UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE BOTÂNICA, ECOLOGIA E ZOOLOGIA LABORATÓRIO DE ECOLOGIA E CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA USO E CONSERVAÇÃO DA FAUNA POR POPULAÇÕES HUMANAS NO RIO GRANDE DO NORTE, NORDESTE DO BRASIL EDUARDO SILVA DE OLIVEIRA NATAL – RN 2011 EDUARDO SILVA DE OLIVEIRA USO E CONSERVAÇÃO DA FAUNA POR POPULAÇÕES HUMANAS NO RIO GRANDE DO NORTE, NORDESTE DO BRASIL Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPGE/UFRN), como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Ecologia. Orientador: Prof. Drº. Alexandre Vasconcellos Co-Orientador: Prof. Drº. Rômulo Romeu da Nóbrega Alves NATAL – RN 2011 I II Eduardo Silva de Oliveira USO E CONSERVAÇÃO DA FAUNA POR POPULAÇÕES HUMANAS NO RIO GRANDE DO NORTE, NORDESTE DO BRASIL Aprovada em:15/06/2011 Banca examinadora: Prof. Drº. Alexandre Vasconcellos (UFRN) ________________________________ Orientador Prof. Drº. Rômulo R. N. Alves (UEPB) ________________________________ Co-Orientador Prof. Drª. Priscila F. M. Lopes (UFRN) _________________________________ Examinadora interna Prof. Drº. Helder F. P. de Araújo (UFPB) _________________________________ Examinador externo Prof. Drº. Gindomar G. Santana (UFRN) __________________________________ Examinador externo NATAL – RN 2011 III Oh! Senhor, pedi pro sol se esconder um pouquinho, pedi pra chover, mas chover de mansinho, pra ver se nascia uma planta, uma planta no chão. Oh! Meu Deus, se eu não rezei direito, a culpa é do sujeito, desse pobre que nem sabe fazer a oração. (...) (...) Violência demais, chuva não tem mais, corrupto demais, política demais, tristeza demais. O interesse tem demais! Violência demais, fome demais, falta demais, promessa demais, seca demais, chuva não tem mais! Lá no céu demais, chuva tem, tem, tem, não tem, não pode tem, é demais. Pobreza demais, como tem demais!(Falta demais), é demais, chuva não tem mais, seca demais, roubo demais, povo sofre demais. “Súplica Cearense” O Rappa Composição: Luiz Gonzaga IV Como primeiro e único membro da família de origem interiorana a ter um curso superior e estar prestes a obter o título de mestre, nada mais justo do que dedicar esta dissertação a minha família, principalmente, aos meus pais Geovani Barros de Oliveira e Martine Silva de Oliveira, e a minha noiva Denise de Freitas Torres. Dedico em especial àqueles que mesmo sendo do interior, de família humilde e com pouca condição financeira, lutam com perseverança, honestidade, garra e fé pela sobrevivência numa região marcada por forte sazonalidade ambiental e um impressionante descaso político. V AGRADECIMENTOS À Deus, pela minha perfeita existência. Aos Doutores Alexandre Vasconcellos e Rômulo Romeu da Nóbrega Alves pela orientação (desde a graduação), amizade, confiança e incentivo, numa área do conhecimento quase que totalmente desconhecida dos norte-rio-grandenses. Aos Doutores Gindomar G. Santana, Priscila F. M. Lopes e Helder Farias Pereira de Araújo por terem aceitado participar da banca examinadora e pelas sugestões dadas para melhoria deste estudo. A Doutora Priscila F. M. Lopes (UFRN), pelos oportunos comentários e indicação de excelente bibliografia para realização do presente estudo. Ao Doutor Ulysses Paulino de Albuquerque (UFRPE), pela contribuição com várias ideias e bibliografia fundamental para realização do presente estudo. A todos os entrevistados pela colaboração, paciência e, sobretudo, pelo confiança em repassar seus conhecimentos, contribuindo para a realização deste estudo. Aos doutores do Departamento de Botânica, Ecologia e Zoologia da UFRN, Adrian Antônio Garda, Alexandre Vasconcellos, Jomar Gomes Jardim, Mauro Pichorim e ao mestre Wallace Silva do Nascimento pela ajuda na identificação das espécies. Ao recente grupo de Ecologia Humana que ajudou sugerindo novas ideias para melhoria deste estudo. A todos os professores(as) do curso de Pós-graduação em ecologia, pelos ensinamentos, amizade e confiança. Aos amigos das turmas de mestrado e doutorado de 2009 pelos vários momentos felizes que passamos. Aos colegas do LECOB pela convivência sempre harmoniosa e alegre. A Denise, pelo amor, carinho, compreensão, amizade e ajuda em campo. A Sra. Creuza e ao Sr. Miguel, por terem me acolhido em sua casa durante os trabalhos de campo. A minha família, pelo incentivo e credibilidade em mim depositada e bons momentos que vivemos juntos ao longo de nossas vidas. A todas as pessoas que auxiliaram na realização deste estudo. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), pelo suporte financeiro. VI Lista de Figuras Capítulo 1 Figura 1. Localização da área de estudo................................................................... 48 Capítulo 2 Figura 1. Localização da área de estudo................................................................... 77 VII Lista de Tabelas Capítulo1 Tabela 1. Espécies da fauna usadas em comunidades rurais, no município de Pedro 49 Avelino (NE Brasil).............................................................................................. Tabela 2. Teste Mann-Whitney para o uso de animais nas comunidades humanas do município de Pedro Avelino (RN, NE Brasil) de acordo com o gênero e a idade dos entrevistados........................................................................................................ 52 Tabela 3. Índice de diversidade de Shannon-Wiener H’ para as categorias de uso e MUI de acordo com gênero e a idade dos informantes entrevistados no município 53 de Pedro Avelino (NE do Brasil)........................................................................... Tabela 4. Categorias das doenças tratadas com recursos zooterápicos nas comunidades São José do Pé da Serra, Santo Antônio Trangola, Serra Aguda e Olho d’Água, Pedro Avelino (RN), segundo o CBCD (Centro Brasileiro de Classificação de Doenças,1993)................................................................................. 53 Tabela 5. Espécies de animais usadas na medicina popular no município de Pedro 54 Avelino, NE Brasil............................................................................................... Tabela 6. Fator de consenso dos informantes por categorias de sistemas corporais ou doenças (município de Pedro Avelino, RN, NE Brasil)........................................ 55 Capítulo 2 Tabela 1. Critérios para determinação dos valores usados no cálculo da PLC dos animais utilizados para fins alimentares e medicinais.............................................. 78 Tabela 2. Lista de espécies da fauna usadas para fins alimentares ou medicinais, espécies ameaçadas de extinção ou sobreexploração em uma área da Caatinga (Município de Pedro Avelino, RN, NE Brasil)....................................................... 79 Tabela 3. Prioridade local de conservação da fauna em área de Caatinga no município de Pedro Avelino, Rio Grande do Norte (NE, Brasil), a partir do conhecimento das populações humanas locais....................................................... 82 VIII Sumário Lista de figuras............................................................................................................... VII Lista de tabelas............................................................................................................... VIII Introdução geral.............................................................................................................. 01 Etnozoologia................................................................................................................... 01 O Conhecimento Ecológico Local e a conservação....................................................... 06 A Caatinga...................................................................................................................... 07 Estrutura da dissertação.................................................................................................. 09 Referências..................................................................................................................... 10 Capitulo 1....................................................................................................................... 17 Resumo........................................................................................................................... 18 Palavras-chave................................................................................................................ 18 Abstract........................................................................................................................... 19 Key words....................................................................................................................... 19 1. Introdução................................................................................................................... 20 2. Material e métodos..................................................................................................... 22 2.1 Descrição da Área de estudo........................................................................ 22 2.2 Procedimentos metodológicos..................................................................... 22 2.3. Analise de dados......................................................................................... 25 2.3.1. Multiplicidade de Uso por informante......................................... 25 2.3.2. Zooterapia..................................................................................... 25 2.3.2.1. Fator de consenso dos informantes................................ 26 2.3.2.2. Importância relativa....................................................... 26 2.3.2.3. Nível de fidelidade......................................................... 26 2.4. Análises estatísticas......................................................................... 27 2.5. Análises ecológicas......................................................................... 27 3. Resultados.................................................................................................................. 28 3.1. Categorias de uso da fauna......................................................................... 28 3.1.1. Categorias de uso: alimentar, estimação e místico-religioso................... 28 3.1.2. Fauna de uso medicinal............................................................................ 29 3.2. A influência dos fatores socioeconômicos no uso da fauna........................ 30 3.3 Análises ecológicas...................................................................................... 31 4. Discussão................................................................................................................... 31 4.1. Categorias de uso da fauna.......................................................................... 31 IX 4.1.1. Categorias de uso: alimentar, estimação e místico-religioso................... 31 4.1.2. Fauna de uso medicinal............................................................................ 33 4.2. A influência dos fatores socioeconômicos no uso da fauna........................ 35 4.3 Análises ecológicas...................................................................................... 38 5. Considerações finais.................................................................................................. 38 Agradecimentos............................................................................................................. 40 Referências..................................................................................................................... 40 Capítulo 2....................................................................................................................... 56 Resumo.......................................................................................................................... 57 Palavras-chave............................................................................................................... 57 Abstract.......................................................................................................................... 58 Key words...................................................................................................................... 58 1. Introdução.................................................................................................................. 59 2. Material e métodos..................................................................................................... 60 2.1. Descrição da área de estudo........................................................................ 60 2.2. Procedimentos metodológicos.................................................................... 61 2.3. Prioridade local de conservação para espécies da fauna............................. 61 3. Resultados.................................................................................................................. 63 3.1. Da utilização à conservação: uso de animais para fins alimentares e medicinais.......................................................................................................... 63 3.2. Prioridade local de conservação para espécies da fauna............................. 64 4. Discussão................................................................................................................... 64 4.1. Da utilização à conservação: uso de animais para fins alimentares e medicinais.......................................................................................................... 64 4.2. Prioridade local de conservação para espécies da fauna............................. 66 5. Considerações Finais.................................................................................................. 69 Agradecimentos............................................................................................................. 71 Referências.................................................................................................................... 71 Apêndices....................................................................................................................... 83 Apêndice A. Formulário semiestruturado...................................................................... 84 Apêndice B. Animais ou partes de animais registrados na zona rural de Pedro Avelino, RN, Brasil....................................................................................................... 88 Anexos........................................................................................................................... 92 Anexo A. Mostrando a área de ocorrência das espécies Mazama Gouazoupira (à 93 esquerda) e Rhea americana (à direita). O círculo em amarelo corresponde à área do X presente estudo. Adaptado da IUCN (2011)................................................................. Anexo B. Mostrando a área de ocorrência da espécie Tayassu pecari (porco do mato). O círculo em amarelo corresponde à área do presente estudo. Adaptado da 94 IUCN (2011)................................................................................................................. XI Introdução Geral Etnozoologia O uso dos recursos faunísticos por diferentes culturas é uma importante fonte de estudo na área da etnociência, a qual busca entender como o mundo é percebido, conhecido e classificado por diversas culturas humanas (Begossi 1993). Dentro da etnociência, a etnobiologia é a área que estuda o conhecimento e as conceituações desenvolvidas por qualquer sociedade a respeito da biologia (Posey 1986). De maneira geral, a etnobiologia pode ser historicamente dividida em três períodos: pré-clássico, clássico e pós-clássico (Clément 1988). Segundo este autor, durante o período pré-clássico, iniciado por volta de 1860, o enfoque dado aos estudos estava centrado na coleta de informações sobre o uso dos recursos naturais. A transição entre o período pré-clássico e o clássico foi marcada pela tese de doutorado do antropólogo Harald C. Conklin em 1954, que abordava o sistema de classificação e nomenclatura de plantas, através da componente linguística, da etnia Hanunóo (Ilha Mindoro, Filipinas). No período clássico, foi realizado um significativo número de trabalhos de caráter linguístico e de classificação etnobiológica. O período pós-clássico teve início no começo da década de 1980, e estende-se até os dias atuais. Neste período surgiram às sociedades acadêmicas, periódicos especializados e o enfoque de um grande número de estudos convergiu para o estudo do manejo dos recursos naturais em diferentes grupos étnicos, promovendo uma maior interação entre a etnobiologia e a conservação (Alves e Souto 2010a). Ainda segundo estes últimos autores, como um tema recente na etnobiologia surge a necessidade de proteção e regulamentação do acesso ao conhecimento tradicional/local, assim como a repartição de benefícios com os detentores do saber associado a um dado recurso natural. A etnobiologia é um campo de estudo híbrido, que uni conhecimento das ciências naturais e sociais e que tem contribuído para mostrar que as populações locais, em qualquer parte do mundo, possuem um considerável conhecimento sobre a natureza (El-Kamali 2000; Apaza et al. 2003; Lev 2003; Romero e Creswell 2005; Alves e Rosa 2006; Hanazaki et al. 2009; Quave et al. 2010). Além disso, a etnobiologia pode ser subdividida em algumas áreas, sendo a etnobotânica e etnozoologia as mais estudadas atualmente. 1 Como uma subárea da etnobiologia, a etnozoologia busca compreender como as mais variadas etnias percebem e interagem com os recursos faunísticos desde a antiguidade até o presente. O primeiro estudo publicado com a abordagem etnozoológica foi de Stearns (1889), que descrevia o uso primitivo de conchas como moeda, atualmente uma subárea da etnozoologia, a etnomalacologia (Alves e Souto 2010a). O termo etnozoologia surgiu nos Estados Unidos no final do século XIX, tendo sido cunhado por Mason, em 1899, em seu artigo Aboriginal American Zoötechny, o qual definia etnozooologia como a zoologia de uma região tal como narrado por um selvagem (Mason 1899). Além disso, Mason incluía a etnozoologia como um ramo da zootecnia. Todavia, na literatura, o termo só apareceu com o artigo intitulado Ethnozoology of the Tewa Indians, de Henderson e Harrington, em 1914. Eles consideraram a etnozoologia como uma disciplina, referindo-se a ela como o estudo das culturas existentes e das relações deles com os animais (Alves e Souto 2010a). No Brasil, o primeiro estudo com enfoque etnozoológico foi publicado no ano de 1939, tratando de um ensaio sobre o vocabulário zoológico popular do Brasil (Von Ihering 1939). Outras definições foram surgindo com o passar do tempo. A etnozoologia pode ser definida como o estudo dos conhecimentos, significados e usos dos animais nas sociedades humanas (Overal 1990). Outra definição é o estudo do que os indivíduos sabem sobre os animais que não é ensinado pela ciência (Ellen 1997). Para Marques (2002), a etnozoologia pode ser pensada como o estudo transdisciplinar dos pensamentos e percepções, dos sentimentos e dos comportamentos que intermedeiam as relações entre as populações humanas que os possuem com as espécies de animais dos ecossistemas que os incluem. Uma definição mais ampla de etnozoologia foi formulado por Santos-Fita et al. (2009), como o ramo da ciência que possibilita o entendimento nativo, não apenas de como se constrói e estruturam-se cada modelo classificatório, mas também as causas e consequências da concepção, identificação, categorização, conhecimentos e modos de emprego que têm os animais, que vivem no universo particular de cada grupo étnico que existe no mundo. Segundo Santos-Fita e Costa-Neto (2007), os etnozoólogos vêm centrando esforços nas seguintes áreas de estudo: a) percepção cultural e sistemas de classificação etnozoológicos; b) importância e presença dos animais nos contos, mitos e crenças; c) aspectos biológicos e culturais da utilização dos animais pelas sociedades humanas e as formas de obtenção e preparo das substâncias orgânicas extraídas dos animais para fins 2 diversos (cosmética, ritualística, medicinal, alimentar, etc.); d) domesticação, verificando as bases culturais e as consequências biológicas do manejo dos recursos faunísticos ao longo do tempo; e) heterogeneidade biológica e processos cognitivos envolvidos no manejo e conservação dos recursos e as técnicas de coleta e seu impacto sobre as diferentes populações animais. De acordo com Alves e Souto (2010b), dentre as áreas de estudo em etnozoologia no Brasil, as mais representativas foram à zooterapia – uso de animais ou parte deles para fins medicinais (18,2%), a etnoictiologia (13,9%) e a etnoentomologia (13,4%). Ainda segundo estes autores, que realizaram uma revisão sobre a distribuição das investigações em etnozoologia no Brasil, foi constatado que quase 80% dos estudos sobre o tema foram publicadas nos últimos dez anos. No Rio Grande do Norte, os estudos em etnozoologia ainda são escassos, merecendo destaque pelo pioneirismo os trabalhos realizados por Torres et al. (2009), Silva e Freire (2009) e Oliveira et al. (2010a,b). Como mencionado anteriormente, a zooterapia é a subárea da etnozoologia que apresenta o maior número de trabalhos publicados no Brasil. O país utiliza pelo menos 326 espécies de animais com finalidade terapêutica (Costa-Neto e Alves 2010). Mesmo com o expressivo número de animais inventariados, esses autores consideram que os estudos sobre o tema ainda são incipientes. Nesse sentido, a necessidade de estudos adicionais buscando inventariar, de maneira mais completa, a fauna com potencial uso zooterápico é evidente (Alves et al. 2007; Alves 2008). Atualmente, a zooterapia pode ser definida como o tratamento de doenças humanas a partir da utilização de produtos considerados potencialmente medicamentosos, elaborados de partes do corpo do animal, de produtos de seu metabolismo, ou de materiais construídos por eles (Costa-Neto e Alves 2010). Geralmente, os animais são utilizados integralmente ou em porções como: banha (gordura), carne, couro, espinho, escama, coração, dente, fígado, leite, ossos, pena, perna, pêlo, sangue, testículo, etc., ou ainda produtos oriundos do metabolismo como: fezes, urinas e mel; assim como, produtos construídos por eles como ninhos e casulos (Costa-Neto e Alves 2010). Ainda segundo os autores, o uso de animais vivos também é uma prática comum no Brasil. Os jabutis (Chelonoidis carbonaria), por exemplo, costumam ser criados como animais de estimação para livrarem os moradores da casa de adquirirem bronquite e erisipela (Costa-Neto, 1996). Por sua vez, o pássaro cancão (Cyanocorax cyanopogon) é utilizado em “simpatia” popular para tratar processos 3 asmáticos; para tal, o pássaro deve ser alimentado com os restos de comida do enfermo (Alves et al. 2008). Entretanto, as práticas zooterápicas não são exclusivas dos povos brasileiros, uma grande variedade de animais tanto selvagens quanto domésticos, constituem a farmacopéia de muitos povos ao redor do mundo. A ampla distribuição geográfica e o registro etnográfico do fenômeno da zooterapia resultaram no estabelecimento da hipótese da universalidade zooterápica, segundo a qual toda cultura que apresenta sistema médico desenvolvido utiliza animais como remédios (Marques 1994). Além da zooterapia, algumas outras práticas etnozoológicas têm sido documentadas nas últimas décadas no mundo (Pemberton 1999; Madhusudan e Karanth 2002; Apaza et al. 2003; Solavan et al. 2004; Romero e Creswell 2005; Mahawar e Jaroli 2007) e no Brasil, demonstrando que as populações humanas conhecem e fazem uso de animais para fins de alimentação, estimação, místico-religiosos, entre outros (Costa-Neto 2000; Perez e Nascimento 2006; Alves et al. 2009; Ferreira et al. 2009; Léo-Neto et al. 2009; Alves et al. 2010a). No Brasil, nota-se claramente que existe uma íntima associação entre os animais usados para fins místico-religiosos e para uso na medicina popular (Rosa et al. 2010). Ainda segundo estes autores, cerca de 100 espécies são usadas com finalidades mágicoreligiosas no Brasil. Na Venezuela, mamíferos marinhos foram explorados, desde tempos pré-colombianos para fins místico-religiosos, medicinais, entre outros (Romero e Creswell 2005). Dentre as religiões praticadas no Brasil, o candomblé, uma religião afro-brasileira, destaca-se no uso de animais durante as cerimônias. Vários são os casos relatados na literatura de animais usados para fins místico-religiosos. Por exemplo, cavalos-marinhos secos estão entre os animais mais utilizados para fins mágicoreligiosos no Brasil, sobretudo para uso em rituais e práticas de religiões afro-brasileiras (Alves 2006; Rosa et al. 2010). Estes últimos autores destacam que os cavalos-marinhos são usados para afastar inveja (mau olhado), eliminar espíritos maus (espíritos obsessores), atrair sorte, dinheiro e o sexo oposto. Outro exemplo de uso de animal para fins místico-religiosos é o caso da espécie Eupetomena macroura (beija-flor) da qual uma pessoa pode ingerir o coração do animal visando melhorar a pontaria do caçador em atividades cinegéticas (Torres et al. 2009). O uso de animais silvestres para fins de alimentação ainda é praticado em algumas sociedades contemporâneas. Na Área de Proteção Ambiental de Genipabu, Estado do Rio Grande do Norte, Nordeste do Brasil, o uso de animais para fins 4 alimentares foi considerado o mais representativo dentre os usos relatados (Torres et al. 2009). No Brasil, a utilização de quelônios na alimentação é uma prática antiga, principalmente na região Norte do país (Giovanini 2002). Na Amazônia, a caça de subsistência torna-se ainda mais importante em áreas não alagáveis, onde fontes aquáticas de proteínas animal são muitas vezes escassas (Perez e Nascimento 2006). As taxas de consumo de caça extrapoladas para toda a Amazônia brasileira indicam que entre 9,6 e 23,5 milhões de répteis, aves e mamíferos, são consumidos anualmente pela população rural na região, correspondendo entre 67.173 e 164.692 toneladas de vertebrados terrestres caçados (Peres 2000). No Sudeste do Caribe, os Arawaks usavam peixes, moluscos, tartarugas e peixes-boi como fontes de proteína muito antes da chegada de Cristóvão Colombo às Américas (Romero e Creswell 2005). Os térmitas vêm sendo usados na alimentação humana em partes da Ásia e da África (Solovan et al. 2004; Wilsanand 2005; Wilsanand 2007). Os insetos representavam uma fonte mais barata de proteína animal em Manipur na Índia (Gope e Prasad 1983). De forma geral, os animais não domesticados ainda constituem uma importante fonte de proteína para os povos humanos em todo o mundo. Outra forma de uso da fauna bastante comum no Brasil e no mundo é a utilização de animais para fins de estimação. A fauna silvestre sempre foi um importante elemento cultural das diversas tribos indígenas brasileiras (Giovanini 2002). Os índios brasileiros amansavam espécimes da fauna silvestre, sem nenhuma função útil, mas unicamente para diversão doméstica, alegria e curiosidade para os olhos (Giovanini 2002). Em áreas de Caatinga do Nordeste do Brasil, a utilização de aves como animais de estimação é uma atividade generalizada e culturalmente importante (Alves et al. 2010b). Entretanto, apesar de ter uma importância cultural, não deve ser considerada como uma atividade ambiental e socialmente correta. Muito pelo contrário, o comércio ilegal de animais silvestres é o terceiro maior negócio ilícito do planeta, superado apenas pelo tráfico de armas e drogas (Zago 2008). Ainda segundo esta autora, frequentemente as pessoas envolvidas agem por ignorância, ou por necessidade e miséria que as levam a tais atos. Dentre os animais mais usados com propósitos de criação em cativeiro e, por consequência, os mais traficados, destacam-se as aves pela beleza de sua plumagem e pelos seus cantos (Rocha et al. 2006). Várias formas de uso de animais ou partes deles foram mostradas nos últimos parágrafos, no entanto, para obter estes produtos, em geral, animais silvestres 5 necessitam ser caçados por pessoas que apresentem conhecimento local sobre os mesmos. As atividades de caça foram e continuam sendo vitais para alguns grupos humanos ao redor do mundo, principalmente nas nações mais pobres. Estas atividades podem estar contribuindo para a diminuição da fauna em várias regiões (Madhusudan e Jaranth 2002; Romero e Creswell 2005; Quave et al. 2010). As atividades de caça entre os Maias da península de Yucatán só foi estudada, com detalhes, recentemente mesmo sendo uma atividade praticada a cerca de 4000 anos (Toledo et al. 2008). Segundo Primack e Rodrigues (2001), enquanto as populações humanas eram pequenas e seus métodos de coleta não eram sofisticados, as pessoas caçavam animais de maneira mais sustentável, sem levar as espécies à extinção. Entretanto, com o crescimento das populações humanas, as atividades de caça também aumentaram, causando provavelmente efeitos negativos à estrutura populacional de várias espécies. Além disso, a escassez de estudos dificulta a compreensão dos motivos que conduzem as populações humanas a praticarem as atividades de caça em cada local. No bioma Caatinga, os trabalhos referentes às atividades cinegéticas são escassos, embora a caça de subsistência seja apontada como uma das principais ameaças à diversidade da fauna da região (Leal et al. 2005; Alves et al. 2009, Dantas-Aguiar et al. 2011; FernandesFerreira et al.2011). O Conhecimento Ecológico Local e a conservação As populações humanas dependem direta e indiretamente dos recursos faunísticos para a sobrevivência e, geralmente, apresentam um considerável conhecimento sobre a biologia e ecologia da fauna dos locais onde sobrevivem. O conhecimento ecológico local (do inglês, Local Ecological Knowledge, LEK) das pessoas sobre a abundância e a distribuição de espécies é geralmente obtido através de observações dos indivíduos durante suas vidas, sendo este conhecimento transmitido através das gerações (Gilchrist et al. 2005). Ainda segundo esses autores, há uma necessidade de comparar cuidadosamente observações oriundas do LEK com as da ciência convencional, porque elas refletem fontes independentes de informações que podem corroborar um ao outro. Tal comparação também poderia aumentar a confiança e profundidade do conhecimento em ambas as abordagens (Huntington et al. 2004) ou levantar novas hipóteses a serem investigadas (Silvano e Valbo-Jorgensen 2008). 6 Nas últimas décadas, a obtenção de dados oriundos do conhecimento local das pessoas sobre os fenômenos ecológicos tem aumentado consideravelmente (Huntington 2000). Alguns trabalhos propõem que o conhecimento local das pessoas pode fornecer informações biológicas relevantes para os esforços de conservação (Huntington 2000; Folke 2004; Gilchrist et al. 2005; Anadón et al. 2009). O LEK é uma fonte valiosa de observações sobre as mudanças ambientais, e pode ser usado para ajudar a entender por que essas mudanças ocorreram (Bart 2006). Ainda segundo o autor, o LEK pode ser cuidadosamente associado com métodos clássicos de estudos ecológicos para fornecer explicações, com maior rigor e relevância para gestão, sobre mudanças ambientais do que qualquer outra abordagem separadamente. O LEK é um elo fundamental entre os sistemas sociais e ecológicos que pode ser usado até para interpretar e responder aos sinais de mudança nos ecossistemas (Olsson e Folke 2001). Em trabalho realizado com pescadores brasileiros e asiáticos, Silvano e ValboJorgensen (2008) testaram três possibilidades de compração entre o conhecimento científico e o LEK. Os resultados do estudo indicam que os pescadores possuem um razoável conhecimento sobre comportamento e ecologia de peixes, e que este conhecimento local pode ser usado pelos cientístas para complementar outras fontes de informação ou formular hipóteses que possam ser testadas usando metodologias convencionais. Os autores perceberam que em alguns casos, há concordância entre informações obtidas a partir do LEK com os dados publicados na literatura científica. Às vezes, faltam dados científicos para comparar com os dados oriundos do LEK e; em outras situações, os resultados apontam em direções opostas à literatura científica. Os autores acreditam que este tipo de investigação pode gerar novas hipóteses para ser testadas por metodologias biológicas convencionais. A Caatinga O bioma Caatinga ocupa aproximadamente 735.000 Km² do território nacional, estando presente no Nordeste do Brasil e Norte de Minas Gerais (Silva et al. 2004; Leal et al. 2005; Prado 2005). A Caatinga tem sido sempre colocada em segundo plano quando se discutem políticas para o estudo e a conservação da biodiversidade do Brasil (Silva et al. 2004; MMA 2007), mesmo reconhecendo o esforço, nos últimos anos, de programas como: PELD (Programa Ecológico de Longa Duração), PPBio (Programa de 7 Pesquisa em Biodiversidade) e SISBIOTA-BRASIL (Sistema Nacional de Pesquisa em Biodiversidade). Quanto à vegetação da Caatinga, segundo Prado (2005), é na classificação de Andrade-Lima (1981) que se encontra a divisão mais coerente, compreensiva e amplamente usada deste tipo de vegetação, sendo seis tipos com 12 subtipos de vegetação. Ainda segundo o autor, o conceito de caatinga de Andrade-Lima foi basicamente uma concepção florística da província, porém sem perder a relação com a fisionomia e a ecologia da vegetação. As unidades vegetacionais propostas por Andrade-Lima (1981) são: Floresta de caatinga (Unidade I), Floresta de caatinga média, tipo de vegetação 2, 3, 4 e 6 (Unidade II), Floresta de caatinga baixa (Unidade III), caatinga arbustiva densa ou aberta (Unidade IV), caatinga arbustiva aberta baixa (Unidade V) e Floresta ciliar (Unidade VI). Além destas, uma nova componente à classificação de Andrade-Lima foi proposta por Prado (2005): Floresta de caatinga média, tipo de vegetação 13 (Unidade VII). Baseado na classificação de Andrade-Lima (1981), Prado (2005) caracteriza as caatingas como florestas arbóreas ou arbustivas, compreendendo árvores e arbustos baixos, muitos dos quais apresentam espinhos, microfilia e algumas características xerofíticas, sendo a principal característica dessa região semiárida (Leal et al. 2005; Prado 2005). Estima-se que pelo menos 932 espécies vegetais foram descritas na região das caatingas, sendo 318 delas endêmicas (Giulietti et al 2004). A média pluviométrica anual da caatinga varia de 240 a 1.500 mm, com 50% da região recebendo menos que 750 mm e em algumas áreas centrais menos que 500 mm (Sampaio 1995; Leal et al. 2005; Prado 2005). Os fenômenos catastróficos são muito frequentes, tais com secas e cheias, que, modelam a vida animal e vegetal da caatinga (Prado 2005). A caatinga semiárida, comparada as outras formações brasileiras, apresenta muitas características extremas dentre os parâmetros meteorológicos: a mais alta radicação solar, a mais alta temperatura média anual, as mais baixas taxas de umidade relativa, e, de forma mais marcante, precipitações mais baixas e irregulares (Reis 1976). Segundo trabalho realizado por Casteletti et al. (2003), a área total da região da Caatinga alterada pelo homem foi de 332.843 Km², ou seja, 45,32% da região, considerando uma estimativa média para uma “zona de impacto de estrada” de 7 km. Esse valor coloca a Caatinga como um dos ecossistemas mais modificados pelo homem no Brasil, sendo ultrapassado apenas pela Mata Atlântica e Cerrado (Casteletti et al. 8 2003; Leal et al. 2005). Ainda segundo os autores, a perda das paisagens da Caatinga tem consequências graves para a manutenção da biodiversidade, podendo levar ao desaparecimento das espécies endêmicas encontradas nesse bioma. Apesar das ameaças à sua integridade, mais de 80% da Caatinga já foi alterada pelo homem e apenas cerca de 7% da Caatinga se encontra em unidades de conservação, menos de 1% em unidades de proteção integral que são as mais restritivas à intervenção antrópica (MMA 2010). Ainda segundo dados do MMA (2010), cerca de 27 milhões de pessoas vivem atualmente na área do bioma Caatinga. Em relação à fauna, a Caatinga era descrita na literatura como uma região com uma pequena riqueza em espécies e baixo grau de endemismo (Vanzolini et al. 1980; Prance 1987). Entretanto, nos últimos anos, ocorreu um aumento nas listas de diversos grupos demostrando que a Caatinga tem uma considerável riqueza em espécies. Já foram registradas 148 espécies de mamíferos (10 endêmicas), 240 de peixes (136 endêmicas), 167 de répteis e anfíbios, 62 famílias e 510 espécies de aves (15 endêmicas) e 187 de abelhas (Leal et al. 2005). Estrutura da dissertação O presente estudo investiga as possíveis interações entre as populações humanas e a fauna da Caatinga, na zona rural do município de Pedro Avelino, no Estado do Rio Grande do Norte, utilizando abordagens da ecologia humana. Como objetivo central, buscou-se analisar o conhecimento e uso da fauna silvestre pelas populações humanas residentes, levando em conta os aspectos socioeconômicos, ecológicos e culturais. Especificamente, este estudo investigou se a distância das populações humanas da zona rural em relação à zona urbana e os fatores socioeconômicos podem ser preditores de um maior conhecimento sobre as espécies da fauna utilizadas. Além disso, também testou uma ferramenta capaz de gerar uma lista da fauna prioritária para a conservação local a partir do conhecimento ecológico local. Temas como etnozoologia e conservação são abordados ao longo dos dois capítulos desta dissertação. De maneira geral, pretendeu-se: (1) Conhecer se as várias formas de interações das populações rurais do município de Pedro Avelino com a fauna silvestre local. (2) Elaborar uma lista de espécies localmente extintas, segundo relatos dos moradores. (3) Verificar se existe relação entre o uso dos recursos da fauna pelos moradores da zona rural e à distância das zonas urbanas. (4) Investigar se fatores como gênero e idade dos entrevistados 9 podem influenciar a riqueza e diversidade das espécies da fauna usadas. Estas e outras questões são tratadas ao longo desta dissertação. Os resultados são apresentados e discutidos em dois capítulos. O primeiro intitulado “Uso da fauna por populações humanas em uma área de Caatinga, Nordeste do Brasil” trata da análise do conhecimento e uso da fauna silvestre pelas populações humanas residentes em comunidades rurais do município de Pedro Avelino, Estado do Rio Grande do Norte, levando em conta os aspectos socioeconômicos e culturais. O segundo capítulo “Prioridade Local de Conservação de espécies da fauna em uma área de Caatinga, Nordeste do Brasil” avalia e discute o uso de uma ferramenta capaz de gerar uma lista da fauna prioritária para a conservação local, com base no conhecimento ecológico dos moradores entrevistados. Referências Alves R.R.N. 2006. Uso e Comércio de Animais para Fins Medicinais e Mágico Religiosos no Norte e Nordeste do Brasil. Tese. Universidade Federal da Paraíba. Brasil. 252 pp. Alves R.R.N., Rosa I.L. 2006. 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Estas reconheceram 83 espécies (73 vertebrados e 10 invertebrados). Do total de espécies citadas, 58 foram citas como úteis para alimentação, 30 para uso como animais de estimação, nove para fins medicinais e duas foram citadas para fins místico-religiosos. Os resultados mostraram que os fatores socioeconômicos de idade e renda e a variável distância não influenciaram o conhecimento sobre as espécies úteis. Além disso, quando a riqueza de espécies úteis foi analisada de acordo com o gênero, a idade e o grau de escolaridade dos entrevistados observou-se que não houve diferenças entre homens e mulheres. Entretanto, pessoas mais velhas e pessoas com menor escolaridade demonstraram um maior conhecimento para a multiplicidade de uso por informante (MUI) do que pessoas mais jovens e pessoas com maior grau de escolaridade, respectivamente. Por outro lado, ao analisar a diversidade de espécies citadas foi possível observar que os homens apresentaram um conhecimento significativamente maior que as mulheres para a MUI e para a categoria alimentar. Além disso, quando a diversidade de espécies foi analisada pelos dois grupos de idade foi possível observar que pessoas mais velhas possuíam um conhecimento maior do que os mais jovens, para as categorias alimentar e estimação e para a MUI. Vale salientar que algumas das espécies citadas como úteis constam em listas de espécies ameaçadas, evidenciando a necessidade de investigações que avaliem o risco potencial das atividades de caça sobre as populações destes animais. Palavras chaves: Alimento, caça, distância, biodiversidade, zooterapia, etnozoologia 18 Chapter 1 - Use of animals by human populations in a Caatinga area, Northeast Brazil Abstract Hunting activities are vital for some groups of people around the world, especially in the poorest nations, in which hunted animals are used for several purposes. These activities may be contributing to the wildlife decline in several regions. This study analyzed whether the distance of human populations in rural areas compared to urban areas and socioeconomic factors like income and age are predictors of greater knowledge about animal species used in semi-arid Northeast. Four rural communities were investigated in the municipality of Pedro Avelino in the state of Rio Grande do Norte. A total of 30 people were interviewed. They recognized 83 species (73 vertebrates and 10 invertebrates). From the listed species, 58 are useful for food, 30 are used like pets, nine are used for medicinal purposes and two were cited for mysticalreligious use. The results showed that socioeconomic factors of age and income and the distance variable did not affect the knowledge about the useful species. Moreover, when the richness of useful species was analyzed according to gender, age and education level of respondents no differences were observed between men and women. However, older people and people with less education demonstrated greater knowledge for multiple use by informants (MUI) than younger people and people with higher educational levels, respectively. On the other hand, when the diversity of species mentioned was analyzed it was observed that men had a significantly greater knowledge than women for the MUI and the food category. Moreover, when species diversity was analyzed for the two age groups it was observed that older people had greater knowledge than the younger, for the food and pet categories and the MUI. It is noteworthy that some of the species cited as useful appear on lists of threatened species, suggesting the necessity for studies evaluating the potential risk of hunting activities on populations of these animals. Keywords: food, hunting, distance, biodiversity, zootherapy, ethnozoology 19 1. Introdução Uma expressiva parte da biota mundial pode ser encontrada em países tropicais, os quais são países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos. Muitos desses países podem ser marcados por uma significativa diversidade sociocultural e por uma acentuada pobreza em grande parte da população. No entanto, em alguns países, a caça tem sido reconhecida como uma das principais causas do declínio da vida selvagem (Madhusudan e Jaranth 2002; Romero e Creswell 2005; Quave et al. 2010). Alguns autores acreditam que a caça de animais silvestres para alimentação será uma ameaça mais significativa que a perda de habitat para a conservação da diversidade biológica nos trópicos durante os próximos 15–25 anos (Robinson et al. 1999; Wilkie e Carpenter 1999). A variedade de interações que as culturas humanas mantêm com os animais é abordada pela perspectiva da etnozoologia (Santos-Fita et al. 2009). Os animais podem representar um considerável conjunto de possibilidades terapêuticas, alimentares, religiosas, simbólicas e/ou afetivas para as populações humanas. No Brasil, animais vêm sendo usados para diversos fins, tanto por sociedades indígenas como por descendentes dos antigos colonizadores europeus (Alves et al. 2010a). A Caatinga que ocupa aproximadamente 735.000 Km² do território nacional (Leal et al. 2005), abriga uma população com cerca de 27 milhões de habitantes (MMA 2010). Os habitantes da Caatinga são considerados os mais pobres do Brasil. Como resultado desta pobreza e da falta de alternativas de renda, os mesmos exercem uma considerável pressão sobre os recursos naturais. As populações humanas encontradas na Caatinga demonstram uma expressiva diversidade cultural, fruto da fusão de populações de diferentes culturas e etnias, que utilizam os recursos disponíveis de diferentes maneiras (Albuquerque et al. 2008). Na Caatinga, a caça de subsistência é praticada desde épocas remotas (Alves et al. 2009c), sendo iniciada ainda na infância, transmitidas por relações de parentesco (Alves et al. 2010a). As atividades cinegéticas estão voltadas para a alimentação; direcionada a animais predadores, considerados perigosos para o homem; para criação doméstica; lazer e entretenimento; para venda; para serem criados como animais de estimação; fins mágico-religiosos e para serem usados na medicina popular (Alves et al. 2009c; Alves et al. 2010a). 20 A caça de subsistência no semiárido é influenciada por uma série de complexos fatores biológicos, socioeconômicos, políticos e institucionais (Alves et al. 2010a). Por isso, a realização de estudos que avaliem, por exemplo, a influência de fatores socioeconômicos e culturais sobre o conhecimento e uso dos animais é fundamental no entendimento de como as interações se estabelecem entre as populações e os recursos da fauna por elas utilizados. Além disso, estas investigações podem ser relevantes em identificar e fornecer dados para futuras ações que visem à mitigação dos fatores que possam estar afetando negativamente as populações de animais. Adicionalmente, estudos em etnozoologia podem ser uma importante ferramenta no planejamento e execução de medidas de conservação (Oliveira et al. 2010a). Segundo estes autores, os estudos em etnozoologia no Estado do Rio Grande do Norte ainda são escassos. Diante disso, esse estudo objetivou investigar as seguintes perguntas: (1) A distância das populações humanas da zona rural em relação à zona urbana e os fatores socioeconômicos de renda e idade podem ser preditores de um maior conhecimento sobre as espécies da fauna utilizadas? Parte-se do pressuposto que uma população humana, em situação de pobreza, com limitado acesso às fontes de recursos industrializados, dependerá mais dos recursos naturais, quanto mais distante ela se encontrar das zonas urbanas. Também é esperado que os fatores socioeconômicos como, por exemplo, a baixa renda das populações, possa representar uma maior dependência dos recursos faunísticos, o que por sua vez poderá levar a um maior conhecimento e uso dos animais. (2) As variáveis gênero, idade e escolaridade podem influenciar na riqueza de espécies animais conhecidas? Espera-se confirmar a hipótese de que pessoas com maior nível educacional conheçam menos os recursos da fauna úteis devido a estes obterem uma melhor colocação profissional e uma maior sensibilidade às campanhas educativas. Além disso, espera-se que existam diferenças na riqueza de espécies animais conhecidas devido à divisão de tarefas que, geralmente, ocorre entre homens e mulheres ou por idade. (3) Por último, existem diferenças na diversidade de espécies conhecidas de acordo com a idade e o gênero dos entrevistados? Espera-se que existam diferenças entre os entrevistados, pois mesmo que a riqueza de espécies possa ser semelhante, a distribuição do conhecimento pode ser diferenciada, pois as pessoas podem apresentar diferentes níveis de interação com os recursos. 21 2. Material e Métodos 2.1. Descrição da área de estudo O estudo foi desenvolvido em quatro comunidades rurais: Santo Antônio Trangola, Serra Aguda, São José do Pé da Serra e Olho d’água, distando da zona urbana de Pedro Avelino 6 km, 15,4 km, 20,6 km e 26,2 km, respectivamente, localizado na Ecorregião da Depressão Sertaneja Setentrional, no bioma Caatinga, Estado do Rio Grande do Norte (Figura 1). O município de Pedro Avelino possui uma área de 953 km² (IBGE 2007). A sede do município tem uma altitude aproximada de 95 m, distando 154 km da capital do estado. Pedro Avelino possui população de 7168 habitantes (IBGE 2010). O clima predominante na região foi definido segundo a classificação de W. Köppen, em BShw’, ou seja, clima muito quente e semiárido, com duração dos períodos secos da ordem de oitos meses (Nimer 1979). A precipitação pluviométrica média anual é de 578,9 mm, período chuvoso de março a abril, temperatura média anual em torno de 27.2ºC, umidade relativa média anual de 70% e com insolação de 2.400hora/ano (CPRM 2005). Quase todas as casas das comunidades estudadas são de alvenaria, não têm sistema de distribuição de água encanada e nem estradas pavimentadas, mas apresentam rede de distribuição de energia elétrica. A água para consumo doméstico e para as criações de animais domésticos é obtida de poços ou de reservatórios de águas pluviais “cisternas”. Existe apenas uma escola de ensino fundamental menor, para as quatro comunidades. O catolicismo é praticado pela população, embora não existam igrejas nas comunidades estudadas. Como não existem unidades de saúde em nenhuma das comunidades, agentes do Programa Saúde da Família (PSF) fazem visitas mensais na comunidade de São José do Pé da Serra, onde os moradores das demais comunidades também são assistidos quanto aos serviços básicos de saúde. 2.2. Procedimentos metodológicos Para coleta de dados, foram feitas visitas aos moradores das quatro comunidades rurais. A análise da distância das comunidades para o centro do 22 município de Pedro Avelino teve por objetivo investigar a existência de um possível gradiente de uso dos recursos faunísticos entre as comunidades. O centro desta cidade foi considerado como ponto de referência de distância para as comunidades, pois apesar das pessoas terem a possibilidade de se deslocarem para os centros municipais de cidades vizinhas esta alternativa não é utilizada com frequência pelos moradores, pois estes centros encontram-se a uma distância maior que o centro municipal de Pedro Avelino. Para este estudo, entende-se como zona urbana a área do município onde encontram-se a sede da prefeitura, as lojas do comércio local, escolas, postos de saúde, igreja, etc. Por outro lado, definimos aqui zona rural como sendo as regiões mais afastadas da zona urbana onde as atividades agropecuaristas e extrativistas são as principais atividades da população. Inicialmente foram entrevistados moradores locais que conhecem e utilizam animais silvestres para diferentes finalidades ou que caçam os animais por estes representarem perigo para eles próprios ou para suas criações domésticas. As categorias de uso investigadas neste estudo foram: alimentar, estimação, medicinal e místico-religioso. Somente foram entrevistados os moradores com idade igual ou superior a dezoito anos e que habitassem a região há no mínimo dezoito anos. Buscou-se entrevistar 50% homens e 50% mulheres em cada comunidade, com o objetivo de investigar diferenças no uso e conhecimento da fauna local por gênero. Como a quantidade de famílias em cada comunidade era relativamente pequena, os resultados foram analisados de forma conjunta, representando uma única amostra. Em cada residência apenas uma pessoas foi entrevistada, sendo esta considerada como a representante da família. Cerca de 90% das famílias (n=30) foram entrevistadas em cada comunidade. Neste trabalho, todos os entrevistados que se enquadravam nos critérios estabelecidos foram entrevistados. Foram realizadas 30 entrevistas semiestruturadas (Apêndice A) na área de estudo, sendo seis em Santo Antônio Trangola, sete em Serra Aguda, onze em São José do Pé da Serra, e seis em Olho d’água. Foram entrevistados 16 homens e 14 mulheres apresentando idade entre 18 e 88 anos, com média de idade de 47,8 anos. Os homens apresentaram uma média de idade de 51 anos (± 21,44 anos), e as mulheres apresentaram uma média de idade de 44,21 anos (± 19,06 anos). Cerca de 70% dos informantes (n=21) são naturais da área de estudo (15 homens e seis mulheres). Quanto 23 à formação educacional, 43,4% são analfabetos, 46,7% possuem o ensino fundamental, e 10% possuem o ensino médio. Os trabalhos de campo ocorreram de Janeiro/2010 até Agosto/2010. Após os primeiros contatos, os dados acerca da utilização de animais foram adquiridos através da aplicação de formulários semiestruturados durante as entrevistas (Huntington 2000; Albuquerque et al. 2008). Sempre antes de cada entrevista, a natureza e os objetivos do estudo eram expostos e, então, solicitada à aprovação dos informantes para efetuar o registro das informações. Após as entrevistas e tabulação dos dados preliminares, foram escolhidos três especialistas locais a partir da lista livre (Quilan 2005; Albuquerque et al. 2008). Definem-se aqui especialistas locais como aquelas pessoas que são reconhecidas na comunidade como detentoras do saber em um determinado assunto, e informantes generalistas como pessoas representantes da comunidade em geral. Adicionalmente, foram realizadas entrevistas livres com os especialistas locais (Albuquerque et al. 2008), nas quais eles falavam livremente sobre um determinado assunto objetivando sanar possíveis dúvidas quanto às espécies citadas. As entrevistas livres são importantes por serem usadas em qualquer momento do estudo (Mourão e Nordi 2006; Albuquerque et al. 2008), colaborando com o aumento dos laços de confiança entre a população estudada e o entrevistador. Para adquirir os nomes dos animais conhecidos pelos informantes foi adotada a lista livre, a qual parte do princípio que os elementos de maior importância cultural aparecem em muitas das listas em uma ordem de importância (Albuquerque e Lucena 2004). A lista livre é importante por permitir ao pesquisador a possibilidade de cálculo da saliência cultural de cada espécie (Ryan et al. 2000; Quinlan 2005; Thompson e Zhang 2006). A lista livre pode contribuir na determinação dos especialistas locais (Quinlan 2005). Para suprir as limitações existentes com a lista livre, foram utilizadas a indução não específica (“Nonespecific prompting”), a nova leitura (“Reading back”) e a sugestão semântica (“Semantic Cues”), propostas por Brewer (2002). Na indução não específica, logo após o informante declarar não recordar de mais nenhum item, o entrevistador reformula a questão com uma nova palavra chave, por exemplo; quais os animais da região? Num segundo momento: Quais são as aves ou os pássaros da região? A nova leitura consiste em ler lentamente todos os itens citados pelo informante, para que ele possa adicionar novos itens à lista livre. É usada após a indução não específica. A sugestão semântica é uma técnica usada após as duas 24 anteriores. Consiste em perguntar ao informante sobre alguns itens que podem ser similares aos já mencionados, mas, que o pesquisador observa que ainda não foi citado. Por exemplo: o informante cita o gato do mato, porem, não cita o gato maracajá ou gato vermelho, animais que também ocorrem na região. Os nomes vernaculares dos animais foram registrados como citados pelos informantes. Os animais foram identificados das seguintes formas: 1) análise do material biológico coletado e/ ou doado pelos entrevistados; 2) análise de fotografias dos animais feitas durante as entrevistas; 3) através dos nomes vernaculares, com o auxílio de taxonomistas familiarizados com a fauna das áreas de estudo (Alves e Rosa 2006); e 4) através da realização de turnês-guiadas pela mata da região com alguns especialistas locais, onde foi realizada identificação visual, obtenção de imagens fotográficas e material biológico. Os nomes científicos foram atualizados em conformidade com o Sistema Integrado de Informação Taxonômica (Integrated Taxonomic Information System’s “Catalogue of Life: 2010 Annual Checklist”) (ITIS, 2010). Todo o material coletado foi depositado no Laboratório de Ecologia e Conservação da Biodiversidade (LECOB), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 2.3. Analise de dados 2.3.1. Multiplicidade de Uso por informante A multiplicidade de uso por informante (MUI) é aqui considerada como a soma das citações de uso para todas as espécies e para todas as categorias mencionadas por informante, gerando um número adimensional que possibilita a analise da relação desta variável com as variáveis distância, renda e idade. Dessa forma, será possível analisar se uma pessoa que conhece e utiliza um maior número de animais para várias categorias de uso poderá, potencialmente, exercer uma maior pressão de exploração sobre a fauna local do que uma pessoa que conhece e utiliza poucas espécies para um número reduzido de categorias de uso. A multiplicidade de uso por informante foi calculado através da seguinte fórmula: MUI= Σ(TCE) Onde: MUI = Multiplicidade de uso por informante e o TCE = Total de categorias de uso para todas as espécies citadas por um informante. 25 2.3.2. Zooterapia Inicialmente, organizou-se uma lista dos animais citados, doenças tratadas, partes usadas e formas de uso. Adicionalmente, todas as doenças tratadas pelos zooterápicos citados foram agrupadas em seis categorias (Tabela 4), com base na décima revisão da classificação internacional de doenças e de problemas relacionados à saúde (CID-10 2008), como segue: 1) Doenças do aparelho respiratório (J00-J99); 2) Causas externas de morbidade e de mortalidade (V01-Y98); 3) Doenças do aparelho circulatório (I00-I59); 4) Doenças do ouvido e da apófise mastóide (H60-H95); 5) Lesões, envenenamento e algumas outras consequências de causas externas (S00-T98) e 6) Doenças indefinidas (R00-R99). 2.3.2.1. Fator de consenso dos informantes O Fator de Consenso dos Informantes (ICF, “informant consensus factor”), adaptado da proposta de Troter e Logan (1986), foi calculado visando identificar os sistemas corporais que apresentam maior importância relativa local. O valor máximo que uma categoria pode atingir é um. O ICF foi calculado através da seguinte fórmula: ICF = (nur-nt)/(nur-1), onde: nur = o número de citações de usos em cada categoria e nt = e número de espécies usadas. 2.3.2.2. Importância relativa A importância relativa (IR) dos animais utilizados na medicina popular foi calculada com base na proposta de Bennett e Prance (2000). O cálculo foi realizado através da fórmula abaixo. O valor máximo que uma espécie pode obter é 2. IR = NSC + NP, onde: NSC = NSCE/NSCEV e NP = NPE/NPEV. NSC = número de sistemas corporais (categorias de doenças) é a razão entre o número de sistemas corporais tratados por uma determinada espécie (NSCE) e o número total de sistemas corporais tratados pela espécie mais versátil (NSCEV). O NP = número de propriedades (recomendações terapêuticas) é a razão entre o número de propriedades atribuídas para uma determinada espécie (NPE) e o número total de propriedades atribuídas à espécie mais versátil (NPEV). 26 2.3.2.3. Nível de fidelidade Por fim, com o objetivo de determinar a concordância entre as respostas dos informantes sobre o uso medicinal dos animais, o consenso dos informantes foi calculado através do nível de fidelidade adaptado da proposta de Friedman et al. (1986), pela fórmula: FL = Ip/n X 100%, Onde: FL = Nível de Fidelidade; Ip = Número de informantes que citaram o uso principal para uma determinada espécie; n = Total de informantes que citaram a espécie para qualquer finalidade. Com o objetivo de corrigir eventuais distorções nos resultados do FL, devido ao baixo número de citações, foi utilizado o seguinte fator de correção (Rocha et al. 2008): FC = E/EM, onde, FC = Fator de correção, E= número de informantes que citaram a espécie e, EM: número de informantes que citaram a espécie mais citada. 2.4. Análises estatísticas A regressão multipla, com o método “forward stepwise”, foi usada para verificar qual ou quais das variáves socioeconômicas, tais como: renda e idade, além da distância (distância de cada unidade habitacional do informante da zona rural em relação ao centro da área urbana), foram preditoras da MUI, da categoria de uso alimentar e/ou estimação. As variáveis foram transformadas em log e tiveram sua normalidade verificada pelo teste de Shapiro-Wilk. O teste U de Mann-Whitney foi realizado para verificar se havia diferenca nas médias de citações das variáveis gênero e idade dos informantes com as categorias de uso alimentar, estimação, medicinal e místico-religioso, e com a MUI. As categorias de idade foram divididas em informantes com idade inferior a 40 anos e igual ou superior a 40 anos. Para a análise da variável escolaridade (analfabeto, ensino fundamental e ensino médio) com as categorias de uso alimentar, estimação e medicinal, e com a MUI, foi realizado o teste Kruskal-Wallis, com o teste de Dunn a posteriori. Contudo, não foi possível realizar este teste para a categoria de uso místico-religioso, pois o número de citações foi muito pequeno, o que impossibilitou a realização da normalização e da análise estatística. Para todas as análises estatísticas foi utilizado o programa Statistics 7.1(StatSoft 2005). 2.5. Análises ecológicas 27 Para verificar se existe diferença na diversidade da fauna conhecida pelos entrevistados de acordo com o gênero e a idade (≤40 anos e >40 anos), foi realizado o cálculo do índice de diversidade de Shannon-Wiener para as categorias de uso: estimação, alimentar, medicinal e para a MUI. Posteriormente, foram feitas comparações estatísticas do índice de Shannon–Wiener através do teste t de Student (Magurran 2004). 3. Resultados 3.1. Categorias de uso da fauna Os moradores entrevistados citaram 82 espécies (72 vertebrados e 10 invertebrados) pertencentes a 45 famílias de animais. Os animais citados pertencem a seis categorias taxonômicas distintas. As categorias taxonômicas citadas foram: 54,87% aves (n=45), 14,63% mamíferos (n=12), 12,19% insetos (n=10), 8,53% peixes (n=7), 7,31% répteis (n=6) e 2,43% anfíbios (n=2) (Tabela 1) (Apêndice B). Os animais reconhecidos são aqueles com os quais os entrevistados desenvolvem contatos diários, sendo em alguns casos utilizados para fins diversos, como alimentação, estimação, medicinais e místico-religiosos conforme detalhado abaixo. 3.1.1. Categorias de uso: alimentar, estimação e místico-religioso Foram citados 58 animais para fins alimentares, 30 animais para fins de estimação e dois animais usados com propósitos místico-religiosos. Os animais usados na medicina popular serão abordados num tópico distinto (Tabela 1). Foi constatada a existência de uma conexão utilitária da fauna na região, sendo o uso alimentar o mais saliente, uma vez que 69,8% (n=58) das espécies citadas foram associadas a este tipo de uso. São utilizados para propósitos alimentares: 100% dos peixes, 90% dos insetos, 83,3% dos mamíferos, 62,2% das aves e 50% dos répteis e anfíbios citados. Entre as 58 espécies citadas para alimentação, 48,2% são aves, 17,2% são mamíferos, 15,5% são insetos, 12% são peixes e 6,8% são répteis e anfíbios. Os animais mais citados (mais de 20 citações) para fins alimentares foram: Tupinambis 28 merianae (tejuaçu), Columbina picui (rolhinha branca), Euphractus sexcinctus (tatu peba), Zenaida auriculata (arribação), Oreochromis niloticus (tilápia), Galea spixii (preá), Iguana iguana (camaleão), Hoplias malabaricus (traíra), Apis mellifera (abelha italiana) e Dasypus novemcinctus (tatu verdadeiro) (Tabela 1). Os animais utilizados para fins de estimação correspondem a 36,58% das 82 espécies citadas (n=30). São utilizados para fins de estimação: 60% das aves e 25% dos mamíferos citados. Entre as 30 espécies citadas para tal finalidade, 90% são aves e 10% são mamíferos. Os animais mais citados para fins de estimação foram: Paroaria dominicana (galo de campina, 25 citações), Icterus jamacaii (concriz, 23), Aratinga cactorum (periquito, 22), Cyanocompsa brissonii (azulão, 15) e Sporophila albogularis (golinha, 14) (Tabela 1). Os animais usados para fins místico-religiosos representam apenas 2,43% das 82 espécies citadas (n=2) (Tabela 1). A espécie Gallus gallus domesticus (galinha) foi reconhecida como útil para fins místico-religiosos. Outra espécie citada foi a Rhinella jimi (sapo), também usada para fazer catimbó. Das espécies citadas, 19 apresentam uso múltiplo (23,17%), sendo 13 utilizadas tanto para fins de alimentação como para propósito de estimação, tais como: Tamandua tetradactyla (tamanduá), Cariama cristata (sariema), C. picui (rolinha branca), Leptotila verreauxi (Juriti). Quatro espécies citadas são utilizadas tanto para fins de alimentação quanto medicinal: I. iguana (camaleão), T. merianae (tejuaçu), Plebeia mosquito (abelha mosquito) e Melipona subnitida (abelha Jandaíra) (Tabela 1). Quanto ao status de conservação, as espécies Leopardus tigrinus (gato do mato) e Leopardus wiedii (gato maracajá) constam no livro vermelho da fauna brasileira ameaçada de extinção na categoria vulnerável (Chiarello et al. 2008) e constam também na lista vermelha de espécies ameaçadas da IUCN (2011), também na categoria vulnerável (Tabela 1). 3.1.2. Fauna de uso medicinal Foram citados nove animais silvestres (correspondendo a 10,84% de todas as espécies) para fins medicinais na zona rural do município de Pedro Avelino, pertencentes a oito famílias e nove gêneros. Estes incluem uma espécie de mamífero, cinco espécies de répteis e três espécies de insetos (Tabela 5). Além destes, dois animais 29 domésticos foram citados para fins medicinais: Ovis aries (carneiro) e G. gallus domesticus (galinha). Os informantes indicaram produtos zooterápicos para o tratamento de nove diferentes tipos de doenças (Tabela 4). A espécie com maior importância relativa foi a I. iguana (IR=2), e a espécie com a maior concordância entre as respostas dos informantes sobre o uso medicinal principal, obtido através do nível de fidelidade, foi T. merianae (100%). Um total de 51 citações de usos para produtos medicinais oriundos de animais foram registrados (Tabela 5). As categorias com o maior número de citações foram: doenças do aparelho respiratório (30 citações; seis animais) e as doenças do aparelho circulatório (10 citações; dois animais). Os resultados do cálculo do fator de consenso informante (ICF) mostram que os valores variaram entre 0 e 0,89 (Tabela 6). As categorias que obtiveram os maiores valores de ICF foram: as doenças dos aparelhos circulatório (0,89) e respiratório (0,83). Dentre as categorias de sistemas analisadas, não houve concordância para doenças do ouvido e da apófise mastóide e para lesões, envenenamento e algumas outras consequências de causas externas. Segundo os informantes, em algumas situações, é possível substituir o uso de produtos derivados dos animais por produtos de origem vegetal, mantendo a eficácia para um mesmo tratamento de saúde. Por exemplo, é possível substituir a banha do tejuaçu (T. merianae) pela casca da romã (Punica granatum) para tratamento das dores de garganta. 3.2. A influência dos fatores socioeconômicos no uso da fauna Mesmo havendo diferenças consideráveis da distância entre as comunidades investigadas para a zona urbana em Pedro Avelino, esta não exerceu influência sobre o número de espécies animais conhecidas pelas comunidades. Além disso, as outras variáveis independentes (idade e renda) não influenciaram nenhuma das variáveis dependentes (MUI, uso alimentar e uso estimação). Quando a média de citações da MUI e das categorias de uso foram comparadas entre os dois grupos de idade, houve diferença significativa entre eles quanto a MUI (U=53,00; Z=-2,340; p<0,05), com os informantes mais velhos apresentando maior conhecimento sobre o uso da fauna (Tabela 2). Não houve diferença significativa entre homens e mulheres quanto a MUI e as categorias de uso (Tabela 2). 30 Quando o teste Kruskal-Wallis foi realizado buscando verificar a ocorrência de diferença entre o fator escolaridade e a MUI, bem como as categorias de uso estabelecidas, os resultados mostram que ocorreu diferença significativa entre escolaridade e a MUI (H=5,92; p=0,05), com as pessoas de maior nível de escolaridade apresentando um menor conhecimento sobre o uso da fauna. Por outro lado, não ocorreu diferença significativa entre escolaridade e as categorias de usos alimentar (H=4,22; p=0,12), estimação (H=0,22; p=0,89) e medicinal (H=0,17; p=0,91). 3.3 Análises ecológicas Quanto à diversidade de animais conhecida, os homens citaram uma diversidade de animais maior que as mulheres em todas as categorias de uso. Entretanto, a diferença na diversidade de espécies citadas foi significativa apenas para a MUI e para a categoria alimentar, com os homens (MUI: H’=3,81; alimentar: H’=3,53) apresentando um conhecimento mais diversificado do que as mulheres (MUI: H’=3,63; alimentar: H’=3,25) (Tabela 3). As pessoas com idade igual ou superior a 40 anos citaram uma diversidade de animais maior do que as pessoas com idade inferior a 40 anos para todas as categorias de uso analisadas. Entretanto, a diferença na diversidade de espécies citadas foi significativa para as categorias de uso alimentar e estimação e para a MUI, com as pessoas com idade igual ou superior a 40 anos (MUI: H’=3,87; alimentar: H’=3,56; estimação: H’=2,88) apresentando um conhecimento mais diversificado do que as pessoas com idade inferior a 40 anos (MUI: H’=3,54; alimentar: H’=3,16; estimação: H’=2,55) (Tabela 3). 4. Discussão 4.1. Categorias de uso da fauna Os animais reconhecidos pelos entrevistados pertencem a seis grandes grupos taxonômicos: aves, mamíferos, répteis, anfíbios, peixes e insetos. As aves foram os animais mais citados, o que pode estar diretamente relacionado à variedade desses animais na área de estudo e ao aspecto cultural de criá-los como animais de estimação. De maneira geral, foi observado que os vertebrados foram os animais mais citados, 31 corroborando os resultados de outras pesquisas conduzidas no mesmo Estado do presente estudo (Silva 2008; Torres et al. 2009). O contato cotidiano de populações humanas com animais possibilita o reconhecimento desses organismos, especialmente os recursos com valor utilitário (Torres et al. 2009). 4.1.1. Categorias de uso: alimentar, estimação e místico-religioso A utilização de animais para propósitos alimentares mostrou-se como a categoria de uso mais importante na zona rural de Pedro Avelino. Alguns fatores podem estar contribuindo para isso, dentre eles; o aspecto cultural do uso de animais silvestres como fonte alternativa de alimento e a baixa renda da maioria das populações, associados a longos períodos de estiagem, que dificultam ainda mais a vida no semiárido nordestino. Apesar das implicações legais, a caça e o consumo de animais silvestres persistem em todas as regiões do Brasil (Alves e Souto 2010). Na Amazônia, por exemplo, a importância da fauna para a subsistência das populações rurais ou não, tradicionais ou não, é indiscutível (Pezzuti et al. 2010). A captura de animais silvestres constitui um fator importante na subsistência das comunidades humanas que habitam a região semiárida do Nordeste brasileiro (Alves et al. 2009c). Entre os animais citados pelos entrevistados para fins de estimação, o grupo das aves merece um significativo destaque na área de estudo. Culturalmente, o grupo das aves é um dos mais cobiçados pelas pessoas (Rocha et al. 2006), sendo também um dos mais criados e comercializados em comunidades rurais e urbanas no Nordeste brasileiro (Rocha et al. 2006; Alves et al. 2010b; Barbosa et al. 2010; Ferreira et al. 2009a; Fernandes-Ferreira et al. 2011). Dentre as aves mais citadas, P. dominicana (Galo de campina), foi à espécie mais citada pelos entrevistados nas comunidades rurais de Pedro Avelino. Situação semelhante foi relatada em outros estudos no Nordeste do Brasil (Alves et al. 2010b; Ferreira et al. 2010b). O uso de animais para fins místico-religiosos nas comunidades estudadas na zona rural de Pedro Avelino é o mais modesto dentre as categorias de uso consideradas no presente estudo. As espécies R. jimi (sapo) e G. gallus domesticus (galinha), também foram registradas para uso em rituais religiosos no Nordeste brasileiro (Alves 2006; Léo-Neto et al. 2009; Torres et al. 2009). 32 Pouco mais de 20% das espécies apresentam uso múltiplo. As espécies I. iguana (camaleão) e T. merianae (tejuaçu) também foram registradas tanto para propósitos alimentares quanto medicinais por Torres et al. (2009). As espécies P. mosquito (abelha mosquito) e M. subnitida (abelha Jandaíra) também foram citadas tanto para propósitos alimentares quanto medicinais. Entretanto, nestes casos, somente o mel é utilizado pelas comunidades humanas, o que gera um menor impacto nas populações destes insetos. Os animais usados tanto para fins alimentares quanto de estimação foram os mais representativos neste estudo, com destaque para o grupo das aves, em especial as espécies da família Columbidae. Estes são bastante apreciados como alimento e para criação em cativeiro pelos moradores da zona rural de Pedro Avelino. Embora o impacto da caça sobre as espécies de Columbidae não tenha sido investigado neste estudo, Torres et al. (2009) sugerem que a pressão exercida sobre os recursos e a facilidade de acesso aos mesmos aumenta o risco de que a exploração possa ocorrer em níveis predatórios, contribuindo para o declínio de suas populações. 4.1.2. Fauna de uso medicinal Neste estudo nove espécies medicinais foram citadas e todas elas já haviam sido registradas em outros estudos no Nordeste do Brasil (Costa-Neto 1999; Alves e Rosa 2006; Alves et al. 2008b; Torres et al. 2009; Oliveira et al. 2010 a, b; Alves et al. 2011). Poucos animais silvestres foram citados para propósitos medicinais nas comunidades investigadas na zona rural do município de Pedro Avelino, embora outros estudos realizados em áreas de Caatinga tenham mostrado uma ampla gama de animais utilizados para esta finalidade. (Alves e Rosa 2006; Alves et al. 2008a; Alves et al. 2009a,b; Ferreira et al. 2009a). O baixo número de citações de espécies animais úteis para fins medicinais pode estar relacionado ao fato do presente estudo ter trabalhado com toda a população lá encontrada, não fazendo distinção entre informantes especialistas e generalistas. Portanto, quando se objetiva analisar a real pressão de exploração das comunidades humanas sobre espécies e/ou populações, pode ser mais interessante amostrar todos os grupos que realizam estas atividades e não apenas os especialistas locais. No uso de plantas, por exemplo, focar em especialistas, com conhecimento curativo especializado, pode dar uma visão parcial de plantas utilizadas por um grupo das pessoas, pois não são apenas os especialistas que sabem sobre plantas medicinais (Gomez-Beloz 2002). Ainda segundo este autor, o conhecimento é possuído, 33 mesmo que de forma variada, por todas as pessoas na comunidade. Por outro lado, quando se objetiva investigar novas formas de uso da fauna, como por exemplo, seus usos e aplicações na medicina tradicional, os especialistas locais são os informantes mais indicados. De forma geral, os dados sugerem que o uso de animais para fins medicinais não gera um impacto tão significativo para a conservação quanto o uso deles para fins alimentares. A mesma conclusão foi relatada em estudos realizados na floresta tropical boliviana (Apaza et al. 2003) e na Mata Atlântica brasileira (Hanazaki et al. 2009). Contudo, é necessário avaliar isoladamente cada espécie envolvida (sua biologia reprodutiva, comportamento, requerimento de habitat) para determinar se a exploração está ocorrendo em níveis predatórios. Além disso, em algumas situações, os produtos oriundos dos animais podem ser substituídos por produtos de origem vegetal, pois conforme os informantes, alguns fitoterápicos teriam efeito aparentemente similar aos zooterápicos. A substituição dos produtos zooterápicos derivados da fauna ameaçada por plantas medicinais ou por matéria-prima derivada de outros animais não ameaçados e legalmente comercializados poderia atenuar a pressão sobre as espécies ameaçadas de extinção ou sobreexploradas (Alves e Dias 2010). Para Sodeinde e Soewu (1999), o uso de espécies ameaçadas para fins medicinais pode ser reduzido através da substituição das espécies ameaçadas por espécies comuns quando apropriado. Segundo os autores, essa substituição nem sempre é possível devido à possibilidade da perda de eficácia das receitas. Ainda conforme os autores, são necessárias análises mais pormenorizadas em relação à sustentabilidade da espécie substituta visando assim assegurar a viabilidade de sua exploração para fins medicinais. Faz-se necessário ressaltar a importância da análise de viabilidade populacional para a espécie substituta, a fim de determinar a manutenção dela no ambiente natural. Segundo os informantes da região de Pedro Avelino, a I. iguana é a espécie mais versátil para uso medicinal, sendo a sua banha (gordura) usada para três tipos de doenças (dor de garganta, dor de ouvido e espinhada). Existe um alto consenso entre os informantes quanto ao uso de algumas espécies para tratamento de problemas específicos de saúde, o que demonstra a importância destes animais na cultura popular e sugere a realização de estudos adicionais que possam testar a sua eficácia. Neste estudo, o T. merianae obteve maior concordância entre as respostas dos informantes sobre seu uso medicinal principal. A gordura (banha) deste lagarto é amplamente usada no Nordeste do Brasil para o tratamento de dor de 34 ouvido e dor de garganta, além de ser indicada para alguns tipos de infecções (Alves e Rosa 2006; Alves 2009). Contudo, um estudo que testou a eficácia do uso da banha do T. merianae revelou que o óleo derivado da gordura do animal não demonstrou atividade antibacteriana (Ferreira et al. 2009b). Por outro lado, num outro estudo, Ferreira et al. (2010a) mostraram que o óleo derivado da gordura do T. merianae demonstra atividade anti-inflamatória. Mesmo assim, os autores defendem a importância do desenvolvimento de políticas públicas para o uso racional deste recurso zooterápico, pois, para eles ainda não está completamente claro se o uso medicinal desses animais é compatível com a conservação da espécie. Alguns produtos animais já foram relatados em outras partes do mundo, como o mel de algumas espécies de abelhas utilizadas no Sudão, Coréia do Sul e México para uma ampla variedade de doenças, como tosse, fraqueza, distúrbios hepáticos e gastrointestinais (Pemberton 1999; El-Kamali 2000; Vasquez et al 2006). Os térmitas são usados por tribos na Índia para tratar várias doenças, tais como asma, úlcera, doenças reumáticas, dores no corpo e anemia (Solavan et al. 2004; Wilsanand 2005; Wilsanand et al. 2007), e partes de serpentes são usadas na Itália, Espanha e Nepal para tratamento de dor de garganta, resfriados, sarna e reumatismo (Quave et al. 2010). Neste estudo, o cálculo do fator de consenso dos informantes para as diferentes categorias de doenças, mostrou que as populações locais dão mais importância às doenças do aparelho circulatório e respiratório. O uso de animais para tratar doenças relacionadas a estes sistemas corporais também tem sido registrado em outros estudos etnozoológicos realizados no Brasil (Alves e Rosa 2007; Alves et al. 2009a; Ferreira et al. 2009a; Oliveira et al. 2010b; Silva et al 2010) tendo estes também relatado alto consenso. Contudo, o consenso entre os informantes quanto às categorias de doenças mais importantes pode variar consideravelmente entre regiões e países. Em estudo realizado no Nepal com plantas medicinais, por exemplo, o maior ICF foi encontrado para doenças gastrointestinais (Rokaya et al. 2010). Segundo estes autores, doenças gastrointestinais são comuns na área de estudo devido à falta de saneamento básico na região, o que estaria contribuindo para um aumento do interesse das pessoas em buscar formas de tratamento para esta categoria de doenças. Por outro lado, nesse mesmo estudo, as doenças do aparelho respiratório e circulatório estiveram entre as categorias de doenças com os menores valores de ICF. 4.2. A influência dos fatores socioeconômicos no uso da fauna 35 O conhecimento sobre a utilização de animais para as categorias de uso definidas neste estudo não mostrou relação significativa com a distância das comunidades da zona rural para a zona urbana da cidade de Pedro Avelino. Isto sugere que o conhecimento está bem distribuído entre os diferentes estratos de distância analisados. Das quatro comunidades investigadas, uma encontra-se consideravelmente mais próxima ao centro da cidade (6 km) e possui um acesso facilitado através de uma rodovia pavimentada. Contudo, esta comunidade apresentou um conhecimento similar ao das demais. Este resultado pode ter sido influenciado pelos baixos níveis de renda, que são similares entre as comunidades. Portanto, embora uma das comunidades tenha maior acesso aos bens e serviços disponíveis na cidade, esta pode não estar usufruindo totalmente desta vantagem por possuir recursos financeiros muito limitados. Desta forma, esta comunidade, assim como as demais, pode estar mantendo seu conhecimento sobre as espécies da fauna úteis, por também apresentar a necessidade de fazer uso dela como uma fonte alternativa de alimentos e medicamentos. Se a baixa renda, por exemplo, diminui o acesso aos alimentos industrializados encontrados nos mercados na zona urbana, as comunidades poderiam tender a utilizar os recursos faunísticos com maior intensidade, principalmente, para obtenção de proteína para a dieta. Embora a modernização tenda a ser um fator que contribui para a perda do conhecimento local das pessoas (Case et al. 2005; Reyes-Garcia et al. 2007; Furusawa 2009), nenhuma das comunidades investigadas parece possuir um total acesso aos benefícios existentes no centro da cidade de Pedro Avelino. Os resultados sugerem, portanto, que a pobreza nivela o conhecimento sobre o uso da fauna independente da distância que as comunidades encontram-se da zona urbana. Segundo Leal et al. (2005), a pobreza da população é considerada o principal desafio na Caatinga e a conservação da biodiversidade está entre as menores prioridades de investimento. A variável idade também não demonstrou influencia sobre o conhecimento e este resultado parece também ter sido influenciado pela baixa renda, pois independente da idade dos entrevistados, as famílias investigadas podem ainda estar fazendo uso da fauna como uma fonte alternativa de recursos. Conforme relatado por Alves et al. (2010a), os animais cinegéticos têm grande importância nutricional para famílias de baixa renda. É uma característica cultural do povo nordestino que habita as áreas rurais envolver-se, desde cedo, com as atividades de caça, pesca, agricultura e criação de 36 animais para consumo ou para fins de estimação. As atividades cinegéticas no semiárido são praticadas pelos moradores locais ainda quando crianças, ocasião em que eles caçam os animais para consumo alimentar ou para serem usados como animais de estimação (Alves et al. 2010a). Houve diferença significativa entre os dois grupos de idade para a MUI, sugerindo que pessoas mais velhas conhecem mais sobre as espécies da fauna. Por outro lado, os dados mostraram que não existiram diferenças entre gêneros quanto ao número de animais mencionados, sugerindo que, de modo geral, o conhecimento quanto à riqueza de espécies úteis parece estar bem distribuído entre os entrevistados. Quanto à categoria de uso medicinal, não existiu diferença estatisticamente significativa por gênero e nem por grupo de idade entre os informantes. De modo contrário aos resultados deste estudo, investigações sobre o uso de plantas medicinais, por exemplo, têm demonstrado diferenças no conhecimento entre gêneros (Begossi et al. 2002; Voeks e Leony 2004) e estas diferenças no conhecimento e percepção têm sido parcialmente explicadas como uma consequência da divisão sexual do trabalho (Camou-Guerreiro et al. 2008). Logo, os dados sugerem que o conhecimento sobre o uso de animais para fins medicinais está melhor distribuído na área de estudo. Quanto ao uso de animais para fins místico-religiosos, os dados mostraram que não existiram diferenças significativas quanto ao gênero e aos grupos de idade. Isto sugere que o uso de animais para estes propósitos nas comunidades investigadas são quase que irrelevantes quando comparados com as outras categorias de uso e outras ameaças à biodiversidade da Caatinga. Somente duas espécies foram citadas para estes propósitos: R. jimi (sapo) e G. gallus domesticus (galinha). Os resultados mostraram que pessoas com maior nível de escolaridade apresentaram um menor conhecimento sobre o uso da fauna, confirmando a hipótese de que pessoas com maior nível educacional conhecem menos os recursos da fauna úteis. Os informantes analfabetos, em média, apresentaram um maior MUI da fauna do que os informantes com ensino fundamental ou médio, sugerindo que pessoas com baixo nível de escolaridade tendem a fazer uso de um maior número de espécies. Em certas situações, pessoas que estudaram pouco ou não tiveram oportunidade de estudar têm uma menor possibilidade de obter uma melhor condição de vida, passando assim a depender diretamente dos recursos locais disponíveis. Segundo Apaza et al. (2003), salários e educação estão correlacionados com uma menor probabilidade de uso de 37 animais para fins medicinais na Bolívia. Para estes autores, apenas a educação está correlacionada com a probabilidade de mudança no uso de animais para fins medicinais. 4.3. Análises ecológicas Como proposto na terceira hipótese, foi observado que a idade e o gênero dos informantes influenciam na diversidade das espécies de animais conhecidas na área de estudo, devido, muito provavelmente, aos diferentes níveis de interação das pessoas com os recursos. Com relação ao gênero, os homens citaram uma maior diversidade de animais para a MUI e para a categoria de uso alimentar que as mulheres. Esta maior diversidade, atribuída aos homens, pode estar diretamente relacionada às praticas locais de caça que estão culturalmente mais relacionadas ao sexo masculino. Embora as mulheres conheçam uma riqueza de animais similar aos homens, o conhecimento apresentou-se melhor distribuído entre eles. Na Amazônia, foi encontrada diferença significativa quanto à diversidade de animais usados de acordo com o gênero dos informantes (Silva 2008). O mesmo ocorreu na comunidade Barra Grande, Piauí, onde foi encontrada diferença significativa quanto à diversidade de animais usados de acordo com o gênero dos entrevistados (Souza 2010). Em trabalho realizado com o uso de plantas em nove vilas no Sul da África, a diversidade de conhecimento encontrada foi similar ou com uma leve vantagem para os homens (H’ = 3.3) em relação às mulheres (H’ = 3.2) (Dovie et al. 2008). Por outro lado, em comunidades caiçaras da Mata Atlântica não foi encontrada diferença significativa entre homens e mulheres quanto à diversidade de plantas medicinais usadas (Hanazaki et al. 2000). Nas comunidades rurais do município de Pedro Avelino, a diversidade de espécies usadas por pessoas mais velhas foi significativamente maior para a MUI e para as categorias de uso alimentar e estimação. Na Amazônia, não foi encontrada diferença significativa quanto à diversidade de animais usados de acordo com a idade dos informantes (Silva 2008). O mesmo ocorreu na comunidade Morro da Mariana, Piauí, onde não foi encontrada diferença significativa quanto à diversidade de animais usados de acordo com a idade dos entrevistados (Souza 2010). 5. Considerações Finais 38 As comunidades investigadas fazem uso de um número considerável de animais para fins medicinais, de estimação, místico-religiosos e principalmente alimentares. Vale salientar que algumas das espécies citadas como úteis constam em listas de espécies ameaçadas, evidenciando a necessidade de investigações que avaliem o risco potencial das atividades de caça sobre as populações destes animais. A distância das comunidades da zona rural para a zona urbana da cidade de Pedro Avelino não foi uma variável capaz de influenciar o conhecimento sobre a utilização da fauna para as categorias de uso definidas nesta investigação. Este resultado sugere que embora alguns dos entrevistados tenham um maior acesso a bens e serviços fornecidos na cidade, estes parecem continuar a utilizar os animais de maneira complementar tanto para alimentação como para fins medicinais, pois os níveis de renda demonstram ser insuficientes para suprir todas as necessidades. Foi possível observar que, de forma geral, as quatro comunidades investigadas possuem baixos níveis de renda e esta condição pode estar contribuindo para a manutenção do conhecimento sobre os animais e a utilização deles principalmente como fonte alternativa de proteína animal e de produtos zooterápicos. Além disso, os fatores socioeconômicos de renda e idade não influenciaram nenhuma das variáveis dependentes (MUI, Alimentar, estimação, medicinal e místicoreligioso). Embora à distância e os fatores socioeconômicos não tenham influenciado o conhecimento e uso da fauna local, ações que visem gerar emprego e renda para as populações locais podem ser encaradas como medidas de cunho conservacionista. A adoção de melhorias dos sistemas de educação e saúde também poderá favorecer a conservação dos recursos naturais daquela região, já que pessoas com maior nível de escolaridade apresentaram um menor conhecimento sobre os recursos disponíveis. A riqueza e a diversidade de espécies úteis divergiram entre os diferentes gêneros e idades, devido muito provavelmente, aos diferentes níveis de interação das pessoas com os recursos. Estes resultados demonstram que o conhecimento, muitas vezes, não está distribuído igualitariamente entre os membros de uma mesma comunidade. Embora, nem todos os fatores socioeconômicos analisados tinham exercido influência no conhecimento sobre os animais úteis, os mesmos devem ser considerados em investigações etnozoológicas, pois podem exercer diferentes graus de influência entre comunidades e pessoas numa mesma comunidade. Estudos adicionais devem buscar a quantificação dos usos dos animais pelas populações humanas no intuito de 39 obter dados reais que venham permitir o direcionamento dos esforços de conservação na região. Agradecimentos Sou grato a todos os informantes que contribuíram com este estudo. Agradeço também a Denise de Freitas Torres pela relevante contribuição na coleta dos dados. Sou grato aos professores do Departamento de Botânica, Ecologia e Zoologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte pela identificação das espécies. Ao CNPq/UFRN pela bolsa (134431/2009-9) concedida ao autor. Referências Albuquerque U.P., Lucena R.F. 2004. Métodos e técnicas para coleta de dados. In: Albuquerque U.P., Lucena R.F. (eds.), Métodos e técnicas na pesquisa etnobotânica. NUPEEA, Recife, pp. 37–62. Albuquerque U.P., Araújo T.A.S., Ramos M.A., Nascimento V.T., Lucena R.F.P., Monteiro J.M., Alencar N.L., Araújo E.L. 2008. How ethnobotany can aid biodiversity conservation: reflections on investigations in the semi-arid region of NE Brazil. Biodiversity and Conservation 18: 127–150. Alves R.R.N. 2006. Uso e Comércio de Animais para Fins Medicinais e Mágico Religiosos no Norte e Nordeste do Brasil. Tese. Universidade Federal da Paraíba. Brasil. 252 pp. Alves R.R.N., Rosa I.L. 2006. 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Indian Journal traditional knowledge 6: 563–566. 47 Figura 1. Localização da área de estudo. A, Os limites do Brasil com destaque para o bioma Caatinga em cinza e o Estado do Rio Grande do Norte, em preto. B, Os limites do Rio Grande do Norte, com o município de Pedro Avelino destacado em cinza. C, A Área de estudo como 0, centro do município de Pedro Avelino; 1, Comunidade Santo Antônio Trangola; 2, Comunidade Serra Aguda; 3, Comunidade São José do Pé da Serra; e 4, Comunidade Olho d’água. 48 Tabela 1 – Espécies da fauna usadas em comunidades rurais, no município de Pedro Avelino (RN, NE Brasil). Família Espécies Nome popular Categorias de uso Bovidae Ovis aries (Linnaeus, 1758). Carneiro* M** Canidae Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766) Raposa E (2), M (10) Caviidae Galea spixii (Wagler, 1833) Preá A (23) Cervidae Kerodon rupestris (Wied-Neuwied, 1820) Moco A (10) Dasypodidae Dasypus novemcinctus Linnaeus, 1758 Tatu Verdadeiro A (20) Dasypodidae Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758) Tatu peba A (27) Didelphidae Didelphis albiventris Lund, 1840 Timbú, Gambá A (1) Echimyidae Thrichomys apereoides (Lund, 1839) Punaré A (11) Felidae Leopardus tigrinus (Schreber, 1775) Gato do mato A (5) Felidae Leopardus wiedii (Schinz, 1821) Gato maracajá, A (1) Mephitidae Conepatus semistriatus (Boddaert, 1785) Tacaca A (19), E (2) Tamanduá A (15), E (1) Mamíferos Myrmecophagidae Tamandua tetradactyla (Linnaeus, 1758) Aves Anatidade Dendrocygna viduata (Linnaeus, 1766) Marreca A (1) Anatidae Sarkidiornis sylvicola Ihering & Ihering, 1907 Pato do mato A (1), E (1) Bucconidae Nystalus maculatus (Gmelin, 1788) Fura Barreira A (1) Cardinalidae Cyanocompsa brissonii (Lichtenstein, 1823) Azulão E (15) Cariamidae Cariama cristata (Linnaeus, 1766) Seriema ou sariema A (14), E (2) Columbidae Columba livia Gmelin, 1789 Pombo A (1) Columbidae Columbina minuta (Linnaeus, 1766) Rolinha Cafofa A (5) Columbidae Columbina passerina (Linnaeus, 1758) Rolinha cinza A (1) Columbidae Columbina picui (Temminck, 1813) Rolinha branca/Pé de anjo A (28), E (5) Columbidae Columbina talpacoti (Temminck, 1811) Rolinha roxa, caldo de feijão, vermelha ou cabocla. A (11), E (3) Columbidae Leptotila verreauxi (Bonaparte, 1855) Juriti A (5), E (3) 49 Tabela 1 – Continuação Columbidae Patagioenas picazuro (Temminck, 1813) Asa Branca A (3), E (5) Columbidae Zenaida auriculata (Des Murs, 1847) Arribaçã ou avoete A (24) Corvidae Cyanocorax cyanopogon (Wied-Neuwied, 1821) Cancão A (1), E (9) Cuculidae Coccyzus melacoryphus Vieillot, 1817 Papa lagarta A (1) Cuculidae Guira guira (Gmelin, 1788) Anum Branco A (1) Emberizidae Paroaria dominicana (Linnaeus, 1758) Galo de Campina E (25) Emberizidae Sicalis flaveola (Linnaeus, 1766) Canário da terra E (5) Emberizidae Sporophila albogularis (Spix, 1825) Golinha A (1), E (14) Emberizidae Sporophila bouvreuil (Statius Muller, 1776) Caboculinho E (1) Emberizidae Sporophila lineola (Linnaeus, 1758) Bigode E (2) Emberizidae Sporophila nigricollis (Vieillot, 1823) Papa capim E (1) Falconidae Caracara plancus (Miller, 1777) Carcará A (1) Falconidae Rupornis magnirostris (Gmelin, 1788) Gavião A (4) Fringillidae Euphonia chlorotica (Linnaeus, 1766) Gaturama ou Vem-vem E (1) Fringillidae Sporagra yarrellii (Audubon, 1839) Pintassilgo E (1) Furnariidae Pseudoseisura cristata (Spix, 1824) Casaca de couro A (1) Icteridae Chrysomus ruficapillus (Vieillot, 1819) Papa arroz A (1) Icteridae Gnorimopsar chopi (Vieillot, 1819) Craúna E (8) Icteridae Icterus cayanensis (Linnaeus, 1766) Xexéu E (1) Icteridae Icterus cayanensis pyrrhopterus (Vieillot, 1819) Peiga ou conto de ouro E (1) Icteridae Icterus jamacaii (Gmelin, 1788) Concriz A (1), E (23) Mimidae Mimus saturninus (Lichtenstein, 1823) Papa sebo A (4), E (3) Phasianidae Gallus gallus domesticus (Linnaeus, 1758) Galinha* M**, MR (6) Psittacidae Amazona aestiva (Linnaeus, 1758) Papagaio E (11) Psittacidae Aratinga cactorum (Kuhl, 1820) Periquito A (2), E (22) Psittacidae Forpus xanthopterygius (Spix, 1824) Verdelinho E (2) Rallidae Gallinula chloropus (Linnaeus, 1758) Galinha d’água A (1) Strigidae Athene cunicularia (Molina, 1782) Coruja A (1) Strigidae Glaucidium brasilianum (Gmelin, 1788) Caburé A (3) Thraupidae Thraupis sayaca (Linnaeus, 1766) Senhaçu azul E (1) 50 Tabela 1 – Continuação Tinamidae Crypturellus parvirostris (Wagler, 1827) Nambu Pequena, roxa ou espanta boiada A (1) Tinamidae Nothura maculosa (Temminck, 1815) Nambu pedrez ou grande A (12) Turdidae Turdus rufiventris Vieillot, 1818 Tyrannidae Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766) Bem-te-vi E (1) Boidae Boa constrictor Linnaeus, 1758 Cobra de veado ou jibóia A (1) Chelidae Phrynops geoffroanus (Schweigger, 1812) Cágado M (2) Iguanidae Iguana iguana (Linnaeus, 1758) Camaleão A (22), M (7) Teiidae Tupinambis merianae (Duméril and Bibron, 1839) Tejuaçu A (29), M (22) Tropiduridae Tropidurus hispidus (Spix, 1825) Lagartixa M (1) Viperidae Caudisona durissa cascavella Wagler, 1824 Cascavel M (3) Bufonidae Rhinella jimi (Stevaux, 2002) Sapo MR (6) Leptodactylidae Leptodactylus sp. Gia A (1) Apidae Plebeia mosquito (Smith, 1863) Abelha Mosquito A (8), M (3) Termitidae Nasutitermes macrocephalus (Silvestri, 1903) Cupim M(1) Apidae Frieseomelitta doederleini (Friese, 1900) Abelha amarela A (2) Apidae Apis mellifera Linnaeus, 1758 Abelha italiana A (21) Apidae Melipona subnitida Ducke, 1911 Abelha Jandaíra A (9), M (2) Apidae Melipona asilvai Moure, 1971 Abelha rajada A (11) Família não identificada Espécie não identificada Abelha capuchu “preta” A (2) Família não identificada Espécie não identificada Inchuí A (2) Família não identificada Espécie não identificada Inchú A (1) Apidae Trigona spinipes (Fabricius, 1793) Arapuá A (3) Sabiá E (3) Répteis Anfíbios Insetos 51 Tabela 1 – Continuação Peixes Anostomidae Leporinus piau Fowler, 1941 Piau A (1) Characidae Astyanax bimaculatus (Linnaeus, 1758). Piaba A (10) Characidae Cyprinus carpio (Linnaeus, 1758) Carpa A (1) Cichlidae Cichla monoculus (Spix and Agassiz, 1831) Tucunaré A (3) Cichlidae Oreochromis niloticus (Linhares, 1758) Tilápia ou pilato A (24) Erythrinidae Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) Traíra A (21) Prochilodontidae Prochilodus brevis Steindachner, 1875 Curimatã A (4) Categorias de uso: A, Alimentar; E, Estimação; M, Medicinal; MR, Místico-Religioso. *Animais domésticos citados para fins medicinais ou místico-religiosos. **Não se aplica a animais domésticos. Tabela 2: Teste Mann-Whitney para o uso de animais nas comunidades humanas do município de Pedro Avelino (RN, NE Brasil) de acordo com o gênero e a idade dos entrevistados. Gênero Idade U Z MUI 71,00 Alimentar p U Z -1,712 0,086 53,00 -2,340 0,019* 87,00 -1,039 0,296 84,00 -1,028 0,303 Estimação 94,00 -0,748 0,448 68,00 -1,699 0,089 Medicinal 76,00 -0,464 0,642 90,00 -0,794 0,426 Místico-religioso 5,00 1,125 95,00 -0,664 0,506 0,260 p * Categorias de uso com diferenças significativas para um p<0.05. 52 Tabela 3. Índice de diversidade de Shannon-Wiener H’ para as categorias de uso e MUI de acordo com gênero e a idade dos entrevistados no município de Pedro Avelino (NE do Brasil). Homens Mulheres t g.l. MUI 3,81* 3,63* 2,89 612 Alimentar 3,53* 3,25* 4,13 423 Estimação 2,76 2,71 - - Medicinal 1,60 1,54 - - Idade<40 Idade>=40 t d.f. MUI 3,54* 3,87* 5,30 493 Alimentar 3,16* 3,56* 5,96 379 Estimação 2,55* 2,88* 2,46 127 Medicinal 1,24 1,75 2,13 31 * Teste significativo com p<0,05. Tabela 4. Categorias das doenças tratadas com recursos zooterápicos nas comunidades São José do Pé da Serra, Santo Antônio Trangola, Serra Aguda e Olho d’Água, Pedro Avelino (RN), segundo o CBCD (Centro Brasileiro de Classificação de Doenças, 1993). Categorias Doenças citadas Total de doenças Número de espécies Doenças do aparelho respiratório Asma, gripe e dor de garganta. 3 6 Doenças indefinidas Inflamação e machucado 2 3 Causas externas de morbidade e de mortalidade Espinhos 1 2 Lesões, envenenamento e algumas outras consequências de causas externas Feridas em geral 1 1 Doenças do aparelho circulatório Hemorróidas 1 2 Doenças do ouvido e da apófise mastóide Dor de ouvido 1 2 Total 9 53 Tabela 5. Espécies de animais usadas na medicina popular no município de Pedro Avelino, NE Brasil. Nome Número de Importância Parte usada e modo local citações relativa de administração Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766) Raposa 10 1 Banha (5) Hemorróida 40,90 Iguana iguana (Linnaeus, 1758) Camaleão 7 2 Banha (2, 5) Dor de garganta e 18,18 Família Espécies Canidae Iguanidae Doença tratada Nível de Fidelidade (%)* Espinho Chelidae Phrynops geoffroanus Cágado 2 1,33 Banha (4, 5) (Schweigger, 1812) Hemorróida e dor de 4,54 garganta Tropiduridae Tropidurus hispidus (Spix, 1825) Lagartixa 1 1,33 Animal inteiro (1) Ferimentos na boca 4,54 Teiidae Tupinambis merianae (Duméril Tejuaçu 22 1,33 Banha (2, 5) Dor de garganta e 100 and Bibron, 1839) Viperidae Caudisona durissa cascavella inflamação Cascavel 3 1,33 Banha (2, 6) Wagler, 1824 Apidae Plebeia mosquito (Smith, 1863) Melipona subnitida Ducke, 1911 9,09 Espinho Abelha 3 0,66 Mel (5) mosquito Apidae Dor no corpo e Abelha Dor de Ouvido, dor 9,09 de garganta e gripe 2 0,66 Mel (3) Gripe 9,09 1 0,66 Animal inteiro (3) Asma 4,54 Jandaíra Termitidae Nasutitermes macrocephalus Cupim (Silvestri, 1903) *Os valores do Nível de Fidelidade foram corrigidos conforme Rocha et al. (2008). Legenda: (1) chá; (2) unguento a ser friccionado na área afetada; (3) garrafada, obtida da mistura de plantas e animais medicinais; (4) tomada com café; (5) tomada pura como bebida (colher das de chá) e (6) tomada pura como bebida (algumas gotas). 54 Tabela 6. Fator de consenso dos informantes por categorias de sistemas corporais ou doenças (município de Pedro Avelino, RN, NE Brasil). Categorias Número de espécies animais % todas as espécies Citações de uso % todas as citações ICF Doenças do aparelho respiratório 6 33,33 30 54,55 0,83 Causas externas de morbidade e de mortalidade 2 11,11 4 7,27 0,67 Doenças do aparelho circulatório 2 11,11 10 18,18 0,89 apófise 2 11,11 2 3,64 0,00 Lesões, envenenamento e algumas outras consequências de causas externas 1 5,56 1 1,82 0,00 Doenças indefinidas 3 16,67 4 7,27 0,33 Doenças do mastoide ouvido e da 55 ARTIGO 2 – Prioridade Local de Conservação de espécies da fauna em uma área de Caatinga, Nordeste do Brasil 56 Capitulo 2 – Prioridade Local de Conservação de espécies da fauna em uma área de Caatinga, Nordeste do Brasil Resumo O uso do Conhecimento Ecológico Local (do inglês LEK) como fonte de informação sobre o ambiente e os recursos naturais tem sido frequentemente defendido para a conservação da biodiversidade. Além disso, estudos têm demonstrado que as informações obtidas através do LEK podem ser mais baratas que dados obtidos por meio de métodos tradicionais de investigação biológica. Diante disso, o presente estudo visa sugerir uma ferramenta para se gerar uma lista da fauna prioritária para a conservação local a partir do LEK, o que permitirá direcionar estudos ecológicos mais aprofundados visando à conservação das espécies. Um total de 30 entrevistas semiestruturadas foi conduzido em quatro comunidades humanas residentes em áreas de caatinga. Setenta e quatro espécies foram citadas, sendo 48 espécies utilizadas direta ou indiretamente na alimentação e nove úteis para fins medicinais. Dezessete espécies foram citadas por representarem risco às pessoas ou criações. Seis espécies foram citadas como alvos de caça no passado, mas que segundo depoimentos, encontram-se atualmente extintas na área de estudo. Algumas das espécies caçadas (n=8) constam em listas de espécies ameaçadas de extinção. A prioridade de conservação foi calculada para 23 espécies. Estas foram classificadas em três categorias de conservação. Uma única espécie entrou na primeira categoria de conservação, dez espécies estão na segunda categoria de conservação e, 12 espécies estão na terceira categoria de conservação. Os dados sugerem que, de acordo com a abundância percebida pelos entrevistados, as populações de algumas das espécies usadas principalmente para a alimentação, podem estar atingindo níveis que podem comprometer a permanência dessas populações no meio natural. A determinação de espécies prioritárias para conservação é importante para se obter êxito na manutenção da biodiversidade local. Portanto, estudos que possam, não apenas identificar os usos que as populações humanas fazem da fauna local, mas também quantificar a real pressão de caça que os animais sofrem, principalmente para fins alimentares, é fundamental para adoção de políticas públicas que possam mitigar os impactos humanos na fauna. Palavras chaves: Etnozoologia, conhecimento ecológico local, extinção, alimentação 57 Chapter 2 – Local Priority of Conservation of fauna species in one area of Caatinga, Northeast of Brazil Abstract The use of Local Ecological Knowledge (LEK) as a source of information about environment and natural resources has often been advocated in the biodiversity conservation. Furthermore, studies have demonstrated that information obtained through the LEK can be cheaper than data obtained through traditional methods of biological research. Thus, this study aims to suggest a tool to generate a list of fauna priority for local conservation using information gathered through the LEK, which could also direct ecological studies more detailed for species’ conservation. A total of 30 semi-structured interviews were conducted in four human communities living into Caatinga region (a Brazilian semi-arid biome). Seventy-four species were mentioned, with 48 species used directly or indirectly like food and nine useful for medicinal purposes. Seventeen species were cited because they represent risk to people or domesticated animals. Six species were mentioned as hunting targets in the past, but according to the interviewees' statements, these species are now extinct in the study area. Some of the hunted species (n = 8) are included on lists of endangered species. The conservation priority was calculated for 23 species. These were classified into three categories of conservation. A single species was into the first category of conservation, ten species are in the second category of conservation, and 12 species are in the third category of conservation. The data suggest that, according to the interviewees’ perception, the populations of some species used mainly like food, may be reaching levels that could compromise the permanence of these populations in nature. The determination of priority species for conservation is important to succeed in maintaining local biodiversity. Therefore, studies that can not only identify the local fauna’s uses, but also to quantify the actual hunting pressure, especially for animals used like food, is essential for adoption of public politics that can mitigate the human impacts on the fauna. Key words: Ethnozoology, local ecological knowledge, extinction, food 58 1. Introdução A Caatinga foi reconhecida como uma das 37 grandes regiões naturais do planeta, a partir do conceito de “wilderness” (Mittermeier et al. 2003). Este bioma ocupa aproximadamente 735.000 Km² (Leal et al. 2005) do território brasileiro, estando presente na região Nordeste e no Estado de Minas Gerais (Prado 2005). Segundo Silva et al. (2004) e MMA (2007), a Caatinga tem sido sempre colocada em segundo plano quando se discutem políticas para o estudo e a conservação da biodiversidade do Brasil. A atividade humana não sustentável, como a agricultura de corte e queima, o corte de madeira para lenha, a caça de animais e a contínua remoção da vegetação para a criação de bovinos e caprinos, tem levado ao empobrecimento ambiental, em larga escala, da Caatinga (Leal et al. 2005). A população rural é extremamente pobre e os longos períodos de seca diminuem, ainda mais, a produtividade da região (Sampaio e Batista 2004). Além disso, estudos recentes têm demonstrado que populações humanas que residem na caatinga conhecem e fazem uso de animais para fins de estimação, místico-religiosos, alimentares e medicinais (Costa-Neto 2000; Alves et al. 2009a,b; Ferreira et al. 2009; Léo-Neto et al. 2009). O uso do conhecimento ecológico local (do inglês LEK, “Local Ecological Knowledge”) tem sido frequentemente defendido para o manejo e monitoramento da biodiversidade (Folke 2004; Moller et al. 2004; Jones et al. 2008; Anadón et al. 2009). O LEK tem sido mais recentemente atribuído a um sistema de manejo de recursos e se refere a um conjunto de conhecimentos acumulados, desenvolvidos e aplicados por atores num contexto local. Anadón et al. (2009) descrevem a possibilidade de uso do LEK na obtenção, por meio de entrevistas, de dados quantitativos da abundância relativa de uma espécie de tartaruga terrestre, na Espanha. Ainda segundo estes autores, as informações obtidas através do LEK foram cerca de cem vezes mais baratas que os dados obtidos por meio de transectos lineares. Na Amazônia, a contagem do pirarucu (Arapaima gigas) realizada por pescadores apresentou uma alta correlação com o método de marcação-recaptura, sendo que a contagem dos pescadores foi aproximadamente 200 vezes mais rápida e barata que o método tradicional (Castello 2004). O processo de estabelecimento de prioridades para a conservação é um passo óbvio e essencial em qualquer estratégia de conservação (Brehm et al. 2010), o qual pode ser realizado em diferentes níveis (espécies, ecossistemas, etc.). Além disso, nas 59 últimas décadas, tem havido um debate considerável sobre quais critérios devem ser adotados na priorização de espécies para a conservação (Maxted et al. 1997). Prioridades foram determinadas por ameaça, endemicidade, raridade, declínio populacional, qualidade do habitat, impactos humanos, abundância das espécies em relação ao tamanho da área geográfica, potencial de recuperação e orçamento estimado para a conservação, singularidade taxonômica e critérios filogenéticos, valores culturais, critérios econômicos, nível de conhecimento das espécies e o estado das investigações atuais (Brehm et al. 2010). Entretanto, a determinação das espécies prioritárias, segundo os critérios acima citados consideram, em sua maioria, um conjunto de dados préexistentes que muitas vezes não estão disponíveis, devido à ausência histórica de investigações científicas tradicionais em escalas espaciais e temporais, por exemplo. Nestes casos, alguns trabalhos com enfoque no manejo pesqueiro defendem o uso do conhecimento dos pescadores como uma alternativa a falta de dados (Johannes 1998; Johannes et al. 2000; Begossi e Silvano 2008). Estudos relativos às prioridades de conservação, usando o conhecimento local das populações humanas para obtenção de dados, têm sido realizados em outras partes do mundo como, por exemplo, no Himalaia e na Índia (Dhar et al. 2000; Kala et al. 2000; Kala et al. 2004). Alguns poucos estudos têm sido produzidos no Brasil relacionados à prioridade de conservação, todos focando em plantas medicinais (Oliveira et al. 2007; Melo et al. 2009; Crepaldi e Peixoto 2010). Geralmente, eles combinam aspectos biológicos e culturais na determinação das espécies prioritárias. Como a pobreza da população é considerada o principal desafio na Caatinga, a conservação da biodiversidade está entre as menores prioridades de investimento (Leal et al. 2005). A determinação de prioridades locais de conservação é importante para se obter êxito na manutenção da biodiversidade local. Diante disso, o presente estudo testou uma ferramenta que gera uma lista da fauna prioritária para a conservação local a partir do LEK. Essa lista permitirá direcionar estudos ecológicos mais aprofundados visando à conservação das espécies do bioma Caatinga. Além disso, a partir do LEK, foi gerada uma lista das espécies consideradas extintas localmente ou que apresentam um considerável declínio populacional. 2. Material e Métodos 2.1. Descrição da área de estudo 60 O estudo foi desenvolvido em quatro comunidades rurais (Santo Antônio Trangola, Serra Aguda, São José do Pé da Serra e Olho d’água) no município de Pedro Avelino (Figura 1), localizado na Ecorregião da Depressão Sertaneja Setentrional, no bioma Caatinga, Estado do Rio Grande do Norte. Informações adicionais sobre a área de estudo podem ser consultadas no capítulo 1 desta dissertação (página: 22). 2.2. Procedimentos metodológicos Para coleta de dados, foram feitas visitas aos moradores de quatro comunidades rurais: Santo Antônio Trangola, Serra Aguda, São José do Pé da Serra e Olho d’água. Foram amostradas todas as unidades habitacionais das quatro comunidades. Inicialmente, foram entrevistados moradores locais que fazem uso de animais silvestres para fins alimentares e medicinais ou que caçam os animais por estes representarem perigo para eles próprios ou para suas criações domésticas. Além disso, os entrevistados foram questionados sobre os animais que estavam diminuindo ou que não ocorrem mais na região. Foram realizadas 30 entrevistas semiestruturadas (Apêndice A) na área de estudo, sendo seis em Santo Antônio Trangola, sete em Serra Aguda, onze em São José do Pé da Serra e seis em Olho d’água. Foram entrevistados 16 homens e 14 mulheres apresentando idade entre 18 e 88 anos. Cerca de 70% dos informantes são naturais da área de estudo. Quanto à formação educacional, 43,4% são analfabetos, 46,7% possuem o ensino fundamental e 10% possuem o ensino médio. Informações adicionais sobre os procedimentos metodológicos podem ser consultados no capítulo 1 desta dissertação (páginas: 22–25). 2.3. Prioridade local de conservação para espécies animais Foi realizado o cálculo da prioridade local de conservação (PLC) dos animais utilizados para fins alimentares e medicinais empregando-se a metodologia adaptada de Dzerefos e Witkowski (2001). Foi usada a fórmula a seguir, cujos critérios estão demonstrados na Tabela 1: PLC = 0,5 (A x 10) + 0,5 (0,5 (H) + 0.5 (U) x 10), onde: PLC Prioridade local de conservação; A =Abundância da espécie segundo o conhecimento local dos entrevistados; H = Risco de coleta; U = Uso local (U é dado 61 pelo maior valor entre a citação de uso local (L) e a diversidade de uso (D)). A abundância das espécies citadas foi estimada por meio de uma medida subjetiva a partir das respostas dos entrevistados (Muito baixa, Baixa, Média e Alta) (Apaza et al. 2003). Optou-se por essa abordagem por possibilitar uma rápida geração de informação local sobre os animais prioritários à conservação a partir do LEK. Neste caso, apenas aspectos do LEK foram levados em consideração para a determinação das espécies localmente prioritárias. Entretanto, em outras situações, como o caso de estudos etnobotânicos, é possível unir aspectos biológicos e culturais na determinação de espécies prioritárias (Dzerefos e Witkowski 2001; Oliveira et al. 2007; Crepaldi e Peixoto 2010). Foi considerado para efeito de cálculo do PLC o valor mais citado de Abundância (A) da espécie segundo a percepção da maioria dos entrevistados. Em alguns casos as percepções dos entrevistados geraram um mesmo total de citações para duas classes diferentes de abundância. Para estes casos, foi calculada a média aritmética para a determinação do escore da abundância da espécie. Por exemplo, se uma espécie foi citada por oito informantes como tendo uma abundância muito baixa (escore 10) e também foi citada por outros oito informantes como tendo uma abundância baixa (escore 7), o escore de abundância final para a espécie foi 8,5. Apenas as espécies de aves, anfíbios, mamíferos e répteis que são utilizadas para fins alimentares e/ou medicinais e que foram citadas por, no mínimo, 10% dos entrevistados foram consideradas para o cálculo do PLC. Estas quatro categorias foram escolhidas pelo fato de muitas vezes as pessoas apresentarem uma ligação mais estreita com os vertebrados como já foi visto em trabalhos realizados na região Nordeste do Brasil (Alves et al. 2009a,b; Ferreira et al. 2009, Torres et al. 2009). As categorias de uso alimentar e medicinal foram escolhidas para este estudo devido ao fato destas estarem entre as mais importantes no Nordeste brasileiro (Alves et al. 2009a; Torres et al. 2009; Oliveira et al. 2010a; Pereira e Schiavetti 2010). O valor do Risco de Coleta (H) depende do tipo de uso do animal e das consequências biológicas desse uso (Tabela 1). O valor do Uso Local (L) foi determinado pela porcentagem de entrevistados que usam alguma espécie para fins alimentares ou medicinais. O valor de PLC permite que os animais utilizados para fins alimentares e/ou medicinais sejam classificados em três categorias de conservação: categoria I, animais com um valor de PLC >65,87; Categoria II, animais com valor de PLC ≤65,87 ≥46.5 e; Categoria III, animais com valor de PLC <46.5. A categoria I indica animais com alta necessidade de estudos populacionais visando à conservação local da espécie. A 62 categoria II indica animais com uma moderada necessidade de estudos populacionais visando à conservação local da espécie e, a categoria III, indica animais relevantes para estudos de conservação local devido à existência do uso destes por parte das populações humanas locais (adaptado de Dzerefos e Witkowski 2001). Estas categorias de conservação foram obtidas a partir da determinação do valor do PLC máximo (77,5) que uma espécie poderia apresentar. O valor máximo que uma espécie poderia receber foi estimado a partir da abundância da espécie segundo o conhecimento ecológico local (A), considerado como sendo muito baixo (escore 10); do risco de coleta (H), considerando uma coleta destrutiva do animal, na qual a obtenção do produto animal gera a morte do indivíduo (escore 10) e; o uso local (U), como sendo “alto” quando listado por mais de vinte por cento dos entrevistados (escore 10). Em seguida, considerando as inúmeras pressões que a fauna da Caatinga é submetida, e por ser um dos biomas mais ameaçados e alterados pela ação antrópica (MMA 2007), foram extraídos 85% do PLC máximo para a categoria I (65,87) e 60% do PLC máximo para a categoria II (47,5). Estes valores, obtidos a partir do trabalho de Dzerefos e Witkowski (2001), foram transformados em percentuais para adequação as características da etnozoologia. 3. Resultados 3.1. Da utilização para a conservação: uso de animais para fins alimentares e medicinais Foi reconhecido um total de 74 espécies, pertencentes a 42 famílias de animais. Foram identificadas 48 espécies que são usadas direta ou indiretamente na alimentação cotidiana das populações humanas residentes, sendo 52,0% aves, 20,8% mamíferos, 18,7% insetos, 6,3% répteis e 2,2% anfíbios (Apêndice B). Foram identificadas nove espécies que são usadas para fins medicinais, correspondendo a oito famílias, sendo 55,5% répteis, 33,3% insetos e 11,1% mamíferos (Tabela 2). Segundo a percepção dos entrevistados, ocorreu uma significativa diminuição na abundância de algumas espécies da fauna local com destaque para: Kerodon rupestris (Moco), Galea spixii (Preá), Dasypus novemcinctus (Tatu verdadeiro), Euphractus sexcinctus (Tatu peba) e o Tamandua tetradactyla (Tamanduá). 63 Ainda conforme a percepção local, algumas espécies que ocorriam em tempos pretéritos na área de estudo foram citadas como extintas atualmente, são elas: Mazama gouazoupira (Veado), Tolypeutes tricinctus (Tatu bola), Panthera onca (Onça pintada), Puma concolor (Onça vermelha), Tayassu pecari (Porco do mato) e a Rhea americana (Ema) (Tabela 2). Segundo os entrevistados, as principais espécies que oferecem risco para as populações locais ou para as criações domésticas são Caudisona durissa cascavella (citada por 96,7% dos entrevistados), Bothropoides erythromelas (76,6%), Micrurus ibiboboca (50%), Achantoscurria natalensis (50%), Cerdocyon thous (50%) e Tityus sp. (46,6%). Além destas, 12 outras espécies também foram citadas por oferecer risco para as populações humanas locais ou para os animais domésticos. Das 74 espécies identificadas no estudo, seis espécies constam no livro vermelho da fauna brasileira ameaçada de extinção na categoria vulnerável (Chiarello et al. 2008). Duas espécies constam na lista vermelha de espécies ameaçadas da IUCN (2011), na categoria vulnerável, e quatro espécies aparecem na categoria quase ameaçada, sendo sete mamíferos e uma ave (Tabela 2). 3.2. Prioridade local de conservação para espécies da fauna Foi calculada a prioridade local de conservação para 23 espécies de 16 famílias (Tabela 3). Destas, 47,8% são aves, 39,1% mamíferos e 13,0% répteis. As aves da família Columbidae se destacam com seis espécies. As espécies com maior valor de PLC foram: T. tetradactyla (70), K. rupestris (62,5), D. novemcinctus (62,5), Trichomys apereoides (62,5), Conepatus semistriatus (62,5) e Cariama cristata (62,5). Uma espécie está na primeira categoria de conservação (um mamífero), dez espécies estão na segunda categoria de conservação (quatro aves, cinco mamíferos e um réptil) e, 12 espécies estão na terceira categoria de conservação (sete aves, três mamíferos e dois répteis). 4. Discussão 4.1. Da utilização para a conservação: uso de animais para fins alimentares e medicinais 64 Cinquenta e sete animais foram citados neste estudo para usos medicinais e alimentares. Em trabalho realizado com três comunidades caiçaras na Mata Atlântica brasileira, foi observado que os caiçaras utilizavam 17 animais terrestres para dois propósitos principais: alimentar e medicinal (Hanazaki et al. 2009). Tanto neste trabalho quanto no presente estudo, o uso de animais como fonte alternativa de proteína é mais saliente, sendo que as populações da Caatinga, provavelmente, apresentam uma maior necessidade no uso da fauna como fonte alimentar. Além disso, os caiçaras sofrem uma coibição das praticas de caça mais rígida pelos órgãos fiscalizadores. Ainda segundo Hanazaki et al. (2009), a utilização de espécies nativas da fauna terrestre na Mata Atlântica como um recurso alimentar é muito esporádica. Por outro lado, o uso de animais para fins alimentares na Caatinga parece ser uma prática comum e em algumas comunidades ocorre com certa frequência (Alves et al. 2009a). Não só na Caatinga, como também na Mata Atlântica nordestina, o uso de animais para fins alimentares é mais saliente, tendo em vista que mais de 50% das espécies citadas tem sido associadas a este tipo de uso em outros estudos (Torres et al 2009; Oliveira et al 2010a). Seguramente, um dos maiores desafios para a conservação da fauna silvestre na Caatinga é a integração entre a conservação dos recursos naturais e as demandas das populações humanas (Alves et al. 2009a). Ainda segundo estes autores, a continuidade das atividades cinegéticas no Brasil está ligada a questões culturais e a grande importância nutricional para famílias de baixa renda, mesmo sendo uma atividade considerada ilegal. Os dados obtidos nesta investigação claramente sugerem que a abundância percebida pelos entrevistados sobre as espécies de animais usadas principalmente para a alimentação está atingindo níveis que podem comprometer a viabilidade populacional dessas espécies no meio natural. Esta presumida redução nos estoques populacionais das espécies-alvo da caça pode ser explicada por uma série de razões de origem cultural, social, econômica e fortemente agravada por um sistema educacional precário. A pobreza tem sido apontada como um ponto chave no estímulo das atividades de caça, impondo pressões negativas sobre os ecossistemas locais (Clark 2007). Além da caça, a perda de habitat tem contribuido substancialmente para a diminuição das espécies da fauna em áreas de caatinga. O fato de algumas espécies como G. spixii, D. Novemcinctus e E. Sexcinctus, que atualmente estão entre os principais alvos de caça, estarem diminuindo, pode ser um indicativo de sobrecaça de outras espécies que eram foco principal de caça num passado 65 próximo. Na Amazônia, por exemplo, algumas dessas espécies são procuradas como fonte alternativa de alimento após o desaparecimento das espécies de interesse principal (Peres 2001). Os dados revelam ainda que algumas espécies são apontadas como extintas localmente, segundo os entrevistados. Tal percepção pode estar relacionada a duas razões: as espécies podem realmente ter sofrido um processo de extinção local; ou, que devido à degradação ambiental local e a baixa oferta de presas e habitat, algumas espécies tenham migrado para outras áreas que oferecem melhores condições de sobrevivência. Espécies como M. gouazoupira, T. pecari e a R. americana podem ter sofrido um forte impacto de caça no passado que somado a perda de habitat podem ter contribuído para o acentuado declínio populacional e, até mesmo para a extinção local dessas espécies. Existe uma tendência populacional decrescente para estas três espécies na América do Sul, embora as espécies M. gouazoupira e R. americana ainda possam ser encontradas no Nordeste do Brasil (IUCN 2011) (Anexo A). Já a espécie T. pecari é considerada extinta em parte do Nordeste do Brasil, incluindo a área do presente estudo (IUCN 2011) (Anexo B). Na zona rural de Pedro Avelino os répteis constituem os principais animais alvos de caça de controle, porque representam perigo para a saúde humana, embora, alguns mamíferos também representem um risco potencial para as criações domésticas, já que são considerados animais predadores. Em estudo realizado no semiárido paraibano, município de Pocinhos, também foi identificado atividades de caça de controle (Alves et al. 2009a). De maneira geral, a caça de controle de animais que representam perigo para saúde humana (caso das serpentes) e para as criações domésticas (raposa, gavião, etc) tem uma forte raiz cultural e é passada de pais para filhos no semiárido nordestino. Logo, ações educativas se fazem necessárias para mudar as relações entre as populações humanas que habitam estas áreas e a fauna considerada perigosa. Mais de 10% da fauna (n=8) citada como utilizada na área do estudo está em alguma das listas de animais ameaçados de extinção, tanto local, quanto global. O grupo dos mamíferos apresenta a maior quantidade de animais ameaçados (9,3%, n=7). Situação similar foi registrado por Apaza et al. (2003), em trabalho realizado em florestas tropicais na Bolívia, onde cinco espécies de mamíferos citadas foram identificados como ameaçadas ou vulneráveis à extinção. R. americana foi à única ave citada que consta na lista da IUCN (2011). Esta mesma ave já foi registrada para 66 propósitos medicinais em outros trabalhos no Nordeste brasileiro (Alves et al. 2009b; Oliveira et al. 2010b). 4.2. Prioridade local de conservação para espécies da fauna A dependência da espécie humana em relação aos demais elementos bióticos da natureza tem sido explicada pela hipótese da biofilia, segundo a qual o homem teve 99% de sua história evolutiva intimamente envolvida com outros seres vivos (SantosFita e Costa-Neto 2007). Portanto, esta proximidade do homem com a natureza tem provocado tanto a conservação quanto a extinção de várias espécies. Muitas vezes, a falta de informação associada a fatores econômicos podem influenciar no uso da fauna silvestre em níveis predatórios. Em trabalho realizado com plantas medicinais na Índia, a falta de dados sobre tendências de extração e a falta de detalhes sobre a oferta, até mesmo para os táxons ameaçados, tornaram difícil a priorização de espécies para a conservação (Dhar et al. 2000). Os resultados do presente estudo sugerem que o único animal relacionado na primeira categoria de prioridade local de conservação necessita de uma ação urgente diante da possibilidade de extinção local. A espécie T. tetradactyla (tamanduá), animal com o maior valor de PLC, é apontado como praticamente extinto na área do estudo. Segundo dados da IUCN (2011), a tendência populacional do T. tetradactyla é desconhecida globalmente. A espécie vem sofrendo uma provável diminuição populacional devido às mortes por atropelamentos em rodovias, queimadas e por caça, embora a espécie apresente uma ampla distribuição na América do Sul e esteja bem representada em áreas naturais protegidas (Aguiar 2004). Entretanto, a espécie encontrase em duas listas estaduais de animais ameaçados de extinção no Brasil, na categoria vulnerável (Chiarello et al. 2008). Portanto, a busca por evidências biológicas se faz necessária para confirmar ou não, o conhecimento local dos informantes sobre a espécie classificada na primeira categoria de prioridade local de conservação. Além disso, o entendimento da dinâmica populacional dessa espécie, população mínima viável e área mínima viável é relevante para futuras ações conservacionistas. Além do mais, as próprias áreas prioritárias para a conservação na caatinga deveriam ser pensadas em termos de área mínima viável para as espécies localmente prioritárias. 67 Para a segunda categoria de prioridade local de conservação, os dados sugerem a realização de estudos populacionais visando à conservação local de duas espécies de aves: Patagioenas picazuro (asa branca) e Leptotila verreauxi (juriti). Estas duas espécies são apreciadas na região tanto para uso alimentar quanto para criação em cativeiro e, segundo os entrevistados, as populações dessas aves estão diminuindo ano após ano. A diminuição populacional destas espécies também foi apontada por caçadores no Estado da Paraíba (Alves et al. 2009a). Apesar da ampla distribuição no Brasil, estas duas espécies podem estar ameaçadas localmente devido à considerável pressão de caça associada à perda de habitat. A espécie C. semistriatus, apresenta uma ampla distribuição na América do Sul, mas segundo dados da IUCN (2011) a tendência populacional é desconhecida globalmente. A espécie vem sofrendo uma considerável pressão de caça no Nordeste do Brasil (Alves et al. 2009a), o que pode potencializar o declínio populacional da espécie quando combinado com outros fatores como a perda de habitat e a desertificação. Em relação à espécie D. novemcinctus, segundo os informantes, a tendência é que a espécie desapareça da região devido à forte pressão de caça e a perda de habitat. Para alguns informantes a espécie já é considerada localmente extinta. Entretanto, conforme os dados da IUCN (2011), a tendência populacional global para esta espécie é de crescimento. Portanto, considerando uma lista estadual de espécies ameaçadas de extinção, certamente, algumas das espécies integrantes da lista de espécies prioritárias para a conservação também fariam parte da lista estadual de espécies ameaçadas de extinção. As listas locais de espécies ameaçadas são necessárias em função da extensão do território brasileiro e das pressões regionais distintas sobre a fauna (Costa et al. 2005). Por último, entre as espécies classificadas na segunda categoria de conservação, o K. rupestris é uma espécie endêmica da caatinga (Oliveira e Bonvicino 2006), e que apresenta alta prioridade local de conservação, segundo os dados oriundos do conhecimento local. A espécie sofre intensa pressão de caça devido ao seu tamanho e pela qualidade de sua carne (Oliveira e Bonvicino 2006), muito apreciada pelos sertanejos (Lacerda et al. 2006). Na terceira categoria de prioridade local de conservação, o estudo indica alguns animais relevantes para investigação devido à existência de uso destes por parte das populações humanas locais. São eles: L. tigrinus (gato do mato), G. spixii (préa), E. sexcinctus (tatu peba), Nothura maculosa (nambu) e o T. merianae (tejuaçu). Uma 68 atenção especial merece ser dada ao L. tigrinus por ser uma espécie com tendência populacional decrescente em escala global segundo a IUCN (2011) e, por esta espécie constar nas listas vermelhas do Brasil e da IUCN, na categoria vulnerável. Além disso, os outros animais classificados na terceira categoria de prioridade local de conservação deveriam ser monitorados com objetivo de se evitar maiores riscos as suas populações. Algumas das espécies na lista de prioridade local de conservação poderiam ser usadas como símbolos para conservação. Segundo Rodriguez et al. (2004), existem táxons que tendem a ser mais eficientes para uma mensagem de conservação. Ainda segundo o autor, na Venezuela, as espécies mais susceptíveis tornam-se símbolos de conservação devido às populações humanas valorizá-las mais por conta da possibilidade de uso futuro. Algumas características podem ser consideradas na definição de uma espécie símbolo para a conservação numa região: (1) ser endêmica ou quase endêmica de um país; (2) ser especialista de habitat e, portanto, ser associada a um determinado ambiente ou local; (3) ser carismática e de interesse dos seres humanos; (4) altamente ameaçada, e (5) sua sobrevivência futura estar dependente de áreas protegidas já estabelecidas (Rodriguez et al. 2004). Para o cálculo do PLC, o valor de abundancia obtida através da percepção dos entrevistados é o fator mais relevante dentre os fatores considerados no presente estudo. Da mesma maneira que dados de abundância e densidade obtidos em alguns trabalhos por meio de transecções lineares trazem uma importante contribuição na avaliação dos impactos das atividades humanas sobre a fauna (Peres 2000; Peres e Lake 2003; Peres e Nascimento 2006; Ánadon 2009), a percepção que as pessoas têm sobre a abundância dos animais pode também contribuir na avaliação dos impactos antrópicos sobre os recursos naturais, principalmente quando não existe tempo e dinheiro para realizar estimativas populacionais por meio de métodos tradicionais de investigação. Embora investigações sobre o conhecimento local não substituam as investigações científicas tradicionais, o manejo baseado em poucos dados pode ser a única abordagem possível em várias situações (Lopes et al. 2010). Ainda segundo estes autores, estudos etnoecológicos podem fornecer dados biológicos relevantes, num menor intervalo de tempo e a um baixo custo. 5. Considerações Finais 69 O presente estudo focou em áreas com ausência ou deficiência de conhecimento científico, mas, com um significativo uso da biodiversidade por populações humanas. Além disso, a área estudada esta inserida na Ecorregião da Depressão Sertaneja Setentrional que, segundo Veloso et al. (2002), trata-se de uma área de extremo interesse biológico e que ainda possui áreas razoavelmente extensas com possibilidades de recuperação. De acordo com o MMA (2007) o município de Pedro Avelino está classificado como uma área de importância biológica muito alta e com prioridade de conservação também alta. Neste estudo foi utilizada uma ferramenta, adaptada para investigações sobre o uso da fauna, que leva em consideração as peculiaridades locais de cada grupo humano e que propicia a geração de listas de animais locais prioritários para a conservação de forma rápida e econômica quando comparada aos métodos tradicionais. Esta ferramenta não exclui a necessidade futura de abordagens ecológicas mais detalhadas para cada espécie, mas, contribui para o direcionamento dos esforços de conservação. Trata-se de uma ferramenta útil nos primeiros momentos do estudo em áreas prioritárias para à conservação ou até mesmo na determinação de tais áreas podendo ser utilizada em qualquer região do mundo onde não exista um conhecimento prévio sobre a situação da fauna. Nesse trabalho foram consideradas apenas as categorias de uso alimentar e medicinal por estas representarem as categorias de uso mais importantes na região. No entanto, em futuros estudos todas as categorias de uso presentes na região devem ser consideradas, já que algumas espécies podem sofrer usos pontuais e, serem erroneamente desconsideradas das listas de espécies locais prioritárias. Além do mais, deve-se evitar usar esta ferramenta para grandes extensões, já que ela foi desenvolvida para trabalhos locais, buscando preservar as características intrínsecas a cada microrregião. Em trabalhos desta natureza, deve-se também, levar em conta, as peculiaridades de cada região (Silva e Albuquerque 2005). Como os animais são importantes não somente para a funcionalidade dos ecossistemas, mas, também para as várias culturas humanas desde os tempos remotos, as espécies locais prioritárias para conservação, as citadas como extintas ou as que estão sofrendo visível redução na abundância deveriam ser consideradas em investigações futuras. Adicionalmente, o monitoramento dessas espécies pode ser realizado pela atualização dos dados oriundos do LEK, tendo em vista que os valores do PLC podem 70 ser alterados pelas mudanças nas relações entre as populações humanas e a fauna ou por mudanças na própria população de animais em resposta as mudanças ambientais. De maneira geral, as metodologias usadas nas análises de espécies prioritárias para a conservação baseiam-se apenas em informações sobre os atributos biológicos das espécies em questão (Rodriguez et al. 2004). Entretanto, em muitas situações, não é possível a aplicação de tais metodologias por falta de dados ou devido aos dados não refletirem as situações locais de ameaças existentes. Além disso, atualmente, não se pode mais desconsiderar os impactos pontuais que as populações humanas exercem diretamente sobre a fauna, quando se pensa em medidas de conservação da biodiversidade. Ações governamentais objetivando a redução da pobreza extrema assim como o fortalecimento do sistema de saúde são relevantes para a redução do uso dos recursos faunísticos pelas populações humanas mais carentes. Estudos que possam, não apenas identificar os usos que as populações humanas fazem da fauna local, mas também quantificar a real pressão de caça que os animais sofrem, principalmente para fins alimentares, é fundamental para adoção de políticas públicas que possam mitigar os impactos humanos na fauna. Por isso, sugerimos a adoção de estudos como, por exemplo, os que usam a teoria de forrageio ótimo para investigar as atividades de caça através da qualificação e quantificação dos animais coletados. Embora seja comum a ocorrência da caça na região, é evidente a necessidade de estudos que entendam como esta atividade ocorre, o processo de tomada de decisão do caçador e análise deste impacto sobre a fauna local. Agradecimentos Sou grato a todos os informantes que contribuíram com este estudo. Agradeço também a Denise de Freitas Torres pela relevante contribuição na coleta dos dados. Sou grato aos professores do Departamento de Botânica, Ecologia e Zoologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte pela identificação das espécies. Ao CNPq/UFRN pela bolsa (134431/2009-9) concedida ao autor. Referências 71 Aguiar J.M. 2004. Species Summaries and Species Discussions. In: Fonseca G., Aguiar J., Rylands A., Paglia A., Chiarello A. and Sechrest W. (eds.), The 2004 Edentate Species Assessment Workshop. Edentata. Washington, 6: 3–26. Alves R.R.N., Mendonça L.E.T., Confesor M.V.A., Vieira W.L., Lopes L.C.S. 2009a. Hunting strategies used in the semi-arid region of northeastern Brazil. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine 5: 12. Alves R.R.N., Léo-Neto N.A., Santana G.G., Vieira W.L.S., Almeida W.O. 2009b. Reptiles used for medicinal and magic religious purposes in Brazil. Applied Herpetology 6: 257–274. Anadón J.D., Giménez A., Ballestar R., Peréz I. 2009. Avaluation of local ecological knowledge as a method for collection extensive data on animal abundance. 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Etnobotânica e etnozoologia em unidades de conservação: uso da biodiversidade na APA de Genipabu, Rio Grande do Norte, Brasil. Interciencia 34: 623–629. 76 Figura 1. Localização da área de estudo. A, Os limites do Brasil com destaque para o bioma Caatinga em cinza e o Estado do Rio Grande do Norte, em preto. B, Os limites do Rio Grande do Norte, com o município de Pedro Avelino destacado em cinza. C, A Área de estudo: 0, centro do município de Pedro Avelino; 1, Comunidade Santo Antônio Trangola; 2, Comunidade Serra Aguda; 3, Comunidade São José do Pé da Serra; e 4, Comunidade Olho d’água. 77 Tabela 1 – Critérios para determinação dos valores usados no cálculo da PLC dos animais utilizados para fins alimentares e medicinais. Critérios Abundância da espécie segundo o conhecimento ecológico local (A) Muito baixa Baixa Média Alta Risco de coleta (H) Coleta destrutiva do animal, na qual a obtenção do produto animal gera a morte do indivíduo Extração de partes dos animais que são coletadas sem causar a morte do indivíduo Coleta do individuo, sem morte do animal e sua criação em cativeiro Extração de produtos do metabolismo tais como mel, fezes e urina Citação de uso local (L) Alto (listada por>20% dos entrevistados). Moderadamente alto (10 ≤ 20% dos entrevistados). Moderadamente baixo (<10% dos entrevistados). Diversidade do uso (D) Para cada uso é somado um ponto Escores 10 7 4 1 10 7 4 1 10 7 4 1-∞ 78 Tabela 2 – Lista de espécies da fauna usadas para fins alimentares e/ou medicinais, espécies ameaçadas de extinção ou sobreexploração em uma área da Caatinga (Município de Pedro Avelino, RN, NE Brasil). Espécie Nome vulgar Status local1 Status global2 Uso 3/citações Abundância4 Canidae Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766) Raposa - LC Medicinal (10) - Caviidae Kerodon rupestris (Wied-Neuwied, 1820) Moco - LC Alimentar (10) Δ Caviidae Galea spixii (Wagler, 1833) Preá - LC Alimentar (23) Δ Cervidae Mazama gouazoupira (G. Fischer, 1814) Veado - LC - Ψ Dasypodidae Dasypus novemcinctus Linnaeus, 1758 Tatu verdadeiro - LC Alimentar (20) ΔΨ Dasypodidae Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758) Tatu peba - LC Alimentar (27) Δ Dasypodidae Tolypeutes tricinctus (Linnaeus, 1758) Tatu bola VU VU - Ψ Didelphidae Didelphis albiventris Lund, 1840 Timbú - LC Alimentar (1) - Echimyidae Thrichomys apereoides (Lund, 1839) Punaré - - Alimentar (11) - Felidae Leopardus tigrinus (Schreber, 1775) Gato do mato VU VU Alimentar (5) Δ Felidae Leopardus wiedii (Schinz, 1821) Gato maracajá, VU NT Alimentar (1) ΔΨ Felidae Herpailurus yaguarondi (Lacépède, 1809) Gato azul ou vermelho VU LC - Δ Felidae Panthera onca (Linnaeus, 1758) Onça pintada VU NT - Ψ Felidae Puma concolor (Linnaeus, 1771) Onça vermelha VU LC - Ψ Mephitidae Conepatus semistriatus (Boddaert, 1785) Tacaca - LC Alimentar (19) Δ Mustelidae Galictis vittata (Schreber, 1776) Furão - LC - Δ Myrmecophagidae Tamandua tetradactyla (Linnaeus, 1758) Tamanduá - LC Alimentar (15) ΔΨ Tayassuidae Tayassu pecari (Link, 1795) Porco do mato - NT - Ψ Sarkidiornis sylvicola Ihering and Ihering, 1907 Pato do mato - LC Alimentar (1) - Família Mamíferos Aves Anatidae 79 Tabela 2 – Continuação Bucconidae Nystalus maculatus (Gmelin, 1788) Fura Barreira - LC Alimentar (1) Cariamidae Cariama cristata (Linnaeus, 1766) Seriema - LC Alimentar (14) - Columbidae Columba livia Gmelin, 1789 Pombo - LC Alimentar (1) - Columbidae Columbina minuta (Linnaeus, 1766) Rolinha cafofa - LC Alimentar (5) - Columbidae Columbina passerina (Linnaeus, 1758) Rolinha cinza - LC Alimentar (1) - Columbidae Columbina picui (Temminck, 1813) Rolinha branca - LC Alimentar (28) Δ Columbidae Columbina talpacoti (Temminck, 1811) Rolinha roxa - LC Alimentar (11) Δ Columbidae Leptotila verreauxi (Bonaparte, 1855) Juriti - LC Alimentar (5) - Columbidae Patagioenas picazuro (Temminck, 1813) Asa Branca - LC Alimentar (3) - Columbidae Zenaida auriculata (Des Murs, 1847) Arribaçã ou avoete - LC Alimentar (24) - Corvidae Cyanocorax cyanopogon (Wied-Neuwied, 1821) Cancão - LC Alimentar (1) - Cuculidae Guira guira (Gmelin, 1788) Anum Branco - LC Alimentar (1) - Emberizidae Sicalis flaveola (Linnaeus, 1766) Canário da terra LC - ΔΨ Emberizidae Sporophila albogularis (Spix, 1825) Golinha - LC Alimentar (1) - Falconidae Caracara plancus (Miller, 1777) Carcará - LC Alimentar (1) - Falconidae Rupornis magnirostris (Gmelin, 1788) Gavião - LC Alimentar (4) - Furnariidae Pseudoseisura cristata (Spix, 1824) Casaca de couro - LC Alimentar (1) - Icteridae Chrysomus ruficapillus (Vieillot, 1819) Papa arroz LC Alimentar (1) - Icteridae Icterus jamacaii (Gmelin, 1788) Concriz - LC Alimentar (1) - Mimidae Mimus saturninus (Lichtenstein, 1823) Papasebo - LC Alimentar (4) - Psittacidae Aratinga cactorum (Kuhl, 1820) Periquito - LC Alimentar (2) - Rallidae Gallinula chloropus (Linnaeus, 1758) Galinha d’água - LC Alimentar (1) - Rheidae Rhea americana (Linnaeus, 1758) Ema - NT - Ψ Strigidae Glaucidium brasilianum (Gmelin, 1788) Caboré - LC Alimentar (3) - Tinamidae Nothura maculosa (Temminck, 1815) Nambu - LC Alimentar (12) - 80 Tabela 2 – Continuação Dendrocygna viduata (Linnaeus, 1766) Marreca Boidae Boa constrictor Linnaeus, 1758 Cobra de veado - Chelidae Phrynops geoffroanus (Schweigger, 1812) Cágado - Iguanidae Iguana iguana (Linnaeus, 1758) Camaleão - Teiidae Tupinambis merianae (Duméril and Bibron, 1839) Tejuaçu ou teju Tropiduridae Tropidurus hispidus (Spix, 1825) Viperidae Anatidae - Alimentar (1) - - Alimentar (1) - Medicinal (2) - - Alimentar (22) e Medical (7) - - - Alimentar (29) e Medical (22) Δ Lagartixa - - Medicinal (1) - Crotalus durissus cascavella Wagler, 1824 Cascavel - - Medicinal (3) - Leptodactylus sp Gia - - Alimentar (1) - Apidae Frieseomelitta doederleini (Friese, 1900) Abelha Amarela - - Alimentar (2) - Apidae Apis mellifera Linnaeus, 1758 Abelha Italiana Apidae Plebeia mosquito (Smith, 1863) Abelha Mosquito - - Alimentar (8) e Medical (3) - Apidae Melipona subnitida Ducke, 1911 Abelha Jandaíra - - Alimentar (9) e Medicinal (2) - Apidae / Melipona asilvai Moure, 1971 Abelha Rajada - Alimentar (11) - Não identificada Espécie não identificada - - Alimentar (2) - Não identificada Espécie não identificada Abelha Capuchu "preta" Inchuí - - Alimentar (2) - Não identificada Espécie não identificada Inchú - - Alimentar (1) - Apidae Trigona spinipes (Fabricius, 1793) Arapuá - - Alimentar (3) - Termitidae Nasutitermes macrocephalus (Silvestri, 1903) Cupim - - Medicinal (1) - Répteis Anfíbio Leptodactylidae Insecta Alimentar (21) 1, Status de conservação da fauna local segundo o Livro Vermelho da fauna brasileira ameaçada de extinção, 2008; 2, Status de conservação da fauna global segundo a lista vermelha de espécies ameaçadas da IUCN, 2011; 3, Categorias de uso da fauna na região.; 4, Abundância das espécies segundo a percepção local; Alimentar, Espécies indicadas para fins alimentares; Medicinal, Espécies indicadas para fins medicinais; Δ, Denota espécies que estão diminuindo segundo a percepção local; Ψ, Denota espécies que não existem mais segundo a percepção local. Categorias da IUCN: LC, pouco preocupante; NT, quase ameaçada; VU, vulnerável; EN, em perigo; CR, em perigo crítico; EW, extinto na natureza; EX, extinto. 81 Tabela 3. – Prioridade local de conservação da fauna em área de caatinga no município de Pedro Avelino, Rio Grande do Norte (NE, Brasil), a partir do conhecimento das populações humanas locais. Família A H L PLC Espécie Nome comum Categoria de conservação Canidae Cerdocyon thous Raposa 4 10 10 47,5 II Caviidae Galea spixii Preá 1 10 10 32,5 III Caviidae Kerodon rupestris Moco 7 10 10 62,5 II Dasypodidae Dasypus novemcinctus Tatu verdadeiro 7 10 10 62,5 II Dasypodidae Euphractus sexcinctus Tatu peba 1 10 10 32,5 III Echimyidae Trichomys apereoides Punaré 7 10 10 62,5 II Felidae Leopardus tigrinus Gato do mato 1 10 4 17,5 III Mephitidae Conepatus semistriatus Tacaca 7 10 10 62,5 II Myrmecophagidae Tamandua tetradactyla Tamanduá 8,5 10 10 70 I Cariamidae Cariama cristata Seriema/Sariema 7 10 10 62,5 II Columbidae Columbina minuta Rolinha cafofa 4 10 4 32,5 III Columbidae Columbina picui Rolinha branca 1 10 10 32,5 III Columbidae Columbina talpacoti Rolinha roxa 1 10 10 32,5 III Columbidae Patagioenas picazuro Asa Branca 7 10 7 55 II Columbidae Leptotila verreauxi Juriti 7 10 7 55 II Columbidae Zenaida auriculata Arribaçã/avoete 1 10 10 32,5 III Falconidae Rupornis magnirostris Gavião 5,5 10 7 47,5 II Mimidae Mimus saturninus Papasebo 1 10 4 17,5 III Strigidae Glaucidium brasilianum Caburé 4 10 4 32,5 III Tinamidae Nothura maculosa Nambu 1 10 10 32,5 III Iguanidae Iguana iguana Camaleão 4 10 10 47,5 II Teiidae Tupinambis merianae Tejuaçu 1 10 10 32,5 III Viperidae Caudisona durissa cascavella Cascavel 2,5 10 7 32,5 III Mamíferos Aves Répteis A Abundância da espécie segundo o conhecimento ecológico local; H Risco de coleta; L Uso local; PLC Prioridade local de conservação. 82 Apêndice 83 Apêndice A – Formulário semiestruturado FORMULÁRIO DIRIGIDO AOS MORADORES DAS COMUNIDADES Município:_________________________________________________ Nº. Entrevistado._______________ Comunidade:________________________________________________________ Data ____ /____/______ Tempo de fundação da comunidade:__________________________________________________________ I. PERFIL SÓCIO-ECONÔMICO Identificação Nome completo: _____________________________________________________________________ Naturalidade:__________________________Sexo: F( Grau de Instrução A( ) AF ( ) EFC ( ) EFI ( ) M( ) Ano de Nascimento (AN):____________ ) EMC ( ) EMI ( ) ESC ( ) ESI ( ) Dados da Atividade e Renda Mensal Há quanto tempo mora na comunidade? ___________ Qual sua ocupação? ___________ Qual a renda mensal Familiar? ___________ Composição Familiar Quantas pessoas vivem na sua casa? Grau de parentesco Nome ¹ Ano de Nascimento (AN) / ___________ 2 (A, Sexo AF, EFC, EFI, AN1 EMC, Escolaridade2 EMI, ESC, Ocupação ESI) 84 II. INFORMAÇÕES SOBRE A REGIÃO Para o Senhor (a), o que é meio ambiente (natureza)?___________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ O meio ambiente (natureza) é importante? Sim ( ) Não ( ) Por quê?______________________________________ ______________________________________________________________________________________________ Essa região apresenta algum impacto ambiental decorrente da ação antrópica? Sim ( ) Não ( ) Qual?_________________________________________________________________________________________ O Senhor (a) sugere alguma forma de diminuir o impacto?_______________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ III. INFORMAÇÕES SOBRE A FAUNA A região abriga muitos animais? Sim ( ) Não ( ) Místico/religiosos Av____________________________________________________________________________________________ Mam__________________________________________________________________________________________ Rep___________________________________________________________________________________________ Anf___________________________________________________________________________________________ Pei____________________________________________________________________________________________ Crus__________________________________________________________________________________________ Ins____________________________________________________________________________________________ Estimação Av____________________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ Mam__________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ Rep___________________________________________________________________________________________ Anf___________________________________________________________________________________________ Pei___________________________________________________________________________________________ Crus__________________________________________________________________________________________ Ins___________________________________________________________________________________________ 85 Alimentares Av____________________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________________ Mam___________________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________________ Rep____________________________________________________________________________________________ Anf____________________________________________________________________________________________ Pei____________________________________________________________________________________________ Crus___________________________________________________________________________________________ Ins____________________________________________________________________________________________ Medicinais Av____________________________________________________________________________________________ Mam__________________________________________________________________________________________ Rep___________________________________________________________________________________________ Anf___________________________________________________________________________________________ Pei____________________________________________________________________________________________ Crus___________________________________________________________________________________________ Ins____________________________________________________________________________________________ Existe algum deles que está diminuindo?______________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________________ Existe algum deles que está aumentando?_____________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________________ Existem espécies que ocorriam antes e não ocorrem mais?________________________________________________ _______________________________________________________________________________________________ Existe alguma espécie que aparece só em alguma época do ano?___________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ Algum deles representa perigo?_____________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ MÍSTICO - Animal ________________ Pra quê?_______________________________________________________________ - Animal ________________ Pra quê?_______________________________________________________________ - Animal ________________ Pra quê?_______________________________________________________________ - Animal ________________ Pra quê?_______________________________________________________________ - Animal ________________ Pra quê?_______________________________________________________________ 86 Animais MEDICINAIS e/ou ALIMENTARES ANIMAL ___________________________ M ( ) A ( ) - Medicinal _______________________(Doença) Parte usada ____________________________________________ - Modo de uso __________________________________________________________________________________ - Alguma planta que possa substituí-lo? Qual?_________________________________________________________ - Risco de coleta (H): 10 ( ) 7 ( ) 4 ( ) 1 ( ) - Outros usos: __________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ Disponibilidade do animal (A): Muito baixa ( ) Baixa ( ) Média ( ) Alta ( ) Está diminuindo? Sim ( ) Não ( ) Não observou ( ) _______________________________________________ Se está diminuindo, por quê?______________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ Petrechos utilizados (Captura)_____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ Melhor horário para captura: Manhã ( ) Tarde ( ) Noite ( ) _________________________________ Animais MEDICINAIS e/ou ALIMENTARES ANIMAL ___________________________ M ( ) A ( ) - Medicinal _______________________(Doença) Parte usada ___________________________________________ - Modo de uso _________________________________________________________________________________ - Alguma planta que possa substituí-lo? Qual?________________________________________________________ - Risco de coleta (H): 10 ( ) 7 ( ) 4 ( ) 1 ( ) - Outros usos: _________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ Disponibilidade do animal (A): Muito baixa ( ) Baixa ( ) Média ( ) Alta ( ) Está diminuindo? Sim ( ) Não ( ) Não observou ( ) ______________________________________________ Se está diminuindo, por quê?______________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ Petrechos utilizados (Captura)_____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ Melhor horário para captura: Manhã ( ) Tarde ( ) Noite ( ) _________________________________________ 87 1 2 3 4 5 6 7 8 Apêndice B – Animais ou partes de animais registrados na zona rural de Pedro Avelino, RN, Brasil. 1- Raposa (Cerdocyon thous); 2 e 3- Tatupeba (Euphractus sexcinctus); 4 e 5- Prea (Galea spixii); 6- Sapo (Rhinella jimi); 7- Tatu verdadeiro (Dasypus novemcinctus) e 8- Gato do mato (Leopardus tigrinus) Fotos: Eduardo Oliveira 88 9 10 11 12 13 14 15 16 Apêndice B – Continuação. 9- Jiboia (Boa constrictor); 10 e 11- Camaleão (Iguana iguana); 12 e 13- Teju (Tupinambis merianae); 14- Cágado (Phrynops geoffroanus); 15- Guizu de cascavel (Crotalus durissus) e 16- Lagartixa (Tropidurus hispidus) Fotos: Eduardo Oliveira 89 17 18 19 1 20 21 22 23 24 Apêndice B – Continuação. 17- Sariema (Cariama cristata); 18- Concris (Icterus jamacaii); 19- Peiga (Icterus cayanensis); 20- Arribaçã (Zenaida auriculata); 21Gavião (Rupornis magnirostris); 22- Canário (Sicalis flaveola); 23- Asa branca (Patagioenas picazuro) e 24- Periquito (Aratinga cactorum) Fotos: Eduardo Oliveira 90 25 26 27 28 29 30 31 32 Apêndice B – Continuação. 25- Cacão (Cyanocorax cyanopogon); 26- Rolinha (Columbina passerina); 27- Pato do mato (Sarkidiornis sylvicola); 28- Galo de campina (Paroaria dominicana); 29- Moco (Kerodon rupestris); 30- Fura-barreira (Nystalus maculatus); 31- Penas de nambu (Nothura maculosa) e 32- Traira (Hoplias malabaricus) Fotos: Eduardo Oliveira 91 Anexos 92 Anexo A - Área de ocorrência das espécies Mazama gouazoupira (à esquerda) e Rhea americana (à direita), na América do Sul. O círculo em amarelo corresponde à área do presente estudo (município de Pedro Avelino, Rio Grande do Norte, Brasil). Adaptado da IUCN (2011). 93 Anexo B - Área de ocorrência da espécie Tayassu pecari (porco do mato) na América. O círculo em amarelo corresponde à área do presente estudo. Adaptado da IUCN (2011). 94