MOVIMENTO DOS TRABALHADORES DE 1930-1945.
Silvana Edna Balduino700
RESUMO
Nas primeiras décadas do Século XX, grupos expressivos de trabalhadores
urbanos, juntamente com os sindicatos, exigiam representação de seus
interesses juntos aos patrões e ao Estado, no que diz respeito ao mundo
do trabalho; aumentaram-se os movimentos de lutas organizadas, como
as greves, requerendo a legitimação de seus direitos.
No decurso desse processo, os trabalhadores estavam submetidos a uma
série de explorações, para tanto existiam interesses comuns, sendo assim,
em meio a todo esse conflito da sociedade capitalista, os trabalhadores
constituíram-se como classe. O que exigiam? Salários maiores, jornadas
menores e condições de trabalhos melhores, inexistia legislação
trabalhista tal como hoje.
Esse trabalho se delimita apenas o período do pós-30 até 1945, no
entanto permite atentar com maior cuidado para processos importantes
dessa trajetória centenária.
Verifica-se que foi partir da chamada Revolução de 1930 que se operaram
mudanças significativas no movimento operariado brasileiro. As mudanças
na política econômica, reorientando paulatinamente investimentos e
prioridades para o setor urbano-industrial, sem, entretanto qualquer
grande ruptura com os interesses da grande lavoura. Não houve uma
ruptura com o campo.
Este pequeno trabalho limitasse a considera apenas o campo histórico e
social da transformação das estruturas de poder e as relações de classes,
para entender futuramente como desencadeou todo o movimento dos
trabalhadores desta época.
700
Graduanda do 4º ano do Curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Londrina.
1885
INTRODUÇÃO
Na República Velha, a organização do Estado se dava através do
federalismo,
existia
uma
relativa
autonomia
estadual
que
lhe
é
característico, como também o sistema representativo-eleitoral, era
concebido como um instrumento de expressão dos interesses dos grupos
dominantes ligados ao complexo agroexportador, sob a hegemonia da
burguesia cafeeira.
Neste período - de primeiro regime republicano - significou uma
ampliação do domínio dos “coronéis” que, desde o Império, comandava a
política
brasileira,
predominavam
na
tanto
medida
no
plano
em
que
federal
os
como
interesses
no
plano
agrários
estadual,
consolidava-se uma estrutura rígida de poder. No campo federal são os
fazendeiros de São Paulo e Minas que predominam no poder.
Boris
Fausto
ressalta
a
influência
crescente
do
núcleo
agroexportador que assume as rédeas do governo após os primeiros anos
da República, apontando a candidatura de Prudente de Moraes como o
“início da República civil-oligárquica”. Nestas condições, o sistema político,
cuja ruptura se dá a partir de 1930, é caracterizado por uma extrema
rigidez das bases de sua representatividade.
O governo federal ora estava nas mãos de um governante de São
Paulo, ora este governante eram de Minas Gerais, pois havia uma
estrutura
econômica
baseada
no
setor
cafeeiro
–
que
traziam
características distintas da anterior, embora ainda definida pelo latifúndio
e voltada para o mercado externo. Com isso, os grupos condutores do
processo político republicano é definido por esse intercâmbio. De modo
geral
os
mesmos
grupos
políticos
civis
do
Império,
com
nova
nomenclatura, detentores também de privilégios especialmente os de
1886
propriedades, acompanhadas do grupo militar ativo recém-chegado à
arena política.
O quadro político republicano não deve ser entendido como uma
série de momentos de supostas luta entre interesses contraditórios do
setor exportador e urbano interno, este intrinsecamente ligado à
economia cafeeira, não apresenta oposição à estrutura vigente.
A análise da política republicana é mais frutífera quando se
questiona a natureza e o significado dos laços de solidariedade existente
entre a estrutura agrária e a urbana nascente.
Processo marcado pela reestruturação do esquema de poder que
durante
a
Republica
Velha
presenciou
a
consolidação
do
modelo
agroexportador no Brasil, para tanto não conduziria à transferência do
poder dos grupos tradicionais para os novos grupos vinculados ao
desenvolvimento do setor industrial.
No entanto, houve um momento histórico marcado por uma
intensa crise, que antecede o Estado Novo - sendo essa crise uma crise de
hegemonia e de ideologia - cujo princípio está na Revolução de trinta,
evoluindo ao longo das duas primeiras fases do governo Vargas.
Entre os principais indicadores da crise de hegemonia que se
abre nos anos 30, está a cisões regionais, rompendo com a unidade da
oligarquia agroexportadora em torno do sistema político existente, além
do agravamento das tensões entre representantes e representados,
dentro desta estrutura de poder marcada pelo predomínio do setor
cafeeiro.
As
discordâncias
inter-regionais
no
interior
da
coalizão
agroexportadora dominante tornam-se mais agudas em fins da década de
20, atingindo o clímax em uma pressão contra a hegemonia da burguesia
cafeeira. É também nesse momento que se intensificam os atritos entre o
1887
setor hegemônico da coalizão dominante e sua representação política,
introduzindo mais um fator de enfraquecimento do regime político.
DESENVOLVIMENTO
As condições sob as quais as tensões levaram a burguesia
cafeeira a perder efetivamente seu papel de protagonista. Verificamos,
portanto, que os demais setores eram incapazes de tomar o poder
naquela ocasião, mesmo os grupos agrários não vinculados ao café ou os
grupos urbanos emergentes, não conseguiram assumir o poder e conduzir
uma política de compromisso. Não aconteceu uma substituição das elites
tradicionais por novas elites em ascensão, mas sim acomodação entre os
diferentes atores em confronto. Os diversos setores da classe dominante
seriam, portanto, incapazes de controlar a máquina política, criando-se,
assim condições favoráveis à formação de um Estado forte.
Como é sabido, até 1930, a linha dominante era o nãointervencionismo
estatal
em
assuntos
de
natureza
econômica,
restringindo-se a ação do Estado, à exceção só mercado cafeeiro, ao
remanejamento de sua capacidade extrativa ou ainda à concessão de
favores e incentivos para amparar o desenvolvimento dos diferentes
setores produtivos.
A atuação da burguesia industrial na conquista de um espaço
político, ao nível da burocracia governamental. É preciso salientar que as
conclusões referentes à irrelevância deste setor como ator político, são em
geral associados à sua incapacidade de assumir a liderança no processo
de implantação das bases do sistema industrial. Trata-se de um ponto
importante a ser levado em conta na interpretação da política brasileira da
época considerada. Porém, se a burguesia não havia alcançado o estágio
de luta pelo poder, disputando com os demais grupos dominantes o
controle do Estado, por outro lado, ao longo de todo o período,
1888
desenvolveria
uma
atuação
intensa
no
sentido
de
conquistar
legitimamente aqueles relacionados à política protecionista, ao controle do
comércio exterior, integração do mercado interno, nacionalização da
produção
industrial,
institucionalização
do
crédito
para
financiar
a
industrialização, regulamentação das relações com o capital estrangeiro,
para
citarmos
os
principais
momento
da
campanha
industrialista
empreendida pela liderança industrial. Esse tipo de atuação implicaria a
articulação do setor para a formulação e canalização de tais demandas
para o interior do aparelho estatal, através principalmente da utilização da
maquina burocrática corporativa montada gradualmente no decorrer dos
anos trinta. Ao nível das instâncias decisórias representadas pelos
conselhos econômicos não seria irrelevante o grau de visibilidade
alcançado pelos interesses do grupo.
Tendo em vista tais considerações, poderíamos dizer que a
conquista de espaço político para os interesses ligados à industrialização
seria um dos aspectos centrais do processo de articulação e representação
dos interesses que se diferenciavam ao nível da sociedade civil.
Parece inegável que a política cafeeira contribuiu de forma
decisiva para reduzir os efeitos negativos da crise internacional sobre a
economia
brasileira,
consequências
evitando
retardariam
ou
uma
mesmo
recessão
econômica,
comprometeriam
de
cujas
forma
significativa o processo de industrialização dos anos trinta.
Para nossa pesquisa tomaremos outro enfoque ao destacar a
importância da ação estatal face às pressões externas, não num sentido
basicamente reativo, porém no seu caráter mais autônomo e específico.
Embora a Revolução de 1930 não tenha afetado de forma
substancial
a
estrutura
de
dominação
existente,
mantendo
certas
prerrogativas básicas das elites tradicionais, e embora a rearticulação do
1889
esquema de poder tenha se dado pela acomodação e justaposição destas
elites com os grupos emergentes, as transformações ocorridas não podem
ser minimizadas com base na constatação de seu teor não radical.
Portanto, a avaliação do processo revolucionário em termos de
uma orientação e prática conservadoras não nos parece pertinentes. Com
essa qualificação, podemos a caracterizar que o movimento de 1930 foi
um processo de “modernização conservadora”.
Podemos considerar os anos trinta como importante etapa na
definição dos rumos do capitalismo industrial no país, observando-se, no
plano
econômico,
o
deslocamento
do
eixo
da
economia
do
pólo
agroexportador para o pólo urbano-industrial, e no plano político, o
esvaziamento
preservação
da
da
influência
e
do
preponderância
poder
do
setor
dos
interesses
externo
no
ligados
conjunto
à
da
economia.
O Estado Novo é um momento neste processo, representado a
reafirmação das tendências autoritárias presentes desde o início, não só
no ideário político, como também na atuação concreta de expressivos
setores da liderança revolucionária.
A especificidade da ação estatal, por sua vez, não pode ser
dissociada da redefinição das relações de classes e da reestruturação do
esquema de poder, sem desligar, deste processo incorporação, os novos
agentes
-
e
sem
desalojar
os
antigos.
Tal
situação
destaca
a
impossibilidade de se encontrar um projeto de cunho industrialista
assumido como plataforma de disputa contra os antigos dirigente. Porém,
não havia, também, o predomínio de uma orientação voltada apenas para
o setor. Na verdade, a ausência de uniformidade seria o traço marcante
desta política econômica, o que se traduziria pela existência de medidas
favoráveis à industrialização e medidas voltadas para o amparo dos intera
1890
esses dos grupos econômicos tradicionais. O que predominava era uma
política econômica ligada as pressões e suas alianças políticas.
Em 1939/1945, a limitações causadas pela guerra quanto às
importações de máquinas, equipamentos e matérias-primas industriais,
afetaram a continuidade da industrialização na década de trinta. O
crescimento da produção industrial para atender à demanda interna foi
obtido através de uma utilização mais intensa do equipamento existente.
Em conseqüência, no fim da guerra, uma grande parte da capacidade
produtiva da indústria brasileira estava gasta e obsoleta.
Poderíamos
dizer
que
os
anos
trintas
representariam
efetivamente um corte, manifestando-se em vários níveis a ruptura com a
ordem precedente. Primeiramente, por um processo de reestruturação
política voltado para a reafirmação do poder do Estado e para a
nacionalização da política tendo em vista o esvaziamento do regionalismo
e a desarticulação dos instrumentos do poder oligárquico. Nesse sentido, a
dimensão regional e a dimensão de classe revelam suas interligações.
Desmontar as bases do poder de decisão dos grandes Estados significaria
paralelamente remanejar os recursos de poder à disposição dos diferentes
setores dominantes, reequilibrando o peso político das diferentes facções
oligárquicas regionais, reduzindo a influência dos setores hegemônicos
tradicionais, representados pelos interesses cafeeiros dos grandes Estados
produtores, notadamente a burguesia cafeeira paulista, ou ainda criando
canais de acesso e de influência para os grupos emergentes. O período se
caracteriza, também, pela reestruturação das relações de classes e
redefinição das alianças políticas. Finalmente, o novo pacto de poder, bem
como a redefinição de suas bases sociais, inspiraria um novo estilo de
política econômica caracterizada pelo aperfeiçoamento dos instrumentos e
mecanismos de intervenção do Estado na economia, aspecto básico da
transição para o capitalismo industrial.
1891
Em contraposição, alguns estudos chamam a atenção para o
antagonismo entre a agricultura e indústria desde os primórdios do
processo de industrialização no Brasil.
No que se refere à articulação política entre os dois setores, os
autores, de um modo geral, destacam a unidade de ação e de propósitos,
vale dizer, a incorporação das diferentes elites dominantes num bloco
relativamente indiferenciado em termos de ideologia e práticas políticas.
No que diz respeito da industrialização, não podemos pensar que
aconteceu em forma de uma passagem de um modo de produção para
outro, porém, a remoção de certas barreiras que dificultavam a
acumulação industrial. Portanto, a inexistência de contradições profundas
contrapondo a indústria à agricultura - e aqui é preciso lembrar que a
burguesia cafeeira seria a matriz social da burguesia industrial –
responderia pelo comportamento político relativamente pouco agressivo
dos industriais. Efetivamente, abrir espaço para o desempenho de sua
atividade produtiva não exigiria transformações radicais. Além disso, nem
sempre
o
atendimento
dos
interesses
industriais
implicava
o
descontentamento do setor agroexportador. Assim, é sabido que um dos
principais mecanismos utilizados para proteger os interesses da produção
para o mercado externo, a desvalorização o cambial, favorecia também os
grupos industriais.
Em primeiro lugar, se a industrialização brasileira não exigiu um
processo
de
transformação
estruturais
profundas,
por
outro
lado,
implicaria certas mudanças significativas, sobre tudo em termos de uma
realocação de recursos e benefícios no sentido de um formato mais
diversificado de distribuição entre os diferentes setores produtivos. Um
segundo ponto diz respeito à necessidade de se levar em conta não
apenas um dado aspecto da plataforma industrialista, formulada e
defendida pela liderança industrial, senão o seu conjunto, que incluiria
1892
uma série de medidas em torno das quais o antagonismo entre os
diferentes grupos dominantes é que seria o traço marcante.
Nesse sentido, os interesses dos setores militares, atores
fundamentais na implantação e sustentação do Estado Novo, e os
interesses industriais se reforçariam mutuamente, a partir do mesmo em
que a cúpula militar passa a colocar o desenvolvimento industrial como
condição básica da capacidade militar. Fatos internos, como, por exemplo,
a Revolução Constitucionalista de 1932 e externos, como a ameaça da
guerra e o acirramento das tensões mundiais, tornariam particularmente
evidente a associação entre expansão da indústria e aumenta do poderio
militar o país.
O que nos importa destacar não é a idéia dos militares como
instrumento da burguesia, variante da tese mais ampla do determinismo
das forças econômicas, até porque, enquanto corporação especifica o
Exército, nessa fase, avança progressivamente em termos de autonomia e
identidade, procurando impor a sua versão dos interesses nacionais, que
passava necessariamente pela defesa das instituições militares.
O que pretendemos destacar é a visão inversa dos militares como
grupo capaz de preencher o vazio determinado pela ausência
de uma
burguesia coesa e articulada em torno de objetivos próprios. Até que
ponto os militares teriam precedido a burguesia industrial na consciência
dos interesses ligados à expansão do capitalismo industrial no Brasil? Eis a
pergunta que se coloca. A nosso ver, no questionamento do predomínio
de
uma perspectiva antiindustrialista, a elite
industrial
teria uma
participação decisiva, mantendo-se os militares, individualmente ou
enquanto grupo, à margem dessa discussão, pelo menos até o momento
em que a necessidade de a organização prevenir-se contra um provável
corte no suprimento de material e equipamentos bélicos colocaria na
ordem do dia a importância de se criar uma indústria interna.
1893
Nas décadas anteriores, os militares, não apareceriam como
interpretes da causa do industrialismo, nem revelariam preocupação com
a defesa da produção interna. Do setor não partiria qualquer tipo de
contestação às praticas econômicas tradicionais, sendo a importação o
meio usado para o atendimento de suas necessidades, inclusive para a
compra de uniformes para o Exército.
A partir dos anos 30, a meta da industrialização passaria a ter
alguma viabilidade para a corporação militar, o que elevaria o ponto de
vista da indústria as razões de Estado, na medida em que seria definida
como atividade útil à segurança nacional. A intervenção do Exército
exerceria, nas fases subsequentes, influência significativa quanto à forma
e às condições para viabilizar a industrialização no país, sobre tudo por
sua visualização através da fórmula Desenvolvimento/Segurança Nacional.
Entretanto, no período que estamos analisando, o que teve impacto foi o
apoio do Exercito ao setor das indústrias de base como forma de fornecer
o suporte necessário ao fortalecimento econômico do país.
Sem dúvida, a recuperação econômica do país seria equacionada
em termos da necessidade de defender o setor externo da economia,
dadas a amplitude e a gravidade do desequilíbrio provocado pela crise
internacional, o que tornava inadiáveis determinadas soluções.
A crise do café e do setor externo seria equacionada não mais em
termos de uma estratégia de preservação da dominação do setor
exportador, no conjunto da economia, mas em termos da redução da
vulnerabilidade de uma satisfação de todas as suas necessidades internas,
o que levaria a um questionamento crescente do modelo agroexportador,
pelo menos em alguns de seus aspectos. A partir daí, a definição da
industrialização como alternativa para o crescimento econômico toma
vulto no pensamento econômico, sendo efetivamente incorporada à
orientação governamental.
1894
Tais
considerações
chamam
a
atenção
para
um
ponto
importante. Após 1930, o Estado conduziria a política cafeeira com um
grau significativo de autonomia em relação aos grupos diretamente
interessados. Particularmente em alguns momentos, a oposição de alguns
setores, como o comércio exportador, assumiria proporções expressivas.
Embora a defesa da economia cafeeira tenha persistido como aspecto
prioritário da política governamental, houve mudanças importantes em
relação ao período a 1930. Assim é que a defesa do produto passaria a ser
feita sem o recurso a empréstimo externos, não só para agravar o déficit
do balanço de pagamentos como novos aumentos no serviço da divida
externa, como também pelo bloqueio dos canais de financiamento
internacional, motivado pela crise. Além disso, a política de sustentação
dos preços seria financiada, em parte, com recursos extraídos do próprio
café, através da criação de
novos impostos. As decisões seriam
crescentemente centralizadas nos órgãos do governo. Finalmente, as
medidas de amparo ao setor seriam associados aos desestímulos ao
aumento da produção. Portanto, embora os grupos privados ligados à
produção e exportação do café não tenham perdido a possibilidade de
exercer pressão, já não podiam impor soluções em função de seus
interesses. Teriam que arcar com alguns dos custos do programa de
amparo à economia cafeeira, além dê os benefícios terem saído de sua
esfera de controle.
À medida que os efeitos da crise iam sendo controlados,
surgiram, porém, evidências de preservação dos interesses industriais no
bojo de uma política voltada para reduzir o impacto da crise cafeeira sobre
o conjunto da economia. A ação do governo para a defesa do setor
externo
se
faria
pela
implementação
de
uma
série
de
medidas
combinadas, incluindo desde as resoluções do programa de ajuda ao setor
cafeeiro até as medidas de políticas cambial e controle do comércio
externo, como as constantes desvalorização cambiais e a introdução de
mecanismos de intervenção
no mercado de divisas, o que asseguraria a
1895
eficácia do programa governamental de defesa do setor exportador do
ponto de vista da evolução dos novos setores produtivos. A política
cafeeira seria apenas um dos itens, embora o mais importante, desse
programa, deixando de ser, portanto, uma solução unilateralmente
comprometida com um interesse setorial.
Assim, se inicialmente os industriais permaneceriam ao lado dos
grupos dominantes tradicionais, opondo-se ao novo governo, tanto em
1930 como em 1932, num segundo momento, passariam da hostilidade
ao apoio. É verdade que nunca houve unanimidade entre os industriais
quanto à centralização política então em curso. Assim, em São Paulo, uma
corrente permaneceria arredia, mantendo ligações permanentes com os
políticos e grupos favoráveis à autonomia estadual. Principalmente a partir
de 1933, derrotada a Revolução Constitucionalista de 1932, a burguesia
industrial, através de alguns de seus lideres mais expressivos realizaria
um esforço no sentido de assegurar sua participação e influência na
formulação da política econômica governamental, verificando-se uma
articulação desta elite com os novos grupos detentores do poder.
Em síntese, nos anos trinta, a organização do poder posta em
pratica pela coalizão dirigente seria encarda pelos grupos dominantes
tradicionais como uma perda relativa face à posição anteriormente
ocupada pelo setor. Paralelamente, para a elite industrial os novos canais
e
instrumentos
de
poder
representariam
um
ganho,
abrindo-lhe
oportunidades institucionais para a conquista de um espaço político
próprio. A visibilidade do grupo enquanto ator político seria alcançado pela
utilização plena dos recursos de poder criados no bojo da política de
reordenação dos mecanismos de articulação Sociedade-Estado.
Portanto, nesta conjuntura histórica O Estado Novo não pode ser
analisado dissociado do conjunto das mudanças ocorridas ao longo do
período de 1930-1945. Entre as várias fases em que se pode dividir a
1896
chamada Era Vargas – o Governo Provisório de 1930 a 1934, o Governo
Constitucional de 1934 a 1937 e o Autoritarismo Corporativista de 1937 a
1945 -, existe uma continuidade básica, pois esses três momentos
representam o desdobramento de um processo político que se inicia com a
ascensão ao poder da coligação representada pela aliança liberal.
Para alguns autores, as diretrizes econômicas do primeiro
governo Vargas teriam em caráter antimodernistas, outros autores porém
- sem ignorar o compromisso da política econômica-financeira com os
grupos dominantes tradicionais medidas
favoráveis
à
destacam seu impacto inovador pelas
implantação
de
um
padrão
decrescimento
econômico centrado no pólo urbano-industrial, medidas em grande parte
ligadas à eficácia dos mecanismos postos em prática para enfrentar a
crise mundial de 1929.
A tônica desta última argumentação, aponta a ineficaz política
governamental, que tenta reagir à depressão econômica como um fator
de diminuição dos estímulos externos favoráveis à mudanças. A proteção
dos
interesses
cafeeiros,
porque
informada
por
uma
orientação
tradicionalista, sofreria das mesmas limitações, sendo, portanto, incapaz
de
construir
para
a
retomada
do
dinamismo
econômico
e
para
redirecionamento de suas atividades básicas.
Podemos ressaltar, ainda, que para o Estado Novo houveram
mecanismos básicos de centralização política, ampliados e diversificados
durante o Estado Novo, vão sendo implantados progressivamente ao
longo do período de 1930/45, configurando-se um aparato burocráticoestatal de grande envergadura. Este aspecto fundamental das mudanças
políticas em curso significaria a institucionalização da passagem do Estado
gendarme, fundamentalmente absenteísta, para o Estado intervencionista,
cujo objetivo seria das viabilidades ao controle do poder central sobre as
principais
esferas
econômicas,
processo
que,
no
Brasil,
se
faria
1897
concomitantemente com a implantação e consolidação do capitalismo
industrial. O Estado forte e altamente centralizado iria absorvendo o
sistema decisório, desestruturando suas bases regionais, num esforço de
nacionalização
das
decisões
estratégicas
do
ponto
de
vista
do
funcionamento global da economia.
Este caminho trilhado a partir do Estado Novo, se afirmaria sem
bruscas alterações, tornando-se cada vez mais explícita para além das
variações no grau de abertura do sistema político, culmiando com a
instauração de um regime francamente autoritário com o Golpe de 1937.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A principio, a questão que se coloca diz respeito à caracterização
das forças sociais que impulsionariam a industrialização. Quanto a este
ponto, a literatura política sobre o período, em grande parte, tem
elucidado a importância da atuação dos grupos técnicos, ligados à
burocracia estatal, civil e militar, na formulação e implementação de
medidas de caráter industrialistas e modernizantes. Ao lado da elite
técnica, o papel da elite política como agente de modernização, também
deve ser enfatizado. Sem negar a relevância da participação desses
setores na definição de linhas de ação identificadas com o reforço do
capitalismo
industrial,
gostaríamos
de
chamar
a
atenção
para
a
necessidade de se levar em conta a prática política da burguesia
industrial.
As divergências, por outro lado, giraram em torno da questão da
centralização política e do controle do processo decisório. Enquanto a
ideologia e a prática autoritária agiriam no sentido do fechamento
crescente do círculo do poder e da manutenção de formas de controle
estritamente
burocrática
do
processo
de
federalização
da
política
econômica, a burguesia industrial, nesse ponto mantendo a unidade com
1898
os demais setores dominantes, reivindicaria o acesso aos centros de
decisão, sem o que o intervencionismo estatal poderia assumir proporções
indesejáveis do ponto de vista de seus interesses específicos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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(1930-1964). In: História da Civilização Brasileira. 3ªEdição. Ed.
Difel. São Paulo,SP. 1986.
___________________. Brasil Republicano: Classes Médias Urbanas
– Formação, Natureza, Intervenção na vida Política. In: História da
Civilização Brasileira. 3ªEdição. Ed. Difel. São Paulo,SP. 1986.
MOTA, Carlos M. (org.). Brasil em Perspectiva. Rio de Janeiro, RJ. 1968.
18ª Edição. Ed.Bertrand Brasil.
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Rio de Janeiro, RJ. 1969.
1899
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1885 MOVIMENTO DOS TRABALHADORES DE 1930-1945