ANÁLISE FLORÍSTICA DE UM FRAGMENTO DE CERRADO PRÓXIMO A ÁREA DE PLANTIO AGRÍCOLA SILVA, Patrícia O. da (Estudante de IC)¹; SOARES, Michellia P. (Orientadora)¹; REYS, Paula (Co-orientadora)¹; Daiane M. (Estudante de IC)¹, SÁ, Janailson L. de (Estudante de IC)¹; DOURADO; SANTOS, Thailliny M. (Estudante de IC)¹. ¹Laboratório de Sistemática e Ecologia Vegetal, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano/Câmpus Rio Verde – GO. [email protected] RESUMO: O Cerrado vem sofrendo com os efeitos causados pelos defensivos agrícolas, que são utilizados nas lavouras. O objetivo deste trabalho foi avaliar se a lavoura interfere na composição florística da borda e interior da vegetação. A florística foi executada junto com a fitossociologia, na Fazenda Monte Alegre, Goiás. A instalação de transectos se deu da borda ao centro da mata. Foram instaladas 30 parcelas sistematizadas de 100m², distribuídas em 10 transectos. Marcou-se indivíduos com circunferência a 1,30 m do solo (CAP) ≥10 cm. Classificou-se as espécies em grupos ecológicos. Identificou-se 53 espécies, 48 gêneros e 31 famílias. Apenas Brosimum gaudichaudii, Machaerium opacum, Miconia albicans e Scheffera morototoni são pioneiras. As secundárias tardias foram representadas por Aspidosperma tomentosum, Emmotum nitens, Hymenaea stigonocarpa e Ocotea corymbosa. As secundárias iniciais por Copaifera langsdorffii, Eriotheca candolleana, Guapira opposita, Pera glabrata e Siparuna guianensis. O levantamento indica que a área possui riqueza considerável, desigual entre as famílias, mas ainda típica de cerradão. Palavras-chave adicionais: flora, lavoura, grupo ecológico. INTRODUÇÃO MATERIAL E METÓDOS O Cerrado é a savana com maior biodiversidade do mundo, além de apresentar elevado grau de endemismo da flora e fauna (MENDONÇA et al., 2008). Entretanto, grande parte das áreas de Cerrado já não possui cobertura vegetal original, sendo atualmente ocupada por paisagens antrópicas. Além do desmatamento, o Cerrado ainda sofre com os efeitos causados pelos defensivos agrícolas, que são utilizados nas lavouras. Nesse sentido, o objetivo do trabalho foi determinar e classificar os espécimes botânicos de estrato arbóreo e arbustivo de um remanescente de Cerradão próximo a uma área de plantio agrícola, para verificar se a lavoura interfere na composição florística entre borda e interior da mata. O estudo foi realizado em um remanescente de Cerradão localizado na Fazenda Monte Alegre (17°02'19" a 18°23'24" S e 50°18'33" a 51°46'58" W), BR-333 e Km-52 em direção a Paraúna. A área é circundada por plantios agrícolas de soja (Glyicine max (L.) Merr.). O clima da região, segundo a classificação de Köppen (1948), é tipo Aw tropical úmido, com precipitação anual média de 1.800 mm e temperatura média anual é de 24 °C. O levantamento florístico foi executado juntamente com o inventário de estrutura da comunidade vegetal. A direção de instalação dos transectos se deu da borda em direção ao centro da mata, de forma sistematizada, com 30 m de distância um do outro. Estalou-se 30 parcelas de 10 x 10 m, distribuídas em 10 transectos (cinco na borda e cinco no interior), cada transecto com três parcelas. Foram marcados todos os indivíduos com circunferência a 1,30 m do solo (CAP) ≥ a 10 cm. A identificação foi realizada através de comparações com literatura especializada. A classificação das espécies em famílias seguiu o sistema do Angiosperm Phylogeny Group III (APG III, 2009). A nomenclatura das espécies e as abreviações dos respectivos autores foram conferidas segundo as informações disponíveis no site do Missouri Botanical Garden ((2012). O material em estado fértil foi depositado no Herbário de Rio Verde (HRV). A riqueza florística foi avaliada por número de espécies, gêneros e famílias nas parcelas. As espécies foram agrupadas em categorias sucessionais seguindo o critério sugerido por Budowski (1970) e Gandolfi et al. (1995), as quais são classificadas em: pioneiras, secundárias iniciais, secundárias tardias e sem caracterização. Atribuiu-se também a distribuição geográfica no Brasil. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na amostragem realizada na Fazenda Monte Alegre foram identificadas 53 espécies, pertencente a 48 gêneros, representando 31 famílias. Em termo de riqueza sobressaíram as famílias Fabaceae-faboideae (seis sp.), seguida pela Annonaceae (cinco sp.) e por Rubiaceae (quatro sp.). A subfamília Faboideae apresenta o maior número de espécies no Cerrado, como foi constatado no trabalho de Balduíno (2005), bem como no levantamento da Fazenda Monte Alegre. Ressalta-se que 21 famílias foram representadas por uma única espécie. Os resultados obtidos corroboram com as análises de Rizzini (1971), para a vegetação de Cerrado, que segundo o autor as principais famílias representativas são: Fabaceae, Annonaceae, Vochysiaceae, Bombacaceae, Proteaceae, Malpighiaceae, Melastomataceae e Myrtaceae. As famílias Fabaceae-Caesalpinoideae e Malpighiaceae foram as únicas que apresentaram três espécies cada. Seguidas das famílias que apresentaram duas espécies cada, sendo elas: Araliaceae, Chrysobalanaceae, FabaceaeMimosoideae, Moraceae e Vochysiaceae. Os gêneros Xylopia (Annonaceae), Byrsonima (Malpighiaceae) e Qualea (Vochysiaceae) foram os que tiveram o maior número de espécies (duas sp. cada). Uma das espécies amostradas, Qualea parviflora, é considerada por Goodland (1979) e Ribeiro et al. (1985), uma das mais importantes nas fisionomias dos Cerrados do Brasil Central. Para os grupos ecológicos a maioria das espécies não apresentou classificação (74%). Apenas as espécies Scheffera morototoni, Hymenaea stigonocarpa, Machaerium opacum, Miconia albicans e Brosimum gaudichaudii foram classificadas como pioneiras (9,8%). As secundárias tardias foram as que menos apareceram nas amostras, sendo representadas por Aspidosperma tomentosum, Emmotum nitens, Ocotea corymbosa e Hymenaea stigonocarpa (7,8%). As secundárias iniciais Copaifera langsdorffii, Eriotheca candolleana, Guapira opposita, Pera glabrata, Scheffera morototoni e Siparuna guianensis (11,7%). Das 53 espécies encontradas apenas 18 foram comuns à borda e ao interior da mata. A maioria das espécies ocorreram na borda (29 sp.) e apenas seis foram exclusivas do interior. A distribuição geográfica indicou que a maioria das espécies é de ampla distribuição, sendo poucas restritas a um ou dois estados. A espécie Dendropanax amorimii encontra-se somente nos Estados da Bahia e Goiás, Matayba adenanthera esta restrita ao Estado da Amazônia e Goiás. A maior parte das espécies pode ser encontrada em vários estados brasileiros. As espécies Tabebuia roseoalba, Byrsonima crassifolia, Guarea guidonia, Miconia albicans, Guapira opposita são as que estão melhor distribuídas no Brasil. A ampla distribuição pode ser explicada pelo fato que de acordo com Rizzini (1979), muitas espécies que ocorrem no cerradão são também encontradas em matas mesófilas semidecíduas. CONCLUSÃO O levantamento realizado na Fazenda Monte Alegre indica que a área possui uma riqueza considerável, típica de cerradão e desigual entre as famílias amostradas. A maioria das espécies levantadas encontra-se bem distribuídas em todo o país, indicando a sua capacidade de adaptação a regiões diferentes. Não se pode inferir sobre o estágio sucessional da vegetação, pois a maior porcentagem de espécies não foi classificada. das espécies encontradas no levantamento. A proximidade da mata em relação a área de plantio não interferiu muito, pois a maioria das espécies que ocorreram na borda também foram encontradas no interior da mata. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano/Câmpus Rio Verde pelo espaço do laboratório de Sistemática e Ecologia Vegetal. Ao financiamento do projeto por meio do Edital MCT/CNPQ/MEC/CAPES/FNDCT, Sisbiota Brasil, N° 47/2010. Ao Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Cientifica (PIBIC) pelo suporte financeiro por meio de bolsa de graduação para a primeira autora, através do Edital 01/2011. A Michellia Pereira Soares pela valiosa orientação durante o desenvolvimento do projeto. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ANGIOSPERM PHYLOGENY GROUP III (APGIII). An updated classification for the families of flowering plants. Botanical Journal of the Linnaean Society. v.141, n.4, p.399-436. 2009. BALDUÍNO, A P. 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