1 REPRESENTAÇÕES SOBRE O ESPIRITISMO EM IRATI-PR Elis Daiane Pereira de Matos (ICV-UNICENTRO), Hélio Sochodolak (Orientador), e-mail: [email protected]. Universidade Estadual do Centro-Oeste –UNICENTRO - Irati-Pr. Palavras-chave: Espiritismo, Representações, História Cultural, Irati. Resumo: As representações sobre o espiritismo, produzidas por católicos e espíritas em Irati, são objeto de análise neste trabalho. Para tanto, conta com o apoio teórico da História Cultural, e os respectivos conceitos discutidos por Roger Chartier a respeito das representações sociais. Introdução O espiritismo surgiu na França, em meados do século XIX, sua sistematização foi direcionada ao campo filosófico, científico e religioso o qual Allan Kardec era influenciado. Ao modelo do positivismo, o espiritismo apresentou-se em um determinado momento onde as ciências naturais e exatas estavam em seu maior fervor científico. O pensamento europeu positivista estava tomado por idéias científicas, de avanço e progresso tanto nas ciências ditas exatas como na História. Foi nesse contexto que o espiritismo atribuiu-se de significação científica, na França. Neste mesmo século XIX o espiritismo chegou ao Brasil, por meio da imprensa, o Jornal do Commércio e de viajantes. O país rico em uma cultura africana, introduzida desde os tempos coloniais, desenvolveu um “olhar” próprio em relação ao espiritismo. O conceito de comunicação com os mortos aproximou a doutrina afro-brasileira do espiritismo, dando uma versão brasileira à doutrina francesa, o que não significa que possa ser considerada inferior ou errônea, isto porque, o campo das interpretações das leituras realizadas pelos seres humanos está livre, portanto plausíveis de novas representações. (Cf. Stoll, 2003, p. 58) Materiais e Métodos Para a análise do espiritismo em Irati, foram realizadas entrevistas com adeptos do catolicismo e do espiritismo; também foram utilizados revistas e periódicos de ambas as doutrinas. Resultados e Discussão Anais do XVI EAIC – 26 a 29 de Setembro de 2007 – ISSN: 2 Em Irati, o espiritismo surgiu em 1827, o nome atribuído à primeira “casa espírita” foi “Jesus e Maria”, nome que remete à doutrina católica, hegemônica na cidade. As representações espíritas em Irati apresentam-se de formas variadas. Entre os espíritas, é comum observar a mesma pessoa freqüentando a casa espírita e a Igreja católica conjuntamente. É possível perceber que, entre tais pessoas, a doutrina espírita normalmente é “consoladora”, ou seja, entre as dificuldades do dia-a-dia é nela que se acalenta o sofrimento. Outro grupo é composto por aqueles que freqüentam as casas de umbanda e se denominam espíritas. A própria casa de umbanda possui denominação espírita: “Tenda espírita pretos velhos”. Desta forma observamos que o entendimento da doutrina é apropriado de diferentes formas e, isso se dá através da forma em que se ouvem os discursos proferidos pelos grupos sociais, os quais legitimam seu poder defendendo seus interesses, atacando ou defendendo a doutrina. Na década de 90 do século XX, um sacerdote católico, em um programa de rádio alertava seus fiéis quanto os perigos do espiritismo. O discurso proferido pelo sacerdote causava a curiosidade da população, dos quais algumas pessoas passaram a freqüentar a casa espírita. (Cf. Entrevista realizada em 12.07.2007). Desta forma percebemos que o discurso católico era ofensivo com intuito de “alertar” os fiéis para não se envolverem com o espiritismo, por outro lado o discurso espírita não aparece, pois nem direito de resposta foi utilizado nestes programas. No entanto, percebemos que este “silêncio”, passou a ser uma estratégia do grupo, pois este despertava a curiosidade da população, que acabavam visitando o centro espírita para “confirmar” se o que o sacerdote havia falado no programa era realmente verdade. Bem sabemos que tais discursos proferidos pelos grupos não se apresentam neutros, pelo contrário, têm por objetivo legitimar, dar um sentido a determinado grupo. Segundo Roger Chartier, “as percepções do social (...): produzem estratégias e práticas (sociais, escolas, políticas) que tendem a impor uma autoridade à custa de outros...” (Chartier, 2002, p. 17) Neste caso, as representações da doutrina espírita, entre católicos e espíritas, possuiu discursos legitimadores, omitidos ou não. Eles consolidam estratégias de combate ou justificação. Conclusões O espiritismo, diferente de sua representação científica na França, graças à predominância das manifestações religiosas afro-descendentes, adquiriu caráter religioso no Brasil. Em Irati, a leitura sobre a doutrina apresenta-se da mesma forma, entre os grupos não-espíritas, em especial o católico. Entre os espíritas, o entendimento da doutrina apresenta-se como o espiritismo francês, porém entre os adeptos a umbanda e, religiões afrobrasileiras, percebe-se que há uma denominação de espírita ao senso comum e dos seus próprios adeptos. Percebemos que o espiritismo em Irati, possui representações bem heterogêneas. Entre alguns dos adeptos que Anais do XVI EAIC – 26 a 29 de Setembro de 2007 – ISSN: 3 pertencem aos grupos pesquisados (espíritas e católicos), não há definição concreta quanto à doutrina e, muitas vezes a rotulam ora como herege e irracional (entre os católicos), ora a confundem com as religiões afrobrasileiras. Agradecimentos Agradeço primeiramente à minha família que sempre me apoiou em relação à pesquisa e, ao meu orientador Dr. Hélio Sochodolak, o qual sempre se mostrou disposto para discutir os encaminhamentos da pesquisa. Referências 1. COSTA, Flamarion Laba da. Demônios e Anjos: o embate entre espíritas e católicos na República brasileira até a década de 60 do século XX. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2001. 2. PESAVENTO, Sandra Jatahy. História e História Cultural. Belo Horizonte, Autêntica, 2003. 3. CHARTIER, Roger. A História Cultural: Entre práticas e representações. Portugal: Difel, 2002. 4. KARDEC, Allan. O que é Espiritismo, Araras, São Paulo, IDE, 1997. 5. STOLL, Sandra Jacqueline. Espiritismo a Brasileira, Curitiba, Orion, 2003. 6. Entrevista realizada com Reinaldo Wagner dia 13 de maio de 2007. A gravação com a íntegra da entrevista foi doada ao CEDOCUNICENTRO-Irati e encontra-se disponível para consulta. Anais do XVI EAIC – 26 a 29 de Setembro de 2007 – ISSN: