Pergunte a um Expert
Ary dos Santos Pinto, responde:
Que recursos mecânicos o Sr utilizaria na correção da
sobremordida profunda onde a intrusão dos incisivos (superiores
e/ou inferiores)é necessária?
Rosely Suguino
A sobremordida profunda é encontrada frequentemente na clínica Ortodôntica representando um
desafio em termos de diagnóstico e tratamento. A
correção da sobremordida pode ser obtida pela intrusão
dos dentes anteriores ou pela extrusão de dentes posteriores. A escolha por uma destas formas de correção
está vinculada aos objetivos de tratamento. A intrusão
de incisivos superiores pode ser o tratamento de eleição
em indivíduos que apresentem sorriso gengival, falta de
selamento labial, lábio superior curto, uma altura facial
inferior aumentada e plano oclusal excessivamente inclinado. A intrusão de incisivos inferiores está indicada
na maioria dos indivíduos que tenham boa harmonia
facial, plano oclusal normal ou pouco inclinado e
presença de curva de spee acentuada no arco inferior.
A extrusão de dentes posteriores, por sua vez, pode ser
o tratamento de eleição em pacientes com potencial
de crescimento, onde está indicado um aumento da
altura facial inferior, abertura do plano mandibular,
aumento da convexidade facial e onde se deseja uma
melhora na projeção labial1,5 (Quadro 1, 2).
Uma das formas de correção da sobremordida
profunda é a intrusão dos dentes anteriores e dentre os recursos mecânicos disponíveis para este fim
destaca-se o arco base de intrusão e a mecânica de
3 peças com braço de alavanca duplo (cantilever)
conforme preconizados na técnica do Arco Segmentado de Burstone3 (Fig. 1, 2).
Diagnóstico e Indicação de Tratamento
Sobremordida
profunda
Bom padrão facial
Deficiência vertical
Dentária
Esquelética
Sobre-erupção
dente anteriores
Sub-erupção
dentes posteriores
Criança
(c/ crescimento)
Intrusão
incisivos
Extrusão
molares
Ortopedia
funcional
Moderada
Severa
Estimular
desenvolvimento
dento-alveolar
Camuflagem
dento-alveolar
Cirurgia
Ortognática
Superiores e/ou
inferiores
Adulto
(s/ crescimento)
QUADRO 1 - Quadro sumário das indicações de tratamento da mordida profunda baseado no
diagnóstico.
R Clín Ortodon Dental Press, Maringá, v. 3, n. 4, p. 13-15 - ago./set. 2004 • 1
Terapêutica
Intrusão
Extrusão de dentes
posteriores
Relativa
Absoluta
Diferencial de
crescimento
Movimento
dentário
Inibição do
deslocamento dos
dentes anteriores
Ortopedia
funcional Placas
de mordida
Extrusão de
pré-molares
Nivelamento da
curva de spee
Aparelho
fixo e arcos
contínuos
Dentes anteriores superiores
e/ou inferiores
Arco utilidade
de Ricketts
Dentes
anteriores
superiores
Arco segmentado
Arco base de
intrusão
Extração bucal
TS
Cantilever
duplo
QUADRO 2 - Quadro sumário da terapêutica de casos com mordida profunda.
FIGURA 1 - Arco base de intrusão.
FIGURA 2 - Braço de alavanca duplo.
ARCO BASE DE INTRUSÃO
A intrusão de incisivos superiores e inferiores
com o arco base de intrusão obedece a princípios
biomecânicos e ao conceito de dois dentes empre-
gado na técnica do arco segmentado. Segundo este
conceito, os dentes são agrupados e consolidados
por meio de arcos rígidos de forma a representarem
dois grandes dentes, um anterior (unidade ativa
R Clín Ortodon Dental Press, Maringá, v. 3, n. 4, p. 13-15 - ago./set. 2004 • 2
ou de movimentação) e outro posterior (unidade
reativa ou de ancoragem). Desta forma, é possível a
determinação do centro de resistência destes dentes
e de forma clara, rápida e simples, é possível calcular
a ação e reação da força aplicada e as tendências
rotacionais geradas nestes blocos de dentes (momentos e centros de rotação) baseado na geometria
do sistema.
O bloco de dentes posteriores é formado, na
maioria das vezes, pelo primeiro molar e segundo
pré-molar, e quando presentes, o segundo molar
e primeiro pré-molar, unidos entre si por arco retangular 0.019 x 0.025 de aço ou TMA. Os lados
direito e esquerdo são unidos entre si por meio de
barra palatina (arco superior) ou arco lingual (arco
inferior). Este bloco constitui-se na unidade de
ancoragem ou reativa. O bloco de dentes anterior
é formado pelos incisivos centrais e laterais unidos
entre si por um arco retangular 0.019 x 0.025 de
aço ou de TMA, estendido cervicalmente até a
distal de caninos, constituindo a unidade ativa ou
de movimentação (Fig. 3). O elemento ativo, ou de
movimentação é constituído por um arco retangular
0.017 x 0.025 de TMA (Fig. 3A) ou retangular
0.018 x 0.025 de aço com alça helicoidal (Fig. 3B).
A consolidação dos segmentos pode ser conseguida
nos primeiros estágios do tratamento ortodôntico
após nivelamento prévio dos dentes por segmentos
ou pela utilização imediata de arcos retangulares
passivos também por segmentos.
O arco base de intrusão possibilita um alto grau
de controle do movimento desejado pelo conhecimento prévio do sistema de força produzido e dos
seus efeitos colaterais. O sistema de força gerado
pelo encaixe do fio ortodôntico na extremidade
posterior (tubo do 1º molar) e apoiado no segmento
Figura 3 - A) Arco base de intrusão construído com fio .017 x .025 de TMA e B) Arco base de intrusão construído com arco .018 x
025 de aço com helicoidal no segmento posterior.
FIGURA 4 - Pontos de aplicação da força vertical produzindo a combinação de intrusão
e vários tipos de inclinação de
incisivos (1 a 3 Vestibularização de Incisivos, 4 Translação
de Incisivos e 5 Verticalização
de Incisivos).
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anterior - ponto de aplicação da força (Fig. 4) pode
ser estaticamente determinado, assim, o sistema de
força é previsível (Fig. 5A, B, C, D)2. Quando o
arco é ativado amarrando-se sua porção anterior ao
fio que une os incisivos, produz-se um binário de
segunda ordem no molar (no sentido de inclinação
corono-distal e radiculo-mesial) e forças verticais nos
pontos de encaixe e apoio do arco, representadas por
uma força extrusiva no segmento posterior e uma
força intrusiva no segmento anterior de mesma
magnitude que se equilibram. Segundo Sakima
20009, num sistema estaticamente determinado
não ocorre alteração no sentido das forças e dos
momentos durante a desativação, apenas a intensidade dos mesmos.
Segundo Lindauer e Isaacson6, a força extrusiva
gerada no segmento posterior pelo arco de intrusão, pode resultar ou não em real extrusão clínica
do molar. Esta extrusão ocorreria em função da
magnitude da força aplicada e das forças oclusais
FIGURA 5 - A) Ponto de aplicação da força anterior ao centro de resistência – Ponto 1 e 2 B) Ponto de aplicação da força anterior
ao centro de resistência – Ponto 2 e 3 C) Ponto de aplicação da força na direção do centro de resistência – Ponto 4 D) Ponto de
aplicação da força posterior centro de resistência – Ponto 5.
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FIGURA 6 - Arco de intrusão apoiado entre os incisivos centrais (ponto 1 Figura 4 e Figura 5A) indicado em situações onde os
incisivos se encontram verticalizados.
FIGURA 7 - Arco de intrusão apoiado na direção da cervical de caninos (ponto 4 Figura 4 e Figura 5D) indicado em situações
onde os incisivos se encontram vestiblarizados.
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FIGURA 9 - Magnitude da força empregada para intrusão
de incisivos medida com auxílio de dinamômetro ou tensiômetro.
FIGURA 8 - Aparelho extra bucal tração alta com linha de
ação da força passando anterior ao centro de resistência do
bloco posterior (inclinação de 45 a 60 graus da asa externa
em relação à interna).
que incidem sobre os dentes durante a mastigação
e oclusão dentária. A extrusão pode ser benéfica
em determinados casos, auxiliando na correção
da mordida profunda. Quando não é desejável, a
utilização de aparelho extra bucal com tração alta
nos molares pode ajudar a anular tanto a extrusão,
quanto a tendência a rotação horária do plano oclusal posterior. Neste caso, a linha de ação da força do
aparelho extra bucal deve passar anterior ao centro
de resistência do bloco posterior, inclinando-se sua
asa externa por volta de 45 a 60 graus (Fig. 8).
Na técnica Bioprogressiva de Ricketts, o arco
utilidade de intrusão gera o mesmo binário e força
vertical no segmento posterior, porém, a inserção
deste arco nas canaletas (Slot) dos dentes anteriores
gera outro binário e força vertical nos dentes anteriores, fazendo com que o sistema se torne estaticamente indeterminado com dois binários. Como
característica desse sistema tem-se que durante a
desativação do aparelho podem ocorrer mudanças
tanto na intensidade como no sentido das forças e
momentos, isto é, a diminuição da força aplicada
não é proporcional à diminuição do momento9.
No arco base de intrusão, utilizado na técnica
do arco segmentado de Burstone, a maior distância
entre o ponto de encaixe e de aplicação da força e
o uso de fios com baixa proporção carga deflexão
(flexíveis) favorecem a liberação de força constante
e com mínima diminuição em sua magnitude e nos
momentos que gera no sistema conforme ocorre sua
desativação8. O uso de fios de TMA ou a incorporação de helicóides em fios de aço permite com que
sua proporção carga deflexão seja baixa, tornando
menos crítica a quantidade de ativação que deve
ser incorporada ao arco e reduz a necessidade de
freqüentes reativações do arco.
A escolha por este método de intrusão baseia-se
na facilidade para sua aplicação em qualquer conjunto de braquetes preconizado pelas mais variadas
técnicas (Edgewise Convencional, Wick Alexander,
Arco Reto prescrição de Roth, Andrews ou MBT,
dentre outras), na possibilidade de controle do
movimento desejado (ação) e dos efeitos colaterais
(reação).
A força preconizada para a intrusão de incisivos é
em média de 15 a 25 gramas por dente, dependendo
do seu volume radicular. Assim dentes com raízes
volumosas e longas necessitam de aproximadamente
25 gramas de força e dentes com raízes finas e curtas necessitam de forças menores, por volta de 15
gramas. Recomenda-se o uso do tensiometro ou do
dinamômetro para verificar e calibrar a magnitude
da força que está sendo gerada pelo arco de intrusão
(Fig. 9).
Em condições de inclinação normal de incisivos,
o bloco anterior de incisivos apresentará seu centro
de resistência localizado na altura do terço médio
radicular de incisivos e na direção da cervical de
caninos (referencial clínico).
R Clín Ortodon Dental Press, Maringá, v. 3, n. 4, p. 13-15 - ago./set. 2004 • 6
Em pacientes adultos, uma redução da altura de
crista óssea, afetará a magnitude da força que deve
ser utilizada para a intrusão, além de modificar a
localização do centro de resistência dos dentes.
Nestes pacientes, deve-se aplicar forças de menores
magnitudes e em pontos diferentes daqueles preconizados para crianças, adolescentes ou adultos que
apresentam nível ósseo normal.
Considerando indivíduos que apresentem
condições periodontais e de inclinação normais de
incisivos, pode-se optar pela aplicação da força de
intrusão na linha média (um ponto apenas) quando
se deseja além da intrusão, inclinação vestibular de
incisivos (Fig. 4 ponto 1, Fig. 5A). A aplicação da
força em dois pontos à distal de incisivos centrais
ou laterais, gradativamente diminui a tendência de
inclinação vestibular dos incisivos (Fig. 4 pontos
2 e 3, Fig. 5B). Uma intrusão com movimento de
translação dos incisivos será obtido quando o ponto
de aplicação da força for na direção da cervical de
caninos bilateralmente, que faz com que a linha de
ação desta força passe pelo centro de resistência do
bloco de incisivos (Fig. 4 ponto 4, Fig. 5C). Caso
haja necessidade de intrusão associada a inclinação
lingual de incisivos, recomenda-se que o ponto
de aplicação da força de intrusão seja à distal dos
caninos (Fig. 4 ponto 5, Fig. 5D).
Caso ocorra uma situação em que os incisivos
apresentem inclinação vestibular ou lingual, ocorrerá uma mudança na geometria do sistema e o
centro de resistência dos incisivos estará localizado
mais para posterior ou anterior respectivamente
em relação à cervical de canino (utilizada como
referencial clínico). Nestes casos, para a escolha do
ponto de aplicação da força terá de ser considerado
o tipo de movimento desejado e a localização do
centro de resistência (Fig. 10).
PRINCÍPIOS BÁSICOS
Tabela 1. Força preconizada para a intrusão dentária5
Dente
Força preconizada
Incisivos centrais superiores
20 gramas/dente
Incisivos laterais superiores
15 gramas/dente
Incisivos inferiores
15 gramas/dente
Caninos
25 gramas/dente
Grupo de dentes
Força preconizada
Incisivos centrais superiores
40 gramas
Incisivos centrais e laterais superiores
70 gramas
Incisivos inferiores
60 gramas
FIGURA 10 - Incisivos superiores vestibularizados e inferiores
lingualizados.
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Os princípios que norteiam a intrusão dos incisivos com o arco de intrusão segmentado são:
1. Intrusão seletiva de dentes, iniciando a
intrusão pelos incisivos e só após a intrusão de
caninos
2. Aplicação da força aos incisivos por meio
de pontos de contato
3. Escolha do ponto de aplicação da força
em função do movimento desejado, levando-se em
consideração a linha de ação da força em relação ao
centro de resistência do bloco anterior
4. Uso de magnitude ideal e liberação constante de força utilizando arcos construídos com
fios de baixa proporção carga/deflexão ou fios de
aço com helicoidais incorporadas no segmento
posterior.
5. Controle dos efeitos colaterais (extrusão e
inclinação lingual) pelo controle da magnitude da
força, pela incorporação de maior número de dentes
no segmento posterior e pelo uso da barra palatina
e arco lingual
6. Utilização do AEB para controle da inclinação do plano oclusal se necessário
ASPECTOS TÉCNICOS
Alguns pontos devem ser observados quando
utilizar a técnica:
1. A distância do ponto de apoio posterior
(tubo auxiliar de 1º molar) ao ponto de aplicação
da força na região anterior influencia na reação do
segmento posterior, isto é, o momento produzido
pelo arco de intrusão sobre o segmento posterior
aumenta com o aumento da distância do ponto de
aplicação da força, promovendo maior inclinação
distal deste segmento.
2. A espessura do fio utilizado não altera a
relação de força e momentos gerados pelo sistema
desde que a quantidade de força aplicada seja a
mesma. Fios de TMA tem menor proporção carga/
deflexão, tornando menos crítica a quantidade de
ativação incorporada ao arco (variações de alguns
milímetros na quantidade de ativação não alteram
significativamente a quantidade de força liberada) e
conforme vai ocorrendo sua desativação, em função
da movimentação dentária, ocorre pouca variação
na força liberada (diminuição insignificante na força
liberada). A incorporação de helicoidais em fios de
aço promove uma redução da proporção carga/de-
flexão do arco.
3. A quantidade de dentes incorporadas ao
segmento posterior influi no movimento que este
segmento irá apresentar devido à mudança que
causa no centro de resistência deste bloco. O centro de resistência do primeiro molar localiza-se na
sua região de furca. Quanto mais dentes anteriores
forem incorporados ao 1º molar para consolidação
do segmento posterior, mais anterior será o centro
de resistência. A incorporação do 2º molar desloca
o centro de resistência para posterior (Fig. 11).
4. O centro de rotação do movimento passa
a ser na altura do tubo de molar e dos braquetes de
incisivos quando se amarram as extremidades do
arco de intrusão, promovendo uma diminuição do
comprimento e perímetro de arco por movimento
radicular dos dentes posteriores para frente e dos
dentes anteriores para trás. Quando as extremidades
do arco de intrusão são deixadas livres, ocorrem movimentos dentários com centro de rotação próximo
ao centro de resistência, assim as coroas dos dentes
anteriores tendem a se deslocar para anterior e a dos
posteriores para posterior, resultando em aumento
do perímetro e comprimento do arco (Fig. 12).
BRAÇO DE ALAVANCA DUPLO (CANTILEVER)
Em termos biomecânicos o arco base de intrusão
e o braço de alavanca ou cantilever duplo (Fig. 13)
são idênticos, assim, a opção por uma destas formas
de intrusão baseia-se na distância do ponto de aplicação da força em relação à unidade de ancoragem.
Quando o ponto de aplicação é anterior (região
de incisivos, posição 1, 2 e 3 da Fig. 4), utiliza-se
preferencialmente o arco base de intrusão, devido
a sua maior estabilidade. Nesta situação o braço
de alavanca seria muito longo. Quando o ponto
de aplicação da força for mais posterior (região de
caninos, posição 3, 4 e 5 da Fig. 4), utiliza-se tanto
o arco base de intrusão quanto o braço de alavanca
com preferência ao último pela maior facilidade e
rapidez de confecção e por não possuir a extensão
anterior que no arco base de intrusão pode ser motivo de injúrias ao tecido gengival e labial.
Marcotte9 propõe a correção da sobremordida
pelo controle da inclinação do plano oclusal utilizando mecanismos de inclinação distal (tip back)
gerados por braço de alavanca duplo ou arco de
inclinação distal (Fig. 16). Este tipo de procedimen-
R Clín Ortodon Dental Press, Maringá, v. 3, n. 4, p. 13-15 - ago./set. 2004 • 8
FIGURA 11 - Centro de Resistência � do segmento posterior em função dos dentes que são incorporados na sua consolidação.
FIGURA 12 - A. Centro de rotação dos molares e incisivos próximo ao seu centro de
resistência quando a extremidade do fio não é amarrada e em B. Centro de rotação na
altura do tubo de molares e braquetes de incisivo quando a extremidade do arco é amarrada (Fonte: Lindauer & Isaacson Atualidades em Ortodontia - Editora Premier6).
FIGURA 13 - Sistema de força gerado pela mecânica de
intrusão de 3 peças com braço de alavanca duplo.
R Clín Ortodon Dental Press, Maringá, v. 3, n. 4, p. 13-15 - ago./set. 2004 • 9
FIGURA 14 - Intrusão de incisivos inferiores com braço de alavanca duplo (cantilever) - continuação do caso Figura 6.
FIGURA 15 - Nivelamento e alinhamento de incisivos verticalizados com arco contínuo.
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to seria indicado para pacientes que apresentassem
plano oclusal inclinado e espaço inter oclusal grande
como em pacientes com Classe II divisão 2. Nestes
casos, a alteração da inclinação do plano oclusal
seria obtida por uma combinação de extrusão do
segmento de pré molares e intrusão do segmento
anterior7.
INTRUSÃO DE CANINOS
A intrusão de caninos é indicada quando se
deseja a intrusão dos seis dentes anteriores, logo
após a intrusão de incisivos. Segundo Burstone et
al.3 pode ser realizada com o uso de arco de intrusão por meio da mecânica de braço de alavanca ou
cantilever (Fig. 17 A) ou pelo uso arco com alça
retangular (Fig. 17 B).
O uso do braço de alavanca (Fig. 17 A) construído com fio 0.017” x 0.025” de TMA, inserido
no tubo auxiliar do molar e apoiado no braquete
do canino permite uma intrusão de caninos, sendo
indicado sua utilização em situações onde o canino exibe uma inclinação lingual, tal qual casos de
Classe II divisão 1 ou 2. Nestes casos, os caninos
inferiores estão bloqueados pelos caninos superiores e se encontram inclinados para lingual. A força
vertical de intrusão aplicada à vestibular do canino
e conseqüentemente ao seu centro de resistência,
gera um momento que traz a coroa do canino para
vestibular (Fig. 18).
Naqueles casos onde o canino inferior já está
FIGURA 16 - Intrusão anterior e rotação do plano oclusal
posterior obtida com mecânica braço de alavanca ou cantilever
conforme preconizado por Marcotte.
FIGURA 17 - Braço de alavanca ou cantilever (A) e arco com alça retangular B) para intrusão de caninos.
R Clín Ortodon Dental Press, Maringá, v. 3, n. 4, p. 13-15 - ago./set. 2004 • 11
Pergunte a um expert
vestibularizado e na intrusão de caninos superiores
onde na maioria das vezes este movimento não é
desejado, Burstone recomenda que seja feita uma
dobra para lingual no braço de alavanca de forma a
gerar uma força lingual contrária que preveniria esta
tendência a vestibularização do canino. Outra forma
de prevenir a vestibularização de caninos, consiste na
utilização do arco de estabilização construído com
fio 0.019” x 0.025” de aço contínuo englobando
todos os dentes do segmento anterior e posterior
e passando fora e incisal ao braquete de caninos,
tocando a face vestibular dos caninos (Bypass). Este
toque do fio evitaria um movimento da coroa de canino para vestibular, mas forçaria a um movimento
radicular de canino para lingual (Fig. 19).
A intrusão de caninos com braços de alavanca
deve ser realizada quando o canino está verticalizado
e não exibe inclinação no sentido mesiodistal, caso
contrário, existe a necessidade de levar em consideração esta inclinação no planejamento da intrusão,
uma vez que afeta o movimento exibido pelo canino.
Uma força vertical aplicada ao braquete do canino
que se esteja inclinado para mesial ou para distal
irá promover um aumento desta inclinação, já que
o centro de resistência (CR) do canino se encontra
deslocado em relação à linha de ação da força. Uma
força vertical aplicada ao braquete de canino com
inclinação distal irá promover um aumento desta
FIGURA 18 - Efeito colateral da força vertical de intrusão aplica ao
braquete de caninos promovendo inclinação vestibular de caninos
(momento gerado pela força aplicada vestibular em relação ao centro
de resistência ® do canino).
Figura 19 - Arco contínuo para consolidação do segmento posterior e para estabilização do segmento anterior durante a intrusão
de caninos.
12 • R Clín Ortodon Dental Press, Maringá, v. 3, n. 4, p. 13-15 - ago./set. 2004
Paulo Cesar Rodrigues Conti
inclinação, uma vez que o CR do canino se encontra
mesial em relação à linha de ação da força, que irá
gerar um momento de inclinação distal. Da mesma
forma, uma força vertical aplicada ao braquete de
canino com inclinação mesial irá promover um
aumento desta inclinação, pois o CR do canino se
encontra distal em relação à linha de ação da força,
que irá gerar um momento de inclinação mesial
(Fig. 20). Nestas situações recomenda-se deslocar o
ponto de aplicação da força de forma que sua linha
de ação passe distal ao CR nos casos de inclinação
mesial e que passe mesial ao CR nos casos de inclinação distal, permitindo que os momentos gerados
favoreçam a correção da inclinação dos caninos.
Em termos práticos podemos escolher o ponto de
aplicação da força utilizando um pequeno segmento
de fio 0.019” x 0.025” com extensão mesial ou distal
amarrado no braquete de caninos.
A intrusão de caninos pode ser realizado de
forma simples, efetiva e controlada, pelo uso
do arco com alça retangular. O arco com alça
retangular tem sua indicação de uso nos casos
Figura 20 - Intrusão de caninos com inclinação distal (superior) e inclinação mesial (inferior) geram momentos que irão
agravar a inclinação do dente.
FIGURA 21 - Esquema arco com alça retangular utilizada intrusão de caninos (A) e esquema de ativação da alça retangular a
partir de seu estado passivo. (B).
R Clín Ortodon Dental Press, Maringá, v. 3, n. 4, p. 13-15 - ago./set. 2004 • 13
Pergunte a um expert
onde a inclinação de caninos não é favorável ou
mesmo naqueles casos onde os caninos estejam
mal posicionados ou girados. A alça retangular
permite um controle tridimensional da posição
de caninos, favorecendo a correção de rotação
mesio-distal (ativação de 1ª ordem), inclinação
mésio-distal (ativação de 2ª ordem) e vestíbulolingual4.
FIGURA 22 - Esquema de ativação da alça retangular a partir
de seu estado passivo. Ativação por fechamento dos ângulos
formados nos pontos 1 e 4 e abertura do ângulo formado no
ponto 2.
FIGURA 23 - Ativação de 2ª ordem para correção de inclinação
mesio-distal de caninos. Arco superior -ativação para caninos
inclinados para distal. Arco inferior ativação para caninos
inclinados para mesial.
REFERÊNCIAS
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SAKIMA, T.; TANNE, T.; ROHIT, S. Correção da mordida profunda. Rev
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14 • R Clín Ortodon Dental Press, Maringá, v. 3, n. 4, p. 13-15 - ago./set. 2004
Ary dos Santos-Pinto
Prof. Adjunto do Departamento de Clínica Infantil – Ortodontia
da Faculdade de Odontologia de Araraquara – UNESP
Mestre e Doutor pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
- UFRJ
Pós-Doutorado na Baylor College of Dentistry – Dallas, Tx
- USA
Prof. dos cursos de Especialização em Ortodontia e Ortopedia
Facial da FAEPO/UNESP e APCD/UNESP – Araraquara.
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