XXV DOMINGO do Tempo Comum – Ano B
Evangelho: Mc 9,30-37
“Se alguém quer ser o primeiro,
que seja o último de todos e aquele que
serve a todos!”
Ir. Sandra M Pascoalato, sjbp.
No evangelho de Marcos, entre os relatos da cura dos dois cegos (Mc
8,22-26 e Mc 10,46-52) encontra-se o longo ensinamento de Jesus aos seus
discípulos sobre o significado da cruz e as suas consequências para a vida
(8,27 a 10,45). Parece um documento, uma espécie de catequese que Jesus
mesmo faz ao grupo que o acompanha. Agora, um grupo bem mais reduzido.
Toda esta seção é enquadrada pelo termo ‘caminho’ que, no conjunto,
figura sete vezes (8,27; 9,33.34; 10,17.32.46.52). Inicia com uma pergunta
que Jesus põe aos seus discípulos ‘ao longo do caminho’ e termina com o cego
Bartimeu que, curado por Jesus, decide segui-lo ‘pelo caminho’. O ‘caminho’ de
Jesus vai da Galileia a Jerusalém, do lago até o Calvário.
O ritmo da narração é dado pelos três anúncios da Paixão (8,31-33;
9,30-32; 10,32-34), intercalados por uma série de instruções para ajudar a
compreender que Jesus é o Messias-Servo e para esclarecer que para os que
assim o aceitam, a consequência será o desafio de buscar uma conversão
radical no modo de pensar, de ver, de relacionar-se, de pôr-se diante do outro
e diante do mundo.
Três passagens compõem a perícope evangélica deste Domingo:
a) o segundo anúncio da paixão, morte e ressurreição de Jesus (vv.3031);
b) a reação dos discípulos (v.32);
c) a primeira parte (vv.33-37) do ensinamento que Jesus lhes dirige
(vv.33-50).
Jesus repete o anúncio da Páscoa já formulado precedentemente (cf. Mc
8,31) e, mais adiante, o repetirá ainda uma vez (cf. Mc 10,33-34).
Normalmente, repete-se aquilo que é importante, mas também aquilo que é
difícil de compreender. De fato, as reações dos discípulos aos três anúncios
que Jesus faz da sua Páscoa, expressam o quanto era e é difícil entrar na
lógica de Jesus. É muito, muito difícil ouvir e compreender que “o Filho do
Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e que eles o matarão”;
compreender que o Filho do Homem que confiou a sua vida totalmente nas
mãos de Deus, irá acabar nas mãos dos homens, como o ‘Servo do Senhor
entregue em resgate pelos nossos pecados’ (cf. Is 53,10-11), como João
Batista entregue a Herodes (cf. Mc 1,14). ‘Ser entregue’ é o verbo que define a
trajetória de Jesus da Galileia a Jerusalém. Ele será entregue por Judas aos
sumos sacerdotes (cf. Mc 14,10), estes o entregarão a Pilatos (cf. Mc 15,10),
que, por sua vez, o entregará aos solados (cf. Mc 15,15). É a sorte do escravo
tratado como um objeto que está totalmente à mercê daqueles que fazem dele
o que querem...
Um silêncio de medo acolhe esta revelação de Jesus. Os discípulos não
compreendem a sua palavra e temem pedir-lhe explicações.
Não poucas vezes é preferível a escuridão à luz, é preferível a
inconsciência à dolorosa busca da verdade... É preferível; e mais fácil.
Todavia, Jesus continua cuidando dos seus. ‘Chegados a Cafarnaum, em
casa, perguntou-lhes sobre o que discutiam pelo caminho’. Silêncio, de novo;
agora, provavelmente, de vergonha.
Não está fora de lugar, talvez, deduzir que a não compreensão do
anúncio de Jesus, o fechamento à sua palavra, a resistência a entrar em
sintonia com Ele no seu caminho se revelam terreno fértil para a mentalidade
mundana da competição, da rivalidade, do protagonismo. Difícil desligar uma
coisa da outra.
Num quadro onde as tintas menos brilhantes se destacam, é belíssima a
cena que segue. Uma vez mais Jesus toma a iniciativa e, com infinita
paciência, chama os Doze para perto dele, dirigindo-lhes palavras lapidárias,
que invertem completamente o modo corrente de pensar: “Se alguém quer ser
o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!”.
Faz-se servo de todos quem aprende a acolher e abraçar os pequenos,
os desprezados, os necessitados. Neles acolherá, abraçará o próprio Cristo e
será abençoado pelo Pai (cf. Mt 25,34-40).
Texto consultado: MANICARDI, L. Eucaristia e Parola. Vita e Pensiero, Milano,
2010.
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