A Engenharia e a Música Instrumentos de Cordas Equipa 1M3_01: Bruno Miguel Pinto de Almeida Hugo Joel Vieira Nogueira Maria Teresa Santos Aguiar Pedro Miguel Sousa Silva Rafael Sousa Ferro Tiago Daniel da Cunha Rocha A Engenharia e a Música Instrumentos de Cordas Supervisor: Prof. António Monteiro Baptista Equipa 1M3_01: Bruno Miguel Pinto de Almeida Hugo Joel Vieira Nogueira Monitora: Maria Teresa Santos Aguiar Ana Dulce Silva Pedro Miguel Sousa Silva Rafael Sousa Ferro Setembro-Novembro de 2013 Tiago Daniel da Cunha Rocha Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto Resumo Embora a maioria dos textos e livros de física estude as propriedades e a propagação do som, a produção dos sons nos instrumentos musicais não é abordada em profundidade, assim como o papel da engenharia no desenrolar deste processo. Desta forma, há que dar ênfase à tamanha influência da física num processo “simples” como o som de uma guitarra, produzido pela vibração das suas cordas. Ora vejamos, o contributo da física e da engenharia começa desde logo pelos conhecimentos cedidos pela ciência e engenharia dos materiais, que nos dá as respostas para os tipos de materiais a usar para cada instrumento, pela mecânica, no que toca ao funcionamento de um piano, e por outras sub-áreas como é o caso da cinemática, da estática, etc. Assim, neste trabalho, começou-se por fazer uma introdução histórica a cada um dos instrumentos que se julgou de maior interesse, desenvolvendo-se também alguns pontos fulcrais sobre os mesmos, e abordando-se de certa forma o já mencionado papel da engenharia na evolução de cada um deles. Sendo este trabalho de carácter informativo, também se pretende de certa forma alertar quem o leia, especialmente se tocar algum instrumento musical. Pretende-se também evidenciar que para cada boa música que hoje em dia escutamos, houve um trabalho imenso por parte de outros que se interessaram pela relação entre a engenharia e a música e deste modo, fica implícito um apelo á continuação deste trabalho, para que com a curiosidade, criatividade, investigação se torne possível inovar cada vez mais no bom sentido. A Engenharia e a música : Instrumentos de cordas Pág. iii Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto Índice RESUMO ...............................................................................................................................................III 1.INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 1 2.HARPA ................................................................................................................................................ 2 2.1. HISTÓRIA .............................................................................................................................................. 2 2.2. ENGENHARIA E A HARPA .......................................................................................................................... 3 3. VIOLINO ............................................................................................................................................. 6 3.1. HISTÓRIA DO VIOLINO ............................................................................................................................. 6 3.2. MATERIAIS ............................................................................................................................................ 6 3.3. CONSTITUINTES...................................................................................................................................... 6 4. GUITARRA .......................................................................................................................................... 7 4.1. HISTÓRIA DA GUITARRA ........................................................................................................................... 7 4.2. CONSTITUINTES...................................................................................................................................... 9 4.2.1. Guitarra clássica ........................................................................................................................ 9 4.2.2. Guitarra eléctrica ..................................................................................................................... 10 4.3. PROCESSO DE FABRICO .......................................................................................................................... 11 4.4. MODO DE FUNCIONAMENTO .................................................................................................................. 14 5. PIANO .............................................................................................................................................. 16 5.1. HISTÓRIA ............................................................................................................................................ 16 5.2. EVOLUÇÃO .......................................................................................................................................... 17 5.2.1. Pedal de sustentação ............................................................................................................... 17 5.2.2. Estrutura do piano ................................................................................................................... 17 6. IDEIA.M ............................................................................................................................................ 18 6.1. O QUE É? ........................................................................................................................................... 18 6.2. IDEIA.M E A EVOLUÇÃO NA ÁREA DOS INSTRUMENTOS MUSICAIS DE CORDA ..................................................... 18 6.3. VANTAGENS DESTES INSTRUMENTOS ........................................................................................................ 19 7.CONCLUSÕES .................................................................................................................................... 20 8. REFERÊNCIAS DAS IMAGENS ............................................................................................................ 21 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................................ 22 A Engenharia e a música : Instrumentos de cordas Pág. iv Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto 1.Introdução Por forma a satisfazer a proposta feita no âmbito da Unidade Curricular Projeto FEUP, que no geral engloba a Engenharia e a Música, mais concretamente o estudo dos instrumentos de cordas, realizou-se uma pesquisa sobre a história e a evolução que alguns destes instrumentos foram sofrendo com o passar do tempo, e sobre a forma como a engenharia contribuiu para tal, permitindo-nos assim conceber este relatório. Neste relatório dar-se-á prioridade á apresentação de algumas ideias-chave sobre um grupo abrangente de instrumentos que engloba o piano, o violino, a harpa e a família das violas e das cordas em geral, e, mais uma vez, do papel determinante da engenharia neste progresso gradual de evolução de cada um deles. Em suma, abordar-se-ão variados temas desde os materiais que são usados para a construção de cada um dos instrumentos até ao trabalho que uma empresa visitada pela equipa, a Ideia.M, tem vindo a desenvolver nesta área. A Engenharia e a música : Instrumentos de cordas Pág. 1 Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto 2.Harpa 2.1. História A Harpa (Ilustração 1), é o instrumento de cordas conhecido mais antigo da história da humanidade. Este instrumento sempre teve uma forte presença nas diferentes culturas que existiram até hoje, e sempre foi representado como um instrumento nobre e de elevado valor espiritual. Aparece portanto associado a diferentes religiões: na cultura egípcia, o deus Ilustração 1 – Harpa [1] Bes, deus protetor dos lares, tocava harpa; na mitologia celta, surge também a harpa associada ao deus Dagda; e na religião cristã os anjos são também representados a tocar harpas. Apesar de o conhecermos nos dias de hoje como “Harpa” sabe-se que nem sempre teve este nome. Esta denominação provém das culturas nórdicas e a palavra significa “arrancar” ou “puxar” (relativamente às cordas). Foi dado este nome ao instrumento também com o objetivo de diferenciar a harpa triangular da harpa lira, esta segunda mais antiga. Especula-se que a ideia da harpa surgiu quando um caçador se apercebeu do som que o seu arco fazia quando a corda era solta. As primeiras ilustrações de harpas em forma de arco surgem no Egito, à cerca de 5000 anos atrás, em túmulos de faraós (Ilustração 2). No túmulo do faraó Ramsés III Ilustração 2 - Ilustração egípcia de harpistas [2] existem desenhos dessas harpas em forma de arco. O instrumento foi bastante popular também na Mesopotâmia, sendo que uma das suas mais antigas ilustrações foi encontrada num vaso num templo da Babilónia. Estas harpas eram harpas anguladas semelhantes às que surgiram no Egito. A Engenharia e a música : Instrumentos de cordas Pág. 2 Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto As conhecidas liras começaram a aparecer em 2800 a.C. na Suméria (Ilustração 3), e foram descobertas esculturas destas harpas que datam desde 3000 – 2300 a.C. Na Grécia, Pitágoras teve um enorme papel no desenvolvimento da lira, devido às suas descobertas matemáticas que Ilustração 3 - Ilustração das primeiras liras na Suméria [3] ajudaram a compreender e a interpretar matematicamente os intervalos da escala musical. Na Europa ocidental, durante o século IV a lira teve uma fortíssima presença na religião cristã. Era o instrumento preferido para acompanhar os cantos gregorianos dos monges, sendo um dos únicos instrumentos a ser permitido tocar na Igreja Cristã, visto que tambores, trompas e maracas eram considerados instrumentos satânicos. Não se sabe ao certo quem terá desenvolvido o pilar vertical que encontramos nas harpas modernas, mas foi esta invenção que encaminhou a evolução da harpa para a harpa triangular que hoje em dia conhecemos, mas os desenhos mais antigos destas harpas datam o século IX. Esta nova harpa possuía bastantes vantagens em comparação com a lira e resolveu dois problemas que os tocadores de liras enfrentavam. Podia-se agora aumentar a tensão das cordas sem que o instrumento se deformasse, o que facilitou o afinamento da harpa, visto que ao aumentar a tensão de uma corda, as outras não sofriam alterações. Para além disso as harpas podiam agora possuir mais cordas, que com tensões mais fortes produziam um som com melhores volume e tom. [1][2] 2.2. Engenharia e a harpa Os componentes essenciais de uma harpa, e que podem variar o som da mesma, são: - As cordas - A caixa-de-ressonância - O pescoço A Engenharia e a música : Instrumentos de cordas Pág. 3 Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto O princípio de geração de som da harpa é “igual” ao de todos os outros instrumentos de cordas. A partir do momento que uma corda vibra, liberta energia para o ar envolvente, que ira sofrer vibrações ou perturbações até chegar ao nosso ouvido e ate a energia acabar e a corda parar. A combinação das cordas é algo fundamental para conseguirmos o som que desejamos que a harpa produza. Cordas mais finas e mais leves, que vibram com maiores frequências são utilizadas para produzirem tons mais altos, e cordas mais grossas e mais pesadas, com frequências menores, são utilizadas para produzirem tons mais baixos. As primeiras encontram-se situadas mais perto do ombro da harpa e são normalmente feitas partir de intestino, as últimas situam-se perto do pilar anterior e são revestidas com cobre com o interior em seda. Ilustração 4 - Harpa de pedais [4] Para produzirem som as cordas estão presas desde a caixa de ressonância até ao pescoço de forma a que estejam tensas. Podem estar presas directamente, com nós especiais, ou indirectamente, a cravelhas fixas (molas ou anéis ajustáveis). Apesar de só se ter mencionado três componentes principais, existe um outro que a maioria das harpas triangulares também possui, os pedais, representados na Ilustração 4. Muitos tocadores de harpa podem estranhar o facto de se afirmar que os pedais não são um componente totalmente necessário de uma harpa, mas a verdade é que os pedais só surgiram a partir de 1700. A invenção dos pedais na harpa foi um grande marco de evolução. O grande problema que os harpistas enfrentavam, que levou a introdução dos 7 pedais, prendia-se com o facto de cada harpa apenas conseguir produzir sons com a mesma gama de tons. Desta forma, ao pressionar um pedal, o tom da harpa variaria, conseguindo-se com uma única harpa, produzir sons completamente diferentes. Os pedais encontram-se ligados a varetas metálicas que percorrem o interior do pilar anterior até ao topo da harpa. O pedal serve então para mover uma longa tira de aço flexível atada a uma manivela que puxa a corda com a ajuda A Engenharia e a música : Instrumentos de cordas Pág. 4 Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto de uma espécie de gancho. O gancho move-se horizontalmente à medida que os pedais são pressionados, e portanto, é a posição do mesmo que determina o tom do som produzido. Quanto mais tensas estiverem as cordas mais alto será o tom. Desta forma os harpistas passaram a conseguir tocar, numa única harpa, sons que requereriam várias harpas para serem tocados.[3] A Engenharia e a música : Instrumentos de cordas Pág. 5 Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto 3. Violino 3.1. História do Violino O violino derivou de outros instrumentos musicais, tais como a rebec, a vielle e a lyra, por volta do final do século XVI. Outros instrumentos musicais bem mais antigos foram a base deste instrumento. É o caso do nefer egípcio e do r'jenn sien chinês, que remontam a tempos anteriores ao nascimento de Cristo. No ano de 1782 o violino sofreu uma mudança ao nível da sua construção, a passagem do arco de côncavo a convexo. O violino (Ilustração 5) surgiu em Itália, onde foi fabricado durante muitos anos por apenas três famílias (Amati, Guameri e Stradivarius). [4] Ilustração 5 - Violino antigo 3.2. Materiais A construção do violino requer madeira específica, havendo diferença na madeira do tampo superior e inferior do violino. O tampo inferior é constituído por dois tipos de madeira designados bordo e sicômoro, enquanto que o tampo superior é construído a partir da madeira de duas árvores Picea abies e Picea excelsa. A madeira utilizada na construção de um violino necessita de um período de envelhecimento de 8 a 10 anos. [5] 3.3. Constituintes O tampo contém contornos que são marcados, sendo cortados de seguida por uma serra fina. Para dar uma primeira forma ao violino é utilizado um formão, sendo posteriormente utilizado plainas para o aperfeiçoamento deste. O tampo, que aparece na Ilustração 6, caracteriza-se por no seu centro ser escavado, o que permite criar uma pequena inclinação no tampo que afeta o som do violino. Quanto às ilhargas, estas são feitas de madeira de sicômoro, assim como o tampo inferior e têm a função de separar o tampo inferior do superior. São fabricadas através do Ilustração 6 - Violino actual e os seus constituintes aquecimento por contacto com um ferro curvo, tornando-as mais flexíveis.[6] A Engenharia e a música : Instrumentos de cordas Pág. 6 Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto 4. Guitarra 4.1. História da guitarra Hoje em dia, a guitarra é um dos instrumentos de cordas mais famosos e mais utilizados pelo mundo mas nem sempre assumiu a forma que tem atualmente. Surgiu, bem como outros instrumentos de cordas, de instrumentos rudimentares em que se utilizava carapaças de tartaruga como ressoador, uma vara dobrada para o braço e seda ou entranhas de animais para fazer as cordas (Ilustração 7). Cronologia: Há cerca de 5000 anos – Aparecimento dos primeiros instrumentos similares a uma guitarra; Século IX – Introdução da guitarra em Espanha, com uma forma próxima da actual Século XVI – Aparecimento da primeira guitarra com 5 cordas em Itália; Século XVII – Aparecimento da primeira guitarra com 6 cordas; Século XIX - Antonio Torres Jurado dá à guitarra clássica a forma e dimensão que conhecemos hoje; Início século XX – Lloed Loraz, um funcionário da empresa Gibson, realiza as primeiras experiências de guitarras acústicas com microfones adaptados; Anos 30 – Primeira guitarra elétrica ( modelo A-22 também chamada “frying pan”, construída por Rickenbacker); Anos 50 – As empresas Gibson e Fender começam a desenvolver os seus modelos de guitarras de corpo sólido, sendo os modelos mais conhecidos a Fender Telecaster, originalmente chamada Broadcaster (1950), a Gibson Les Paul (1952) e a Fender Stratocaster ( 1954); Atualmente – Hoje em dia, devido aos avanços tecnológicos, têm vindo a ser testados novos materiais com vista à substituição da madeira utilizada no fabrico das guitarras como por exemplo grafite juntamente A Engenharia e a música : Instrumentos de cordas Pág. 7 Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto com resinas, fibras de carbono ( Ilustração 7), fibras de vidro, entre outros. Como podemos ver, a guitarra sofreu imensas alterações passando por mudanças no formato, aumento do número de cordas e até a descoberta de novos tipos de guitarras. As mais conhecidas são a guitarra elétrica, a guitarra clássica e a guitarra acústica. Existem várias diferenças entre elas como por exemplo o tipo de cordas. Nas guitarras clássicas são utilizadas cordas de nylon enquanto nas guitarras elétricas e acústicas são utilizadas cordas de metal. Outra diferença é o facto de a guitarra elétrica ser “muda”, isto é, não possui caixa de ressonância, ao contrário das restantes, e como tal é necessário um amplificador para que se possa ouvir. Para além disso existem certos componentes como os captadores presentes nas guitarras elétricas que não fazem parte da constituição de uma guitarra clássica. Existem ainda outros tipos de guitarra como a guitarra de 12 cordas, a guitarra portuguesa, guitarras com mais do que um braço, entre outras. O desenvolvimento das guitarras continua mas agora com o objectivo de descobrir materiais que possam substituir a madeira, com vista ao enriquecimento do som da guitarra ou à poupança de recursos naturais. [7][8][9][10] Ilustração 7 - Esquerda: Instrumento rudimentar; Direita: guitarra construída em fibra de carbono [7][8] A Engenharia e a música : Instrumentos de cordas Pág. 8 Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto 4.2. Constituintes 4.2.1. Guitarra clássica A guitarra clássica, representada na Ilustração 8, é constituída por um conjunto de 6 cordas com características diferentes, um braço e o corpo no qual se inclui a caixa de ressonância. O braço da guitarra é composto por uma barra maciça e rígida de madeira colada ao corpo. A madeira utilizada normalmente é de um tipo diferente da utilizada no corpo e dá-se preferência a madeiras de grande resistência à tração como por exemplo o mogno. É a parte da guitarra responsável pela fixação de uma das extremidades das cordas. Está ainda dividido em: Cabeça; Pestana; Escala; Trastes; Cravelhame; Elementos decorativos. O corpo é geralmente construído em madeira, embora já existam alguns modelos que recorram a compósitos e tem as funções de caixa de ressonância e de fixação das cordas, sendo constituído por quatro partes: Tampo; Orifício sonoro ou boca; Costas; Ilhargas. O tampo é a principal parte do corpo da guitarra clássica. Como as cordas são fixadas ao tampo, quando elas vibram, todo o tampo vibra. Este efeito é responsável pela maior parte da amplificação acústica. Para facilitar essa vibração, o tampo deve ser construído de uma lâmina fina de uma madeira altamente flexível, mas ainda assim resistente o suficiente para suportar a tração causada pelas cordas. Possui barras de madeira no seu interior o que A Engenharia e a música : Instrumentos de cordas Pág. 9 Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto lhe confere maior rigidez e evita que este vibre descontroladamente. Estas barras são chamadas barras harmónicas e são fundamentais pois permitem a maior amplitude de vibração no tampo sem alterar a qualidade sonora. Aproximadamente no centro do tampo existe uma abertura, a boca, que serve para permitir a passagem do ar em vibração. Abaixo da boca é colado o cavalete, usado para fixar as cordas ao corpo. Este possui furos para a fixação das cordas e sobre ele é montado o pente, uma barra geralmente feita de plástico que serve para apoiar as cordas. [11][12] As guitarras clássicas possuem 6 cordas, sendo as três cordas mais graves constituídas por nylon e cobre e as restantes apenas por nylon. [13] Ilustração 8- Constituintes de uma guitarra clássica atual [9] 4.2.2. Guitarra eléctrica Alguns dos constituintes da guitarra clássica são comuns à guitarra elétrica. No entanto, existem algumas diferenças o que faz com que a sonoridade desta seja diferente, como é possível observar na ilustração 9. As cordas da guitarra elétrica são todas em metal, ao contrário do que acontece na guitarra clássica e o corpo das guitarras elétricas não apresenta A Engenharia e a música : Instrumentos de cordas Pág. 10 Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto caixa de ressonância e por isso, para se ouvir o som é necessário um amplificador. Para produzir som, uma guitarra elétrica sente as vibrações das cordas através de um captador magnético que está colocado no corpo da guitarra e emite um sinal eletrónico para um amplificador e um altifalante.[12][13] Ilustração 9 - Constituintes de uma guitarra elétrica [10] 4.3. Processo de fabrico O processo da construção da guitarra começa pelo tampo. Este é construído partindo de duas placas de madeira que são aparadas de forma a encostarem de uma forma perfeita uma na outra sendo coladas uma à outra posteriormente. As duas placas são prensadas através de cordas e talas de madeira de forma a exercer força sobre elas durante o tempo de secagem da cola. Depois deste processo, o tampo é lixado de forma a não se notar a zona de colagem das duas placas e na placa resultante vai ser desenhada a forma do corpo da guitarra. De seguida, corta-se a placa com a ajuda de uma serra e daí resulta o tampo com a forma desejada. Mais tarde, acerta-se a espessura com uma lixadeira até que o tampo tenha uma espessura de cerca de 3 mm. O A Engenharia e a música : Instrumentos de cordas Pág. 11 Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto próximo passo será a abertura do orifício da boca. Com o compasso metálico desenha-se a forma da boca e abre-se um pequeno furo na madeira por onde vai entrar a serra elétrica que vai fazer a abertura do orifício. Depois inicia-se o trabalho no braço da guitarra (Ilustração 11). Este começa por ser um bloco de madeira que é cortado até ter o formato pretendido e apresenta uma ligeira inclinação no topo, que irá dar origem à cabeça, e à alpatilha na parte inferior do braço (parte que irá ser colada no interior da caixa de ressonância). Antes de se colar o braço no tampo, colocam-se as barras harmónicas, podendo estas ser colocadas das maneiras representadas na Ilustração 10: Ilustração 10 - Modelos da posição das barras harmónicas [11] Nesta altura começa-se a trabalhar nas ilhargas, que têm a espessura de 2 mm mas depois de trabalhadas ficam com 1,5 mm de espessura. As ilhargas são acertadas no tamanho, lixadas e dobradas através de calor, utilizando o Farol (espécie de um forno que aquece as paredes de um tubo metálico onde vão ser dobradas as ilhargas), de modo a encaixarem na forma do molde e no tampo. Depois das ilhargas dobradas é necessário atá-las rapidamente com cordas para estas não perderem a forma que lhes foi dada enquanto arrefecem. Para reforçar a colagem das ilhargas ao tampo, colam-se uns pequenos triângulos de madeira e colam-se as ilhargas ao tampo. Entretanto constroem-se as sanefas que são barras finas de madeira macia A Engenharia e a música : Instrumentos de cordas Pág. 12 Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto que vão ser coladas nas ilhargas e vão servir de suporte às costas da guitarra e as travessas que são umas barras de madeira que vão reforçar a escala e a boca da guitarra. Nesta altura começa-se a construção das costas da guitarra. O processo é idêntico ao do tampo. Na parte que fica dentro da caixa de ressonância encontra-se o malhete, que é uma tira que reforça a junção entre as duas placas que formam as costas. De seguida desenha-se a forma da caixa na placa de madeira, corta-se, lixam-se as costas acertando a espessura da madeira e cola-se as costas à caixa. Depois, cola-se a escala ao braço e utilizam-se cordas e cunhas de madeira para facilitar a colagem. A escala terá que ser desempenada, mas terá que ficar com uma ligeira curva que depois se endireita quando se colocarem os trastes devido à pressão que estes exercem sobre a escala. Depois de marcada a localização dos trastes, afundam-se as ranhuras utilizando uma pequena serra manual. Os trastes são provenientes de um longo fio de metal e são encaixados à pressão utilizando-se um martelo. Depois de colocados os trastes, são cortados e limados para evitar ranhuras indesejáveis. Em seguida abrem-se uns orifícios na parte lateral superior da escala com um furador para se colocar os pontos, no 3º, 5º, 7º, 10º e 12º espaços. Depois de serem introduzidos, são cortados e lixados. Em seguida coloca-se a pestana. Esta, antes de ser colada, é cortada, lixada e abrem-se seis ranhuras por onde vão passar as cordas. Finalmente aplica-se o verniz, colocam-se os cravelhames e as cordas.Este é um processo mais artesanal que agora é utilizado por poucas marcas. O processo industrial difere nas ferramentas utilizadas e na forma como o desenho é feito. No fabrico industrial são desenhados modelos em 3D das guitarras através do desenho assistido por computador (CAD) (Ilustração 11) e utilizam-se máquinas mais sofisticadas para a realização dos processos de maquinagem. Quanto às guitarras elétricas, o processo de fabrico também é semelhante.[16] A Engenharia e a música : Instrumentos de cordas Pág. 13 Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto Ilustração 11- Esquerda : Construção artesanal do braço de uma guitarra clássica; Direita: Modelo 3D de uma guitarra acústica [12][13] 4.4. Modo de funcionamento A guitarra é tocada puxando as cordas para um lado e soltando-as em seguida, originando o seu movimento vibratório. Embora a amplitude de vibração seja grande, o som radiado é pouco, devido à pequena área da secção transversal das cordas. No entanto, devido à existência de uma caixa de ressonância, no que diz respeito às guitarras clássicas e à ligação da guitarra a um amplificador no que diz respeito às guitarras elétricas faz com que o som tenha um volume aceitável. A vibração das cordas depende de vários factores entre os quais: o comprimento da corda a tensão da corda a espessura da corda a elasticidade do material da corda Numa guitarra existem cordas com espessuras de tamanhos diferentes. A espessura também é conhecida como calibre da corda. A primeira corda é a mais fina e a sexta é a mais grossa. Quando se pressiona a corda num dos espaços da escala, o comprimento desta corda muda. Consequentemente, a frequência que ela emite ao vibrar também muda.[14][15][16] A Engenharia e a música : Instrumentos de cordas Pág. 14 Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto A afinação mais comum é a representada na tabela 1 e na ilustração 12. Tabela 1- Afinação mais comum da guitarra Notas Corda Classificação portuguesa Classificação Inglesa 1ª Mi E 2ª Si B 3ª Sol G 4ª Ré D 5ª Lá A 6ª Mi E Ilustração 12- Diagrama da disposição das cordas e afinação mais comum [14] A Engenharia e a música : Instrumentos de cordas Pág. 15 Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto 5. Piano 5.1. História O piano é um dos mais importantes instrumentos de cordas. De todos os instrumentos, é aquele para o qual há maior número de obras escritas e, apesar de nos encontrarmos na era da música, continua a ser a ferramenta central da maioria das composições musicais. Este instrumento consiste num sistema mecânico em teclas que, quando tocadas, levam ao movimento de um martelo que vai bater numa corda que, por sua vez, vibra produzindo sons de diferentes frequências. Foi precedido por outros semelhantes como o dulcimer, o clavicórdio, a espineta e o harpsichord, desenvolvidos a partir do século XIV. Porém, todos eles tinham o problema de não poder ser bem controlada a dinâmica – a intensidade maior ou menor com que era projetado o som – e de a mesma intensidade não ser suficiente para que o instrumento fosse tocado nas salas de espetáculos de dimensões cada vez maiores, devido à procura e gosto crescentes pela música. Em diferentes locais do mundo, como na Alemanha, França e Itália, começaram a surgir, no século XVIII, projetos de novos instrumentos que viriam solucionar os problemas da intensidade, já com o sistema de martelos que perdura até hoje. Porém, a primeira Ilustração 13 - Piano de Cristofori [15] construção pertence ao italiano Bartolomeo Cristofori que, em 1709, materializou o seu projeto dando origem ao primeiro gravicembalo col piano e forte – piano, a palavra italiana para suave, e forte, o antónimo – pois permitia uma elevada dinâmica bem como um som muito intenso (Ilustração 13). A solução deste problema deveu-se à invenção do mecanismo de escape, que faz com que o martelo bata na corda afastando-se rapidamente a seguir, sem a continuar a tocar, de modo a não abafar o som e a permitir tocar várias notas seguidas e A Engenharia e a música : Instrumentos de cordas Pág. 16 Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto pouco espaçadas. O nome do instrumento foi mais tarde abreviado para pianoforte e, posteriormente, para piano. Apesar de o piano atual se assemelhar em muitos aspetos ao de Cristofori, em 300 anos de história este instrumento sofreu várias evoluções significativas. 5.2. Evolução A evolução do piano relaciona-se essencialmente com o desenvolvimento de novos mecanismos, a utilização de diferentes materiais e a adição de novas peças e constituintes que viessem melhorar a longevidade do instrumento e a qualidade e intensidade do som. 5.2.1. Pedal de sustentação Por volta de 1730, o alemão Gottfried Silbermann inventou o pedal de sustentação que permitia levantar os abafadores de som de todas as cordas ao mesmo tempo prolongando a duração do som e dando a opção de tocar notas diferentes como um contínuo (legato), o som produzido também é mais rico pois as cordas vibram simpateticamente. O piano de Cristofori possuía um mecanismo com o mesmo objectivo, no entanto, era muito menos eficaz. O mecanismo criado por Silbermann continua a ser utilizado. 5.2.2. Estrutura do piano A partir de 1840 começou a ser incorporado ferro e aço em vários partes da estrutura do piano que permitiam sustentar cada vez mais cordas – as 5 oitavas iniciais comparadas com as 1/3 iniciais (ou mais) – e cada vez mais fortes, também elas feitas de aço. A Engenharia e a música : Instrumentos de cordas Pág. 17 Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto 6. Ideia.M 6.1. O que é? A Ideia.M, cujo logótipo se encontra representado na Ilustração 14, é uma plataforma de desenvolvimento multidisciplinar que envolve engenheiros, designers, técnicos e colaboradores de diferentes áreas do conhecimento, o que permite desenvolver projetos em áreas e escalas completamente diferentes. Esta empresa está sediada no edifício da UPTEC e tem vindo a desenvolver projetos em áreas como aeronáutica ultraligeira, veículos autónomos aéreos, terrestres e submarinos, dispositivos para química analítica, equipamento laboratorial, energias renováveis, equipamentos domésticos, veículos urbanos até instrumentos musicais. [17][18] Ilustração 14 - Logótipo da empresa Ideia.M [16] 6.2. Ideia.M e a evolução na área dos instrumentos musicais de corda Esta empresa trabalha com a marca AVA Guitars (Ilustração 15), uma companhia de guitarras que fabrica instrumentos para músicos profissionais, combinando o design, com materiais e tecnologias avançadas. Assim as últimas guitarras da sua linha de produção são constituídas por polímeros reforçados com fibras de carbono, o que representa um progresso impressionante nesta área. Embora os principais avanços estejam a ser dados nas guitarras elétricas este gabinete de design e fabrico também já desenvolveu outros instrumentos como o violino e a guitarra clássica. [18] A Engenharia e a música : Instrumentos de cordas Pág. 18 Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto Ilustração 15- Logótipo da empresa AVA guitars [17] 6.3. Vantagens destes instrumentos Estas guitarras de fibra de carbono oferecem aos músicos altos padrões de qualidade, destacando-se o facto de serem muito leves e resistentes, oferecendo um tom rico e uma afinação estável. Cada vez mais existem marcas a apostar nestes materiais o que possibilitará um contínuo desenvolvimento da área e um conhecimento cada vez maior da relação entre os materiais utilizados na construção de um dado instrumento e o som produzido por ele.[19] A Engenharia e a música : Instrumentos de cordas Pág. 19 Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto 7.Conclusões Durante a realização deste trabalho fomo-nos apercebendo principalmente de duas coisas. A primeira é que a engenharia é uma ciência em constante evolução e a segunda é que está associada a praticamente tudo o que nos rodeia. Vale a pena enfatizar o progresso extraordinário da engenharia em relativamente pouco tempo. Se por um lado ficamos perplexos pelo que já foi feito, por outro cada vez mais temos vontade e curiosidade de inovar, de contribuir de certa forma para o avanço da ciência e do mundo. E se isto nos espanta, falaremos da segunda conclusão, do envolvimento que a engenharia mantém com quase tudo. E aqui não falamos apenas da música, que é o tema central do nosso trabalho, mas também de um vasto conjunto de áreas como o desporto e a medicina. E isto leva-nos a uma terceira conclusão, que reflecte sobre o facto de a evolução estar intrinsecamente relacionada com a coligação entre várias áreas. A Engenharia e a música : Instrumentos de cordas Pág. 20 Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto 8. Referências das Imagens [1] http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/4e/Harp.png [2] http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f1/Maler_der_Grabkammer_de s_Nacht_004.jpg [3] http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/9b/Music_lesson_Staatliche_ Antikensammlungen_2421.jpg [4] http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f6/Harpist_playing.jpg [5] http://nathaliagoos.blogspot.pt/2010/10/o-violino.html) [6] http://nathaliagoos.blogspot.pt/2010/10/o-violino.html [7] https://sites.google.com/site/historyofguitarthesmyttenone/beforetheguitar [8] http://guitarnoize.com/ava-one-carbon-fiber-guitar/ [9] http://paginas.fe.up.pt/~ideiam/t.guitarra.htm http://guitarra99.blogspot.pt/2013/08/tunando-uma-guitarra-sx-guiadefinitivo.html [10] [11] http://guitarraclassica.no.sapo.pt/construcao.htm [12] http://guitarraclassica.no.sapo.pt/construcao.htm [13] http://www.turbosquid.com/3d-models/3d-model-fully-acoustic-guitar/439150 http://www.cursodeviolaogratis.com.br/conteudo/aulas-gratis-email/aprendaler-tablaturas-e-faca-solos-incriveis.html [14] [15] http://perlbal.hi-pi.com/blog-images/615264/gd/1273723419/Piano- contruido-por-Cristofori-1720.jpg [16] http://www.ideiam.com/iden/?page_id=9 [17] http://www.ideiam.com/iden/?page_id=9 A Engenharia e a música : Instrumentos de cordas Pág. 21 Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto 9. Referências Bibliográficas [1] Vardy, Alison. http://www.alisonvardy.com/harp-info/celtic-harp-history.htm. [2] Penido, Marcelo. http://www.marcelopenido.mus.br/index.htm. [3] https://illumin.usc.edu/printer/106/the-harp-engineering-the-perfect-sound/. [4] http://www.historiadetudo.com/violino.html [5] http://www.franksviolinos.com.br/Violinos-Noticias/Franks-Violinos/construco-do-violino.html [6] http://www.franksviolinos.com.br/Violinos-Noticias/Franks-Violinos/construco-do-violino.html [7] Silva, Artur. Manual De Guitarra - Nível 1. artursilva.com.sapo.pt/manual_guitarra_1.pdf. [8] Guy, Paul. http://www.guyguitars.com/eng/handbook/BriefHistory.html. [9] Cabrero, Adolfo Garcia. http://www.slideshare.net/smyr2010adolfogarcia/laguitarra-4079813. [10] http://www.hourneaux.com/artigostecnicos_historia.html [11] http://paginas.fe.up.pt/~ideiam/t.guitarra.htm [12] http://paginas.fe.up.pt/~ideiam/Poster%20FINAL.pdf [13] http://guitarraclassica.no.sapo.pt/pagina1.htm [14] http://lazer.hsw.uol.com.br/violao4.htm [15] http://lazer.hsw.uol.com.br/guitarras-eletricas.htm [16] http://guitarraclassica.no.sapo.pt/construcao.htm [17] http://uptec.up.pt/empresa/ideiam [18] http://www.ideiam.com/iden/?page_id=9 [19] http://www.avaguitars.com/ A Engenharia e a música : Instrumentos de cordas Pág. 22