CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” Roteiro 01: INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA UNIDADE 1: Antecedentes da Doutrina Espírita Roteiro 02: INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA UNIDADE 1: Antecedentes da Doutrina Espírita Roteiro 3: Biografia de Allan Kardec - Extraída de Obras Póstumas Roteiro 4: As obras básicas do Espiritismo Roteiro 5: Tríplice aspecto: filosófico, cientifico e religioso Roteiro 6: Doutrina Espírita Roteiro 7: O Espiritismo - De Kardec aos dias de hoje 1 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” Roteiro 01: INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA UNIDADE 1: Antecedentes da Doutrina Espírita 1.1.Os precursores da Doutrina Espírita A comunicação dos espíritos com o mundo material remontam à mais recuada antigüidade e, desde então, vêm ocorrendo em todos os tempos e entre todos os povos. A História está pontilhada desses fenômenos. Segundo Gabriel Delanne, já se encontravam relatos de evocações de espíritos no Código dos Vedas1 (Gabriel DELLANE. O fenômeno espírita), datado de 1000 a.C. Na Bíblia, existem várias referências à comunicação dos espíritos com os encarnados, dentre as quais esta recomendação do apóstolo João: “Caríssimos, não deis fé a qualquer espírito, mas examinai se os espíritos são de Deus” (A Bíblia Sagrada. I João 4:1). A este propósito, também Paulo de Tarso nos alerta: “Empenhai-vos em procurar a caridade. Aspirai igualmente aos dons espirituais, sobretudo ao de profecia” (A Bíblia Sagrada. I Coríntios 14:1) e “Não apagueis o Espírito. Não desprezeis as profecias. Examinai tudo, abraçai o que é bom” (I Tessalonicenses 5:19-21). Na Idade Média, destacou-se a figura admirável de Joana D’Arc, que jamais renegou as vozes espirituais (Gabriel DELLANE. Op. cit.). Entretanto, somente a partir dos séculos XVIII e XIX é que podemos considerar os fenômenos mediúnicos como precursores do Espiritismo. Conforme indica Arthur Conan Doyle, na fase anterior a essa época, os episódios de comunicação de espíritos eram esporádicos. A partir do século XVIII, porém, passam a ocorrer em uma seqüência metódica, com “a característica de uma invasão organizada” (Arthur C. DOYLE. História do Espiritismo). É nessa época mais moderna que vamos encontrar alguns notáveis antecessores dos médiuns espíritas, como o famoso vidente sueco Emmanuel Swedenborg, engenheiro militar, insigne teólogo, muito culto e dotado de grande potencial de forças psíquicas (cf. A. C. DOYLE. Op. cit.). Já na sua infância, tiveram início as suas visões, numa continuidade que se prolonga até a sua desencarnação. Suas forças latentes eclodiram, porém, com mais intensidade a a partir de abril de 1744, em Londres. Desde então, afirma Swedenborg, “(...) o Senhor abria os olhos de meu Espírito para ver, perfeitamente desperto, o que se passava no outro mundo e para conversar, em plena consciência, com anjos e Espíritos” (A. C. DOYLE. Op. cit.). Um outro precursor digno de menção foi Franz Anton Mesmer, médico, descobridor do magnetismo curador. Em 1775, Mesmer reconhece o poder da cura mediante a aplicação das mãos, ou seja, através da fluidoterapia. Acreditava que, por nossos corpos, transitam fluidos curadores. Pela manipulação desses fluidos, 1 Os Vedas são os mais antigos livros da literatura sagrada do hinduísmo. 2 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” Mesmer preparava o caminho para o hipnotismo do Marquês de Puységur (Arthur C. DOYLE. Op. cit.). Fatos também dignos de registro são os ocorridos com Andrew Jackson Davis (1826-1910), sensitivo considerado por Arthur C. Doyle como o profeta da Nova Revelação. Os poderes psíquicos de Davis começaram a se manifestar nos últimos anos de sua infância: ouvia vozes de Espíritos, que lhe davam conselhos. À clarividência seguiu-se a clariaudiência. Na tarde de 6 de março de 1844, Davis foi tomado por uma força que o fez voar, em Espírito, da pequena cidade onde residia até as Montanhas de Catskill, a cerca de 40 milhas de sua casa. Swedenborg foi um dos mentores espirituais de Davis (A. C. DOYLE. Op. cit.). O surgimento do Espiritismo foi predito por Davis no livro Princípio da Natureza. “Para nós”, comenta Doyle, “o que é importante é o papel representado por Davis no começo da revelação espírita. Ele começou a preparar o terreno, antes que se iniciasse a revelação. Estava claramente fadado a associar-se intimamente com ela, uma vez que conhecia a demonstração de Hydesville (...)” (A. C. DOYLE. Op. cit.). * * * Na Obra da Salvação “(...) Se tens notícia do Evangelho no mundo de tua alma, prepara-te para ajudar, infinitamente.... A Terra é a nossa escola e a nossa oficina. A humanidade é a nossa família. Cada dia é o ensejo bendito de aprender e auxiliar. Por mais aflitiva que seja a tua situação, ampara sempre, e estarás ajudando no abençoado serviço de salvação a que o Senhor nos chamou”. ( Francisco Cândido XAVIER. Fonte viva. Ditado pelo Espírito Emmanuel.) Fontes de Consulta 1. DELANNE, Gabriel. O Fenômeno Espírita. FEB, 1988, pág. 17-19, 22. 2. DOYLE, Arthur Conan. História do Espiritismo. A história do espiritismo. A história de Swedenborg. Pensamento. Pág. 33, 34, 37. O profeta da Nova Revelação. Pág. 59-61; 67, 69. 3. A Bíblia Sagrada. Epístola de Paulo. Tradução de João Ferreira de Almeida. Imprensa Bíblica Brasileira, 1980, pág. 202. I Coríntios, 14:1. I Tessalonicenses, 5:19 a 21,pág. 238. I João, 4:1 a 12, pág. 274. 3 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” Roteiro 02: INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA UNIDADE 1: Antecedentes da Doutrina Espírita 1.2. Hydesville e as mesas girantes Os acontecimentos que mais diretamente determinaram o nascimento do Espiritismo foram os fenômenos mediúnicos ocorridos no ano de 1848, na aldeia de Hydesville (condado de Wayne, estado de Nova Iorque), nos Estados Unidos da América. Há algum tempo, na cabana da família Fox, ouviam-se pancadas e ruídos incomuns, que pareciam estar mais diretamente relacionados às meninas Margareth e Katherine, filhas do casal Fox. Em 31 de março de 1848, ocorreu o primeiro diálogo das jovens com o Espírito que provocava os ruídos. Tal fenômeno, que se repetiu diversas vezes, atraiu a atenção pública, inclusive da imprensa, e foi constatado por numerosos observadores, a ponto de marcar, na América do Norte, a data do nascimento do que intitularam de Moderno Espiritualismo. Descobriu-se que as revelações ruidosas partiam do Espírito de um mascate, de nome Charles Rosma, que fora assassinado e sepultado no porão da casa da família Fox. A família seguia a religião Metodista e Margareth e Katherine eram potentes médiuns. Na noite de 31 de março, para viabilizar a comunicação entre as médiuns e o Espírito do vendedor ambulante, um dos presentes, o Sr. Isaac Post, usou, pela primeira vez, letras do alfabeto para formação de palavras, mediante a convenção de que a cada letra corresponderia determinado número de pancadas. Estava, pois, descoberta a telegrafia espiritual, que foi o processo adotado na comunicação por mesas girantes. Em 1850, já era tamanha a repercussão dos fenômenos de Hydesville e tal a afluência dos curiosos, que a família Fox se mudou para a cidade de Nova Iorque, continuando as sessões públicas no Hotel Barnum. Nessa época, já somava vários milhares o número dos espiritualistas norte-americanos. Apesar disso, a imprensa continuava a condenar os fenômenos. A relevância desses acontecimentos pode ser assinalada ainda pela sua ressonância na esfera científica, motivando várias investigações por diversos pesquisadores, como Dale Owen, William Crookes, o Juiz Edmonds etc. O acontecimento de Hydesville repercutiu na Europa, despertando as consciências e, ao lado dos fenômenos das mesas girantes, preparou o advento do Espiritismo. A princípio, nas sessões de mesas girantes, o móvel apenas erguia-se, sob a imposição das mãos dos médiuns reunidos à sua volta. Com o desenvolvimento desse método, as mesas passaram a levantar-se sobre um pé e, por telegrafia espiritual, responder as perguntas feitas. Mais adiante, começaram também a mover-se em todos os sentidos, girando sob os dedos dos pesquisadores. As mesas eram escolhidas para esses estudos devido a sua comodidade, pois o 4 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” efeito observado com elas poderia, segundo Kardec, ser conseguido com qualquer outro objeto (Allan KARDEC. O livro dos médiuns). Entre os anos de 1853 e 1855, os fenômenos das mesas girantes constituíam verdadeiro passatempo, sendo diversão obrigatória nas reuniões sociais. Por outro lado, eram também objeto de estudo de vários cientistas. A divulgação dessas experiências e, a seguir, a conversão do Juiz Edmonds, materialista que rira da crença nos Espíritos, pasmaram todos os norteamericanos, aumentando ainda mais o interesse pelas manifestações inteligentes. Em Paris, as pessoas assistiam atônitas a esse turbilhão de fenômenos imprevistos que, para a maioria, só alucinadas imaginações poderiam criar, mas que a realidade impunha aos mais céticos. O posicionamento de Kardec diante desses fatos determinou o advento da Doutrina Espírita. A partir do momento que deixou de contestar os fenômenos mediúnicos e passou a estudá-los, abriu o caminho para que os Espíritos Superiores o guiassem na edificação da Doutrina Consoladora. No entanto, Kardec entendeu que as manifestações físicas fariam parte de uma fase inicial. Refere-se a esses fenômenos como manifestações de forças inteligentes que utilizaram, de início, as mesas segundo sinais convencionados, mas proclama que este meio ainda grosseiro era demorado e incômodo. Por isso, sob a instrução dos próprios Espíritos, amarrou-se um lápis no fundo de uma cesta, que era colocada sobre uma prancheta. O médium impunha seus dedos às bordas da cesta, sem tocá-las e a cesta escrevia diretamente as respostas dadas pelos Espíritos. Mais tarde, reconheceu-se que a cesta e a prancheta eram simplesmente um apêndice da mão do médium. Dessa maneira, colocou-se o lápis diretamente em sua mão, o que tornou as comunicações mais rápidas, fáceis e completas. Mesmo com a evolução das manifestações mediúnicas, as mesas girantes sempre representarão o ponto de partida da Doutrina Espírita. Mostrando esses fenômenos na sua maior simplicidade, elas facilitam o estudo das causas que os produzem, fornecendo a chave para a decifração dos efeitos mais complexos. QUESTÕES PARA ESTUDO EM GRUPO 1. Qual a importância dos fenômeno de Hydesville no surgimento do Espiritismo? 2. Qual a posição de Hippolyte Léon Denizard Rivail (Allan Kardec) perante o fenômeno das mesas girantes? Fontes de consulta 1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Introdução ao estudo da Doutrina Espírita. FEB, 1994. item 4, pág.19-21; item 5, pág 21. 2. KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Das Manifestações físicas. FEB, 1995. item 60, pág. 83. 3. KARDEC, Allan. Obras Póstumas. Minha primeira iniciação no Espiritismo. FEB, 1993. pág.265-271. 4. KARDEC, Allan. O que é o Espiritismo. Falsas explicações dos fenômenos. FEB, 1990, pág. 82-86. 5 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” 5. DOYLE, Arthur Conan. História do Espiritismo. O Episódio de Hydesville. Pensamento. Pág. 73-92. 6. BARBOSA, Pedro Franco. Espiritismo Básico. Primórdios do Espiritismo. FEB, 1987, pág. 42-49. 7. GIBIER, Paul. O Espiritismo (O Faquirismo Ocidental). Origens do Espiritismo. FEB, 1980, Primeira parte. Cap. III, pág. 34-43. 8. WANTUIL, Z. & Thiesen, F. Allan Kardec. Os acontecimentos de Hydesville. FEB, 1980, v.2, pág.54. As mesas girantes e dançantes. FEB, 1980, pág. 56. 9. WANTUIL, Zeus. As Mesas Girantes e o Espiritismo. Item 2, pág. 9, 21, 41, 45, 46, 47 e 75. Roteiro 3: Biografia de Allan Kardec - Extraída de Obras Póstumas Hipolyte Léon Denizard Rivail 1804-1869 Nascido em Lyon, a 3 de outubro de 1804, de uma família antiga que se distinguiu na magistratura e na advocacia, Allan Kardec (Hippolyte Léon Denizard Rivail) não seguiu essas carreiras. Desde a primeira juventude, sentiu-se inclinado ao estudo das ciências e da filosofia. Educado na Escola de Pestalozzi, em Yverdun (Suíça), tornou-se um dos mais eminentes discípulos desse célebre professor e um dos zelosos propagandistas do seu sistema de educação, que tão grande influência exerceu sobre a reforma do ensino na França e na Alemanha. Dotado de notável inteligência e atraído para o ensino, pelo seu caráter e pelas suas aptidões especiais, já aos catorze anos ensinava o que sabia àqueles dos seus condiscípulos que haviam aprendido menos do que ele. Foi nessa escola que lhe desabrocharam as idéias que mais tarde o colocariam na classe dos homens progressistas e dos livre-pensadores. Nascido sob a religião católica, mas educado num país protestante, os atos de intolerância que por isso teve de suportar, no tocante a essa circunstância, cedo o levaram a conceber a idéia de uma reforma religiosa, na qual trabalhou em silêncio durante longos anos com o intuito de alcançar a unificação das crenças. Faltava-lhe, porém, o elemento indispensável à solução desse grande problema. O Espiritismo veio, a seu tempo, imprimir-lhe especial direção aos trabalhos. 6 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” Concluídos seus estudos, voltou para a França. Conhecendo a fundo a língua alemã, traduzia para a Alemanha diferentes obras de educação e de moral e, o que é muito característico, as obras de Fénelon, que o tinham seduzido de modo particular. Era membro de várias sociedades sábias, entre outras, da Academia Real de Arras, que, em o concurso de 1831, lhe premiou uma notável memória sobre a seguinte questão: Qual o sistema de estudos mais de harmonia com as necessidades da época? De 1835 a 1840, fundou, em sua casa, à rua de Sèvres, cursos gratuitos de Química, Física, Anatomia comparada, Astronomia, etc., empresa digna de encômios em todos os tempos, mas, sobretudo, numa época em que só um número muito reduzido de inteligências ousava enveredar por esse caminho. Preocupado sempre com o tornar atraentes e interessantes os sistemas de educação, inventou, ao mesmo tempo, um método engenhoso de ensinar a contar e um quadro mnemônico da História de França, tendo por objetivo fixar na memória as datas dos acontecimentos de maior relevo e as descobertas que iluminaram cada reinado. Entre as suas numerosas obras de educação, citaremos as seguintes: Plano proposto para melhoramento da Instrução pública (1828); Curso prático e teórico de Aritmética, segundo o método Pestalozzi, para uso dos professores e das mães de família (1824); Gramática francesa clássica (1831); Manual dos exames para os títulos de capacidade; Soluções racionais das questões e problemas de Aritmética e de Geometria (1846); Catecismo gramatical da língua francesa (1848); Programa dos cursos usuais de Química, Física, Astronomia, Fisiologia, que ele professava no Liceu Polimático; Ditados normais dos exames da Municipalidade e da Sorbona, seguidos de Ditados especiais sobre as dificuldades ortográficas (1849), obra muito apreciada na época do seu aparecimento e da qual ainda recentemente eram tiradas novas edições. Antes que o Espiritismo lhe popularizasse o pseudônimo de Allan Kardec, já ele se ilustrara, como se vê, por meio de trabalhos de natureza muito diferente, porém tendo todos, como objetivo, esclarecer as massas e prendê-las melhor às respectivas famílias e países. Pelo ano de 1855, posta em foco a questão das manifestações dos Espíritos, Allan Kardec se entregou a observações perseverantes sobre esse fenômeno, cogitando principalmente de lhe deduzir as conseqüências filosóficas. Entreviu, desde logo, o princípio de novas leis naturais: as que regem as relações entre o mundo visível e o mundo invisível. Reconheceu, na ação deste último, uma das forças da Natureza, cujo conhecimento haveria de lançar luz sobre uma imensidade de problemas tidos por insolúveis, e lhe compreendeu o alcance, do ponto de vista religioso. Suas obras principais sobre esta matéria são: O Livro dos Espíritos, referente à parte filosófica, e cuja primeira edição apareceu a 18 de abril de 1857; O Livro dos Médiuns, relativo à parte experimental e científica (janeiro de 1861); O 7 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” Evangelho segundo o Espiritismo, concernente à parte moral (abril de 1864); O Céu e o Inferno, ou A justiça de Deus segundo o Espiritismo (agosto de 1865); A Gênese, os Milagres e as Predições (janeiro de 1868); A Revista Espírita, jornal de estudos psicológicos, periódico mensal começado a 1º de janeiro de 1858. Fundou em Paris, a 1º de abril de 1858, a primeira Sociedade espírita regularmente constituída, sob a denominação de Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, cujo fim exclusivo era o estudo de quanto possa contribuir para o progresso da nova ciência. Allan Kardec se defendeu, com inteiro fundamento, de coisa alguma haver escrito debaixo da influência de idéias preconcebidas ou sistemáticas. Homem de caráter frio e calmo, observou os fatos e de suas observações deduziu as leis que os regem. Foi o primeiro a apresentar a teoria relativa a tais fatos e a formar com eles um corpo de doutrina, metódico e regular. Demonstrando que os fatos erroneamente qualificados de sobrenaturais se acham submetidos a leis, ele os incluiu na ordem dos fenômenos da Natureza, destruindo assim o último refúgio do maravilhoso e um dos elementos da superstição. Durante os primeiros anos em que se tratou de fenômenos espíritas, estes constituíram antes objeto de curiosidade, do que de meditações sérias. O Livro dos Espíritos dez que o assunto fosse considerado sob aspecto muito diverso. Abandonaram-se as mesas girantes, que tinham sido apenas um prelúdio, e começou-se a atentar na doutrina, que abrange todas as questões de interesse para a Humanidade. Data do aparecimento de O Livro dos Espíritos a fundação de Espiritismo que, até então, só contara com elementos esparsos, sem coordenação, e cujo alcance nem toda gente pudera apreender. A partir daquele momento, a doutrina prendeu a atenção de homens sérios e tomou rápido desenvolvimento. Em poucos anos, aquelas idéias conquistaram numerosos aderentes em todas as camadas sociais e em todos os países. Esse êxito sem precedentes decorreu sem dúvida da simpatia que tais idéias despertaram, mas também é devido, em grande parte, à clareza com que foram expostas e que é um dos característicos dos escritos de Allan Kardec. Evitando as fórmulas abstratas da Metafísica, ele soube fazer que todos o lessem sem fadiga, condição essencial à vulgarização de uma idéia. Sobre todos os pontos controversos, sua argumentação, de cerrada lógica, poucas ensanchas oferece à refutação e predispõe à convicção. As provas materiais que o Espiritismo apresenta da existência da alma e da vida futura tendem a destruir as idéias materialistas e panteístas. Um dos princípios mais fecundos dessa doutrina e que deriva do precedente é o da pluralidade das existências, já entrevisto por uma multidão de filósofos antigos e modernos e, nestes últimos tempos, por João Reynaud, Carlos Fourier, Eugênio Sue e outros. Conservara-se, todavia, em estado de hipótese e de sistema, enquanto o Espiritismo lhe demonstrara a realidade e prova que nesse princípio reside um dos atributos essenciais da Humanidade. Dele promana a explicação de todas as aparentes anomalias da vida humana, de todas as desigualdades intelectuais, morais e sociais, facultando ao homem saber donde vem, para onde vai, para que fim se acha na Terra e por que aí sofre. 8 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” As idéias inatas se explicam pelos conhecimentos adquiridos nas vidas anteriores; a marcha dos povos e da Humanidade, pela ação dos homens dos tempos idos e que revivem, depois de terem progredido; as simpatias e antipatias, pela natureza das relações anteriores. Essas relações, que religam a grande família humana de todas as épocas, dão por base, aos grandes princípios de fraternidade, de igualdade, de liberdade e de solidariedade universal, as próprias leis da Natureza e não mais uma simples teoria. Em vez do postulado: Fora da Igreja não há salvação, que alimenta a separação e a animosidade entre as diferentes seitas religiosas e que há feito correr tanto sangue, o Espiritismo tem como divisa: Fora da Caridade não há salvação, isto é, a igualdade entre os homens perante Deus, a tolerância, a liberdade de consciência e a benevolência mútua. Em vez da fé cega, que anula a liberdade de pensar, ele diz: Não há fé inabalável, senão a que pode encarar face a face a razão, em todas as épocas da Humanidade. A fé, uma base se faz necessária e essa base é a inteligência perfeita daquilo em que se tem de crer. Para crer, não basta ver, é preciso, sobretudo, compreender. A fé cega já não é para este século. É precisamente ao dogma da fé cega que se deve o ser hoje tão grande o número de incrédulos, porque ela quer impor-se e exige a abolição de uma das mais preciosas faculdades do homem: o raciocínio e o livre-arbítrio. Trabalhador infatigável, sempre o primeiro a tomar da obra e o último a deixá-la, Allan Kardec sucumbiu, a 31 de março de 1869, quando se preparava para uma mudança de local, imposta pela extensão considerável de suas múltiplas ocupações. Diversas obras que ele estava quase a terminar, ou que aguardavam oportunidade para vir a lume, demonstrarão um dia, ainda mais, a extensão e o poder das suas concepções. Morreu conforme viveu: trabalhando. Sofria, desde longos anos, de uma enfermidade do coração, que só podia ser combatida por meio do repouso intelectual e pequena atividade material. Consagrado, porém, todo inteiro à sua obra, recusava-se a tudo o que pudesse absorver um só que fosse de seus instantes, à custa das suas ocupações prediletas. Deu-se com ele o que se dá com todas as almas de forte têmpera: a lâmina gastou a bainha. O corpo se lhe entorpecia e se recusava aos serviços que o Espírito lhe reclamava, enquanto este último, cada vez mais vivo, mais enérgico, mais fecundo, ia sempre alargando o círculo de sua atividade. Nessa luta desigual não podia a matéria resistir eternamente. Acabou sendo vencida: rompeu-se o aneurisma e Allan Kardec caiu fulminado. Um homem houve de menos na Terra; mas, um grande nome tomava lugar entre os que ilustraram este século; um grande Espírito fora retemperar-se no Infinito, onde todos os que ele consolara e esclarecera lhe aguardavam impacientemente a volta! A morte, dizia, faz pouco tempo, redobra os seus golpes nas fileiras ilustres!... A quem virá ela agora libertar? 9 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” Ele foi, como tantos outros, recobrar-se no Espaço, procurar elementos novos para restaurar o seu organismo gasto por um vida de incessantes labores. Partiu com os que serão os fanais da nova geração, para voltar em breve com eles a continuar e acabar a obra deixada em dedicadas mãos. O homem já aqui não está; a alma, porém, permanecerá entre nós. Será um protetor seguro, uma luz a mais, um trabalhador incansável que as falanges do Espaço conquistaram. Como na Terra, sem ferir a quem quer que seja, ele fará que cada um lhe ouça os conselhos oportunos; abrandará o zelo prematuro dos ardorosos, amparará os sinceros e os desinteressados e estimulará os mornos. Vê agora e sabe tudo o que ainda há pouco previa! Já não está sujeito às incertezas, nem aos desfalecimentos e nos fará partilhar da sua convicção, fazendo-nos tocar com o dedo a meta, apontando-nos o caminho, naquela linguagem clara, precisa, que o tornou aureolado nos anais literários. Já não existe o homem, repetimo-lo. Entretanto, Allan Kardec é imortal e a sua memória, seus trabalhos, seu Espírito estarão sempre com os que empunharem forte e vigorosamente o estandarte que ele soube sempre fazer respeitado. Uma individualidade pujante constituiu a obra. Era o guia e o fanal de todos. Na Terra, a obra subsistirá o obreiro. Os crentes não se congregarão em torno de Allan Kardec; congregar-se-ão em torno do Espiritismo, tal como ele o estruturou e, com os seus conselhos, sua influência, avançaremos, a passos firmes, para as fases ditosas prometidas à Humanidade regenerada. Fontes de consulta: 1. Biografia do Sr. Allan Kardec. Revista Espírita. Jornal de estudos psicológicos. São Paulo, v5, pág. 128, 131-132, 1869. 2. KARDEC, Allan. A Gênese. Caráter da Revelação. FEB, 1995. item 14, pág. 20. 3. SAUSSE, Henru. O que é o Espiritismo. Biografia de Allan Kardec. FEB, 1990, pág. 10, 11-13, 14-16, 18-19, 22, 25. 4. FLAMMARION, Camile. Obras Póstumas. Discurso pronunciado junto ao túmulo de Allan Kardec. FEB, 1993, pág. 24.Biografia de Allan Kardec, pág. 13. 5. WANTUIL, Zeus & THIESEN, Francisco. Allan Kardec. Missão de Allan Kardec. FEB, 1982, v. II, pág. 120. H. L. D. Rivail, educador, estuda os fatos. v. II. Pág. 63. Princípios enunciados e seguidos pelo discípulo. v. I. pág. 99. Esboço do sistema pestalozziano. v. I. pág. 97. 10 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” Roteiro 4: As obras básicas do Espiritismo O Livro dos Espíritos Publicado em 18 de abril de 1857 Este é o livro básico da Filosofia Espírita. Nele estão contidos os princípios básicos do Espiritismo, tal como foram transmitidos pelos Espíritos Superiores a Allan Kardec, com o concurso de diversos médiuns. Seu conteúdo é apresentado em quatro partes: Das causas primárias, Do mundo espírita ou dos espíritos, Das leis morais e Das esperanças e consolações. Eis alguns assuntos de que trata: provas da existência de Deus, Espírito e matéria, a formação dos mundos e dos seres vivos, povoamento da Terra, pluralidade dos mundos, origem e natureza dos Espíritos, perispíritos, objetivos da encarnação, sexo nos Espíritos, percepções, sensações e sofrimentos dos Espíritos, aborto, sono e sonhos, influência dos Espíritos nos acontecimentos da vida, pressentimentos, Espíritos protetores e outros temas de real interesse para o homem atual. Na parte relativa às Leis Morais, os temas versam sobre o bem e o mal, a prece, a necessidade do trabalho, o casamento, o celibato, o necessário e o supérfluo, a pena de morte, a influência do Espiritismo no progresso da Humanidade, as desigualdades sociais, a igualdade dos direitos do homem e da mulher, o livre-arbítrio e o conhecimento de si mesmo. Na última parte, refere-se aos temas: perdas de entes queridos, temor da morte, suicídio, natureza das penas e gozos futuros, Paraíso, Inferno e Purgatório. É um livro que abre novas perspectivas ao homem, pela interpretação que dá aos diversos aspectos da vida, sob o prisma das Leis Divinas, da existência e sobrevivência do espírito e sua evolução natural e permanente, através das encarnações sucessivas. Seus ensinamentos conduzem o homem atual à redescoberta de si mesmo, no campo do espírito, fornecendo-lhe recursos para que compreenda, sem mistério, quem é, de onde veio e para onde vai. 11 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” O Livro dos Médiuns Publicado em janeiro de 1861 Este livro reúne o ensino especial dos Espíritos Superiores sobre a explicação de todos os gêneros de manifestações dos Espíritos, os meios de comunicação usados por eles, o desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades e os tropeços que eventualmente possam surgir na prática mediúnica. É constituído de duas partes: Noções preliminares e Das manifestações espíritas. Dentre os vários assuntos que aborda, destacam-se: provas da existência dos espíritos, o maravilhoso e o sobrenatural, modos de se proceder com os materialistas, três classes de espíritas, ordem a que devem obedecer os estudos espíritas, ação dos espíritos sobre a matéria, manifestações inteligentes, as mesas girantes, manifestações físicas, manifestações visuais, bi-corporeidade, psicografia, laboratório do mundo invisível, ação curadora, lugares assombrados (com comentários sobre o exorcismo), tipos de médiuns e sua formação, perda e suspensão da mediunidade, influência do meio moral do médium nas comunicações espíritas, mediunidade nos animais, obsessão e meios de combatêla. Trata também de assuntos referentes à identidade dos Espíritos, às evocações de pessoas vivas, à telegrafia humana, além de vários temas intimamente relacionados com o Espiritismo experimental. Não menos importantes são os capítulos dedicados às reuniões nas sociedades espíritas, ao regulamento oficial da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas e ao vocabulário espírita. Como se observa, O Livro dos Médiuns é a obra básica da Ciência Espírita. Graças a ele, o Espiritismo firmou-se como ciência experimental. Embora publicado há mais de 130 anos, seu conteúdo é atual. Seus ensinamentos permitem ao leitor estabelecer relações evidentes da Ciência Espírita com várias conquistas científicas da atualidade. O Evangelho Segundo o Espiritismo Publicado em abril de 1864 Enquanto O Livro dos Espíritos apresenta a Filosofia Espírita e O Livro dos Médiuns, a Ciência Espírita, O Evangelho Segundo o Espiritismo oferece a base do roteiro da Religião Espírita. Logo na introdução desse livro, o leitor encontrará as explicações de Kardec sobre o objetivo da obra, bem como esclarecimentos sobre a autoridade da Doutrina Espírita. Encontrará também a significação de muitas palavras 12 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” freqüentemente empregadas nos Evangelhos, a fim de facilitar a compreensão do leitor para o verdadeiro sentido de certas máximas do Cristo, que à primeira vista podem parecer estranhas. Ainda na introdução, refere-se a Sócrates e a Platão como precursores da Doutrina Cristã e do Espiritismo. O Evangelho Segundo o Espiritismo é composto por 28 capítulos, vinte e sete dos quais são dedicados à explicação das máximas de Jesus, sua concordância com o Espiritismo e sua aplicação às diversas situações da vida. O último capítulo apresenta uma coletânea de preces espíritas, sem entretanto constituir um formulário absoluto. São apenas sugestões para quer deseja elevar seu pensamento a Deus com humildade e responsabilidade. Os ensinamentos que o livro contém são adaptáveis a todas as pátrias, comunidades e raças. É o Código de princípios morais do Universo, que restabelece o ensino do Evangelho de Jesus, no seu verdadeiro sentido, isto é, em Espírito e Verdade. Sua leitura e estudo são imprescindíveis aos espíritas e a todos que se preocupam com a formação moral das criaturas, independentemente de crença religiosa. Além disso, O Evangelho Segundo o Espiritismo é fonte inesgotável de sugestões para a construção de um mundo de Paz e Fraternidade. O Céu e o Inferno Publicado em agosto de 1865 Denominado também “A Justiça Divina Segundo o Espiritismo”, este livro oferece o exame comparado das doutrinas sobre a passagem da vida corporal à vida espiritual. Na primeira parte, são expostos diversos temas sobre o significado do céu e do inferno, dentre os quais: causas do temor da morte, o céu, o inferno, o inferno cristão imitado do pagão, os limbos, quadro do inferno pagão, esboço do inferno cristão, purgatório, doutrina das penas eternas, código penal da vida futura, os anjos segundo a igreja e segundo o Espiritismo. São abordados também vários pontos relacionados à origem da crença nos demônios segundo a igreja e o Espiritismo, à intervenção dos demônios nas modernas manifestações e à proibição de evocar os mortos. A segunda parte deste livro é dedicada ao passamento (momento em que há o desencarne). Kardec reuniu várias dissertações de casos reais, a fim de demonstrar a situação da alma durante e após a morte física, proporcionando ao leitor amplas condições de compreender a ação da Lei de Causa e Efeito, em perfeito equilíbrio com as Leis Divinas. Assim, constam desta parte narrações de 13 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” espíritos infelizes, espíritos em condições medianas, sofredores, suicidas, criminosos e espíritos endurecidos. O Céu e o Inferno coloca ao alcance de todos o conhecimento do mecanismo pelo qual se processa a Justiça Divina, em concordância com o princípio evangélico: “A cada um, segundo suas obras”. A Gênese Publicado em janeiro de 1868 “Esta nova obra”, esclarece Kardec, “é mais um passo no terreno das conseqüências e das aplicações do Espiritismo. Conforme seu título indica, ela tem por objeto o estudo dos três pontos até agora diversamente interpretados e comentados: a Gênese, os Milagres e as Predições, em suas relações com as novas leis decorrentes da observação dos fenômenos espíritas”. Assim, em seus 18 capítulos, destacam-se os temas: caráter da Revelação Espírita, existência de Deus, origem do bem e do mal, destruição dos seres vivos uns pelos outros. Refere-se à astronomia, com várias explicações sobre leis naturais, a criação e a vida no Universo, a formação da Terra, o dilúvio bíblico e os cataclismos futuros. Em seguida, apresenta um estudo sobre a formação primária dos seres vivos, o princípio vital, a geração espontânea, o homem corpóreo e a união espiritual à matéria. No tocante aos Milagres, expõe amplo estudo, no sentido teológico e na interpretação espírita. Além disso, comenta os fluidos, sua natureza e suas propriedades, relacionando-os com a formação do perispírito e, ao mesmo tempo, com a causa de alguns fatos tidos como sobrenaturais. Desta forma, a obra explica vários “milagres” contidos nos Evangelhos, entre eles, o cego de Betsaida, os dez leprosos, o cego de nascença, o paralítico da piscina, Lázaro, Jesus caminhando sobre as águas, a multiplicação dos pães e outros. Posteriormente, expõe a Teoria da Presciência (das previsões) e as predições dos Evangelhos, esclarecendo suas causas, à luz da Doutrina Espírita. Finalmente, este livro apresenta um capítulo entitulado “São chegados os tempos”, no qual aborda a marcha progressiva do Globo, no campo físico e moral, impulsionada pela Lei do Progresso. Com este livro completa-se o conjunto das Obras Básicas da Codificação Espírita, também denominado “Pentateuco Kardequiano”. 14 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” Obras Póstumas Publicado em 1890 Este livro foi publicado somente 21 anos após a desencarnação de Kardec. Constam dele a biografia do codificador (transcrita da Revista Espírita de maio de 1869) e o discurso de Camille Flammarion, pronunciado junto ao túmulo de Allan Kardec. Ao lado das obras da Codificação Espírita, Obras Póstumas constituem valiosa contribuição ao esclarecimento de vários temas fundamentais do Espiritismo, como: Deus, a alma, a criação, caracteres e conseqüências religiosas das manifestações dos espíritos, o perispírito como princípio das manifestações, manifestações visuais, transfiguração, emancipação da alma, aparição de pessoas vivas, bi-corporeidade, obsessão e possessão, segunda vista, conhecimento do futuro, introdução ao estudo da fotografia e da telegrafia do pensamento. Allan Kardec apresenta vasto estudo sobre a natureza do Cristo, sob vários ângulos e incorpora a este estudo a opinião dos apóstolos e a predição dos profetas em relação a Jesus. Paralelamente, trata da teoria da beleza, estendendo os comentários à música celeste, à música espírita e encerra a primeira parte deste livro com a exposição do tema “As alternativas da Humanidade”. Na segunda parte, relata com detalhes sua iniciação no Espiritismo, a revelação de sua missão, a identificação de seu Guia Espiritual, além de outros fatos relacionados a acontecimentos pessoais. Complementando, faz a apresentação da “Constituição do Espiritismo”, destacando a necessidade de se estabelecer uma Comissão Central para orientar o desenvolvimento doutrinário. É oportuno salientar que desta Constituição nasceu o Movimento de Unificação dos Espíritas do Estado de São Paulo, que vem sendo coordenado pela U.S.E. (União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo), desde sua fundação, em 1947. 15 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” Roteiro 5: Tríplice aspecto: filosófico, cientifico e religioso “O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os Espíritos, como filosofia, compreende todas as conseqüências morais que dimanam dessas mesmas relações. Podemos defini-lo assim: O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal”. (02) Em vista disto, constituindo a Doutrina Espírita um sistema de princípios filosóficos e éticos, de comprovação científica, apresenta três notórios aspectos: o filosófico e o religioso. “(...) Quando o homem pergunta, interroga, cogita, quer saber o “como” e o “porquê” das coisas, dos fatos, dos acontecimentos, nasce a FILOSOFIA, que mostra o que são as coisas e porque são as coisas o que são.(...) O caráter filosófico do Espiritismo está, portanto, no estudo que faz do homem, sobretudo Espírito, de seus problemas, de sua origem, de sua destinação. Esse estudo leva ao conhecimento do mecanismo das relações dos homens, que vivem na Terra, com aqueles que já se despediram dela, temporariamente, pela morte, estabelecendo as bases desse permanente relacionamento, e demonstra a existência, inquestionável, de algo que tudo cria e tudo comanda, inteligentemente – DEUS. Definido as responsabilidade do Espírito – quando encarnado (Alma) e também do desencarnado, o Espiritismo é Filosofia, uma regra moral de vida e comportamento para os seres da Criação, dotados de sentimentos, razão e consciência. (...)” (03). O Espiritismo não se constitui em uma religião a mais, visto que não tem cultos instituídos, nem igrejas, nem imagens, nem rituais, nem dogmas, mitos ou crendices, nem tão pouco hierarquia sacerdotal. Podemos, porém, considerá-lo em seu aspecto religioso, quando estabelece um laço moral entre os homens, conduzindo-os em direção ao Criador, através da vivência dos ensinamentos morais do Cristo. É no seu aspecto religioso que” (...) repousa a sua grandeza divina, por constituir a restauração do Evangelho de Jesus Cristo, estabelecendo a renovação definitiva do homem, para a grandeza do seu imenso futuro espiritual. (...)” (04). “(...) Espiritismo passa de Filosofia à Ciência, quando confirma, pela experimentação, os conhecimentos filosóficos que prega e dissemina. (...) Como filosofia, trata do conhecimento frente à razão, indaga dos princípios, das causas, perscruta o Espírito, enfim, interpreta os fenômenos; como ciência, prova-os. 16 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” Os fatos ou fenômenos espíritas, isto é, produzidos por Espíritos desencarnados, são a substância mesma da Ciência Espírita, cujo objeto é o estudo e conhecimento desses fenômenos, para fixação das leis que os regem. (...)” (03) “(...) No seu aspecto científico e filosófico, a doutrina será sempre um campo nobre de investigações humanas, como outros movimentos coletivos de natureza intelectual, que visam o aperfeiçoamento da Humanidade. (...)” (04). FICHA DE NOÇÕES A Doutrina Espírita apresenta três aspectos: o filosófico, o científico e o religioso. No aspecto filosófico do Espiritismo, enquadra-se o estudo dos problemas da origem e da destinação do homem, bem como o da existência de uma inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. No aspecto científico, demonstra experimentalmente a existência da alma e sua imortalidade, principalmente através do intercâmbio mediúnico entre os encarnados e os desencarnados. O Espiritismo não se constitui em uma religião a mais, visto que não tem cultos, nem ritos, nem cerimoniais e que entre seus adeptos nenhum tomou ou recebeu o título de sacerdote. Podemos, porém, considerá-lo em seu aspecto religioso, quando estabelece um laço moral entre os homens, conduzindo-os a uma ascensão espiritual em direção ao Criador, através da vivência das máximas morais do Cristo. O Espiritismo é, pois, “(...) a ciência nova que vem revelar aos homens, por meio de provas irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual e as relações com o mundo corpóreo, (...)” (01) “(...) É, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica (...)”, compreendendo “todas as conseqüências morais que dimanam dessas mesmas relações “. (02) Através dos ensinamentos espíritas, pode-se fazer uma diferença entre Religião, propriamente dita, e religiões no sentido de seitas humanas. “Religião, para todos os homens, deveria compreender-se como sentimento divino que clarifica o caminho das almas e que cada espírito apreenderá na pauta do seu nível evolutivo. Neste sentido, a Religião é sempre a face augusta e soberana da Verdade; porém, na inquietação que lhes caracteriza a existência na Terra, os homens se dividiram em numerosas religiões como se a fé também pudesse ter fronteiras. (...)” (04) “(...) A religião é o sentimento divino que prende o homem ao Criador. As religiões são organizações dos homens, falíveis e imperfeitas como eles próprios: dignas de todo o acatamento pelo sopro de inspiração superior que as faz surgir, 17 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” são como gotas de orvalho celeste, misturadas com os elementos da terra em que caíram. (...)” (05) Fontes de consulta 1. KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Não vim destruir a Lei. FEB, 1995. Item 5, pág. 56 2. KARDEC, Allan. O que é o Espiritismo. Preâmbulo. FEB, 1990, pág. 50 3. BARBOSA, Pedro Franco. Espiritismo Básico. A Doutrina Espírita. FEB, 1987, Segunda parte, pág. 101, 103. 4. XAVIER, Francisco Cândido. O Consolador. Definição. Ditado pelo Espírito Emmanuel. FEB, 1995, pág. 19-20; perg. 292, pág. 171-172 5. XAVIER, Francisco Cândido. Palavras de Emmanuel. Ditado pelo Espírito Emmanuel. FEB, 1987, pág 164. Roteiro 6: Doutrina Espírita Consolador prometido 3. Se me amais, guardai os meus mandamentos; e eu rogarei a meu Pai e ele vos enviará outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco: - O Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber, porque o não vê e absolutamente o não conhece. Mas, quanto a vós, conhecê-lo-eis, porque ficará convosco e estará em vós. - Porém, o Consolador, que é o Santo Espírito, que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará recordar tudo o que vos tenho dito. (S. JOÃO, cap. XIV, vv. 15 a 17 e 26.) 4. Jesus promete outro consolador: o Espírito de Verdade, que o mundo ainda não conhece, por não estar maduro para o compreender, consolador que o Pai enviará para ensinar todas as coisas e para relembrar o que o Cristo há dito. Se, portanto, o Espírito de Verdade tinha de vir mais tarde ensinar todas as coisas, é que o Cristo não dissera tudo; se ele vem relembrar o que o Cristo disse, é que o que este disse foi esquecido ou mal compreendido. O Espiritismo vem, na época predita, cumprir a promessa do Cristo: preside ao seu advento o Espírito de Verdade. Ele chama os homens à observância da lei; ensina todas as coisas fazendo compreender o que Jesus só disse por parábolas. Advertiu o Cristo: "Ouçam os que têm ouvidos para ouvir." O Espiritismo vem abrir os olhos e os ouvidos, porquanto fala sem figuras, nem alegorias; levanta o véu intencionalmente lançado sobre certos mistérios. Vem, finalmente, trazer a consolação suprema aos deserdados da Terra e a todos os que sofrem, atribuindo causa justa e fim útil a todas as dores. 18 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” Disse o Cristo: "Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados." Mas, como há de alguém sentir-se ditoso por sofrer, se não sabe por que sofre? O Espiritismo mostra a causa dos sofrimentos nas existências anteriores e na destinação da Terra, onde o homem expia o seu passado. Mostra o objetivo dos sofrimentos, apontando-os como crises salutares que produzem a cura e como meio de depuração que garante a felicidade nas existências futuras. O homem compreende que mereceu sofrer e acha justo o sofrimento. Sabe que este lhe auxilia o adiantamento e o aceita sem murmurar, como o obreiro aceita o trabalho que lhe assegurará o salário. O Espiritismo lhe dá fé inabalável no futuro e a dúvida pungente não mais se lhe apossa da alma. Dando-lhe a ver do alto as coisas, a importância das vicissitudes terrenas some-se no vasto e esplêndido horizonte que ele o faz descortinar, e a perspectiva da felicidade que o espera lhe dá a paciência, a resignação e a coragem de ir até ao termo do caminho. Assim, o Espiritismo realiza o que Jesus disse do Consolador prometido: conhecimento das coisas, fazendo que o homem saiba donde vem, para onde vai e por que está na Terra; atrai para os verdadeiros princípios da lei de Deus e consola pela fé e pela esperança. Anunciação do Consolador 35 - Se me amais, guardai os meus mandamentos - e eu pedirei a meu Pai e ele vos enviará outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco: - O Espírito de Verdade que o mundo não pode receber, porque não o vê; vós, porém, o conhecereis, porque permanecerá convosco e estará em vós. - Mas o Consolador, que é o Espírito Santo, que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e fará vos lembreis de tudo o que vos tenho dito. (S. João, cap. XIV, vv. 15 a 17 e 26. - O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VI.) 36. - Entretanto, digo-vos a verdade: Convém que eu me vá, porquanto, se eu não me for, o Consolador não vos virá; eu, porém, me vou e vo-lo enviarei. - E, quando ele vier, convencerá o mundo no que respeita ao pecado, à justiça e ao juízo: - no que respeita ao pecado, por não terem acreditado em mim; - no que respeita à justiça, porque me vou para meu Pai e não mais me vereis; no que respeita ao juízo, porque já está julgado o príncipe deste mundo. Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas presentemente não as podeis suportar. Quando vier esse Espírito de Verdade, ele vos ensinará toda a verdade, porquanto não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tenha escutado e vos anunciará as coisas porvindouras. Ele me glorificará, porque receberá do que está em mim e vo-lo anunciará. (S. João, cap. XVI, vv. 7 a 14.) 37 - Esta predição, não há contestar, é uma das mais importantes, do ponto de vista religioso, porquanto comprova, sem a possibilidade do menor equívoco, que Jesus não disse o que tinha a dizer, pela razão de que não o teriam compreendido nem mesmo seus apóstolos, visto que a eles é que o Mestre se dirigia. Se lhes houvesse dado instruções secretas, os Evangelhos fariam referência a tais instruções, Ora, desde que ele não disse tudo a seus apóstolos, os sucessores destes não terão podido saber mais do que eles, com relação ao que foi dito; ter-se-ão possivelmente enganado, quanto ao sentido das palavras do Senhor, ou dado interpretação falsa aos seus pensamentos, muitas vezes velados 19 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” sob a forma parabólica. As religiões que se fundaram no Evangelho não podem, pois, dizer-se possuidoras de toda a verdade, porquanto ele, Jesus, reservou para si a completação ulterior de seus ensinamentos. O princípio da imutabilidade, em que elas se firmam, constitui um desmentido às próprias palavras do Cristo. Sob o nome de Consolador e de Espírito de Verdade, Jesus anunciou a vinda daquele que havia de ensinar todas as coisas e de lembrar o que ele dissera. Logo, não estava completo o seu ensino. E, ao demais, prevê não só que ficaria esquecido, como também que seria desvirtuado o que por ele fora dito, visto que o Espírito de Verdade viria tudo lembrar e, de combinação com Elias, restabelecer todas as coisas, isto é, pô-las de acordo com o verdadeiro pensamento de seus ensinos. 38 - Quando terá de vir esse novo revelador? É evidente que se, na época em que Jesus falava, os homens não se achavam em estado de compreender as coisas que lhe restavam a dizer, não seria em alguns anos apenas que poderiam adquirir as luzes necessárias a entendê-las. Para a inteligência de certas partes do Evangelho, excluídos os preceitos morais, faziam-se mister conhecimentos que só o progresso das ciências facultaria e que tinham de ser obra do tempo e de muitas gerações. Se, portanto, o novo Messias tivesse vindo pouco tempo depois do Cristo, houvera encontrado o terreno ainda nas mesmas condições e não teria feito mais do que o mesmo Cristo. Ora, desde aquela época até os nossos dias, nenhuma grande revelação se produziu que haja completado o Evangelho e elucidado suas partes obscuras, indicio seguro de que o Enviado ainda não aparecera. 39 - Qual deverá ser esse Enviado? Dizendo: «Pedirei a meu Pai e ele vos enviará outro Consolador», Jesus claramente indica que esse Consolador não seria ele, pois, do contrário, dissera: «Voltarei a completar o que vos tenho ensinado.» Não só tal não disse, como acrescentou: A fim de que fique eternamente convosco e ele estará em vós. Esta proposição não poderia referir-se a uma individualidade encarnada, visto que não poderia ficar eternamente conosco, nem, ainda menos, estar em nós; compreendemo-la, porém, muito bem com referência a uma doutrina, a qual, com efeito, quando a tenhamos assimilado, poderá estar eternamente em nós. O Consolador é, pois, segundo o pensamento de Jesus, a personificação de uma doutrina soberanamente consoladora, cujo inspirador há de ser o Espírito do Verdade. 40 - O Espiritismo realiza, como ficou demonstrado (cap. 1, nº 30), todas as condições do Consolador que Jesus prometeu. Não é uma doutrina individual, nem de concepção humana; ninguém pode dizer-se seu criador. É fruto do ensino coletivo dos Espíritos, ensino a que preside o Espírito de Verdade. Nada suprime do Evangelho: antes o completa e elucida. Com o auxílio das novas leis que revela, conjugadas essas leis às que a Ciência já descobrira, faz se compreenda o que era ininteligível e se admita a possibilidade daquilo que a incredulidade considerava inadmissível. Teve precursores e profetas, que lhe pressentiram a vinda. Pela sua força moralizadora, ele prepara o reinado do bem na Terra. 20 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” A doutrina de Moisés, incompleta, ficou circunscrita ao povo judeu; a de Jesus, mais completa, se espalhou por toda a Terra, mediante o Cristianismo, mas não converteu a todos; o Espiritismo, ainda mais completo, com raízes em todas as crenças, converterá a Humanidade2. 41 - Dizendo a seus apóstolos: «Outro virá mais tarde, que vos ensinará o que agora não posso ensinar», proclamava Jesus a necessidade da reencarnação. Como poderiam aqueles homens aproveitar do ensino mais completo que ulteriormente seria ministrado; como estariam aptos a compreendê-lo, se não tivessem de viver novamente? Jesus houvera proferido uma coisa inconseqüente te se, de acordo com a doutrina vulgar, os homens futuros houvessem de ser homens novos, almas saídas do nada por ocasião do nascimento. Admita-se, ao contrário, que os apóstolos e os homens do tempo deles tenham vivido depois; que ainda hoje revivem, e plenamente justificada estará a promessa de Jesus. Tendose desenvolvido ao contacto do progresso social, a inteligência deles pode presentemente comportar o que então não podia. Sem a reencarnação a promessa de Jesus fora ilusória. 42 - Se disserem que essa promessa se cumpriu no dia de Pentecostes, por meio da descida do Espírito Santo, poder-se-á responder que o Espírito Santo os inspirou, que lhes desanuviou a inteligência, que desenvolveu neles as aptidões mediúnicas destinadas a facilitar-lhes a missão, porém que nada lhes ensinou além daquilo que Jesus já ensinara, porquanto, no que deixaram, nenhum vestígio se encontra de um ensinamento especial. o Espírito Santo, pois, não realizou o que Jesus anunciara relativamente ao Consolador; a não ser assim, os apóstolos teriam elucidado o que, no Evangelho, permaneceu obscuro até ao dia de hoje e cuja interpretação contraditória deu origem às inúmeras seitas que dividiram o Cristianismo desde os primeiros séculos. Segundo advento do Cristo 43 - Disse então Jesus a seus discípulos: Se algum quiser vir nas minhas pegadas, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me; - porquanto, aquele que quiser salvar a vida a perderá e aquele que perder a vida por amor de mim a encontrará de novo. De que serviria a um homem ganhar o mundo inteiro e perder a alma? Ou por que preço poderá o homem comprar sua alma, depois de a ter perdido? Porque, o Filho do homem há de vir na glória de seu Pai, com seus anjos, e então dará a cada um segundo as suas obras. Digo-vos, em verdade, que alguns daqueles que aqui se encontram não sofrerão a morte, sem que tenham visto vir o Filho do homem no seu reino. (S. Mateus, cap. XVI, vv. 24 a 28.) Todas as doutrinas filosóficas e religiosas trazem o nome do seu fundador. Diz-se: o Moisaísmo, o Cristianismo, o Maometismo, O Budismo, o Cartesianismo, o Furrierismo, o São- Simonismo, etc. A palavra Espiritismo, ao contrário, não lembra nenhuma personalidade; encerra uma idéia geral, que ao mesmo tempo indica o caráter e o tronco multíplice da doutrina. 21 2 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” 44 - Então, levantando-se do meio da assembléia, o sumo-sacerdote interrogou a Jesus desta forma: Nada respondes ao que estes depõem contra ti? Mas Jesus se conservava em silêncio e não respondeu. Interrogou-o de novo o sumo-sacerdote: És o Cristo, o Filho de Deus para sempre Bendito? - Jesus lhe respondeu: Eu o sou e vereis um dia o Filho do homem assentado à direita da majestade de Deus e vindo sobre as nuvens do céu. Logo o sumo-sacerdote, rasgando as vestes, lhe diz: Que necessidade temos de mais testemunhos? (S. Marcos, cap. XIV, vv. 60 a 63.) 45 - Jesus anuncia o seu segundo advento, mas não diz que voltará à Terra com um corpo carnal, nem que personificará o Consolador. Apresenta-se como tendo de vir em Espírito, na glória de seu Pai, a julgar o mérito e o demérito e dar a cada um segundo as suas obras, quando os tempos forem chegados. Estas palavras: «Alguns há dos que aqui estão que não sofrerão a morte sem terem visto vir o Filho do homem no seu reinado» parecem encerrar uma contradição, pois é incontestável que ele não veio em vida de nenhum daqueles que estavam presentes. Jesus, entretanto, não podia enganar-se numa previsão daquela natureza e, sobretudo, com relação a uma coisa contemporânea e que lhe dizia pessoalmente respeito. Há, primeiro, que indagar se suas palavras foram sempre reproduzidas fielmente. É de duvidar-se, desde que se considere que ele nada escreveu; que elas só foram registradas depois de sua morte; que o mesmo discurso cada evangelista o exarou em termos diferentes, o que constitui prova evidente de que as expressões de que eles se serviram não são textualmente as de que se serviu Jesus. Além disso, é provável que o sentido tenha sofrido alterações ao passar pelas traduções sucessivas. Por outro lado, é indubitável que, se Jesus houvesse dito tudo o que pudera dizer, ele se teria expressado sobre todas as coisas de modo claro e preciso, sem dar lugar a qualquer equívoco, conforme o fez com relação aos princípios de moral, ao passo que foi obrigado a velar o seu pensamento acerca dos assuntos que não julgou conveniente aprofundar. Persuadidos de que a geração de que faziam parte testemunharia o que ele anunciava, os discípulos foram levados a interpretar o pensamento de Jesus de acordo com aquela idéia. Assim é que redigiram do ponto de vista do presente o que o Mestre dissera, fazendo-o de maneira mais absoluta do que ele próprio o teria feito. Seja como for, o fato é que as coisas não se passaram como eles o supuseram. 46 - A grande e importante lei da reencarnação foi um dos pontos capitais que Jesus não pode desenvolver, porque os homens do seu tempo não se achavam suficientemente preparados para idéias dessa ordem e para as suas conseqüências. Contudo, assentou o princípio da referida lei, como o fez relativamente a tudo mais. Estudada e posta em evidência nos dias atuais pelo Espiritismo, a lei da reencarnação constitui a chave para o entendimento de muitas passagens do Evangelho que, sem ela, parecem verdadeiros contrasensos. 22 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” É por meio dessa lei que se encontra a explicação racional das palavras acima, admitidas que sejam como textuais. Uma vez que elas não podem ser aplicadas às pessoas dos apóstolos, é evidente que se referem ao futuro reinado do Cristo, isto é, ao tempo em que a sua doutrina, mais bem compreendida, for lei universal. Dizendo que alguns dos ali presentes na ocasião veriam o seu advento, ele forçosamente se referia aos que estarão vivos de novo nessa época. Os judeus, porém, imaginavam que lhes seria dado ver tudo o que Jesus anunciava e tomavam ao pé da letra suas frases alegóricas. Aliás, algumas de suas predições se realizaram no devido tempo, tais como a ruma de Jerusalém, as desgraças que se lhe seguiram e a dispersão dos judeus. Sua visão, porém, se projetava muito mais longe, de sorte que, quando falava do presente, sempre aludia ao futuro. Fontes de consulta 1. KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. O Cristo Consolador. FEB, 1995, item 3 e 4, pág. 128 2. KARDEC, Allan. A Gênese. Predições do Evangelho. FEB, 1995. item 37, pág. 386. item 40, pág. 387. 3. PIRES, J. Herculano. O Espírito e o Tempo. A falange do Consolador. EDICEL, 1979. Item 4, pág. 137-138. Roteiro 7: O Espiritismo - De Kardec aos dias de hoje DVD – Com a produção da Federação Espírita Brasileira (FEB), “O Espiritismo – De Kardec aos Dias de Hoje” traz uma visão geral sobre a Doutrina Espírita e sua contribuição para o progresso e a felicidade do ser humano. O ator Ednei Giovenazzi interpreta o filósofo, educador e pedagogo Hippolyte Leon Denizard Rivail (1804 – 1869), mais conhecido com “Allan Kardec”, o Codificador do Espiritismo. A narração é da atriz Aracy Balabanian. 23