CAMINHO
D e p o i s íjue o s l e v a r a m ,
a s casas f i c a r a m sem nungueim,
e o baruLiho d a s pontas b a t e n d o nos u m b r a i s
e o e s c a q u e i r a r d o s v j d r o s d a s J ameias comipleUumeintie a b e r t a s
coiníundu-am-se c o m o s i n i s t r o u i v a r do vetnto
e o c h o r o convulsivo d a s crianças sozinhas.
D e p o i s q u e os l e v a r a m ,
o s o l h o s s a l t a r a m d a s ó r b i t a s c a n s a d o s de c h o r a r ,
as s e a r a s m o r r e r a m q u e i m a d a s p o r q u e n i n g u é m a s c e i f o u ,
as m á q u i n a s p a r a r a m ,
e o f e r r o das c h a r r u a s cobrúu-se de f e r r u g e m .
A s c i d a d e s fJcaram desertas.
D e p o i s q u e os l e v a r a m ,
a m i s é r i a passou e m t o d a s a s a!mas
e v i n c o u nos rostos u m a p r o f u n d a ruga de t r i s t e z a .
As mulheres prostJtuiram-se
porque eles v i e r a m e n ã o t i v e r a m q u e m os i m p e d i s s e
ae m u d a r a s o f i c i n a s e m c a s a s de d e b o c h e .
D e p o i s que os l e v a r a m ,
iudo mudou.
S e m luz, p e r d e m o - n o s n o m e i o do d e s e r t o .
E s t e n d e m o s os braças m a g r o s e n ã o a c h á m o s n a d a .
Olhámos e não vimos.
G r i t á m o s e n e m o u v i m o s s e q u e r o nosso é o o .
D e p o i s que os l e v a r a m , tudo e s t a v a p e r d i d o .
M a s uima e s t r e l a b r i l h o u n o I n s o n d á v e l d a n o i t e .
U m g r i t o suibiime c h i c o t e o u o s i l ê n c i o .
U m s o p r o de e s p e r a n ç a c i m e n t o u o s o l o .
U m e l o i n d e s t r u t í v e l j u n t o u as nossas d o r e s .
E o griito f e z - n o s e s t r e m e c e r a t é à m e d u l a dos ossos
e a e s t r e i a e n c h a r c o u d e c l a r i d a d e um n o v í s s i m o c a m i n h o .
O s oMhos v o l t a r a m às á r b i t r a s ,
as s e a r a s r e n a s c e r a m ,
as m á q u i n a s t o r n a r a m a g i r a r ,
e o f e r r o das c h a r r u a s sacudiu a f e r r u g e m .
V
E
R
S
O
S
M Á R I O
G R A V .
d
D I O N Í S I O
d e
A Z E V E D O
MODERNA
Muitos
agora, apresentados
serão,
a o público;
é d e q u a r e n t a o n ú m e r o dos que
aí e x i b i r ã o seus t r a b a l h o s d e a r tes
plásticas.
exibidores,
dum
O
conjunto
animado,
por
desejo legítimo
de
dos
certo,
triunfo
a r t í s t i c o n ã o d e i x a r á de m o s t r a r
ao
público
o melhor
obras, p a r a que na
das
suas
g e r a ç ã o que
ali v ã o r e p r e s e n t a r — G e r a ç ã o
de
1930—se
de
aviste
um
sentado
beleza e vibração criadora.
é o nosso desejo—que
mos
Este
gostaría-
fosse seu i n c e n t i v o .
E este n ã o t e m n a d a de i g u a l aos q u e n o s t i n h a m
E s t e é o nosso, o noivo,
o único caminho por onde podaremos avançar,
0 único
p o r o n d e v o l t a r ã o a q u e l e s que nos l e v a r a m .
Codas senUac
realidades.
j o v e n s autistas
A g o r a já n ã o andamos c o m o doidas a gritar no m e i o das trevas,
e a s nossas b o t a s n ã o f i c a m e n t e r r a d a s n a a r e i a d o d e s e r t o .
Agora temos um caminho.
mostrado.
dum únaç}iHácUy camponês a um
v ê e m a sua i n i c i a t i v a e n t r a r n o
c a m p o das
e
vecdadeua da cidade-
( C o n t i n u a ç ã o )
A h ! , m e u super-civilizado i r m ã o , que v e n t u r a imensa cair
inêsíte m u n d o s o b r e u m c o l c h ã o de peruais! Q u e v e n t a » . a !
O u v e : a q u i n a s e r r a , lá e m b a i x o n o v a i e , e m t o d o s os
h i g a r e j o s a o n d e u m s e r moiíreja, a e x i s t ê n c i a t o m a a s p e c t o s t ã o
violentos que confrange.
I m a g i n a s a c a s o o que s e r á u m a vldla i n t e i r a a revoCver
t e r r a , h o j e , a m a n h ã , s e m p r e , s e m p r e , d e sol a sol? S u p o r á s t ã o
p o u c o o rio e n o r m e que f o r m a r i a o suar de c e m g e r a ç õ e s da
h o m e n s a í v e r t i d o ? Que obscura, e s p a n t o s a e p o p e i a a d o s nassas
iiruiãos, m e u i r m ã o d i t o s o ! E tu descanihece-la! D e l i x a - m e c o n t a r - t e , d i z e r - t e u m p o u c o , s ó u m n a d a , dela.
N ã o m e d i g a s q u e e m a g a s t o v e n s ao c a m p o . V e n s , t e n s
v i n d o . M a s n ã o t e n s v i s t o n a d a . M e t e s - t e n a q u i n t a fresca de
isotmbras e s u s s u r r a n t e d e águias; paio dia f o r a b o c e j a s , d o r m e s
a t u a s e s t a ; à b o q u i n h a da n o i t e , sob a s a l t a s t í l i a s , d a s o teu
g i r o a p a s s o s m i u d i n h o s — e d e p o i s , q u a n d o o sol c o m e ç a a n ã o
ser m a i s f e r r o e m b r a s a a q u e i m a r as c a r n e s , l a r g a s n u m a pressa
tontia, quási f o g e s . N ã o , tu n ã o c o n h e c e s isto, n ã o c o n h e c e s . . .
V e r á s c o m o é b e m difenemte d o q u e j u l g a s . V e r á s . . .
Olha, o dia m o r r e l e n t a m e n t e num grande
deslumbram e n t o de o i r o . C a s a l s e m o n t e s p a r e c e m e s t a r e m festa. E c o m o
as á r v o r e s r e n a s c e m — e r a m t ã o t r i s t e s na sua n u d e z aiCenciosa!
Se- visses!—dJr-se-<ila que a N a t u r e z a i n t e i r a v i b r a , que t o d a e l a
f r e m e d u m g o z o I n e b r i a d o e lonigo.
O dia m o r r e . . . M a s , sabes?, p o r v á r z e a s e e n c o s t a s os nossos
p o b r e s i r m ã o s c a v a d o r e s c o r i t i n u a m na sua f a i n a de m a r t í r i o ,
m a i s h u m i l d e s e a p a g a d o s que s o m b r a s .
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