Vou escrever nesse Blog sobre a teoria de cordas e começar respondendo à pergunta: Henrique Boschi IF-UFRJ Grupo de Física Teórica O que é a Teoria de Cordas? A teoria de cordas (ou supercordas) é uma teoria que pressupõe que todas as partículas subatômicas que observamos direta ou indiretamente nos aceleradores, como o LHC na fronteira da Suíça com a França, são excitações de uma mesma corda fundamental. A corda por definição é um objeto unidimensional, ou seja, tem um comprimento, ao contrário das partículas elementares, como o elétron ou os quarks, que são supostos puntiformes, isto é, sem tamanho algum. O fato das partículas elementares serem interpretadas como excitações de uma corda é semelhante à relação entre uma corda de um violão e as notas musicais que ela pode gerar. Dependendo de como a corda do violão é tocada, diferentes sons são emitidos. Assim, dependendo de como a supercorda é excitada surgem diferentes partículas subatômicas. Por que chamamos a corda fundamental de supercorda? Na natureza encontramos partículas de spin inteiro (0, 1, 2, ...) ou semi-inteiro (1/2, 3/2, ...). O elétron, o próton e o nêutron, por exemplo, tem spin 1/2. Já o fóton, os glúons (os responsáveis pela interação nuclear forte), o W+, o W- e o Z (responsáveis pela interação nuclear fraca) tem spin 1. O gráviton (o quantum da gravitação, se existir) deve ter spin 2. As partículas de spin inteiro são chamadas bósons, em homenagem ao físico indiano Satyendra Nath Bose, que primeiro descreveu o comportamento dessas partículas. Já as partículas de spin semi-inteiro são chamadas férmions, em homenagem ao físico italiano Enrico Fermi, também por sua contribuição à compreensão do comportamento dessas partículas. Os bósons e férmions são muito diferentes entre si, pois podemos reunir muitos bósons num mesmo estado quântico, enquanto que somente um único férmion pode ocupar um estado quântico. Assim podemos facilmente distinguir esses dois tipos de partículas, que todavia podem interagir entre si. Por exemplo, um elétron e um próton por possuirem cargas elétricas interagem entre si através da troca de fótons, que são as partículas responsáveis pela interação eletromagnética. Na teoria de cordas existe uma relação profunda entre os bósons e os férmions, a chamada supersimetria, daí o nome supercorda. A supersimetria pode ser pensada como uma transformação que leva um bóson em um férmion, e vice-versa. Uma corda cujas excitações podem ser tanto bósons quanto férmions é chamada de supercorda. Historicamente, a teoria original das cordas propunha uma corda que só tinha como excitações partículas de spin inteiro, isto é, bósons, e portanto é chamada de corda bosônica. Como na natureza encontramos tanto bósons quanto férmions, concluímos que a teoria de cordas apropriada para descrever todos os tipos de partículas que conhecemos é a teoria de supercordas. Em quantas dimensões vive uma corda ou uma supercorda? No mundo como o percebemos, podemos identificar três dimensões espaciais e uma dimensão temporal. Pode parecer estranho dizer que o tempo tem uma dimensão. De fato, de acordo com a descrição de Isaac Newton, o espaço e o tempo são entidades completamente distintas. Mas de acordo com a Teoria da Relatividade, de Albert Einstein, espaço e tempo formam uma única entidade chamada espaço-tempo. Daí porque dizer que o tempo tem uma dimensão, já que um número é suficiente para determinar um instante de tempo. A teoria de cordas é uma teoria quântica e relativística e portanto definida num certo espaçotempo. As teorias quânticas, em geral, são descritas por equações semelhantes às equações clássicas e subsequentemente são quantizadas, o que significa dizer que os sistemas quânticos guardam certas propriedades comuns aos sistemas clássicos, mas adquirem também novas propriedades só encontradas em sistemas quânticos. Esse processo de levar uma teoria clássica em uma outra quântica é chamado de quantização. Isso ocorre com muitas teorias, como por exemplo o eletromagnetismo clássico, que uma vez quantizado se chama de eletrodinâmica quântica (EDQ - ou QED na sigla em inglês), uma das teorias mais bem sucedidas da Física. Acontece que ao quantizar uma corda podem surgir inconsistências que estragariam algumas de suas propriedades básicas, chamadas simetrias. Para evitar essas inconsistências somos levados a fixar a dimensão do espaço-tempo onde vivem as cordas e as supercordas. No caso da corda bosônica, o espaço-tempo tem que ter dimensão 26 (25 espaciais e uma temporal), enquanto que a supercorda vive em 10 dimensões do espaçotempo (9 dimensões espaciais e uma temporal). No próximo Blog, volto a escrever sobre as cordas. Até lá.