CONTROLE DE Sitophilus oryzae EM ARMAZENAMENTO DE SEMENTES DE CENTEIO COM SUBPRODUTOS DO PROCESSAMENTO DO XISTO, NO PARANÁ, BRASIL. PAIXÃO, M.F. Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR, [email protected]; AHRENS, D.C. Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR, [email protected]; BIANCO, R. Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR, [email protected]; OHLSON, O.C. Empresa Paranaense de Classificação de Produtos – CLASPAR, [email protected]; SKORA NETO, F. Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR, [email protected]; SILVA, F.A. Universidade Federal do Paraná - UFPR, [email protected]; CAIEIRO, J.T. Empresa Paranaense de Classificação de Produtos – CLASPAR, [email protected]; NAZARENO, N.R.X. Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR, [email protected]. Resumo Este trabalho visa verificar a eficácia dos subprodutos do xisto no controle de S. oryzae em centeio. Tratamentos: xisto retortado, finos xisto, calxisto, cinza xisto, terra diatomácea e testemunha. Delineamento experimental inteiramente casualizado, 3 repetições, 2 locais. Cinza xisto foi eficiente, na dose 0,5%, até os 180 dias de armazenamento. Palavras-chave: pragas de grãos armazenados, pós-inertes, cinza de xisto, silício. Introdução O centeio (Secale cereale L.) é uma opção de cultivo de inverno no Brasil. Podendo ser usado tanto para alimentação humana quanto animal (grãos). No entanto pode sofrer perdas qualitativas e quantitativas durante o período de armazenamento pela ação de pragas, entre as quais se destaca: o gorgulho-dos-cereais Sitophilus oryzae L. No Brasil, segundo Lorini (1993), estima-se que as perdas quantitativas anuais causadas por pragas durante o período de armazenamento de grãos são da ordem de 10% da produção total. Controles químicos para tratamentos de sementes e grãos armazenados, para o controle de pragas vêm sendo utilizados com sucesso. No entanto, métodos alternativos de controle estão sendo enfatizados, a fim de reduzir o uso de produtos químicos, diminuir o potencial de exposição humana e reduzir a velocidade e o desenvolvimento de resistência de pragas a inseticidas. Pós-inertes a base de terra diatomácea são comercializados para uso no controle de algumas pragas de grãos armazenados. Estes possuem ação inseticida altamente eficiente não comprometendo o controle dos insetos ao longo do tempo. É um produto de fácil manuseio, que não necessita de equipamento específico, quando aplicado em pequena escala, Lorini et al. (2001). Também os subprodutos do xisto vêm sendo observados com grande interesse para o uso na agricultura de base ecológica no controle de doenças e pragas de sementes. Porém, poucas informações são encontradas na literatura. Os principais subprodutos sólidos do processamento do xisto na Usina da Petrobrás em São Mateus do Sul, PR, que oferecem algum potencial para controle de pragas de armazenamento são o xisto retortado, finos de xisto, cinzas de xisto e calxisto. Para Korunic (1998 apud ATUI et al, 2003), as partículas de terra diatomácea e de outros pós-inertes causam danos à cutícula dos insetos através da adsorção pela cera da epicutícula e abrasão da cutícula pelos cristais de sílica, tornando-a permeável à água e promovendo a morte por dessecação. Este trabalho tem por objetivo avaliar o potencial dos subprodutos do xisto para uso no controle do gorgulho S. oryzae, possibilitando ao produtor de base ecológica um controle que apresente menor risco de contaminação ambiental e maior segurança para a sua saúde. Material e Métodos Os experimentos foram conduzidos nos laboratórios de Fitopatologia e Entomologia do Instituto Agronômico do Paraná – IAPAR, em Curitiba e Londrina - PR, respectivamente, durante os meses de fevereiro a agosto de 2007. A cultivar de centeio empregada nos ensaios foi IPR 089 e o inseto-praga estudado foi à espécie S. oryzae. Os tratamentos consistiram das farinhas de rochas de xisto retortado, finos de xisto, calxisto, cinza de xisto, terra diatomácea como tratamento padrão e a testemunha, representada por sementes não tratadas, nas dosagens de 2 e 5 kg de cada pó para 1.000 kg de sementes. Após o preparo das sementes, foram transferidos 200 g destas para vidros com capacidade de 500 mL, de modo que cada um deles consistiu a parcela experimental, sendo liberados 20 insetos adultos de mesma idade em cada vidro. A mortalidade foi verificada bimestralmente durante 180 dias. Após cada época de avaliação as sementes eram enviadas ao Laboratório de Análise de Sementes da Claspar, em Curitiba, para avaliação da porcentagem de germinação e vigor das sementes, realizados de acordo com as Regras para Análise de Sementes - RAS (BRASIL, 1992). O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, e consistiu de três repetições por tratamento, para cada local e época de avaliação. Para verificação do efeito de tratamentos e de eventuais interações entre tratamentos, épocas e doses, foi empregada a Análise da Variância utilizando-se o programa Minitab versão 7.2 e as diferenciações de médias foram realizadas pelo teste LSD (Fisher modificado) (STEEL e TORRIE, 1980) quando ocorreram diferenças significativas (P<0,05). Resultados e Discussão A essência do controle de insetos, no presente trabalho, está no teor de sílica do produto, como é o caso da terra diatomácea com alto teor de silício, e dos derivados de xisto. Os dados apresentados na figura 1 referem-se à avaliação do tempo zero, aos 10 dias após a infestação, onde se observa que houve uma diferença significativa entre doses. De um modo geral, a dose de 0,5% foi melhor para todos os tratamentos. Cabe ressaltar que a cinza de xisto, na dose mais alta teve o melhor resultado em relação aos demais derivados de xisto, chegando a igualar com o tratamento padrão, a terra diatomácea. FIGURA 1. Influência do tratamento de sementes de centeio com pós de rocha na sobrevivência de gorgulho 10 dias após infestação. LONDRINA/IAPAR/CLASPAR – 2007. A figura 2 contempla o número de gorgulhos vivos após 60 dias de armazenamento. Os dados foram aglutinados, pois não houve diferença significativa (P>0,05) entre doses. A população de gorgulhos vivos atingiu níveis próximos de 700 nas testemunhas, enquanto que nas sementes tratadas com cinza de xisto e terra diatomácea o número de insetos foi inferior a 10. Xisto retortado mostrou-se eficiente aos 60 dias, mas ainda assim, inferior a cinza de xisto. FIGURA 2. Influência do tratamento de sementes de centeio com pós de rocha na sobrevivência de gorgulho 60 dias após infestação. LONDRINA/IAPAR/CLASPAR – 2007. Os dados apresentados na figura 3 referem-se à avaliação aos 120 dias após a infestação, onde se observa que houve uma diferença significativa entre doses (P≤0,05). De um modo geral, a dose de 0,5% foi melhor para todos os tratamentos. Novamente a cinza de xisto, na dose mais alta teve o melhor resultado em relação aos demais derivados de xisto. Calxisto na dose de 0,5% também apresentou algum controle, porém, inferior a cinza de xisto. FIGURA 3. Influência do tratamento de sementes de centeio com pós de rocha na sobrevivência de gorgulho 120 dias após infestação – CURITIBA/IAPAR/CLASPAR – 2007. Aos 180 dias de armazenamento (Figura 4.) só foram possíveis as coletas dos dados nos tratamentos com cinza de xisto e terra diatomácea, pois o aumento excessivo da população de S. oryzae L. nos demais tratamentos, inclusive na testemunha, provocou excessivo incremento na umidade na massa de grãos e favoreceu o crescimento de fungos deteriorando todo o conteúdo armazenado. Nessas condições, cinza de xisto a 0,5% foi equivalente à terra diatomácea. FONTE: O autor. FIGURA 4. Resultado do armazenamento de centeio por 180 dias, com tratamento de pós de rocha, em Curitiba, e o estado de conservação devido ao ataque de gorgulhos e fungos apodrecedores. Vidros da esquerda para direita: cinza de xisto (0,5%), testemunha (grãos apodrecidos) e terra diatomácea (0,5%), IAPAR, 2007. Os dados referentes aos testes de germinação estão apresentados na figura 5, onde observa- se que aos 10 dias de armazenamento, destacaram-se a cinza de xisto e terra diatomácea com germinação superior a 80% e o calxisto com 75%. Aos 60 dias de armazenamento os tratamentos com xisto retortado, fino de xisto e testemunha apresentaram germinação inferior a 20%, calxisto 50% e destacando-se cinza de xisto e terra de diatomácea com porcentagem de germinação de 80%. FIGURA 5. Influência do tratamento de sementes de centeio armazenado, com pós de rocha, na germinação - CURITIBA/IAPAR/CLASPAR – 2007. Na figura 6 observa- se os dados do teste de vigor (%) aos 10 e 60 dias de armazenamento, onde os tratamentos com cinza de xisto e terra diatomácea mantiveram o vigor ao longo dos 60 dias de armazenamento comparativamente com a testemunha. FIGURA 6. Influência do tratamento de sementes de centeio armazenado, com pós de rocha, no vigor CURITIBA/IAPAR/CLASPAR – 2007. Nota-se também, (figura 6.) que a testemunha, as sementes tratadas com xisto retortado, finos de xisto e calxisto apresentaram uma porcentagem de vigor inferior a 30%. Isto se deve ao elevado grau de infestação destes tratamentos, prejudicando consideravelmente o vigor dessas sementes. Smiderle et al. (1997) verificaram redução de vigor de sementes durante o armazenamento provocado pela alta taxa de infestação de insetos em sementes de arroz. Considerações Finais Com base nos dados obtidos observou-se que dos subprodutos do xisto, a cinza de xisto apresenta grande potencial como alternativa de controle para S. oryzae, para os produtores de base ecológica na região centro-sul do Paraná. Uma vez que este produto poderá apresentar um baixo custo, por já fazer parte do processo de extração do xisto da Petrobrás, no município de São Mateus do Sul, no Paraná, região caracterizada pelo predomínio de produtores familiares, por não causar danos ao meio ambiente e nem à saúde do produtor durante o manuseio deste produto. Agradecimentos Agradecemos a PetroSix – Projeto Xisto Agrícola, ao CNPq pela concessão da bolsa de I.C. da autora, ao Técnico do laboratório de Entomologia Hugo Y. Muramoto do Instituto Agronômico do Paraná, as equipes do Laboratório de Análises de Sementes da Claspar e do Laboratório de Nutrição Animal, do Instituto Agronômico do Paraná. Referências ATUI, M. B.; LAZZARI, F.A.; LAZZARI, S.M.N. Avaliação de metodologia para a detecção de resíduos de terra diatomácea em grãos de trigo e farinha. Revista Instituto Adolfo Lutz, v. 62, n.1, p. 11-16, 2003. BRASIL. Ministério da Agricultura e Reforma Agrária. Regras para Análise de Sementes. Brasília: SNAD/DNDV/CLAV, 1992. 365 p. LORINI, I. Aplicação do manejo de integrado de pragas em grãos armazenados. In: Simpósio Proteção de Grãos Armazenados, 1., Passo Fundo, 1993. Anais... Passo Fundo: Embrapa – CNPT, 1993. p. 117 – 126. _________; FERREIRA, A. F.; BARBIERI, I.; DEMAMAN, N. A.; MARTINS, R. R. D.; OSVALDIR. Terra de diatomáceas como alternativa no controle de pragas de milho armazenado em propriedade familiar. Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável, v.2, n.4, p. 32- 36, Porto Alegre, 2001. SMIDERLE, O.J.; SANTOS FILHO, B.G.; SANTOS, D.S.B. Qualidade física e fisiológica de sementes de arroz irrigado (Oryza sativa L.), submetidas ao ataque de Rhizopertha dominica e Sitophilus sp durante o armazenamento. Revista Brasileira de Sementes, Pelotas, v.19, n.1, p. 1-8, 1997. STEEL, R.G.D.; TORRIE, J.H. Principles and procedures of statistics: a biometrical approach. 2.ed. New York : McGraw-Hill, 1980. 631p. PAIXÃO, M.F.; AHRENS, D.C; BIANCO, R; OHLSON, O.C.; SKORA NETO, F.; SILVA, F.A.; CAIEIRO, J.T.; NAZARENO, N.R.X. Controle de Sitophilus oryzae em armazenamento de sementes de centeio com subprodutos do processamento do xisto, no Paraná, Brasil. In: Congresso Brasileiro de Rochagem, 1. Anais ... Brasília, 2009. pp. 259-264. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/33330677/Anais-ICongresso-Brasileiro-de-Rochagem