1 INTRODUÇÃO A história mostra que o trabalho sempre esteve ligado ao homem desde os mais longínquos tempos. Segundo Maia (2005), a origem do trabalho deuse quando os senhores, aqueles que detinham melhores condições socioeconômicas, viram em outros “trabalhadores que poderiam atender as suas necessidades básicas”. Isso ocorreu ao longo dos séculos, e o tempo ao se cristalizar registrou inimagináveis tipos de trabalho. No Brasil, o trabalho teve início, primeiramente com a tentativa de domesticar o índio e induzi-lo ao trabalho. Mais tarde, o trabalho efetivou-se com a chegada dos os negros que vieram de terras distantes para prestar os mais diversos tipos de serviços aos senhores e, em menor proporção, atender aos seus próprios interesses. O trabalho não exigia comprovação da experiência e era realizado ou em regime de escravidão ou através de negociações de permuta; o trabalho era executado em troca de mercadorias (alimentos, moradia, vestuário etc.). Atualmente, o trabalho compreende, de acordo com a Delta & Ambientec (1998), “a representação social do indivíduo, onde ele concretiza suas necessidades de sobrevivência e realização pessoal”. Nesse contexto, o trabalho assume singular importância na vida dos seres humanos, tanto no âmbito socioeconômico como antropológico e psicológico, pois ao mesmo tempo em que é o elemento central da atividade produtiva como indivíduo e sociedade, figura como 14 fator de realização individual ou social, chegando a dimensionar aspectos emocionais, como, por exemplo, a auto-estima e a autoconfiança. Contudo, em contrapartida aos efeitos benéficos do trabalho, surgem os efeitos maléficos provocados pelo ambiente de trabalho, pela carga horária, pela segurança e pelas condições em que o trabalho é desenvolvido. Nesse particular, Selli e Kurcgant (2000) afirmam que o trabalho desenvolvido em ambientes quentes, frios, ou na presença de ruídos, geram, como qualquer outro, os processos de saúde-doença nos trabalhos. Trata-se dos processos de adaptação, que são as soluções que o corpo humano encontra para se manter vivo e funcionando, diante de fatores que o levem a sair fora de seu funcionamento fisiológico normal. Um processo que se agrava quando o homem se dedica excessivamente ao trabalho ao desenvolvimento do trabalho, esquecendo-se dos fatores sociais, do cuidar do próprio corpo e de proporcionar ao mesmo, condições para que este não sofra com cargas de trabalho excessivo e/ou com as condições de trabalho, cargas horárias e agentes nocivos à saúde humana. Cabe salientar que a partir da industrialização, que propiciou o aperfeiçoamento da mão-de-obra especializada, o trabalho passou a ocupar, em média, 75% do tempo dos seres humanos, fazendo com que o ambiente de trabalho seja objeto de constante preocupação, a qual deve ser concentrada na saúde e na segurança, que interferem na integridade do cidadão e em sua capacidade para trabalhar. 15 Contudo, apesar do avanço tecnológico e legislativo ocorrido no transcorrer do século XX, visando proporcionar ao trabalhador o amparo legal, que lhe assegure a melhor integridade possível no desenvolvimento de suas atribuições (equipamentos, treinamento, adequação de cargas horárias, prevenção, indenização etc.), a problemática da insalubridade ainda permeia, especialmente, o chão das industrias pesadas, que, pelo gênero de atividade expõem seus colaboradores à inalação e/ou contato físico (pele, audição e visão) com produtos prejudiciais à saúde, cuja permanência nesse estado pode acarretar invalidez permanente e/ou temporária. Essa realidade alerta para a necessidade de que os profissionais de segurança e saúde no trabalho voltem suas atenções para o reconhecimento e a possibilidade de eliminar todos os riscos existentes nos locais de trabalho. Assim, a ação do engenheiro especializado em segurança do trabalho contribui para a elaboração, o desenvolvimento e a prática das estratégias que visam inibir os aspectos insalubres e proporcionar ao ser humano (trabalhador e colaborador) o ambiente de trabalho próprio ao desenvolvimento de sua função, visando a segurança e a integridade física, assim como os benefícios que podem trazer a administração da organização. Desta feita, com vistas a contribuir para a solução da problemática que envolve a insalubridade, eventual causa de afastamento dos colaboradores de uma indústria de embalagens; e, escopando propiciar o aprimoramento das condições de segurança e saúde ocupacional dos seus colaboradores, além de evitar perdas mútuas, partindo-se da hipótese de que o fato gerador se concentra nas condições 16 ambientais do trabalho, de um setor básico e imprescindível para o crescimento do país, o presente estudo de caso, originalmente recebeu o título de AVALIAÇÃO DOS RISCOS FÍSICOS E QUÍMICOS DE UMA INDÚSTRIA DE EMBALAGENS DE ARAPONGAS-PR, e visava analisar em um só estudo os riscos decorrentes de agentes físicos e químicos insalubres, com os quais os colaboradores da empresa mantém contato. Contudo, num segundo momento, achou-se propicio o desmembrado em dois trabalhos distintos, que receberam os títulos: AVALIAÇÃO DOS RISCOS FÍSICOS DE UMA INDÚSTRIA DE EMBALAGENS DE ARAPONGAS-PR e AVALIAÇÃO DOS RISCOS QUÍMICOS DE UMA INDÚSTRIA DE EMBALAGENS DE ARAPONGAS-PR, que analisam os riscos físicos e químicos, respectivamente, e figuram como complemento um do outro. Assim, o presente estudo, que tem como escopo principal à avaliação dos riscos químicos, realiza no Capítulo 5 uma pesquisa bibliográfica, que compôs a fundamentação teórica necessária ao desenvolvimento de toda pesquisa exploratória, e aborda os temas-chave: O trabalho e sua importância para o ser humano, as relações entre trabalho e saúde, ambientes de trabalho, legislação regulamentadora das condições e ambiente de trabalho, desenvolvimento do mapa de riscos ambientais e os agentes químicos nocivos à saúde humana, assim como seus efeitos e os cuidados preventivos. No Capítulo 6 são apresentadas a caracterização da empresa e sua história. O sétimo e ultimo capítulo discute os dados coletados na pesquisa realizada junto ao Técnico de Segurança de Trabalho, representante da empresa; e na 17 pesquisa realizada junto aos funcionários estudados, e apresenta os resultados encontrados na forma de tabelas, gráficos e comentários. 18 2 JUSTIFICATIVA Segundo Galvêas (2005, p. 1), o início da segunda metade do século XVIII, a Europa foi palco do fenômeno que caracterizou a passagem da manufatura à indústria mecânica. A introdução de máquinas fabris multiplicou o rendimento do trabalho e, conseqüentemente, a produção global. Tal advento transforma as relações sociais e cria duas novas classes sociais, fundamentais para a operação do sistema. Os empresários (capitalistas), que são os proprietários dos capitais, prédios, máquinas, matérias-primas e bens produzidos pelo trabalho; e os operários, proletários ou trabalhadores assalariados, que possuem apenas sua força de trabalho e a vendem aos empresários para produzir mercadorias em troca de salários. Para o mesmo autor, o início da revolução foi marcada por empresários que impõem duras condições de trabalho aos operários sem aumentar os salários, para assim aumentar a produção e garantir uma margem de lucro crescente. A disciplina era imposta com rigidez, mas as condições de trabalho nem sempre ofereciam segurança. Em algumas fábricas a jornada ultrapassava 15 horas, os descansos e férias não são cumpridos, mulheres e crianças trabalham sem receber tratamento diferenciado. Nesse contexto, surgem os conflitos entre os operários revoltados com as péssimas condições de trabalho e os empresários. As primeiras manifestações são de depredação de máquinas e instalações fabris. Com o tempo 19 surgem as organizações de trabalhadores de uma mesma área, resultado de uma conquista gradual do direito de associação. Contudo, a principal conseqüência do processo de industrialização, segundo Abrão e Meurer (2005, p. 1-3), é a subdivisão da produção em várias operações sistematizadas, cuja disciplina é rigorosa, mas as condições de trabalho não oferecem segurança. Algumas jornadas de trabalho ultrapassam o limite de quinze horas, os descansos e as férias não são cumpridos e mulheres e crianças não recebem tratamento diferenciado. Em suma, o trabalho na fábrica exaure os nervos ao extremo, suprime o jogo variado dos músculos e confisca todas as atividades livres, físicas e espirituais do trabalhador. No Brasil, a saúde, as condições de trabalho e os acidentes foram e ainda são motivos de grande preocupação nos trabalhadores, desde o início do processo de industrialização, quando se passou, segundo Maia (2005), a definir as tarefas e as remunerações, e surgiram os contratos de trabalho, que continham as regras e direitos dos trabalhadores e empregados, especificando as classes trabalhadoras. Cabe anotar que no governo de Getúlio Vargas criou-se a CLT Consolidação das Leis do Trabalho, o salário mínimo, a carteira de trabalho, o décimo terceiro salário, o FGTS, a aposentadoria e as férias, entre outros, que visam atender às necessidades dos trabalhadores e de suas famílias. Após um tempo e depois de muita luta, foi reconhecido o direito dos deficientes, e a lei passou a 20 garantir as cotas para pessoas com deficiência trabalharem nas empresas. (MAIA, 2005). Apesar dos avanços legislativos para garantir melhores condições ao trabalhador brasileiro, esse período registra semelhança com o ocorrido na Europa, pois se verificam nas indústrias péssimas condições de trabalho, jornadas prolongadas, baixos salários e alto índice de acidentes de trabalho. Atualmente, os acidentes de trabalho ainda constituem a face visível de um processo de desgaste e destruição física de parcela da força de trabalho no sistema capitalista. No Brasil, segundo dados da Campanha Nacional de Combate aos Acidentes de Trabalho - CANCAT, ocorreram 6.677 (seis mil e seiscentos e setenta e sete) acidentes de trabalho graves e fatais no ano de 1995; e 3.296 (três mil e duzentos e noventa e seis) aposentadorias por invalidez permanente, decorrentes de acidentes de trabalho. (MAIA, 2005, p. 1). Uma visão holística revela que o problema atinge proporções gigantes e aterrorizantes, pois as perdas não se limitam à sociedade, que sofre mediante maus tratos ou destratos com o homem e o meio ambiente, decorrentes de uma produção, mas atingem a saúde do indivíduo, que acarreta em redução de sua capacidade laboral, e afeta o seu rendimento e a sua remuneração; além dos prejuízos à empresa que arca com o custo da reposição do trabalhador substituto, desde o processo de avaliação e seleção, passando pelo treinamento na função até 21 o atendimento do nível de qualidade e de produção que se poderia esperar pela continuidade do trabalho do afastado. São perdas e/ou danos humanos ou materiais, que levam as empresas, cada vez mais, a concluir que o custo-benefício da engenharia de segurança na prevenção de acidentes é positivo, pois os recursos financeiros destinados ao controle e à prevenção de doenças operacionais se revertem, em médio e/ou longo prazo, em benefícios para a empresa, em relação à produtividade, eficiência e eficácia no trabalho exercido pelo empregado. 22 3 OBJETIVOS 3.1 Objetivo Geral Detectar e analisar as possíveis causas de riscos ambientais por agentes químicos, que ocasionam os afastamentos temporários ou permanentes dos funcionários em uma indústria de embalagens, localizada na cidade de Arapongas, Estado do Paraná, objetivando contribuir para a prevenção das ocorrências de doenças ocupacionais e para o melhoramento das condições de segurança da indústria em questão. 3.2 Objetivos Específicos · Realizar o levantamento das condições atuais de segurança e saúde ocupacional na indústria; · Elaborar um estudo das condições ideais de segurança e saúde ocupacional; · Citar e comentar a legislação pertinente ao tema; · Analisar as condições de segurança e saúde ocupacional na atualidade. 23 · Apresentar um diagnóstico geral sobre riscos de doenças ocupacionais; · Despertar o espírito prevencionista nos indivíduos envolvidos na atividade; · Contribuir para o cumprimento das normas, procedimentos e medidas de segurança, reduzindo o número de acidentes e/ou doenças ocupacionais. 24 4 METODOLOGIA 4.1 Perspectiva do Estudo O presente trabalho compreende um estudo de caso, com caráter exploratório qualitativo e quantitativo, que visa através da observação, análise de documentos e entrevista, detectar as possíveis causas de insalubridade, com a finalidade de prevenir problemas de saúde e/ou acidentes e inibir os constantes afastamentos (temporários e/ou permanente) de colaboradores. Vale salientar que, segundo Gil (1996), o estudo de caso possui uma série de vantagens, “o que faz com que se torne o delineamento mais adequado em várias situações”, tais como: o estímulo a novas descobertas, a ênfase na totalidade e a simplicidade dos procedimentos. A primeira etapa tratará de levantar os dados sobre a situação atual da empresa, no tocante ao ambiente e às condições de trabalho proporcionado pela empresa aos seus colaboradores. A coleta de dados compreende a observação e a entrevista junto ao técnico de segurança do trabalho, além da análise documental em livros, atas e outros documentos pertinentes ao tema. Essa etapa da pesquisa será norteada mediante o planejamento das questões e o teste-piloto do questionário, composto por perguntas objetivas e subjetivas, que objetivaram 25 conhecer a política utilizada pela empresa para o trato com a segurança e saúde de seus colaboradores. A segunda etapa trata da coleta de dados junto aos colaboradores da empresa, através da aplicação de 11 (onze) questionários, previamente planejado, compostos por perguntas objetivas e subjetivas, que objetivaram conhecer, através do critério de amostra, a opinião da totalidade sobre o tema insalubridade na indústria objeto do presente estudo. O critério de amostragem adotado é o de amostra não-probabilística por conveniência, que, segundo Samara e Barros (2002), propicia a seleção dos elementos de acordo com a conveniência do pesquisador; assim, são escolhidas pessoas acessíveis e dispostas a responder ao questionário. Para preservar a identidade dos entrevistados, as transcrições de falas constantes na apresentação e discussão dos dados, são identificadas através da denominação “Colaborador”, seguida do número de ordem destinado aos questionários. A apresentação dos dados, processados através de tabulação manual, complementada pela discussão, compõem gráficos, tabelas e relatórios. A elaboração de um relatório informativo de conclusão integra as conclusões e as sugestões propostas. 26 4.2 Delimitação do Estudo O objeto de estudo compreende uma industria de embalagens, localizada na cidade de Arapongas, Estado do Paraná, iniciado em maio de 2004. 4.3 Limitações do Estudo A principal dificuldade compreende o receio por parte da empresa em tornar públicas singularidades quanto às suas ações e políticas pertinentes ao tema. 27 5 FUNDAMENTAÇÃO TEORICA 5.1 O Trabalho e Sua Importância para o Ser Humano Segundo Alves (2005, p. 1), uma das primeiras dimensões estruturais da categoria de trabalho, em significado histórico-ontológico, define o “trabalho como intercâmbio orgânico entre o homem e a Natureza”, seguindo o pressuposto estrutural e estruturante da atividade humana genérica. Trata-se do início constitutivo do ser social, distinção primordial do homo sapiens diante dos demais animais, pois, (...) apenas o animal homem tornou-se capaz de constituir tal intercâmbio orgânico, consciente e racional, com a Natureza, no sentido de mudar as formas da matéria, constituindo objetivações (que aparecem como “segunda natureza”), em sua busca pela satisfação das necessidades vitais. (ALVES, 2005, p. 1). O trabalho pré-capitalista era composto por múltiplas formas societais, atividades práticas instrumentais de luta pela existência, que, ao contrário da integração a um metabolismo sistêmico de produção e reprodução social atualmente existente, compreendia “mundos de trabalho”, pois somente com o advento do capitalismo constitui o mundo de trabalho no sentido singular, a forma social de trabalho sob a vigência do trabalho abstrato, oriundo das múltiplas espécies do trabalho escravo ao artesanal, unicidade das atividades de luta pela existência, que tenderia a envolver todas as demais atividades prático-instrumentais 28 num processo sistêmico de acumulação de valor, elemento do processo de civilização humano-genérico. Para o mesmo autor, o trabalho surge como modo de produção social, que mesmo com sua “forma estranhada”, tende a possuir, como “pressuposto negado”, signo de “humanização e hominização”, cujo aperfeiçoamento implica num determinado modo de cooperação social e aprimoração do produto social da atividade do trabalho, além de um determinado grau e modo de desenvolvimento de forças produtivas do trabalho social. Nesse contexto, os mundos de trabalho do homo sapiens compreendem atividades de trabalho meramente predatórias. “O homem é um mero parasita da natureza”. Um “caçador, coletor/extrator e pescador”, que usufrui, através do desenvolvimento das rudimentares técnicas pré-históricas, daquilo que a natureza primordial lhe oferecia, pois somente com a invenção da agricultura é que o homem veio a tornar-se realmente um produtor social. (ALVES, 2005, p. 1). Apesar da caça, pesca, coleta e extração mineral constituírem atividades sócio-gregárias, é o trabalho da agricultura que dá inicio ao processo de evolução da espécie humana, que se impõe em novas formas de sociedade, de relação com a Natureza e consigo mesmo. A partir da agricultura surgem as primeiras civilizações (Mesopotâmia, Egípcia e Chinesa), assim como as aglomerações humanas, ainda que esparsas, além de um complexo de sociedades, de organizações sociais e políticas, originárias das margens dos afluentes férteis dos rios, como: Tigre/Eufrates, Nilo, Amarelo. Trata-se da primeira Revolução Humana, 29 ocorrida há cerca de 10.000 anos, importante salto no desenvolvimento das forças produtivas sociais. Concomitantemente ocorre o desenvolvimento da atividade artesanal, da produção de utensílios e artefatos, ferramentas e objetos técnicos diversos, o homem revela-se um produtor de objetos úteis, oriundos da atividade artesanal, composta por força de trabalho (trabalho vivo), meio de trabalho (técnica e ferramenta) e objeto da natureza (matéria-prima), fatores constituintes do processo de trabalho. Assim, o artesanato constitui a forma primordial do processo de trabalho constituído pelo homem, que somente se alterou, através dos tempos, em meio ou técnicas, o qual, atualmente imerso na relação-capital tende a possuir diferente forma histórico-social, mas que outrora recebeu nova qualidade à sua forma, proporcionada pelo mercado, pela troca comercial originada no seio das sociedades antigas, a qual denota a dimensão de autonomia dos homens livres précapitalistas. “O trabalhador artesão dominava o processo de trabalho e seus elementos (o meio de trabalho e o seu objeto, alem, é claro, de serem possuidores de habilidades técnicas pessoais adquiridas)”. (ALVES, 2005, p. 1). Vale salientar que, (...) o artesão pré-capitalista era a representação plena do homem autônomo, capaz de transformar a natureza por meio do desenvolvimento das técnicas e de sua ciência particular, tendo o domínio de seu oficio. É contra tal forma de trabalho que o capital irá lutar nos primeiros séculos de sua existência, buscando expropriar o homem trabalhador de seus objetos, de seus instrumentos e por fim, de suas habilidades. (ALVES, 2005, p. 1). 30 Contudo, os artesãos, embora homens livres e detentores do domínio de suas atividades de trabalho, não possuíam autonomia nas suas atividades de vida política e social, pois já se submetiam às classes sociais dominantes e seu Estado político, cujo caráter societal promovia a divisão hierárquica do trabalho social e o poder político. A liberdade sobre as atividades de trabalho foi lentamente sufocada pelo desenvolvimento da produção capitalista, que levou o artesão a perder gradativamente o objeto de trabalho (matéria-prima), até então fornecida por estranhos: o capitalista-comerciante. Em outras palavras, o capitalismo transforma a força de trabalho, o trabalho vivo, em mercadoria. Brandão Junior (2000, p. 1) concordam e afirmam que alguns séculos antes da Revolução Industrial os instrumentos de trabalho eram concebidos pelo próprio homem (trabalhador) de forma artesanal e prazerosa, os quais são submetidos à divisão social capitalista, que afasta os pequenos artesãos da concepção e produção do seu produto e os limita ao exercício de funções previamente determinadas por outrem. O início do sistema fabril submete os trabalhadores a normas e desadapta o sistema habitual do trabalho humano e abala a estrutura familiar, social, física e mental dos trabalhadores. (Machado et al, 1997). Assim, a despeito do advento do capitalismo, que castrou no homem o prazer e o domínio sobre suas atividades o obrigou-o a tornar-se senhor e servo da produção e comercialização de bens, o trabalho é uma atividade fundamental na vida humana, “pois pode funcionar como fonte de construção, realização, satisfação, 31 riqueza”, provedor e mantenedor de bens materiais e serviços úteis à sociedade humana. Ansoline (2005, p. 1) concorda e afirma que: (...) na relação do homem com o trabalho, não somente se “ganha como também se constrói a vida, estabelecendo-se um status social que não se restringe ao ambiente físico do trabalho. Pelo contrário, a atividade profissional é parte inextricável do universo individual e social de cada um, podendo ser traduzida tanto como meio de equilíbrio e de desenvolvimento quanto como fator diretamente responsável pela saúde. (ANSOLINE, 2005, p. 1). Contudo, também pode ser fonte inesgotável de escravidão, exploração, sofrimento mental, doenças e morte, pois a lógica capitalista defende o processo de valorização do capital, através da produção da mais-valia, que gera o desgaste/adaptação humano, conceito associado a um processo de trabalho que fragmenta a relação entre trabalhadores e os meios de produção e o produto resultante do trabalho. Trata-se da lógica de acumulação, na qual os trabalhadores se submetem a toda sorte de riscos materiais, ambientais, maquinários, instrumentais e organizacionais, que, segundo Brito e Porto (apud BRANDÃO JUNIOR, 2000, p. 2), impõem a coerção e o ritmo de produção, por meio de métodos de trabalho, relações hierárquicas e sistemas punitivos, o que constitui fato histórico de mais alta importância civilizatória, pois institui socialmente a “força de trabalho como mercadoria que irá contribuir para que a forma-mercadoria se torne a célulamater da sociedade ocidental”. (ALVES, 2005, p. 4). 32 5.2 As Relações em Trabalho e Saúde Segundo Galvêas (2005, p. 4), o advento da Revolução Industrial acarretou em imenso aumento da produtividade, por meio da utilização dos equipamentos mecânicos, da energia a vapor e, posteriormente, da eletricidade, que substituíram animais e diminuíram a utilização do trabalho humano, o que resultou em excesso de mão-de-obra e desemprego, os quais passam a se incorporar às grandes massas de mendigos que circundavam as grandes cidades. A tragédia só não tomou proporções muitos piores porque paralelamente ocorreu a revolução agrícola, que proporcionou o desenvolvimento de novas técnicas, rotação de safras, sementes selecionadas e o surgimento de novos equipamentos agrícolas, que para sorte da humanidade produziu um extraordinário aumento de alimentos, barateando a alimentação e melhorando as condições de sobrevivência dos trabalhadores. Contudo, não demorou muito e a industria têxtil desenvolvida exigiu uma enorme produção de algodão, fazendo com que os camponeses fossem expulsos de suas terras e passassem a engrossar as enormes filas de desempregados.O excesso de mão-de-obra nas cidades industriais fez baixar os salários, permitindo que somente os especializados mantivessem seus postos e suas dignas remunerações. Nesse contexto, as condições de vida do trabalhador se deterioram, o desemprego e a miséria assolam a Europa, e aqueles que porventura conseguem o trabalho se submetem às condições de trabalho impostas, por absoluta falta de melhor opção. 33 Para Brandão Junior (2000, p. 2), a falta de experiência profissional causa no trabalhador um sentimento de desqualificação e corte em sua identidade profissional, resultando na alienação progressiva em relação aos processos de produção, pois “o trabalho torna-se estranho aos desejos e interesses da pessoa”. Vale salientar que, além da separação entre concepção e execução, outras formas de divisão do trabalho foram implantadas, originando atividades laborais cada vez mais segmentadas, o que serviu para intensificar o ritmo das atividades e favoreceu o aumento do controle exercido sobre os trabalhadores, acarretando em fadiga, superexploração, ansiedade, acidentes e uma série de doenças. A hierarquização e a divisão de tarefas constituem aspectos essenciais na organização do trabalho, o que do ponto de vista capitalista funciona como modo de garantir, simultaneamente, o máximo de eficácia no processo de produção e a máxima sujeição possível dos trabalhadores. Segundo Seligmann-Silva (1994), (...) os dispositivos e processos psicológicos e psicossocias utilizados como forma de pressionar os trabalhadores são de toda ordem. As tecnologias de controle como a disciplinarização dos mecanismos de trabalho, a gestão dos afetos realizados pelos serviços de Recursos Humanos e as novas formas mais sofisticadas de controle – introjeção da dominação, controle recíproco, etc. – têm importante peso para a vida psíquica dos (as) trabalhadores (as), quer em termos de cansaço físico, mental e de tensão, quer no efeito alienante. (apud BRANDÂO JUNIOR, 2000, p. 3). 34 Vale salientar que nesse contexto ocorre a ocultação do desgaste dos trabalhadores através da monetarização dos riscos no trabalho. Essa prática induz o trabalhador a aceitar as condições de insalubridade e de risco de vida (periculosidade) pagos em dinheiro, ao invés de exigir a transformação das condições de trabalho, visto que pela ação do aparelho ideológico institucional, a saúde e a integridade física e mental do trabalhador fica em segundo plano ante os interesses da produtividade. Assim, a monetarização dos riscos leva o trabalhador a submeter-se à negação do próprio risco existente na concentração de inúmeras tecnologias industriais de fabricação, que concentram energias e materiais que o corpo humano não possui preparo suficiente para enfrentar sem os devidos cuidados e equipamentos que proporcionem proteção. Cabe acrescentar e frisar que, embora dinâmico e flexível, o ser humano possui limites para enfrentar determinadas alterações ambientais que impedem ou desfavorecem a manutenção e a expressão de sua vida, pois, (...) o uso de novas técnicas tornam maiores as exigências de concentração mental e a tendência é tornar o trabalho mais intenso e complexo. O acidente com máquinas e instrumentos de trabalho associados a material biológico e o desgaste físico e mental decorrentes de ritmos elevados de trabalho e mecanismos rígidos de coerção, são alguns dos exemplos de casos onde o trabalhador (a) pode adoecer em função do trabalho. (BRANDÃO JUNIOR, 2000, p. 4) (grifo nosso). Tal desgaste provém da tentativa ou do processo que o corpo desenvolve para se adaptar às condições às quais está exposto e pelas quais sofre agressão, do risco ao qual está exposto, o que acarreta em perda da capacidade 35 potencial e/ou efetiva corporal e psíquica. (LAURELL apud BRANDÃO JUNIOR, 2000, p. 4). A expressão Carta de Trabalho é utilizada por Laurell e Noriega (apud BRANDÃO JUNIOR, 2000, p. 3) para denominar o conceito de Risco, que engloba aspectos físicos, químicos, mecânicos, fisiológicos e psíquicos, os quais “interatuam dinamicamente entre si e com o corpo do (a) trabalhador (a)”. Segundo Oliveira (2001, p. 4), as cargas podem ser divididas em dois grupos: as que têm materialidade externa ao corpo do trabalhador, tais como físicas, químicas, biológicas e mecânicas, e as que adquirem materialidade no corpo humano: fisiológicas e psíquicas. As cargas físicas, como, por exemplo, vibrações, ruídos, umidade, ocasionam alterações nos mecanismos fisiológicos humanos, que podem ser reversíveis ou não; as químicas consistem em poeiras, gases, vapores etc., as biológicas (microorganismos) e as mecânicas, provenientes de equipamentos utilizados no processo de trabalham, compõem as cargas que possuem materialidade própria, que causam danos à saúde do trabalhador, e se manifestam independentemente do corpo do trabalhador e se interatuam com o mesmo. Já as cargas fisiológicas se expressam pelas condições de trabalho ao qual se submete o trabalhador, pelo esforço repetitivo, posturas estáticas, rotação de turnos, posições incômodas, entre outras; e as psíquicas se concentram nas cargas que provocam tensão prolongada ou sobrecarga psíquica, como, por exemplo, ritmo acelerado de trabalho, trabalho perigoso, atenção e supervisão constante etc., ou ainda subcarga 36 psíquica, “que limita o uso da capacidade mental decorrente de atividades desprovidas de conteúdo, da separação entre concepção e execução do trabalho”, que resultam em desqualificação do trabalhador. (OLIVEIRA, 2001, p. 4). Assim, o desgaste não se expressa claramente, pois como é decorrente de um processo de adaptação, desenvolvido pelo corpo do trabalhador como conseqüência da ação das cargas de trabalho agressivas, que como afirmam Laurell e Noriega (apud OLIVEIRA, 2001, p. 4), não se traduz por um processo isolado, mas por um conjunto de processos biopsíquicos, que podem acarretar em perda de órgãos, bem como em comprometimento do desenvolvimento das potencialidades psíquicas ou biológicas do trabalhador. Nesse contexto, cabe salientar que a identificação da carga com a intenção de amenizar o desgaste é vital tanto para a sociedade quanto para o capitalismo, pois as perdas e os danos humanos ou materiais, justificam o custobenefício da engenharia de segurança na prevenção de acidentes, que visa o controle e a prevenção dos acidentes, e proporciona benefícios para a empresa, em relação à produtividade, à eficiência e à eficácia no trabalho exercido pelo trabalhador. 37 5.3 Ambientes de Trabalho Segundo Wada (apud SANTOS, 2005, p.1), o ambiente de trabalho compreende “um conjunto de fatores interdependentes, materiais ou abstratos, que atua direta e indiretamente na qualidade de vida das pessoas e nos resultados dos seus trabalhos”. O local de trabalho (escritório, fábrica, banco) deve ser sadio e agradável, pois aqueles que nele co-atuam precisam ter condições que lhes proporcionem o máximo de proteção e satisfação no trabalho. Assim, os fatores que compõem o ambiente de trabalho podem ser agrupados em dois blocos: físicos e organizacionais. Vale salientar, no entanto, que ambos se equivalem em grau de importância, pois um ambiente de trabalho é resultado desses diversos fatores. Contudo, considerando a natureza do estudo em questão, o mérito ater-se-á nos aspectos físicos, que contribuem para composição do ambiente de trabalho, cujas características apresentam risco à saúde e à integridade física humana, constante preocupação da segurança no trabalho e, portanto, objeto de avaliações. 38 5.3.1 Avaliações ambientais Para Panzotto (2002, p. 23), a avaliação ambiental deve ser realizada in loco (no local do trabalho), sempre que este abrigar pessoas que executam tarefas, independentemente do tempo de permanência das mesmas. Considerando que todo ambiente é impreterivelmente visitado por funcionários em determinado período de tempo (dias, meses ou anos), toda avaliação precisa ser ampla e irrestrita, sendo executada em todos os ambientes da organização (indústria, comércio, administrativa, construção civil, serviços bancários etc.), além de ser coerente com a realidade profissional e abranger todos os riscos de todos os ambientes profissionais, cujo resultado positivo advém da junção da avaliação qualitativa e quantitativa dos ambientes. 5.3.1.1 Avaliação quantitativa A realização da avaliação quantitativa requer instrumentos científicos, os quais devem estar calibrados e preparados para cada tipo de análise a ser realizada. Essa avaliação é essencial para a elaboração do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais, Norma Regulamentadora no. 9 (NR-9), através da qual se pode atestar a insalubridade ou não de um ambiente de trabalho; e na elaboração de laudos técnicos em Engenharia de Segurança de Trabalho, relatórios de insalubridade etc., pois oferece precisão e confiabilidade às avaliações. 39 A avaliação quantitativa compreende a medição da quantidade de iluminação, ruído, temperatura, umidade e velocidade do ar, entre outros fatores presentes no ambiente de trabalho, cuja natureza, quantidade ou qualidade possam auferir perigo à saúde e à integridade física do trabalhador. 5.3.1.2 Avaliação qualitativa A avaliação qualitativa compreende toda avaliação que não usa recursos instrumentais científicos, mas se baseia na prática de profissionais, opinião de pessoas, experiência empírica e ambiental etc.. Trata-se de avaliação subjetiva, na qual os riscos são identificados e reconhecidos com base na experiência do diaa-dia e nos conhecimentos teóricos de atividades prevencionais, entre outras. Nesse contexto, os funcionários figuram como peças fundamentais para a elaboração da avaliação, pois no ambiente de trabalho se expõem ao calor, às vibrações e aos ruídos que podem representar riscos. Assim, segundo Ponzetto (2002, p. 25), a avaliação qualitativa tem por finalidade levantar a composição de algum elemento, químico, biológico etc., para que, “através da fórmula usada para a confecção do referido produto, se pesquise, em literatura técnica, o risco que ele causará ao ser humano e ao meio ambiente”. O Quadro 1 apresenta os tipos de riscos (agentes ambientais), utilizada para estabelecer a qualitativa em determinado ambiente de trabalho. 40 Riscos Físicos Riscos Biológicos Riscos Ergonômicos Riscos Mecânicos Poeira Ruído Vírus Postura Incorreta Máquinas Sem proteção Fumos Vibração Bactérias Trabalho pesado Nevoas Umidade Protozoários Treinamento inadequado Ferramentas defeituosas Vapores Pressões anormais Fungos Jornada prolongada Equipamentos inadequados Gases Temperaturas extremas Bacilos Trabalho noturno Perigo incêndio Riscos Químicos físico Choques elétricos de Produtos químicos Radiação Parasita em geral ionizante e não ionizante Substâncias Alturas extremas Animais químicas peçonhentos Conflitos, tenções Material fora de emocionais especificação Desconfortos Armazenamento inadequado Fumaças Monotonia Arranjo deficiente Combustíveis geral Calor em Frio Suor Águas residuais, Responsabilidade efluentes excessiva físico Edificações perigosas Fonte: Ponzetto, 3002, p. 26. Quadro 1. Tipos de riscos, baseados nos agentes ambientais da avaliação qualitativa. 5.4 Legislação Regulamentadora das Condições e Ambiente de Trabalho 5.4.1 Breve histórico da segurança e saúde no trabalho Segundo Panzetto (2002, p. 17), até 1945, a preocupação dos profissionais de segurança e saúde do trabalho era voltada para o reconhecimento e eliminação de riscos existentes nos ambientes de trabalho. Essa era a grande 41 preocupação das Comissões de Prevenção de Acidentes da Ligth, primeira forma de CIPA no Brasil, que, por recomendação dos empregadores, buscavam a modificação dos ambientes fabris, devido ao grande crescimento do número de operários que se acidentavam no trabalho. Na década de 1960, a Itália perde inúmeros trabalhadores ao ano em decorrência das inadequadas condições de trabalho e da falta de treinamento eficiente nas empresas, o que leva os trabalhadores italianos, organizados e assistidos por seus Sindicatos, a tomarem medidas que efetivamente eliminassem os riscos e criassem condições dignas e seguras, adotando uma cultura empírica, que aliou conhecimento técnico de profissionais de saúde, médicos e psicólogos. No início da década de 1970, surge o Federeziane dei Lavorato Metalmeccanici (FLM), que desenvolveu o “modelo italiano”, cujo princípio era a formação de grupos homogêneos, no qual “a experiência da subjetividade operária, aliada à avaliação consensual e não à delegação pessoal, possibilitava a participação dos trabalhadores nas ações de controle da saúde nos locais de trabalho”. Assim, Era necessário, portanto, que o ambiente de trabalho ficasse livre da nocividade dos agentes ambientais, impondo-se que as descobertas cientificas nessa área ficassem conhecidas por todos, ou seja, trazendo ao conhecimento dos trabalhadores e principalmente da Comissão Italiana essas informações de forma mais eficaz. (PONZETTO, 200, p. 18). Contudo, a questão se concentrava em como informar sobre a intensidade dos riscos em cada área, e também aos tipos de riscos durante a exposição. Para tanto, criou-se um mapa, que representava as áreas de riscos, as intensidades e os tipos, além das recomendações para sua possível eliminação. O mapa de riscos ambientais possui a representação gráfica, que se disseminou por 42 todo o mundo e chegou ao Brasil no início da década de 1980, cujos resultados positivos foram constatados depois de algum tempo. São Paulo, através da Fundacentro “Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho” e da Delegacia Regional do Trabalho de Osasco, foi o primeiro a ministrar cursos de preparação de instrutores de diversos ramos de atividade. Em 1990, aconteceu o XI Ciclo de Debates sobre Segurança e Saúde, que englobou o tema “Mapa de Riscos Ambientais” e contou com a participação do sindicalista italiano Roberto Ripamonte, representante da Central Sindical Italiana (CGIL). O modelo italiano que serviu de parâmetro para as experiências positivas brasileiras, convenceu os empresários a participarem juntamente com os funcionários, e subsidiou o processo de confecção, e estimulou a oficialização do Mapa de Riscos Ambientais mediante portaria. No mesmo ano, foi regulamentada a Portaria no . 5, do DNSST, publicada em 20.08.1992, que dispunha sobre a obrigatoriedade da elaboração do Mapa de Riscos Ambientais (Norma Regulamentadora no . 9 – Riscos Ambientais). A parti daí, medidas de leis, decretos, portarias e normas, juntamente com o esforço contínuo de autoridades, órgãos, associações e profissionais comprometidos com a segurança no trabalho, contribuem para a preservação da saúde e diminuição do número de acidentes no trabalho ocorridos nas empresas. 43 Assim, as atuais Normas Regulamentadoras, as NRs, existem desde a aprovação e publicação da Portaria no. 3.214, de 08 de Junho de 1978, a qual regulamenta diversos artigos do Capítulo V do Titulo II da Consolidação das Leis do Trabalho, alterado pela Lei no. 6.514, de 22 de Dezembro de 1977, relativos à Segurança e Medicina do Trabalho. Desta forma, as Normas Regulamentadoras no . 9, 15 e 16 regulamentam os arts. 189 a 197, da Lei no. 6.514/77, a saber: · Norma Regulamentadora no. 15: Trata das Operações Insalubres; · Norma Regulamentadora no. 16: Trata das Operações e Atividades Perigosas; e · Norma Regulamentadora no. 9, que até 29 de Dezembro de 1994, discorria sobre os Riscos Ambientais. Contudo, a Portaria no. 5, publicada em 18 de Agosto de 1992, pela SSST, impunha a decisão de que o Mapa de Riscos deveria ser incluído na Norma Regulamentadora no. 9 (NR-9), devido à obrigatoriedade da representação gráfica dos riscos existentes nos diversos locais de trabalho. No entanto, tal fato gerou problemas de ordem dentro das Normas, pois “o Mapa de Risco deveria ser realizado pelo empregador, mas seria executado pela CIPA (Portaria n. 5, de 18.08.1992, NR-9, item 9.4, alínea c)”, cujas atribuições estavam definidas e determinadas no item 5.16 da NR-5, na qual não constava a execução do mapeamento, assistido pela referida Comissão. A atribuição à CIPA pela execução do Mapa de Riscos Ambientais passou a ter validade pela Portaria no. 25, de 44 29.12.1994, com redação incluída na Norma Regulamentadora no. 5, item 5.16. A mesma portaria, 30.12.1995, alterou a denominação para “Programa de Prevenção de Riscos Ambientais - (PPRA)”. Dessa forma, o grande problema dos cipeiros atualmente é a falta de instrumentos que permitam a confecção exata do Mapa de Riscos Ambientais. Os cursos possuem duração de apenas 20 horas, tempo considerado insuficiente para atender à necessidade para entendimento completo, tanto teórico como prático. Contudo, apesar da tentativa de alterar o currículo do curso, pela Portaria n. 5, de 18.04.1994, que incluía o Mapa de Riscos Ambientais, não foi concretizada. Portanto, o que existe, na prática, é a obrigatoriedade da execução do documento por parte da CIPA, conforme Portaria no . 8, de 23.02.1999, que sobre a nova redação da NR-5, discorre: 5.16 A CIPA terá por atribuição: a) identificar os riscos do processo de trabalho, e elaborar o mapa de riscos, com a participação do maior número de trabalhadores com assessoria do SESMT, onde houver. (PONZETTO, 2002, p. 21). 5.5 Desenvolvimento do Mapa de Riscos Ambientais Segundo Ponzetto (2002, p. 84), o Mapa de Riscos Ambientais deve ser elaborado anualmente pela CIPA e conter as informações necessárias para estabelecer o diagnóstico das condições de segurança e saúde do trabalho nas empresas. Sua confecção deve facilitar a troca e a divulgação de informações entre 45 os trabalhadores, além de estimular a participação dos mesmos nas atividades de prevenção, em todas as sua etapas, a saber: · conhecimento do processo de trabalho no local analisado; Vale salientar que: Não é só o local de trabalho que deve ser analisado, mas também o número de trabalhadores atuando no ambiente, inclusive quando se tem um compartilhamento com outras seções ou departamentos, sendo, portanto, necessário saber quantos atuam como profissionais ou freqüentam o local, mesmo esporadicamente. (PONZETTO, 2002, p. 84). Nesse contexto, devem ser informados os dados demográficos, tais como: idade, sexo, e os dados relativos aos treinamentos profissionais e de segurança e saúde, além da jornada de trabalho e dos instrumentos e materiais de trabalho utilizados, como, por exemplo: tipos de máquinas e equipamentos, atividades exercidas e o ambiente de trabalho em geral. · “identificar os riscos ambientais no local analisado, conforme a classificação da Tabela de Riscos Ambientais” (Quadro 1, subcapítulo 5.3.1.2); a) Identificar as medidas preventivas existentes (coletiva, individual, de organização, de higiene e conforto no tocante a banheiros, lavatórios, vestuários, armários, bebedouros, refeitórios, áreas de lazer etc.) e sua eficácia. (...) b) Identificar os indicadores de saúde (queixas mais freqüentes e comuns entre os trabalhadores expostos aos mesmos riscos, acidentes de trabalho ocorridos, doenças profissionais diagnosticadas, causas mais freqüentes de ausência ao trabalho). (...) c) Conhecer os levantamentos ambientais já realizados no local. (...) d) Elaborar o Mapa de Riscos, sobre o layout da empresa, indicando, através dos círculos, o grupo a que pertence o risco, de acordo com a 46 cor padronizada; o número de trabalhadores expostos ao risco, a especificação do agente agressivo e que deve ser anotada dentro do circulo no caso de Mapa do tipo geral, e a intensidade do risco, de acordo com o tamanho do círculo. (PONZETTO, 2002, p. 85-86). Tais círculos são coloridos, conforme estabelece a norma em segurança do trabalho, constante no Quadro 2, a seguir: RISCOS AMBIENTAIS Agente Químico Agente Físico Agente Ergonômico Agente Biológico Agente Mecânico Fonte: PONZETTO, 2002, p. 86 COR PADRONIZADA Vermelho Verde Amarelo Marrom Azul Quadro 2. Cores padronizadas dos riscos ambientais Além de seguir o roteiro para a realização do Mapa de Riscos, que ajuda os cipeiros a identificarem os riscos ambientais, assim como o levantamento de todos os problemas de um setor de trabalho. O Quadro 3, a seguir, mostra o modelo do roteiro, que deve ser preenchido pelo responsável pelo setor analisado. 47 ROTEIRO PARA REALIZAÇÃO DO MAPA DE RISCOS SETOR A SER ANALISADO: __________________________________________________________________ DESCRIÇÃO QUANTIDADE FUNCIONÁRIOS QUE TRABALHAM NO SETOR 1. PRINCIPAIS ATIVIDADES EXERCIDAS: _________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ 2. MÁQUINAS, EQUIPAMENTOS OU INSTRUMENTOS UTILIZADOS: _________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ DESCRIÇÃO SIM NÃO No desempenho das funções, podem ocorrer acidente(s)? 2.1. DESCREVA OS ACIDENTES QUE PODEM CORRER NO SETOR: _________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ 2.2. QUEIXAS MAIS FREQÜENTES DOS FUNCIONÁRIOS DO SETOR: _________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ 2.3. INCIDENTE(S) OCORRIDO(S) NOS ÚLTIMOS 12 MESES: _________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ 2.4. ACIDENTE(S) E/OU AFASTAMENTO(S) OCORRIDO(S) NOS ÚLTIMOS 12 MESES: _________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ 3. EQUIPAMENTO(S) DE USO OBRIGATÓRIO UTILIZADO(S): DESCRIÇÃO SIM NÃO EPI (Equipamento de Proteção Individual) EPC (Equipamento de Proteção Coletiva) Qual(is) Equipamento(s)? __________________________________________________________________________________________ 4. DETERMINAÇÃO DO TAMANHO DOS CÍRCULOS: PREENCHIMENTO OS ITENS PEQUENO MÉDIO SOMENTE O ITEM 2.2 2.2 E 2.3 2.2; 2.3; 2.4 OU SOMENTE ITEM 3 Fonte: POZETTO, 202, p. 89-90 Quadro 3. Roteiro para realização do mapa de riscos GRANDE 48 O Quadro 4, a seguir, apresenta a classificação dos riscos identificados no setor, baseados nos itens 2.1 e 2.2 do referido roteiro. CLASSIFICAÇÃO DOS RISCOS IDENTIFICADOS NO SETOR, BASEADO NOS ITENS 2.1 E 2.2: DESCRIÇÃO CORES RISCO FÍSICO VERDE SIM NÃO P TAMANHOS M G Tipo de Riscos (baseado no Quadro 5): RISCO QUÍMICO VERMELHO Tipo de Riscos (baseado no Quadro 5): RISCO BIOLÓGICO MARROM Tipo de Riscos (baseado no Quadro 5): RISCO ERGONÔMICO AMARELO Tipo de Riscos (baseado no Quadro 5): Medidas Preventivas: RISCO MECÂNICO AZUL Tipo de Riscos (baseado no Quadro 5): Medidas Preventivas: Fonte: PONZETTO, 2002, p. 91 Quadro 4. Formulário para classificação dos riscos identificados no setor, baseado nos itens 2.1 e 2.2 do roteiro para realização do mapa de risco 49 O tipo de risco a constar na classificação dos riscos a serem identificados no setor são especificados no Quadro 5, a seguir: TIPOS DE RISCOS Riscos Riscos Físicos Químicos Poeira Riscos Riscos Biológicos Ergonômicos Vírus Postura Incorreta Ruído Riscos Mecânicos Máquinas sem proteção Fumos Vibração Bactérias Trabalho físico Choques elétricos pesado Névoas Umidade Vapores protozoários Pressões Fungos Treinamento Ferramentas inadequado defeituosas Jornada prolongada Equipamentos anormais Gases inadequados Temperaturas Bacilos Trabalho Noturno Perigo de incêndio Parasitas Conflitos, tensões material fora de emocionais especificação Desconforto Armazenamento extremas Produtos Radiação químicos em ionizante e não geral ionizante Substâncias Alturas extremas químicas Animais peçonhentos Fumaças Calor inadequado Suor Monotonia Arranjo físico deficiente Combustíveis em Frio geral Águas residuais, Responsabilidade Edificações efluentes excessiva perigosas 7. TOTAL GERAL ANALISADO NO SETOR SIM NÃO DESCRIÇÃO P M FÍSICO (Verde) QUÍMICO (Vermelho) BIOLÓGICO (Marrom) ERGONÔMICO (Amarelo) RISCO MECÂNICO (Azul) __D__ D/2 REGRAS PARA DEFINIR TAMANHOS Risco Grande = D Risco Médio = D/2 Risco Pequeno = Médio/2 M/2 _____________________________ Responsável pelo Setor ___________________________ Analista Técnico Fonte: PONZETTO, 2002, p. 92 Quadro 5. Tipos de Riscos G 50 Cabe acrescentar que as instruções para preenchimento do roteiro se concentram em: · preenchimento das principais atividades, ou as exercidas no diaa-dia; · preenchimento dos tipos de máquinas e equipamentos usados durante o expediente normal, além dos instrumentos eventualmente utilizados: - atenção à experiência e conhecimento do trabalhador quanto aos diversos tipos de acidentes que a atividade, etapa ou trabalho podem provocar, lembrando que o responsável do setor é a pessoa que mais pode conhecer sobre os possíveis acidentes oriundos do processo produtivo. - dar liberdade para que o funcionário e/ou encarregado comente sobre as queixas mais freqüentes. - este item fica condicionado à instrução que os membros da CIPA devem transmitir aos encarregados: a diferença conceitual e prática entre incidente e acidente, ou seja, esclarecer que incidente é quase um acidente. - o preenchimento deste item requer que o funcionário ou encarregado seja informado sobre acidentes com perda de tempo ou afastamento nos últimos 12 meses; · o preenchimento deve ocorrer somente se o setor usar EPI ou EPC, definido anteriormente por autoridade competente em Segurança e Saúde do Trabalho; 51 · deve servir como orientação no momento de definir os tamanhos dos círculos para os respectivos riscos classificados; · não é necessário o preenchimento imediato, pois requer análise detalhada dos itens anteriores; · preenchimento do Tipo de Risco, o qual pode ser baseado nos itens anteriores. Cabe lembrar que as medidas preventivas são medidas de segurança que devem ser providenciadas, e terão mais êxito se for seguida a teoria prevencional. Assim, se for possível o risco deve ser eliminado. Se não, deve ser isolado do ambiente profissional, e se isso também não for possível, o risco deve ser sinalizado. · baseia-se no item 5, e trata do levantamento final de todos os riscos existentes no setor, com os respectivos tamanhos e cores. O último fator a ser considerado compreende a Regra Prática para determinar o diâmetro do círculo, que pode ter qualquer tamanho, desde que exista proporcionalidade e atinja um padrão ideal de visualização para todos os Mapas da empresa. Cabe acrescentar que o Mapa de Risco pode ser Geral e setorial. Geral quando abrange uma área maior, que não contenha divisórias nem paredes, geralmente aplicadas a áreas fabris, produção indução industrial, montagem industrial, construção civil etc. Setorial quando abrange todos os setores da empresa 52 de forma mais específica para cada risco, com informações setoriais, recomendações e procedimentos a serem seguidos, números de funcionários envolvidos e tipo de riscos a que se expõem. 5.6 Agentes Químicos Nocivos à Saúde Humana Segundo Ponzetto (2002, p. 28), agente químico é todo elemento ou substância química nociva que possa ser absorvida pelo corpo humano, via cutânea (pele), digestiva (boca ou estômago), ou respiratória (nariz e pulmões), os quais, para Soto, Saad e Fantazzini (1994, p. 7), podem poluir o local de trabalho e, ao entrar em contato com o organismo humano, apresentar ação localizada ou serem distribuídos aos diferentes órgãos e tecidos, ou levados por fluidos internos (sangue e outros), podendo produzir ação generalizada. 5.6.1 Absorção via cutânea Segundo Ponzetto (2002, p. 28), ao atingirem a pele humana, ácidos, álcalis e solventes podem ser absorvidos, provocando lesões, como, por exemplo, caroços ou chagas, além de comprometer as mucosas dos olhos, boca e nariz. Para Soto, Saad e Fantazzini (1994, p. 7), quando a pele e a gordura protetora não conseguem impedir a penetração da substância, o agente químico pode agir na 53 superfície da pele e provocar irritação primária, ou combinar com as proteínas da pele e gerar sensibilidade, ou ainda penetrar através da pele, atingir o sangue e atuar como tóxico generalizado. Contudo, vale salientar que, Apesar destas considerações, normalmente a pele é uma barreira bastante efetiva para os diferentes tóxicos, e são poucas as substâncias que conseguem ser absorvidas em quantidades perigosas. Por essas razões, as medidas de prevenção de doenças, nesses casos, devem incluir a proteção da superfície do corpo. (SOTO; SAAD; FANTAZZINI, 1994, p. 7). 5.6.2 Via digestiva Segundo Ponzetto (2002, p. 28), outra forma para a contaminação do organismo, acidental ou não, de substâncias nocivas, é a ingestão de alimentos contaminados, deteriorados ou através da saliva. Isso acontece por hábitos inadequados, como, por exemplo, a ingestão de líquidos no local de trabalho ou ao umedecer os lábios com a língua, usar as mãos para beber água, ou até mesmo a falta de higiene ambiental e pessoal. Assim, a ingestão acidental ou proposital de ácidos, álcalis ou solventes, podem, conforme o tipo do produto, ocasionar lesões, como: queimaduras na boca, estômago e esôfago. Para Soto, Saad e Fantazzini (1994, p. 7-8), a ingestão “representa apenas uma via secundária para o ingresso de tóxicos no organismo”, pois ao contrário de Ponzetto (2002, p. 28), acreditam que “nenhum trabalhador ingere, conscientemente, produtos tóxicos”. Segundo ele, isso só acontece de forma acidental ou ao engolir partículas que podem ser retidas na parte superior do trato 54 respiratório ou ainda ao inalar substâncias, como: pós ou fumos. Os mesmos autor es ainda consideram que “o aparelho digestivo está formado de tal modo que seleciona os materiais úteis ao organismo, e rejeita os que não lhe servem”. 5.6.3 Via respiratória De acordo com Ponzetto (2002, p. 28), “as substâncias penetram pelo nariz e pela boca, afetam a garganta e chegam aos pulmões”, podendo, através da corrente sangüínea, atingir outros órgãos e manifestar seus efeitos tóxicos. As substâncias químicas que possuem forma de pó, quando suspensas no ar, podem penetrar no organismo também via respiração, pois micro-partículas podem vencer as barreiras naturais do organismo e atingir partes mais profundas do pulmão. Para Soto, Saad e Fantazzini (1994, p. 7), a inalação compreende o principal meio de intoxicação, pois a “superfície dos alvéolos pulmonares representa, no homem adulto, uma superfície entre 80 e 90 m2”, o que facilita a absorção de gases e vapores. Alguns sólidos e líquidos ficam retidos nesses tecidos e podem produzir ação localizada. 55 5.6.4 Contaminantes químicos ambientais O ambiente de trabalho pode abrigar seis tipos mais comuns de agentes químicos ou substâncias contaminantes, ou seja, substâncias que oferecem risco químico ao trabalhador: · poeiras: são produzidas mecanicamente pelas rupturas de partículas maiores. Exemplo: fibras de amianto e poeira de sílica; · fumos: trata-se de partículas sólidas produzidas pela condensação de vapores metálicos. Exemplo: óxido de zinco utilizado nas operações de soldagem com materiais metálicos; vapores de chumbo em trabalhos a temperaturas superiores a 500o C e de outros metais em operações de fusão; · fumaça: são produzidas por combustão incompleta. Exemplo: a liberação por escapamentos de automóveis, que contêm monóxido de carbono; · neblina: compreendem partículas líquidas produzidas por condensação de vapores, as quais podem ser extremamente prejudiciais à saúde. Exemplo: Quando o elemento químico base é anidrido sulfúrico, gás clorídrico ou qualquer outro elemento com características corrosivas semelhantes; · gases: são dispersões de moléculas que se misturam ao ar e o tornam tóxico quando possuem elementos tóxicos em sua composição. Exemplo: O GLP (gás liquefeito de petróleo), de uso 56 doméstico ou industrial, monóxido de carbono, gás sulfídrico e o gás cianídrico, entre outros; · vapores: trata-se de dispersões de moléculas no ar que podem se condensar para formar líquidos ou sólidos em condições normais de temperatura e pressão. Exemplo: vapores de benzol e dissulfito de carbono, entre outros. A possibilidade da toxidade (potencial tóxico da substância no organismo) dos contaminantes químicos ambientais representar risco a saúde do trabalhador depende: da concentração (grande quantidade do produto), do índice de ar inalado durante a jornada do trabalho e da sensibilidade individual (nível de resistência de cada um, variável de pessoa para pessoa), a qual deve considerar os minutos de exposição ao produto contaminante. Ayres e Corrêa (2001, p. 137) asseveram que a NR-9, da Portaria 3.217/78 classifica esses tais produtos, compostos ou substâncias em: · agentes químicos com limites de tolerância – gases e vapores: substâncias químicas, cujas exposições estão previstas no Anexo 11, da NR-15, com a definição de limites de tolerância; · agentes químicos de avaliação qualitativa: produtos químicos cujas atividades e operações são consideradas insalubres, em decorrência de inspeção realizada no local de trabalho, e definidas pelo Anexo 13, da NR-15; · poeiras minerais: aerodispersóides (fumos, poeiras, fibras, fumaças, neblinas e névoas), representados por partículas 57 sólidas ou líquidas em dispersão no ar, com limites de tolerância definidos pelo Anexo 12, da NR-15. Quanto à toxidade, os agentes químicos são classificados em: · toxidade: substâncias químicas que penetram em um organismo e, ao serem absorvidas por ele, provocam desde pequenas alterações fisiológicas ou funcionais, que podem indicar perigo à saúde do organismo, até mesmo grandes desequilíbrios, que podem resultar em morte. As intoxicações podem ser agudas (temporárias) ou crônicas (atuantes em longo prazo); · efeitos fisiológicos: contaminantes atmosféricos, que podem ser irritantes e asfixiantes simples, demonstrados no Quadro 6, a seguir: 58 Efeito Fisiológico Contaminantes atmosféricos Asfixiantes simples Sintomas Irritantes Substâncias ácido sulfúrico, H2S, álcoois, éteres etc. Diminuem o teor de oxigênio que chega ao nitrogênio, gás carbônico (CO2), sangue butano (gás de botijão), metano, Hélio e outros. Asfixiantes químicos · Narcóticos Atuam sobre o sistema nervoso central, que quando atingem o sangue, tornam-se anestésicos e podem conduzir a paradas cardíacas, respiratórias e morte, ou podem danificar órgãos, como, o fígado, por exemplo. Éter etílico, acetona, éter isopropílico, trilene, pentrane, fluotane, protóxido, ciclo propano, éter sulfúrico, tolueno, xileno, nhexano etc. Intoxicantes sistêmicos: - Compostos que - Quando utilizados em concentrações elevadas, Hidrocarbonetos alogenados causam lesões nos podem causar intoxicações agudas, com (clorofórmio, tetracloreto de órgãos; possibilidade de morte. carbono, cloreto de vinila etc.). - Composto que causam lesões no sistema formador do sangue; - Acumulam-se nos tecidos graxos, medula Hidrocarbononetos aromáticos óssea e sistema nervoso (benzeno, fenóis, e, em certo grau, o tolueno, xileno e naftaleno). - Compostos que afetam o sistema nervoso; - - Composto tóxicos inorgânicos - cianuretos (cianureto de sódio e potássio, os fluoretos e compostos de arsênico, fósforo e enxofre. - Metais tóxicos. álcool metílico, álcool etílico, dissulfeto de carbono, éteres. - chumbo: produz alterações gerais no ligargírio (PbO), Bióxido de organismo, tais como: saturnismo (arco Chumbo (PbO2), Trióxido de gengival de coloração azulada, aumento do Chumbo (Pb3O4 - zarcão, teor de chumbo no sangue, palidez, lassidão, anticorrosivos etc.), Cloreto de anemia, cólicas saturninas, polineurite Chumbo, Sulfeto de Chumbo saturnina, hipertensão arterial, psicose tóxica, (PbS – galena - o mineral de episodio de mania aguda, delírios, chumbo mais importante), convulsões, coma, náuseas e vômitos. - mercúrio: Por ser líquido, pode ser inalado em grande quantidade, produzindo intoxicação aguda (pneumonia química: e intoxicação crônica (hidragirismo), manifestando: tremores das mãos, dificuldade da fala, alterações psíquicas (irritabilidade, nervosismo, melancolia), dor de cabeça, perturbações intestinais, falta de apetite, queda dos dentes, gengivite, estomatite, tremor dos dedos, das pálpebras, da língua, dos lábios e outros. - cromo: Produz alterações na pele, com ulcerações de difícil cicatrização; ulcerações - cromo hexavalente (cromita – da mucosa (particularmente septo nasal, que FeOCr2O3), e cromo trivalente. pode ser perfurado; e câncer brônquico. Fonte: Adaptação de Ayres; Corrêa, 2001, p. 139-142. Quadro 6. Efeitos fisiológicos dos agentes químicos 59 Os agentes químicos com limite de tolerância – gases e vapores, são normatizados pela NR-15, Anexo 11, da Portaria 3.214/78 (Apêndice A), a qual estabelece os Limites de Tolerância para agentes químicos de absorção por via respiratória, cujas medidas preventivas se concentram em: · medidas de controle no ambiente de trabalho (ventilação local exaustora e ventilação geral diluidora); · medidas de controle no trabalhador – EPI (educação e treinamento). Os agentes químicos de avaliação qualitativa compreendem os agentes químicos de risco, em decorrência da inspeção realizada no local de trabalho, os quais são definidos e normatizados pelo Anexo 13 e Anexo 13-A, da NR-15. Entre os agentes químicos referidos no Quadro 1, do Anexo II, da NR-15, (Apêndice B), destaca-se o benzeno, que devido ao grau de insalubridade, e limite de tolerância igual a 8 ppm, possui normalização especificada no Anexo 13-A, incluído na NR-15, pela Portaria 14, de 20.12.1995, (Apêndice C), a qual estabelece o VRT-MPT, que corresponde à concentração média de benzeno no ar, para zona de respiração dos trabalhadores de 1,0 ppm para empresas descritas no Anexo 13-A e 2,5 ppm para empresas siderúrgicas. As medidas de controle coletivas ou individuais objetivam a redução de riscos a que se sujeitam os trabalhadores: § relativas ao ambiente; substituição do produto tóxico ou nocivo, alteração ou mudança do processo ou operação, enclausuramento ou encerramento da operação, segregação da 60 operação ou processo, ventilação geral diluidora, ventilação local exaustora, limitação do tempo de exposição, educação e treinamento, além de ordem, limpeza e conservação; § relativa ao trabalhador: Levantamento dos agentes contaminantes, seleção e viabilização de Equipamentos de Proteção Individual – EPI, tais como: protetores oculares e faciais, de membros superiores (luvas especificas), para membros inferiores (máscaras e respiradores, aventais e roupas especiais, entre outros). As cancerígenos, poeiras tóxicos, mineiras cutâneos, (fibrogênicos, irritantes, pneumoconiose, alergênicos, silicose, berilose, bissinose/bagaçose e de origem animal, são normatizados pele Anexo 12, da NR-15, da Portaria 3.214/78 – MTB, (Anexo D), que estabelece os Limites de Tolerância para Asbesto, Manganês e seus componentes, além da Sílica Livre Cristalizada. A Instrução 1, de 11.04.1994, da Secretaria de Segurança e Saúde do Ministério do Trabalho, estabelece que, não sendo suficientes as medidas coletivas adotadas no ambiente de trabalho, os empregados deverão adotar a proteção individual que garanta condições adequadas de trabalho. 61 6 CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA NOME DA EMPRESA: Indústria de Embalagens. FORMA JURÍDICA: Sociedade por Cotas de Responsabilidade Limitada. ENDEREÇO: Arapongas - Paraná. RAMO DE ATIVIDADE: Indústria ATIVIDADE PRINCIPAL: Produção de embalagens. TOTAL DE EMPREGADOS: 67. ÁREA DE ATUAÇÃO: Estados do Paraná e mais quatro estados. CAPITAL SOCIAL: Dado não fornecido pela empresa. FATURAMENTO MENSAL: Dado não fornecido pela empresa. 6.1 Histórico da Empresa Fundada em 2002, compreende a mais nova filiada de um grupo que atua há mais de quarenta anos, como um dos dez maiores produtores de papelão ondulado do Brasil, que juntos geram mais de 1000 empregos e produzem mais de 20.000 toneladas/mês de papelão em todo o Brasil. 62 7 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS Com o objetivo de detectar e analisar os possíveis riscos físicos, que acarretam em afastamentos temporários e permanentes, em uma indústria de embalagens da cidade de Arapongas-PR, e contribuir para o melhoramento da segurança e saúde do trabalho, o presente estudo buscou conhecer a opinião do responsável pela segurança no trabalho (Anexo A), e dos funcionários da empresa (Anexo B), quanto à existência de agentes químicos nocivos no ambiente de trabalho. 7.1 Análise da Pesquisa Realizada com o Técnico de Segurança de Trabalho – Representante da Empresa A empresa, no ato representada por seu Técnico de Segurança do trabalho, 2o Grau completo, funcionário da empresa a menos de um ano, informou que os funcionários da empresa manuseiam agentes químicos, tais como: Hidróxido de Sódio, Boro (Oxido e decahidratado), colas a base de solventes orgânicos, mas que os mesmos não mantém contato com os produtos, pois a empresa fornece e exige o uso de equipamentos de proteção, que compreende: protetores auriculares, máscaras para poeira e névoas, protetor facial, luvas contra riscos mecânicos e de látex, creme para proteção, avental contra riscos mecânicos, óculos com tonalidade, calçados de segurança, máscara de solda e mangote de raspa. Contudo, segundo 63 ele, a fiscalização quanto à utilização dos equipamentos por parte dos funcionários não é constante, pois somente às vezes é realizada pela empresa. 7.2 Análise da Pesquisa Realizada com os funcionários da Empresa Visando detectar o nível de risco ambiental existente na empresa objeto de estudo, foram entregues um total de 11 (onze) questionários, destinados à obtenção de respostas de um funcionário de cada setor da indústria, composto por dezoito questões objetivas e subjetivas (Anexo B), cujos resultados são apresentados em forma de tabelas, gráficos e respectivos comentários. 64 7.2.1 Resultados A idade dos funcionários compõe os dados apresentados na Tabela 1, a seguir: Tabela 1. Idade dos funcionários Quantidade de Funcionários Percentual Idade 03 27,27% De 19 a 25 anos 04 36,36% De 26 a 30 anos 01 9,10% De 31 a 40 anos 03 27,27% Acima de 40 anos Fonte: Dados coletados pelos autores. O Gráfico 1, a seguir, mostra a distribuição dos funcionários estudados segundo a faixa etária. 40,00% 35,00% 30,00% De 19 a 25 anos 25,00% 27,27% De 31 a 40 anos Acima de 40 anos 9,10% 10,00% De 26 a 30 anos 36,36% 15,00% 27,27% 20,00% 5,00% 0,00% 1 Fonte: Dados coletados pelos autores. Gráfico 1. Distribuição dos funcionários estudados segundo a faixa etária 65 Os resultados demonstram que os funcionários são jovens adultos, ou seja, a maioria (36,36%) possui idade entre 26 a 30 anos e 18,18% de 19 a 25 anos. Os demais se dividem em 9,10% de 31 a 40 anos e 27,27% acima de 40 anos. Isso indica que a empresa opta por selecionar e recrutar colaboradores com idade de até 30 anos, considerada como a de maior produtividade. 66 A Tabela 2, a seguir, apresenta a escolaridade dos funcionários. Tabela 2. A escolaridade dos funcionários Quantidade de Funcionários Percentual Grau de Instrução 01 9,09% 2o Grau completo 02 18,18% 2o Grau incompleto 07 63,63% 1o Grau completo 01 9,10% 3o Grau completo Fonte: Dados coletados pelos autores. O Gráfico 2, a seguir, apresenta a distribuição dos funcionários estudados segundo a escolaridade. 70,00% 60,00% 50,00% Segundo Grau Completo Segundo Grau Incompleto Primeiro Grau Completo Terceiro Grau Completo 63,63% 40,00% 30,00% 10,00% 9,09% 18,18% 20,00% 9,10% 0,00% 1 Fonte: Dados coletados pelos autores. Gráfico 2. Distribuição dos funcionários estudados segundo a escolaridade 67 Os resultados demonstram que o grau de instrução detectado na maioria da população, Primeiro Grau completo, não condiz com a formação educacional natural para a idade, ou seja, uma população de jovens adultos, com idade ente 19 a 30 anos, normalmente já teria que ter concluído o Segundo Grau do Ensino Fundamental. Isso demonstra que o trabalho executado na empresa exige capacitação escolar mínima. Como tentativa de coletar dados e conhecer a opinião de todos os setores da empresa, os questionários foram entregues propositalmente para um funcionário de cada setor. Assim, as funções dos entrevistados são relacionadas a seguir: · gerente Financeiro; · manutenção – mecânico; · operador de Caldeira · encarregado de Onduladeira; · encarregado de Acessórios; · operador de Impressora Rotativa; · conferente; · modelista (amostra); · montador de Clichê – Pré-montador; · operador de Impressora; · operador de Empilhadeira. As funções listadas, desempenhadas pela população entrevistada, comprovam que as tarefas são puramente técnicas, o que denota a necessidade de 68 conhecimento técnico para sua eficiência, o qual é sabidamente adquirido em Cursos Técnicos Específicos, o que não implica obrigatoriamente na conclusão do Ensino Fundamental, embora este, sem sombra de dúvida, viesse a somar competências e capacidades. 69 O tempo de serviço dos funcionários está demonstrado na Tabela 3, a seguir: Tabela 3. Tempo de serviço dos funcionários na empresa Quantidade de Funcionários Percentual Tempo de serviço 06 54,54% De 1 ano e 1 mês a 5 anos 04 36,36% Menos de 1 ano 01 9,10% De 5 anos e 1 mês a 10 anos Fonte: Dados coletados pelos autores. O Gráfico 3, a seguir, mostra a distribuição dos funcionários estudos segundo o tempo de serviço. 60,00% 50,00% 40,00% De 1 ano e 1 mês a 5 anos Menos de 1 ano 54,54% 30,00% 20,00% 36,36% De 5 anos e um mês a 10 anos 10,00% 9,10% 0,00% 1 Fonte: Dados coletados pelos autores. Gráfico 3. Distribuição dos funcionários estudados segundo o tempo de serviço Os resultados demonstram que a maioria dos funcionários (54,54% da população) possui tempo de serviços inferior a cinco anos. 70 A Tabela 4, a seguir apresenta a presença de agentes químicos no local de trabalho. Tabela 4. Contato com agentes químicos Quantidade de Funcionários Percentual Contato com Agente Químico 08 72,72% Não 03 27,28% Sim Fonte: Dados coletados pelos autores. O Gráfico 4, a seguir, apresenta a distribuição dos funcionários estudados segundo o contato com agentes químicos durante o desenvolvimento de suas atividades. 80,00% 70,00% 60,00% 50,00% 40,00% Não Sim 72,72% 30,00% 20,00% 27,28% 10,00% 0,00% 1 Fonte: Dados coletados pelos autores Gráfico 4. Distribuição dos funcionários estudados segundo o contato com agentes químicos durante o desenvolvimento de suas atividades 71 Os resultados demonstram que a maioria dos funcionários não mantém contato com agentes químicos. Contudo, uma parcela considerável dos mesmos (27,28%) afirma que para desenvolver suas atividades precisam manusear aquentes químicos. Segundo os funcionários, os agentes químicos manuseados são: · “graxas, óleos minerais, tinner, querosene.” (Colaborador 7); · “cola à base de solventes orgânicos (cola de sapateiro).” Colaborador 5); · “hidróxido de Sódio e Boro (decahidratado de óxido).” (Colaborador 6). Contudo, todos os funcionários afirmaram que nunca houve nenhum acidente durante a manipulação dos agentes químicos no ambiente de trabalho; e que a empresa fornece os equipamentos necessários para a segurança do trabalhador, tais como: · “protetores auriculares, máscaras, luvas de látex, creme de proteção e calçados de segurança.” (Colaborador 6); · “luvas de látex, protetor auricular, máscara para vapores orgânicos.” (Colaborador 5); · “máscara de solda, avental de raspa, luvas de látex, protetor auricular, creme de proteção, mangote de raspa e calçado de segurança.” Colaborador 7); · “protetor auricular.” (Colaboradores 11, 2, 3, 9, 8, 1); 72 · “protetor auricular, protetor facial, avental de raspa, luva de raspa e óculos de proteção.” (Colaborador 4); · “protetor auricular, luvas de látex e avental de raspa.” (Colaborador 10). 73 A Tabela 5, a seguir, mostra a assiduidade com que os equipamentos de proteção são usados pelos funcionários. Tabela 5. Assiduidade do uso dos equipamentos de proteção Quantidade de Funcionários Percentual Assiduidade de Uso 08 72,72% Sempre 03 27,28% Às vezes Fonte: Dados coletados pelos autores. O Gráfico 5, a seguir, apresenta a distribuição dos funcionários estudados segundo a assiduidade do uso dos equipamentos de proteção. 80,00% 70,00% 60,00% 50,00% 40,00% Sempre 72,72% Às vezes 30,00% 20,00% 27,28% 10,00% 0,00% 1 Fonte: Dados coletados pelos autores Gráfico 5. Distribuição dos funcionários estudados segundo a assiduidade do uso dos equipamentos de proteção 74 Cabe salientar que: A educação e o treinamento são os pontos mais importantes na proteção do trabalhador. É necessário informar sobre a toxidez, inflamabilidade, reatividade com outros produtos, vias de penetração, limites de tolerância e medidas preventivas a serem tomadas. A seleção do EPI deve considerar os efeitos do produto químico, sua concentração e vias de penetração. (AYRES; CORRÊA, 2002, p. 144), No entanto, além da educação e do treinamento, existe necessidade de preocupação constante por parte da administração com a fiscalização do uso, pois é comum o funcionário se recusar a usar os equipamentos de proteção pessoal, mesmo quando tem total conhecimento dos riscos que corre, alegando motivos, como: · “a máscara incomoda, pois quando o tempo está muito quente a respiração fica dificultada.” (Colaborador 6). 75 8 CONCLUSÃO O trabalho desenvolvido junto à Indústria de Embalagens permitiu a análise do ambiente de trabalho por ela proporcionado, quanto aos riscos ambientais proporcionados por agentes químicos nocivos à saúde e à integridade física de seus funcionários, cujas condições, segundo Ponzetto (2002), obedecem as determinações da NR-15, do Ministério do Trabalho e Emprego, e deve ser avaliadas in loco (sempre que existirem pessoas trabalhando, mesmo quando o tempo de permanência se limitar a minutos). Assim, com base nesse pensamento, o presente estudo investigou e concluiu que, de maneira geral, a empresa, conduz e gerencia a questão de riscos ambientais de maneira satisfatória. E, embora se tenha constatado a existência de riscos químicos, tais como graxas, óleos naturais, tinner, querosene, cola à base de solventes orgânicos, hidróxido de sódio e boro (dexahidratado de óxido), os mesmos não oferecem riscos à saúde dos funcionários. A pesquisa também demonstrou que nunca houve nenhum acidente ou incidente com os funcionários, relacionados ao uso dos produtos químicos. Segundo empresa e funcionários, a questão é bem administrada, pois são fornecidos os Equipamentos de Proteção Individual, tais como luvas de látex, máscaras para vapores orgânicos, avental de raspa, creme de proteção, calçado de segurança, além de mangotes e luvas de raspa. 76 Contudo, observou-se a resistência, por parte de alguns funcionários, em utilizar corretamente e constantemente os equipamentos fornecidos para sua segurança, motivo pelo qual sugere-se que a empresa intensifique o programa de informações, educação e conscientização sobre a importância do EPI (Equipamento de Proteção Individual) permanentemente, através de palestras, cursos e/ou similares. Dessa forma, cabe reconhecer que o estudo revelou consenso geral entre empresa e colaboradores, de que o ambiente de trabalho está assistido a contento quanto à prevenção de acidentes de trabalho, provenientes do manuseio de agentes químicos prejudiciais à integridade física e á saúde humana. Finalizando, espera-se que a realização deste trabalho contribuía para proporcionar ou implementar o bem-estar de pessoas que desenvolvem atividades e provêm seus sustentos em empresas cujos riscos ambientais são uma realidade constante, motivo pelo qual sugere-se que estudos futuros foquem a conscientizam de empresários e colaboradores para a prevenção, forma mais adequada de evitar acidentes e/ou doenças ocupacionais causadas pelo manuseio de agentes químicos. 77 REFERÊNCIAS ABRÃO, Dianessa; MEURER, Pricila. Revolução Industrial. GOELZER, Valsênio; DATRI, Maidi Terezinha (Coord.). Disponível em: mailto:[email protected]. Acesso em 14.04.2005. ALVES, Giovanni. O Futuro do Trabalho 3. Disponível em: http://www.revistaautor.com.br/artigos/2005/45gal.htm. Acesso em 20.03.2005. ANSOLINE, José Armando. Disponível em: As Relações Entre Trabalho e Saúde Mental. www.nutline.enut.ufop.br/artigos/artigo12/artigo12.html - 35k. Acessado em 15.03.2005. AYRES, Dennis de Oliveira; CORRÊA, José Aldo Peixoto. Manual de Prevenção de Acidentes do Trabalho: Aspectos Técnicos e Legais. São Paulo: Atlas, 2001. BARBOSA FILHO, Antonio Nunes. Segurança do Trabalho & Gestão Ambiental. São Paulo: Atlas, 2001. ____. Insalubridade e Periculosidade: Manual de Iniciação Pericial. São Paulo: Atlas, 2004. BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992. 78 BRANDÃO JUNIOR, Paulo Starling. Biossegurança e AIDS: As Dimensões Psicossociais do Acidente com Material Biológico no Trabalho em Hospital. (Mestrado) Fundação Oswaldo Crus, Escola Nacional de Saúde Pública, 2000. DELTA & AMBIENTEC, Centro de Referencia e Medicina do Trabalho. Manual para CIPA: Segurança e Saúde no Trabalho. Curitiba: Bolsa Nacional do Livro, 1998. GALVÊAS, Elias Celso. A Revolução Industrial e Suas Conseqüências: Da Corporação de Artesões e Manufaturas Locais à Produção em Escala Internacional. Disponível em: http://www.maxpages.com/elias/A_Revolucao_Industrial. Acesso em 20.03.2005. GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1991. MAIA, Nicodemos Fabrício. APONTAMENTOS SOBRE MEIO AMBIENTE DO TRABALHO. Revista Doutrina, 2005. Disponível em: http://www.prt21.gov.br/dout01.htm. Acesso em 05.08.2005. MAIA, Verena dos Santos. A História do Trabalho no Brasil. Disponível em: http://jornalcrpd.vilabol.uol.com.br/edicao9/trabalho.htm. Acesso em 10.04.2005. OLIVEIRA, Regina Márcia Rangel de. A Abordagem das Lesões por Esforços Repetitivos/Distúrbios Osteomoleculares Relacionados ao Trabalho – LER/DORT. Centro de Referencia em Saúde do Trabalhador do Espírito Santos – 79 CRST/ES. (Mestrado) Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Publica, 2001. PONZETTO, Gilberto. Mapa de Riscos Ambientais: Manual Prático. São Paulo: LTr, 2002. SAMARA, Beatriz Santos; BARROS, José Carlos de. Pesquisa de Marketing Conceitos e Metodologias. 3. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2002. SANTOS, Neri dos. Ambientes de Trabalho. (Monografia) Universidade Federal de Santa Catarina, 2005. Disponível em: http://www.eps.ufsc.br/ergon/disciplinas/EP S5225/Transparencias/Aula_6/Aula_6.doc. Acessado em 07.05.2005. SELLI, Vanda Eliza Andrés; KURCGANT, Paulina. A Saúde do Trabalhador de Enfermagem no Hospital Universitário da USP. Revista Paulista de Enfermagem, v. 19, n. 3, p. 44, set./dez/, 2000. SOTO, José Manuel Osvaldo Gana; SAAD, Irene Ferreira de Souza Duarte; FANTAZZINI, Mário Luiz. Riscos Químicos. São Paulo: FUNDACENTRO, 1994. 80 APÊNDICES 81 APÊNDICE A - ANEXO N. 11 da NR-15 AGENTES QUÍMICOS CUJA INSALUBRIDADE É CARACTERIZADA POR LIMITE DE TOLERÂNCIA E INSPEÇÃO NO LOCAL DE TRABALHO (115.015-4 / I4) 1. Nas atividades ou operações nas quais os trabalhadores ficam expostos a agentes químicos, a caracterização de insalubridade ocorrerá quando forem ultrapassados os limites de tolerância constantes do Quadro no . 1 deste Anexo. 2. Todos os valores fixados no Quadro no. 1 - Tabela de Limites de Tolerância são válidos para absorção apenas por via respiratória. 3. Todos os valores fixados no Quadro no. 1 como "Asfixiantes Simples" determinam que nos ambientes de trabalho, em presença destas substâncias, a concentração mínima de oxigênio deverá ser 18 (dezoito) por cento em volume. As situações nas quais a concentração de oxigênio estiver abaixo deste valor serão consideradas de risco grave e iminente. 4. Na coluna "VALOR TETO" estão assinalados os agentes químicos cujos limites de tolerância não podem ser ultrapassados em momento algum da jornada de trabalho. 5. Na coluna "ABSORÇÃO TAMBÉM PELA PELE" estão assinalados os agentes químicos que podem ser absorvidos, por via cutânea e, portanto, exigindo na sua manipulação o uso da luvas adequadas, além do EPI necessário à proteção de outras partes do corpo . 6. A avaliação das concentrações dos agentes químicos através de métodos de amostragem instantânea, de leitura direta ou não, deverá ser feita pelo menos em 10 (dez) amostragens, para cada ponto - ao nível respiratório do trabalhador. Entre cada uma das amostragens deverá haver um intervalo de, no mínimo, 20 (vinte) minutos. 7. Cada uma das concentrações obtidas nas referidas amostragens não deverá ultrapassar os valores obtidos na equação que segue, sob pena de ser considerada situação de risco grave e iminente. Valor máximo = L.T. x F. D. Onde: L.T. = limite de tolerância para o agente químico, segundo o Quadro no. 1. F.D. = fator de desvio, segundo definido no Quadro no. 2. 82 QUADRO Nº 2 LT. (PP, OU MG/M3 0 a 1 1 a 10 10 a 100 100 a 1000 Acima de 1000 F.D 3 2 1,5 1,15 1,1 8. O limite de tolerância será considerado excedido quando a média aritmética das concentrações ultrapassar os valores fixados no Quadro no. 1. 9. Para os agentes químicos que tenham "VALOR TETO" assinalado no Quadro no. 1 (Tabela de Limites de Tolerância) considerar-se-á excedido o limite de tolerância, quando qualquer uma das concentrações obtidas nas amostragens ultrapassar os valores fixados no mesmo quadro. 10. Os limites de tolerância fixados no Quadro no . 1 são válidos para jornadas de trabalho de até 48 (quarenta e oito) horas por semana, inclusive. 10.1 Para jornadas de trabalho que excedam as 48 (quarenta e oito) horas semanais dever-se-á cumprir o disposto no art. 60 da CLT. 83 APÊNDICE B – QUADRO 1, do ANEXO 11, da NR-15 TABELA DE LIMITES DE TOLERÂNCIA * ppm - partes de vapor ou gás por milhão de partes de ar contaminado. ** mg/m3 - miligramas por metro cúbico de ar. * ppm - partes de vapor ou gás por milhão de partes de ar contaminado. ** mg/m3 - miligramas por metro cúbico de ar. 84 85 86 87 88 89 APÊNDICE C ANEXOS 12, 13 e 13/A, da NR-15. 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101 102 103 104 105 Produção de trióxido de amônio - ustulação de sulfeto de níquel. Insalubridade de grau médio Aplicação a pistola de tintas de alumínio. Fabricação de pós de alumínio (trituração e moagem). Fabricação de emetina e pulverização de ipeca. Fabricação e manipulação de ácido oxálico, nítrico e sulfúrico, bromídrico, fosfórico, pícrico. Metalização a pistola. Operações com bagaço de cana nas fases de grande exposição à poeira. Operações com o timbó. Operações de galvanoplastia: douração, prateação, niquelagem, cromagem, zincagem, cobreagem, anodização de alumínio. Telegrafia e radiotelegrafia, manipulação em aparelhos do tipo Morse e recepção de sinais em fones. Trabalhos com escórias de Thomas: remoção, trituração, moagem e acondicionamento. Trabalho de retirada, raspagem a seco e queima de pinturas. Trabalhos na extração de sal (salinas). Fabricação e manuseio de álcalis cáusticos. Trabalho em convés de navios. Insalubridade de grau mínimo Fabricação e transporte de cal e cimento nas fases de grande exposição à poeira. Trabalhos de carregamento, descarregamento ou remoção de enxofre ou sulfitos em geral, em sacos ou granel. 106 ANEXOS 107 ANEXO A - QUESTIONÁRIO – EMPRESA Este questionário tem a finalidade de angariar dados que possam dar embasamento ao trabalho de conclusão, apresentado ao Curso de Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho UEPG – Universidade Estadual de Ponta Grossa-PR, que é exigido como requisito para aprovação. Sua colaboração é de suma importância para a realização do mesmo e, portanto, desde já antecipo agradecimento. 1. Idade: ( ) até 18 anos ( ) de 31 a 40 anos ( ) de 19 a 25 anos ( ) de 26 a 30 anos ( ) acima de 40 anos. 2) Escolaridade: ( ) 1o Grau completo ( ) 2o Grau incompleto ( ) 2o Grau completo ( ) 3o Grau incompleto ( ) 3o Grau completo ( ) pós-graduação 3) Sua função: ___________________________. 108 4) Tempo de trabalho: ( ) menos de 1 ano ( ) de 1 ano e 1 mês a 5 anos ( ) de 5 anos e 1 mês a 10 anos ( ) acima de 10 anos. 5) Os funcionários da empresa têm contato com algum agente químico no seu local de trabalho? ( ) sim ( ) não 6) Se sim, quais? __________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ __________________________________________________________________. 7) Há ou já houve algum acidente com funcionários durante a manipulação de agentes químicos? ( ) sim ( ) não 8) Se sim, quais? __________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ __________________________________________________________________. 109 9) A empresa fornece e exige o uso de equipamentos de proteção? ( ) sim ( ) não 10) Se sim, quais? __________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ __________________________________________________________________. 11) A utilização é fiscalizada pela empresa: ( ) sempre ( ) às vezes ( ) nunca 12) Se não, qual o motivo? __________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ __________________________________________________________________. 110 ANEXO B - QUESTIONÁRIO – FUNCIONÁRIOS Este questionário tem a finalidade de angariar dados que possam dar embasamento ao trabalho de conclusão, apresentado ao Curso de Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho UEPG – Universidade Estadual de Ponta Grossa-PR, que é exigido como requisito para aprovação. Sua colaboração é de suma importância para a realização do mesmo e, portanto, desde já antecipo agradecimento. 1. Idade: ( ) até 18 anos ( ) de 31 a 40 anos ( ) de 19 a 25 anos ( ) de 26 a 30 anos ( ) acima de 40 anos. 2) Escolaridade: ( ) 1o Grau completo ( ) 2o Grau incompleto ( ) 2o Grau completo ( ) 3o Grau incompleto ( ) 3o Grau completo ( ) Pós-graduação 3) Sua função: ___________________________. 111 4) Tempo de trabalho: ( ) menos de 1 ano ( ) de 1 ano e 1 mês a 5 anos ( ) de 5 anos e 1 mês a 10 anos ( ) acima de 10 anos. 5) Você tem contato com algum agente químico no seu local de trabalho? ( ) sim ( ) não 6) Se sim, quais? __________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ __________________________________________________________________. 7) No seu ambiente de trabalho há ou já houve algum acidente na manipulação de agentes químicos? ( ) sim ( ) não 8) Se sim, quais? __________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ __________________________________________________________________. 9) A empresa fornece equipamentos de proteção? ( ) sim ( ) não 112 10) Se sim, quais? __________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ __________________________________________________________________. 11) Os equipamentos são utilizados por você: ( ) sempre ( ) às vezes ( ) nunca 12) Se não, qual o motivo? __________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ __________________________________________________________________.