................................................................ 23
1.3.3– A experimentação .......................................................................................... 24
1.4.1 – Concepção de homem................................................................................... 29
1.4.2 – Concepção de Educador/Professor ................................................................ 30
1.4.3 – Concepção de Criança/Educando .................................................................. 32
2 – PEDAGOGIA ESPÍRITA .......................................................................................... 33
2.1 – Breve histórico do Espiritismo............................................................................. 33
2.2 – Principais fundamentos espíritas.......................................................................... 36
2.3 – Iniciativas na Pedagogia Espírita no Brasil .......................................................... 40
2.3.1.1. -Currículo .................................................................................................... 41
2.3.1.2. -O Método em Eurípedes ............................................................................. 42
2.3.2- Outros Colaboradores da Pedagogia Espírita. ................................................. 43
2.3.2.1- Associação Brasileira de Pedagogia Espírita....................................................46
2.4 – Concepção de Criança ......................................................................................... 47
2.5. – Concepção de Educação e sua finalidade ............................................................ 49
2.6
– Concepção de Educador................................................................................. 53
2.6.1.1– Autoridade Moral ....................................................................................... 54
2.7
– Metodologia .................................................................................................. 55
2.8 – Educação Moral e Afetividade............................................................................. 57
3–SEMELHANÇAS E DIDERENÇAS ENTRE O PENSAMENTO EDUCACIONAL DE
PESTALOZZI E A PEDAGOGIA ESPÍRITA. ................................................................ 60
3.1 - Concepção e Finalidade de Educação ................................................................... 60
3.2 - Educação Moral ................................................................................................... 61
3.3 - Concepção de Educador ....................................................................................... 61
3.4 - Concepção de Criança/Educando ......................................................................... 62
3.5 - Metodologia e Métodos........................................................................................ 63
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 64
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................. 67
RESUMO
Frente a sociedade atual que vive processos atribuindo valores à supremacia do
materialismo, dos prazeres fugazes, consumismo e competição exagerada, fatores que
distanciam o homem de sua origem divina e imortal, este trabalho propõe a necessidade de
aprofundar a comparação entre as idéias pedagógicas de Pestalozzi e a Pedagogia Espírita,
apontando suas influências no campo educacional.
O objetivo deste trabalho é explicitar as contribuições e distanciamento nas
concepções sobre o homem, a criança e o ensino e aprendizagem destas duas correntes
teóricas que pensam a educação.
Na metodologia do estudo utilizou-se da análise comparativa das concepções,
através do estudo teórico bibliográfico da literatura pertinente a ambas as correntes do
pensamento de Pestalozzi e da Pedagogia Espírita. As análises indicaram como tais
compreensões educacionais poderão colaborar na reflexão sobre as possibilidades de
atuação frente aos problemas atuais do cotidiano escolar estabelecidos com as seguintes
questões norteadoras do trabalho:
Quais os limites e aproximações existem nas propostas de Pestalozzi e da Pedagogia
Espírita?
Como podemos usufruir das contribuições destas duas abordagens pedagógicas para
pensar nos problemas atuais do cotidiano escolar?
As questões religiosas, tal como propostas por Pestalozzi e pela Pedagogia Espírita,
podem favorecer na compreensão dos problemas educacionais atuais?
8
INTRODUÇÃO
É preciso reatar pela Educação esse abismo entre coração e
intelecto, provocado pela nossa civilização, porque apenas pela
interação do sentimento e da inteligência, o homem pode alcançar
o vôo da evolução, tanto individualmente, quanto no plano das
reformas sociais. (INCONTRI, 2004 p.212)
Quando se pretende discutir Educação, seus fundamentos e métodos encontram-se
uma vasta literatura da área, com trabalhos diversos1 em temas e objetivos, que visam
ampliar discussões e espalhar convicções diversas, por isso de tempos em tempos vê-se
nascerem propostas apresentadas por essa ou aquela teoria. E fica, assim mesmo, a
sociedade procurando identificar o que ainda se precisa compreender sobre Educação para
que se possam efetivar os objetivos que ela propõe.
Ao fazer uso da citação que inicia essa introdução se faz necessário ressaltar três
significados: reatar, coração, intelecto. Reatar significa religar, estabelecer novamente uma
relação que nesse caso envolve coração, ou seja, sentimento e intelecto. Debruçando-me
sobre essa proposta procurei refletir em que ponto do caminho da ação da Educação esse
relacionamento se desfez e qual seria o caminho que pudesse proporcionar um novo
encontro.
Para tanto, voltei o olhar para dentro de mim onde estão sedimentados os valores da
Pedagogia Espírita e me lancei, também, a conhecer mais profundamente um autor que
mais se aproximou da visão que guardo de Educação e que conheci em meu curso de
graduação.
O tema de meu Trabalho de Conclusão de Curso: “Johann Heinrich Pestalozzi e a
Pedagogia Espírita”; nasceu da vontade de aprofundar meus conhecimentos no
pensamento “Pestalozziano” e na Pedagogia Espírita, uma vez que acredito que ambas
Estes trabalhos diversos referem-se tanto a forma didático-metodológica quanto em relação ao conteúdo dos
trabalhos, seus objetivos e suas concepções. Por exemplo, um manual de história de educação poderá
contemplar, conforme a concepção do autor, diferentes aspectos, como os manuais de história da educação
escritos por Manacorda ou, ainda, por Cambi. Alem da literatura que objetiva aprofundar, contrapor,
comparar as idéias pedagógicas de um determinado autor, entre autores, entre correntes de pensamento, entre
outras possibilidades.
1
9
trazem contribuições e profundas reflexões a cerca de problemas que hoje enfrentamos no
cotidiano escolar.
A idéia de pesquisar, analisar e escrever sobre este tema surgiu no início de
novembro de 2004 quando fui à cidade de Sacramento, em Minas Gerais, para um Encontro
Espírita promovido pelo Colégio Allan Kardec. O tema deste Encontro foi “A Educação do
Espírito para o Terceiro Milênio”. O evento tinha como propósito divulgar a proposta de
Educação do Espírito e o trabalho desenvolvido na Fundação Lar Escola Eurípedes
Barsanulfo. Esta instituição é uma escola que atende aproximadamente 300 crianças,
gratuitamente, e é mantida com recursos filantrópicos e com a ajuda da Prefeitura
Municipal de Sacramento. A Fundação desenvolve seu trabalho pedagógico baseado na
Pedagogia do Amor e na Doutrina Espírita.
Sou espírita desde criança, mas nunca havia tido contato com uma proposta de
Educação segundo o Espiritismo, com uma Pedagogia Espírita propriamente dita. Confesso
que participar deste evento e conhecer esta escola me ajudou a definir minha escolha
profissional, pois foi a partir deste momento que eu decidi que faria o curso de Pedagogia.
Durante minha graduação nunca me desliguei do ideal da Pedagogia Espírita, é ela
que direciona minhas ações e reflexões sobre Educação. Uma Pedagogia que traz idéias que
dificilmente são discutidas em meio acadêmico, mesmo essas, apresentando definições
concretas e pertinentes quanto a Educação.
Porém, tais concepções ausentes ou negadas, refletem a visão que se tem dos
elementos envolvidos no processo de educar, como, por exemplo, sua concepção de
crianças como sendo um ser reencarnado, em busca de auto-educação, a caminho de sua
evolução, de seu aprimoramento. Sendo assim a educação nunca é impositiva, mas sim
sempre um convite, que cabe a educando aceitar ou não. Este princípio é chamado de
pedagogia da liberdade, umas das bases da Pedagogia Espírita.
Quanto a opção por Johann Heinrich Pestalozzi esta ligada, em primeiro lugar, pela
admiração do trabalho que Pestalozzi realizou e, em segundo lugar, porque o educador
suíço foi indiretamente o precursor do Espiritismo, visto ter sido mestre de Allan Kardec, o
homem que viria a ser o codificador da Doutrina Espírita. A obra pestalozziana e sua ação
pedagógica trazem idéias de educação integral do homem; educação ativa, em que a criança
10
aprende observando e fazendo; educação para a autonomia, em que diálogo e iniciativa
individual exercem papéis fundamentais.
Além disso, a opção em aproximar essas concepções educacionais também está
fundamentada na crença de que ambas trazem contribuições e profundas reflexões a cerca
do que seja a finalidade da Educação, do Educador, do Educando e da Sociedade não
esquecendo que esse conjunto se faz em uma interdependência, em que o declínio de um
envolve o declínio de outro.
E mais que isso esclarecer que ambas as concepções fundamentam-se na questão
moral e da afetividade, utilizando o conhecimento para o desenvolvimento do ser humano.
Frente a essas duas concepções aclara o objetivo de aproximá-las, buscando analisar
suas semelhanças e oposições. Este será o eixo norteador do meu Trabalho de Conclusão de
Curso. E para caminhar por esse eixo a metodologia esta centrada a pesquisa bibliográfica
pertinente.
Vale ressaltar que o objetivo específico deste trabalho é apresentar a comparação
das idéias pedagógicas presentes na Pedagogia de Pestalozzi e na Pedagogia Espírita, uma
vez que ambas as correntes pedagógicas apresentam pontos convergentes. Nesse sentido,
poderá ser anunciado algumas das divergências teóricas quanto as concepções e finalidades
da educação, do educador, do educando e da sociedade que, todavia, não serão
aprofundadas neste trabalho, tendo em vista seus limites mais que poderão ser o foco de
pesquisas futuras.
As questões pontuais deste trabalho, todavia, podem ser apresentadas da seguinte
maneira:
Quais os limites e aproximações se podem realizar entre Pedagogia proposta por
Pestalozzi com a Pedagogia Espírita?
Como podemos usufruir das contribuições destas duas abordagens pedagógicas para
pensar nos problemas atuais do cotidiano escolar?
As questões religiosas, tal como propostas por Pestalozzi e pela Pedagogia Espírita,
podem favorecer na compreensão dos problemas educacionais atuais?
Desse modo, para atender a proposta, o presente estudo foi organizado da seguinte
maneira:
11
O primeiro capítulo “Johann Heinrich Pestalozzi: Vida e Obra” apresenta um breve
resumo da vida e obra deste educador, citando os principais acontecimentos. O objetivo é
abordar os princípios da Pedagogia Pestalozziana, afim de que o leitor compreenda as bases
do pensamento deste educador e sua concepção de Educação.
O segundo capítulo “Pedagogia Espírita” traz um breve histórico do Espiritismo e
os seus principais fundamentos. Ainda, nesse capítulo, procura-se delinear de forma concisa
as origens, a história e as concepções da Pedagogia Espírita no Brasil.
No terceiro capítulo “Pestalozzi e a Pedagogia Espírita: Suas Relações e
Diferenças” procurar-se-á estabelecer as ligações entre a Pedagogia Pestalozziana e a
Pedagogia Espírita, comprovando a estreita relação existente entre ambas.
Por fim, espera-se com esse trabalho oferecer mais amplos caminhos ao
entendimento da prática educativa.
12
1- JOHANN HEINRICH PESTALOZZI: VIDA E OBRA
1.1– Breves Notas Sobre Sua Vida e Sua Obra
Pestalozzi não foi apenas um educador de crianças, mas um
pedagogo universal. Suas lições de Política e Moralidade, de
Sociologia aplicada e Ciência pedagógica, para reis e filósofos,
artistas e sábios de seu tempo, continuam válidas e interessantes.
(INCONTRI, 2004, p.91)
Johann Heinrich Pestalozzi nasceu em 12 de janeiro de 1746 em Zurique na Suíça.
Filho do cirurgião e pastor protestante de origem italiana, Johann Baptist Pestalozzi e de
Susanne Hotz, teve um irmão, Baptist, e uma irmã, Bárbara.
Após o falecimento de seu pai, em 1751, passou a ser educado pela mãe com a
ajuda da governanta Magd Barbara Schimid, a “Babeli”. Com a ausência do patriarca, a
família enfrentou dificuldades econômicas, por este motivo, Pestalozzi teve uma infância
pobre, privada de luxos. A presença de duas mulheres em sua educação foi fundamental
para sua intuição da necessidade e o papel das mães na educação dos seus filhos, como
demonstra na maior parte de sua obra educação: “Leonardo e Gertrudes”, “Como Gertrudes
educa seu filho”, “Mãe e Filho”, dentre outras, ainda sem publicações traduzidas no Brasil.
O caráter do educador foi fortemente influenciado pelo meio em que foi educado.
Ainda menino seu avô, também pastor, iniciou-o no latim e fazia-o ler a Bíblia. Na sua fase
juvenil foi influenciado pelo pensamento de Rousseau e por alguns aspectos do movimento
romântico e esse ponto será fortemente verificado na tradução prática dos seus princípios
educacionais.
Em 1754, aos oito anos de idade, foi matriculado na Escola de Latim em
Fraumunster. Aos 17 anos, em 1763, iniciou seus estudos em Lingüística e Filosofia no
Collegium Carollinum em Zurique.
Tornou-se membro da Sociedade Helvética2 em 1764, junto com os “patriotas”,
ocupou-se das questões políticas do país, propondo reformas em todas as áreas (educação,
saúde, economia, etc) visando à melhoria do país.
Em 1761, foi criada a Sociedade Helvética em Zurique. A maioria de seus membros eram estudantes e
intelectuais da época, chamados de patriotas. Juntavam-se todos os anos em Schinznach-Bad (Cantão de
2
13
Em 1767 decidiu ser agricultor e passou a ter aulas com o agrônomo J. R. Tschiffeli.
Seu estudo sobre a agricultura e sobre os novos processos de produção duraram dez meses.
Casou-se com Anna Schulthess em 1769. Um ano depois nasceu seu único filho
Hans Jakob.
Apesar de seus esforços, a iniciativa na agricultura em Neuhof fracassou. Pestalozzi
decidiu então abrir uma indústria de fiação de algodão.
Nesta fase interessou-se pelos problemas da população agrícola e tomou iniciativas
de educação profissional, fundando em 1774 um Instituto para crianças pobres, onde
associava educação e trabalho. O Instituto ficou aberto até 1780. A iniciativa educacional
deste instituto será, posteriormente, detalhada neste trabalho.
Em 1781 publicou Leonardo e Gertrudes, sua primeira obra pedagógica. Logo
depois, Pestalozzi dedicou-se ao jornalismo, em 1782 publicou e dirigiu a Folha Suíça.
Nos anos que decorreram entre a primeira publicação de Leonardo e Gertrudes, a
publicação da Folha Suíça e a Revolução Helvética, Johann dedicou-se a escrever.
Após a Revolução foi fundado em Stans um orfanato destinado aos orfãos de
guerra. Pestalozzi foi convidado para dirigir o Instituto. De 1798 a 1799 o Instituto de Stans
ficou sobre sua responsabilidade. Por este trabalho o educador ficou conhecido como "pais
dos pobres” 3.
De 1799 a 1804 foi professor na Escola de Professores de Burgdorf.
Em 1801 publicou o livro Como Gertrudes ensina seus filhos. No mesmo ano
morreu seu filho Hans Jacob.
Com o fechamento do Instituto de Burgdorf, Heinrich Pestalozzi foi para Yverdon,
a convite do governo local, e fundou o Instituto de Yverdon. Diz a respeito do Instituto:
Mas é em 1805, em Yverdon, no cantão de Vaud, que Pestalozzi organiza o seu
método educativo na forma mais completa: o seu instituto internacionalizou-se e
terá visitantes excepcionais (Fröbel, Madame de Staël); o seu pensamento
pedagógico está agora maduro. A sua experiência, ademais, coloca-se como
modelo educativo para toda a Suíça. (CAMBI, 1999, p.417).
Argóvia) e discutiam a história, a política, a economia e o futuro da Confederação Helvética (Suíça).
Segundo MANACORDA (2004), a filiação de Pestalozzi a está sociedade se deu em 1798.
No subitem seguinte deste capítulo discutirei os aspectos da obra de Pestalozzi, suas iniciativas em educação
e seu método pedagógico.
3
14
Em 1806 fundou junto ao Instituto de Yverdon, em outro prédio, uma espécie de
"segunda unidade", destinada apenas pra meninas.
O primeiro desentendimento entre os professores de Yverdon aconteceu em 18104.
Joseph Schimid, colaborador de Pestalozzi, deixa o Instituto com outros professores. Iniciase o declínio de Yverdon.
Em 1815 morreu sua esposa, Anna Pestalozzi.
Uma nova divergência entre os professores marca o ano de 1816. Joseph retorna ao
Instituto.
Johann desentendeu-se com Johannes Niederer, seu amigo e, até então, principal
colaborador em 1817. As tentativas de reconciliação foram em vão. Em 1824 o processo de
Niederer contra Pestalozzi é decidido a favor do educador, mas seu colaborador Joseph
Schmid foi expulso do cantão, e devido à expulsão de Schimid, Pestalozzi renuncia ao
Instituto de Yverdon e volta para Neuhof.
Em 1826 publicou as obras autobiográficas Canto do Cisne e Destino de minha
vida. Em 1827, um ano após suas últimas publicações adoeceu vindo a falecer em Brugg.
Em relação as suas obras, em minha pesquisa não encontrei nenhuma tradução das
obras escritas pelo educador. Esse fato dificultou a elaboração do presente trabalho, pois
teve que contar mais com as obras dos seus comentaristas em livros e artigos, do que
propriamente com as obras de Pestalozzi.
1.2- A Educação em Pestalozzi: concepção e finalidade
A educação para Pestalozzi tem como finalidade desenvolver
progressivamente todas as faculdades para que o educando atinja o
estado moral, promovendo assim todo o desenvolvimento possível
do ser humano. (OLIVEIRA, 2008, p. 10)
Os princípios da educação pestalozziana fundam-se nos ideais práticos das idéias de
Rousseau, da intuição à psicologia infantil e à didática, aplicadas em uma sociedade
4
Em minhas pesquisas não encontrei o que motivou as divergências entre os professores.
15
industrial. Nesse sentido, Manacorda (2004) alega como fundamento da sua obra
educacional o apelo à natureza “perfectível” do homem e a personalidade individual.
Para Cambi (1999), Pestalozzi se encontra no movimento metafísico da teoria
educacional, os proto-românticos. Essa consideração liga-se a discussão da centralidade da
educação como formadora do homem social, da cultura engajada, da sociedade eficiente e
da instância religiosa.
A relação educativa compreende a natureza humana como animal e espiritual. A
natureza dos instintos e paixões deve ser dominada para conduzir a natureza superior do
homem. O domínio deve começar desde a mais tenra idade e o amor materno é o mais
indicado para este trabalho. O papel da mulher é fundamental na compreensão da educação
em Pestalozzi, como revelado na maioria de suas obras (MANACORDA, 2004).
O princípio educativo e a finalidade da educação em Pestalozzi eram a educação
física e intelectual indissociável, denominada “Método Ativo” por Manacorda (2004),
como veremos no próximo item.
A educação Pestalozziana é preocupada com os princípios democráticos da natureza
humana. Nesse sentido, as relações sociais adentram os objetivos educacionais deste
educador. A democracia era traduzida em Pestalozzi no lema sobre “os legítimos direitos de
todas as classes sociais à difusão universal do saber” (4 FEVEREIRO DE 1819, APUD
MANACORDA, 2004, p. 266).
A adesão aos princípios democráticos deve-se ao seu engajamento com a Sociedade
Helvética, após receber a cidadania francesa em 1792, pela Assembléia Nacional. Estes
princípios democráticos presentes em sua educação refletiam as preocupações com as
relações sociais e a natureza humana, ou seja, procura o bem da sociedade e o bem da
criança.
Nesse sentido, tinha como objetivo ensinar as crianças para o trabalho útil em
sociedade. Mas, encontrou muitas limitações, fruto da história de seu tempo, em que as
crianças eram consideradas inferiores e a educação para as classes populares negada. A sua
defesa para o saber universal acabou por servir de mote para sua perseguição. Os limites,
antes de serem apenas no sentido de sua perseguição, também refletiam suas dúvidas sobre
as conseqüências da educação de todas as classes, que poderia recorrer a indisposições
sociais gerais.
16
Mais, e importante frisar, que embora com limitações externas e internas, a defesa
destes princípios foi importante, conforme MANACORDA (2004) faz ressaltar sobre os
princípios democráticos defendidos por Pestalozzi:
São hesitações e contradições inevitáveis em quem, envolvido ainda em
experiências sociais em grade parte ligadas às velhas relações de produção
camponesas e artesanais, consegue chegar com muitas dificuldades a novas
conquistas ideais. (MANACORDA, 2004, página 267).
Para Cambi (1999), a ideologia da educação em Pestalozzi se manifesta no vínculo
pedagogia – sociedade, sobre a qual a educação tem como eixo à formação do homem no
exercício da liberdade e da participação coletiva.
Esse ideal de liberdade como fundamento da educação teve, em maior ou menor
grau, uma ligação com o ensino religioso. A “Pedagogia Romântica” de Pestalozzi, tal
como denomina Cambi (1999), está voltada para a elevação dos sentimentos mais nobres da
natureza humana, de trans-formação do espírito humano. Em outros termos, considera-se a
Pedagogia Romântica de Pestalozzi:
(...) revive em primeira pessoa o drama da educação (os projetos, as dificuldades,
as derrotas), reativa uma noção espiritual de educação (animada pelo amor), mas
também se engaja nas problemáticas sociais e políticas da própria educação.
(CAMBI, 1999, p. 415 e 416)
Os princípios pedagógicos de Pestalozzi, segundo Cambi (1999), em resumo,
destacam-se:
1. Educação como Processo Natural: princípio que descende da compreensão da
natureza boa do homem, portanto, o processo de educação visa apenas assistir o
desabrochar das faculdades do homem.
2. Formação Espiritual do Homem: princípio que considera o homem em três esferas a
ser desenvolvidas, ou seja, a educação moral (coração), a educação intelectual
(mente) e a educação profissional (mãos).
3. Método Intuitivo: práticas pedagógicas de observação da natureza humana, da
experiência e do contato com os objetivos da formação moral, intelectual e
profissional do homem.
17
1.2.1– Educação Ativa
A Educação Ativa tem como finalidade elevar os sentimentos do homem. Os
métodos para aplicar este fim requerem o esforço físico e intelectual do educando. Esta
proposta educacional possui um caráter de Educação Integral, como podemos evidenciar no
excerto abaixo:
(...) seu discurso pretende resgatar a unidade do homem, rompendo a
radicalização racionalista do iluminismo, reatando sentimento e razão e porque
propõe a dialética entre pensamento e ação, talvez seja mesmo impossível
apreendê-lo apenas como um instrumental teórico, destituído de estofo
existencial, esvaziando de espírito. (INCONTRI, 1996, p. 12).
Pestalozzi tinha uma visão organicista do desenvolvimento integral da criança,
contemplando três aspectos do ser humano: a mente, o coração e as mãos. Sobre esta
integralidade do ser humano, constituía a educação como:
1. Educação Intelectual - MENTE: Baseada na educação sensorial e intuitiva da
relação homem – natureza – objetos. Os procedimentos adotados eram a intuição, a
observação, a experimentação e a verbalização das impressões e percepções.
2. Educação Profissional - MÃOS: Baseada em atividades práticas, dentro do
princípio do “aprender fazendo”. A função da educação das mãos era desenvolver
as habilidades e capacidades no exercício das mãos, dos membros e dos sentidos.
3. Educação Moral - CORAÇÃO: A educação religiosa era o mais alto dos princípios
da formação humana, dirigida para o espírito e à autonomia moral.
Em relação à Educação Moral em Pestalozzi, esta deve iniciar-se na família e
prosseguir na escola. A Educação moral e religiosa para este educador são indissociáveis,
pois somente através desta união é possível que o homem retorne à sua essência divina.
A educação moral e religiosa, consoante ao lema rousseauniano de educar de modo
diferente as crianças em famílias, moldando seu comportamento, é refletida nos princípios
didáticos inovadores. Os princípios didáticos para a educação moral podem ser de cunho
cientifico (Condillac), empírico (Locke e Rousseau) ou prático (Pestalozzi).
Dessa forma, tanto em Rousseau quanto em Pestalozzi, se observa a introdução do
conceito de religiosidade como forma de resgate a essência da natureza humana em sua
plenitude. A “religião natural” tem como finalidade à ligação direta do homem com a
divindade.
18
O desenvolvimento moral no ser humano envolve três estados: natural, social e
moral. A teoria sobre o desenvolvimento moral é conhecida como Teoria dos Três Estados
e está sistematizada em sua obra “Minhas indagações sobre a marcha da natureza no
desenvolvimento da espécie humana”. Os estados são explicitados da seguinte forma:
1. Estado Natural: baseado nos instintos e satisfações da natureza animal do homem;
2. Estado Social: baseado nos meios artificiais da estrutura material da sociedade,
criados pelo próprio homem, para satisfação de sua natureza animal;
3. Estado
Moral:
baseado
na
busca
da
realização
espiritual
através
do
desenvolvimento de sua natureza interior;
É importante ressaltar que para Pestalozzi os três estados do desenvolvimento do
homem são empregados no ser humano, independente da classe social ou profissão dos
homens (OLIVEIRA, 2008, p. 11).
Todavia, a Educação e ou Estado Moral, deveria ser vivenciada na prática, não
bastando o mero discurso. Assim, essa esfera deveria como todo o conhecimento para
Pestalozzi, ser prático, experimentado, sensitivo, escreve:
A educação moral não consiste na instrução ou na ilustração da moral, mas na
formação de valores e modos de agir coerentes. Como disse Pestalozzi (1946,
p.16). (...) a educação moral mais que ensinada, tem de ser vivida. A vida educa
(...) E o fim da educação moral não é outro que o aperfeiçoamento, o
enobrecimento interior, a autonomia moral. (ZANATTA, 2005, p.170,)
Para Pestalozzi, segundo Incontri (1996), a educação integral do homem no sentido
moral era tornar realidade a potência natural do ser humano, despertando na criança a sua
natureza, favorecendo seu desenvolvimento na fonte do amor interior (espírito) e exterior
(sociedade).
A educação moral e religiosa deverá ser prática, vivenciada, sentida pelos
educandos, cada um a sua maneira, pois ela é de âmbito pessoal.
Para ele, a religião é coisa do agir concreto. Tanto isso é fato, que se engajou a
vida toda num cristianismo prático, de caridade e de amor ao próximo. Por isso
mesmo, não se lhe pode imputar qualquer tendência de contemplação mística
apartada do mundo. Sua religiosidade é absolutamente ativa.
Porque a religião, para ele, deve ser a fonte de moralidade, a ponte de acesso do
homem para a sua essência divina (...), é que só ela, entendida dessa maneira,
pode ser a garantia da felicidade individual, da justa ordenação sóciopolítica e da
educação moral. (INCONTRI, 1996, p. 38)
19
A educação moral, para Pestalozzi, precede a revolução social. Isto porque a
imoralidade é uma traição a essência divina do homem e está enraizada socialmente. A
organização exterior, social, somente poderá ser plena quando a organização interior, do
espírito, da moral estiver em harmonia.
Transformar o mundo pela transformação do homem e transformar o homem pela
transformação do mundo. Eis a dialética do Reino, que o cristão deve seguir.
(PIRES, Apud INCONTRI, p.46, 2008)
A essência boa das pessoas necessitava de uma educação, além de seu impulso
natural, pois na infância permanecia adormecido, como relatado anteriormente. A educação
deveria favorecer a virtude boa do ser humano por meio das ações práticas.
A esse respeito, Incontri (1996), aponta que a educação moral deve permitir a
liberdade do espírito, a autonomia ao ser, ou como aponta no texto:
O homem só pode ser realizar como homem inteiro se conseguir a liberdade de
não se escravizar aos instintos e a autonomia de transcender a moral social, e
edificar-se na única moral verdadeira e possível: a moral que ele mesmo se dá,
pois na base dessa autodeterminação permanece a fonte divina nele presente.
(INCONTRI, 1996, p. 67)
A autonomia e a liberdade moral alcançadas pela educação integral dos três estados,
essencialmente pela educação do espírito interior. Essa educação tem em vista o
amadurecimento e o despertar da imanência de Deus em cada homem.
É dentro deste espírito que Pestalozzi revela-nos a “Pedagogia do Amor”. A busca
da espiritualidade, da natureza boa do homem, do seu despertar da infância à virtude do
amor, da liberdade e da autonomia que equivaleria a essência divina do ser humano. A base
dessa educação é composta pelo amor, pela percepção e exercício moral e, ainda, pela
linguagem e a verbalização moral. A esse respeito, Incontri (1996) revela-nos que os
aspectos da “Pedagogia do Amor” em Pestalozzi era exercido:
(...) como fundamento de todo desenvolvimento do homem, é preciso antes
recorrer à sua personalidade, pois o sentido da experiência de Stans não está
apenas na teorização desse amor, mas na sua prática. Foi ela que proporcionou
alguma transformação qualitativa daquelas crianças, segundo o próprio Pestalozzi
e alguns dos que visitaram Stans. (INCONTRI, 1996, p. 91).
20
O amor em sua pedagogia se origina da importância da mãe nos primeiros anos de
vida da criança e dos princípios cristãos. Através desse amor, busca auxiliar os homens a
encontrar sua divindade, suas potencialidades e a transformar a vida em sociedade.
O amor pedagógico é, para Pestalozzi, a base do desenvolvimento integral do
homem. Aliado ao amor está o diálogo, como vínculo efetivo entre educando e educador,
entre professor e aluno, entre mães/pais e filhos. O diálogo é de grande destaque em sua
pedagogia.
1.3– O Método em Pestalozzi
Pestalozzi não só elaborou seu pensamento pedagógico como
testou suas teorias e idéias nas escolas que fundou e influenciou
sistemas de ensino e a formação de professores (OLIVEIRA, 2008,
p. 11)
A Metodologia Didática de Pestalozzi surge para contrapor a Pedagogia Tradicional
em voga. O método contemplava o interesse e a curiosidade. Estes princípios deveriam ser
seguidos pelos seus educadores: a mãe, em um primeiro momento, e o professor.
Segundo Zanatta (2005), o método de Pestalozzi baseia-se na educação como
processo natural, tal como Rousseau, de forma que tem como princípios a liberdade, a
bondade inata e a personalidade. Em outras palavras, “(...) a educação verdadeira e natural
conduz à perfeição, à plenitude das capacidades humanas” (PESTALOZZI, Apud
ZANATTA, 2005, p. 169).
Em suma, delineou-se o ensino intuitivo e de sua gradualidade do concreto ao
abstrato. O método empírico também auxiliava o ensino na concepção de Pestalozzi.
(...) pouco importam as suas nem sempre aprofundadas tentativas de fundamentar
filosoficamente sua didática; nessas tentativas, ele não vai além dos modestos
níveis dos pedagogos de todos os tempos. Estas são as três unidades elementares
da cognição ou faculdades mentais: o som, a forma, o número. O que importa,
porém, é que a didática expressada naquelas fórmulas seja de per si realmente
produtiva. (MANACORDA, 2004, p. 264)
A didática Pestalozziana estava orientada pela curiosidade e a experimentação ativa
com os elementos da aprendizagem, com exemplos concretos e aprendizagem prática. A
21
escolha da prática “realmente produtiva” do seu método ativo garantia a gradualidade do
ensino que leva do concreto ao abstrato. A respeito do caráter empírico do seu método,
MANACORDA (2004) assevera:
O vivo estímulo da curiosidade provoca tentativas que, se têm êxito positivo ou
são encorajadas por outros, levam ao âmbito de pensar. (25 de janeiro de 1819)
Deve-se agir sobre a mente das crianças com elementos tirados da realidade e não
com regras abstratas, e se deve ensinar mais com a ajuda de objetos do que de
palavras. (MANACORDA, 2004, P. 264)
Dessa forma, a didática deste educador é “pedagogicamente concreta” nas relações
educativas, na metodologia e no contexto social. A escolha dos elementos a serem
trabalhados no desenvolvidos na faculdade mental das crianças: o som, a forma e do
número, além da língua materna; devia-se ao fato destes elementos serem encontrados em
todas as idéias e impressões do mundo externo que geravam o pensamento interno.
1.3.1- Método Intuitivo
Segundo Cambi (1999), o método intuitivo em Pestalozzi é definido pela
observação da natureza humana a fim de desenvolver moral, intelectual e profissionalmente
o homem.
Nesse sentido, a educação ocorria pela via prática do contato e da experiência com o
objeto. O método desenvolvido foi aplicado às áreas do conhecimento elementar da
juventude: a língua e a matemática.
O método intuitivo estava fundamentado nas leis da psicologia, da psicologia
infantil e a definição conceitual das propriedades e capacidades gradativas dos objetos de
ensino.
A “Lição das Coisas”, nome dado à aplicação do método intuitivo, foi bastante
explorada no âmbito da educação. Os procedimentos empregados refletiam a observação
dos objetos e a verbalização de suas apreensões/percepções, além da experimentação
concreta/práticas eram o princípio mais importante da educação pestalozziana. Esse
procedimento vale lembrar, também era empregado na educação moral.
22
Segundo Pestalozzi (Apud OLIVEIRA, 2008), esse princípio era justificado pela
necessidade de “Não as atireis ao labirinto das palavras, antes de ter formado seus
espíritos pelo conhecimento das realidades” p. 12. Dessa forma, a experimentação precedia
a verbalização.
O contato prático, vivenciado, experimentado pela criança favoreceu a aquisição de
conhecimentos na aprendizagem e no desenvolvimento das habilidades e capacidades de
aprendizagem. A prática da observação, da intuição e da verbalização ocorria de forma
espontânea na criança e em suas diversas atividades, ampliando as possibilidades do
desenvolvimento integral da criança em seu contato com a natureza e com os objetos.
Na obra de Incontri (1996), é encontrado os aforismos de Pestalozzi a respeito do
ensino mútuo, do qual reproduzimos abaixo:
I.
“A atividade é uma lei da meninice. Acostumais os meninos a fazer –
educai a mão.
II.
Cultivai as faculdades em sua ordem natural; formai primeiro o espírito
para instruí-los depois.
III.
Começai pelos sentidos e nunca ensineis a um menino o que ele pode
descobrir por si.
IV.
Reduzi cada assunto a seus elementos. Uma dificuldade de cada vez é
bastante para uma criança.
V.
Avançai passo a passo. Sede completo. A medida de uma informação não
é o que o professor pode dar, mas sim o que a criança pode receber.
VI.
Cada lição deve ter um fito, quer imediato, quer remoto.
VII.
Desenvolvei a idéia, daí depois o termo. Cultivai a linguagem.
VIII.
Procedei do conhecido para o desconhecido; do particular para o geral; do
concreto ao abstrato; do mais simples para o mais complicado.
IX.
Primeiro a síntese, depois a análise. Não a ordem do assunto, mas sim a
ordem da natureza”.
(THOMPSON, Apud INCONTRI, 1996, p. 130)
Tais princípios são reflexos da didática aplicada ao método Pestalozziano, como
relatado no item anterior deste trabalho. Em síntese, o método ativo da experimentação, do
uso da curiosidade, da aprendizagem a partir de elementos concretos da realidade, da
gradualidade do ensino do concreto ao abstrato e da aprendizagem a partir dos elementos
encontrados em todos as idéias do mundo: a língua, o som, o número e a forma; aí estão
pormenorizados em princípios.
Nesse sentido, reproduzimos os princípios e, em seguida, apontaremos a didática
aplicada nos mesmos:
23
A experimentação, o fazer prático a que todo o ensino dever estar balizado,
encontra-se presente no primeiro destes princípios: “I -A atividade é uma lei da meninice.
Acostumais os meninos a fazer – educai a mão”, e no “VI - Cada lição deve ter um fito,
quer imediato, quer remoto”.
O método intuitivo, por sua vez, encontra-se nos seguintes princípios: “II - Cultivai
as faculdades em sua ordem natural; formai primeiro o espírito para instruí-los depois”; e,
também, no “III - Começai pelos sentidos e nunca ensineis a um menino o que ele pode
descobrir por si”.
Os elementos constitutivos de todas as coisas, a saber: a linguagem, o som, a forma
e o número, estão presentes em seus princípios, dentre eles: “IV - Reduzi cada assunto a
seus elementos. Uma dificuldade de cada vez é bastante para uma criança”, além de
também estar presente no “VI - Desenvolvei a idéia, daí depois o termo. Cultivai a
linguagem”.
Por sua vez, a gradualidade do ensino, do concreto ao abstrato, e atenção ao ensino
presente no método pestalozziano pode ser visto nos seguintes princípios: “VII Avançai
passo a passo. Sede completo. A medida de uma informação não é o que o professor pode
dar, mas sim o que a criança pode receber”, e também no “VIII -Procedei do conhecido
para o desconhecido; do particular para o geral; do concreto ao abstrato; do mais simples
para o mais complicado”. Em essência, também pode ser exemplificado com o “IX Primeiro a síntese, depois a análise. Não a ordem do assunto, mas sim a ordem da
natureza”.
1.3.2- Percepção Sensorial
(...) o que mais se destacou foi o da percepção sensorial como
fundamento de todo o conhecimento. Como dizia Pestalozzi (1946,
p.63), (...) a intuição da natureza é o único fundamento próprio e
verdadeiro da instrução humana, porque é o único alicerce do
conhecimento humano’. O fundamental não era ensinar
determinados conhecimentos, mas desenvolver a capacidade de
percepção e observação dos alunos. ZANATTA, 2005, p. 170
Para Pestalozzi, o processo gradual de aprendizagem do concreto ao abstrato parte,
inicialmente, das percepções sensoriais da criança. Nesse sentido, sua educação deverá ser
24
favorecida pela percepção sensorial e ação plena exercida pela autoridade moral do seu
educador: mãe e professor.
A percepção sensorial é o fundamento para todo o conhecimento, uma vez que está
baseada na experimentação concreta de caráter prático. Nesse sentido, a educação parte do
desenvolvimento da capacidade de percepção e observação do aluno, seguida pela
verbalização da sua experiência concreta.
Após o desenvolvimento da percepção sensorial como um todo, esse método seria
empregado em todo o ramo do conhecimento intentado em sua pedagogia.
A percepção, como base do método em Pestalozzi, se divide em percepção interior e
percepção exterior. A primeira refere-se às impressões a partir da observação do objeto pelo
sujeito, através de um contato e uma experimentação direta. A segunda reflete a percepção
da natureza, sendo necessário sentir, ouvir, captar, olhar, cheirar, enfim, possuir o objeto.
Nesse sentido, é importante ressaltar a compreensão que OLIVEIRA(2008) traz
sobre essa questão, como podemos observar abaixo:
O método desenvolvido por Pestalozzi destacava a percepção sensorial como
fundamento de todo o conhecimento. Ao invés de ensinar, o professore deveria
desenvolver a capacidade de percepção e observação dos alunos. Para ele,
qualquer objeto deveria ser primeiramente percebido pelos sentidos e depois essa
experiência seria verbalizada em palavras. A aprendizagem possuía um caráter
prático, com base na experiência sensorial. (OLIVEIRA, 2008, p. 11)
Dessa forma, torna-se primordial para que o método sensorial funcione, tornar a
experiência da criança rica em estímulos de objetos para observar, classificar, discriminar,
abstrair suas qualidades e verbalizar sobre suas impressões.
Também denominado como método intuitivo, ou lição de coisas, a aprendizagem
ocorre pela observação e verbalização. O exercício do raciocínio, pensamento da criança é
fundamental e exige uma rica experiência sensorial. O método pode ser aplicado em todas
as coisas e área de conhecimento, inclusive na educação moral.
1.3.3– A experimentação
(...) o ensino deve partir do interesse e da curiosidade da criança,
para posteriormente alcançar os objetivos propostos pelo currículo
escolar, mantendo o interesse do aluno pela aprendizagem.
(OLIVEIRA, 2008, p. 10)
25
As considerações educativas e os métodos empregados por Pestalozzi constituem
como essência da percepção sensorial e a educação moral através do vivo interesse da
criança em tocar e experimentar as ações, as reações e as convivências de forma verdadeira
e real.
O interesse da criança, através da sua curiosidade, deve ser garantido, pois
potencializa a aprendizagem da criança e favorece no seu desenvolvimento intelectual,
moral e físico.
A experimentação, o princípio da educação como percepção sensorial, sob a qual
elegeu-se a experimentação como procedimento prático que antecedia a aprendizagem pela
gravura, imagem ou discurso. A experimentação, vivência prática, permitia uma
aprendizagem mais efetiva e auxiliar na transição da intuição para o registro: oral, escrito
ou desenhado.
Já Pestalozzi atribuiu importância ao ensino como condição para ativação das
capacidades humanas. O que Pestalozzi (1946, p.15) tinha em vista era que o
conhecimento fosse desenvolvido por meio de atividades comuns da vida. (...)
Ele desejava elaborar um sistema de lições com vistas ao desenvolvimento do
poder práticos das crianças. Para tanto, os objetos da natureza e da ciência eram
supervalorizados. (ZANATTA, 2005, p. 173)
A importância da observação, experimentação e verbalização das impressões sobre
o objeto e o conhecimento são fundamentais no método de Pestalozzi, pois o ensino não
poderia atirar as palavras no labirinto do desconhecido, sem antes, formar o espírito pelo
conhecimento da realidade.
O ensino que parte da realidade, do concreto, da experiência para chegar ao abstrato
– gradualidade do ensino – torna o ensino compreensível. Em outros termos, podemos dizer
que a experimentação da realidade é um estímulo importante na educação, pois levam o
hábito de pensar, pois o envolvimento com o real aproxima a curiosidade da criança.
Segundo ZANATTA (2005) a aprendizagem como processo espontâneo de
curiosidade com os objetos da realidade deve orientar o professor a captar os interesses
imediatos do aluno sobre a realidade que cerca a criança e desenvolver a aprendizagem.
26
1.3.4– O Instituto de Stans e Yverdon
O Instituto é de grande relevância no estudo da obra produzida por Pestalozzi, pois
foi neste espaço em que o educador criou e colocou em prática, suas teorias sobre a
educação.
No Instituto de Stans para órfãos, destinado para a formação moral e intelectual,
Pestalozzi desenvolveu seu método educativo pautado no ensino intuitivo e no ensino
mútuo. Esse Instituto, criado em 1798 para abrigar as crianças abandonadas no contexto
dos conflitos e massacre em Stans.
A respeito do massacre em Stans e as condições sociais desta região que motivou a
criação deste instituto, pode ser compreendida nas seguintes passagens:
Depois de combates sangrentos, os franceses avançaram concentricamente, por
Drachenried, por Stansstad e pela via que passava pelo sul de Stanserhorn, contra
Stans, e aí, exasperados ate o furor, quebraram a última resistência no meio de
cenas atrozes. Um de seus oficiais afirmava não ter visto nada de mais pavoroso
nas guerras de Vandéia. O povo, disperso, perdeu neste dia funesto 386 mortos,
entre os quais 102 mulheres e 25 crianças. (DIERRAUERB, APUD INCONTRI,
2006, p.82)
Ao entrarem, a maioria dessas crianças se encontrava no estado que a extrema
degeneração humana traz como conseqüência inevitável. Algumas chegavam com
tanta sarna que mal podiam andar; muitas com as cabeças abertas; muitas com
trapos, cheios de piolhos; muitas tão magras como esqueletos, amarelas, como os
doentes arreganhados, com olhos cheios de medo e a fronte cheia de desconfiança
e preocupação; algumas, cheias de valente atrevimento, acostumadas à
mendicância, à mentira e a todas as falsidades; outras oprimidas pela miséria,
pacientes, mas desconfiadas, insensíveis e medrosas. No meio, havia algumas
delicadas, que alguma vez haviam vivido comodamente; essas eram cheias de
exigências, juntavam-se entre si, desprezavam as crianças mendigas e de famílias
pobres, não se sentiam à vontade naquela igualdade; o tratamento dos pobres não
se parecia com seu conforto antigo e conseqüentemente não correspondia aos
seus desejos. Em geral, havia uma preguiçosa inatividade, falta de exercício
intelectual e de habilidades físicas essenciais. Entre dez crianças, uma – se tanto –
sabia o ABC. De outras disciplinas escolares, ou de elementos essenciais da
educação, nem se fale.(PESTALOZZI, 1982 APUD INCONTRI, 2006, P. 142)
Nesse sentido, os partidários republicanos da Sociedade Helvética, como Pestalozzi,
sentiram toda a ignorância e miséria resultante das resistências contra o poder e passaram a
levar ajuda a população dispersa e desesperada. Nesse sentido, foi encaminhada uma gestão
para recompor o governo e Pestalozzi foi um dos indicados para a execução dos projetos
educacionais desta população alijada socioeconomicamente.
27
O instituto de Stans é inaugurado por Pestalozzi com o intuito de aperfeiçoamento
da capacidade e da moral dos indivíduos sob os quais produziu seus primeiros ensaios
educacionais baseando-se na necessidade da educação da natureza boa do homem frente à
realidade social degenerada. A educação moral foi a essência desses ensaios, por meio do
amor, da percepção e da linguagem (INCONTRI, 2006). Nesse sentido, a proposta do
Instituto de Stans, no espírito da Sociedade Helvética, era fomentar a mudança social e
autonomia moral.
De modo geral, tendo visto a realidade degenerada em Stans, o objetivo principal de
Pestalozzi era “(...) elevá-las da lama e transplantá-las para um ambiente simples, mas
puro, doméstico, onde as relações fossem as de uma família (...)” (PESTALOZZI, 1982
APUD INCONTRI, 2006, P.143). E, nesse sentido, que a família e a mulher tornam-se
essenciais na primeira educação da criança e o amor, seja pela educação materna seja pela
educação do professor, deve nortear a elevação do espírito e da moral.
Diante das circunstâncias dos conflitos e as diferenças sociais, buscava, cansado de
tentar levar um pouco de reflexão para que os abastados permitissem, por meio da
filantropia, auxiliar os pobres para dar-lhes educação, enobrecendo os espíritos dos homens
e dando-lhes uma função útil para a sociedade, procurou trabalhar com a educação popular
a fim de dar-lhes autonomia moral e viver independente dos restos dos abastados, pois o
espírito era enobrecedor. Em outras palavras, a busca pela mudança social e pela autonomia
moral, em cujos traços estaria a elevação do espírito por meio da educação, Pestalozzi
recebeu o título de “pai dos pobres”, no qual ele mesmo assevera na seguinte passagem
“Aprendei, homens pobres, a cuidar de vós próprios, pois ninguém cuida de vós!”
(PESTALOZZI, 1982 APUD INCONTRI, 2006, P.51).
Orientado pelos objetivos de formar o povo independente econômica e
intelectualmente, necessitou da adesão da população no projeto de transformação social e
espiritual, pois sabia que somente o espírito individual poderia ser, por meio do amor e da
moral, recuperado e assim refletir no seio da sociedade.
Foi nesse instituto que Pestalozzi escreveu sobre sua concepção educacional. O
objetivo educativo na experiência de Stans era a experimentação, a partir de idéias guias.
28
A precariedade do instituto, as condições sociais desfavorecidas, o grande número
de crianças e a sua heterogeneidade, as instabilidades políticas e a “incapacidade”
administrativa de Pestalozzi contribuíram para o fechamento do Instituto.
Pelas circunstâncias extremas de Stans, sozinho, pressionado por todos os lados,
querendo ao mesmo tempo provar ao mundo que era capaz de realizar algo e
incendiado pelo desejo de ajudar aquelas crianças, profundamente compadecido
por sua miséria, Pestalozzi se mostra inteiro, extravasa todos os seus sentimentos,
começa a dar forma a todas as suas intuições. Autenticidade absoluta é o caráter
básico de sua postura em Stans.( INCONTRI, 1996, p. 86)
Foi necessário um mês para criar as condições mínimas para iniciar o processo de
acolhimento e educação das crianças, procurando aplicar seus princípios sobre “(...) as
condições de miséria, ignorância e embrutecimento do povo local, até mesmo das crianças,
era algo pavoroso (...)” (INCONTRI, 2006, p.85). Todavia, longe de se impressionar e
imobilizar diante das circunstâncias desfavoráveis, Pestalozzi procurou eliminar os focos de
sujeira que causava doenças, apresentou uma administração justa e uma experiência
educativa inigualáveis. Igualmente, foi sobre estas condições que originou o método de
Pestalozzi. A educação moral surge como base da sua concepção educativa. Ao sistematizar
suas intuições e experimentá-las na prática, adaptando-as a realidade local, elaborou os
fundamentos do seu método.
Já, o Instituto de Yverdon, fundado em 1805, representa a maturidade pedagógica
de Pestalozzi, através da qual permitiu organizar seu método educativo e a sua propaganda
pela Suíça. Nesse Instituto, Pestalozzi colocou em prática todos os seus princípios
educativos e teve grande repercussão no âmbito educacional, desde a formação de
professores à reforma educacional prussiana.
O método do ensino mútuo foi criado para atender a educação do grande número de
crianças e jovens que ali se encontravam e o impedimento do atendimento único e
simultâneo. O ensino mútuo compreende a participação dos alunos mais velhos no processo
de ensino dos mais jovens. Esse método foi aliado à necessidade de democratização do
ensino para as classes trabalhadoras.
Sobre o ensino mútuo, Incontri (1996) diz que além de desenvolver as habilidades
pedagógicas dos próprios alunos (saíam todos praticantes do método pestalozziano), o
ensino mútuo estimula a colaboração, em vez da concorrência. A ausência de notas e
29
castigos diminui ainda mais qualquer possibilidade de competição. A cooperação mútua é a
essência das relações aluno-aluno.
O currículo do Instituto de Yverdon, segundo OLIVEIRA (2008), também
contemplava a gradação do conhecimento, partindo do simples ao complexo, do concreto
ao abstrato. As disciplinas eram, ainda segundo este material, “(...) educação física, canto,
escrita, modelagem, excursões ao ar livre e cartografia”.
Esse currículo permite compreender as bases para a educação dos três estados
propostos por Pestalozzi para a formação integral do homem: coração, mente e mãos.
1.4 – As Concepções de Pestalozzi
Pestalozzi, “(...) pressupõe o ‘desenvolvimento natural, progressivo
e sistemático de todas as faculdades humanas’. Em analogia aos
processos de germinação das sementes propõe a evolução
espontânea, natural e livre. O ensino, nessa perspectiva está
subordinado aos anseios e necessidades do sujeito que aprende”
(OLIVEIRA, 2008, p. 12)
A proposta educacional de Pestalozzi reflete um pouco da natureza do homem –
Rousseau – e a relevância do contexto social – História – que garantisse o bom
desenvolvimento do homem útil à sociedade, além deste ter autonomia moral para não ser
dependente. Nesse sentido, suas concepções apóiam-se no espírito cristão de formação do
homem, no amor materno e pedagógico e os princípios democráticos e sistematizados da
sua teoria, que respeita a natureza: método intuitivo, experimentação, do concreto ao
abstrato.
Nesse sentido, abaixo expomos as concepções de homem, educador/professor e
educando/criança, nos quais adentramos os reflexos das implicações da religião e do amor.
1.4.1 – Concepção de homem
Segundo OLIVEIRA (2008), a concepção da natureza do homem rousseaniana
influenciou a compreensão de Pestalozzi. Para este autor, o ser humano é como uma árvore,
na qual se desenvolve desde a semente até a formação complete que se assemelha a Deus.
30
Ao longo de sua obra educativa, Pestalozzi procura compreender a natureza do
homem segundo a sua natureza social, política e psicológica para empregar uma educação
que potencialize a natureza essencialmente boa adormecida na criança.
A natureza humana, despojada das circunstancias sociais e políticas, era a mesma e
a busca da sua felicidade, realização e satisfação, deveria ser um desejo coletivo da
humanidade. Pestalozzi acreditava na autonomia ilimitada do ser humano, a partir da qual o
“Homem, busca pela Verdade nessa ordem da Natureza e a encontrarás na forma em que
dela precisas, do teu ponto de vista, e para o caminho da tua vida” (Apud INCONTRI,
1996, p. 35). Assim, embora universal, a felicidade seria encontrada de forma particular em
cada homem, por isso a capacidade da formação integral dentro da percepção era
fundamental para capacitar os homens na educação dos sentidos.
1.4.2 – Concepção de Educador/Professor
(...) um dos princípios básicos a serem ambicionados pelos
professores [é] o desenvolvimento das capacidades em sintonia
com a aquisição do conhecimento. Esse fato pressupunha a
aprendizagem como um processo espontâneo resultante de uma
atividade livre, um produto vivo e original. (ZANATTA, 2005, p.
171)
Em suas obras, Pestalozzi destaca a importância do amor materno e da presença da
mãe na educação dos filhos desde a mais tenra idade. A ação da mulher, primeira
educadora da criança, é fundamental para o desenvolvimento da alma infantil.
Segundo Manacorda (2004), o amor materno é responsável pela concreticidade do
princípio da natureza: relação educativa, metodologia didática e contexto social. O amor
materno era o mais indicado, na visão de Pestalozzi, para auxiliar o homem, desde a mais
tenra idade, a dominar os instintos inferiores da esfera animal para elevar a natureza
humana à esfera espiritual.
Pela importância do amor materno no primeiro desenvolvimento da criança,
Pestalozzi procura intervir, atribuindo mais racionalidade ao amor materno. Por outro,
conferia maior amor a prática racional dos professores/educadores. É, nesse sentido, que
Pestalozzi não pode ser entendido apenas pela sua racionalidade, nem pelo sentimento de
amor que o dirigiu em sua prática.
31
Essa questão pode ser entendida pelo fato de que embora Pestalozzi julgue o amor
fundamental na aprendizagem das crianças, faz uma correção ao amor cego, procurando
adotar o “amor vidente”, ou seja, “A formação elementar da natureza humana é a formação
da espécie para o amor; obviamente, não para um amor cego, mas para o amor vidente”
(PESTALOZZI, apud INCONTRI, 2006, p.94). Em outros termos, é possível compreender
a introdução da racionalidade sobre o amor materno e o amor ao trabalho pedagógico,
como princípio de sua concepção, considerado por Pestalozzi como um sentido:
É natural que eu ponha como primeira condição o amor, que sempre comparecerá
espontaneamente – apenas eu gostaria de supô-lo diversamente moldado. Tudo o
que eu pediria a uma mãe seria que ela fizesse operar seu amor com a maior força
possível, e, todavia o regulasse com a reflexão. (PESTALOZZI, apud
INCONTRI, 2006, P.94)
E sintetizado por INCONTRI (2006, P.94) como: “Pestalozzi quer, por um lado,
emprestar mais racionalidade às mães e, por outro, mais amor aos educadores”.
A racionalidade introduzida no amor, seja materno, seja pedagógico, de sua teoria
pode ser compreendido intrinsecamente ao método por ele adotado. Assim, o amor está
presente no acompanhamento do desenvolvimento da criança, no estímulo que se dá a
criança em seu aprendizado. O objetivo desse amor racional é permitir a formação moral e
a autonomia do homem, com a finalidade do desenvolvimento integral do homem.
A influência da associação do desenvolvimento do homem a uma árvore permite a
Pestalozzi a fazer a analogia da vital ligação da mãe na mais tenra idade e do papel do
educador como um jardineiro para promover seu pleno desenvolvimento e evitando
quaisquer incômodos.
A associação do educador ou professor à imagem de um jardineiro se deve pela
compreensão que o desenvolvimento do ser humano ocorre ao longo da vida até chegar a
semelhança de Deus, cuja tarefa do educador é promover as condições favoráveis ao
crescimento do homem.
O longo processo de desenvolvimento da semente na formação da árvore é
transpassado no ensino do homem, indo do mais simples ao mais complexo, do concreto ao
abstrato. Nesse sentido, a percepção dos sentidos é a primeira instância para o seu
desenvolvimento, ou seja, a aprendizagem deve ser prática e visualizada na autoridade
moral do educador.
32
Dentro do princípio educativo de Pestalozzi, na qual toda criança deveria ter uma
educação integral: mente, coração e mãos; o professor e ou educador deveria compreender
o processo de aprendizagem por meio da experiência prática, da vivencia concreta do
aluno, o contato real com a natureza e seus objetos. Assim, segundo Zanatta, (2005), o
professor deveria buscar um material próprio para envolver o aluno em sua curiosidade
espontânea e auxiliá-lo na observação, na intuição e na representação.
1.4.3 – Concepção de Criança/Educando
O aluno, seja qual for a classe social a que pertença e a profissão a
que esteja destinado, participa de certos elementos da natureza
humana que são comuns a todos e constituem o fundamento das
forças humanas”. (PESTALOZZI, Apud ZANATTA, 2005, p.169)
Segundo Incontri (2008), o método pestalozziano considera a criança, desde o seu
nascimento, pela sua natureza humana, espiritual e moral. A criança, portanto, é vista como
“(...) uma força real, viva, ativa por si mesma” página 45.
Pestalozzi, seguindo as idéias de Rousseau quanto à natureza eminentemente boa da
criança, desenvolveu uma prática pedagógica que promovesse o desenvolvimento
harmonioso do aluno.
Sua concepção de educação alertava a necessidade do desenvolvimento integral do
ser humano, independente da classe social ou profissão. Todas as crianças deveriam ser
educadas.
Assim, a criança, para Pestalozzi, necessitava de uma educação integral e orgânica
de todas as capacidades da sua natureza através do desenvolvimento dos aspectos da
educação da mente, do coração e da mão. Os aspectos indicados aqui foram explicitados no
item “Educação Ativa” deste trabalho.
33
2 – PEDAGOGIA ESPÍRITA
A Pedagogia Espírita se apóia nos princípios da Doutrina Espírita. A partir destes
fundamentos se estrutura sua proposta educacional que visa atender acima de tudo o
Homem, entendido como Espírito, em todos os seus atributos, sendo estes: o pensamento, a
vontade, a centelha divina, a consciência e a vibração. A Educação do Espírito é o cerne da
proposta espírita.
Seus princípios educacionais se relacionam com as descobertas que a natureza
expressa, aproximando o homem de sua natureza íntima.
A Pedagogia Espírita, baseada nas obras de Allan Kardec, recebeu contribuições
importantes de grandes pedagogos que antecederam o Espiritismo. Podemos citar na
Antiguidade, Sócrates e Platão, depois Comenius no Século XVII e Rousseau e Pestalozzi.
Todos influenciaram na elaboração da proposta pedagógica espírita.
Por tratar-se de uma proposta pedagógica alicerçada no Espiritismo, se faz
necessário expor um breve histórico desta religião, bem como seus principais fundamentos,
para que assim possamos compreender a proposta da Pedagogia Espírita.
2.1 – Breve histórico do Espiritismo
A Ciência e a Religião não puderam entender-se até agora, porque,
encarando cada uma as coisas do seu ponto de vista exclusivo,
repeliam-se mutuamente. Era necessária alguma coisa para
preencher o espaço que as separava, um traço de união que as
ligasse. Esse traço está no conhecimento das leis que regem o
mundo espiritual e suas relações com o mundo corporal, leis tão
imutáveis como as que regulam o movimento dos astros e a
existência doa seres. Uma vez constatada pela experiência dessas
relações, uma nova luz se fez: a fé se dirigiu à razão, esta nada
encontrou de ilógico na fé, e o materialismo foi vencido.
(Evangelho Segundo Espiritismo, 2002, p. 41)
O mundo no século XIX presenciou acontecimentos que foram tomados como
fenômenos e, tais fenômenos, agitaram a Europa. As mesas giravam, objetos de diversos
tamanhos se movimentavam sozinhos, pessoas levitavam. Nos salões elegantes, após os
saraus, as mesas eram alvo de curiosidade e de extensas reportagens. Esse furor todo
34
chamou a atenção de um pesquisador francês sério, discípulo do célebre Johann Pestalozzi:
Hippolyte Leon Denizard Rivail.
É no Instituto de Yverdon que Rivail entra em contato com o pensamento do
educador Pestalozzi. Rivail foi matriculado em Yverdon aos 11 anos e aos 19 anos
considerava-se discípulo e propagador do método pestalozziano. Sobre esta ligação
podemos ressaltar:
A comprovação histórica da filiação de Rivail a Pestalozzi, como discípulo e
continuador de suas idéias na área da educação, permite-nos, portanto, estabelecer
comparações entre os dois grandes mestres e analisar a influência que o segundo
exerceu sobre o primeiro (INCONTRI, 2008, p. 43)
O pedagogo francês, fluente em diversos idiomas, autor de livros didáticos e adepto
de rigoroso método de investigação científica não aceitou de imediato os fenômenos das
mesas girantes, porém estudou-os atentamente, enquanto as manifestações chamavam a
atenção na Europa, o discípulo de Pestalozzi investigava o assunto através da mediunidade5
de duas filhas de um amigo, que tinham menos de 14 anos. Ele controlou a atividade das
médiuns com uma longa série de perguntas e, desse modo, em dois anos observou e
constatou que uma força inteligente as movia e investigou a natureza dessa força, que se
identificou como os “Espíritos dos homens” que haviam morrido. Rivail fez centenas de
perguntas aos Espíritos, analisou as respostas, comparou-as e codificou-as6, tudo
submetendo ao crivo da razão, não aceitando e não divulgando nada que não passasse por
5
Mediunidade é definida no Dicionário Aurélio como: sf. Condição de médium; médium: s2g. Esp.
Intermediário entre os vivos e a alma dos mortos.
Segundo o Espiritismo Mediunidade é o nome atribuído a uma faculdade que permitiria a comunicação entre
espíritos encarnados (vivos) e espíritos desencarnados (mortos). Dentro dessa concepção, ela se manifestaria
de forma mais ou menos ostensiva em todos os indivíduos. Porém, usualmente apenas aqueles que a
apresentassem num grau mais perceptível seriam chamados médiuns.
Maiores informações sobre a comunicação entre encarnados e desencarnados podem ser encontradas no Livro
dos Médiuns de Allan Kardec.
6
Segundo o Dicionário Aurélio Codificar é: v.t. Reunir em código; código (2) Conjunto metódico e
sistemático de disposições relativas a um assunto.
Segundo a Enciclopédia livre Wikipédia Codificação significa a modificação de características de um sinal
para torna-lo mais apropriado para uma aplicação específica, como por exemplo, transmissão ou
armazenamento de dados.
35
esse crivo. Desse modo teve origem O Livro dos Espíritos e o professor Rivail imortalizouse adotando o pseudônimo de Allan Kardec.
A Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec tem caráter científico, religioso e
filosófico. Esta proposta de aliança da Ciência com a Religião está expressa em uma das
máximas de Kardec (1997), no livro “A Gênese” em que esclarece que o espiritismo,
marchando com o progresso, jamais será ultrapassado porque, se novas descobertas
demonstrassem estar em erro sobre um certo ponto, ele se modificaria sobre esse ponto; se
uma nova verdade se revelar, ele a aceitará.
No Brasil, o Espiritismo chegou em 1865, depois de intensa divulgação na Europa
do século XIX. Atualmente o país é o que reúne o maior número de espíritas em todo o
mundo, com 2,3 milhões de espíritas, de acordo com o Censo 2000, realizado pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Terceiro maior grupo religioso do País, os
espíritas são, também, o segmento social que têm maior renda e escolaridade, segundo os
dados do mesmo Censo.
A menção da palavra espiritismo, atualmente em nosso país, leva muitas pessoas a
conceber uma imagem equivocada. De uma maneira geral, tende-se a uma confusão, ou
podemos dizer fusão de conceitos. Espiritismo é tomado como mesma religião trazida da
África pelos negros que foram escravizados pelos portugueses, religião esta, denominada
Candomblé e também a igualdade de conceitos quanto a outra religião que se originou da
fusão entre Catolicismo e Candomblé que é a Umbanda. Essas duas religiões de origem
africana têm diferenças substanciais em relação ao Espiritismo.
O Espiritismo, não possui dogmas, não tem sacerdotes e não adota e nem usa em
suas reuniões e em suas práticas: altares, imagens, andores, velas, procissões, sacramentos,
concessões de indulgência, paramentos, bebidas alcoólicas ou alucinógenas, incenso, fumo,
talismãs, amuletos, horóscopos, cartomancia, pirâmides, cristais ou quaisquer outros
objetos, rituais ou formas de culto exterior.
As obras de Allan Kardec têm altas tiragens editoriais, até então já venderam mais
de 20 milhões de exemplares em todo o país. Se forem contabilizados os demais livros
espíritas, todos decorrentes das obras de Allan Kardec, o mercado editorial brasileiro
espírita ultrapassa 4.000 títulos já editados e mais de 100 milhões de exemplares vendidos.
36
No Brasil, houve um processo de massificação do Espiritismo. Centros, Federações,
instituições diversas atendem diariamente a milhares de pessoas em todo o país. Com isso,
a Doutrina penetrou em todas as camadas da sociedade e multiplicou adeptos e
simpatizantes.
Há também no país testemunhos e exemplos notáveis de dedicação à
Doutrina, dentre diversos nomes, podemos destacar o médico carioca Bezerra de Menezes,
o educador Eurípedes Barsanulfo, Chico Xavier, Corina Novelino, Herculano Pires, Inácio
Ferreira, Maria Modestos, entre outros7.
2.2 – Principais fundamentos espíritas
Ele nada ensina contrário ao ensinamento do Cristo,
mas o desenvolve, completa e explica, em termos claros
para todos, o que foi dito sob forma alegórica. Ele vem
cumprir, na época predita, o que o Cristo anunciou, e
preparar o cumprimento das coisas futuras. Ele é,
portanto, obra do Cristo, que o preside, assim como
preside ao que igualmente anunciou: a regeneração
que se opera e que prepara o Reino de Deus sobre a
terra. (Evangelho Segundo Espiritismo, 2002, p.40)
Em primeira instância recorremos a definição dos vocábulos bases para melhor
entender o conceito e os fundamentos adotados pela Doutrina Espírita. A palavra espírito
segundo o Aurélio procede do latim spiritu, e designa a parte imaterial do se humano, alma.
Já a palavra alma, também do latim anima, designa princípio de vida, entidade a que se
atribuem, por necessidade de um princípio de unificação, as características essenciais vida e
ao pensamento: as faculdades da alma, princípio espiritual do homem concebido como
separável do corpo e imortal, o conjunto das funções psíquicas e dos estados de consciência
do ser humano que lhe determina o comportamento, embora não tenha realidade física ou
material; espírito: Seu estado de alma sempre lhe transparece nos olhos, Espírito
desencarnado, índole ou caráter de um indivíduo ou de um grupo de indivíduos: alma bemformada; a alma brasileira.
7
Maiores informações sobre a história do Espiritismo podem ser encontradas no livro de Arthur Conan Doyle
intitulado “A História do Espiritismo”.
37
E por fim, Espiritismo, do francês espiritisme, doutrina baseada na crença da
sobrevivência da alma e da existência de comunicações, por meio da mediunidade, entre
vivos e mortos, entre os espíritos encarnados e os desencarnados.
A religião Espírita é o conjunto de princípios e leis, revelados pelos Espíritos
Superiores, contidos nas obras de Allan Kardec que constituem a Codificação Espírita: O
Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o
Inferno e A Gênese. É o Espiritismo uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos
Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal.
Segundo as afirmações de Kardec (1997) o Espiritismo realiza o que Jesus disse do
Consolador prometido: o conhecimento das coisas, fazendo que o homem saiba donde vem,
para onde vai e por que está na Terra, ou seja, os objetivos da existência do homem, e a
razão da dor e do sofrimento, atenta para os verdadeiros princípios da lei de Deus e consola
pela fé e pela esperança.
Contém a Doutrina Espírita os conceitos sobre o homem e tudo o que o cerca, o
Espiritismo toca em todas as áreas do conhecimento, das atividades e do comportamento
humanos, abrindo uma nova era para a regeneração da Humanidade, pode, por seu enfoque
também científico ser estudado, analisado e praticado em todos os aspectos fundamentais
da vida, envolvendo, por isso, o filosófico, o religioso, o ético, moral, educacional e o
social.
O que o Espiritismo nos confere é um deslocamento da escala de valores, pela
simples projeção de nossos ideais e de nossa visão à evolução infinita do Espírito.
(INCONTRI, 2004 p.217)
Detém em seus ensinamentos fundamentais o conceito de Deus como sendo a
inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas. Segundo Kardec (1997) é eterno,
imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom.
A crença na vida eterna que ilustra a vida após a morte, a imortalidade do espírito e
a pluralidade da existência.
Quanto à origem do Universo, este é criação de Deus e abrange todos os seres
racionais e irracionais, animados e inanimados, materiais e imateriais.
38
Com relação a existências de outros mundos, esclarece que além do mundo
corporal, habitação dos Espíritos encarnados, que são os homens, existe o mundo espiritual,
habitação dos Espíritos desencarnados.
O Espiritismo também descreve quanto às leis da Natureza e a elas atribui caráter
divino, pois que Deus é o seu autor. E por isso, esse caráter também se estende tanto as leis
físicas como as leis morais.
O homem na Doutrina Espírita é tomado como constituído de um corpo material, ou
seja, homem encarnado e perispírito que é o corpo semimaterial que une o Espírito e carne,
entendendo que com a morte prevalece o espírito. Também é o Espírito mescla de
sentimentos e está imbuído de cinco atributos: pensamento, vontade, centelha divina,
vibração e consciência.
A sua reencarnação guarda uma finalidade que consiste na evolução que demanda
diversas existências. A cada existência o se espiritual acumula uma bagagem de
experiências que pode se refletir em tendências, vícios, virtudes e memória. Esta última
permanece em nova existência em estado de inércia, visto que o espírito quando no corpo
guarda apenas vaga lembrança de existências anteriores e isso tudo se reflete em seu
comportamento, gostos e hábitos.
Os Espíritos são os seres inteligentes da criação. Constituem o mundo dos Espíritos,
que preexiste e sobrevive a tudo. Assim são os Espíritos criados simples e ignorantes.
Evoluem, intelectual e moralmente, passando de uma ordem inferior para outra mais
elevada, até a perfeição, onde gozam de inalterável felicidade.
Os Espíritos preservam sua individualidade, antes, durante e depois de cada
encarnação e reencarnam tantas vezes quantas forem necessárias ao seu próprio
aprimoramento, evoluindo. Evoluem sempre.
A evolução, ao contrário do que muitos pensam, é um processo de
individualização. Quanto mais progredimos, mais somos nós mesmos, originais,
únicos, com talentos e virtudes singulares. (INCONTRI, 200 p.46)
Porém em suas múltiplas existências corpóreas podem estacionar, mas nunca
regridem. Nessas diversas existências, se faz necessário destacar que a escolha do sexo
39
corporal que o espírito adotará, ocorrerá a partir dos objetivos existenciais traçados na
busca de sua evolução.
Segundo Kardec (1997) o sucesso e a rapidez da evolução de um espírito depende
do seu progresso intelectual e moral segundo os esforços que faça para chegar à perfeição. .
Os Espíritos pertencem a diferentes ordens, conforme o grau de perfeição que tenham
alcançado. Existem os Espíritos Puros, que atingiram a perfeição máxima, os Bons
Espíritos, nos quais o desejo do bem é o que predomina e os Espíritos Imperfeitos,
caracterizados pela ignorância, pelo desejo do mal e pelas paixões inferiores.
Quanto às relações entre espíritos encarnados e desencarnados declara a doutrina
espírita que elas são constantes e sempre existiram. Os bons Espíritos nos atraem para o
bem, sustentam-nos nas provas da vida e nos ajudam a suportá-las com coragem e
resignação. Os imperfeitos nos induzem ao erro.
O homem reencarna segundo uma planificação estudada e estruturada no “plano
espiritual”. Nesse plano estão definidos pontos básicos de sua existência, como família,
condição social, ambientação, profissão, etc... Porém goza o homem do livre-arbítrio para
agir, mas responde pelas conseqüências de suas ações. E virão em sua vida futura que pode
reservar aos homens penas e gozos compatíveis com o procedimento de respeito ou não à
Lei de Deus.
No Espiritismo configura-se a comunicação entre o mundo dos espíritos e o mundo
dos espíritos encarnados através do recurso da mediunidade, que permite a comunicação
dos Espíritos com os homens, é uma faculdade que todos os seres humanos trazem consigo
ao nascer, independentemente da religião ou da diretriz doutrinária de vida que adotem e
que se revela mais ou menos intensa conforme o propósito a que o se esta destinado.Prática
mediúnica espírita só é aquela que é exercida com base nos princípios da Doutrina Espírita
e dentro da moral cristã.
Demandado breve esclarecimento com relação a esse item que configura objeto de
pesquisa e observação desse estudo basta anotar também e por fim que o Espiritismo é uma
religião cristã, pois abraça os conceitos fundamentados por Jesus Cristo, este é o guia e
modelo para toda a Humanidade e o que ensinou e exemplificou é a expressão mais pura da
Lei de Deus. A moral do Cristo, contida no Evangelho, é segundo a codificação de Allan
Kardec o roteiro para a evolução segura de todos os homens, e a prática dessa moral
40
exemplificada por Jesus Cristo é a solução para todos os problemas humanos e o objetivo a
ser atingido pela Humanidade8.
2.3 – Iniciativas na Pedagogia Espírita no Brasil
Diferentes educadores influenciaram na construção da proposta de Educação Espírita,
mas a Prática da Pedagogia Espírita começou no Brasil com Eurípedes Barsanulfo, em
Minas Gerais, no começo do Século XX.
2.3.1.- Eurípedes Barsanulfo – O educador pioneiro
Eurípedes não era mestre na escola e homem comum no cotidiano.
Era mestre permanente dos valores espirituais que irradiava de si.
E, na sala de aula, não era apenas professor das matérias, que
ensina brilhantemente – era exemplo e modelo moral, despertando
a consciência dos alunos para o progresso espiritual. (INCONTRI,
2004, p.94)
Eurípedes Barsanulfo (1880-1918), foi educador na cidade de Sacramento em Minas
Gerais. Presidia a escola Liceu Sacramentano, mas após sua conversão ao espiritismo,
ocorrida em 1907, fechou o Liceu e fundou o Colégio Allan Kardec, incluindo no currículo
da escola anterior, aulas de Fundamentos da Doutrina Espírita e o curso de Astronomia.
Eurípedes destacou-se desde cedo para a função do magistério sendo imbuído de
colaborar com o ensino de seus colegas de classe a pedido do seu mestre-escola e, também,
de líder natural pela segurança de seus princípios.
Logo após conhecer os princípios do espiritismo através das obras de Allan Kardec,
suprindo suas dúvidas e convencendo-se dos princípios e ideais de formação desta corrente,
converte-se e funda o Liceu e, depois, o Colégio sob a orientação dos seus ideais de
educação do espírito. Introduz, no currículo escolar, disciplinas sobre o espiritismo.
8
Maiores elucidações sobre os Princípios da Doutrina Espírita podem ser encontradas nas cinco obras básicas
codificadas por Allan Kardec
41
Embora tenha sofrido perseguições, torna-se o principal difusor das idéias
educacionais do espiritismo e a fundação do Colégio Allan Kardec, em 1907, torna-se uma
referência nacional.
2.3.1.1. -Currículo
No Colégio Allan Kardec funcionavam três cursos: Elementar, Médio e Superior,
em salas mistas, ou seja, meninos e meninas estudavam numa mesma sala, quebrando as
diretrizes oficiais que determinavam horários específicos para os alunos do sexo masculino
e feminino. A separação dos sexos da escola tem como objetivo evitar o pecado sexual
oriundo da concepção religiosa do período. Eurípedes avança9 em seu tempo introduzindo,
na organização escolar, as salas mistas como elementos do pensamento progressista. Isso
também está de acordo com os princípios espíritas, uma vez que o espírito não possui os
atributos sexuais masculinos ou femininos do corpo, conforme visto no . item 2.2.
O currículo do Colégio era composto pelas disciplinas no curso Elementar:
Aritmética Prática e Teórica, Morfologia da Língua Portuguesa, História do Brasil,
Geografia do Brasil.
No curso Médio: Aritmética e Geometria, História do Brasil e Universal, Geografia
Geral, Noções de Vida Prática, Ciências Naturais e Gramática Portuguesa.
O curso Superior tinha como disciplinas: Português, Francês, Geometria, História
Universal, Cosmografia, Física e Química.
Os cursos de Astronomia, Fundamentos da Doutrina Espírita, Botânica e a Zoologia
faziam parte do currículo dos três cursos oferecidos pela escola.
A promoção de um aluno podia fazer-se mesmo no primeiro semestre, segundo o
aproveitamento registrado pelo mesmo.
As aulas de Fundamentos da Doutrina Espírita aconteciam às quartas-feiras. A
apresentação do Evangelho de Jesus como uma norma ética ao pensamento e aos atos
realizados, era motivada pela intenção de trabalhar o pensamento, alcançando o
Segundo Incontri (2004), a introdução da co-educação por Eurípedes causou escândalo na época e na região
de Sacramento, tendo pouquíssimos antecedentes deste pensamento progressista na área de educação.
9
42
entendimento das palavras de Jesus quanta à vigilância mental e criação de novas idéias e
quadros mentais.
2.3.1.2. -O Método em Eurípedes
Eurípedes conduziu seu trabalho dentro da metodologia de Pestalozzi. Sua proposta
era demonstrar a grandiosidade da natureza e identificar nela os elementos básicos de
equilíbrio do corpo e do Espírito, dinamizar o pensamento e a percepção pela observação
constante, lógica e dedutiva, promovendo a ação experimentadora dos acontecimentos
palpáveis da vida, levando a compreender os fatos subjetivos que se desenrolam na
intimidade do Ser.
Trabalhava com experiências, com passeios e aulas ao ar livre em contato direto
com a natureza (havia no Colégio um jardim com diversos tipos de flores cultivadas pelo
professor e mantidas pelos alunos). Utilizava a arte, principalmente do teatro e da música
como recurso pedagógico, mas também como forma de sensibilização, estímulo da
percepção e do contraste. Buscava modificar não apenas a estrutura intelectual de seus
alunos, mas principalmente seus sentimentos. Estimulava a reflexão de seus alunos, sempre
os levando a questionarem o porquê de tudo.
Estimulava o exercício da caridade, do auxílio ao próximo, através de visitas aos
enfermos, campanhas de doação de alimentos e na realização do Evangelho no domicílio
daqueles que procuravam o Colégio em busca de auxílio. Alguns doentes ficavam dias
alojados dentro do Colégio e os alunos ajudavam com os cuidados para com eles. É
importante ressaltar que nenhum aluno era obrigado a realizar tais tarefas, ou avaliado por
isto. Eram apenas convidados, eram estimulados para a realização do bem. O Professor
ensina a prática do bem pela própria prática, não penas com discursos.
Outro ponto essencial na metodologia de Eurípedes era sua relação com seus
alunos:
Numa fase em que a palmatória era voz mais que ativa, no ambiente escolar,
dominando as mais difíceis situações, mas, afastado mais e mais o aluno do
professor, Eurípedes inaugurou a era do entendimento e do diálogo.(NOVELINO,
1987, p.116)
43
O professor aboliu os castigos, respeitava seus alunos e tratava todos com afeto e
doçura. Era exigente, firme, mas sem dureza de coração. Eurípedes era o exemplo vivo de
tudo que ensinava.
2.3.2- Outros Colaboradores da Pedagogia Espírita.
Essa a estrada pela qual temos procurado, com esforço, fazer que o
Espiritismo enverde. A bandeira que levantamos bem alto é a do
Espiritismo cristão e humanitário”.(O Livro dos Médiuns, Cap
XXIX, item 350)
Além de Eurípedes Barsanulfo, o educador pioneiro da Pedagogia espírita, pode-se
citar alguns nomes que colaboraram e ainda colaboram com este ideal, dentre eles:
Anália Franco (1853-1919) educadora, espírita, feminista, abolicionista e republicana.
Apesar de ser precursora de Eurípedes Barsanulfo, e de nunca ter fundado uma escola
propriamente espírita ou ensinado os Fundamentos da Doutrina a seus alunos, sua visão
como educadora foi norteada por tais princípios, influenciando assim sua prática
pedagógica. Fundou 100 lares para abrigar crianças carentes, dando abrigo, educação e
profissionalização aos alunos e às suas mães (muitas delas, mães solteiras, que só teriam a
alternativa da prostituição).
Logo após a lei de ventre livre, dedica-se a educar as crianças negras, que eram
marginalizadas nas fazendas; depois, com grande escândalo social, promove a inclusão das
mulheres no mercado de trabalho, pregando a autonomia feminina, entre as mulheres que
eram consideradas caídas, pelas rígidas convenções do período.
Tomás Novelino (1901-2000), discípulo de Anália e Eurípedes, fundou uma fábrica
de sapatos, em Franca, cuja renda era toda destinada à manutenção de três escolas da
Fundação Pestalozzi. Conseguiu com isso, relativa estabilidade financeira durante 50 anos,
chegando a atender mais de 2000 crianças, com escola e alimentação.
Junto com Corina Novelino (1912-1980), também educadora, fundou em 1975 a
Escola Eurípedes Barsanulfo, em Sacramento-MG dando continuidade ao trabalho iniciado
por Eurípedes no Colégio Allan Kardec.
Desde 1990 a Escola Eurípedes Barsanulfo é dirigida por Alzira B.F. Amui,
educadora e sobrinha-neta de Barsanulfo. A escola tem como base pedagógica a Pedagogia
44
Espírita, a Pedagogia do Amor e a Evangelização de Espíritos. Esta instituição atende
aproximadamente 300 crianças, gratuitamente e é mantida com recursos filantrópicos e com
a ajuda da Prefeitura Municipal de Sacramento10.
No currículo desta escola, assim como no currículo do Colégio Allan Kardec, estão
presentes os Fundamentos da Doutrina Espírita, e sua metodologia também se utiliza das
artes e da exploração da natureza. O aprender está baseado no ouvir, experimentar,
observar, sentir, interagir, ente outros.
José Herculano Pires (1914-1979), mestre em Filosofia pela USP em 1958, foi
professor universitário, diretor de sindicato de escritores, membro da academia Paulista de
Jornalismo, ente outros. Foi jornalista, repórter, redator, secretário, cronista parlamentar e
crítico literário dos Diários Associados. Exerceu essas funções por cerca de trinta anos.
Autor de 81 livros de Filosofia, Ensaios, Histórias, Psicologia, Pedagogia,
Parapsicologia, Romances e Espiritismo, vários em parceria com Chico Xavier, sendo a
maioria inteiramente dedicada ao estudo e divulgação da Doutrina Espírita.
Espírita desde a idade de 22 anos não poupou esforço na divulgação falada e escrita
da Doutrina Codificada por Allan Kardec, tarefa essa à qual dedicou a maior parte da sua
vida. Herculano traduziu cuidadosamente as obras da Codificação Kardecista
enriquecendo-as com notas explicativas nos rodapés.
Durante 20 anos manteve uma coluna diária de Espiritismo nos Diários Associados
com o pseudônimo de Irmão Saulo. Por quatro anos manteve no mesmo jornal uma coluna
em parceria com Chico Xavier sob o título "Chico Xavier pede Licença". Foi Diretor
fundador da revista "Educação Espírita" publicada pela Edicel.
Uma de suas 81 obras foi o livro A Pedagogia Espírita, onde disserta sobre o tema,
afirmando entre outras coisas, que o Livro dos Espíritos é um manual de Educação
Integral.
Dentre muitos outros, escolhi por último Dora Incontri, jornalista de formação, mas
dedica-se atualmente aos ideais da Pedagogia Espírita.
Escreveu sua primeira obra sobre o tema em 1984, intitulada A Educação da Era
Nova, quando ainda era estudante de Jornalismo. Após a graduação trabalhou alguns anos
10
Maiores informações sobre o trabalho realizado na escola Eurípedes Barsanulfo podem ser encontradas na
coleção “Evangelização de Espíritos” da Editora Esperança e Caridade.
45
na área escrevendo para jornais como O Estado de São Paulo e o Jornal da Tarde sobre
Educação.
Cursou seu mestrado na Universidade de São Paulo em História e Filosofia da
Educação. Sua tese de mestrado transformou em 1996 em seu segundo livro intitulado
Pestalozzi, Educação e Ética.
Durante sete anos, trabalhou no Colégio Nova Era em São Paulo, como consultora
pedagógica, dando aulas de filosofia para crianças e realizando projetos interdisciplinares
envolvendo alunos, pais e professores.
Em 2001, doutorou-se também pela USP com a tese Pedagogia Espírita - um projeto
brasileiro e suas raízes históricas. No mesmo ano lançou sua obra mais conhecida A
Educação Segundo o Espiritismo.
Em 2002 e 2003 dedicou-se ao projeto de pós-doutorado, ainda pela USP, com o
tema: Ética, filosofia, religião e artes – entre o plural e o universal – um projeto
interdisciplinar em escola pública.
É sócia-fundadora da editora Comenius. Viaja o Brasil dando cursos e palestras sobre
a Pedagogia Espírita.
Atualmente é presidente da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita (ABPE).
2.3.2.1 – Associação Brasileira de Pedagogia Espírita (ABPE)
A ABPE é hoje maior centro de divulgação deste ideal e está sediada na cidade de
Bragança Paulista, interior do Estado de São Paulo.
Desde o ano de 1998, iniciou-se um movimento em torno da Pedagogia Espírita,
liderado por Dora Incontri, com o apoio da Editora Comenius. Nesta época foi fundada uma
entidade antecessora da ABPE – o Instituto Espírita de Estudos Pedagógicos, com a
participação de Júlia Nezu e Pedro Nakano. Livros e cursos a respeito da Pedagogia
Espírita foram lançados pela Editora Comenius e por esse Instituto. Um desses cursos foi o
que se instalou desde 1999 na Universidade Santa Cecília de Santos, como extensão
universitária, com a ajuda do médico Dr. José Nilson Nunes Freire e o apoio da reitora Drª
Lúcia Teixeira.
O grupo de professores e alunos das duas turmas de extensão em Pedagogia Espírita
46
(1999-2000) reuniu-se em 2004 com a proposta de fazer um Congresso de Pedagogia
Espírita.
Nessa ocasião, o antigo Instituto já estava desfeito e foi a Editora Comenius que
liderou o I Congresso Brasileiro de Pedagogia Espírita, realizado na Universidade Santa
Cecília, com a participação de mil congressistas, em maio de 2004.
Depois desse sucesso, o mesmo grupo se reuniu e fundou em 28 de agosto de 2004,
a Associação Brasileira de Pedagogia Espírita.
Desde então, a ABPE tem levado à frente projetos de pesquisa, divulgação, ensino e
prática da Pedagogia Espírita, destacando-se o curso de pós-graduação em Pedagogia
Espírita, em parceria com a Universidade Santa Cecília e com a Faculdade Espírita Bezerra
de Menezes de Curitiba. Além disso, organiza Congressos Nacionais a cada dois anos. Os
dois últimos realizados foram: 2º Congresso Brasileiro de Pedagogia Espírita – Diálogos,
verticalidade e práxis (2006 – Unisanta - Santos); 3º Congresso Brasileiro de Pedagogia
Espírita – Um projeto de inclusão integral (2008 – Uni Ítalo – SP).
A ABPE é uma entidade sem fins lucrativos, constituída por associados fundadores,
efetivos e colaboradores. Qualquer pessoa com idéias afins a proposta da Pedagogia
Espírita pode associar-se. Seu quadro associativo é composto por profissionais de diversos
ramos e de diferente grau de escolaridade, como: professores, médicos, jornalistas, artistas,
engenheiros, administradores, arquitetos, advogados, donas de casa, estudantes, etc.
Os associados fundadores e efetivos têm poder de voto e são elegíveis (para se
tornar efetivo, é preciso estar pelo menos há seis meses colaborando ativamente com a
ABPE e ser aceito pela Assembléia geral).
Os associados colaboradores têm acesso especial ao site da Instituição, às
Publicações e descontos em Eventos, Congressos, Cursos, livros e DVDs, promovido e
elaborados pela mesma.
Associados fundadores, efetivos e colaboradores contribuem mensalmente (ou
anualmente) para a manutenção da ABPE, mediante taxa estabelecida em assembléia geral.
A administração atual (2006-2008) é composta dos seguintes membros: Dora
Incontri – Coordenadora Geral; Alessandro César Bigheto11 - Coordenador Pedagógico;
11
Pedagogo, mestre em História, Filosofia e Educação pela Unicamp, autor de livros sobre educação e
didáticos. Franklin Santana Santos (em exercício) médico, doutor em Medicina pela USP, pós-doutor em
47
Cláudia Souza de Martino Mota12 - Coordenadora Administrativa; Roberto Colombo13 Coordenador Financeiro; Liliam Lungarezi14 - Coordenadora de Comunicação.
A Associação têm como objetivos principais: estudar, pesquisar e divulgar a
Pedagogia Espírita; incentivar a pesquisa na área da Educação; integrar o conhecimento da
Pedagogia Espírita com outras áreas de conhecimento; aplicar na prática a Pedagogia
Espírita, fundando escolas com sua própria receita ou em parceria com outras entidades,
escolas, universidades e associações afins; promover grupos de estudos, Cursos, Simpósios,
Conferências, Congressos e Publicações para divulgação de suas atividades; dar assessoria
a escolas, centros e grupos de professores ou pais que desejem colocar em prática propostas
inspiradas na Pedagogia Espírita; incentivar a formação de associações regionais, estaduais
ou municipais e coligá-las.
2.4 – Concepção de Criança
Toda criança é um mundo espiritual em construção ou reconstrução,
solicitando material digno a fim de consolidar-se. Abençoada é a
mão que educa e corrigi. (AMUI, 2003, p. 46)
Partindo da concepção da natureza do Homem como ser integral, cuja natureza
apresenta três âmbitos indissociáveis: experiências encarnadas, personalidade com
tendências inatas e não deterministas e, por último, características biológicas da espécie
humana. A evolução da criança perpassa estes âmbitos. A importância da infância e a sua
concepção estão aí representadas.
Nessa concepção, a criança necessariamente passa por estas fases a fim de evoluir o
espírito.
Disso se conclui que o desenvolvimento da criança é um processo triplo: a
formação de uma nova personalidade espiritual, condicionado pelo
Psicogeriatria pelo Instituto Karolinska na Suécia, autor de livros sobre espiritualidade e saúde. Pós-graduado
em Pedagogia Espírita.
12
Professora, formada em Letras, pela UNESP, pós-graduada em Pedagogia Espírita.
13
Engenheiro, doutor em Administração pela Fundação Getúlio Vargas, consultor.
14
Designer e artista plástica, pós-graduanda em Criação em meios eletrônicos pelo Senac.
48
desenvolvimento biológico. Daí a interação desses aspectos é que vai resultar o
homem adulto. (INCONTRI, 2004, p. 34)
Sobre estes aspectos, pode-se compreender os três âmbitos da natureza, como
demonstrado abaixo:
1. Experiência encarnada: também denominada com “bagagem existencial”,
adormecida na infância (amnésia temporária), o que representa a importância da
educação pelo espírito;
2. Personalidade com Tendência Inata e Não Determinista: ao encarnar, o espírito traz
consigo algumas tendências que devem ser trabalhadas, pois são inconscientes. A
importância da educação é justamente em trabalhar as tendências que devem ser retrabalhadas e trabalhar para a elevação do espírito;
3. Características Biológicas da Espécie Humana: mantêm-se em cada encarnação a
conformação biológica da espécie, mesmo considerando os instintos animais.
A evolução do homem em sua potencialidade é movida pelo espírito, segundo a
qual a educação moral e religiosa é a base da educação. O espírito é o responsável pelo seu
desenvolvimento, todavia, o período de dormência necessita de uma educação,
principalmente na infância, para auxiliá-lo em sua evolução física, psíquica, emocional e
social. A infância representa um novo quadro de referências e experiências novas que
contrapor-se-ão a sua bagagem existencial.
Em outros termos, Incontri (2004) apresenta o conceito de criança como uma
personalidade, embora nova em termos de experiência, traz tendências inatas de sua
experiência anterior. Estas tendências, que permitem definir os traços de personalidade,
devem ser trabalhadas desde a mais tenra idade. As novas e as antigas tendências se cruzam
em aprendizagens.
A esse respeito, Amui (2007) escreve:
Desde a infância o Espírito deve ser estimulado a entender que suas ações são
movidas pela força do pensamento e de seus sentimentos. O sentimento é energia
que parte do pensamento, dá corpo às idéias, mobiliza a vontade e ativa os liames
da consciência, numa conexão com o livre arbítrio. A vontade é o pensamento
dinamizado em sua força motriz. O sentimento mobiliza a vontade dando
velocidade ao pensamento. p. 35
49
A aprendizagem, a partir da reflexão entre as antigas e novas experiências, deve ser
estimulada na criança. Para a Pedagogia do Espírito, é de fundamental importância
promover múltiplas oportunidades para que a criança reflita e faça suas escolhas movidas
pelo pensamento reflexivo e pelos sentimentos. A ação consciente é a escolha do espírito.
Estas múltiplas oportunidades estimuladas garantem a formação da personalidade
nesta experiência encarnada atual. O ambiente e os estímulos recebidos são muito
importantes, pois as influências externas são absorvidas intensamente. O ambiente novo
exige aprendizado da cultura e o reaprendizado, resgate e novo repertório da vida. Os
estímulos positivos recebidos na infância são o ponto alto da Pedagogia do Espírita, como
também os estímulos negativos, pois ambos influenciam o progresso espiritual.
Em suma, para a Pedagogia Espírita, a infância é a melhor época para se trabalhar as
tendências e elevar o espírito.
O período infantil é um período muito sério, porque então o homem, ainda não
aparelhado física e psiquicamente para o trabalho considerado produtivo no
mundo, pode se dedicar ao trabalho não-produtivo (economicamente), mais nem
por isso menos importante: o trabalho de aprender, de amar, de construir a si
mesmo, de observar a vida e as coisas com os olhos de interesse e entusiasmo.
(INCONTRI, 2004, p. 37)
Pressupõe-se dessa forma que a criança no ambiente da educação é tomado como
um ente em formação, que irá compor um dia a sociedade e, que por isso mesmo, necessita
aprender não só para devolver a sociedade a sua contribuição para o desenvolvimento
material, mas também, estar capacitado para envolver-se com a sociedade no quesito moral.
2.5. – Concepção de Educação e sua finalidade
A educação, convenientemente entendida, constitui a chave do
progresso moral. Quando se conhecer a arte de manejar os
caracteres, como se conhece a de manejar as inteligências,
conseguir-se-á corrigi-los, do mesmo modo que se aprumam
plantas novas. Essa arte, porém, exige muito tato, muita
experiência e profunda observação. È grave erro pensar-se que,
para exerce-la com proveito, baste o conhecimento da Ciência. (O
Livro dos Espíritos, questão 917)
A palavra educação vem do latim educare ou educere. Provérbio: e. Verbo: ducare,
ducere. Seu significado é trazer à luz uma idéia, levar para fora, fazer sair, extrair.
50
Dora Incontri defende que a “Educação é toda influência exercida por um Espírito
sobre o outro, no sentido de despertar um processo de evolução”. p.42
Ainda segundo a mesma autora, só ocorre processo educativo quando um indivíduo
exerce uma influência positiva sobre outro indivíduo, quando “desperta no outro algum
bem”. Toda influência que não traz benefício, que não gera o bem, nem transformação no
outro, não é Educação, é forma de domínio e prejuízo para aquele que recebe tal influência.
Segundo o Espiritismo, o homem, é um espírito imortal, que traz consigo a bagagem
das experiências já vividas. Viver tem outro sentido à luz do espiritismo. Viver é buscar
intensamente evoluir, melhorar, transformar, renovar. Viver é buscar se aproximar ao
máximo da perfeição, da imagem do Criador.
A vida é a prova escolhida, durante a qual nossas virtudes cultivadas devem
crescer e desenvolver-se como cedro. (Evangelho Segundo o Espiritismo Cap. VI
p. 101)
A vida por si só tem finalidade educativa. O homem deve buscar atingir nesta vida o
grau de perfectibilidade possível, uma vez que não conseguirá em uma só existência atingir
a perfeição completa, como já foi explicado no capítulo anterior, pois este é um caminho
longo e gradual. A Educação deve facilitar seu processo de ascensão espiritual, semeando
“verdades e virtudes com vista à eternidade” (INCONTRI, 2004, p.46).
A proposta da Pedagogia Espírita é educar para possibilitar a transformação do ser.
Acredita que uma das funções da Educação é oferecer condições para que o homem extraia
de si mesmo seu valor divino na Obra da Criação, educando-o a partir de seus atributos,
especialmente seu pensamento e vontade.
Educar desta maneira possibilitaria maior autonomia e liberdade para o indivíduo.
A autonomia à luz do Espiritismo, é a habilidade de gerir bons sentimentos em
relação a nós mesmos.Vem da capacidade de libertar-se dos padrões idealizados,
assumindo sua realidade em busca do melhor possível.
A busca pela autonomia não esta em se libertar de pressões externas e sim das
velhas programações mentais, dos “gatilhos” emocionais que escravizam.
O despertar da autonomia leva a construção do novo, a transformação do educando.
Esta transformação possibilitaria à transformação do mundo ao seu redor, uma vez que
consciente de si próprio, de que faz parte da criação Divina, compreenderá melhor a
51
finalidade da vida e de seu papel existencial. O aprendiz transformado procuraria viver para
aprender o bem e buscar novos valores. Valores reais, imutáveis e imperecíveis.
É finalidade da educação é educar o homem para dimensioná-lo na sua amplitude,
a fim de que ele conheça melhor a sua identidade, como ser espiritual, suas
potencialidades e assim desenvolver seus sentimentos, alterando e renovando seu
padrão mental.(AMUI, 2007 p.21)
A Educação não deve ser considerada apenas como um processo de socialização ou
de depósito de conhecimentos. Pois se pensada apenas desta maneira pode tolhir a
individualidade do Ser e promover uma padronização social.Sendo assim, o educando se
tornará produto acabado de uma certa cultura e de suas mazelas sociais, fugindo, falindo no
seu compromisso perante a vida, segundo a visão espírita.
O processo de socialização é de extrema importância, principalmente para a criança,
que precisa se familiarizar com a nova cultura e organização social que esta inserida, ou
seja, com sua ambientação reencarnatória. Não pode se moldar a esses padrões, pois a
ambientação reencarnatória, visto que, faz parte do planejamento reencarnatório do
indivíduo e é um dos pontos de auxílio para a mudança, para a transformação do Ser.
Socializar para padronizar seria o mesmo que impedir tal mudança, tal transformação.
Socializar segundo a Pedagogia Espírita deve ajudar a criança a desenvolver sua
capacidade crítica, a autonomia do pensamento; o senso de justiça; solidariedade e amor ao
próximo; a criatividade; a afetividade.
Sendo assim, se é objetivo da Educação, educar as crianças e jovens para serem
pensantes críticos e autônomos, uma Educação que priorize a instrução apenas, é limitada e
não atinge sozinha tal objetivo. A instrução é uma forma de Educação restrita, pois é a
transmissão de conteúdo, é a transmissão de conhecimentos prontos. Educar deve ser um
processo também de reflexão.
A educação intelectual, segundo a perspectiva espírita, deve não apenas instruir,
mas, segundo Incontri (2004) “despertar a capacidade de auto-instrução, formar o
pesquisador da verdade, o amante da sabedoria, e provocar um ímpeto de busca”.
52
Formando assim um aluno questionador, capaz de refletir e decidir e realizar as próprias
escolhas, motivado não pela imposição, mas sim, pela própria Vontade15.
Para melhor explicitar:
A informação consola e instrui. A transformação liberta e moraliza.
A informação impulsiona. A transformação descobre.
Os informados pensam.Os transformados criam. (OLIVEIRA, 2006, p.21)
A Educação espírita busca, constantemente, o equilíbrio entre desenvolvimento
intelectual, cognitivo e desenvolvimento moral. O equilíbrio integrado dos diversos
aspectos do desenvolvimento humano (intelectualidade, afetividade, virtudes, sentimentos e
potencialidades), leva à Educação Integral do Homem, e só poderia ocorrer através da
Vontade movimentada pelo Ser e estimulada pela Educação.
O equilíbrio deve gerar uma harmonia interna, preenchendo as lacunas do Ser. Estas
lacunas devem ser entendidas como sendo tudo que o Espírito ainda não adquiriu tanto na
parte intelectual quanto moral
A Educação Integral pela perspectiva da Pedagogia Espírita resumir-se-ia pela
tríade: Sabedoria, Moralidade e Vontade.
A Pedagogia Espírita ainda propõe uma Educação voltada para a construção no
Bem, na ação caritativa e na Verdade. Isto produzirá homens de bem, com tendências,
talento e potencialidades variadas.
Para concluir:
Educar o espírito é um processo divino que renova, modifica e transforma o
comportamento mental e os sentimentos do Ser. A educação é um processo
interativo entre Espírito e o meio, que modela hábitos, atitudes e promove no Ser
a necessidade de sentir em si a grandeza de Deus, valorizando a natureza como
criação divina e estimulando os verdadeiros mecanismos do aprendizado.
(AMUI, 2007 p.31)
Por isso mesmo, educar consiste em estabelecer no indivíduo bases que o levem a
viver gozando da plena capacidade de seus direitos e consciência de seus deveres para com
15
Como já foi mencionado anteriormente a Vontade é um dos atributos do espírito, e deve ter seu
desenvolvimento pleno alimentado, estimulado.
53
a sociedade e consigo mesmo. Entendendo que o que o rodeia faz parte de enumeráveis
acomodações de situações que o levam, ao constante ato de agir, responder aos estímulos
exteriores diversos e de devem passar pelo crivo da consciência para conservar o bem estar
de forma geral.
2.6 – Concepção de Educador
Consolar, amparar, servir: são atitudes fundamentais de quem
ensina, com a sinceridade dos sentimentos e a força do exemplo.
São as pontes de acesso ao coração do próximo, não como fator de
proselitismo, mas como centelha para desencadear um processo de
Educação. (INCONTRI, 2004 p. 194)
O educador espírita, porém, poderá e deverá exercer sua tarefa com quaisquer
crianças e adultos. Se a verdadeira Educação se dá quando se desperta um processo
evolutivo no educando, este processo poderá ser desencadeado em qualquer ser humano,
tenha ele a cultura que tiver, seja ele partidário da religião que for. A influência benéfica de
um educador, consciente de seu mandato, poderá se imprimir em qualquer educando.
No relacionamento com pessoas não espíritas, o educador espírita saberá exercer sua
tarefa, sem impor suas convicções.
É dever do Educador sempre apontar para o educando as oportunidades de
crescimento que a vida lhe oferece, para que estas se transformem em experiências para o
indivíduo, auxiliando-o a um novo comportamento e a fazer escolhas mais coerentes com
sua meta existencial, ou seja, com seu planejamento reencarnatório.
É necessário que o educador espírita possua seus objetivos bem definidos, como:
qual a sua função como educador; aonde pretende chegar; que aluno pretende formar.
Devendo considerar o educando como Ser em potencial, em desenvolvimento, apto a
ampliar seus conhecimentos.
O professor espírita tem como meta auxiliar no desenvolvimento de valores
espirituais, para que o aluno se fortaleça diante das dificuldades da vida, além de auxiliá-lo
quanto à percepção dos sentimentos que carregam que dificultam sua evolução. Deve
despertar a consciência do aluno quanto ao seu compromisso perante si próprio e perante a
vida.
54
O educador deve ter como objetivo organizar o pensamento do educando dentro de
um processo reflexivo, lógico, que demonstre os grandes diferenciais que uma sociedade
apresenta, assim como as diversidades étnicas e culturais.
O relacionamento entre educador e educando deverá desenvolver-se sempre através
do diálogo. Diálogo este que se baseia na aceitação do outro, mas não na complacência com
vícios, erros e desvios morais.
O professor espírita olhará para seus alunos e neles irá procurar sua melhor parte e
assim buscará destaca-la, estimulando-a, potencializando-a, mas não deverá esquecer
jamais de olhar as más tendências que o mesmo possui, afim de ajuda-lo a transformá-las.
Segundo Amui (2007), sem o estudo profundo das questões que envolvem o Ser,
tanto no aspecto intelectual, espiritual e social, é impossível que o educador espírita consiga
educar para a transformação, a evolução, para Deus.
A concepção de educador na Pedagogia Espírita conta, ainda, com alguns requisitos
para fundamentar o verdadeiro trabalho de educar o espírito do educando. Estes requisitos
são, em primeiro lugar, reconhecer a liberdade de seu aluno.
O educador espírita precisa, ainda, possuir real interesse na felicidade do mesmo,
desejar seu crescimento e ser capaz de doar-se pelo bem do próximo. Mas a autoridade
moral será o diferencial do educador espírita.
A importância destes requisitos, juntamente, com a concepção mais geral
apresentada inicialmente, revela a importância do educador como exemplo prático e moral
desta pedagogia, como se pode compreender na seguinte passagem de Incontri (2004, p.48)
O exemplo deixado sempre exerce uma influencia, cedo ou tarde,
sobre aquele que o observou. Não foi assim com Jesus? O pedagogo
da humanidade lançou suas sementes de Educação há 2000 mil
anos. Alguns começaram agora a desenvolvê-las naquela época
mesmo. Mas a maioria só agora começa a compreendê-las e muitos
ainda nem sequer as aceitaram no solo da alma.
2.6.1.1– Autoridade Moral
O educador espírita é aquele que se empenha em manter um
pensamento inteligente e reflexivo, assumindo uma postura
55
coerente frente ao que ensina aplicando em si o conteúdo que
deseja passar para o outro. Só conhecer não basta, é preciso
vivenciar o conhecimento.(AMUI, 2007 p.87)
O educador espírita dever ter o pensamento voltado para o bem, de vontade firme,
corajoso, disposto sempre ao estudo e a sua prática, para que seu exemplo fale mais alto
que as palavras. Estabelecer com primor o planejamento de suas atividades, estruturando o
conhecimento de forma a atender as reais necessidades do aluno. Precisa possuir uma
postura de flexibilidade na aplicação do método, visando sempre atender as reais
necessidades do educando, enxergando-o como Espírito.
O professor espírita deve estar em busca do auto-aperfeiçoamento constantemente,
buscando educar a si mesmo primeiramente, pois:
Se ele não descobriu dentro de si um impulso verdadeiro, nobre e permanente, de
automelhoria e se ele mesmo não esta constantemente em busca de aprender e
construir, como poderá comunicar uma chama que não possui, como poderá abrir
para o outro uma trilha que não percorre? (PESTALOZZI apud INCONTRI, 2004
p.208)
A força do exemplo, que é a sua autoridade moral é a principal arma do educador
espírita.
2.7 – Metodologia
A metodologia da Pedagogia Espírita busca atingir a necessidade de cada aluno,
uma vez que cada um traz em si a marca da bagagem de experiências já vividas,
sentimentos, tendências, potencialidades, além de um programa, uma meta existencial a
ser cumprida que é única, individual.
Portanto, o processo educativo não pode ser um trabalho pré – estabelecido, fechado
em um rigoroso sistema que impossibilite modificações, pois tem o compromisso de
atender às reais necessidades do Ser, necessidades estas de caráter individual e em
constante modificação.
Deve ser um trabalho simples, porém rico em conteúdo que estimule nos alunos o
interesse, fazendo despontar a alegria de criar, construir, elaborar, para vivenciar novas
56
descobertas. Alcançar novas descobertas dentro de um pensamento reflexivo e coerente
sempre com o desejo de construir e transformar, renovar.
O estimulo ao trabalho fecundo de interpretação e reflexão em relação ao que se
aprende possibilita ao aluno o discernimento na realização, aplicação do conhecimento
adquirido. Quanto ao processo reflexivo:
A reflexão é importante, porque permite classificar os interesses e necessidades
do Espírito, que são a base do equilíbrio da aprendizagem. Esta não dá saltos, o
amadurecimento da idéia vem da interação entre a inteligência, a razão e a boa
vontade.(AMUI, 2007, p.34)
O indivíduo só aprende, agindo, experimentando, ensaiando (inclusive errando). É
na ação que o ser desenvolve suas potencialidades.
A liberdade de pensar é outra condição importante deste trabalho, ela promove a
manifestação do pensamento e dos sentimentos, com toda a sua força de expressão. Criar
projetos, para desenvolver a interdisciplinaridade, ampliando o conhecimento da criança de
forma prazerosa, estimulando seus talentos.
Aprender observando, percebendo, comparando, analisando, refletindo, sentindo,
experimentando, interagindo para a partir daí concluir. Esta é a base metodológica da
Pedagogia Espírita.
A observação estimula a atenção e promove contato entre a inteligência, o que
motiva a memória a reter o que esta sendo ensinado. Observar, quer dizer ver e descobrir.
Cada situação que o aluno observa com mais atenção permitir-lhe-á atingir um nível
mais consciente de trabalho, levantando hipóteses que movimentarão seu campo mental.
O aluno deve ser convidado a narrar o que observou, para que sua inteligência seja
acionada. Observando o educando amplia sua percepção, podendo alterar os sentimentos
em relação ao que foi observado.
Criar idéias é um trabalho de articulação entre observar e analisar. Deve-se
estimular o aluno a expor suas idéias e produzir algo a respeito do tema que foi observado e
desenvolvido.
O estimulo à produção aciona diretamente a criatividade do Ser. Segundo Dora
Incontri (2004) a criatividade é composta por componentes como: originalidade de
pensamento, capacidade imaginação e de julgamento, independência de opinião,
57
improvisação, flexibilidade, abertura ao novo, curiosidade, intuição, capacidade indagar e
questionar, sensibilidade aos problemas.
A metodologia adotada pela Pedagogia Espírita estabelece uma proposta de trabalho
ampla, bem direcionada, para que o educando tenha oportunidade de expressar sua
criatividade e possa realizar sua própria avaliação. Propõe que a verdade não seja apenas
descortinada, mas compreendida e vivenciada, para que o homem possa ser mais livre, a
partir de atos disciplinados pela coerência, amor e caridade.
2.8 – Educação Moral e Afetividade
O amor não é um apetrecho, um aspecto da Educação. A relação
entre amor e Educação é intrínseca, indissociável. (INCONTRI,
2004 p.42)
A Educação Moral é de grande importância para a Pedagogia Espírita. Segundo
Amui (2007), é:
Um dos ricos instrumentos da Pedagogia Espírita, promotor da reflexão é o
Evangelho de Jesus. Ao ser exposto através do raciocínio espírita, estimula uma
ação reflexiva, promovendo alterações na estrutura da formação das idéias.
(AMUI, 2007, p. 36)
Para Dora Incontri (2004), a educação é um processo que ocorre sempre na relação
de indivíduo para indivíduo. Neste processo só ocorre influência positiva e não violenta
através do amor.
O amor é a base da Educação Espírita. Amando é possível perceber e sentir as
necessidades do outro, auxiliando-o a partir do entendimento quanto às suas fragilidades e
potencialidades. É uma obra regenerativa, porque o amor regenera e vivifica.
O amor pedagógico discutido por Pestalozzi, prioriza o respeito pela individualidade
do ser, ao mesmo tempo, que influência o seu crescimento, sua transformação, de maneira
não violenta e coercitiva. Dessa forma, o amor, ou também denominado como afetividade,
é uma contraposição ao autoritarismo, a força e a imposição de pensamento.
58
A ação educativa é antes de tudo um ato de amor. Desse modo, a afetividade da
pedagogia espírita é a base o desenvolvimento do espírito. O diálogo, nesse caso, é uma das
armas para efetivar esse princípio.
A Educação Moral à luz do Espiritismo objetiva o conhecimento e a modificação
das más tendências, adquiridas durante as várias reencarnações, fazendo com que o homem
espiritualize sua existência atual.
O bem deve ser sentido, aprendido e vivenciado, é ele que auxilia o despertar da
consciência, tornando o Ser mais lúcido e responsável perante a vida. Quando o homem
iniciar suas construções no bem, com constância, estará iniciando a sua educação espiritual.
Em qualquer processo pedagógico, estamos lidando com um ser livre, que deve
aderir voluntariamente ao convite de evolução que lhe for proposto. Por isso, a Pedagogia
Espírita movida pelo amor e pela afetividade com a finalidade de modificar as tendências é
realizado para a autonomia e liberdade do espírito, responsável pela sua evolução,
auxiliado, também, pelos educadores. Em suma, “O ato moral é um ato de liberdade”
(INCONTRI, 2004, p. 152), e, movido por este princípio educativo, o espírito tem
autonomia para fazer suas escolhas.
A Educação Moral à luz do Espiritismo tem sua base nas Leis Morais contidas no
Livro dos Espíritos, obra codificada por Allan Kardec.
Tais Leis Morais estimulam a aquisições de virtudes, ou também chamados de
valores morais, como: fé, esperança, solidariedade, ação desinteressada no bem, amor a
Deus e ao próximo, fraternidade, tolerância religiosa, não-violência, equilíbrio,
mansuetude, misericórdia desapego aos bens terrenos, humildade, paciência, justiça, busca
do autodomínio e automelhoramento, entre outras.
São muitas as virtudes pregadas por diversas filosofias e religiões, mas o que
diferencia as Leis Morais à luz da concepção espírita das demais, é o fato que:
A responsabilidade diante da aplicação varia, segundo o grau evolutivo do
Espírito. Os mandamentos são iguais, mas as conseqüências de se desrespeitá-los
variam, dependendo da maior ou menor compreensão daquele que infringiu a Lei.
(INCONTRI, 2004, p.154)
O ato elucidativo e reflexivo que a Pedagogia Espírita propõe em relação as
Educação Moral do ser, tem como finalidade auxiliá-lo na sua jornada evolutiva, como já
foi mencionado por diversas vezes neste trabalho.
59
Para concluir, utilizo-me do pensamento de para ressaltar a importância da
aquisição dos valores morais:
A organização da sociedade humana, com suas injustiças e discrepâncias, é
passageira e está em constante processo de evolução; ao passo que os valores
morais são eternos. Educar uma criança para integrar-se na sociedade deve
significar assim equipá-la de valores reais com que ela possa justamente
contribuir para a evolução desta sociedade. (INCONTRI, 2004, p.44)
Reflexão é processo educativo, faz parte da vida do ser humano, por isso conceber a
existência como um passo perante o infinito caminho a percorrer é esclarecer a postura a
ser tomada pelo individuo no decorrer de sua vida. Visão, essa que, alimenta o indivíduo de
perspectivas e contribui para que ele saiba realizar suas escolhas procurando o que é melhor
e o que representará crescimento para ele.
60
3–SEMELHANÇAS E DIDERENÇAS ENTRE O PENSAMENTO EDUCACIONAL
DE PESTALOZZI E A PEDAGOGIA ESPÍRITA.
As comparações entre os princípios de Pestalozzi e a Pedagogia Espírita são
explicitadas abaixo.
3.1 - Concepção e Finalidade de Educação
A compreensão educacional de Pestalozzi tem como ponto central a formação social
do homem, com grande ênfase no espírito. A religião e a moral são de extrema importância
na compreensão desse autor, visto que esses dois conceitos são fundamentais a elevação do
espírito. Em síntese, a pedagogia em Pestalozzi é revelada pela benevolência do ensino e a
firmeza dos seus princípios de elevação da natureza humana, do animal ao espiritual.
Como no primeiro capítulo, os princípios de Pestalozzi se baseiam no processo
natural de desabrochar as faculdades do homem, a sua formação espiritual nas três esferas
da mente, do coração e das mãos. O seu princípio, portanto, a fim de elevar os sentimentos
e a formação integral originou um método ativo que pudesse ir de encontro com as
necessidades que ele observava.
Do mesmo modo, a Pedagogia Espírita tem como foco a educação do espírito, de
elevar as tendências positivas do indivíduo. Essas tendências favoreceram a evolução do
espírito nesta experiência, além de poder retrabalhar as tendências que traz de outras
encarnações. Com isso, a Educação deve facilitar o processo de ascensão espiritual,
semeando “verdades e virtudes com vista à eternidade” (INCONTRI, 2004 p.46). A
transformação do espírito é a principal tarefa desta Pedagogia.
Com relação às finalidades que as envolve e as igualam, temos que ambas as
propostas educativas apóiam-se na elevação do espírito do homem para este alcançar o seu
mais elevado grau. A religião e a moral são fundamentos como princípios educativos de
ambas as propostas.
Suas diferenças, todavia, se prestam a Pestalozzi quanto a organicidade da vida
social e espiritual, para esse autor, seu contexto envolve a construção do individuo para seu
ambiente social tendo em vista a formação moral. Enquanto que na Pedagogia Espírita, a
elevação do espírito precede outros âmbitos do homem, e os procura desenvolver, haja vista
61
o caráter educacional que ultrapassa os limites da existência presente, pretendendo a
formação do ser espiritual, com seus atributos em equilíbrio para sua jornada rumo à
perfeição.
Ainda nesse mesmo enfoque da finalidade da educação encontramos também uma
diferença na tríade mente, coração e mãos que são citadas em ambas concepções, mas que
Pestalozzi enxerga mãos com relação à ação do trabalho, para dignificar o homem,
enquanto que na Pedagogia Espírita, a educação das mãos detém o caráter da ação no bem,
com a finalidade de transformação do pensamento e do sentimento, e, desse modo, a
realização do bem aproxima o homem dos ensinamentos de Jesus que são a alicerce da
moral espírita.
3.2 - Educação Moral
Em Pestalozzi, a educação moral é desenvolvida pelo estado natural, social e moral.
Essa educação deverá ser ativa, experimentada e vivida pelo educando. A educação moral
favorece o desenvolvimento do amor interno que vem do espírito e emana ao exterior. E
para tanto, deve favorecer a virtude boa do homem por meio das ações práticas. Visão esta,
que não difere da Pedagogia Espírita.
Além dessa semelhança que envolve moral e sua prática, temos também que, em
ambas, esses dois conceitos são indissociáveis. Essa relação deve ser movida pelo amor. O
amor é a base da Educação Espírita, e também esta ressaltado como ponto fundamental em
Pestalozzi, já que ele é dos pioneiros em tocar na questão da afetividade no processo
educativo.
3.3 - Concepção de Educador
A mãe e o educador deverão, na concepção de Pestalozzi, cuidar da educação da
criança desde a mais tenra idade. Esse desenvolvimento deverá ser aninhado pelo amor.
Pestalozzi confere a racionalidade ao amor materno e o amor na ação do professor.
A visão do educador como um jardineiro e a criança como uma árvore em
desenvolvimento e suas conseqüências, remetem a uma ação concreta, ativa e simples com
62
o educando. Os graus de dificuldade serão seqüências. É fundamental desenvolver a
percepção dos sentidos, por meio da prática.
O educador espírita, segundo a Pedagogia Espírita exercerá sua tarefa, sem impor
suas convicções, pois busca trabalhar as tendências positivas do espírito e auxiliá-lo em sua
evolução. O objetivo fundamental é desenvolver as potencialidades do homem e ampliar
seu aprendizado.
O educador, portanto, desenvolverá os sentimentos e valores espirituais a partir das
suas percepções das necessidades do campo afetivo e intelectual que identifica em seus
educandos. Assim, o educador deve servir de auxilio para que o educando se conheça,
tenha contato com a moral cristã e efetue suas escolhas perante a reflexão de suas ações e
suas conseqüências para ele e o meio em que esta envolvido durante toda a sua existência,
no seu caráter infinito e eterno rumo a sua “escala” de evolução.
Observa-se, desse modo, que Pestalozzi e a Pedagogia Espírita trazem o amor e o
diálogo como ferramentas que desenvolvem e estabelecem relações de homem e sociedade,
homem e leis divinas, homem e sua intimidade.
Pestalozzi afirmou e analisou a base afetiva da Educação, teorizou e demonstrou
que a partir do elo afetivo que se cria entre educador e educando é que se desenvolve um
projeto pedagógico eficaz.
Também no que diz respeito à concepção de educador, ressalta-se uma única
palavra que iguala ambas as concepções: Exemplo. Esse é ponto fundamental para o
alcance e desenvolvimento moral. A autoridade moral do educador é evidenciada pelas
concepções em comparação como meio e atributo que faz alavancar o processo de
aprendizagem. O educador, nessa questão, tem capacidade de ensinar se também vivenciar.
3.4 - Concepção de Criança/Educando
Para Pestalozzi, a criança e jovens como educandos são forças vivas e ativas que
nascem naturalmente bons e que necessitam de um processo harmonioso de
desenvolvimento. O objetivo é o desenvolvimento integral do homem: mente, coração e
mãos. Como dito anteriormente, Pestalozzi parte da concepção da natureza do homem.
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A Pedagogia Espírita, embora não discorde dos estágios biológicos de
desenvolvimento do homem, observa, em contraste com as concepções de Pestalozzi, que o
homem não nasce naturalmente bom, mas sim, ele carrega consigo uma mescla de virtudes
e más tendências que são heranças de suas existências pretéritas, que estão registradas na
sua bagagem espiritual, por sua vez esta bagagem evidencia a personalidade encarnada a
ser trabalhada no sentido de renovação e transformação para possibilitar a evolução
espiritual.
Ambas as pedagogias vêem a necessidade de desenvolvimento da criança, da
necessidade de um processo educativo ativo, experimentado, prático, concreto. Mas, se por
um lado, Pestalozzi observa a importância do aspecto social na consciência do homem, não
perdendo, mesmo assim, o fundamento do desenvolvimento do espírito. Já para a
Pedagogia Espírita, a educação se efetua pelo processo reencarnatório e, nesse processo
deve o educando ser estimulado através do processo da reflexão a direcionar suas ações,
renovando os hábitos e tendências pretéritas e transformando sentimentos.
3.5 - Metodologia e Métodos
O método de Pestalozzi envolve a percepção, a experiência, a intuição, o amor e o
diálogo na relação para favorecer o desenvolvimento do homem.
O método intuitivo tem objetivo da experiência prática para aplicar os
conhecimentos. Baseado nas leis da psicologia observa a gradação da dificuldade do aluno.
O grande exemplo do método de Pestalozzi foi a “lição das coisas”. A percepção sensorial
segue o principio do concreto ao abstrato, exercida pela autoridade moral.
Ao compreender que a metodologia espírita é dirigida para a finalidade de elevação
do espírito, a partir dos sentimentos, tendências e potencialidades. O próprio programa tem
como meta a orientação individual. A criança é vista como ser único, inserido no coletivo:
família, escola, sociedades, etc.
A curiosidade infantil é primordial para que o educador possa desenvolver a
educação intelectual, moral e física da criança, uma vez que permite potencializar os
interesses próprios dela em ambas as concepções.
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Analisando as concepções objetos desse estudo entende-se que o processo de
aprendizado pela observação, percepção, comparação, análise, reflexão, sentimentos,
experiência, interação é fundamento da Pedagogia Espírita e que esse mesmo fundamento é
que orienta os métodos empregados na Pedagogia de Pestalozzi.
Pelos limites deste Trabalho de Conclusão de Curso, não será abordado às críticas
as concepções educacionais de Pestalozzi e da Pedagogia Espírita, mas tanto uma quanto a
outra, pelas suas diferenças, quanto ambas pelas suas aproximações sofrem críticas na
literatura da área. Tais críticas se devem a uma série de fatores na análise da literatura da
área, conforme exposto inicialmente neste trabalho, cujos objetivos e concepções permitem
aproximações e rupturas.
A análise de tais críticas demanda um maior aprofundamento de uma série de
elementos que poderão ser estudados em trabalhos futuros, limitando-se, assim, para este
trabalho o objetivo específico de apontar às aproximações comparativas de ambas as
abordagens e como podem contribuir para refletir sobre os atuais problemas do cotidiano
escolar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sem esperança, a alma é “morta”. Esperança é o filete divisor entre
o cumprimento da justiça e a ação da misericórdia divina conforma
as escolhas de cada um. (OLIVEIRA, 2005, p.218)
A sociedade atual vive aos nossos olhos um processo que força atribuir valores à
supremacia do materialismo, dos prazeres fugazes, consumismo e competição exagerada,
fatores que distanciam o homem de sua origem divina e imortal. A cada dia a sociedade é
corroída pelo vício do egoísmo, da violência, ou seja, a busca do que se quer, mesmo que
aquilo que se queira fira de maneira incurável um outro qualquer.
Chegou o momento de transformar essa situação, tanto se faz necessário que vemos,
a todo instante, doenças diversas que assolam as personalidades. Instituir uma nova ordem
social conduz a uma decisiva derrocada na supremacia de velhos e corroídos significados.
Ressignificar, dar sentido novo em direção a um porvir de esperanças e completude
interior é a busca do ser humano, que na intimidade de seu sentimento clama mudanças.
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Permeando as reflexões oferecidas neste estudo compreende-se que o caminho de
reencontro do coração com o intelecto é um bem exigido para estabelecer novo rumo no
desenvolvimento da sociedade. Rumo este que se fundamenta na transformação moral.
Eis o papel da Educação frente ao panorama que hoje apresenta a sociedade, mais
do que extinguir as lacunas intelectuais é também sua função preencher as lacunas morais
com valores que estimulem a prática do bem.
É preciso criar espaços institucionais, onde as crianças, os adolescentes e os jovens
possam receber uma Educação integral; serem amados e observados como Espíritos
imortais e reencarnados; serem estimulados a se auto-educarem, independente das crenças
que abraçam poderão usufruir uma Educação espiritualista, sem que suas consciências
sejam violentadas por imposições.
Foi, nesse sentido, que procurou-se apresentar, neste Trabalho de Conclusão de
Curso, a comparação conceitual das idéias pedagógicas de Pestalozzi e da Pedagogia
Espiritual e apontar suas contribuições para a Educação. Os preceitos sobre a educação do
espírito, como finalidade da educação, e as formas para a qual são dirigidas as ações do
educador e do educando, pelo exemplo moral, pela experiência prática e pelo amor são
elementos fundamentais que permitem pensar o pleno desenvolvimento intelectual, moral e
físico dos indivíduos.
Acredito, portanto, que tais pressupostos podem ser considerados como respostas,
ainda que iniciais, as questões que orientaram esta pesquisa, como pode-se observar ao
retomar minhas questões norteadoras, analiso os limites e aproximações existentes entre a
Pedagogia proposta por Pestalozzi a Pedagogia Espírita e como tais propostas contribuem
para pensar nos problemas atuais do cotidiano escolar.
Conclui através das comparações analíticas que ambas as correntes pedagógicas
apresentam grandes concepções convergentes. Destacando entre estas, principalmente, que
ambas defendem que somente a Educação com base no sentimento será capaz de direcionar
a sociedade ao seu caminho de reconstrução.
O estudo desta temática, como inicialmente apresentado, é de extrema importância
na minha formação: seja pelo fato de o conhecimento da escola de Eurípedes, em
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Sacramento, fundamentada na Pedagogia Espírita, seja pela minha formação espírita desde
a infância; que me impulsionou a cursar a Pedagogia.
O aprofundamento das questões pedagógicas da influência mútua entre Pestalozzi e
a Pedagogia Espírita, pouco abordada durante o curso, aumentou minha vontade de revelar
os seus pontos em comum e a sua importância para a formação do espírito pleno e superar,
ou ao menos, minimizar, os problemas atuais no cotidiano escolar.
A pesquisa apresentada, bem como a continuidade do seu estudo, foi e será
relevante para a minha formação enquanto professora, uma vez que acredito nesta proposta
e concepções e nela que pretendo fundamentar minha ação e atuação. Por mais que ainda
me falte conhecimentos, pela abrangência que se revelam, acredito que minha meta tem
sido, dia a dia, alcançada nesta direção.
Percebo que a terceira questão: “As questões religiosas, tal como propostas por
Pestalozzi e pela Pedagogia Espírita, podem favorecer na compreensão dos problemas
educacionais atuais?” foi em parte a respondida no decorrer do trabalho, na medida em
que a superação do materialismo exacerbado tem sido apontada como uma necessidade
tanto para educadores como para a sociedade em geral. Entretanto a questão religiosa
demanda outros estudos.
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Johann Heinrich Pestalozzi e a pedagogia espírita