A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA E SUA EVOLUÇÃO HISTÓRICA ¹SANTOS, Lívia Renata; ²RABELO, Denise Maria Rover da Silva ¹Mestranda em Desenvolvimento Regional pela Fundação Educacional de Divinópolis FUNEDI/UEMG ²Professora orientadora da FUNEDI/UEMG; doutora em Ciências Biológicas e professora-pesquisadora da FUNEDI/UEMG INTRODUÇÃO Na era digital, o impacto das novas tecnologias atinge todas as áreas do conhecimento, seja acadêmico ou científico, onde um conjunto de técnicas e equipamentos para recuperação e disseminação da informação tem sido desenvolvido. O registro e divulgação do conhecimento científico passaram por inúmeras transições até os dias atuais. Com o avanço tecnológico surgiram vários sistemas aptos a permitirem a disseminação da informação com eficiência agilidade. Dentre as inúmeras ferramentas destacam-se os periódicos impressos, eletrônicos e as iniciativas de arquivos abertos Open Archives Initiative (OAI). Hoje as publicações periódicas científicas tem o papel de disseminar o conhecimento gerado a partir de pesquisas e legitimar a autoria das descobertas científicas. OBJETIVO Sintetizar o contexto histórico do surgimento da comunicação científica, além de ressaltar os critérios de qualidade e a importância da avaliação de um periódico. METODOLOGIA Para a coleta das informações, a metodologia utilizada consiste em uma revisão de literatura. REFERENCIAL TEÓRICO Na literatura não se sabe quando foi realizada a primeira pesquisa e consequentemente a comunicação científica. O registro do conhecimento em forma de escrita existe há mais de seis mil anos, segundo Oliveira (2013). No decorrer desses anos, diversos personagens da história registraram seu conhecimento em diversos suportes como: os suméricos em tijolos de barros; os índios em folhas de palmeiras; os maias e os astecas utilizavam o material macio entre a casca das árvores e a madeira; os romanos faziam suas descrições em tábuas de madeiras cobertas com cera; os egípcios em papiro que em latim significa papel. A partir dos egípcios iniciou-se a utilização do pergaminho para a disseminação e registro das informações (OLIVEIRA, 2013). Tem-se conhecimento que no séc. XVI teve início a tradição da comunicação aberta e oral sobre assuntos científicos entre os primeiros cientistas, em reuniões realizadas às escondidas com medo da censura e repressão por meio do Estado e da Igreja. Além dos cientistas compareciam também nobres, eruditas, artistas e mercadores da época (BURKET, 1990). Neste mesmo século, surgiram na Itália as primeiras academias científicas sendo estas não bem vistas pelo governo, motivo pela qual sofreram muitas repressões. As academias alteravam constantemente o local das reuniões e se comunicavam com seus membros através de cartas, sendo estas confundidas com correspondências pessoais, portanto não eram abertas pelo Governo (MUELER; CARIBÉ, 2010). Os assuntos discutidos nas reuniões eram registrados e impressos para servir de fonte aos membros que não pudessem comparecer. Aos registros se davam o nome de anais ou atas. Segundo Mueler e Caribé (2010), as cartas eram enviadas entre cientistas e investigadores como meio de relatar e disseminar suas descobertas, originando os primeiros periódicos científicos. Sabe-se que os periódicos científicos surgiram no séc. XVII e aos poucos começaram a substituir as cartas e as atas que os cientistas e investigadores utilizavam na época como meio de comunicação científica. Os primeiros periódicos surgiram na França e Inglaterra no ano de 1665, o Jornal des Sçavants e o Philosophical Transactionns da Royal Society of London. Ambas contribuíram com modelos distintos para a literatura científica, enquanto a primeira influenciou o desenvolvimento de revistas em conhecimentos gerais para o 1 público leigo, a segunda era voltada à publicação de experimentos e conhecimentos científicos a um público mais especializado (MEADOWNS, 1999). No Brasil no séc. XIX, o termo periódico científico tinha várias denominações: revista literária, jornal de cultura, jornal de ciências e artes e jornal literário (FREITAS, 2006). Para Fonseca (1999), Vianna11 (1945 apud FREITAS 2006), O Patriota foi considerada a primeira ‘revista’ a ser impressa no Brasil, entre 1813-1814. O Patriota divulgava traduções de outros artigos, resumos, resenhas, apanhados detalhados de assuntos variados, desde botânica, artes, agricultura e hidráulica. Para Biojone (2003), Lemos (1993) e Freitas (2006), as publicações que se destacaram com um teor mais científico no Brasil foram a Gazeta Médica do Rio de Janeiro em 1862, a Gazeta Médica da Bahia em 1866 e a revista BrasilMédico (1887-1971), qual se destacou por publicar trabalhos de pesquisadores brasileiros como Carlos Chagas. Já no séc. XX, em 1909, foi publicada a revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz com uma estrutura mais definida para periódico, considerada pela literatura um dos periódicos mais antigos do Brasil. Foi no séc. XX que se deu a expansão dos periódicos científicos, tanto no meio acadêmico, editoras comerciais e pelo Estado, ressaltando o interesse dos pesquisadores em divulgar suas pesquisas. Os periódicos científicos desde o início eram distribuídos em formato impresso, porém na última década o mercado científico tem-se migrado para a publicação eletrônica. Com o avanço das novas tecnologias, a demanda por informações em ambiente eletrônico é motivada pela praticidade, comodidade, rapidez e baixo custo, tendo em vista que a linguagem digital permite que ela seja guardada, armazenada, recuperada, processada e transmitida, dinamizando o fluxo e as formas de disseminação do conhecimento, além de atingir uma gama quase que incalculável de usuários por estar na maior rede de informações do mundo, a internet (BARBALHO, 2005). Foi no final do séc. XX, com a crise dos periódicos científicos impressos devido aos altos valores das assinaturas, que a sociedade acadêmica incentivou a introdução dos periódicos eletrônicos. A ideia de periódico eletrônico passou por diversas adaptações: sistemas em CD-ROM, armazenamento local, “antigos” acesso on-line dentre outros (BARNES, 1997). Porém, o crescimento de periódicos em formato eletrônico por editoras comerciais não ocasionou a redução do preço das assinaturas dos periódicos impressos, o que acabou impossibilitando os próprios cientistas, autores, revisores e bibliotecas das instituições que continuassem a manutenção de suas coleções. Porém, nesta época já havia a preocupação dos cientistas em aumentar a visibilidade e acessibilidade aos resultados de seus trabalhos. Assim, surgiu a iniciativa do movimento de acesso livre ou “arquivos abertos” (opens access) (FERREIRA, 2008). Para Arellano, Ferreira e Caregnato (2005, p. 2015), o open access é a disponibilização na Internet de textos acadêmicos e científicos que permitem copiar e imprimir permitindo a qualquer pessoa ler e realizar download. No Brasil há grandes iniciativas como Portal de Periódico da Capes e SciELO com milhares de artigos gratuitos. Com o crescente número de periódicos eletrônicos disponibilizados na internet surgiu o gerenciamento de revistas eletrônicas, com a tentativa de organizar a informação e administrar as atividades do processo editorial. No Brasil, destacase o Sistema de Editoração de Revistas Eletrônicas (SEER), um software livre desenvolvido para a automação do fluxo e editoração de periódicos, desde a submissão e avaliação, até a publicação e indexação (COSTA; GUIMARÃES, 2010). Hoje o SEER armazena 1224 revistas eletrônicas científicas brasileiras disponíveis gratuitamente. Com a expressiva quantidade de periódicos científicos existentes no Brasil, houve necessidade em identificar o que é relevante e confiável em meio aos documentos. Devido à inexistência de uma norma brasileira voltada para os periódicos eletrônicos, as instituições tendem a seguir como padronização as normas para publicações impressas e requisitos da CAPES, CNPq, grande bases indexadoras de periódicos científicos, bem como agências financiadoras de pesquisas. Conforme autores já referendados anteriormente, é possível destacar alguns critérios por meio de indicadores: intrínsecos ou de conteúdo (conteúdo, revisão por pares ou paritária, corpo editorial e autores) e os extrínsecos ou formais (periodicidade, pontualidade, duração, normalização e padronização, trabalho editorial, difusão, indexação, endogenia, fator de impacto, sistema Qualis, DOI) (LEITE, 2009). A avaliação de um periódico científico tem o objetivo de contribuir com a qualidade das informações que a comunidade científica demanda, de forma a criar, exigir e interferir em políticas e critérios de qualidades por parte de alguns órgãos e bases como CNPq, Web Qualis e CAPES, bases nacionais e internacionais de indexação dentre outros. CONSIDERAÇÕES FINAIS O periódico científico passou por inúmeras transformações e adaptações e continua em fase de transição até aos dias atuais com o objetivo de disseminar o conhecimento em menor tempo possível e com a qualidade que a comunidade científica exige. A comunicação científica tem um importante papel no 1 2 desenvolvimentoda ciência e consequentemente para o desenvolvimento regional, nacional e internacional, pois permite a divulgação confiável de novas descobertas científicas. Por causa da agilidade com que as informações são criadas são necessário meios de divulgações igualitários que satisfazem e condizem com a demanda da sociedade atual. Hoje, os periódicos científico em especial os eletrônicos, são a principal via de comunicação do conhecimento científico em escala global. É visível as atualizações das tecnologias de comunicação a todo instante, assim sendo, é possível afirmar que atualmente os periódicos científicos estão sendo adaptados conforme à exigência da época, e nada impede que daqui algum tempo haja novas transformações, pois a divulgação da ciência está em constante transição há 300 anos. REFERÊNCIAS ARELLANO, M. A. M., FERREIRA, S. M. S. P.; CAREGNATO, S. E. Editoração eletrônica de revistas científicas com suporte do Protocolo OAI. In: FERREIRA, S. M. S. P.; TARGINO, M. C. (Org.). Preparação de revistas científicas: teoria e prática. São Paulo: Reichmann & Autores, 2005. p. 195-229. BARBALHO, C. R. S. 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