XXV CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA
ZOOTEC 2015
Dimensões Tecnológicas e Sociais da Zootecnia
Fortaleza – CE, 27 a 29 de maio de 2015
MINICURSO SOBRE DIVISÃO DE COLÔNIAS EM MELIPONICULTURA
Luiz Wilson Lima-Verde11
Epifânia Emanuela de Macêdo Rocha22
Jânio Angelo Felix33
INTRODUÇÃO
As abelhas sem ferrão são espécies de Apídeos com distribuição restrita às regiões tropicais e
subtropicais do planeta. Com cerca de 400 espécies registradas, das quais a maioria ocorrente nas Américas,
desde o México ao norte da Argentina, também ocorrem na África, no sudoeste da Ásia e na Austrália
(CAMARGO & PEDRO, 2007).
A domesticação dessas espécies na América tropical vem desde o período pré-hispânico, quando já
eram exploradas pelos povos maias e astecas com o uso de técnicas de manejo (CRANE, 1992; ACERETO
& FREITAS, 2005; VILLANUEVA-GUTIÉRREZ, 2005). Em território brasileiro, Kerr (1987) sugere que
houve domesticação de algumas espécies por alguns povos indígenas locais, destacando-se entre elas
Melipona scutellaris (uruçu-do-nordeste) e M. compressipes fasciculata (tiuba).
A criação de abelhas indígenas sem ferrão teve a denominação de “meliponicultura” pelo Professor
Nogueira-Neto (1953) em alusão à subfamília Meliponinae. Tomando grande impulso nas últimas duas
décadas, como uma atividade rural emergente, principalmente nas regiões Nordeste e Norte do Brasil, vem
evidenciando resultados positivos para a economia de famílias de baixa renda (KERR, 1987; KERR et al.,
2001; VENTURIERI et al., 2003; AQUINO, 2006)
Como agentes polinizadores de plantas silvestres, os meliponíneos são de grande importância para os
ecossistemas brasileiros e algumas espécies já vêm sendo utilizadas experimentalmente na polinização de
culturas a céu aberto e, em casas de vegetação, no cultivo de pimentão e tomate (LORENZON et al., 2003;
CRUZ et al.; 2004; ALVES & FREITAS, 2006; MACHADO & CARVALHO, 2006).
O principal produto da meliponicultura é o mel, que além de ser de primeira qualidade, alcança,
muitas vezes, cotações que variam de duas a seis vezes o valor do mel da Apis mellifera (KERR, 1987;
AIDAR, 1996; KERR et al. 1996; NOGUEIRA-NETO, 1997; IMPERATRIZ-FONSECA et al., 2001;
VENTURIERI, 2004). Ao longo desses cinco séculos de ocupação do nosso território, esse produto tem sido
bastante utilizado pelas populações rurais, principalmente com fins medicinais. Essas espécies também
produzem pólen, própolis e cera em grande quantidade, produtos ainda pouco aproveitados, tanto pelas
comunidades locais, quanto comercialmente.
As perspectivas da meliponicultura para regiões, como a nordestina e a amazônica são promissoras,
sobretudo por esta se caracterizar como uma atividade possível de ser introduzida facilmente junto aos
pequenos e médios produtores rurais, tanto pela facilidade de manejo das colônias e pela viabilidade de
implantação de projetos a baixos custos, quanto pela possibilidade de obtenção de produtos diferenciados e
exclusivos, cujas características de produção os inserem na classificação de orgânicos. Neste contexto,
contudo, faz-se necessário o uso de técnicas modernas de manejo, das quais se destaca como uma das
principais a divisão de colônias como meio de multiplicar o plantel do meliponicultor sem agredir o meio
ambiente.
1
Engº Agrônomo. Doutor em Zootecnia, Departamento de Zootecnia, Universidade Federal do Ceará.
[email protected]
2
Zootecnista. Doutoranda em Zootecnia, Departamento de Zootecnia, Universidade Federal do Ceará.
[email protected]
3
Zootecnista. Doutorando em Zootecnia, Departamento de Zootecnia, Universidade Federal do Ceará.
[email protected]
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ALGUNS ASPÉCTOS DA DIVISÃO DE COLÔNIAS DE ABELHAS SEM FERRÃO
Para a melhor compreensão dos procedimentos de divisão de colônias de meliponíneos utilizaremos
aqui a classificação taxonômica que divide a subfamília Apinae em duas subtribos: Meliponini, com apenas o
gênero Melipona, englobando as espécies que não constroem células reais, e Trigonini, que agrupa os demais
gêneros constituídos pelas espécies produtoras de células reais.
A produção de rainhas difere, portanto, entre os grupos das Trigonas sensu lato e das Melíponas. As
primeiras, com algumas exceções, constroem células reais ou realeiras, que são células maiores, geralmente
na periferia dos favos de crias, onde se desenvolvem as rainhas. Nesse grupo, o fator que determina
basicamente o desenvolvimento das larvas em rainhas é a quantidade de alimento posto à disposição da larva.
Nas espécies de Melipona não há produção de realeiras, mas, ocorre uma interação de fatores de ordem
genética e alimentar na diferenciação das larvas em rainhas. Neste caso, apenas partes das larvas fêmeas
produzidas possuem potencial genético para se tornarem rainhas e, para que isso aconteça, a quantidade de
alimento que elas receberão não poderá ser inferior a um valor mínimo, variável em função de cada espécie.
Larvas que, mesmo tendo genótipo de rainhas, mas não receberam alimento suficiente transformar-se-ão em
operárias. A longevidade média das rainhas nas espécies de potencial zootécnico está em torno de dois anos
(KERR, W. E. et al., 1996; KERR & NIELSEN, 1966).
A divisão de colônias constitui, hoje, para o meliponicultor, a forma mais conveniente de ampliar o
número de colônias do meliponário. Esse procedimento só deverá ser efetuado quando as colônias estiverem
bastante fortes e quando constatarmos, no caso do grupo dos Meliponini, a presença de realeiras. Essas
características geralmente estão associadas aos períodos reprodutivos de cada espécie. Diversos são os
métodos de divisão de colônias (KERR, et al., 1996; NOGUEIRA-NETO, 1997; AIDAR, 1996; OLIVEIRA
& KERR, 2000; CARVALHO et al., 2003), mas, o processo mais comum e mais antigo é a divisão meio a
meio, onde metade de cada elemento da colônia (crias e potes de mel e pólen) é posta na nova colmeia. Após
a divisão, a colmeia-filha permanece no local da colmeia-mãe e esta é deslocada para outro local. Trata-se de
uma metodologia bastante agressiva para as colônias.
Modernamente dispomos do “método de perturbação mínima” (OLIVEIRA & KERR, 2000) que,
embora a divisão seja meio a meio, é pouco agressiva, pois, o modelo de colmeia dispõe de um sobre ninho
(alça de divisão) que facilita a separação das crias. Neste processo havendo duas melgueiras completas de
alimentos coloca-se uma na colmeia-filha.
A formação de novas colônias também poderá ser efetuada através do uso de mais de duas colônias
matrizes, havendo a possibilidade de utilizarmos algumas combinações, como por exemplo: de uma
utilizamos as crias, de outra os alimentos e, de uma outra as abelhas adultas e o local. Como podemos
perceber, na formação de uma nova colônia com a utilização de mais de duas matrizes doadoras será possível
reduzirmos, ainda mais, o impacto sobre estas.
Nesses dois métodos também é aconselhável que observemos em qual das colmeias permaneceu a
rainha, a fim de podermos avaliar o desenvolvimento das duas colônias.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Todas essas abelhas têm um papel fundamental como polinizadores das espécies vegetais nativas,
trazendo como consequência a manutenção do equilíbrio ecológico.
De outra forma mais direcionada, a utilização de colônias de algumas espécies para as práticas de
polinização de culturas agrícolas também já se revela como uma realidade promissora para os
melionicultores.
Neste contexto e no aproveitamento dos seus produtos diretos, a meliponicultura praticada através de
um manejo racional pode trazer perspectivas de complementação de renda para os pequenos e médios
produtores rurais das várias regiões brasileiras. Os produtos finais dessa atividade são saudáveis e, se bem
manipulados, servirão tanto para os consumidores locais e itinerantes, quanto para os de outras localidades.
A possibilidade do aproveitamento dos produtos das abelhas, levando-se em conta os potenciais
turísticos de muitos municípios, deverá ser uma das metas proposta no âmbito da comercialização.
Além do mel, o pólen, a própolis e a cera também têm potencial para o consumo local e para a venda
no comércio regional.
Outra grande fatia que essa atividade disponibiliza é a venda de colônias oriundas de divisão artificial.
Esta técnica deverá ser incentivada entre os meliponicultores para que ocorra uma expansão sadia e eficiente
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de criatórios racionais, haja vista que, com isso estarão sendo evitados os transtornos ecológicos causados
pelas práticas extrativistas de coletas de colônias nos seus habitats.
As espécies de abelhas sem ferrão que já veem sendo exploradas não são, ainda, bem conhecidas
quanto a seu potencial de exploração. A carência de estudos mais aprofundados em áreas como as
relacionadas às interações das abelhas com os seus respectivos ambientes de ocorrência e com os recursos
alimentares inerentes, constitui um fator limitante para alcançarmos melhores resultados de produção. Outras
espécies, nem se quer foram devidamente avaliadas, permanecendo afastadas dos criatórios porque não
dispomos de conhecimentos mais aprimorados em relação ao manejo da criação.
REFERÊNCIAS
ACERETO, J.A.G.; FREITAS, C.A. Manual de meliponicultura mexicana. Merida: Universidad
Autónoma de Yucatan, 2005. 46p.
AIDAR, D.S. A mandaçaia – biologia de abelhas, manejo e multiplicação artificial de colônias de
Melipona quadrifasciata Lep. (Hymenoptera, Apidae, Meliponinae). Ribeirão Preto: Editora F.C.A.,
1996. 103p.
ALVES, J.E.; FREITAS, B.M. Comportamento de pastejo e eficiência de polinização de cinco espécies de
abelhas em flores de goiabeira (Psidium guajava L.). Ciência Agronômica v.37, p.216-220, 2006.
AQUINO, I. S. Abelhas nativas da Paraíba. João Pessoa: Editora Universitária /UFPB, 2006. 91p.
CAMARGO, J.M.F.; PEDRO, S.R.M. Systematics, phylogeny and biogeography of the Meliponinae
(Hymenoptera, Apidae): a mini-review. Apidologie v.23, p.509-522, 1992.
CARVALHO, C.A.L. et al.. Criação de abelhas sem ferrão: aspectos práticos. Cruz das Almas:
Universidade Federal da Bahia/SEAGRI-BA (Série Meliponicultura 1), 2003. 42p.
CRANE, E. The past and present status of beekeeping with stingless bees. Bee World v.73, n.1, p.29-42,
1992.
CRUZ, D.O. et al. Adaptação e comportamento de pastejo da abelha jandaíra (Melipona subnitida Ducke)
em ambiente protegido. Acta Scientiarum Animal Sciences v.26, n.3, p.293-298, 2004.
IMPERATRIZ-FONSECA, V.L. et al. A abelha jandaíra e sua criação. São Paulo: PPP/ADEMASP, 2001.
22p.
KERR, W. E. Biologia, manejo e genética de Melipona compressipes fasciculata Smith (Hymenoptera:
Apidae). 1987. Tese (Professor Titular) – Universidade Federal do Maranhão, São Luis, 1987.
KERR, W.E. et al. A abelha uruçu, biologia, manejo e conservação. Belo Horizonte: Fundação Acangaú,
1996. 143p.
KERR, W.E. et al. Aspectos pouco mencionados da biodiversidade amazônica. Parcerias Estratégicas,
v.12, p.20-41, 2001.
KERR, W.E.; NIELSEN, R.A. Evidences that genetically determined Melipona queens can became workers.
Genetics, v.54, n.3, p.859-866, 1966.
LORENZON, M.C.A. et al. Flora visitada pelas abelhas eussociais (Hymenoptera, Apidae) na serra da
Capivara, em caatinga do Sul do Piauí. Neotropical Entomology, v.32, n.1, p.27-36, 2003.
MACHADO, C.S.; CARVALHO, C.A.L. Abelhas (Hymenoptera, Apoidea) visitantes dos capítulos de
girassol no Recôncavo Baiano. Ciência Rural, v.36, n.5, p.1404-1409, 2006.
NOGUEIRA-NETO, P. A criação de abelhas indígenas sem ferrão (Meliponinae). São Paulo: Chácaras e
Quintais, 1953. 280p.
NOGUEIRA-NETO, P. Vida e criação de abelhas indígenas sem ferrão. São Paulo: Nogueirapis, 1997.
446p.
OLIVEIRA, F.; KERR, W.E. Divisão de uma colônia de japurá (Melipona compressipes manaosensis)
usando-se uma colméia e o método de Fernando Oliveira, Manaus-AM. Manaus: INPA/MCT, 2000. 10p.
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VENTURIERI, G.C. A criação de abelhas indígenas sem ferrão. Belém: Embrapa Amazônia Oriental,
2004. 36p.
VENTURIERI, G.C. et al. Avaliação da introdução da criação racional de Melipona fasciculata (Apidae:
Meliponina), entre os agricultores familiares de Bragança-PA, Brasil. Biota Neotrópica, v.3, n.2, p.1-7,
2003.
VILLANUEVA-GUTIÉRREZ, R. et al. Crianza y manejo de la abeja xunancab en la Península de
Yucatán. México: ECOSUR, 2005. 35p.
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