Desastre aéreo estimula debate sobre depressão e trabalho
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27/04/2015 - 05:00
Desastre aéreo estimula debate sobre depressão e
trabalho
Por Tim Smedley
Há um mês, Andreas Lubitz, um copiloto que já tinha sido diagnosticado com depressão grave, deliberadamente lançou o
voo 9525 da Germanwings, uma empresa da Lufthansa, contra os Alpes franceses, matando a si próprio e outras 149
pessoas.
O terrível acidente coloca em discussão se uma pessoa com depressão pode assumir posições de grande responsabilidade.
De forma precipitada, o jornal "Daily Mail" perguntou "Por que diabos ele tinha permissão para voar?". O "The Sun"
preferiu "Piloto assassino sofria de depressão: por que ele estava voando?".
Será que o choque provocado pela tragédia, além do caro processo que a Lufthansa parece estar esperando, levarão os
empregadores a evitar pessoas com históricos conhecidos de problemas mentais, especialmente no recrutamento para
funções importantes? Como os empregados com tendências suicidas ou homicidas serão ajudados antes de provocarem
algum mal a si mesmos ou a outras pessoas?
Presumir que uma pessoa depressiva, ou mesmo suicida, é também um homicida é algo sem fundamento, diz Sue Baker,
diretora da "Time to Change", uma campanha que luta pela melhoria da saúde mental no ambiente de trabalho, da
instituição de caridade Mind. "Deduzir que alguém não oferece segurança por ter depressão não ajuda em nada."
Desde 2011, 325 empregadores do Reino Unido se comprometeram a enfrentar o estigma e a discriminação envolvendo a
saúde mental. "Existem companhias que fazem muitas coisas construtivas e positivas visando a saúde mental e o
bem-estar de seus funcionários. Nossa preocupação é que haja um retrocesso no progresso já obtido", diz.
Mandy Rutter, psicóloga clínica-chefe da consultoria Validium, especializada em saúde ocupacional, tem companhias áreas
entre seus clientes. Ela diz que aumentou, após o acidente da Germanwings, o número de organizações que a procuram
para se informar sobre políticas mais apropriadas envolvendo saúde mental. "Empregar alguém com depressão está sendo
visto como uma coisa terrível", afirma. Para ela, o problema maior é que agora as pessoas com problemas mentais vão
escondê-los de seus patrões, temendo uma caça às bruxas.
Uma pesquisa feita pela seguradora Axa PPP, realizada em fevereiro, constatou que 61% dos trabalhadores não diriam aos
seus patrões que têm problemas de estresse, ansiedade ou depressão - e 25% dos pesquisados dizem ter medo de serem
julgados por isso. A resposta dos gestores pareceu ter confirmado esse temor: 20% disseram que ficariam preocupados
com a capacidade de um funcionário de fazer seu trabalho se algum problema de saúde mental fosse revelado.
Mark Winwood, diretor de psicologia clínica da Axa PPP e psicólogo, diz que pacientes executivos jamais falariam sobre
seus problemas de saúde mental no local de trabalho. "Eles temem ser vistos como incapazes de lidar com as pressões de
seus setores."
No entanto, os perigos de não se falar sobre isso são ainda maiores. Promotores afirmam que Lubitz ocultou a reaparição
de sua doença da Lufthansa, rasgando um atestado médico. Sue Baker lembra dos suicídios ocorridos no setor financeiro
após a crise econômica, envolvendo pessoas que tiraram suas vidas no local de trabalho.
A melhor resposta é usar a crise para ter uma conversa positiva e construtiva. Em sua opinião, acontecimentos extremos
geralmente abrem as portas para medidas de prevenção para o quadro de funcionários, e não o contrário. "Sempre haverá
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muitos pilotos que tiveram depressão, que passaram por tratamento e com os quais é absolutamente seguro voar. Já
tivemos parlamentares que falaram sobre seus problemas de depressão, além de condutores de trens, cirurgiões, entre
outros. Muitas pessoas realizam tarefas que envolvem vidas, e fazem isso de forma bem-sucedida", afirma.
Especialistas temem uma reposta mal informada à tragédia da Germanwings, mas também acreditam que o acidente
poderá estimular o debate sobre o tema no alto escalão das empresas e na política. Com uma em cada quatro pessoas
sofrendo de depressão em algum momento de suas vidas, não é possível - ou legal - empregar apenas aquelas que estão no
auge da saúde mental.
A única maneira de os empregadores diminuírem os riscos é ter uma cultura aberta e honesta, em que os funcionários
podem buscar apoio antes, durante e depois dos episódios de doença mental. "Eles precisam ter uma voz mais ativa", diz
Mandy Rutter.
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