O TRABALHO DEGRADADO EM FRIGORÍFICOS E O ADOECIMENTO DOS TRABALHADORES Fernando Mendonça Heck 1 Antonio Thomaz Júnior 2 “(...) eu to encostada eu passo pela médica do trabalho eu conheço muitas pessoas lá, ali não é um açougue de carne ali é um açougue de gente”. (Trabalhadora da Sadia de Toledo-PR). “Os trabalhadores é que estão sendo desossados não os frangos”. (Depoimento de trabalhador disponibilizado pelo Procurador Dr. Sandro Eduardo Sardá). Resumo O objetivo desse artigo é demonstrar como o trabalho em frigoríficos é degradante e impacta na saúde e vida dos sujeitos que laboram. Nosso foco está na análise do território fabril da Sadia localizada no município de Toledo (PR). Utilizamos dados quantitativos para caracterizar a concentração do emprego em frigoríficos no Oeste Paranaense nos utilizando das estatísticas da RAIS/CAGED e do IBGE. Também, para mostrar o adoecimento, nos utilizamos das estatísticas de acidentes/doenças do trabalho do Ministério da Previdência Social e dados da ACP nº nº01428-2010-068-09-00-5 movida contra a Sadia de Toledo (PR). Entrevistamos também trabalhadores da Sadia priorizando a metodologia da história oral, para buscar compreender as suas experiências com relação ao trabalho. Os resultados da pesquisa com essas fontes tem demonstrado que há um grande adoecimento dos trabalhadores (degradação do trabalho). Isso nos leva a compreender a marca territorial do trabalho na Sadia e nos frigoríficos pensando estes enquanto territórios de degradação do trabalho com impactos na saúde e vida dos trabalhadores. Introdução O contexto regional do Oeste Paranaense tem demonstrado um crescimento marcante no emprego industrial em indústrias alimentícias, sobretudo no setor frigorífico (BOSI, 2011). Os dados disponibilizados pela Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) demonstram que entre os anos de 2000 e 2010 houve um crescimento de 250% nos empregos relacionados 1 Mestrando FCT/UNESP campus de Presidente Prudente membro do CEGeT – Centro de Estudos de Geografia do Trabalho e do GEOLUTAS – Geografia das Lutas no Campo e na Cidade. Endereço: Rua Roberto Simonsen, 305 - Jardim Educacional 19060900 - Pres. Prudente/SP. Telefone: (18) 3229-5852 Email: [email protected]. 2 Professor dos Cursos de Graduação e de Pós-Graduação em Geografia pela Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT)/Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) - Campus de Presidente Prudente. Coordenador do CEGeT – Centro de Estudos de Geografia do Trabalho. Pesquisador 1/PQ/CNPq. Email: [email protected]. 2 à variável, sobretudo no que se refere ao abate de suínos, aves e outros pequenos animais, conforme a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE 2.0). A liderança do Paraná quanto aos empregos em frigoríficos, no Brasil, indica que o Oeste do estado concentra 42,7% dos postos de trabalho no setor, sendo que, o município de Toledo (PR), ocupa o maior destaque, ou seja, 7546 postos (RAIS, 2010), principalmente pela presença da Sadia. Enfrentar essa questão apenas pela positividade dos dados de emprego é o que tem levado alguns autores como (Rippel [et.al.] 2007; Ostroski e Medeiros, 2004; Dalla Costa e Silva, 2007; entre outros) associarem estas taxas de crescimento no emprego e produção com o desenvolvimento regional. Tais estudos têm indicado a concentração da atividade e uma especialização do emprego na economia regional, com desempenho superior ao Paraná e o Brasil, que formam um cluster produtivo (DALMÁS [et.al.], 2007a). Os mesmos autores em outra publicação argumentam que a região evoluiu de fronteira agrícola para fronteira agroindustrial (DALMÁS [et.al.], 2007b). Numa versão mais “radical” Ostroski e Medeiros (2004, p.5) dizem que a concentração da atividade de frigorificação de carnes “induz o desenvolvimento desta localidade”. Mas, nestes estudos, a qualidade do emprego gerado; as perspectivas dos trabalhadores; os inúmeros acidentes/doenças do trabalho; os salários muito baixos, etc; não comparecem como temas centrais. É como argumenta Bosi (2011): [...] as condições de vida da classe trabalhadora, quando aparecem nestes estudos, são absolutamente subordinadas aos imperativos do desenvolvimento econômico regional, restando-lhes acomodar-se em tabelas estatísticas e médias aritméticas que, se tiverem uma tendência “ascendente” e “estável”, atestarão seu bem-estar (BOSI, 2011, p.79, grifo nosso). Assim, os resultados que estamos colhendo na pesquisa de Mestrado destoam dos argumentos que comprovam o desenvolvimento regional para o cluster da atividade frigorífica. A partir da nossa ação na pesquisa estamos vislumbrando muito mais a degradação do trabalho com sérios impactos para a saúde e vida dos trabalhadores, do que o tão propalado desenvolvimento regional. 3 Geração de emprego e renda: desenvolvimento? A associação, perigosa, entre as palavras que sugerem o título deste sub-item é uma tarefa importante para a problematização. Uma leitura apressada dos dados poderia nos levar a esse entendimento. Vejamos estes então. Para o Oeste Paranaense encontramos as seguintes informações: 1) concentra 42,7% de todo o emprego industrial paranaense para a atividade de abate de aves, suínos e outros pequenos animais 3; 2) com relação aos empregos gerados na criação de aves e suínos a região se coloca em primeiro lugar com 25,5% na avicultura e 50% na suinocultura; 3) concentra 29,7% do efetivo de rebanhos de frangos e 32,8% de suínos 4 com relação ao Paraná ocupando a liderança então no efetivo de rebanhos de suínos e aves. Estes dados expressivos de empregos em frigoríficos e do efetivo de rebanhos de aves e suínos que conferem a liderança do Oeste Paranaense com relação ao estado são acompanhados também da liderança na produção de soja e milho (base para a produção da ração). No caso da produção de soja concentra 23,8% do total do Paraná e 24,6% do milho, ocupando a liderança no estado com relação às duas culturas. Essa articulação da grande produção de soja e milho base para ração, à existência da relação de integração entre as empresas e os avicultores suinocultores 5 (maior concentração paranaense de efetivo de rebanhos), é basilar para a expansão dos abatedouros de aves e suínos no contexto regional. Vejamos então o (Mapa 1) que trata da espacialização do número de empregos em abate de aves suínos e outros pequenos animais, e sua concentração no Oeste Paranaense que emprega 2 vezes mais que o Norte Central Paranaense (2º colocado no número de empregos no Paraná). Mapa 1 – Localização e distribuição do emprego na variável abate de suínos, aves e outros pequenos animais por Mesorregião Paranaense (2010) 3 Líder no Paraná e 2ª Mesorregião que mais emprega na variável no Brasil (RAIS, 2010). Dados disponíveis pela Central de Informações de Aves e Suínos (EMBRAPA-CIAS) com base nos dados da Pesquisa Pecuária Municipal (2010) do Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE). Com relação aos dados nacionais, o Oeste Paranaense ocupa a 2ª colocação entre as Mesorregiões brasileiras concentrando cerca de 7% do efetivo de frangos e a 4ª colocação para o efetivo de suínos concentrando cerca de 5% do efetivo de suínos no Brasil. 5 Há uma boa dissertação que versa sobre as condições de trabalho dos avicultores integrados da Sadia em Toledo sob a autoria de Rosane Toebe Zen. Embora não seja foco central do presente artigo discutir a relação de trabalho dos integrados com os frigoríficos, citamos a dissertação de Zen intitulada “O processo de trabalho dos avicultores parceiros da Sadia S. A: controle, mediações e autonomia” e defendida em 2009 como uma importante referência que demonstra relações de trabalho degradantes impostas a esses avicultores. 4 4 Fonte: MTE/RAIS, 2010. Organização do autor. A expressividade dos dados de emprego/rebanhos/produção de soja e milho não se limita ao Paraná alcança também o nível nacional. Isso porque: a região ocupa o 2º lugar no número de empregos em frigoríficos para o Brasil, 2º lugar no efetivo de rebanhos de aves, 4º lugar no efetivo de rebanhos de suínos, 4º lugar na produção de milho e a 6ª posição na produção de soja 6. Mas, quando focamos nas condições de trabalho nos frigoríficos percebemos dados também relevantes. Vejamos a (Tabela 1) que trata da rotatividade no Paraná para as funções de Abatedor e Magarefe (específicas de frigoríficos), da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). Tabela 1 – Rotatividade (turn over) dos Trabalhadores (Magarefes e Abatedores) no Paraná (Janeiro de 2007 à Fevereiro de 2012) Período: Janeiro de 2007 a Fevereiro de 2012 Paraná Admissão Desligamento Desligamento a Pedido do Trabalhador 128.724 117.045 66.146 Saldo 11.679 Fonte: RAIS/CAGED. Dados correspondentes à soma de admissões e desligamentos das ocupações Magarefe (848520-CBO) e Abatedor (848505-CBO). Organização do autor. No período os desligamentos a pedido dos próprios trabalhadores foi equivalente a 51% de todos os desligamentos para as funções de abatedores e magarefes do Paraná. Isso, ao que parece nos indica um movimento de rejeição, por parte dos trabalhadores, ao emprego em 6 Dados referentes ao ano de 2010, coletados das bases de dados do IBGE e do MTE/RAIS/CAGED e disponibilizados pela (EMBRA-CIAS). Disponível em: <http://www.cnpsa.embrapa.br/cias/dados> (Acesso em 22/05/2012). 5 frigoríficos como constatado também em estudos de Varussa (2012) e Walter (2012) sobre o trabalho no setor. Outra comparação possível e que demonstra dados expressivos deste turnover é que com relação ao total de admitidos no período, 90% dos trabalhadores pediram desligamento das atividades. Essas informações, tem nos levado a questionar os motivos desse movimento de rejeição por parte dos trabalhadores ao emprego em frigoríficos. Para isso é importante compreendermos as relações de trabalho no território fabril frigorífico que tem levado os trabalhadores ao adoecimento. Por exemplo, no setor de refile de peito na Sadia em Toledo (PR) os trabalhadores perfazem cerca de 75 movimentos repetitivos por minuto com a mão direita e 80 com a mão esquerda. São 4.800 ações/hora em cada uma das mãos e 36000/38400 por jornada de trabalho. Já na desossa de coxa e sobrecoxa são 46 movimentos repetitivos realizados pelos trabalhadores em ambas as mãos, o que gera 2700 movimentos em uma hora e 22000 por jornada. Na evisceração (retirada do coração) há 140 ações por minuto em cada mão, assim como, 8400 em uma hora e 67000 por jornada 7. Kilbom (1994) apud Sardá et. al. (2009, p.61) afirma que “o número de 25 a 33 movimentos por minuto não deveria ser excedido quando se deseja evitar transtorno aos tendões”. No caso da Sadia de Toledo estamos falando em duas vezes mais os limites cientificamente permitidos para manter um padrão de saúde e segurança do trabalho. Tais condições de trabalho degradantes que podem ter sérios impactos na saúde, acreditamos ser um dos motivos principais da rejeição ao emprego em frigoríficos por parte dos trabalhadores. Mas essas não são condições de trabalho particulares da Sadia de Toledo (PR). É muito mais uma realidade nacional que coloca em risco a saúde de um conjunto de cerca de meio milhão de trabalhadores que atuam somente nos frigoríficos avícolas. Segundo matéria publicada pela Federação dos Trabalhadores da Indústria da Alimentação do Paraná (FTIA-PR) no dia 29 de setembro de 2011 de todos os trabalhadores brasileiros de frigoríficos “cerca de 23% está afastado ou no aguardo de decisão judicial por conta da grande incidência de doenças ocupacionais” (FTIA-PR, 2011, p.1). Outra informação de grande valia é que “dos 750 mil 8 funcionários nas empresas frigoríficas do Brasil, cerca de 150 mil sofrem algum distúrbio osteomuscular, como lesões 7 Ação Civil Pública nº01428-2010-068-09-00-5 p.11. Isso corresponde a totalidade dos trabalhadores em frigoríficos de aves/suínos/bovinos. Deste número, estimase que 500 mil estejam vinculados ao abate de aves e suínos objetos da nossa pesquisa. 8 6 por esforço repetitivo (LER), e já recorreram ao auxílio-doença” (PRT 12ª REGIÃO, 2012) 9. Alguns exemplos concretos (judiciais) de adoecimento no setor frigorífico são possíveis de ser indicados. Conforme a Ação Civil Pública (ACP) nº 3497-2008-038-12-00-0 movida pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) de Santa Catarina contra a Brasil Foods 10(BRF) de Chapecó (SC), consta que em cinco anos (2004-2009) cerca de 20% dos seis mil trabalhadores receberam benefícios previdenciários em razão das doenças osteomusculares (1.213 trabalhadores) 11. Na mesma empresa em sua unidade localizada em Capinzal (SC), conforme matéria publicada pela Procuradoria Regional do Trabalho do Paraná (PRT-9ª Região), no dia 12 de dezembro de 2011, há informação de que 20% dos 4.500 trabalhadores têm algum tipo de doença ocupacional 12. Ainda, conforme a ACP nº 2545-25.2011.5.18.0101 movida contra a BRF de Rio Verde (GO) chegou-se aos dados de que os afastamentos por distúrbios osteomusculares (campeões nos afastamentos) no período de janeiro a setembro de 2011 tiveram uma média de 28 atestados por dia e 842 ao mês. No período foram totalizados 25.736 afastamentos do trabalho, média de 95 por dia e 2855 ao mês 13. Em dois frigoríficos do Oeste Paranaense 14 temos também dados relevantes. O primeiro com cerca de 1000 trabalhadores teve 909 benefícios previdenciários concedidos entre (2004-2011). Destes as doenças osteomusculares (CID 15-M) e os transtornos mentais (CID-F) tem parte de 28% dos benefícios concedidos. O segundo com cerca de 3350 trabalhadores as informações são disponibilizadas pelo número de auxílio-doença entre 20062008 que perfizeram um total de 503 afastamentos. Destes os “Auxiliares de Produção” ocuparam 67% dos afastamentos. Também há outras publicações em que não são divulgados números exatos, mas contam com indicações de acidentes e doenças do trabalho em frigoríficos. Como por 9 Fonte: <http://www.prt12.mpt.gov.br/prt/noticias/2012_02/13_02.php> (Acesso em: 30/04/2012). Empresa fruto da fusão entre Perdigão e Sadia aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) com restrições em 2011. 11 Fonte e mais informações em: <http://www.prt12.mpt.gov.br/prt/noticias/2010_09/2010_09_29.php> (Acesso em: 23/03/2012). 12 Fonte e mais informações em: <http://www.prt12.mpt.gov.br/prt/noticias/2011_12/12_12.php> (Acesso em: 23/03/2012). O conteúdo da decisão judicial está disponível em: <http://consultas.trt12.jus.br/SAP1/DocumentoListar.do?pdsOrigem=AUDIENCIAS&plocalConexao=joacaba& pnrDoc=200363> (Acesso em 23/03/2012). 13 Fonte: <http://www.prt12.mpt.gov.br/prt/noticias/2012_04/19_04.php> (Acesso em:30/04/12). 14 Dados coletados em trabalho de campo no dia 16/04/2012 junto ao Ministério Público do Trabalho (PTMCascavel). Por se tratarem de Procedimentos Investigatórios não é possível divulgar o nome das empresas, mas somente os dados quantitativos. 15 Classificação Internacional de Doenças. 10 7 exemplo, a investigação na Cooperativa Agroindustrial LAR – localizada em Medianeira (PR) Oeste Paranaense – onde “foram constatados vários afastamentos de empregados por doença ocupacional, além de lesões decorrentes de esforço repetitivo” (PRT- 9ª REGIÃO, p.7, 2009) 16 . As estatísticas do Ministério da Previdência Social (MPS) para o setor com relação ao Paraná também demonstra dados de acidentes/doenças do trabalho (Tabela 2). Tabela 2 - Acidentes de Trabalho na variável Abate de Suínos, Aves e Outros Pequenos Animais (2006-2010) Paraná Paraná Paraná Paraná Paraná Paraná Ano 2010 2009 2008 2007 2006 Acidente Doença Acidente de do Acidentes Tipico Trajeto Trabalho Sem/CAT 1640 189 222 629 1962 174 245 725 1808 194 111 824 1466 161 51 420 1379 58 - Total 2680 3106 2937 2098 1437 Total do 8255 718 629 2598 12258 período Fonte: Ministério da Previdência Social, Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho (AEAT - InfoLogo), 2012. Organização do autor. Conforme a Tabela no período analisado houve 12.258 acidentes/doenças do trabalho relacionados aos frigoríficos de aves e suínos no Paraná. A título de especulação estatística se comparássemos este número com o total de empregos no ano 2010 (58.818) para a mesma variável, teríamos que 20% dos trabalhadores teriam sofrido algum tipo de lesão ou doença. Com relação à (Tabela 2) temos que os frigoríficos são responsáveis por: 1) 5,5% de todos os acidentes registrados sem CAT (1º lugar no PR); 2) 27,4% de todas as doenças do trabalho (1º lugar no PR); 3) 3% dos acidentes de trajeto (3º lugar no PR); 4) 4,9% de todos os acidentes típicos (2º lugar no PR); e 5) 5% de todos os acidentes de trabalho (2º lugar no PR). No caso da Sadia em Toledo (PR) temos também dados relevantes. Para termos uma noção dos agravos à saúde vejamos a (Tabela 3). Tabela 3 – Trabalhadores acometidos por Doenças Osteomusculares (CID-M) e Transtornos mentais (CID-F) 2006-2008 ANO 16 BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS CONCEDIDOS (GRUPOS M E F) Fonte e mais informações em: <http://www.prt9.mpt.gov.br/Boletim/informativo_23.pdf> (Acesso em: 30/04/2012). 8 2006 2007 2008 TOTAL 235 208 217 660 Fonte: ACP nº nº01428-2010-068-09-00-5. Organização do autor. A média de trabalhadores acometidos por transtornos osteomusculares (CID grupo M) e mentais (CID grupo F) 17 é de 220 ao ano. Numa analogia estatística se pensarmos nessa média, temos que em 10 anos 2200 pessoas podem estar doentes se as tendências se confirmarem. Isso equivaleria a cerca de 30% dos funcionários (hoje) da Sadia. Através destes dados verificamos que os frigoríficos ocupam os primeiros lugares não apenas em geração de emprego, mas também nas doenças que atingem os trabalhadores. Isso, a nosso ver está demonstrando a degradação do trabalho com sérios impactos para a saúde física e mental dos últimos. Dessa maneira com o foco central nos sujeitos que laboram, não podemos afirmar que o desenvolvimento e o progresso no Oeste Paranaense se devem a concentração/territorialização de atividades em torno do capital frigorífico. E, portanto, os números expressivos de geração de emprego e renda no setor, não necessariamente significam boas condições de trabalho, pois como vimos os trabalhadores tem adoecido. Por fim, pensamos que o emprego fabril nos frigoríficos apresenta muito mais riscos de adoecimento com sérios impactos na saúde e vida dos trabalhadores (degradação do trabalho) do que desenvolvimento e progresso. Por isso geração de emprego e renda tem de ser problematizada, pois não significa necessariamente boas condições de trabalho! O trabalho degradante que adoece, mutila e impacta na vida dos sujeitos: os relatos/experiências dos trabalhadores da Sadia em Toledo (PR) As fontes orais foram riquíssimas na pesquisa para esmiuçarmos ainda mais as informações e principalmente para perceber quais são as experiências dos trabalhadores sobre o trabalho na Sadia e os impactos do trabalho na sua saúde e vida. Somando-se com as outras fontes consultadas pensamos que foi possível avançar bastante nas reflexões acerca da degradação do trabalho no território fabril. 17 Ainda que tenha diminuído, os registros obtidos por meio das entrevistas, indicam que essas informações estão subdimensionadas 9 Nas entrevistas que realizamos procurou-se trabalhar estas fontes com a metodologia da história oral buscando compreender as experiências destes sujeitos com relação ao trabalho no território fabril. A metodologia da história oral é assim resumida por Harres (2009, p.10): Em história oral, dificilmente trabalhamos com um quadro de perguntas fixas, isso porque o interesse é estimular o processo de rememoração, o qual tem um fluxo próprio que inclui cadeias de associações reveladoras da lógica interna do depoimento. Recomenda-se não propriamente uma entrevista, mas uma conversa livre em que a pessoa é convidada a falar de um assunto de interesse comum. Na pesquisa de campo priorizamos um roteiro de entrevistas sem perguntas fechadas, buscando uma “conversa” com os trabalhadores com o objetivo de apreender as suas experiências/narrativas com relação ao emprego na Sadia de Toledo (PR). De antemão é possível afirmar que na perspectiva dos trabalhadores entrevistados as teses que relacionam a concentração de indústrias de frigorificação de carnes com o desenvolvimento regional se tornam frágeis, pois não são compatíveis com as experiências dos sujeitos que nos compartilharam seus depoimentos. O que colocamos como realce central se refere às doenças/acidentes relacionados ao trabalho. Estas, não podem ser vistas como meros dados estatísticos, pois suas implicações na vida destes sujeitos são muito evidentes o que demonstra ser esse um problema muito sério e para além dos dados estatísticos. Vamos começar dando voz aos trabalhadores sobre a intensificação do trabalho na Sadia. Percebe-se que ainda hoje o ritmo de trabalho é muito intenso 18. Como demonstram as falas dos trabalhadores: Era mais lento né o processo era mais lento, assim era mais lento só que era mais difícil tinha menos máquinas né. Hoje é mais rápido e tem mais máquina e aí é mais rápido né, passou os anos piorou e a tendência é piorar né, vai automatizando e você tem que acompanhar o ritmo (Entrevistado, João). Roberto 19 que trabalhou na linha de desossa de perna de frango cerca de oito anos e hoje encontra-se afastado do emprego nos conta como seu trabalho foi se intensificando: [...] aí me colocaram numa linha de desossa, parte de desossa de perna de frango nós começamos a desossar frango, perna de frango, com 28 segundos, 18 As entrevistas foram gravadas com autorização dos trabalhadores após a explicação dos objetivos da pesquisa e entrega de um documento por parte do pesquisador em que se assegura o completo anonimato dos seus nomes. Todos os nomes dos trabalhadores entrevistados são fictícios “pseudônimos” e foram mantidos em sigilo para que não ocorram maiores problemas. 19 Depoimento gravado em câmera de vídeo com autorização do trabalhador. 10 28 segundos por perna e daí passando uma semana daí veio de 28 caiu pra 26, aí foi passando os meses aí foi diminuindo pra 25, aí de 25 foi diminuindo, veio diminuindo pra (...) de 25 pra 23 de 23 pra 20 e pra 18 aí veio diminuindo aí chegou até de 18 veio pra (...) quando eu vi que eu não aguentava trabalhar mais aí comecei a pegar ficha, ficha, ficha vi que eu não aguentei mais daí eu encostei (...) no último e tal eu tava fazendo desossa com 15 segundos desossando uma perna a cada 15 segundos uma perna pra exportação então dali pra cá foi ali que eu encostei né (...) (Entrevistado, Roberto, grifos nossos). As rotinas de trabalho vividas demonstraram que o ritmo elevado e repetitivo é algo que ainda existe. João que trabalha ainda hoje na Sadia nos descreveu a sua atual jornada: entra às 5 horas da manhã, trabalha sem pausa até as 8 (3 horas seguidas) quando há uma pausa de 10 minutos. Na volta dessa pequena pausa trabalha mais 3 horas até as 11 quando apita o sinal do almoço. Nesse momento todos os trabalhadores saem e seguem para retirar luvas de aço, material descartável (avental, mangas e luvas) passam no banheiro, almoçam e voltam rapidamente passando novamente no banheiro, pegando o material descartável, luva de aço e seguem para a linha. Todas essas funções têm de ser feitas em 1 hora que é aquela destinada ao almoço/repouso previsto por lei. Efetivamente percebemos que as pausas não são eficazes e colocam em risco a saúde dos trabalhadores. Isso porque para que não ocorra transtorno aos tendões, é preciso que haja pausas de recuperação de fadiga, para que o líquido sinovial se recomponha. Pausas essas que são previstas pela Normativa Regulamentadora nº17 e que são descumpridas pela empresa 20. Isso nos põe a pensar que a busca pelo lucro a qualquer custo vê na condição do trabalho humano transformado em mercadoria vendável (MARX, 2004), apenas um fator de produção, que deve ser utilizado no seu máximo para garantir o lucro alheio (mais-valia). O grande problema é que no caso dos frigoríficos o lucro a qualquer custo está se dando a troco de um grande sofrimento dos trabalhadores com impactos sérios na sua saúde e vida. O resultado da busca desenfreada pelo lucro, passando por cima inclusive da legislação é a exposição dos trabalhadores aos riscos de Lesões Por Esforço Repetitivo e também a transtornos psicológicos. Como nos relata o Representante da AP-LER: Tem uns outros (trabalhadores) com esquizofrenia por causa da pressão que a Sadia para aumentar a produção para atingir a exportação o cara ficou 20 Conforme ACP nº01428-2010-068-09-00-5 p.18 no 2º parágrafo onde consta “Uma das principais medidas descumpridas pela ré é a não-concessão das pausas para recuperação de fadiga, previstas na NR 17 do MTE (...)” e também na p.19 “Ignorando completamente a NR 17, a empresa limita-se a conceder diminutas pausas para ginástica laboral e para satisfação das necessidades fisiológicas, não assegurando pausas para recuperação de fadiga, consoante verificado no Auto de Infração n. 01639928-5 lavrado em setembro de 2009 (...)” (grifo nosso). 11 querendo se suicidar trabalhou dez anos e aí já tá uns dez anos afastado pra tratamento de esquizofrenia. Walter (2012) também constatou casos de adoecimento mental em frigorífico no Rio Grande do Sul como o caso da trabalhadora Madalena que trabalhou 9 anos em frigoríficos e se afastou por depressão tentando por duas vezes o sucídio. Isso nos indica que a degradação do trabalho em frigoríficos se evidencia também através dos impactos físicos e mentais que as relações de trabalho no território fabril nesse setor expõem os trabalhadores. Constatamos também o sentimento negativo com relação ao emprego na Sadia. Isso foi evidenciado a partir das narrativas críticas à vivência/experiência dos trabalhadores na empresa. Como sugerem estes trechos de entrevistas abaixo: [...] meu pai pelo menos não falou nada pra fazer ficha na Sadia ele sabia que não era bom assim ele nunca ofereceu trabalhar lá dentro e tal, aí eu falei, vou lá fazer uma ficha tinha que ajudar em casa e tal só ele trabalhando, mas ele mesmo não tocou no assunto porque até antes disso ele já tinha ficado afastado do trabalho por causa da coluna né já tinha visto tudo isso aí, mas a gente tem que ajudar em casa né aí eu falei bom, já entrei com o pensamento, vou entrar trabalhar até a hora que eu ver que eu não me estouro totalmente né (Entrevistado Vinicius, grifo nosso). [...] não tem nada de coisa boa hein, já trabalhei de babá, doméstica, costura, mas eu nunca vi tanto trabalho e tão pouco salário pagam pouco e muito serviço não tem nem o que falar eles tinham que valorizar mais o funcionário eles não valorizam, não tem valor nenhum, só tem valor enquanto você está bom porque se você pegar uma ficha um atestado você não tem valor pra eles, eles simplesmente não valoriza não, não tem nada de bom pra mim (...) antes de trabalhar na Sadia eu não tinha uma dor rapaz eu não tinha dor no meu braço, hoje eu não agüento segurar uma bolsa (...) (Entrevistada Joana, grifo nosso). [...] eu falo assim que frigorífico hoje (...) muitas pessoas às vezes a gente encontra e falam “olha eu vou entrar na Sadia”, eu falo ó vai trabalhar de doméstica, vai fazer uma faxina duas, três vezes por semana, mas não entra lá porque é complicado, bem complicado. (Entrevistada, Márcia, grifo nosso). [...] Eu acho que se fosse pra eu voltar a trabalhar não ia voltar nunca mais lá porque assim a experiência que eu tive lá pra mim foi feio né porque eu fui lá acabar com tudo aquilo que eu tinha de bom né que era a minha saúde (Entrevistada Roberta, grifo nosso). Na perspectiva dos trabalhadores o emprego é visto num sentido negativo e pura necessidade de sobrevivência, por não ter alternativa. Os próprios depoimentos na perspectiva desses sujeitos demonstram que geração de emprego não significa necessariamente boas condições de trabalho. Os trabalhadores 12 demonstram que no território fabril frigorífico, sua saúde se deteriorou devido à enorme pressão e aos movimentos repetitivos causadores das doenças osteomusculares infelizmente muito frequentes no setor. Esse emprego portador para alguns do “desenvolvimento” e “progresso” para os trabalhadores foi o motivo de uma doença ocupacional muitas vezes incurável. Os trabalhadores compreendem que o trabalho intenso e rápido, que vivenciaram não os levou a um “crescimento na empresa” (típica ideologia capitalista), mas sim os conduziu a condição de estarem doentes acometidos principalmente pelas LER/DORT e transtornos mentais. São sujeitos em que o trabalho desempenhado na linha de produção da Sadia foi responsável pelas dores intensas que em alguns casos chegaram a limitar a sua condição física e mental. Tarefas habituais como varrer uma casa, segurar um filho no colo, segurar um copo, segurar uma bolsa, lavar roupa, hoje já não são mais possíveis devido às doenças que os acometem. Há casos em que os trabalhadores dizem conviver com dores constantes todos os dias. Como seguem em outros trechos de entrevistas: [...] os tendões, meus tendões tem aqui um pino assegurando eles, aí era muito peso que eles davam daí ele não aguenta, se eu pegar uma sacola de dois quilos eu não aguento, de noite eu não durmo de tanta dor (...) (Entrevistada, Cláudia, grifo nosso). [...] aí foi isso, me deu uma dor nos osso que eu não aguento, mas dói tanto sabe meu osso que eu não aguentava nem ficar sentada, nem em pé de tanta dor que eu tinha, eu chorava de dor [...] (Entrevistada, Cláudia, grifo nosso). [...] eu não sei o que é viver tem dia eu não sei cara eu gritava de dor eu ficava assim ó de meio da semana assim domingo segunda andando na sala gritando de dor, chorando de dor, de tanta dor, tanto medicamento que eu tomava e não cortava minha dor [...] (Entrevistado, José, grifo nosso). [...] é complicado cara porque meu Deus eu estou numa vida eles sabem aí ó dor, dor, dor, dor, cara que “vish” eu passei dias aí ó andando aí cara gritando de dor assim que eu falava, que eu pedia a morte de tanta dor que eu tinha eu chegava na Sadia e os médicos mesmo o doutor (X) 21 eles dizem que no meu caso não tem o que fazer (...) (Entrevistado, José, grifo nosso). [...] tinha dia que eu chegava em casa quebrada não conseguia fazer nada, dormir mesmo eu tinha que dormir a base de remédio tanto que quando eu encostei no primeiro ano que eu fiquei afastada eu tomei remédio controlado durante um ano pra eu poder dormir eu não conseguia dormir por causa das dores. (Entrevistada, Paula, grifo nosso). 21 Preferimos não divulgar o nome dos médicos também. 13 Isso demonstra que os impactos da doença atingem a esfera da vida dentro e fora do trabalho 22, numa dimensão em que a degradação do trabalho impacta no cotidiano destes trabalhadores. Portanto as sequelas do emprego em frigoríficos acompanharão muitos dos nossos entrevistados até o final das suas vidas, pois, em muitos casos, são doenças crônicas incuráveis. Tudo isso por um dia ter saído de casa para trabalhar em um frigorífico... Resta aos trabalhadores os medicamentos que aliviam as suas dores. Mas, estes dão apenas sensações de alívio e são parciais. Os remédios que os trabalhadores têm de tomar frequentemente como anti-inflamatórios e casos até de morfina para tentar aliviar as dores estão em parte materializados na (Figura 1 23). Figura 1 – Remédios consumidos por um trabalhador Fonte: Pesquisa de Campo, Janeiro à Março de 2012. O consumo frequente destes medicamentos induz a outros problemas. Com o passar do tempo às doses de remédio vão aumentando para amenizar as dores. Isso leva a problemas de estômago, por exemplo, como as ânsias de vomito e gastrite. Como sugere a fala dos trabalhadores José e Moacir quando perguntado se tomavam muitos remédios e seus efeitos: Ah! agora o médico mandou eu até parar, mas eu tomava o 600, morfina eu tomava, (...) tramadol é tudo remédio pra dor de câncer eles falaram que era, só que não adianta. Estou tomando um tal de cymbalta agora que é muito forte mas falar que eles melhoram o meu problema não, eles ficam só aquela dorzinha assim [...] (Entrevistado José). Esse aqui é remédio que eu uso pro estômago 24 e fluoxetina também este né, esse aqui é o remédio que eu tomo pro estômago porque eu tomando esse 22 Usamos essa terminologia para expressar que as doenças e os acidentes incapacitam os trabalhadores dentro da fábrica devido as condições degradantes de trabalho e impactam na sua vida dentro e fora do trabalho no seu cotidiano, nas tarefas habituais, etc. 23 Capturada com autorização do trabalhador. 24 Trabalhador fala mostrando os remédios, fonte capturada em vídeo com autorização do trabalhador. 14 remédio e esse remédio 25 eles prejudicam o meu estômago dá gastrite e ânsia de vômito. (Entrevistado, Moacir, grifo nosso). Dessa maneira percebe-se que os riscos de adoecimento não se referem somente à condição física, mas também mental dos trabalhadores. E com o tempo, as consequências do trabalho degradado, levam ao consumo de muitos remédios que podem ocasionar outras dificuldades como os exemplos acima citados. A freqüência de doenças com os trabalhadores também são explicitadas pelos depoimentos dos trabalhadores, pois eles sempre conhecem algum colega ou amigo que trabalhou no frigorífico e adoeceu (o que pressupõe que a realidade do adoecimento é muito maior). Nos depoimentos constatamos que há vários trabalhadores que dizem conhecer colegas de setor que hoje se encontram doentes. Seu Carlos que iniciou o trabalho em 1986 e afastou-se em 2006 amargando a experiência de uma cirurgia que inseriu um pino no seu braço direito devido aos esforços repetitivos nos fala: “só ali na evisceração onde eu trabalhei deve ter uns 10 encostados”. Seu Fabrício também nos conta as experiências amargas de seus colegas: Muita gente e o que tem lá dentro de pessoas doentes dá dó, tu vê, na minha casa tem minha irmã que saiu faz 11 anos, agora ela no ano passado em janeiro operou um túnel do carpo, tem outra irmã que também está encostada com 23 anos de Sadia ela tem 39 anos ela entrou com 15 anos aí dentro problema de braço ombro tudo também de trabalhar aí dentro, tem meu cunhado que tem problema no ombro e outro cunhado que saiu esses dias também aposentou já não aguentava mais o ombro. É todo mundo túnel do carpo e o ombro. Dessa forma, percebe-se que o território fabril frigorífico significa para os sujeitos o lugar da degradação do trabalho, com impactos muitas vezes irreversíveis na saúde e vida de milhares de trabalhadores. Considerações Finais Os resultados colhidos ao longo dessa pesquisa estão nos permitindo observar que a estrutura social do capital (MÉSZÁROS, 2009), na sua busca desenfreada pelo lucro a qualquer custo, expõe os trabalhadores de frigoríficos ao adoecimento físico e mental. O caso da Sadia é emblemático, pois os impactos na saúde e vida dos trabalhadores são evidentes. 25 Dois remédios para as dores que o trabalhador toma. 15 Por esse motivo temos nos guiado através das reflexões que veem na crítica radical à sociedade do capital e suas mediações fetichizantes de segunda ordem (MÉSZÁROS, 2002), a solução necessária para os problemas que afetam a saúde dos trabalhadores de frigoríficos e de tantos outros setores. Ou seja, o caminho para nós está no rompimento com o metabolismo social do capital que pressupõe o trabalho abstrato/reificado e (des) realizado, apostando na emancipação dos trabalhadores (THOMAZ JÚNIOR, 2009). Ora, podemos pensar que o fato concreto de trabalhar no frigorífico foi responsável por um adoecimento muitas vezes incurável. Por isso tem razão Sandro Eduardo Sardá quando diz que “estamos a consumir produtos frutos de sofrimento humano” (SARDÁ, 2009, p.3). Sendo assim percebemos que as experiências dos trabalhadores da Sadia que entrevistamos não estão de acordo com o tão propalado “desenvolvimento regional”. Para eles o emprego significou impactos negativos na saúde e vida o que demonstraram pelos depoimentos. A intensificação do trabalho, os ritmos elevados, a repetitividade, a monotonia do trabalho desempenhado os levaram às doenças que hoje os assolam. Tudo isso a nosso ver se relaciona ao metabolismo social do capital imposto de maneira hierárquica historicamente e que leva a degradação da saúde do ser social que trabalha. Por isso somente nos anima a organização coletiva dos trabalhadores para enfrentar a questão da saúde do trabalhador. A sociedade que vivemos já mostrou o que significa o emprego e no caso dos frigoríficos representa: os mais baixos salários, a pressão por produção, ritmos intensos, movimentos repetitivos, descumprimento das leis, entre outros, que pode levar muitas pessoas de carne e osso, ao adoecimento físico e mental. Portanto é preciso apostar na fundação de um novo metabolismo social radicalmente diferente (ANTUNES, 2011) se queremos evidenciar o não adoecimento no trabalho hoje tão frequente. É por isso que o trabalho degradante que adoece, mutila e impacta na vida dos sujeitos é a marca territorial do trabalho na Sadia em Toledo (PR) e dos frigoríficos brasileiros. Portanto os resultados da pesquisa nos levam a compreender a Sadia e os frigoríficos como territórios de degradação do trabalho com impactos na saúde e vida dos trabalhadores. Referências ANTUNES, R. O continente do labor. 1. ed. São Paulo: Boitempo Editorial, 2011, p.176. 16 BOSI, A. 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