Critérios para a Identificação dos Ensaios e Equipamentos mais Utilizados na Indústria de Construção Vitor Alexandre Castelo Gouveia Nunes Costa Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia de Materiais Júri Presidente: Prof. Doutor Luís Manuel Guerra da Silva Rosa Orientador: Prof. Doutor Luís Manuel Guerra da Silva Rosa Vogais: Prof. Doutor Rogério Anacleto Cordeiro Colaço Doutor Pedro Miguel Gomes Abrunhosa Amaral Novembro de 2008 Agradecimentos Este trabalho teve o apoio directo e indirecto de muitas pessoas. Gostaria de deixar o meu agradecimento a algumas delas. Gostaria de expressar o meu sincero agradecimento ao Professor Doutor Luís Manuel Guerra da Silva Rosa, pela sua orientação e acompanhamento permanentes durante a execução deste trabalho. Só o seu constante apoio e incentivo permitiu a concretização deste trabalho. Gostaria também de lhe agradecer a disponibilidade e paciência que sempre demonstrou para a transmissão de conhecimentos. O meu sincero agradecimento ao Dr. José Eduardo Carvalho, por ter aceite o meu estágio, permitindo-me integrar uma equipa técnica de excelência. Agradeço todos os ensinamentos que me transmitiu durante o estágio, que me permitiram crescer não só profissionalmente, mas acima de tudo como pessoa. Agradeço ao Professor Doutor Rogério Colaço, os valiosos conselhos transmitidos ao longo da minha formação, bem como, todas as acções levadas a cabo em prol dos alunos. O meu agradecimento ao Doutor Pedro Amaral, pelas valiosas sugestões que ajudaram a enriquecer este trabalho. Agradeço a todos os meus colegas da equipa técnica, que sempre me apoiaram e incentivaram durante o decorrer deste trabalho. O meu agradecimento ao Filipe Nascimento, Vanda Tavares, Rodrigo Santos e Vera Pires pelas importantes ideias desenvolvidas em conjunto. Um agradecimento muito especial à minha esposa, aos nossos pais e avós, pela compreensão e sacrifício demonstrados durante estes anos. Por último, gostaria de dedicar este trabalho ao meu Pai, que infelizmente não pôde estar presente durante a minha formação, não sendo possível partilhar comigo as alegrias e tristezas durante o decorrer desta. i Resumo A indústria da construção civil utiliza um vasto leque de materiais, sendo que o mesmo material pode ter diversas aplicações. Considerando que cada produto para ser comercializado tem que ser submetido a vários ensaios, de forma a respeitar as normas a si associadas, constata-se que existe um vasto universo de ensaios e equipamentos que podem ser utilizados na caracterização dos materiais de construção civil. Assim, pretende-se com este trabalho identificar e justificar os ensaios e equipamentos mais utilizados na indústria de construção. A identificação dos ensaios e equipamentos teve por base as normas NP; ISO; EN; BS; ASTM; ensaios efectuados por laboratórios acreditados, consulta de fornecedores de equipamentos, normas de produto, bem como uma visita realizada ao LNEC. Contudo não deixa de ser uma escolha pessoal, dado o vasto universo de ensaios existentes em cada uma das áreas. Foram então seleccionados os ensaios de observação/caracterização da estrutura interna; caracterização das propriedades mecânicas; caracterização da composição química; caracterização das propriedades térmicas; e caracterização das propriedades acústicas, uma vez que estes permitem caracterizar de uma forma geral as propriedades dos materiais utilizados na indústria de construção civil. Palavras-Chave Materiais de construção civil; observação/caracterização da estrutura interna; caracterização das propriedades mecânicas; caracterização da composição química; caracterização das propriedades térmicas; caracterização das propriedades acústicas. ii Abstract The building industry uses a large variety of materials, taking in account that the same material may be used in several applications. Considering that to commercialize a product it has to be submitted to several tests, in order to fit the related standards, it is noticed that there are several tests and equipments that can be applied in the characterization of building materials. Thus with this work it is intended to identify and justify the most used equipments and tests in this area. The identification of tests and equipments was based on the NP; ISO; EN; BS; ASTM standards, tests performed by accredited laboratories, research of equipment suppliers, product standards, as well as a visit to the LNEC installations. Although these selected tests are personal choices due to the wide range of tests in each area. Therefore it was selected tests for observation/characterization of the internal structure; characterization of mechanical properties; characterization of the chemical composition; characterization of thermal and acoustical properties, since these tests are able to characterize the material properties used in the building industry. Keywords Building materials; observation/characterization of the internal structure; characterization of mechanical properties; characterization of the chemical composition; characterization of thermal properties; characterization of acoustical properties. iii Índice Agradecimentos.........................................................................................................................................i Resumo ....................................................................................................................................................ii Abstract.................................................................................................................................................... iii Índice .......................................................................................................................................................iv Lista de Tabelas ..................................................................................................................................... vii Lista de Figuras ..................................................................................................................................... viii Lista de abreviaturas ................................................................................................................................x Capítulo I ................................................................................................................................................. 1 1. INTRODUÇÃO E OBJECTIVOS ................................................................................................ 1 Capítulo II ................................................................................................................................................ 2 1. ÂMBITO DO CENTRO DE COMPETÊNCIAS EM MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO ............... 2 1.1. Enquadramento do Centro de Competências em Materiais de Construção ......................... 2 1.2. Missão do Centro de Competências em Materiais de Construção........................................ 3 1.3. Objectivos do Centro de Competências em Materiais de Construção .................................. 4 1.4. Tipo de serviços a prestar pelo Centro de Competências em Materiais de Construção ...... 5 Capítulo III ............................................................................................................................................... 6 1. OBSERVAÇÃO/CARACTERIZAÇÃO DA ESTRUTURA INTERNA .......................................... 6 1.1. Ensaios utilizados na observação/caracterização da estrutura interna................................. 6 1.1.1. Ensaio de determinação da fracção volúmica por contagem sistemática manual de pontos……. ...................................................................................................................................... 7 1.1.2. Avaliação da microestrutura da grafite em aços vazados................................................. 8 1.1.3. Determinação do tamanho médio de grão ........................................................................ 9 1.2. Equipamentos necessários para a observação/caracterização da estrutura interna .......... 11 1.3. Princípio de funcionamento dos equipamentos para observação/caracterização da estrutura interna................................................................................................................................. 11 1.3.1. Microscópio Óptico .......................................................................................................... 11 1.3.2. Microscópio Electrónico de Varrimento (SEM)................................................................ 12 1.4. 2. Exemplo prático da observação/caracterização da estrutura interna.................................. 16 CARACTERIZAÇÃO DA COMPOSIÇÃO QUÍMICA................................................................ 19 2.1. 2.1.1. Ensaios utilizados na caracterização da composição química............................................ 19 Ensaio de análise quantitativa por Espectroscopia de Energia Dispersiva (EDS).......... 19 2.2. Equipamentos necessários para caracterização da composição química .......................... 20 2.3. Princípio de funcionamento dos equipamentos necessários para caracterização da composição química .......................................................................................................................... 21 2.3.1. 2.4. Difractómetro de raios-X.................................................................................................. 21 Exemplo prático da caracterização da composição química............................................... 23 iv 3. CARACTERIZAÇÃO DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS.................................................... 25 3.1. Ensaios utilizados na caracterização das propriedades mecânicas ................................... 25 3.1.1. Ensaio de tracção ............................................................................................................ 26 3.1.2. Ensaio de compressão .................................................................................................... 28 3.1.3. Ensaios de dureza ........................................................................................................... 29 3.1.4. Ensaios de dobragem e flexão ........................................................................................ 33 3.1.5. Ensaio de Tenacidade ..................................................................................................... 36 3.1.6. Fadiga .............................................................................................................................. 38 3.1.7. Fluência ........................................................................................................................... 42 3.1.8. Ensaio de resistência ao Gelo ......................................................................................... 45 3.2. Equipamentos necessários na determinação das propriedades mecânicas....................... 46 3.3. Exemplo prático da caracterização das propriedades mecânicas....................................... 47 4. CARACTERIZAÇÃO DAS PROPRIEDADES ACÚSTICAS .................................................... 49 4.1. Fundamentos teóricos.......................................................................................................... 49 4.2. Ensaios utilizados na caracterização das propriedades acústicas...................................... 51 4.2.1. Ensaio de isolamento sonoro a sons aéreos entre compartimentos............................... 53 4.2.2. Ensaio de isolamento sonoro a sons aéreos de fachadas e de elementos de fachada . 54 4.2.3. Ensaio de isolamento sonoro a sons de percussão de pavimentos ............................... 56 4.3. Exemplo prático da caracterização acústica........................................................................ 58 4.4. Equipamentos necessários na determinação das propriedades acústicas......................... 61 5. CARACTERIZAÇÃO DAS PROPRIEDADES TÉRMICAS ...................................................... 62 5.1. Ensaios utilizados na caracterização das propriedades térmicas ....................................... 62 5.1.1. Teste padrão para a determinação da expansão linear térmica de materiais sólidos utilizando um dilatómetro ............................................................................................................... 63 5.1.2. Método para a determinação do calor específico através de calorimetria diferencial de varrimento ...................................................................................................................................... 64 5.1.3. Ensaio Padrão para a Determinação da Condutividade Térmica e Difusividade Térmica por Calorimetria Diferencial de Varrimento. ................................................................................... 65 5.2. Equipamentos necessários para caracterização das propriedades térmicas dos materiais67 5.3. Exemplo prático da caracterização térmica ......................................................................... 68 6. CONCLUSÕES ........................................................................................................................ 70 7. TRABALHO FUTURO .............................................................................................................. 71 8. BIBLIOGRAFIA......................................................................................................................... 72 Anexo I – Requisitos dos equipamentos necessários para a caracterização da estrutura interna ........ A Anexo I-A – Microscópio Óptico .......................................................................................................... A Anexo I-B – Microscópio Electrónico de Varrimento ........................................................................... B Anexo II - Requisitos dos equipamentos necessários para a caracterização da composição química .C Anexo II-A – Difractómetro de raios-X .................................................................................................C Anexo III – Listagem de normas de ensaios mecânicos consultadas ....................................................D v Anexo IV – Parâmetros de ensaios de dureza Rockwell ........................................................................ F Anexo V - Requisitos dos equipamentos necessários para a caracterização das propriedades mecânicas................................................................................................................................................G Anexo V-A – Máquina de ensaios mecânicos universal......................................................................G Anexo V-B – Durómetro Rockwell .......................................................................................................G Anexo V-C – Microdurómetro Vickers .................................................................................................H Anexo V-D - Máquina de ensaio de impacto por batimento de pêndulo .............................................. I Anexo V-E - Máquina de ensaio de fadiga de flexão rotativa............................................................... I Anexo V-F - Máquina de ensaio de fadiga com sistema servo-hidraúlico ...........................................J Anexo V-G - Câmara gelo-degelo ....................................................................................................... K Anexo V - H – Pêndulo Britânico ......................................................................................................... K Anexo V - I – Máquina de abrasão Los Angeles ................................................................................. L Anexo VI – Laboratórios que possuem ensaios acústicos acreditados em Portugal ............................. L Anexo VII - Requisitos dos equipamentos necessários para a caracterização das propriedades acústicas..................................................................................................................................................O Anexo VII-A – Analisador de Ruído .....................................................................................................O Anexo VII-B – Calibrador Sonoro ........................................................................................................O Anexo VII-C – Fonte Sonora Omnidireccional..................................................................................... P Anexo VII - D – Máquina de Percussão............................................................................................... P Anexo VII - E – Câmaras de Reverberação ........................................................................................Q Anexo VIII – Listagem de normas de ensaios de caracterização térmica consultadas ..........................R Anexo IX - Requisitos dos equipamentos necessários para a caracterização das propriedades térmicas ................................................................................................................................................... S Anexo IX-A – DSC ............................................................................................................................... S Anexo IX-B – Dilatómetro .................................................................................................................... S vi Lista de Tabelas Tabela 1 - Ensaios utilizados na observação/caracterização da estrutura interna [2-4] ........................ 7 Tabela 2- Ensaios utilizados na Caracterização da Composição Química [2] ..................................... 19 Tabela 3 - Ensaio de resistência ao gelo [31] ....................................................................................... 45 Tabela 4 – Condições de ensaio gelo/degelo [31] ................................................................................ 46 Tabela 5 – Principais exportadores mundiais de pedra [32] ................................................................. 47 Tabela 6 – Características essenciais (“CE”) e voluntárias (“V”) [33] ................................................... 48 Tabela 7 – Normas e anexos para a execução de ensaios [33] ........................................................... 48 Tabela 8 - Velocidade de propagação do som a 25°C em diferentes materiais [34]............................ 50 Tabela 9 - Ensaios acústicos mais utilizados na caracterização das propriedades acústicas dos materiais de construção [3, 4] ............................................................................................................... 52 Tabela 10 - Resumo geral das variantes dos métodos de elementos e global [37]. ............................ 54 Tabela 11 – Ensaios para caracterização das propriedades térmicas [2] ............................................ 62 vii Lista de Figuras Figura 1- Método de contagem manual para determinação da percentagem de perlite na estrutura de um ferro fundido cinzento - Adaptado de [6] ........................................................................................... 8 Figura 2 - Imagem de ferro fundido cinzento com grafite globular – Adaptado de [8] ............................ 9 Figura 3- Imagem do ensaio de determinação do tamanho de grão pelo método de intersecção linear – Adaptado de [10] ................................................................................................................................ 10 Figura 4 - Esquema da estrutura do microscópio metalográfico e percurso da luz – Adaptado de [14] ............................................................................................................................................................... 12 Figura 5- Esquema representativo do SEM – Adaptado de [16]........................................................... 12 Figura 6- Proveniência dos diferentes sinais da superfície da amostra – Adaptado de [15]................ 13 Figura 7 - Processo de emissão de Raios-X – Adaptado de [17] ......................................................... 14 Figura 8 - Imagem de SEM de um cimento tipo Portland, obtida por electrões retrodifundidos – Adaptado de [18] ................................................................................................................................... 15 Figura 9- Direcções de saída dos electrões das diferentes zonas da amostra – Adaptado de [17]..... 15 Figura 10 - Imagem SEM obtida por electrões retrodifundidos da secção transversal do caule de um Juniperus [19] ........................................................................................................................................ 16 Figura 11 - Zonas de uma peça soldada em função da temperatura atingida – Adaptado de [20]...... 17 Figura 12 - Fenda ao longo da região de grão grosseiro [21]............................................................... 17 Figura 13 - Espectro de EDS [17] ......................................................................................................... 20 Figura 14 - Difracção de Raios-X – Adaptado de [23] .......................................................................... 22 Figura 15 - Circulo focal de um difractómetro de Raios-X – Adaptado de [11]..................................... 22 Figura 16 - Diferentes zonas de uma peça soldada e temperaturas relativas a cada uma delas [25] 23 Figura 17- Diferentes dimensões a considerar num provete [27]. ........................................................ 26 Figura 18 -Etapas decorrentes do ensaio de tracção de um material dúctil [27]................................. 27 Figura 19 - Provete com amarras colocadas – Adaptado de [27]......................................................... 27 Figura 20 - Ensaio de compressão de um cilindro entre pratos planos – Adaptado de [27] ................ 28 Figura 21 - Ensaio de compressão de um provete cilíndrico entre pratos planos, ocorrendo o efeito Barril – Adaptado de [27]....................................................................................................................... 29 Figura 23 - Etapas do ensaio de dureza Rockwell – Adaptado de [28]. ............................................... 30 Figura 24 – Tipos de identadores utilizados no ensaio de dureza Rockwell – Adaptado de [29]......... 31 Figura 25 - Geometria da identação no ensaio Vickers [26] ................................................................. 31 Figura 26 - Variação da dureza Vickers com a carga [26]. ................................................................... 32 Figura 26 - Medição do ângulo de Dobragem [28]................................................................................ 34 Figura 27 -Ensaio de Dobragem livre [28]............................................................................................. 34 Figura 28 - Variantes do ensaio de dobragem semi-guiado [28] .......................................................... 34 Figura 29 - Ensaio de dobragem semi-guiado a um provete soldado – Adaptado de [28]................... 35 Figura 31 - Esquema de flexão de uma viga simplesmente apoiada [28] ............................................ 36 Figura 32- Ensaio de impacto com um provete Charpy [30]................................................................. 37 Figura 33 - Fases do processo de fadiga [26]....................................................................................... 38 viii Figura 34 – Principais tipos de tensão de Fadiga [26] .......................................................................... 40 Figura 35 - Máquina de ensaio de fadiga, utilizando flexão rotativa [26].............................................. 41 Figura 36 – Equipamento de ensaio de fadiga com sistema servo-hidráulico [26]............................... 42 Figura 37 - Curva tipica de fluência [29]................................................................................................ 43 Figura 38- Corte transversal de uma máquina de ensaios de fluência [26].......................................... 44 Figura 39 - Sons sensíveis ao ouvido humano [34] .............................................................................. 50 Figura 40 – Nível sonoro em dB de sons comuns [35] ......................................................................... 51 Figura 41 - Posicionamento do altifalante para determinação do isolamento sonoro a sons aéreos de elementos e de fachada. 1 – Plano normal à fachada; 2 – Plano vertical; 3 – Plano horizontal; 4 – Altifalante [38] ........................................................................................................................................ 55 Figura 42 - Diferença de propagação do som aéreo e do som de percussão [39]............................... 57 Figura 43 - Metodologia de ensaio do ensaio de sons de percussão in situ, segundo a Norma NP EN ISO 140/7 [39] ....................................................................................................................................... 58 Figura 44 – Aplicação correcta do isolamento acústico [35]................................................................. 59 Figura 45 – Sobreposição das camadas de isolamento acústico [35] .................................................. 60 Figura 46 – Perfuração do isolamento acústico com parafusos – Adaptado de [35] ........................... 60 Figura 47 – Máquina de percussão [41]................................................................................................ 61 Figura 48 – Desprendimento de revestimento de fachada [43] ............................................................ 68 Figura 49 – Efeito provocado pela ausência de juntas de dilatação [44].............................................. 68 Figura 50 – Causas do desprendimento do revestimento da fachada [47] .......................................... 69 ix Lista de abreviaturas IPQ Instituto Português da Qualidade IPAC Instituto Português da Acreditação NP Normas Portuguesas ISO International Organization for Standardization EN European Norm ASTM American Society for Test and Materials BS British Standard LNEC Laboratório Nacional de Engenharia Civil DL Decreto Lei x Capítulo I 1. INTRODUÇÃO E OBJECTIVOS O Centro de Competências em Materiais de Construção localizar-se-á na região de Santarém, pretendendo ser um espaço onde se realizarão ensaios de caracterização física, química e estrutural de materiais, testes de comportamento e durabilidade de materiais e produtos, reproduzindo as condições de utilização e as exigidas pelas normas de produto. O espaço laboratorial do Centro de Competências em Materiais de Construção servirá também para a realização de acções de divulgação e demonstração de tecnologias. A versatilidade do espaço e as suas condições de acessibilidade facilitarão as operações de montagem dos equipamentos para as experiências laboratoriais. Tendo como universo os materiais utilizados em engenharia de construção de edifícios e de habitats (vulgo “materiais de construção”), esta dissertação identifica e justifica quais os tipos de ensaios e equipamentos mais úteis e necessários para: a observação/caracterização da estrutura interna; caracterização das propriedades mecânicas; caracterização da composição química; caracterização das propriedades acústicas; e caracterização das propriedades térmicas. 1 Capítulo II 1. ÂMBITO DO CENTRO DE COMPETÊNCIAS EM MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO 1.1. Enquadramento do Centro de Competências em Materiais de Construção O Centro de Competências em Materiais de Construção será localizado na MACTÓNICA – Parque Tecnológico de Materiais de Construção, a instalar na Fátiparques - Parque de Negócios de Ourém /Fátima, no Concelho de Ourém. A Fátiparques encontra-se integrada nos Parques de Negócios do Vale do Tejo, sendo estes espaços para instalação de empresas que oferecem condições qualificadas e de exigente qualidade no desenvolvimento de actividades empresariais de natureza industrial, logística, comercial e de serviços. Os Parques de Negócios do Vale do Tejo encontram-se situados em Rio Maior (1ª Área de Localização Empresarial do País), Cartaxo, Santarém, Torres Novas e Ourém/Fátima, apresentando um conceito inovador em Portugal, dado serem Áreas de Localização Empresarial. As Áreas de Localização Empresarial distinguirem-se das tradicionais Zonas Industriais devido à sua elevada qualidade urbanística, mas não só, dado existirem um conjunto de características que as tornam únicas, sendo estas: Área delimitada e vedada Portaria / Recepção geral dos parques Restauração Hotel Estacionamento Posto de abastecimento de combustíveis Centro Empresarial: o Salas de formação o Salas de reuniões o Salas para instalação de empresas o Auditório o Centro de computadores; o Sala de vídeo-conferência Escolas Profissionais Health Club 2 Campos Desportivos Percursos pedonais e ciclovias Agência bancária Colégio/Creche Gás natural Elevada área de espaços verdes Segurança comum Parque de Ciência e Tecnologia Zona residencial O Centro de Competências em Materiais de Construção localizar-se-á na zona centro do País, entre os Distritos de Santarém e Leiria, junto à auto-estrada A1, onde é bem visível o peso económico e o dinamismo das empresas ligadas à construção, com especial destaque para os fabricantes e fornecedores de materiais, quer endógenos, quer provenientes de outras zonas de Portugal e do exterior. Apesar de vir a acumular perdas de actividade nos últimos cinco anos, o sector da construção representa, actualmente, cerca de 6% do PIB, 10% do emprego e quase 40% do investimento feito no País. Para além do peso que o sector da construção representa nos indicadores e que o afirmam como um dos motores da actividade económica, o grande desafio dos próximos anos prende-se com a inovação dos materiais, nas técnicas de construção, na gestão das obras, na eficiência energética, na utilização massiva das novas tecnologias e na qualificação dos recursos humanos. São estes os desafios que têm de ser ganhos e para cujo resultado o Centro de Competências de Materiais de Construção quer ter um papel muito activo e relevante. 1.2. Missão do Centro de Competências em Materiais de Construção A Missão primordial do Centro de Competências em Materiais de Construção será a de servir como plataforma facilitadora de contactos entre os protagonistas/agentes económicos e os centros de saber tecnológico (universidades, laboratórios, organismos de I&D). Para se criar um ambiente propício ao desenvolvimento e à transferência de tecnologias e de conhecimento para o sector produtivo é necessário aproximar “o saber” (conhecimento científico geralmente detido pelas instituições de investigação e de ensino superior, por vezes não valorizado em termos económicos), “o saber fazer” (conhecimento tecnológico e de concepção/projecto), “o poder fazer” (capacidade de produção, acesso a recursos humanos e a recursos financeiros) e “o poder vender” (capacidade competitiva e de acesso a mercados). O Centro de Competências em Materiais de Construção terá âmbito nacional e procurará reunir competências a partir da transferência de conhecimentos e de tecnologias, nomeadamente de Instituições Universitárias e dos seus organismos de I&D, e de outras instituições do Sistema Científico e Tecnológico Nacional ou estrangeiras a ele associadas, para apoio aos agentes 3 económico-sociais das áreas ligadas à construção, nomeadamente as ligadas ao fabrico e comercialização de materiais e equipamentos para a edificação e recuperação imobiliária. As áreas de actuação do Centro de Competências em Materiais de Construção visam cobrir todos os tipos de materiais e produtos para a construção, envolvendo desde as matérias-primas até aos produtos finais. 1.3. Objectivos do Centro de Competências em Materiais de Construção O Centro de Competências em Materiais de Construção terá como principais objectivos: A valorização do potencial da Região e do País, A criação de condições para uma maior inovação e competitividade das empresas, O fomento da internacionalização das empresas, O desenvolvimento de redes de cooperação, O apoio à inserção no tecido empresarial de jovens à procura do 1º emprego e de desempregados qualificados, A promoção e execução de projectos de ciência e tecnologia, a partir do levantamento das necessidades das empresas da região e do País, com base em trabalhos de I&D desenvolvidas por universidades portuguesas e outras entidades associadas ou cooperantes com estas, A promoção, execução e divulgação de I&D relativos ao estudo e valorização de materiais, recursos endógenos e técnicas locais ligadas à construção, Desenvolver e alargar a criação de estágios profissionalizantes nas empresas, nomeadamente no que respeita à concepção e desenvolvimento de novos produtos e adopção de novas tecnologias pelas empresas do sector, Criar condições para a integração de elementos formados pela universidade em empresas do sector de modo a reforçar as competências tecnológicas destas, aumentar a sua competitividade e acelerar o seu grau de internacionalização, Incentivar a cooperação entre as empresas do sector e entre estas e os promotores do Centro de Competências em Materiais de Construção, Incentivar a criação de fóruns de debate sub-sectoriais para articulação de estratégias conjuntas de captação de oportunidades de negócios e partilha de recursos, 4 Promover iniciativas conjuntas para apresentação de produtos inovadores e de base tecnológica do sector em feiras nacionais e internacionais, Criar uma Plataforma na Internet para apoio a iniciativas de I&D. 1.4. Tipo de serviços a prestar pelo Centro de Competências em Materiais de Construção Os principais tipos de serviços a prestar pelo Centro de Competências em Materiais de Construção serão: Apoio às empresas para a resolução de problemas tecnológicos, Apoio à participação de empresas em projectos de investigação, desenvolvimento e inovação, de carácter nacional ou internacional, Apoio à selecção e inserção de técnicos qualificados nas actividades das empresas (estágios curriculares ou de fim de curso, estágios profissionalizantes), Acções de divulgação de resultados de projectos de investigação / desenvolvimento industrial / desenvolvimento técnico / demonstração de tecnologias (realização de conferências, seminários, cursos e outros eventos). 5 Capítulo III Dado o objectivo deste trabalho ser a identificação dos ensaios e equipamentos mais utilizados na indústria de construção, este capítulo irá justificar a selecção dos mesmos. A selecção dos ensaios e equipamentos teve por base as normas NP; ISO; EN; BS; ASTM; ensaios efectuados por laboratórios acreditados, consulta de fornecedores de equipamentos, bem como uma visita realizada ao LNEC. Contudo não deixa de ser uma escolha pessoal, dado o vasto universo de ensaios existentes em cada uma das áreas. Os ensaios foram seleccionados de forma a abranger 5 áreas principais, sendo estas a observação/caracterização da estrutura interna; caracterização das propriedades mecânicas; caracterização da composição química; caracterização das propriedades térmicas; e caracterização das propriedades acústicas. Os equipamentos foram escolhidos de acordo com os ensaios normalizados seleccionados, bem como com a versatilidade dos mesmos, permitindo assim caracterizar o maior número de propriedades dentro das áreas acima referidas. 1. OBSERVAÇÃO/CARACTERIZAÇÃO DA ESTRUTURA INTERNA A microestrutura dos materiais resulta da composição, processo de solidificação e possíveis tratamentos termo-mecânicos. Como tal, estas variáveis determinam as respostas dos materiais quer em laboratório quer nas condições de serviço. Devido à relação Estrutura - Propriedades a caracterização dos materiais é utilizada para a especificação dos materiais, controlo de qualidade, certificação de produtos, controlo de processos e análise de falha [1]. 1.1. Ensaios utilizados na observação/caracterização da estrutura interna De entre os ensaios existentes para observação/caracterização da estrutura interna, seleccionaram-se os que estão enumerados na Tabela 1, dado estes cobrirem de uma forma geral a caracterização da estrutura interna, bem com, terem uma aplicabilidade que engloba a generalidade dos materiais utilizados na indústria de construção. 6 Tabela 1 - Ensaios utilizados na observação/caracterização da estrutura interna [2-4] Produto Todos os materiais sólidos Ensaio Método Categoria ASTM E 562 – 02 0 Ensaio de Determinação da Fracção Volúmica por Contagem Sistemática Manual de Pontos Aços, ferros Avaliação da Microestrutura da EN ISO 945:1994 fundidos Grafite em Aços Vazados ASTM A 247 – 67 Determinação do Tamanho Médio ASTM E 112 – 96 Todos os materiais cristalinos e celulares sólidos de Grão DIN 50601 0 0 NP 1467: 1977 (*) Metais e Ligas Preparação de amostras para ASTM E 3: 2001 ASTM E 340: 2006 exame metalográfico 0 ASTM E 407: 1999 Categoria 0: Ensaio realizado em laboratório (*) A Norma NP 1467:1977 não descreve um ensaio, mas sim um método de preparação das amostras para a execução dos ensaios de observação/caracterização da estrutura interna. Contudo, esta norma reveste-se de uma enorme importância, dado a preparação das amostras poder condicionar a boa execução dos ensaios. 1.1.1. Ensaio de determinação da fracção volúmica por contagem sistemática manual de pontos O procedimento manual de contagem de pontos, para estimar a fracção volúmica de um constituinte ou fase identificável na secção da amostra, utiliza uma grelha de pontos sobreposta sobre a microestrutura do material. Neste ensaio, sobrepõe-se uma grelha transparente com uma disposição regular de pontos sobre a imagem, ou sobre a projecção da imagem, produzida pelo microscópio óptico ou microscópio electrónico de varrimento, sendo que o número de pontos que caem dentro da fase ou constituinte de interesse é contado e dividido pelo número total de pontos da grelha, obtendo-se uma fracção de pontos, geralmente expressa em percentagem para a área observada. A fracção média de pontos para as medições de n áreas, dá a estimativa da fracção volúmica do constituinte. Este método é baseado no princípio da estereologia, onde uma grelha com um número regular de pontos, quando colocada sistematicamente sobre uma imagem de uma secção bidimensional com a microestrutura, pode fornecer, após um número representativo de colocações em diferentes áreas da imagem, uma estimativa fiável da fracção volúmica da fase ou constituinte identificável. 7 Qualquer número de constituintes claramente distinguíveis, ou fases dentro de uma microestrutura (ou macroestrutura), pode ser contabilizado utilizando este método. Assim este método pode ser aplicado a qualquer tipo de materiais sólidos a partir de secções bidimensionais, desde que estes sejam adequadamente preparados. A Figura 1 ilustra o método de contagem manual para determinação da percentagem de perlite na estrutura de um ferro fundido cinzento [5]. 100 µm Figura 1- Método de contagem manual para determinação da percentagem de perlite na estrutura de um ferro fundido cinzento - Adaptado de [6] 1.1.1.1. Requisitos das amostras A amostra seleccionada para medição da fase ou constituinte, deve ser representativa da microestrutura geral, ou da microestrutura dentro de uma localização específica. Qualquer orientação da secção preparada (isto é, longitudinal ou transversal) pode ser utilizada. Contudo deverá ser identificada a orientação, dado poder surtir efeito na precisão obtida Caso a microestrutura da amostra contiver gradientes ou heterogeneidades (por exemplo, zonamento), então a secção deverá conter ou mostrar o gradiente ou as heterogeneidades [5]. 1.1.2. Avaliação da microestrutura da grafite em aços vazados A norma EN ISO 945:1994 cobre a classificação da grafite em aço vazados em termos de tipo, distribuição e tamanho. Este ensaio é aplicável a todas as ligas Ferro-Carbono contendo partículas de grafite, podendo também ser aplicado a ferros fundidos cinzentos, ferros fundidos dúcteis e ferros fundidos nodulares. As características das partículas da grafite são designadas numericamente e por letras. O tipo, distribuição e tamanho da grafite, são comparados com as microestruturas idealizadas nas 8 cartas padrão e avaliadas, em conformidade tão próxima quanto possível com as microestruturas iguais ou similares das cartas. A comparação entre as partículas de grafite observadas e as estruturas representadas nas cartas, apenas dá uma informação meramente descritiva no tipo, distribuição e tamanho da grafite da amostra que está a ser avaliada. A amostra deverá ser preferencialmente obtida através do corte seccional do vazamento (por exemplo de uma peça) que irá ser analisado. Caso isso seja impraticável, é frequente anexar-se ao vazamento um provete de teste, sendo este posteriormente seccionado e utilizado como amostra [7]. A Figura 2 ilustra a imagem de um ferro fundido com grafite globular. Figura 2 - Imagem de ferro fundido cinzento com grafite globular – Adaptado de [8] 1.1.3. Determinação do tamanho médio de grão Os ensaios de determinação do tamanho médio de grão em materiais metálicos são um procedimento de medição baseado numa análise puramente geométrica. Este procedimento também pode ser utilizado em materiais não metálicos, para a estimar o tamanho médio de grão, cristais ou tamanho das células (no caso de materiais celulares). O método de comparação pode ser utilizado caso a estrutura do material tenha uma aparência semelhante a uma das cartas-padrão de comparação. Os métodos planimétrico e de intersecção podem ser sempre aplicados para determinação do tamanho médio de grão. Estes ensaios aplicam-se principalmente a estruturas monofásicas, podendo também ser aplicados na determinação do tamanho médio de grão a amostras com tipos particulares de estruturas de grão com multifases ou multiconstituintes, Os procedimentos mais utilizados na determinação do tamanho médio de grão são a intersecção linear e circular [9]. 9 1.1.3.1. Método de intersecção linear A estimativa do tamanho médio de grão é obtida pela contagem do número de grãos intersectados por uma ou mais linhas rectas suficientemente longas até perfazer a intersecção de pelo menos 50 grãos. É desejável seleccionar-se a combinação entre o comprimento da linha de teste e a ampliação, para que com um único campo de visualização da amostra se obtenha o número de intersecções requeridas. Este ensaio permite estimar o tamanho de grão ao número inteiro mais próximo do tamanho ASTM, na área de teste. A precisão da estimativa do tamanho de grão pelo método da intersecção é função do número de contagens de grãos intersectados. Como as extremidades das linhas de teste terminam geralmente dentro dos grãos, a precisão será reduzida caso a contagem por linha de teste for baixa. Sempre que possível, deverá ser utilizada uma linha de teste maior ou uma ampliação mais baixa. As contagens devem ser realizadas em 3 a 5 locais seleccionados aleatoriamente e devidamente separados, de forma a obter-se uma média razoável para a amostra. Caso a precisão aparente desta média não seja adequada, deverá ser realizada a contagem em campos adicionais suficientes, de forma a obter-se a precisão requerida para a média das contagens. Uma intersecção é o ponto onde a linha de teste é cortada pelo limite de grão. Ao contar-se as intersecções, a extremidade da linha de teste que penetra dentro do grão é contado como meia intersecção. A intersecção tangencial da linha de teste com um limite de grão deverá ser contabilizada como uma intersecção. Quando uma intersecção aparentemente coincide com a junção de três grãos, deverá ser contabilizada com uma intersecção e meia. Com grãos de formas irregulares, a linha de teste poderá gerar duas intersecções em duas partes diferentes do mesmo grão, junto com uma terceira intersecção do grão penetrado. As duas intersecções adicionais devem ser contadas [9]. A Figura 3 representa uma imagem do ensaio de determinação do tamanho de grão pelo método de intersecção linear. 200µm Figura 3- Imagem do ensaio de determinação do tamanho de grão pelo método de intersecção linear – Adaptado de [10] 10 1.2. Equipamentos necessários para a observação/caracterização da estrutura interna Para a realização dos ensaios acima referidos são necessários dois equipamentos, o Microscópio Óptico Metalográfico e o Microscópio Electrónico de Varrimento. É de referir que estes equipamentos permitem a realização de um vasto leque de ensaios, para além dos acima mencionados. Como processo auxiliar para a realização dos ensaios, temos a preparação das amostras para a qual são necessários os seguintes equipamentos: Hotte – Para manipulação (preparação de soluções para contrastar as amostras) e armazenamentos reagentes químicos Máquina de corte Máquina de corte fino Prensa Metalográfica Polideira Banho de ultra-sons Torno manual Secador Balança digital Outros materiais Os requisitos dos equipamentos necessários para observação/caracterização da estrutura interna encontram-se descritos no Anexo I. 1.3. Princípio de funcionamento dos equipamentos para observação/caracterização da estrutura interna 1.3.1. Microscópio Óptico Os componentes ópticos de um microscópio (óptico) são duas lentes de imagem (ocular e objectiva), a fonte luminosa e as lentes condensadoras . A ocular e a objectiva são responsáveis pela ampliação da imagem da amostra e projecção da mesma até à retina do utilizador ou câmara fotográfica. As lentes condensadoras são um conjunto de duas ou mais lentes convergentes que focam o cone de luz incidente sobre a amostra. O sistema de iluminação é composto por uma lâmpada de tungsténio ou de halogéneo que passa através das lentes condensadoras. O microscópio óptico permite obter ampliações até ~2000X e uma resolução de 200nm. A Figura 4 ilustra esquematicamente a estrutura do microscópio metalográfico, bem como o percurso da luz [11-13]. 11 Figura 4 - Esquema da estrutura do microscópio metalográfico e percurso da luz – Adaptado de [14] 1.3.2. Microscópio Electrónico de Varrimento (SEM) O SEM possui um canhão de electrões que produz um feixe (de electrões) com uma energia resultante de uma diferença de potencial que pode atingir os 40KV. As várias lentes electromagnéticas focam o feixe sobre a amostra num diâmetro de aproximadamente 2 nm. O feixe de electrões varre a amostra, sendo que os vários detectores recolhem a radiação e os electrões provenientes da amostra. Ao mesmo tempo que ocorre o varrimento, a imagem é transmitida pelo ecrã, sendo que o brilho da zona da amostra varrida é modelado por corrente amplificada através do detector, sendo a imagem produzida através da variação do sinal do detector. A Figura 5 ilustra esquematicamente o princípio de funcionamento do SEM [11, 15]. Figura 5- Esquema representativo do SEM – Adaptado de [16]. 12 Os sinais que derivam da interacção electrão-amostra revelam informação sobre a amostra, incluindo a morfologia externa, composição química, estrutura cristalina e a orientação dos cristais dos materiais que compõem a amostra. Os dados são recolhidos a partir da zona varrida da amostra, sendo gerados dois tipos de imagens, uma com informação qualitativa de composição formada a partir dos electrões retrodifundidos, e outra com informação topográfica quando é obtida através dos electrões secundários. As imagens variam entre 1 a 5 µm de largura, podendo ser obtidas ampliações de 10X a 1,000,000X; o poder de resolução pode atingir 0,5 nm. O SEM também permite a realização de análises em zonas seleccionadas da amostra, o que é extremamente útil na análise qualitativa e semi-quantitativa da composição química, utilizando a espectroscopia de dispersão de energia (EDS). Os electrões acelerados no SEM têm uma elevada energia cinética, sendo esta dissipada através de uma variedade de sinais produzidos pelas interacções electrão-amostra, quando os electrões são desacelerados na superfície da amostra. Estes sinais incluem os electrões secundários, os electrões retrodifundidos e os fotões (raios-X característicos que são utilizados para análises elementares e raios-X contínuos) [11, 15]. A Figura 6 ilustra a proveniências dos diferentes sinais da superfície da amostra. Os electrões secundários e retrodifundidos são normalmente utilizados para formar a imagem da amostra. Os vários processos que ocorrem são complexos, mas geralmente de fácil compreensão, existindo pouca ambiguidade na interpretação das imagens obtidas por SEM. Mais detalhadamente, descrevem-se a seguir os diferentes sinais gerados pela incidência do feixe de electrões. Figura 6- Proveniência dos diferentes sinais da superfície da amostra – Adaptado de [15] 13 1.3.2.1. Excitação de raios-X pela emissão de electrões A produção de raios-X deve-se às colisões inelásticas dos electrões incidentes com os electrões da nuvem electrónica dos átomos da amostra. Caso a energia do electrão incidente seja a necessária para ocorrer a ejecção de um electrão do átomo da amostra, então existe uma probabilidade finita da ocorrência de ionização, ou seja, excitação do electrão para um nível superior. Quando o electrão decai para um nível energético mais baixo (através de uma transição electrónica para o estado livre), esta transição é acompanhada pela emissão de um fotão. Caso o electrão excitado seja proveniente das camadas interiores do átomo, com o decaimento deste obtêm-se um fotão com a energia dentro do espectro de raios-X. Geralmente o decaimento de um electrão do estado excitado dá-se em mais do que um estágio, com a emissão de vários fotões em diferentes comprimentos de onda, cada um correspondendo à transição do átomo de volta ao estado fundamental. Os comprimentos de onda dos picos característicos que são emitidos constituem uma “impressão digital” dos elementos presentes no sólido e disponibilizam um bom método para identificação de elementos químicos e a sua distribuição. A Figura 7 ilustra esquematicamente o processo de emissão de raios-X [11, 15]. Figura 7 - Processo de emissão de Raios-X – Adaptado de [17] 1.3.2.2. Electrões Retrodifundidos Para além das colisões inelásticas, a interacção do feixe de electrões com a amostra produz também colisões elásticas entre os electrões e átomos da amostra. A dispersão elástica altera a trajectória dos electrões incidentes que interactuam com a amostra, sem alteração significativa da sua energia cinética. Neste caso pode-se pensar na dispersão elástica como um modelo de partículas pequenas (electrões) a colidirem com partículas grandes (átomos). Átomos grandes (com maior número atómico Z) têm maior probabilidade de produzir colisões elásticas, devido ao tamanho da sua nuvem electrónica. Consequentemente, o número de electrões retrodifundidos, detectados pelo detector é proporcional ao número atómico da amostra. Assim, as zonas da amostra com maior número atómico produzem uma intensidade de corrente maior, aparecendo na imagem como uma 14 zona clara, as zonas com número atómico baixo geram uma intensidade de corrente baixa e como tal produzem uma imagem escura. A Figura 8 ilustra uma imagem de SEM de um cimento tipo Portland obtida por electrões retrodifundidos. Figura 8 - Imagem de SEM de um cimento tipo Portland, obtida por electrões retrodifundidos – Adaptado de [18] 1.3.2.3. Emissão de Electrões Secundários A maior parte da corrente gerada na amostra deve-se ao impacto do feixe de electrões com a superfície da amostra, que através colisões elásticas transferem a sua energia para os electrões da amostra, excitando-os e ejectando os electrões secundários. De facto, o coeficiente de emissão de electrões secundários i.e. o número de electrões secundários emitidos por electrão do feixe incidente, é sempre superior a 1 podendo atingir várias centenas. Com este tipo de electrões obtêm-se um contraste topográfico sendo que nas zonas mais altas (saliências) tem-se uma melhor captação do sinal dado existirem 5 direcções de saída, enquanto as zonas mais baixas (reentrâncias) são zonas com um sinal mais fraco, dado apenas existir 1 direcção de saída. A Figura 9 ilustra as direcções de saída das diferentes zonas da amostra. Figura 9- Direcções de saída dos electrões das diferentes zonas da amostra – Adaptado de [17] 15 A Figura 10 mostra uma imagem de SEM produzida por electrões secundários da secção transversal do caule de um Juniperus. Figura 10 - Imagem SEM obtida por electrões retrodifundidos da secção transversal do caule de um Juniperus [19] 1.4. Exemplo prático da observação/caracterização da estrutura interna Dada a predominância da indústria metalomecânica na região de Santarém, este exemplo pretende ilustrar de que forma a observação/caracterização da estrutura interna pode responder na resolução de alguns problemas que surgem durante o processo de soldadura. Durante o processo de soldadura por fusão, os ciclos térmicos produzidos pelo fluxo de calor podem conduzir a alterações do estado físico, transformações de fase e tensões devidas ao gradiente térmico. Após a conclusão de um ciclo térmico, formam-se três zonas na zona soldada: Zona do Metal Fundido (ZMF) Zona Afectada pelo Calor (ZAC) Material de Base. 16 A Figura 11 mostra as 3 diferentes zonas de uma peça soldada em função da temperatura atingida. Figura 11 - Zonas de uma peça soldada em função da temperatura atingida – Adaptado de [20] O pico de temperatura e a subsequente taxa de arrefecimento determinam a estrutura da ZAC, sendo que quanto maior o pico de temperatura e menor a taxa de arrefecimento, maior será a largura ZAC. Uma elevada taxa de arrefecimento traduz-se numa ZAC menor, contudo esta (elevada taxa de arrefecimento) pode conduzir ao aparecimento de uma estrutura frágil, levando subsequentemente ao aparecimento de fendas ou à criação de locais de iniciação de fendas por fadiga. A estrutura do metal fundido é determinada pelo gradiente térmico, taxa de solidificação e taxa de arrefecimento líquido-sólido. A ZAC, é a zona onde a microestrutura sofreu uma alteração por efeito do calor durante o processo de soldadura, estando compreendida entre a estrutura original e o metal fundido. As fissuras originadas na ZAC são geralmente associadas a regiões de grão grosseiro tal como ilustra a Figura 12. As fendas podem ser intergranulares, transgranulares ou mistas. Figura 12 - Fenda ao longo da região de grão grosseiro [21] 17 Existem três factores que levam ao aparecimento de fendas na soldadura: Hidrogénio gerado no processo de soldadura O aparecimento de uma estrutura dura e frágil susceptível a fissuração Tensões de tracção na junta soldada. A fissuração, que ocorre normalmente à temperatura ambiente, pode ser causada pela difusão do Hidrogénio para as zonas de elevada tensão e dureza da soldadura. Nos aços Carbono-Manganês, como existe o risco de formação de microestruturas frágeis na ZAC, a maioria das fendas causadas pelo hidrogénio encontram-se no metal base. Em aços de baixa liga, como a estrutura do material de adição é mais susceptível de fissuração que a ZAC, a fissura ocorre no cordão de soldadura. No caso dos aços Carbono-Manganês, pode ocorrer o aparecimento de estruturas martensíticas na ZAC, sendo estas estruturas frágeis. Esta situação é extremamente problemática, visto poder colocar em risco a integridade da peça soldada [21]. No caso de se estar a considerar a estrutura em aço de um edifício, obtida por soldadura (em vez do usual betão armado), a formação de estruturas martensíticas na ZAC pode levar à fractura das juntas soldadas e subsequente colapso da estrutura. No caso de ocorrer coalescência de grão na ZAC, esta irá traduzir-se numa menor resistência mecânica (tensão de cedência) nesta zona, podendo também colocar em risco a integridade da estrutura. Para aferir se a técnica utilizada, material de adição, bem com os parâmetros do equipamento são os indicados para o componente/estrutura em questão, é necessário recorrer-se à metalografia óptica. O primeiro passo é cortar uma amostra contendo a zona soldada, sendo esta posteriormente preparada, ou seja, lixada, polida e contrastada. Para se observar se a amostra está bem contrastada recorre-se ao microscópio óptico, dada este ser mais prático. A observação e a recolha de imagens da microestrutura podem ser feitas no microscópio óptico. Caso se necessite uma maior resolução poder-se-á recorrer ao SEM. Em suma, a utilidade de um microscópio óptico não invalida a utilidade do SEM, dado estes equipamentos se complementarem, apesar de terem alguns pontos em comum. 18 2. CARACTERIZAÇÃO DA COMPOSIÇÃO QUÍMICA A composição química dos materiais é um dos factores que determina a sua microestrutura, que por sua vez determina as suas propriedades. As propriedades pretendidas para os materiais devem ser levadas em conta na definição do seu processo de fabrico. A caracterização química dos materiais reveste-se de uma enorme importância, não só por condicionar o processo de fabrico dos componentes, bem como a aplicação dos mesmos. 2.1. Ensaios utilizados na caracterização da composição química Na caracterização da composição química dos materiais utilizados na indústria de construção, existe um vasto leque de ensaios que são tipicamente utilizados, sendo que poucos estão normalizados. Em muitos casos os laboratórios têm procedimentos internos (ensaios) acreditados. Optou-se por apresentar o ensaio normalizado de análise química quantitativa por espectroscopia de energia dispersiva (EDS), referido na Tabela 2, como único ensaio normalizado a realizar na caracterização da composição química, por dois motivos: - o primeiro motivo prende-se com o facto de este ensaio permitir uma análise qualitativa e quantitativa de grande parte dos elementos químicos da tabela periódica; o segundo motivo deve-se ao facto do microscópio electrónico de varrimento já se encontrar contemplado nos equipamentos referidos no ponto 1 deste capítulo (observação/caracterização da estrutura interna), e como tal, o EDS ser apenas mais um detector a acoplar ao SEM, o que permite uma optimização de espaço no laboratório, bem como uma economia financeira. Tabela 2- Ensaios utilizados na Caracterização da Composição Química [2] Produto Materiais Sólidos Ensaio Ensaio de Análise Quantitativa por Espectroscopia de Energia Dispersiva Método Categoria ASTM E 1508-98 0 Categoria 0 – Ensaio realizado em laboratório 2.1.1. Ensaio de análise quantitativa por Espectroscopia de Energia Dispersiva (EDS) Os electrões produzidos pelo canhão de electrões do SEM, ao interagirem com os átomos da superfície da amostra, dão origem a vários sinais, sendo os raios-X um dos sinais produzidos. Os electrões mais exteriores dos átomos da amostra são excitados, mudando de nível energético sendo 19 que ao decaírem para sua posição inicial, libertam um fotão característico do átomo que são provenientes. O EDS mede a energia associada ao decaimento de cada um dos electrões, através dos fotões emitidos. Como os electrões de cada átomo possuem energias distintas, é possível, no ponto de incidência do feixe, determinar quais os elementos químicos presentes naquele local da amostra. A intensidade dos raios-X é proporcional à percentagem ponderal do elemento presente na amostra. No EDS os raios-X da amostra são detectados por um espectrómetro convertendo-os em impulsos eléctricos, proporcionais às energias características dos raios-X, sendo os espectros de EDS construídos a partir dos mesmos. As amostras devem ser planas na zona a analisar, sendo que caso hajam riscos, estes devem ocupar a menor percentagem da área, de forma a não interferir com os resultados obtidos. As amostras não devem ser contrastadas, ou pouco contrastadas, de forma a não alterar a composição na zona a analisar. As amostras não condutoras devem ter um revestimento condutor, como por exemplo carbono, de forma a prevenir um aumento da carga no material [3]. A Figura 13 ilustra um espectro de EDS, onde se verifica que a composição química da zona da amostra analisada apresenta um elevado teor de Níquel e Crómio [11, 22]. Figura 13 - Espectro de EDS [17] 2.2. Equipamentos necessários para caracterização da composição química Para realização do ensaio acima referido é necessário um EDS para acoplar ao SEM. O princípio de funcionamento do SEM já se encontra descrito no ponto 1 deste capítulo. O princípio de funcionamento do EDS encontra-se descrito no ensaio acima referido. Contudo para a caracterização da composição química é necessário outro equipamento, dado o SEM/EDS não permitir a determinação da estrutura cristalina dos materiais, mas apenas a 20 determinação dos elementos presentes na amostra. O outro equipamento necessário para a identificação das fases cristalinas presentes na amostra é o difractómetro de raios-X. Os requisitos dos equipamentos necessários para caracterização da composição química encontramse descritos no Anexo II. 2.3. Princípio de funcionamento dos equipamentos necessários para caracterização da composição química 2.3.1. Difractómetro de raios-X A radiação ao atingir um objecto pode ser dispersada. Quando a dispersão é inteiramente elástica, não há energia perdida no processo e o comprimento de onda da radiação dispersa mantém-se igual. Os átomos da rede cristalina interagem elasticamente com os raios-X, de modo a formar um espectro de difracção no qual a radiação é dispersa. Tanto os ângulos de difracção como as intensidades dos vários feixes difractados são sensíveis à estrutura cristalina. Os ângulos de difracção dependem da estrutura cristalina e da distância entre planos atómicos. A fase cristalina pode ser identificada a partir do seu espectro de difracção por comparação dos ângulos de difracção, entre os picos do espectro e as suas intensidades relativas com um espectro padrão. A comparação entre o espectro calculado e as medições realizadas, define o grau de correlação, determinando o grau de confiança com que o modelo é julgado para representar a estrutura cristalina. Geralmente, o espectro calculado é inicialmente comparado com a informação existente, mas se existir sérias discrepâncias com o espectro base conhecido, pode então ser necessário procurar um novo modelo da rede cristalina que explique melhor os resultados. A principal condição para se obter um padrão de difracção é que o comprimento de onda da radiação deve ser igual ao menor à distância interatómica da rede. A lei de Bragg permite determinar a distribuição angular dos picos de intensidades num espectro de difracção de uma rede cristalina. A lei de Bragg é dada pela seguinte equação [11]: nλ = 2d sin θ em que: n: Número inteiro λ: Comprimento de onda da radiação incidente d: Espaçamento dos planos da rede cristalina responsáveis pelo feixe difractado θ: Ãngulo que o feixe incidente faz com os planos da rede. 21 Eq. 1 A Figura 14 ilustra a difracção de raios-X. Figura 14 - Difracção de Raios-X – Adaptado de [23] Um difractómetro de raios-X é essencialmente constituído por fonte de raios-X, detector de raios-X e sistema de análise de dados. A Figura 15 ilustra o círculo focal de um difractómetro de raios-X. Figura 15 - Circulo focal de um difractómetro de Raios-X – Adaptado de [11] Um espectro de raios-X é obtido pela rotação de um detector de raios-X na amostra, estando esta montada num goniómetro. O goniómetro permite que a amostra rode num ou mais eixos. Para utilizar todo o potencial do método, o difractómetro deve estar alinhado correctamente e calibrado, de preferência para um ângulo inferior a 0.01º. O posicionamento correcto da amostra é bastante importante, especialmente num difractómetro com focagem, visto que o mais pequeno desvio no plano a amostra resultará numa alteração do ângulo de Bragg aparente [11]. 22 2.4. Exemplo prático da caracterização da composição química Como referido no ponto 1.4 deste capítulo, uma das actividades ligadas à indústria de construção de maior relevância na região de Santarém é a metalomecânica, nomeadamente a construção de estruturas metálicas soldadas. Um dos problemas que ocorre durante o processo de soldadura dos aços inoxidáveis é a sensitização (também conhecida como sensibilização). A sensitização consiste na combinação do carbono provenientes dos grãos com o crómio proveniente das regiões periféricas dos limites de grão, levando à formação de carbonetos de crómio nos limites de grão. A formação dos carbonetos de crómio deixa as zonas vizinhas dos limites de grão empobrecidas em crómio, o que se traduz numa diminuição da resistência à corrosão, levando muitas vezes à ocorrência de corrosão intergranular. Quando se realiza a soldadura, as diferentes zonas da estrutura são aquecidas a temperaturas diferentes, em função da distância ao cordão de soldadura. Nas zonas submetidas a temperaturas entre 450ºC e 800ºC, é possível que parte do Crómio situado nas proximidades dos limites de grão se combine com o carbono, formando Cr23C6 nas zonas em redor dos limites de grão, ficando estas empobrecidas em crómio. Quanto maior for o tempo de permanência nesta gama de temperaturas, e quanto maior for a entrega calorífica, maior será a probabilidade de formação de Cr23C6. Dado que é o crómio que torna o aço inoxidável (para teores acima de 13%), a sua diminuição junto dos limites de grão poderá levar à ocorrência de corrosão intergranular [24, 25]. Figura 16 - Diferentes zonas de uma peça soldada e temperaturas relativas a cada uma delas [25] A Figura 16 ilustra as diferentes zonas de uma peça soldada, bem como as temperaturas relativas a cada uma delas. A sensitização reveste-se de uma enorme importância, dado a corrosão intergranular (originada a partir da sensitização) poder levar à falha dos elementos estruturais. 23 Uma das formas de se aferir relativamente à existência ou não de precipitados de carbonetos de Crómio durante o processo de soldadura, consiste na observação de uma amostra (corte transversal da zona soldada), no SEM utilizando o EDS, a fim de se determinar a composição química na zona adjacente à soldadura. Numa primeira fase pode-se verificar a existência de precipitados através do contraste químico (Electrões Retrodifundidos), sendo que ao se analisar os raios-X característicos provenientes da amostra (com EDS), será obtida a composição química dos precipitados e desfeitas todas as dúvidas relativamente à sua composição. Desta forma pode adoptar-se um conjunto de medidas de forma a evitar a sensitização, e assim evitar a falha dos componentes (estruturas). Uma das medidas que pode ser tomada é o tratamento a quente da peça após soldadura, sendo esta sujeita a um aquecimento acima das temperaturas de sensitização, seguido de um arrefecimento rápido (têmpera). Com o aquecimento pretende-se dissolver os carbonetos de crómio formados, sendo que com o arrefecimento rápido (têmpera) pretende-se não dar tempo para nova formação de carbonetos de Crómio. Este procedimento apresenta-se como uma possível solução, contudo existe a limitação relativamente ao tamanho das muflas/fornos (aquecimento) o que coloca restrições ao tamanho das peças. Outro factor é o acréscimo de energia e tempo (mão de obra), levando a um aumento do valor do produto final. Outra medida que pode ser tomada, consiste na utilização de aços inoxidáveis com teor de carbono inferior a 0,02% (extra low steel ), visto a percentagem de Carbono disponível para formação de carbonetos de Crómio ser extremamente baixa, e assim se diminuir a susceptibilidade à corrosão intergranular (utilização do AISI 304L E 316L). Outra medida é adicionar ao aço (durante o fabrico) elementos com maior afinidade para o Carbono que o Crómio (estabilizadores), como por exemplo Titânio ou Nióbio (AISI 347 E 321) [24]. 24 3. CARACTERIZAÇÃO DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS Os ensaios mecânicos permitem dar conhecimento de como os materiais se comportam quando lhes são aplicados esforços de tracção, compressão, flexão, torção ou corte. Geralmente provocam a inutilização do material ensaiado, e por isso são classificados como ensaios destrutivos. Estes ensaios podem ser realizados em peças ou em provetes que reproduzam com fidelidade as características das peças. Os ensaios mecânicos são utilizados para certificação de produtos, bem como na indústria como controlo de qualidade e na investigação para estudo, comparação ou selecção de materiais. A gama de ensaios mecânicos é vasta e a sua escolha em determinada situação, é função da propriedade mecânica que se deseja conhecer, do tipo de solicitação a que a peça ou componente vai estar sujeita e das especificações a que o produto fabricado deve obedecer. O procedimento a ser seguido na sua execução está, na maioria dos casos, normalizado [26]. 3.1. Ensaios utilizados na caracterização das propriedades mecânicas Após consulta dos laboratórios acreditados em Portugal, onde se realizam ensaios para caracterização das propriedades mecânicas dos materiais de construção (Anexo III), bem como a marcação CE de pedras naturais, constatou-se que os ensaios mais utilizados nesta área são: Ensaio de tracção Ensaio de compressão Ensaio de dureza Ensaios de dobragem e flexão Ensaio de tenacidade Ensaio de fadiga (**) Ensaio de fluência (**) Ensaio de resistência gelo-degelo Ensaio de desgaste por abrasão Ensaio de resistência ao escorregamento/derrapagem (*) (**) Estes ensaios são englobados nesta secção, devido à sua importância na caracterização das propriedades mecânicas. Contudo, a realização dos ensaios de fadiga e fluência deve ser analisada mais aprofundadamente, dado a realização destes obrigar à aquisição de vários equipamentos, bem como os mesmos necessitarem de longos períodos de tempo, dado serem ensaios morosos, ou seja, para estes ensaios terem validade é necessário que a amostra seja representativa e as condições de ensaio sejam as 25 mesmas para todos os provetes. Geralmente, isto obriga a que todos os provetes sejam ensaiados ao mesmo tempo, para as condições de ensaio serem as mesmas para todos eles. (*) Este ensaio não se encontra mencionado no anexo III, contudo é obrigatório para a marcação CE das pedras naturais. 3.1.1. Ensaio de tracção O ensaio de tracção pode ser classificado como um ensaio mecânico de utilização universal. É usado tanto para determinar as propriedades mecânicas essenciais ao projecto, como no controlo de qualidade dos materiais. O ensaio de tracção consiste em solicitar um provete de geometria adequada com uma força uniaxial, continuamente crescente, efectuando-se em simultâneo o registo da força e do alongamento sofrido pelo comprimento de referência do provete, por intermédio de instrumentação apropriada. A Figura 17 mostra as diferentes dimensões a considerar num provete [27]. Figura 17- Diferentes dimensões a considerar num provete [27]. Onde: lt: Comprimento total lc: Comprimento da zona calibrada l0: Comprimento da zona de referência Tipicamente o ensaio é realizado à temperatura ambiente entre os 10ºC e 35ºC, sendo que os seus resultados são apresentados através de um gráfico tensão versus extensão. 26 Os provetes utilizados neste ensaio, têm geralmente secção transversal circular ou rectangular, podendo, no entanto, serem usadas outras geometrias. As dimensões do provete, devem obedecer a determinadas proporções geométricas, bem como ao próprio procedimento de ensaio que se encontram normalizados por instituições especializadas de cada país. Figura 18 -Etapas decorrentes do ensaio de tracção de um material dúctil [27]. A Figura 19 ilustra um provete com as amarras colocadas pronto a ser ensaiado. 1 2 Figura 19 - Provete com amarras colocadas – Adaptado de [27]. 1 – Amarras; 2 - Provete O ensaio de tracção permite obter muitas informações úteis para a caracterização mecânica dos materiais, nomeadamente: a tensão limite de elasticidade, o módulo de Young, a extensão limite de elasticidade, a tensão de ruptura, a extensão de ruptura e a extensão final. Outras informações que se podem retirar deste tipo de ensaio são a transição do regime elástico para o regime plástico 27 (no caso de materiais dúcteis) e a transição da plasticidade uniforme para a plasticidade não uniforme. A Figura 18 ilustra as diversas etapas que ocorrem durante o ensaio de tracção de um material dúctil. Nas máquinas de ensaio de tracção, a carga é aplicada mediante o deslocamento de um travessão, onde o provete e a amarra se encontram fixos. O travessão móvel desloca-se a uma velocidade, que pode ser constante ou ajustada manualmente durante o ensaio, dependendo do tipo de máquina utilizada. As máquinas de ensaios de tracção podem ser de vários tipos, onde o travessão se desloca por um sistema mecânico hidráulico ou servo-hidráulico. A carga desenvolvida é medida utilizando um registo analógico ou digital. Nos equipamentos mais recentes as cargas são medidas utilizando células de carga providas de extensómetros eléctricos e previamente calibrados. Contudo a montagem de extensómetros directamente ao provete é um processo mais rigoroso. 3.1.2. Ensaio de compressão Embora o ensaio de tracção uniaxial seja o mais utilizado na caracterização mecânica dos materiais, convém referir que existem algumas limitações na aplicação dos seus resultados aos processos de deformação plástica. Devido à instabilidade plástica que surge no ensaio de tracção uniaxial a curva tensão/extensão só se consegue definir para valores de extensão verdadeira muito inferiores à unidade. Porém, na maioria dos processos de deformação plástica as extensões efectivas alcançadas superam largamente a unidade, levando a que as propriedades mecânicas do material nessas gamas tenham que ser obtidas por extrapolação, o que pode ser manifestamente insatisfatório. Uma solução aparente que evita a formação da estricção será a de realizar ensaios de compressão, tendo como vantagem adicional, o facto das tensões envolvidas nos ensaios e nos processos tecnológicos terem, no essencial, a mesma natureza (estados de tensão basicamente compressivos) [26]. De entre os ensaios de compressão refere-se como mais importante o ensaio de compressão de um cilindro ou cubo entre pratos planos, como ilustra a Figura 20. Pratos Provete Figura 20 - Ensaio de compressão de um cilindro entre pratos planos – Adaptado de [27] Neste tipo de ensaio, o provete é comprimido axialmente entre dois pratos planos de elevada dureza, polidos e muito bem lubrificados. A lubrificação dos pratos tem como objectivo a diminuição 28 do atrito entre os pratos e o provete, evitando assim o efeito barril. A Figura 21 ilustra o efeito barril durante um ensaio de compressão. Figura 21 - Ensaio de compressão de um provete cilíndrico entre pratos planos, ocorrendo o efeito Barril – Adaptado de [27]. Estes ensaios são conduzidos de modo incremental, registando-se em cada paragem os valores da carga e do deslocamento. 3.1.3. Ensaios de dureza Os ensaios de dureza são os mais utilizados na indústria, especialmente na indústria metalomecânica, sendo empregues no controlo de qualidade em materiais e peças acabadas. A simplicidade de execução e o baixo custo dos equipamentos justificam a sua utilização generalizada. As aplicações dos ensaios de dureza incluem: a determinação aproximada das características de ductilidade e resistência de materiais; controlo de qualidade em tratamentos térmicos e mecânicos; controlo de qualidade em processos de conformação e em etapas de fabricação, etc. A dureza de um material pode definir-se como a resistência do mesmo à identação ou penetração. A determinação da dureza permite obter uma aproximação grosseira à determinação do valor de tensão de cedência [26]. 3.1.3.1. Ensaio de dureza Rockwell Este método foi introduzido por Rockwell em 1924, sendo ainda hoje o processo mais utilizado no mundo inteiro devido a: rapidez; facilidade de execução; elevada resolução; identação reduzida. No ensaio Rockwell o número da dureza está relacionado de forma directa com a profundidade identação. Neste ensaio cada unidade de variação corresponde a um deslocamento perpendicular à superfície do identador, de 0,002 mm. O ensaio de Rockwell apresenta várias escalas de medida, obtidas pela combinação de diferentes cargas com diferentes identadores [26]. O Anexo IV ilustra as diferentes escalas e cargas utilizadas no ensaio Rockwell, indicando-se as características e aplicações. O método de Rockwell difere dos outros, pelo facto de utilizar duas cargas durante o ensaio. Uma carga inicial (F0) que é aplicada sobre a amostra, garantindo um contacto firme do identador 29 com a superfície da amostra, eliminando a interferência de pequenos defeitos de superfície e defeitos mecânicos do próprio equipamento. Considera-se que neste momento a penetração é zero. A segunda carga (F1) maior que a inicial é aplicada, originando uma força total F. Na terceira e última fase do ensaio, após manter a força total (F) durante um determinado intervalo de tempo, retira-se a carga F1, verificando-se uma recuperação elástica do material, levando a uma subida do indentador. No final da recuperação elástica (instantânea) lê-se o valor de dureza na escala Rockwell apropriada. A Figura 22 representa as quatro etapas do ensaio Rockwell [28]. Figura 22 - Etapas do ensaio de dureza Rockwell – Adaptado de [28]. As quatro etapas do ensaio Rockwell são: 1 – Equipamento antes do ensaio 2 – Aplicação da pré-carga (F0) 3 – Aplicação da carga F1 4 – Carga F1 retirada No ensaio de dureza Rockwell são utilizados dois tipos de indentadores: esferas de aço com os seguintes diâmetros: 1,5875 mm (1/16”); 3,175mm (1/8”), 6,35mm (1/4”) 12,7mm (1/2”) 30 ou um cone de diamante de ângulo 120º, terminando numa calote esférica tangente ao cone, de raio 0,2mm [28]. A Figura 23 ilustra os dois tipos de indentadores utilizados no ensaio de dureza Rockwell. 1 2 Figura 23 – Tipos de identadores utilizados no ensaio de dureza Rockwell – Adaptado de [29] Sendo: 1 – Identador de esfera de aço 2 – Identador com cone de diamante 3.1.3.2. Ensaio de dureza e microdureza Vickers O ensaio Rockwell apresenta algumas limitações, como por exemplo, as suas escalas que não terem continuidade, como tal, materiais que apresentem dureza no limite de uma escala e no início de outra não podem ser comparados entre si quanto à dureza. Figura 24 - Geometria da identação no ensaio Vickers [26] O ensaio Vickers utiliza uma pirâmide quadrangular de diamante como indentador, tal como ilustra a Figura 24, sendo o ângulo entre as faces opostas da pirâmide de 136º. 31 No ensaio de dureza Vickers (HV), o número de dureza é definida pela fórmula carga/área de contacto da impressão, sendo l o comprimento médio da diagonal do losango da impressão, pelo que a dureza Vickers é dada pela equação [26]: HV = 1,858 Eq. 2 P l2 Este ensaio oferece duas vantagens face a outros ensaios de dureza. O primeiro é o facto de existir semelhança geométrica entre as impressões provocadas por diferentes cargas, o que torna a dureza praticamente independente da carga. A Figura 25 mostra que a dureza Vickers é praticamente constante com a variação de carga aplicada, excepto para cargas muito baixas em que normalmente se observa o efeito “pele” na amostra. As cargas recomendadas para este ensaio são 1; 2,5; 5; 10; 20; 30; 50; 100 Kg” Figura 25 - Variação da dureza Vickers com a carga [26]. A segunda vantagem do ensaio Vickers, consiste na possibilidade de obter valores de dureza para materiais muito duros (até 1500 HV). O tamanho extremamente reduzido da impressão obriga a que a peça tenha um bom acabamento superficial, sendo que o facto de a impressão ser pequena, é vantajoso para a realização deste ensaio em peças acabadas. O ensaio Vickers é também útil no controlo de qualidade de peças que apresentam variações de dureza na secção transversal, como é o caso de peças que tenham sofrido tratamento de endurecimento superficial (cementação, nitruração e outros), em que a dureza diminui exponencialmente da superfície para o interior. O pequeno tamanho da impressão permite determinar a dureza em vários pontos da secção transversal e assim estabelecer a variação da dureza em função da secção. No ensaio Vickers, a carga é aplicada automaticamente durante 15 segundos, sendo o tamanho das diagonais medidas com um microscópio incorporado no durómetro ou separado. Para a realização de um ensaio de dureza Vickers, é aconselhável que se adoptem certas medidas, a fim de se obterem valores de dureza o mais exacto possível. As medidas mais importantes são: 32 A superfície do material deve estar polida; Ausência absoluta de vibrações; Peças solidamente fixas; A distância entre o centro da impressão e o bordo da peça deve ser superior a duas vezes a diagonal; A distância entre centros de duas impressões deve ser superior a três vezes a diagonal da base da diagonal impressa; Os raios de superfícies curvas não devem ser inferiores a 5 mm. A microdureza Vickers envolve o mesmo procedimento prático que o ensaio Vickers, diferindo apenas na carga aplicada, dado esta ser inferior a 1 kg, podendo atingir valores de 10 gramas. Na microdureza Vickers como a carga aplicada é pequena, a impressão produzida é microscópica. 3.1.4. Ensaios de dobragem e flexão Existem vários tipos de ensaios de ductilidade, que se destinam fundamentalmente a obter dados adicionais sobre a ductilidade do material, para além da informação fornecida pelo ensaio de tracção. Dos ensaios de ductilidade, o mais importante é o ensaio de dobragem no qual um provete de secção transversal regular ou circular é deformada plasticamente segundo um grande ângulo e numa direcção apenas. Este tipo de ensaio permite uma análise qualitativa da ductilidade do material ensaiado, não sendo possível a obtenção de informação de carácter quantitativo. Contudo, o ensaio de dobragem é utilizado quer na indústria quer em laboratório, para avaliação de certos produtos, tais como: barras de aço para construção civil; juntas soldadas; tubos; arames [26-29]. 3.1.4.1. Ensaio de dobragem O ensaio de dobragem consiste em dobrar um provete de secção transversal regular ou circular (maciça ou tubular) por intermédio de um punção. O provete é assente em dois apoios afastados, de modo a que o eixo deste fique normal ao eixo dos apoios, sendo a distância de afastamento dos apoios função da secção do provete. O punção aplica uma carga sobre o provete até se atingir o ângulo desejado [29]. O resultado do ensaio de dobragem exprime-se pelo ângulo de dobragem, tipicamente 90º, 120º ou 180º, e pelo aparecimento ou ausência de fissuras na zona convexa do provete. O ângulo de dobragem (α) é definido, através do ângulo formado após ensaio pelos segmentos rectilíneos do eixo do provete [28]. A Figura 26 mostra a forma de medição do ângulo de dobragem. 33 Figura 26 - Medição do ângulo de Dobragem [28] Relativamente ao ensaio de dobragem, podem ser consideradas duas variantes: a dobragem livre e a dobragem semi-guiada. A dobragem livre pressupõe que a aplicação da força se realiza nas extremidades do provete, tal como ilustra a Figura 27. Figura 27 -Ensaio de Dobragem livre [28] Punção Punção Punção Figura 28 - Variantes do ensaio de dobragem semi-guiado [28] No caso da dobragem semi-guiada, o provete pode ser encastrado numa das extremidades, sendo que a dobragem ocorre numa região determinada pelo punção [30]. A Figura 28 ilustra as várias variantes da dobragem semi-guiada. 34 O ensaio de dobragem semi-guiado é muito utilizado em provetes soldados, a fim de se avaliar a ductilidade do cordão de soldadura e apreciar a sua execução. Para a realização deste ensaio, os provetes são recolhidos de uma chapa soldada, de forma a que o seu eixo longitudinal seja perpendicular ao cordão de soldadura. São admissíveis operações de acabamento de superfície de acordo com a norma respectiva, com o objectivo de evitar a formação de estrias transversais na face do provete sujeita a tracção. Os resultados são avaliados pelo aparecimento, ou não, de fissuras na face do provete traccionada, quando o provete é dobrado até 180º [26]. A Figura 29 ilustra o ensaio de dobragem semi-guiado de um provete soldado. 2 1 Figura 29 - Ensaio de dobragem semi-guiado a um provete soldado – Adaptado de [28] Sendo: 1 – Provete antes de ser ensaiado; 2 – Provete após ensaio L0 – Largura do cordão de soldadura antes do provete ser ensaiado L – Largura do cordão de soldadura após o provete ser ensaiado 3.1.4.2. Ensaio de flexão O ensaio de flexão é mais utilizado em materiais frágeis, dado permitir determinar a tensão de flecha de ruptura, para além de permitir avaliar outras propriedades mecânicas como o módulo de elasticidade à flexão. A grande vantagem deste ensaio, reside no facto de se poder utilizar provetes mais fáceis de maquinar que os provetes utilizados no ensaio de tracção. No entanto, para materiais muito frágeis, os resultados obtidos apresentam uma grande dispersão de valores (até 25%), de modo que, nestes casos devem ser realizados diversos ensaios de forma a estabelecer um valor médio com maior exactidão. A técnica deste ensaio consiste em apoiar o provete em dois apoios distanciados de um comprimento L (sendo este tipo de montagem muito semelhante ao ensaio de dobragem), sendo posteriormente aplicada uma força de flexão. Neste tipo de ensaio são colocados extensómetros na 35 zona sujeita à tracção, ou seja, na zona inferior do provete, para medir a deformação. A Figura 30 ilustra um ensaio de flexão em três pontos, de uma viga simplesmente apoiada [26]. Figura 30 - Esquema de flexão de uma viga simplesmente apoiada [28] Os resultados dos ensaios de flexão são afectados, sobretudo em materiais frágeis, por vários factores tais como: velocidade de aplicação da força de ensaio; a distância entre apoios; dimensão transversal do provete. Em provetes com a mesma secção e dimensão, quanto menor for a distância entre apoios, mais elevado é o módulo de ruptura obtido, quanto maior a velocidade de aplicação da força, mais elevada é a resistência à flexão [29]. 3.1.5. Ensaio de Tenacidade A tenacidade define a aptidão do material para absorver energia no domínio plástico até à ruptura. O valor da tenacidade varia com alguns factores que influenciam a energia de fractura, como sejam: as condições de tensão; a geometria do material; a velocidade de aplicação da carga; e a temperatura. A fractura de um material submetido a solicitações estáticas ou monotonamente aplicadas pode ser frágil ou dúctil. A fractura frágil é caracterizada pela libertação, num pequeno intervalo de tempo, de uma elevada quantidade de energia de deformação, que faz progredir a grande velocidade uma fenda existente no material. Na fractura frágil, a deformação plástica é reduzida, o que não permite, por exemplo, que, numa estrutura, certos elementos suportem um certo grau de plastificação antes da ruptura. Portanto a fractura frágil é, de um modo geral, catastrófica, visto que a resistência residual existente numa estrutura em processo de fractura frágil é bastante baixa [26]. No caso da fractura dúctil, esta caracteriza-se pela elevada deformação plástica antes da ocorrência de fractura. A elevada deformação plástica, traduz-se numa elevada quantidade de energia absorvida pelo material antes da ocorrência de fractura. Os mecanismos de fractura estão relacionados com os planos cristalográficos, e designam-se por corte e clivagem. O mecanismo de corte é provocado pelo escorregamento de certos planos cristalográficos (em especial aqueles em que a tensão de corte é máxima), correspondendo a uma quantidade apreciável de deformação plástica local, como acontece na fractura dúctil. A clivagem verifica-se em planos cristalográficos diferentes, sendo provocada por uma tensão normal de tracção envolvendo pouca deformação plástica localizada (fractura frágil) [29]. 36 Sob o ponto da morfologia da fractura, uma peça que fracturou por corte apresenta um aspecto fibroso, enquanto uma peça que fracturou por clivagem, revela uma superfície de fractura brilhante e regular. 3.1.5.1. Ensaios de impacto Charpy e IZOD Da variedade de ensaios de impacto existentes, destacam-se dois tipos fundamentais: o de impacto por batimento de pêndulo tipo martelo, e o de impacto por queda de um peso calibrado sobre o provete. Contudo existem outro tipo de ensaios muito pouco utilizados. Dos dois tipos de ensaios atrás indicados, o pêndulo de impacto é o mais utilizado. O ensaio de impacto ideal seria aquele em que toda a energia de impacto fosse transmitida ao sistema de ensaio. Porém, este facto não se verifica, dado que uma parte da energia se perde por atrito, nas deformações dos apoios e da massa que incide sobre o provete. O ensaio instrumentalizado permite determinar com rigor, apenas a energia absorvida pelo provete na ruptura. Nos ensaios de impacto por pêndulo, submete-se um provete, que contém um entalhe em “V” ou “U” na sua secção, a uma carga de impacto aplicada por um martelo ou pêndulo, com uma energia potencial conhecida. O provete flecte até à fractura, e a resiliência oferecida ao impacto é a medida da energia absorvida pelo provete. Este tipo de ensaio é simples, rápido e pode indicar diferenças de tenacidade entre materiais que não é possível detectar com o ensaio de tracção. Encontram-se normalizados dois tipos de provetes, constituindo estes os ensaios de Charpy e IZOD [26]. Uma das formas de utilizar este tipo de equipamentos consiste em colocar um provete Charpy com entalhe em V (representado na parte superior da Figura 31) transversalmente aos apoios paralelos (ou amarras) na máquina. A Figura 31 ilustra um ensaio de impacto com um provete Charpy. Figura 31- Ensaio de impacto com um provete Charpy [30] 37 O pêndulo pode atingir uma energia de 500 J, embatendo no provete com uma velocidade que pode alcançar 5 m/s na zona de entalhe, flectindo o provete e provocando a fractura. Estes valores de energia e velocidade de impacto, são frequentes para aços de construção com elevada tenacidade. Uma escala calibrada no aparelho indica a energia absorvida na fractura, que depende da altura atingida pelo pêndulo após fractura do provete. Quanto maior for a energia absorvida na fractura, menor será a altura atingida pelo pêndulo. Os equipamentos mais modernos, são instrumentadas com equipamento electrónico (pêndulo de impacto instrumentado). Neste caso utilizam-se células de carga com extensómetros electrónicos, que medem a carga durante o impacto que dura, normalmente, 0,1 a 0,4 ms. Os dados são recolhidos num sistema de aquisição de dados. Os dados dos ensaios ficam armazenados neste sistema, e podem ser posteriormente, tratados e analisados. No ensaio IZOD o provete está suportado verticalmente, sendo que o martelo tem uma energia inicial de 166 J, e incide no provete com uma velocidade de 2 – 3 m/s. Para maior precisão de leituras, as perdas por atrito (que normalmente não excedem 1%) podem ser determinadas antes dos ensaios. Com a instrumentação electrónica dos pêndulos, obtêm-se curvas carga-tempo ou energia-tempo, que permitem um estudo cronológico do comportamento do impacto [26]. 3.1.6. Fadiga A ruptura por fadiga é provocada pela nucleação e propagação, mais ou menos lenta de fendas que aparecem numa peça submetida a tensões dinâmicas. O processo de fadiga pode considerar-se dividido em quatro fases, tal como ilustra a Figura 32. Figura 32 - Fases do processo de fadiga [26] As duas primeiras fases constituem o período de iniciação da fenda. A propagação macroscópica (visível à vista desarmada) constitui o período de propagação da fenda. Para que se verifique fadiga é, portanto, necessário que haja a nucleação de uma fenda numa determinada região do material e que haja propagação dessa mesma fenda, podendo conduzir a uma ruptura final. A ASTM definiu de maneira muito clara o que se entende por fadiga, sendo a sua tradução: “Fadiga é um processo de alteração estrutural permanente, progressivo e localizado, que ocorre num material sujeito a condições que produzem tensões ou extensões dinâmicas, num ponto ou em vários 38 pontos, e que pode culminar em fendas ou numa fractura completa após um número suficiente de variações de carga”. As palavras-chave do processo de fadiga encontram-se em Itálico. Assim a palavra “progressivo” indica que o processo de fadiga se verificou durante um certo período de tempo ou uso. Uma ruptura por fadiga é muitas vezes súbita e inesperada, dado a fenda não ser visível ou estar inacessível. Contudo, os mecanismos envolvidos na ruptura podem ter estado a funcionar desde o início de funcionamento da peça ou estrutura. A palavra “localizado” significa que o processo de fadiga se dá em pequenos locais e não em toda a peça ou estrutura. Estes locais podem ter tensões e extensões elevadas, devido a: transferências externas de carga; variações bruscas de geometria (concentração de tensões); tensões residuais; diferenciais de temperatura; e imperfeições do material. As palavras “fenda” e “fractura” significam que numa zona critica do material um fenda cresceu até um ponto em que o material restante na secção transversal não foi capaz de suportar as tensões aplicadas, dando-se a fractura súbita. A duração de uma peça à fadiga define-se geralmente pelo número de ciclos de aplicação de carga até à ruptura. O número de ciclos de ruptura Nr, será, portanto, a soma do número de ciclos de nucleação + iniciação da fenda, Ni, com o número de ciclos de propagação, Np. Portanto no caso geral pode-se escrever [26]: Nr = Ni + N p Eq. 3 3.1.6.1. Ciclos de tensão de fadiga Como referido anteriormente, a fadiga só se manifesta numa peça se a tensão aplicada for dinâmica, isto é, variar com o tempo. Um ciclo de tensão de fadiga traduz, assim, a variação da tensão aplicada com o tempo ou com o número de ciclos de aplicação de carga. A Figura 33 ilustra os principais tipos de ciclos de tensão de fadiga, sendo estes se podem dividir-se em dois grandes grupos. Alternado (Figura 33 a) Ciclos (solicitações) a amplitude de tensão constante Repetido (Figura 33 b) Pulsante (σ min = 0) Blocos (Figura 33 c) Ciclos (solicitações) a amplitude de tensão variável 39 Irregular ou aleatório (Figura 33 d) Figura 33 – Principais tipos de tensão de Fadiga [26] Os gráficos representados na Figura 33 têm no eixo das ordenadas a tensão aplicada, e no eixo das abcissas ciclos ou tempo. O ciclo de tensão é a menor parte da função tensão, que é periódica e repetida. Uma solicitação, a amplitude de tensão constante é constituída por N ciclos com a mesma onda (Figura 33 a), o que não sucede nas solicitações a amplitude de tensão variável (Figura 33 c, d). A relação entre o tempo e o número de ciclos é dada pela Eq. 4 [26]: f = N t Eq. 4 Onde: f: frequência de aplicação da carga em ciclos/segundo ou ciclos/minuto, N: número de ciclos t: tempo correspondente a esse número de ciclos em segundos ou minutos. A função que descreve o ciclo de tensões, denominada onda de tensões, pode assumir várias formas (sinusoidal, linear ou triangular, trapezoidal, exponencial, parabólica, etc). 40 3.1.6.2. Ensaios de Fadiga Os ensaios de fadiga podem ser realizados em: provetes; nas próprias peças; estruturas; ou detalhes. Os ensaios de fadiga em provetes destinam-se quase exclusivamente a fazer: selecção de materiais; tratamentos térmicos; tratamentos mecânicos; tratamentos químicos; condições de processamento; etc. Na maior parte dos casos, os ensaios em provetes só têm interesse comparativo, visto raramente o provete a ensaiar ter uma geometria idêntica ou semelhante à da peça em serviço. Contudo, os ensaios em provetes são mais usuais, dado serem os de mais fácil execução e menor custo de realização, encontrando-se normalizado em alguns países. As dimensões dos provetes são pequenas, permitindo ensaios em laboratório com máquinas de pequena ou média capacidade. Os ensaios em componentes, pode também ter fins comparativos em termos de materiais, sendo mais utilizados para optimização de formas geométricas e estabelecimento de tensões admissíveis. Os ensaios em estruturas ou parte da estrutura, têm a mesma finalidade que os ensaios em componentes, sendo no entanto ensaios geralmente dispendiosos, que só se justificam caso a informação a retirar seja de grande importância para a optimização do projecto. Este tipo de ensaio também é utilizado na fase de projecto e desenvolvimento de protótipo. Nos protótipos, reproduzemse em laboratório as solicitações obtidas em serviço por intermédio da análise experimental de tensões. O ensaio mais habitual, e também o mais simples e económico de realizar, é o ensaio de flexão rotativo, que simula o estado de tensão num veio rotativo submetido a cargas transversais. Este ensaio encontra-se normalizado e consiste em submeter a um esforço de flexão simples ou puro um provete de secção circular que roda a velocidade constante. O provete encontra-se encastrado numa das extremidades com a outra extremidade livre, em que se aplica a carga estática que provoca flexão. Em algumas máquinas essa carga é aplicada por intermédio de uma alavanca, tendo a vantagem de permitir variar a carga apenas por deslocação de peso. A Figura 34 ilustra esquematicamente o funcionamento de uma máquina deste tipo. Figura 34 - Máquina de ensaio de fadiga, utilizando flexão rotativa [26]. 41 Para cargas elevadas, as dimensões dos excêntricos e as forças de inércia criadas na rotação são grandes, sendo mais conveniente aplicar as cargas com cilindros hidráulicos ou servohidráulicos. As máquinas de tracção com capacidade de carga superior a 20 kN utilizam sistemas servo-hidráulicos que trabalham em circuito fechado com controlo de forças, deslocamentos e extensões. Este princípio de funcionamento está representado esquematicamente na Figura 35. A posição e o curso do cilindro, são controlados ou pela carga medida na célula de carga com extensómetros eléctricos, ou por um transdutor de deslocamentos ou por extensómetro directamente acoplado ao provete, consoante se pretenda impor uma força, um deslocamento ou uma extensão, respectivamente. Figura 35 – Equipamento de ensaio de fadiga com sistema servo-hidráulico [26] 3.1.7. Fluência A fluência é definida como a variação da extensão de um material quando solicitado a tensão constante. Neste fenómeno, o tempo e a temperatura têm um papel muito importante. Em condições reais os materiais sofrem diversas solicitações durante longos períodos de tempo, verificando-se deformações permanentes, mesmo quando estes são sujeitos a tensões abaixo do seu limite elástico. A velocidade de deformação é tanto maior, quanto maior for a temperatura. Neste tipo de ensaio o controle da temperatura é muito importante, dado que pequenas variações de temperatura podem causar significativas alterações na velocidade de fluência. A evolução da deformação (ε) de uma amostra em função do tempo (t), a uma temperatura (T) fixa e sujeita a uma carga constante, é tradicionalmente apresentado, sob a forma de uma curva de deformação versus tempo, conforme apresenta a Figura 36. . 42 Figura 36 - Curva tipica de fluência [29] Nesta curva são visíveis três zonas distintas: Uma primeira zona conhecida como fluência primária ou transitória (εp) que é caracterizada por uma velocidade de deformação dε/dt que diminui ao longo do tempo. Uma zona posterior de fluência secundária ou estacionária (εs) caracterizada por uma velocidade de deformação sensivelmente constante Uma zona final (fluência terciária - εt) em que a velocidade aumenta ao longo do tempo até à ocorrência da ruptura. A deformação por fluência é a soma das deformações primária (εp), secundária (εs) e terciária (εt), podendo ser representada por uma equação do tipo: ε = ε p + ε s + ε t = at 1 / 3 + bt + ct 3 Eq. 5 A evolução da velocidade de deformação ao longo do tempo é traduzida pelo declive da curva de fluência em qualquer ponto. A primeira fase apresenta uma velocidade de deformação dε/dt decrescente na qual a resistência à fluência do material aumenta por efeito do encruamento. A fluência primária é preponderante a baixas temperaturas (0,3 Tf – 0,5 Tf), sendo Tf a temperatura de fusão do material. Na zona de fluência secundária ou estacionária (εs) a velocidade de deformação resulta de um equilíbrio entre os processos de encruamento e os de restauração, traduzindo-se numa velocidade de deformação sensivelmente constante. A terceira fase, corresponde a um fenómeno de instabilidade por estricção idêntico ao observado no ensaio de tracção de materiais dúcteis [26]. 43 3.1.7.1. Ensaios de Fluência Nos ensaios de fluência utilizam-se dispositivos relativamente simples de aplicação de cargas, onde se instalam fornalhas, podendo operar a altas temperaturas. Uma das solicitações mais frequentes do ensaio de fluência é a de tracção (também sendo comum a compressão e flexão). Como é necessário aplicar uma carga constante durante largos períodos de tempo, pode-se utilizar um sistema de carga com pesos, do tipo balança estática. A Figura 37 representa um esquema simplificado de, uma máquina de ensaio de fluência. A parte superior do provete está ligada a uma alavanca articulada que num dos extremos recebe um prato onde se colocam os pesos calibrados. A carga aplicada ao provete é simplesmente o produto dos pesos colocados no prato, pela relação entre os braços da alavanca. A extremidade inferior do provete está ligada a um parafuso de posicionamento axial. Por baixo da placa de colocação dos pesos situa-se normalmente, um interruptor que é accionado quando o provete parte ou atinge uma determinada extensão pré-ajustada. O interruptor faz então parar o contador de horas, registando o número de horas correspondente. O provete é colocado na zona central da estrutura da máquina, sendo a extensão axial do provete medida com um extensómetro ligado a um registador de tempo [26]. Figura 37- Corte transversal de uma máquina de ensaios de fluência [26] 44 3.1.8. Ensaio de resistência ao Gelo Este tipo de ensaios permite realizar dois tipos de testes, um relativo a testes tecnológicos (Teste A), para estudar os ciclos gelo/degelo, e outro relativo a testes de identificação (Teste B). A determinação da resistência ao gelo, baseia-se num teste com ciclos, onde a amostra gela ao ar e degela dentro de água. Para testes de identificação deverão ser utilizadas no mínimo sete amostras que sejam consideradas representativas do material em estudo. No caso dos testes tecnológicos, o número de amostras utilizadas deverá estar de acordo com a norma em vigor. Neste caso é necessário utilizar dois conjuntos de amostras, um conjunto para teste após este ter sido submetido aos ciclos gelo/degelo, e outro para teste sem ter sido submetido a estes ciclos, sendo cada conjunto escolhido aleatoriamente. A Tabela 3 mostra os ensaios que são realizados para verificar a influência dos ciclos gelo/degelo. Tabela 3 - Ensaio de resistência ao gelo [31] Flexão Dimensão da amostra em mm (ver Nota 1) Teste tecnológico (Teste A) Carga na Choque inserção Térmico 200x 200 x t1 ou 200 x 200 x 20 300 x 300 x t2 (ver Nota 2) Compressão (ver Nota 4) Número 5 ou 7 mínimo de 21 15 13 (ver Nota 3) amostras Nota 1 Dimensão da amostra de conforme EN 12372 ou prEN 13161. Nota 2 30 mm ≤ t1 ≤ 65 mm; 65 mm ≤ t2 ≤ 80 mm. Nota 3 O número de amostras depende da presença de características anisotrópicas. Nota 4 Dimensão da amostra conforme EN 1926 Teste de identificação (Teste B) 50 x 50 x 300 13 O teste tecnológico é utilizado para observação da influência dos ciclos gelo/degelo nas propriedades mecânicas das rochas, sendo a forma dos provetes relacionada com a norma em vigor para esse ensaio. No caso do teste de identificação, são utilizados provetes com a forma de prismas rectangulares com as dimensões de 50x50x300mm em que o eixo mais longo deve ser paralelo aos planos de anisotropia. São colocados pontos de referência na amostra, servindo estes para realizar a medição do coeficiente elástico dinâmico antes e após o teste. Quer no teste tecnológico, como no teste de identificação é utilizada uma amostra de monitorização de temperatura, onde é colocado um dispositivo de medição de temperatura (como um termopar) durante os ciclos gelo/degelo. O diâmetro do furo deve ser o apropriado, de forma a se poder colocar o termopar no interior. O centro do furo deve ser equidistante dos limites da amostra, tendo uma profundidade de pelo menos 50mm em provetes rectangulares, no caso de se utilizar cubos a profundidade do furo deve ser 25±5mm. 45 As amostras são secas a uma temperatura de 70±5ºC para se obter uma massa constante. Assume-se que se obteve uma massa constante quando nas medições do peso se observa uma diferença de massas menor 0.1% da primeira massa medida num intervalo de 24±2h. A medida da amostra seca, é o valor inicial Md0. Caso as amostras sejam utilizadas para testes de identificação, deverá ser obtido o valor do módulo de elasticidade, sendo este registado como o valor inicial, E0. Para o teste tecnológico, o número de ciclos é dado na norma específica apropriada (variando conforme o tipo de aplicação final ou o requisito do cliente). No caso do teste de identificação, o número máximo de ciclos é dado pelo cliente. Caso não seja especificado o número de ciclos pelo cliente, deverá continuar-se o teste até à fractura, ou até um máximo de 240 ciclos. As amostras são colocadas dentro do tanque de forma a não estarem em contacto umas com as outras, nem com as paredes do tanque. Após 14 ciclos (ou menos se for conveniente) devem-se virar as amostras 180º segundo o eixo horizontal. Cada ciclo consiste num período de 6 horas de arrefecimento (gelo) ao ar, seguido de um período de 6 horas, em que as amostras estão imersas em água. Os ciclos devem ser repetidos até as amostras fissurarem, ou até um dado número máximo de ciclos. Durante o ciclo, as alterações de temperatura no centro da amostra monitorizada, devem estar dentro dos limites descritos pela Tabela 4. A escala de temperaturas permitidas é o resultado das diferentes velocidades de arrefecimento, de congelamento e de descongelamento, estando estas relacionadas com a densidade aparente, porosidade e absorção de água da rocha testada. Tabela 4 – Condições de ensaio gelo/degelo [31] Início do ciclo Etapa 1 Etapa 2 Etapa 3 Etapa 4 Etapa 5 Temperatura no centro da amostra monitorizada ≥ +5ºC ≤ +20ºC ≤ 0ºC ≥ -8ºC ≤ -8ºC ≥ -12ºC Imersão total ≥ +5ºC ≤ +20ºC ≥ +5ºC ≤ +20ºC Tempo T0 T0 + 2,0 h T0 + 6,0 h T0 + 6,5 h T0 + 9,0 h T0 + 12,0 h 3.2. Equipamentos necessários na determinação das propriedades mecânicas Para determinar as propriedades mecânicas acima mencionados, são necessários diversos equipamentos, sendo que, em alguns casos o mesmo equipamento permite realizar mais do que um ensaio. Os equipamentos necessários na determinação das propriedades mecânicas são: Máquina com sistema mecânico servo-hidraúlico biaxial Durómetro Rockwell digital Microdurómetro Vickers digital 46 Máquina de ensaio de impacto por batimento de pêndulo Máquina de ensaio de fadiga de flexão rotativa Máquina de ensaio de fadiga com sistema servo-hidraúlico Câmara gelo-degelo Máquina de desgaste abrasivo – Los Angeles Pêndulo Britânico Como processo auxiliar para a realização dos ensaios, temos a preparação dos provetes para a qual são necessários os seguintes equipamentos: Fresadora Torno mecânico Os requisitos dos equipamentos necessários para caracterização das propriedades mecânicas encontram-se descritos no Anexo V. 3.3. Exemplo prático da caracterização das propriedades mecânicas Dada a elevada predominância do sector extractivo e transformação de pedra na região, este exemplo prático pretende demonstrar de que forma os ensaios mecânicos podem promover o aumento de exportação de pedras naturais. O sector extractivo de rochas ornamentais em Portugal apresenta um elevado peso económico, exemplo disso, é o facto de Portugal em 2004 ocupar o 7º lugar no Ranking Mundial de exportadores de Rochas Ornamentais. A Tabela 5 apresenta a evolução de 2001 a 2004 dos maiores exportadores mundiais de rochas ornamentais, onde se constata que Portugal tem vindo a perder peso nas exportações ao longo deste período, dado em 2001 representar 5% das exportações mundiais e em 2004 representar 3,5% das exportações mundiais. Tabela 5 – Principais exportadores mundiais de pedra [32] 47 O mercado da pedra natural é cada vez mais exigente ao nível da qualidade e, como se trata de um subsector de exportação/importação, a certificação dos seus produtos constitui uma mais-valia tornada quase imprescindível. Um dos factores que poderá levar ao aumento de competitividade da exportação de rochas naturais é a marcação CE. Esta medida acaba por constituir uma inegável mais-valia para os produtos nacionais, uma vez que, para além de facilitar a comercialização no seio da União Europeia, por outro lado induz a procura dos produtos com a marcação CE em detrimento dos que não possuem esta marcação. Nas Tabela 6 e Tabela 7 enumera-se os ensaios necessários para a marcação CE das pedras naturais. Convém referir que os ensaios têm como objectivo determinar as características físico-mecânicas da pedra natural. Estas características são úteis porque reflectem o comportamento que determinada pedra natural exibe face a solicitações de natureza físico-mecânica, simulam situações reais a que a pedra natural está sujeita quando aplicada em obra, e avaliam a aptidão de uma pedra natural para uma determinada aplicação. Tabela 6 – Características essenciais (“CE”) e voluntárias (“V”) [33] Tabela 7 – Normas e anexos para a execução de ensaios [33] Recorrendo aos ensaios identificados anteriormente, como mais úteis na caracterização das propriedades mecânicas, é possível realizar a marcação CE das pedras naturais. 48 4. CARACTERIZAÇÃO DAS PROPRIEDADES ACÚSTICAS A área da acústica esteve ligada, desde muito cedo ao sector da edificação urbana, em especial aos requisitos de qualidade da construção. Um dos aspectos mais importantes que o consumidor final releva, relaciona-se com as condições de conforto interior que a habitação lhe pode proporcionar, em função dos seguintes domínios de exigências: isolamento térmico; eficiência energética; ventilação; iluminação natural; exposição solar; e conforto acústico. A maior parte das pessoas ao adquirir habitação, elege o conforto acústico como uma das valências mais importantes na qualidade da habitação. Efectivamente, a protecção relativamente ao ruído produzido pelos vizinhos, no seu usufruto normal, ou pela circulação rodoviária exterior, é substancialmente realçada pelos adquirentes. Na realidade, os utilizadores não gostam de ser incomodados pela descarga de um autoclismo pertença de outra fracção autónoma, por conversas intrusivas provindas dos fogos adjacentes, pelo arrastar de móveis nos pisos superiores (ou mesmo inferiores), pelo funcionamento de maquinaria de apoio, pela passagem próxima de aviões ou comboios, pelo buzinar dos automóveis ou pela estridência das motorizadas. Nos casos de edifícios com utilização mista, o problema é ainda mais gravoso, dada a coexistência entre zonas de comércio e serviços (padarias, cabeleireiros, cafés, talhos, etc.) com espaços de repouso e lazer, as quais são potenciadoras de queixas devidas ao ruído. O DL 129/2002 de 11 de Maio (Regulamento dos Requisitos Acústicos dos Edifícios) define claramente um conjunto de exigências legais, cuja verificação permite assegurar condições médias de conforto acústico consentâneas com o bem-estar e os padrões de qualidade de vida dos tempos modernos. É nos edifícios onde a população passa a maior parte do seu tempo, seja em actividades de lazer, trabalho ou simples repouso, não sendo um mero aspecto circunstancial, sendo uma necessidade intrínseca dos tempos modernos e da evolução da qualidade de vida. Assim sendo, a caracterização das propriedades acústicas dos materiais utilizados na indústria de construção, reveste-se de uma importância vital nos dias de hoje, não só por imposições legais, bem como pelo conforto e bem-estar dos utilizadores dos edifícios. 4.1. Fundamentos teóricos A ocorrência de vibrações em edifícios pode ter origens diversas, sendo normalmente provenientes do funcionamento de equipamentos electromecânicos ou estruturas viárias instaladas nas proximidades. Estas vibrações propagam-se pelo solo e pelos edifícios. A percepção, por parte dos ocupantes dos edifícios solicitados por vibrações, ocorre, normalmente, em relação ao ruído emitido pelos elementos de construção, dado o ouvido apresentar 49 sensibilidade mais elevada que os terminais nervosos que proporcionam a percepção táctil das vibrações. As ondas sonoras propagam-se com diversas frequências, contudo o ouvido humano apenas é sensível a ondas com frequência entre 20 Hz e 20 000 Hz, aproximadamente. A Figura 38 ilustra os sons sensíveis ao ouvido humano. Figura 38 - Sons sensíveis ao ouvido humano [34] A maioria dos sons chega ao ouvido transmitida pelo ar, que age como meio de transmissão. Nas pequenas altitudes, os sons são bem audíveis, o que não ocorre em altitudes maiores, onde o ar é menos denso. O ar denso é melhor transmissor do som que o ar rarefeito, pois as moléculas gasosas estão mais próximas e transmitem a energia cinética da onda de umas para outras com maior facilidade. Os sons não se transmitem no vácuo, porque exigem um meio material para sua propagação. De uma maneira geral, os sólidos transmitem o som melhor que os líquidos, e estes, melhor do que os gases. A Tabela 8 ilustra a velocidade de propagação do som em diferentes materiais. Tabela 8 - Velocidade de propagação do som a 25°C em diferentes materiais [34] Meio Ar Água Ferro Vidro Velocidade (m/s) 340 1498 5200 4540 A energia elementar de um som é conhecida como o seu nível de pressão de som, sendo medida em decibéis (dB). O valor de 1 dB corresponde à menor alteração do nível de som que normalmente pode ser detectada pelo ouvido humano. Para a generalidade das pessoas, um nível de 10 dB representa o limiar da audição e 120 dB o limiar da dor. Os resultados em decibéis de alguns sons comuns são apresentados na Figura 39. 50 Figura 39 – Nível sonoro em dB de sons comuns [35] 4.2. Ensaios utilizados na caracterização das propriedades acústicas Dos ensaios passíveis de serem utilizados na caracterização das propriedades acústicas dos materiais de construção, existem três que se destacam devido à sua ampla utilização. Estes três ensaios são realizados In-Situ, não sendo caracterizadas por isso as propriedades acústicas dos materiais, mas sim dos sistemas (compostos por diversos materiais). Contudo é de salientar, que estes ensaios também podem ser realizados em laboratório. Após levantamento dos laboratórios que realizam ensaios acústicos acreditados (Anexo VI), constatou-se que em Portugal não existe nenhum laboratório acreditado que realize os mesmos sem ser In-Situ. Este facto deve-se essencialmente a dois factores, o primeiro prende-se com o facto de não existir em Portugal empresas que se dediquem ao desenvolvimento de materiais para isolamento acústico. O segundo deve-se ao facto de para se realizar estes ensaios em laboratório ser necessário a aquisição de duas 51 câmaras reverberantes (ligadas entre si), sendo que a aquisição destas obriga a um elevado investimento. Deverá por isso ser ponderada a necessidade das câmaras reverberantes, devido ao avultado investimento. As câmaras reverberantes permitem a caracterização das propriedades acústicas dos materiais, bem como a caracterização das propriedades acústicas dos sistemas, sendo por isso, uma ferramenta essencial na certificação de sistemas e materiais. Dado que alguns dos objectivos do Centro de Competências de Materiais de Construção são: a valorização do potencial da Região e do País; criação de condições para uma maior inovação e competitividade das empresas; e o fomento da internacionalização das empresas, isto passa obrigatoriamente pelo desenvolvimento de produtos de valor acrescentado. Para o desenvolvimento dos mesmos, é necessário a realização destes ensaios em laboratório, recorrendo-se por isso a câmaras reverberantes. É de salientar que os restantes equipamentos utilizados para a realização das medições In-Situ, são os mesmos que são utilizados em laboratório, havendo por isso a possibilidade de prestação de serviços nesta área. A Tabela 9 ilustra os ensaios acústicos mais utilizados na caracterização das propriedades acústicas dos materiais de construção. Tabela 9 - Ensaios acústicos mais utilizados na caracterização das propriedades acústicas dos materiais de construção [3, 4] Produto Ensaio Método Categoria NP EN ISO 140-4:2000 1 NP EN ISO 140-5:2000 1 NP EN ISO 140-7:1998 1 Medição do isolamento sonoro de edifícios Elementos de e de elementos de construção. Parte 4: construção Medição in situ do isolamento sonoro a sons aéreos entre compartimentos Medição do isolamento sonoro de edifícios Elementos de construção e de elementos de construção. Parte 5: Medição, in situ, do isolamento sonoro a sons aéreos de fachadas e de elementos de fachada Medição do isolamento sonoro de edifícios Elementos de e de elementos de construção. Parte 7: construção Medição do Isolamento Sonoro a Sons de Percussão de Pavimentos Categoria 1 – Ensaio realizado In situ 52 4.2.1. Ensaio de isolamento sonoro a sons aéreos entre compartimentos Este ensaio permite determinar os valores do isolamento sonoro a sons aéreos entre compartimentos. Os resultados obtidos podem servir para comparar o isolamento sonoro entre compartimentos e avaliar esse isolamento em conformidade com especificações preconizadas na legislação vigente. As medições, in situ, do isolamento a sons aéreos devem ser efectuadas por bandas de terços de oitava, podendo também ser realizadas as medições por bandas de oitava. A fonte sonora deve ter potência suficiente, para que o nível de pressão sonora no compartimento receptor seja, no mínimo, 10 dB mais elevados que o nível do ruído de fundo em qualquer banda de frequências. Caso a fonte sonora seja constituída por vários altifalantes, operando simultaneamente, estes devem estar em fase, ou então deve ser garantido que a sua radiação sonora seja uniforme e omnidireccional. Quando se utiliza apenas uma única fonte sonora, esta deve ser usada, no mínimo em duas posições. Se os compartimentos tiverem volumes diferentes, deve-se escolher o maior como emissor, para medição do isolamento sonoro normalizado. A fonte sonora deve encontrar-se a uma certa distância do elemento separador, e dos elementos marginais que influenciem a transmissão sonora, para que a radiação sonora sobre estes elementos não seja predominante. Pode obter-se o nível médio de pressão sonora usando um único microfone, deslocando-o para várias posições, ou utilizando um conjunto de microfones fixos. As distâncias mínimas de separação entre posições dos microfones são as seguintes: 0,7 m entre microfones 0,5 m entre uma posição do microfone e os limites do compartimento ou dos elementos difusores 1,0 m entre uma posição do microfone e a fonte sonora Devem ser utilizadas, no mínimo 5 posições de medição para o microfone fixo, devendo a distribuição deste ser de forma uniforme. Caso se utilize uma única fonte sonora, o número mínimo de medições com a utilização de um microfone fixo é de 10 (uma medição em cada posição do microfone correspondente a cada posição do altifalante). Para cada posição individual do microfone, o intervalo médio de tempo de medição deve ser, pelo menos de 6 segundos para cada uma das bandas de frequência, cujas frequências centrais sejam inferiores a 400 Hz. Para bandas de frequências centrais superiores este intervalo pode ser reduzido até um valor não inferior a 4 segundos. O nível de pressão sonora deve ser medido, utilizando filtros de banda de um terço de oitava, tendo as seguintes frequências centrais, em Hertz: [36] 100 125 160 200 250 315 400 500 630 800 1000 1250 1600 1600 2500 3150 53 4.2.2. Ensaio de isolamento sonoro a sons aéreos de fachadas e de elementos de fachada Existem dois métodos para medição do isolamento sonoro a sons aéreos de fachadas e de elementos de fachada, sendo estes, o método de elementos e o método global. O método de elementos, destina-se a avaliar a redução sonora de um elemento de fachada, por exemplo uma janela. O método de elementos considerado mais rigoroso, utiliza um altifalante como fonte sonora. Os outros métodos de elementos menos rigorosos, consideram a utilização do ruído de tráfego existente. Os métodos globais destinam-se, por outro lado, a avaliar a diferença entre o nível sonoro exterior/interior nas condições reais de tráfego. Pode no entanto ser utilizado um altifalante como fonte sonora. É recomendada a utilização do método de elementos com altifalante, quando o objectivo da medição, é a avaliação do comportamento de um dado elemento de fachada, relativamente ao seu comportamento em laboratório. O método de elementos com tráfego rodoviário tem a mesma finalidade que o método de elementos com altifalante, sendo particularmente útil, quando por qualquer razão prática, o método de elementos com altifalante não pode ser utilizado. Estes dois métodos produzem, muitas vezes, resultados não muito diferentes entre si. O método de tráfego rodoviário tende a originar resultados, do valor da redução sonora, mais baixos que o método com altifalante. O método global com tráfego rodoviário conduz à determinação da redução sonora, real da fachada, relativamente a um ponto de medição exterior colocado a 2 m da fachada. Este método é recomendado quando o objectivo da medição é a avaliação do comportamento global da fachada, incluindo as transmissões marginais. Os resultados obtidos não podem ser comparados com as medições obtidas em laboratório [37]. Tabela 10 representa um resumo geral das variantes dos métodos de elementos e Global. Tabela 10 - Resumo geral das variantes dos métodos de elementos e global [37]. Número Método Campo de Aplicação De Elementos 1 2 3 4 Com Altifalante Método recomendado para avaliar a redução sonora aparente de elementos de fachada Com Tráfego Método alternativo ao número 1 quando se dispõe de ruído Rodoviário de tráfego rodoviário adequado Com Tráfego Método alternativo ao número 1 quando se dispõe de ruído Ferroviário de tráfego ferroviário adequado Com Tráfego Aéreo Método alternativo ao número 1 quando se dispõe de ruído de tráfego aéreo adequado 54 Número Método Campo de Aplicação Global 5 6 7 8 Com Altifalante Com Tráfego Rodoviário Com Tráfego Ferroviário Com Tráfego Aéreo Alternativa aos métodos números 6, 7 e 8 Método recomendado para avaliar o isolamento sonoro global de uma fachada exposta ao ruído de tráfego rodoviário Método recomendado para avaliar o isolamento sonoro global de uma fachada exposta ao ruído de tráfego ferroviário Método recomendado para avaliar o isolamento sonoro global de uma fachada exposta ao ruído de tráfego aéreo 4.2.2.1. Método global e elementos com altifalante Neste método o altifalante é colocado numa ou mais posições, fora do edifício, a uma distância d da fachada, com o ângulo de incidência das ondas sonoras igual a (45 ± 5)º, tal como ilustra a Figura 40. O nível médio de pressão sonora é medido, quer directamente sobre o provete de ensaio (método de elementos) ou a 2 m de distância da fachada (método global), bem como no local receptor. Figura 40 - Posicionamento do altifalante para determinação do isolamento sonoro a sons aéreos de elementos e de fachada. 1 – Plano normal à fachada; 2 – Plano vertical; 3 – Plano horizontal; 4 – Altifalante [38] A distância r da fonte sonora ao centro do provete de ensaio deve ser pelo menos 5 m (d› 3,5 m) para o método de elementos com altifalante, e pelo menos 7m (d› 5 m) para o método global com altifalantes. O ângulo de incidência das ondas sonoras deve ser de 45 ± 5º. 55 O nível médio de pressão sonora é obtido no local receptor, utilizando um único microfone que é deslocado de posição em posição, ou com um conjunto de microfones fixos. Para todas as posições da fonte sonora, deve ser feita a média energética dos níveis de pressão sonora associados às diferentes posições do microfone. Complementarmente, deve-se determinar o nível de ruído de fundo. Devem ser utilizadas, no mínimo, cinco posições do microfone em cada local de medição a fim de se obter o nível médio de pressão sonora do campo sonoro estabelecido. Estas posições devem ser distribuídas uniformemente dentro do espaço máximo disponível em cada local. A duração de cada medição não deve ser inferior a 15 segundos. De seguida enumera-se as distâncias mínimas exigidas, sendo que estes devem ser aumentados sempre que possível. 0,7 m entre posições de microfones 0,5 m entre qualquer posição de microfone e as fronteiras do local ou objectos no local 1,0 m entre qualquer posição do microfone e a fonte sonora Caso o objectivo da medição seja a obtenção de resultados tão comparáveis quanto possível com os das medições em laboratório, devem ser adoptados os seguintes procedimentos. Verificar se o elemento de fachada sujeito a ensaio está de acordo com as especificações de construção e se encontra adequadamente montado de acordo com as instruções do fabricante; Estimar o valor da redução sonora da fachada, para assegurar que a transmissão sonora através da parede que circunscreve o provete de ensaio não contribui significativamente, para o nível de pressão sonora estabelecido no local receptor [38]; 4.2.3. Ensaio de isolamento sonoro a sons de percussão de pavimentos Os sons de percussão resultam da excitação directa de um elemento de compartimentação, sendo que a sua propagação se deve à rigidez das ligações existentes ao longo do edifício. A propagação é feita através de toda a malha de definidora dos espaços de utilização, estabelecendo campos sonoros, eventualmente intensos, em compartimentos razoavelmente distantes do local de origem da excitação. Como tal, os sons de percussão têm um carácter mais “incomodativo” no comportamento acústico de um edifício, do que os sons aéreos. A Figura 41 ilustra a diferença de propagação do som aéreo e do som de percussão. 56 Figura 41 - Diferença de propagação do som aéreo e do som de percussão [39] Qualquer acção de choque (deslocação de pessoas, queda de objectos), exercida num compartimento de um edifício, produz a propagação de ondas elásticas a todo esse elemento, convertendo-o numa fonte de radiação de energia sonora para os elementos a que se encontra ligado. A propagação é fortemente condicionada/influenciada pelas propriedades elásticas dos elementos em presença. O amortecimento da propagação das ondas elásticas dos meios mais usualmente utilizados na indústria de construção (paredes de alvenaria de tijolo e pavimentos de betão armado) é reduzido (da ordem de 0,5 a 1%). Na maior parte dos casos, as acções de impacto ocorrem com maior probabilidade nos pavimentos, do que nas paredes. O espaço definido pelo compartimento situado imediatamente por debaixo do pavimento percutido/excitado irá apresentar um campo sonoro com intensidade mais elevada. È de salientar o facto de também se estabelecerem sons de percussão devido às vibrações introduzidas pelo funcionamento de equipamentos e instalações. Para a medição do isolamento sonoro dos sons de percussão, a máquina de percussão deve ser colocada, no mínimo em 4 posições diferentes, distribuídas aleatoriamente sobre o pavimento. A distância entre a máquina de percussão e os limites do pavimento deve se de, pelo menos, 0,5 m. Deve medir-se o nível de pressão sonora devido à acção de percussão, utilizando um único microfone, movendo-se de posição em posição, ou um conjunto microfones fixos. No caso de se utilizar um microfone fixo, devem ser utilizadas 5 posições, devendo estas ser distribuídas uniformemente no espaço. As distâncias mínimas de afastamento são as seguintes: • 0,7 m entre posições de microfones • 0,7 m entre qualquer posição do microfone e o limite do pavimento O intervalo de tempo de medição para cada posição de microfone deve ser, pelo menos de 6 segundos em cada uma das bandas de frequência, cuja frequência central seja inferior a 400 Hz. Para as bandas de frequências superiores é possível reduzir esse tempo até um valor não inferior a 4 segundos. 57 O nível de pressão sonora deve ser medido com o auxílio de filtros de bandas de um terço de oitava tendo, pelo menos, as frequências centrais seguintes, em Hertz: 100 125 160 200 250 315 400 500 630 800 1000 1250 1600 2000 2500 3150 4000 5000 A Figura 42 ilustra a metodologia de ensaio do isolamento sonoro a sons de percussão in situ, segundo a norma NP EN ISO 140/7. Figura 42 - Metodologia de ensaio do ensaio de sons de percussão in situ, segundo a Norma NP EN ISO 140/7 [39] A designação de câmara de emissão, é referente ao local onde se introduz a acção de percussão. A situação esquematizada não necessita de obedecer estritamente à presente configuração, sendo que os compartimentos podem não estar na mesma vertical, podendo o local de emissão ser o pavimento do compartimento subjacente e o de recepção o compartimento sobrejacente. Esta situação pode ser razoavelmente ilustrada em estabelecimentos de natureza comercial ou de serviços, quando integrados em edifícios habitacionais, os quais são frequentemente considerados como focos potenciais de incomodidade devido ao ruído. 4.3. Exemplo prático da caracterização acústica Um estudo realizado pela DECO entre Maio e Julho de 2004, constatou que 14 das 27 habitações avaliadas não cumpriam os requisitos legais impostos pelo DL 129/2002 de 11 de Maio (Regulamento dos Requisitos Acústicos dos Edifícios). Das habitações avaliadas constatou que 14 não cumpriam os valores mínimos exigidos para o índice de isolamento sonoro a sons de percussão, 9 não cumpriam 58 os valores mínimos exigidos para o índice de isolamento sonoro a sons de condução aérea e 4 não cumpriam os valores mínimos exigidos para o índice de isolamento sonoro a sons de condução aérea entre o exterior e o interior do edifício [40]. É de salientar que a amostragem é pequena, quando comparada com o número de edifícios construídos por ano. A partir dos valores acima mencionados, constata-se que o índice de isolamento acústico dos edifícios é um dos problemas com que utilizadores e empresas construtoras se deparam, com especial ênfase para o índice de isolamento sonoro a sons de percussão. A génese destes problemas deve-se à má aplicação dos isolamentos acústicos, dado todos os edifícios serem obrigados a apresentar projecto acústico, aquando do processo de licenciamento dos mesmos, bem como o mesmo ser aprovado. Um das situações que leva ao isolamento ineficaz deste tipo de sons, prende-se com a existência de pontes acústica e com a perfuração do isolamento acústico. As pontes acústicas são criadas quando se aplica o isolamento acústico apenas sobre a laje/betoninha, não sendo aplicado este nos encontros com as paredes, bem como nos elementos que atravessam a laje. A Figura 43 ilustra de que forma se deve aplicar o isolamento acústico nos encontros com as paredes e nos elementos que atravessam a laje. Figura 43 – Aplicação correcta do isolamento acústico [35] Outra forma de se criar pontes acústicas, deve-se à não sobreposição do isolamento acústico nas juntas. A Figura 44 mostra de que forma deve ser sobreposto o isolamento acústico nas juntas. 59 Figura 44 – Sobreposição das camadas de isolamento acústico [35] Uma situação em que ocorre a perfuração do isolamento acústico, advém da aplicação dos pavimentos com parafusos (pavimentos tipo Deck). Os parafusos ao serem fixados sobre a laje, transmitem a energia associada ao choque directamente a esta, sendo que, o isolamento acústico apesar de aplicado, não é eficaz. O estudo do sistema utilizado, reveste-se de uma enorme importância, dado a má aplicação de um material comprometer todo o isolamento acústico. A Figura 45 representa a perfuração do isolamento acústico com parafusos. Figura 45 – Perfuração do isolamento acústico com parafusos. 1- Parafuso, 2- Pavimento, 3- Betonilha, 4Isolamento acústico, 5- Laje - Adaptado de [35] A realização do ensaio de isolamento sonoro a sons de percussão de pavimentos, permite determinar se o isolamento acústico foi bem ou mal aplicado (existência de pontes acústicas), por comparação com os valores do fabricante. Este ensaio permite ainda determinar se o isolamento acústico foi perfurado pelos elementos fixadores (tipicamente parafusos). A realização deste ensaio em laboratório (utilizando câmaras reverberantes), permite a certificação de sistemas e de produtos. A Figura 46 ilustra a a medição do isolamento sonoro a sons de percussão in situ. 60 Figura 46 – Máquina de percussão [41] 4.4. Equipamentos necessários na determinação das propriedades acústicas Para realizar os ensaios acústicos acima mencionados, são necessários os seguintes equipamentos: Analisador de Ruído Software interno do analisador de ruído Tripé de extensão Calibrador Sonoro Fonte sonora omnidireccional Máquina de percussão Câmara de reverberação Os requisitos dos equipamentos necessários para caracterização das propriedades acústicas encontram-se descritos no Anexo VII 61 5. CARACTERIZAÇÃO DAS PROPRIEDADES TÉRMICAS Devido ao actual contexto social, económico e energético, pretende-se cada vez mais desenvolver um acréscimo de qualidade térmica dos edifícios, reduzindo assim os seus consumos energéticos e as correspondentes emissões de gases, que contribuem para o aquecimento global ou efeito de estufa. A caracterização das propriedades térmicas dos materiais utilizados na indústria de construção, revestem-se de uma enorme importância, na certificação de produtos, no desenvolvimento de novos materiais, na selecção dos mesmos para as mais diversas aplicações, bem como no cumprimento dos requisitos legais impostos pelo Decreto-Lei nº 80/2006 de 4 de Abril O Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios (RCCTE). 5.1. Ensaios utilizados na caracterização das propriedades térmicas De entre os ensaios existentes para caracterização das propriedades térmicas, seleccionaram-se os que estão enumerados na Tabela 11, dado estes serem utilizados no controlo de qualidade, na investigação, bem como na certificação de produtos. Os equipamentos utilizados nestes ensaios permitem ainda determinar um conjunto de propriedades, que possibilitam a caracterização térmica de uma grande variedade de materiais. Tabela 11 – Ensaios para caracterização das propriedades térmicas [2] Produto Ensaio Método Categoria ASTM E 228 - 06 0 Ensaio Padrão para a Determinação da Materiais Sólidos Expansão Linear Térmica de Materiais Sólidos Utilizando um Dilatómetro Método para a Determinação do Calor Sólidos e Líquidos Específico através de Calorimetria Diferencial de Varrimento ISO 11357-4 ASTM E1269-05 0 Ensaio Padrão para a Determinação da Polímeros, Vidros Condutividade Térmica e Difusividade e Cerâmicos Térmica por Calorimetria Diferencial de Varrimento. 62 ASTM E1952-06 0 5.1.1. Teste padrão para a determinação da expansão linear térmica de materiais sólidos utilizando um dilatómetro A norma ASTM E 228 – 06 permite determinar a expansão térmica linear de materiais sólidos utilizando um dilatómetro. Um material sólido é definido como um material, que à temperatura de ensaio e sob as condições impostas pelo instrumento, apresenta uma fluência, que não afecta significativamente as medições realizadas. Exemplo disso são os metais, cerâmicos, refractários, rochas e minerais, grafites, plásticos, cimentos, madeiras e uma grande variedade de compósitos. Este método é geralmente aplicado em materiais que tenham um coeficiente de expansão térmica linear superior a 0,5 µm/(m.ºC) num intervalo de 1000ºC. É aplicado também em situações especiais para materiais com coeficientes de expansão inferiores, onde se tomam precauções especiais para garantir que a expansão produzida na amostra se situa dentro dos limites do sistema de medição. Nestes casos, devem-se utilizar amostras com comprimentos suficientemente elevados, de forma a que a variação dimensional, esteja dentro do limite de medição do equipamento. Podem-se utilizar sistemas computorizados ou electrónicos e sistemas de análise de dados, em conjunto com este método, desde que estes sistemas estejam de acordo com os princípios e esquemas computacionais estabelecidos pelo mesmo. Este ensaio utiliza um dilatómetro, como instrumento de determinação da variação do comprimento da amostra em relação ao suporte e em função da temperatura. Uma variante especial deste método utiliza duas varetas, em que a expansão de um material desconhecido é determinada relativamente a uma vareta de referência. A temperatura pode ser controlada por passos ou através de um aquecimento ou arrefecimento lento a uma velocidade constante em todo o intervalo de temperatura. A expansão térmica linear e os seus coeficientes são calculados a partir dos dados recolhidos. Os coeficientes de expansão térmica são necessários por razões de design, dado permitirem determinar o comportamento dimensional de estruturas sujeitas a variações de temperatura, ou tensões térmicas que possam ocorrer e causar a fractura de uma estrutura composta por diferentes materiais. Este ensaio é um método fiável para determinar os coeficientes de expansão térmica, sendo, no entanto, necessário calibrar o equipamento com um material de referência que apresente uma expansão térmica reprodutível. 5.1.1.1. Requisitos das Amostras As amostras devem ter entre 25 a 60 mm de comprimento e entre 5 e 10 mm de diâmetro (ou equivalente caso não seja cilíndrica). No entanto não existem limitações fundamentais nas suas dimensões, desde que o dilatómetro consiga acomodar a amostra. A forma da secção transversal da amostra, a uniformidade da sua secção longitudinal ou o estado da superfície ao longo do seu comprimento não têm qualquer interferência no ensaio, no 63 entanto as suas extremidades devem ser planas e perfeitamente paralelas entre si. A secção transversal deve ser suficientemente robusta para evitar a flexão ou fluência da amostra durante o ensaio. Nas situações em que a amostra não puder ser obtida na forma de cilindro ou de paralelepípedo, poder-se-á ensaiar a amostra com formas irregulares, tendo o cuidado de não haver contacto entre a amostra e o dilatómetro apenas num ponto, o que pode levar a deformações durante o ensaio. Podem ser ensaiadas chapas de materiais, moldando-as de modo a obter amostras em forma de tubo ou dobrando-as em forma de “V”. Podem ainda ser empilhadas pequenas peças de forma a obter amostras de maiores comprimentos, desde que as interfaces sejam mantidas planas e paralelas entre si e que não ocorra o balançar da amostra quando a vareta entra em contacto com a mesma. Amostras ocas, como tubos, ou irregulares podem necessitar de uma placa de cobertura para promover um contacto mais bem definido entre a amostra e a vareta. Esta placa deverá, de preferência, ser feita do mesmo material do dilatómetro, de modo a desprezar a sua contribuição nos cálculos. Alternativamente, pode ser utilizada uma chapa muito fina de um material rígido, sem ser o mesmo material do dilatómetro, desde que a sua contribuição para o ensaio seja contabilizada. 5.1.1.2. Procedimento Deve-se medir o comprimento inicial da amostra à temperatura ambiente L0. Colocar a amostra no dilatómetro após verificar que todas as superfícies em contacto estão limpas. Garantir a estabilidade no posicionamento da amostra, bem como um contacto estável entre a amostra e a vareta. Registar a leitura inicial do sensor de temperatura, T0, e colocar o transdutor a zeros. Seleccionar o programa térmico que melhor se adequa à aplicação do material a ser testado. A forma mais precisa de realizar a medição, é aquecendo ou arrefecendo sucessivamente a amostra de forma incremental, num número de temperaturas constantes, permitindo ao sistema equilibrar-se até que a leitura do transdutor atinja um valor constante. 5.1.2. Método para a determinação do calor específico através de calorimetria diferencial de varrimento A norma ASTM E1269-05, permite determinar o calor específico através de calorimetria diferencial de varrimento, sendo geralmente aplicado a sólidos e líquidos termicamente estáveis. A gama de temperaturas deste ensaio situa-se entre os 100 e 600ºC, sendo que este intervalo pode ser ampliado, dependendo da instrumentação e do recipiente da amostra. 64 Este teste consiste no aquecimento controlado do material de teste numa atmosfera controlada na gama de temperaturas de interesse. A diferença do fluxo de calor entre a amostra de teste e a amostra de referência ou vazio, devido a variações de energia no material, deve ser monitorizada e registada. As medições por calorimetria diferencial de varrimento, permitem uma determinação rápida do calor específico dos materiais. A determinação do calor específico é importante para o controlo de qualidade, investigação e desenvolvimento. 5.1.2.1. Requisitos das amostras Utilizam-se amostras em pó ou grânulos que devem ser previamente misturadas, devendo ser feita a amostragem através da remoção de pequenas porções de várias regiões do misturador. Estas porções, por sua vez, devem ser novamente misturadas de forma a garantir a representatividade da amostra. As amostras líquidas podem ser recolhidas directamente após agitação. As amostras sólidas devem ser obtidas através do corte com uma lâmina. A uniformidade da amostra deve ser determinada, uma vez que poderá ocorrer segregação dentro do sólido. 5.1.3. Ensaio Padrão para a Determinação da Condutividade Térmica e Difusividade Térmica por Calorimetria Diferencial de Varrimento. A norma ASTM E1952-06, descreve a determinação da condutividade térmica de materiais sólidos, homogéneos, não porosos numa escala de 0.10 a 1.0 W/(K.m), por calorimetria diferencial de varrimento. Esta escala inclui vários materiais poliméricos, cerâmicos e vidros. A difusividade térmica, relaciona-se com a condutividade térmica, através da capacidade calorífica específica e da densidade, podendo ser determinada através deste método. A condutividade e difusividade térmica podem ser determinadas a uma ou mais temperaturas num intervalo de 0-90ºC A capacidade calorífica da amostra pode ser determinada usando a aproximação de temperatura modelada, na qual um programa de temperatura de repetição periódica e oscilatória (perto da temperatura média) é imposto sobre a amostra produzindo um fluxo de calor oscilatório (periódico) para a amostra ou vindo da mesma. A capacidade calorífica específica é obtida através da normalização da capacidade calorífica à massa da amostra. Quando é utilizada uma amostra fina e encapsulada num cadinho, de elevada condutividade térmica e tratada com uma temperatura oscilatória de baixa frequência, por um longo período, assume-se que a amostra atinge uma distribuição de temperatura uniforme e a capacidade calorífica resultante, será comparável à dos outros métodos de teste não oscilatórios. 65 Quando a extremidade de uma amostra espessa é exposta a oscilações de temperatura de elevada frequência e curto período, a amostra atinge uma distribuição de temperatura ao longo do seu comprimento que depende da sua difusividade térmica. O valor da capacidade calorífica obtida nesta situação é inferior à do caso da distribuição uniforme de temperatura descrito acima, e proporcional à raiz quadrada da condutividade térmica das amostras ensaiadas. Caso a condutividade térmica da amostra seja tão baixa, que se aproxima á do gás de purga, é necessário efectuar uma correcção na medição da condutividade térmica para compensar as perdas de calor da amostra. O valor da condutividade térmica pode ser obtido a partir da fórmula [42]: λ0 = (8LC 2 ) /(C p md 2 P) Onde: λ0 – Condutividade térmica (W/K.m) L – Comprimento da amostra (mm) C – Capacidade calorífica aparente (mJ/K) Cp – Capacidade calorífica específica (J/g.K) m – Massa da amostra (mg) d – Diâmetro da amostra (mm) P – Período (s) 66 Eq. 6 5.2. Equipamentos necessários para caracterização das propriedades térmicas dos materiais Para a caracterização das propriedades térmicas dos materiais são necessários os seguintes equipamentos: DSC Dilatómetro È de salientar que a aquisição destes equipamentos, permitem realizar uma série de ensaios além dos acima descritos. Os ensaios passíveis de serem realizados com estes equipamentos encontram-se descritos no Anexo VIII As especificações destes equipamentos encontram-se descritas no Anexo IX 67 5.3. Exemplo prático da caracterização térmica Em Portugal a técnica mais utilizada na aplicação de revestimentos de fachadas, é a fixação directa, devido ao seu baixo custo. O desconhecimento das propriedades dos cimentos-cola, das propriedades dos revestimentos (tipicamente pedras naturais e materiais cerâmicos), conjugados com uma deficiente formação da mão-de-obra, origina diversos defeitos em edifícios ainda jovens, com idades inferiores a 5 anos. Dos defeitos, destaca-se o desprendimento dos revestimentos de fachadas, visto colocar em risco pessoas e bens. A Figura 47 ilustra um edifício onde ocorreu desprendimento do revestimento da fachada. Figura 47 – Desprendimento de revestimento de fachada [43] O desprendimento dos revestimentos das fachadas deve-se a vários factores, sendo um deles o coeficiente de expansão térmica do revestimento aplicado. Com o aumento de temperatura, ocorre a expansão térmica do revestimento, sendo por isso necessário deixar uma junta de dilatação à volta do mesmo. Esta junta deve ser dimensionada em função do tipo de revestimento utilizado, dado revestimentos diferentes, apresentarem expansões térmicas diferentes. A Figura 48 ilustra uma fachada onde não foram previstas juntas de dilatação. Figura 48 – Efeito provocado pela ausência de juntas de dilatação [44] 68 Outro factor que contribui para o desprendimento dos revestimentos das fachadas é a escolha desadequada do adesivo, sendo os revestimentos aplicados (em alguns casos) com cimentocola à base de cimento. A utilização deste tipo de adesivos em revestimentos como a ardósia, origina um problema grave, dado que a ardósia apresenta um coeficiente de expansão elevado (8,0 Χ 106 -6 /ºC) [45], quando comparado com o adesivo (3,2 Χ 10 /ºC) [46]. Esta diferença entre os valores de expansão térmica da ardósia e do adesivo, gera tensões de compressão na pedra e tracção no adesivo. Um factor que acresce ao anterior, é o facto de toda a área do revestimento não se encontrar em contacto com o adesivo (assentamento incorrecto). A Figura 49 ilustra uma fachada após queda do revestimento, onde se constata que o revestimento não se encontrava bem aplicado, devido ao não esmagamento dos cordões de adesivo. Constata-se ainda que não existia uma boa coesão da argamassa (substrato). Figura 49 – Causas do desprendimento do revestimento da fachada [47] Os pontos que estabelecem a ligação ao revestimento, são pontos de acumulação de tensão, dado serem estes que fixam o revestimento. Quando a tensão gerada na interface revestimento/adesivo (devido à expansão térmica), ultrapassa a força de adesão, dá-se a ruptura na ligação revestimento/adesivo, ou seja, dá-se o desprendimento. A caracterização das propriedades térmicas pode contribuir na resolução deste tipo de problemas, permitindo determinar o coeficiente de expansão térmica dos materiais. Determinado o coeficiente de expansão térmica, é possível indicar qual o tipo de adesivo mais indicado para o tipo de revestimento em questão (tipicamente adesivos de base epoxi para materiais com elevada expansão térmica, como o caso da ardósia). A partir da determinação do coeficiente de expansão térmica, também é possível determinar a dimensão das juntas de dilatação. 69 6. CONCLUSÕES Com este trabalho foi possível estabelecer critérios para a identificação dos ensaios e equipamentos mais utilizados na indústria de construção, sendo estes Normas NP, EN, ISO, BS, ASTM Consulta de ensaios realizados por laboratórios acreditados em Portugal Consulta de fornecedores de equipamentos Normas de produto Após realização deste trabalho, conclui-se que dado o vasto universo de ensaios e equipamento existentes, para a observação/caracterização da estrutura interna, caracterização das propriedades químicas; mecânicas; acústicas e térmicas, a escolha dos ensaios e respectivos equipamentos, passa também por uma escolha pessoal. O universo de ensaios e equipamentos utilizados na indústria de construção, é de tal forma vasto, que nem o próprio LNEC, possui equipamentos para realizar todos os ensaios requeridos nesta área, recorrendo ao outsourcing sempre que necessita. Dada a elevada predominância na região da indústria metalomecânica, extractiva de pedra natural e de construção, os ensaios e equipamentos identificados neste trabalho permitem responder na resolução de inúmeros problemas que ocorrem no dia a dia. 70 7. TRABALHO FUTURO Como trabalho futuro, será necessário elaborar o Lay-Out do laboratório, tendo por base os equipamentos identificados neste trabalho. Tendo em conta as exigências para a certificação de alguns produtos utilizados na indústria de construção, seria útil fazer o levantamento dos ensaios e equipamentos para caracterização da resistência ao fogo. 71 8. BIBLIOGRAFIA [1] Davis, J.R., Materials Characterization. 2ª Edição ed. Metals handbook. 1998: Materials Park. [2] www.astm.org. [cited 2008 Setembro]. [3] www.ipac.pt. [cited 2008 Setembro]. [4] www.ipq.pt. [cited 2008 Setembro]. [5] Norma ASTM E 562 – 02 Standard Test Method for Determining Volume Fraction by Systematic Manual Point Count [6] www.bam.de. 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[47] Correia, C., Patologias identificadas e caracterizadas em revestimentos exteriores de pedra natural com fixação directa: algumas recomendações para a sua aplicação. 73 Anexo I – Requisitos dos equipamentos necessários para a caracterização da estrutura interna Anexo I-A – Microscópio Óptico O microscópio óptico deve ter as seguintes especificações técnicas: Sistema de análise do tamanho, forma e posição de partículas, permitindo análises gráficas e estatísticas, com sistema de aquisição de dados Sistema de análise do tamanho e orientação do tamanho de grão, de acordo com os padrões utilizados na indústria Determinação da percentagem de fases, produzindo um relatório onde seja revelado a área, o perímetro, a anisotropia e as intercepções Sistema de captação de imagem (câmara fotográfica) Sistema de recolha de dados (computador) A figura seguinte ilustra um modelo de Microscópio Óptico Metalográfico A Anexo I-B – Microscópio Electrónico de Varrimento O Microscópio Electrónico de Varrimento deve ter as seguintes especificações técnicas: Diferença de potencial de 0,2 a 30 KV Ampliaçõs entre 50 e 1,000,000 X Resolução de imagem de: 1,2 nm para uma diferença de potencial de 30KV 3,0 nm para uma diferença de potencial de 1 KV Corrente máxima de feixe de 200 nA Porta amostras com movimentos de: X: 50mm; Y: 50mm; Z: 1,5 a 40mm; T: -5 a 70º; R: 360º Detector de Electrões Retrodifundidos Detector de Electrões Secundários Espectroscopia de Energia Dispersiva Requisitos da Sala A temperatura no interior da sala deve ser de 20ºC± 5ºC A humidade relativa deve ser inferior a 60% A sala deve ser isenta de vibrações. A figura seguinte ilustra um modelo de Microscópio Electrónico de Varrimento. B Anexo II - Requisitos dos equipamentos necessários para a caracterização da composição química Anexo II-A – Difractómetro de raios-X O difractómetro de raios-X a adquirir deverá ter as seguintes especificações técnicas. Fonte de raios-X: Tubos de cobre 2,2kW, até 60kV Filtros de impurezas para Ni, Mn, V, Fe Fonte de energia com parâmetros mínimos de 9kW e 2.0mA Detector: Germânio no estado sólido Área activa de 80mm Resolução: 195 eV 2 Goniómetro: Análise de 0.1 a 120 2θ/min Resolução de passo: 0.000315 graus/passo Resolução Máxima: 0.025 2θ Raio do Goniómetro: 160 – 300 mm Caixa que envolve a fonte de raios-X, detector e goniómetro de construção pesada e uma janela de pexiglass com chumbo Sistema de segurança que desliga o tubo de raios-X quando o porta-amostras é aberto Sistema de aquisição de dados A figura seguinte ilustra um modelo de difractómetro de raios-X C Anexo III – Listagem de normas de ensaios mecânicos consultadas Ensaios Mecânicos Produto Ensaio Método Categoria NP EN 10002-1 2006 ISO 6892: 1998 ASTM E 8M: 2004 0 NP EN 1320 0 Metais e Ligas Ensaio de tracção Parte 1: Método de ensaio à temperatura ambiente Metais e Ligas Ensaios Destrutivos de Soldadura em Materiais Metálicos. Ensaios de Fractura Metais e Ligas Ensaio de arranque ASME IX secções QW-196.2.2, QB-170 a 172: 2004 0 Metais e Ligas Ensaios Destrutivos de Soldadura em Materiais Metálicos. Ensaio de Dureza. Parte 2 Ensaio de Microdureza em juntas soldadas NP EN 1043-2 EN ISO 6507-1: 2005 0 Metais e Ligas Ensaio de dobragem. Metais e Ligas Metais e Ligas Ensaio Padrão para Determinação da Dureza Vickers de Materiais Metálicos Ensaio Padrão para Determinação da Dureza Rockwell em Materiais Metálicos (Escalas A, B, C, D, E, F, G, H, K, N, T) Metais e Ligas Ensaio de choque em provete entalhado Charpy. 1a. Parte: Método de ensaio. Metais e Ligas Ensaio de dobragem. Tubos Metálicos Materiais metálicos. Tubos (secção completa). Ensaio de dobragem Tubos Metálicos Tubos Metálicos 0 0 0 Ensaio de Achatamento EN ISO 8492: 2004 0 Ensaio de abocardamento EN ISO 8493:2004 0 Ensaio de resistência ao gelo Polímeros Tubos Termoplásticos Rochas Ornamentais NP EN 10045-1: 1990 ISO 148: 2006 ASTM E 23: 2006 NP 173: 1996 EN ISO 7438: 2005 NP EN 910: 1999 0 0 Telhas cerâmicas Polímeros EN ISO 6508-1: 2005 ASTM E 18: 2005 0 NP EN ISO 8491:2007 Azulejos e Ladrilhos Determinação da resistência ao gelo Cerâmicos Azulejos e Ladrilhos Determinação do módulo de ruptura e da Cerâmicos resistência à flexão Polímeros ASTM E190-92: 2003 NP EN 910: 1999 EN ISO 6507-1: 2005 ASTM E92-82(2003) NP EN ISO 10545-12: 2004 NP EN ISO 10545-4: 2004 0 0 NP EN 539-2: 1999 0 Determinação das propriedades de tracção ISO 527-3:1995 0 Rigidez circunferencial ISO 9969:1994 0 ASTM C661-06 0 ASTM C908-00(2006) 0 BS EN 12371:2001 0 Ensaio Padrão para Identificação da Dureza de Elastómeros – Tipo Selantes, por meio de um Durómetro Ensaio Padrão para Determinação da Tensão de Cedência de selantes Ensaio Padrão de Pedra Natural – Determinação de Resistência ao Gelo D Rochas Ornamentais Rochas ornamentais Rochas ornamentais Rochas ornamentais Rochas ornamentais Rochas ornamentais Rochas ornamentais Betão Betão endurecido Betão endurecido Determinação da resistência à compressão Determinação da resistência à flexão sob carga centrada Determinação da resistência ao choque Determinação do módulo de elasticidade dinâmico Determinação da resistência à flexão em carga centrada Determinação da energia de ruptura NP EN 1926:2000 0 NP EN 12372:2001 0 NP EN 14158:2005 0 EN 14146:2004 0 EN 14146:2004 0 EN 14158:2004 0 Determinação da resistência ao desgaste EN 14157:2004 por abrasão (CAPON) Consistência do betão. Ensaio de NP 87: 1964 abaixamento Execução e cura dos provetes para ensaios NP EN 12390-2: 2003 de resistência mecânica Resistência à compressão de provetes de NP EN 12390-3: 2003 ensaio Betão fresco Ensaio de abaixamento Blocos de cimento Determinação da resistência à compressão Canaletes de betão 0 0 0 0 NP EN 12350-2: 2002 0 NP EN 772-1: 2002 0 Resistência à flexão EN 1433: 2002 0 Lajetas em betão Resistência à flexão EN 1339:2003 0 Lancis Determinação da resistência à flexão EN 1340: 2003 0 Pavés Determinação da resistência à compressão EN 1338: 2003 0 Telhas de cimento Determinação da resistência à flexão NP EN 491: 2000 0 Telhas de cimento Determinação da resistência ao gelo NP EN 491: 2000 0 E Anexo IV – Parâmetros de ensaios de dureza Rockwell Escala Classe A Normal B Normal C Normal D Normal E Normal F Normal G Normal H Normal K Normal L Normal M Normal P Normal R Normal S Normal V Normal 15-N Superficial 30-N Superficial 45-N Superficial 15-T Superficial 30-T Superficial 45-T Superficial Elemento penetrador Cone de diamante Esfera de 1/16" Cone de diamante Cone de diamante Esfera de 1/8" Esfera de 1/16" Esfera de 1/16" Esfera de 1/8" Esfera de 1/8" Esfera de 1/4" Esfera de 1/4" Esfera de 1/4" Esfera de 1/2" Esfera de 1/2" Esfera de 1/2" Cone de diamante Cone de diamante Cone de diamante Esfera de 1/16" Esfera de 1/16" Esfera de 1/16" Carga inicial (Kg) Carga total (Kg) 10 60 10 100 10 150 10 100 Aços cementados 10 100 Metais macios, como antifricção e peças fundidas 10 60 Bronze recozido 10 150 Bronze fosforoso e outros metais 10 60 10 150 10 60 10 100 10 150 10 60 Metais muito macios 10 100 Metais muito macios 10 150 Metais muito macios 3 15 3 30 3 45 3 15 Bronze, latão e aço macio 3 30 Bronze, latão e aço macio 3 45 Bronze, latão e aço macio F Materiais para que se recomenda o ensaio Aços nitrurados, Carbonetos metálicos Aços carbono recozidos de baixo teor de carbono Aços duros. Com dureza superior a 20 Rockwell Metais macios, com pouco homogeneidade, ferro fundido Metais duros com pouca homogeneidade, ferro fundido Metais duros com pouca homogeneidade, ferro fundido Metais duros com pouca homogeneidade, ferro fundido Metais duros com pouca homogeneidade, ferro fundido Aços nitrurados, cementados e de ferramenta de grande dureza Aços nitrurados, cementados e de ferramenta de grande dureza Aços nitrurados, cementados e de ferramenta de grande dureza Anexo V - Requisitos dos equipamentos necessários para a caracterização das propriedades mecânicas Anexo V-A – Máquina de ensaios mecânicos universal A máquina com sistema mecânico servo-hidraulico deve apresentar as seguintes especificações técnicas: Área de teste que permita acomodar uma fornalha, extensómetros, amostras e maxilas de diversos tamanhos Sistema de aquisição de dados (Computador) Sistema de análise de dados (Software) Células de carga de 5KN, 10KN, 50KN, 100KN e 300KN A figura seguinte ilustra um modelo de máquina com sistema servo-hidraúlico biaxial Anexo V-B – Durómetro Rockwell O durómetro Rockwell digital deve apresentar as seguintes especificações técnicas: Ecrã LCD Capacidade para fazer medições nas escalas HRA, HRB, HRC Determinação da dureza superficial nas escalas HR15N, HR30N, HR45N, HR15T, HR30T, HR45T Carga inicial de teste (F0) de 3Kg e 10 Kg Carga total aplicada de 15Kgf, 30Kgf, 45Kgf, 60Kgf, 100Kgf e 150Kgf G A figura seguinte ilustra um modelo de durómetro Rockwell digital: Anexo V-C – Microdurómetro Vickers O microdurómetro Vickers digital deve apresentar as seguintes especificações técnicas: Visor LCD Câmara CCD Cargas de ensaio de 0,3Kgf, 0,5Kgf, 1,0Kgf, 3,0Kgf, 5,0Kgf e 10Kgf A figura seguinte ilustra um modelo de durómetro Rockwell digital H Anexo V-D - Máquina de ensaio de impacto por batimento de pêndulo A máquina de ensaio de impacto por batimento de pêndulo deve apresentar as seguintes especificações técnicas: Ecrã LCD Sistema de aquisição de dados Sistema de análise de dados Martelo com energia de impacto de 250J e 500J A figura seguinte ilustra um modelo de máquina de ensaio de impacto por batimento de pêndulo: Anexo V-E - Máquina de ensaio de fadiga de flexão rotativa A máquina de ensaio de fadiga de flexão rotativa deve apresentar as seguintes especificações técnicas: Cargas entre 25Kg cm a 230 Kg cm Contador de ciclos Sistema de paragem após fractura do provete Ciclos de tensão por minuto entre 1.000 a 9.999 Capacidade para juntar forno e controlador de temperatura I A figura seguinte ilustra um modelo de máquina de ensaio de fadiga de flexão rotativa: Anexo V-F - Máquina de ensaio de fadiga com sistema servo-hidraúlico A máquina de ensaio de fadiga de sistema servo-hidraúlico deve apresentar as seguintes especificações técnicas: Sistema de aquisição de dados (Computador) Sistema de análise de dados (Software) Células de carga de 5KN, 10KN, 20KN e 50KN A figura seguinte ilustra um modelo de máquina de ensaio de fadiga com sistema servo-hidraúlico: J Anexo V-G - Câmara gelo-degelo A câmara de gelo-degelo deverá apresentar as seguintes especificações técnicas: Gama de temperaturas de -30 a +80º C Controlo electrónico digital, permitindo a programação por patamares e controlo das velocidades de arrefecimento e aquecimento Pré-selecção do número de repetições do ciclo de 0 a 99 vezes ou infinita Sondas "Pt 100" com resolução de 0,1º C Nível de ruído <60 dB e evaporador com ventilação forçada Programação de enchimento e despejo: interruptor horário electrónico programável com comando de sensor de nível A figura seguinte ilustra um modelo de câmara de gelo/degelo: Anexo V - H – Pêndulo Britânico O pêndulo Britânico deverá apresentar as seguintes características: Martelo com energia superior a 100 J A figura seguinte ilustra um modelo de pêndulo Britânico K Anexo V - I – Máquina de abrasão Los Angeles A figura seguinte ilustra um modelo de máquina de abrasão de Los Angeles L Anexo VI – Laboratórios que possuem ensaios acústicos acreditados em Portugal Medição do Isolamento Sonoro a Sons Aéreos de Medição de Fachadas e Elementos de Isolamento Sonoro a Fachada e Determinação do Sons Aéreos entre Índice de Isolamento Sonoro Compartimentos – Método Global com Método - NP EN Altifalante e/ou com Ruído ISO 140-4:2000 de Tráfego. EN ISO 717-1:1996 Método - NP EN ISO 1405:2000 EN ISO 717-1:1996 Instituto Electrotécnico Português Medição do Isolamento Sonoro a Sons de Percussão de Pavimentos Método - EN ISO 140-7:1998 ISO 717-2:1996 1 1 1 1 - 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 DBLAB 1 1 1 PEDAMB 1 1 1 AMBERGO 1 1 1 A. RAMALHÃO 1 1 1 MPT 1 1 1 PROENSAL 1 1 1 OITAVA 1 - 1 VAGAENG 1 1 1 GELTRO 1 1 1 Direcção Regional do Norte do Ministério da Economia Direcção Regional de Lisboa e Vale do Tejo do Ministério da Economia CATIM Direcção Regional da Economia do Algarve Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial Instituto de Soldadura e Qualidade M ECO 14 1 1 1 AMBIMINHO 1 1 1 Infinitech 1 1 1 SASHIT 1 1 1 Ambiente Global 1 1 1 Ediacustica 1 1 1 CERTIFER 1 1 1 Engacústica 1 1 1 QUESTÃO DE SOM 1 1 1 ITeCons 1 1 1 ADESUS - Laboratório de ensaios 1 1 1 Total 27 25 27 N Anexo VII - Requisitos dos equipamentos necessários para a caracterização das propriedades acústicas Anexo VII-A – Analisador de Ruído O Analisador de ruído deverá apresentar as seguintes características: Gama de medição de 16,7 dB a 152 dB Análise em frequência: 1/1 oitava dos 8 Hz aos 16 kHz 1/3 oitava dos 6,3 Hz aos 20 kHz Gama dinâmica superior a 135 dB em cada banda de frequência Memória interna com capacidade de armazenamento de pelo menos 20 MByte A figura seguinte ilustra um modelo de analisador de ruído: Anexo VII-B – Calibrador Sonoro O Calibrador Sonoro deverá apresentar as seguintes características: 2 níveis de calibração , um entre os 90dB e os 95 dB, e outro entre os 110 dB e os 120 dB, ambos a 1 kHz A figura seguinte ilustra um modelo de calibrador sonoro O Anexo VII-C – Fonte Sonora Omnidireccional A fonte sonora omnidireccional deverá apresentar as seguintes características Potência de saída: Banda Larga: 122 dB 1/3 oitava: ≥ 100 dB Tripé ajustável em altura entre 1,3m e 2,0m A figura seguinte ilustra um modelo de fonte sonora omnidireccional Anexo VII - D – Máquina de Percussão A máquina de percussão deverá ter as seguintes características: Martelos: 5 martelos Massa igual a 500 ± 12 g Dispostos em linha recta Igualmente afastados entre si (100 mm) Impacto: Queda livre de uma altura de 40 mm Frequência de 10 ± 0,5 Hz P A figura seguinte ilustra um modelo de máquina de percussão: Anexo VII - E – Câmaras de Reverberação As câmaras de reverberação deverão apresentar as seguintes características: 3 Um volume de ensaio de pelo menos 50 m A diferença de volume entre as câmaras deve ser de pelo menos 10% A figura seguinte ilustra um modelo de câmaras de reverberação: Q Anexo VIII – Listagem de normas de ensaios de caracterização térmica consultadas Produto Ensaio Método Categoria Teste padrão para a determinação da expansão linear ASTM E 228 - 06 térmica de materiais sólidos utilizando um dilatómetro 0 Métodos de ensaio para pedra natural. Determinação do coeficiente de dilatação linear térmica. NP EN 14581:2007 0 Todos os materiais que Ensaio Padrão para Determinação da Entalpia de cristalizem dentro da Fusão e de Cristalização por Calorimetria Diferencial gama de temperaturas de Varrimento do equipamento ASTM E793-06 ISO 11357-3 0 Todos os materiais que Ensaio Padrão para Determinação da Temperatura fundam dentro da gama de Cristalização e de Fusão através de Calorimetria de temperaturas do diferencial equipamento ASTM E794-06 0 Materiais Sólidos Rochas Ornamentais Sólidos e Liquidos Método para a determinação do calor específico através de calorimetria diferencial ASTM E1269-05 0 Polimeros e Vidros Teste Padrão para Determinação da Temperatura de Transição Vitrea por Calorimetria Diferencial de Varrimento ASTM E1356-03 0 Ensaio Padrão para a Determinação da Condutividade Térmica e Difusividade Térmica por Calorimetria ASTM E1952-06 Diferencial de Varrimento. 0 Polimeros, Vidros e Cerâmicos R Anexo IX - Requisitos dos equipamentos necessários para a caracterização das propriedades térmicas Anexo IX-A – DSC O DSC deverá ter as seguintes características: Intervalo de temperatura: -150 a 600ºC (mín.) Razão de aquecimento/arrefecimento: 0,1 a 100K/min. Sensor do fluxo de calor Possibilidade de trabalhar a diferentes atmosferas Sistema de aquisição de dados A figura seguinte ilustra um modelo de DSC: Anexo IX-B – Dilatómetro O dilatómetro deverá ter as seguintes características: Intervalo de temperatura: desde a temperatura ambiente até 1600ºC Possibilidade de utilização de diferentes fornalhas Porta-amostras de sílica (até 1100ºC) ou alumina (até 1600ºC) Limite mínimo de medição até 100µm Resolução: 8nm/incremento Diâmetro da amostra: de 1 a 20mm Comprimento da amostra: até 200mm Sistema de aquisição de dados S A figura seguinte ilustra um modelo de um dilatómetro: T