Formar Voluntários – Voluntariado Social A formação melhora o desempenho e a motivação e incentiva o espírito de pertença. Hoje os voluntários não dispensam a formação. A formação de voluntários é um processo em permanente evolução e transformação que nunca deverá ser esquecida quando se aborda o tema do voluntariado. A formação constitui assim, uma análise e uma introspecção sobre os seus próprios saberes e um alargamento dos seus horizontes que conduzirão, eventualmente, à transformação de ideias e de atitudes. O processo de formação - é um processo educativo através do qual se promove um intercâmbio de aprendizagem e onde o voluntário inicia e realiza, de forma estável e contínua, uma formação que visa s melhoria da qualidade da sua acção, capacitando-a e habilitando-o a uma maior competência humana e cívica. Cada organização e cada grupo elaborará o seu diagnóstico de formação, que deverá estar adequado aos princípios, finalidades, aspirações e objectivos da organização e do grupo de voluntários a que se destina a acção. Cada programa de formação deverá estar ajustado à realidade operacional da organização, à realidade temporal e espacial da acção, tentando responder com os conteúdos formativos às questões que a actuação e o desempenho do voluntário colocam, potenciando-os como instrumento de solidariedade e desenvolvimento. A formação é um método de trabalho de investigação no qual o objecto da investigação se constrói na relação entre voluntários e cidadãos directamente implicados. A formação é o processo de procura de uma mais valia que aumenta e promove a eficácia das organizações, ao mesmo tempo que confere uma maior segurança humana e de qualidade na prestação do trabalho voluntário. Objectivos da formação – Formar voluntários é garantir aos cidadãos e às organizações a existência de participantes activos na melhoria da qualidade de vida das populações mais fragilizadas, capazes de operar mudança e incentivar a um diálogo permanente com a realidade económica, social e cultural. O conceito de preparação integral, implica uma formação constante e permanente de capacitação para o desempenho individual e organizacional e deverá desenrolar-se a três níveis: - do conhecimento - o saber - da capacitação – o saber fazer - das atitudes – o ser No primeiro nível, o voluntário adquire, fundamentalmente, através da formação, o conhecimento da realidade social onde opera, das suas desigualdades, problemas e recursos, bem como da organização em que está inserido No segundo nível, a formação permitirá ao voluntário, entre outras, a aquisição de hábitos de participação na organização, nas actividades e na comunidade envolvente, iinteragindo com outros intervenientes. No terceiro nível, o objectivo da formação será essencialmente o aprofundamento de uma consciência crítica, das suas motivações e um reforço das suas atitudes de complementaridade e empenho em projectos de acção social. Promover a formação de voluntários representa já, por si só, um objectivo de sensibilização social que lhes permitirá um desempenho cada vez mais crítico e criativo no tecido social. A formação deverá estar orientada para: 1. O crescimento pessoal do voluntário; 2. A coesão dos membros da organização, a fim de se conseguir uma boa dinâmica interna; 3. O conhecimento e a compreensão da realidade sobre a qual se vai intervir; 4. A execução eficaz das tarefas de intervenção (conhecimento das técnicas a utilizar em cada programa em concreto, para cada destinatário); 5. A organização, a gestão e o funcionamento da instituição; 6. A sensibilização social do voluntário para que adopte atitudes críticas face ás injustiças sociais. A formação do voluntário deve ser entendida enquanto um direito e um dever. Um direito, no sentido em que, ao colocar-se ao serviço de uma instituição, o voluntário deve receber os conhecimentos e instrumentos necessários para efectuar a tarefa que lhe é pedida. Um dever da organização, na medida em que o trabalho voluntário não pode ser utilizado como mão-de-obra gratuita. À organização compete capacitar os seus voluntários para o desempenho das suas funções. Através da formação, o voluntário adquire saberes, integra-se na organização e é motivado no seu propósito; a organização promove uma maior coesão da equipa e garante uma melhor realização das tarefas, o que se traduzirá num desempenho global melhorado. A formação traduz o reconhecimento do trabalho voluntário. Metodologia – Uma formação participada: A formação não deve seguir o modelo em que um formador “que sabe” se apresenta perante um grupo de pessoas “que não sabem”. Esta perspectiva de formação traduz-se num formador que valoriza as experiências dos formandos, que retoma aquilo que é dito por eles nas sessões, que implica activamente os formandos no seu próprio processo de formação. O voluntário é uma pessoa que pretende contribuir com algo real e tangível. O seu desejo mesmo que não seja expresso, é que a sua solidariedade se traduza numa acção concreta. É assim de extrema relevância que o modelo de formação seguido permita ao voluntário estabelecer a “ponte” entre o teórico e o prático. Formação contínua – A realidade onde actuam os voluntários não é estática. As mudanças de problemática, a relação diferente entre área de actuação ou até o surgimento de novas abordagens teóricas, tudo legitima a defesa de uma formação contínua. A formação sistemática deve ser apenas o ponto de partida para a acção dos voluntários e deve ser depois apoiada pela formação contínua, realizada de diversas formas: reuniões, encontros, folhetos informativos, jornadas de trabalho e outras. A formação contínua é ainda o instrumento privilegiado para a criação de uma atitude permanente de abertura a novos conhecimentos. Conteúdos programáticos - A formação não pode reduzir-se à aprendizagem da tarefa específica que o voluntário irá executar. Numa perspectiva mais abrangente, a formação deverá ser uma formação integral que abarque cinco áreas principais: - pessoal - grupal - institucional - social - técnico/prática A formação pessoal promove o “crescimento” do voluntário, das suas capacidades e aptidões. O voluntário não pode reduzir o seu desempenho a uma actividade reparadora, mas sim alargar essa acção, através de uma participação activa e colectiva de parceria na elaboração de propostas, conducentes á definição de políticas sociais cada vez mais ajustadas à realidade. A formação grupal permite a criação de um grupo coeso, bem consciente do papel de cada um e capaz de resolver os seus conflitos. A formação institucional integra os voluntários nos objectivos, filosofia e áreas de trabalho da organização. Permite ao voluntário ter um conhecimento geral sobre a organização e situar o âmbito da sua acção. A formação social é uma parte importante deste plano. Pretende dotar os voluntários dos conhecimentos teóricos para análise do contexto social. Esta área pode considerar-se p pano de fundo da formação. A formação técnica ensina o “como fazer”, é muitas vezes a única realizada pelas organizações. No entanto, a formação de voluntários não deve reduzir-se à formação técnico-prática, sob pena de se formarem voluntários pouco ligados à organização e à equipa e sem o domínio adequado de conhecimentos específicos sobre o contexto envolvente e sujeitos a actuar apenas por intuição e sem rede de suporte. Neste módulo, abordam-se as áreas em que deverá decorrer o trabalho dos voluntários: grupos sociais a que se destina a actividade da organização; metodologias de intervenção; programação de actividades; recursos disponíveis; acompanhamento e avaliação de programas, entre outros. As Bases de Um Programa: Formação pessoal: Motivações – atitudes – aptidões Sentido de responsabilidade Sentido de gratuidade Valores do voluntário Formação grupal: Trabalho em equipa –papéis dentro do grupo Dinâmica e conflitos num grupo Tomada de decisões Relações voluntários/trabalhadores remunerados Formação institucional: História, estatutos e objectivos da organização Carta do voluntário: normas e procedimentos Campos de acção Formação social: Diagnóstico social Análise crítica da realidade Acção social: serviços sociais de base Identificação de recursos Legislação específica Acção voluntária contextualizada Sensibilização e envolvimento da comunidade Formação técnico-prática: Análise da realidade Animação da comunidade Programação Sentido de participação Relação de interajuda: técnicas e métodos Grupos específicos em que se desenvolve a acção voluntária Acompanhamento e avaliação de programas Formar voluntários é cada vez mais uma imposição e uma necessidade, perante as quais urge rever e analisar as medidas adoptadas no passado e definir perspectivas de futuro, que podem já estar a acontecer. A formação não apresenta um modelo único, rígido e estanque. Algumas considerações gerais a ter em conta: - a formação deve destinar-se a pessoas que já se encontram na organização a exercer voluntariado, bem como àquelas que iniciam a sua actividade, desde que haja motivação por parte dos destinatários; - alguma atenção deve ser dispensada aos restantes colaboradores, de forma a promover uma relação saudável com o voluntário e não fomentar atritos; - em ocasião alguma, na formação de voluntários, se deve reproduzir um modelo competitivo: não só o seu lugar não deverá ser uma ameaça para outros, como a cultura do voluntariado não abarca esta postura; Concentrar-se na formação do voluntário pressupõe uma tomada de posição, com consciência e seriedade: que terminou o tempo em que era suficiente “estar disponível para trabalhar” para ser reconhecido como voluntário. A “disponibilidade” é apenas um terreno bom, no qual convém semear competência. Só se obterá verdadeira solidariedade quando se oferecer um serviço qualificado e não “um qualquer serviço” Para ler mais: Revista Cidade Solidária da Santa casa da Misericórdia de Lisboa, nº 7 de 2001