FICHA
INFORMATIVA
N.o 1
Ficha informativa n.o 1
Cantigas de amigo
Caracterização formal
O uso de refrão constitui já de si uma forma de paralelismo, mas não é este o único tipo de repetição
paralelística praticado pelos poetas galego-portugueses. Sob vários matizes e formas estilísticas, o
paralelismo revela-se como «a quantidade dominante que estrutura os cancioneiros». […] Poderemos
considerar na lírica galego-portuguesa três tipos de paralelismo: literal ou de palavra, estrutural ou de
construção (sintática e rítmica) e concetual ou de pensamento. Equivale isto a dizer que a essência
fundamental do paralelismo consiste na repetição de palavras, versos inteiros, construções ou conceitos e
que tal técnica não pode deixar de arrastar consigo uma certa monotonia. Para a evitarem, e
simultaneamente conseguirem a progressão do pensamento, recorriam os trovadores a outro elemento
fundamental do paralelismo, a variação. Repetindo ipsis verbis a primeira parte do verso ou mesmo o
verso inteiro (paralelismo literal e estrutural), o poeta podia obter a variação mediante três processos: a)
substituição de palavra rimante por um sinónimo; b) transposição das palavras [...]; c) repetição do
conceito mediante a negação do conceito oposto. […] O primeiro recurso foi o mais utilizado.
Uma grande parte das cantigas de tipo paralelístico apresenta-se estruturada em dísticos monórrimos
[com uma só rima] seguidos de refrão de um verso com rima diferente, e nelas o paralelismo associa-se a
um processo de encadeamento das estrofes chamado leixa-prem.
Elsa Gonçalves e Maria Ana Ramos (eds.), op. cit., pp. 69-70
Ficha informativa n.o 1
No processo de leixa-prem:
• o 1.° dístico emparelha com o 2.° dístico, mudando a palavra rimante, mas reproduzindo o sentido;
• no 3.° dístico, o 1.° verso retoma o 2.° verso do 1.° dístico (processo de leixa-prem, propriamente dito),
acrescentando um verso novo;
• o 4.° dístico retoma o 2.° verso do 2.° dístico (leixa-prem) e repete, com variação, o 2.° verso do 3.° dístico;
• a progressão do pensamento faz-se sempre no 2.° verso das estrofes/coblas ímpares, culminando na
penúltima estrofe/cobla.
Há paralelismo perfeito se o número de estrofes/coblas for par.
Há várias cantigas de amigo que são paralelísticas perfeitas, isto é, que obedecem ao seguinte esquema de
construção:
Ficha informativa n.o 1
Ondas do mar de Vigo
Ondas do mar de Vigo,
se viestes meu amigo?
E ai Deus, se verra cedo!
Ondas do mar levado,
se vistes meu amado?
E ai Deus, se verra cedo!
dístico
refrão monóstico
Se vistes meu amigo,
o por que eu sospiro?
E ai Deus, se verra cedo!
Se vistes meu amado,
por que ei gram coidado?
E ai Deus, se verra cedo!
cobla
Ficha informativa n.o 1
Ondas do mar de Vigo
Ondas do mar de Vigo,
se viestes meu amigo?
E ai Deus, se verra cedo!
2º verso da 1ª cobla
Ondas do mar levado,
se vistes meu amado?
E ai Deus, se verra cedo!
2º verso da 2ª cobla
leixa-prem
Se vistes meu amigo,
o por que eu sospiro?
E ai Deus, se verra cedo!
1º verso da 3ª cobla
Se vistes meu amado,
por que ei gram coidado?
E ai Deus, se verra cedo!
1º verso da 4ª cobla
Download

Ficha informativa n. o 1