EDIÇÃO PDF Directora Graça Franco Segunda-feira, 16-02-2015 Edição às 08h30 Editor Raul Santos Amianto nas escolas. Pais e directores dizem que ainda há trabalho para fazer Prazo de entrega de facturas alargado até 28 de Fevereiro Grécia acredita em acordo até ao "último minuto" D. Manuel Clemente já é Cardeal Já está em vigor taxa de 10 cêntimos nos sacos de plástico Maioria dos abusos sexuais de Luísa Dacosta: menores acontece verbo e no seio da família testemunho Paulo Sérgio demitido na Académica Países mais Morreu a escritora afectados querem Luísa Dacosta erradicar ébola até Abril MANUEL PINTO 2 Segunda-feira, 16-02-2015 Grécia acredita em acordo até ao "último minuto" Dia de reunião decisiva para o futuro da Grécia. Ministros das Finanças da zona euro voltam a discutir programa de assistência a Atenas. Amianto nas escolas. Pais e directores dizem que ainda há trabalho para fazer Ministério da Educação garantiu a conclusão das operações de remoção de amianto em cerca de 300 escolas do país, mas persistem as denúncias. Gregos querem cortar na austeridade. Foto: Sotiris Barbarousis/EPA A Grécia está no topo da agenda da reunião dos ministros das Finanças da zona euro, desta segundafeira, em Bruxelas. O Governo de Atenas e os parceiros europeus vão tentar chegar a um acordo sobre o programa de assistência ao país, que termina no final do mês. O ministro grego das Finanças, Yanis Varoufakis, mostra-se confiante e acredita num acordo até ao “último minuto”. Em entrevista ao jornal “Kathimerini”, Varoufakis afirmou que a “posição forte” da Grécia, “baseada na lógica”, vai conduzir a um entendimento. O ministro grego das Finanças revela que há posições comuns sobre muitas questões, mas as privatizações e a legislação laboral continuam a ser pontos de discórdia. O primeiro-ministro da Grécia também está confiante e acredita na possibilidade de um acordo na reunião desta segunda-feira. Em entrevista à revista alemã “Stern”, Alexis Tsipras refere que a Grécia não precisa de mais dinheiro, mas sim de mais tempo, para implementar medidas. O primeiro-ministro deixa mesmo uma garantia: em seis meses o país estará irreconhecível. Milhares de pessoas manifestaram-se, domingo, nas ruas de Atenas em apoio ao Governo de Alexis Tsipras nas negociações com os parceiros da zona euro. A reunião desta segunda-feira do Eurogrupo deverá ainda aprovar a intenção de Portugal antecipar o pagamento de parte do empréstimo ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Fonte europeia disse, na semana passada, que os ministros das Finanças da zona euro devem dar "luz verde" à pretensão do Governo português de reembolsar 14 mil milhões de euros ao FMI. Por Teresa Almeida Pais e directores de agrupamentos de escolas pedem uma intervenção urgente para remover as placas de fibrocimento ainda existentes nos estabelecimentos de ensino de Portugal. No início do ano, o Ministério da Educação garantia a conclusão das operações de remoção de amianto em cerca de 300 escolas do país, mas persistem as denúncias. Em declarações à Renascença, o presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (CONFAP), Jorge Ascensão, avança que os pais se mantêm preocupados com o facto de ainda não terem sido retiradas grande parte dessas coberturas. Jorge Ascensão pede, por isso, um plano efectivo, para remover as placas de fibrocimento, antes que fiquem danificadas e libertem amianto. O mesmo alerta é feito pela Associação Nacional de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP). Filinto Lima pede ao Ministério da Educação o passo que falta nesta matéria para a remoção destas placas prejudiciais à saúde. Já Carmen Lima, da Quercus, diz que mesmo que esteja a ser feita uma monotorização das placas de fibrocimento, mais cedo ou mais tarde, vão ter de ser retiradas. A associação de defesa do ambiente chama à atenção para outros materiais existentes nas escolas que podem conter amianto, materiais que possam estar “no interior dos edifícios e que não foram identificados, como pavimentos ou revestimentos de paredes”. O processo já se arrasta há mais de 10 anos. A última intervenção do Governo nesta matéria foi feita no Verão do ano passado, mas ainda há escolas que mantêm o fibrocimento como cobertura, representando um risco para a saúde da comunidade escolar. 3 Segunda-feira, 16-02-2015 A Renascença visitou a Escola Básica EB 2-3 Padre António Moreira, nos Carvalhos, em Vila Nova de Gaia, um dos exemplos onde o fibrocimento ainda resiste. D. Manuel Clemente já é Cardeal Símbolos do cardinalato foram entregues em Roma pelo Papa Francisco. Por Aura Miguel, em Roma O Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, já é Cardeal. Este sábado, numa cerimónia na Basílica de São Pedro, no Vaticano, o bispo de Lisboa foi o segundo dos 20 novos cardeais a receber os símbolos do cardinalato das mãos do Papa Francisco, que lhes lembrou que “a dignidade cardinalícia é certamente uma dignidade, mas não é honorífica”. “Não se trata, portanto, de algo acessório, decorativo que faça pensar a uma honorificência, mas de um eixo, um ponto de apoio e movimento essencial para a vida da comunidade. Vós sois ‘junções cardinais’ e estais incardinados na Igreja de Roma, que ‘preside à universal assembleia da caridade’”, reforçou Francisco. D. Manuel Clemente percorreu a pé o caminho entre o Colégio Português de Roma e a Basílica de S. Pedro, acompanhado pelos seus bispos auxiliares, o seu secretário e alguns padres. Em S. Pedro, juntou aos outros 18 bispos (um deles, da Colômbia, não esteve presente na cerimónia por já ter 96 anos), que receberem do Papa Francisco não só os símbolos da sua nova condição, mas um programa de vida baseado no Hino à caridade de S. Paulo. “A caridade tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” – foi este o programa que D. Manuel Clemente recebeu para sempre do Papa a quem este sábado jurou fidelidade e obediência até à morte. De joelhos no altar da confissão, diante do actual sucessor de Pedro, o Cardeal Patriarca de Lisboa recebeu o barrete, o anel e a bula com a sua nomeação, que lhe atribui em Roma a Igreja de Santo António dos portugueses. Dignidades que, como reforçou o Papa Francisco, só têm sentido para servir e dar a vida pela Igreja e pelos outros, se for preciso até ao derramamento de sangue, como aliás a cor purpura das vestes cardinalícias recorda a todos. O Patriarca de Lisboa passa, a partir de agora, a colaborar mais directamente com o Papa e a fazer parte do Colégio de Cardeais. Com D. Manuel Clemente foram também investidos o bispo Arlindo Gomes Furtado, de Cabo Verde, país que pela primeira vez tem um cardeal, e Júlio Duarte Langa, bispo emérito de Xai-Xai, Moçambique, que, por ter mais de 80 anos, não terá capacidade eleitoral. O Estado português esteve representado na cerimónia pelo vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, e pelo secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier. O Papa emérito esteve presente no consistório. Desde que renunciou ao pontificado, Bento XVI tem levado uma vida bastante recolhida, sobretudo de oração, como era seu desejo, e raramente aparece em público. Na segunda-feira, dia 16, D. Manuel Clemente irá celebrar a missa na Igreja de Santo António dos Portugueses, em Roma, (11h30, menos uma em Lisboa). De regresso a Portugal, a primeira celebração do novo cardeal vai decorrer na Sé de Lisboa, a 18 de Fevereiro, com a Missa de Quarta-feira de Cinzas (19h00). A 22 de Fevereiro, D. Manuel Clemente vai proferir a primeira catequese quaresmal, no Mosteiro dos Jerónimos, às 16h30, a que se segue uma sessão de apresentação de cumprimentos, aberta a todos os que desejarem participar. [Notícia actualizada às 12h04] Primeira mensagem do Cardeal D. Manuel Clemente Numa mensagem à diocese de Lisboa gravada em Roma momentos após ter recebido os símbolos do cardinalato, D. Manuel Clemente relembra a importância de ter sido criado mais um cardeal português. O vídeo foi partilhado no canal de YouTube do Patriarcado de Lisboa. 4 Segunda-feira, 16-02-2015 D. Manuel preside a primeira missa como cardeal Eucaristia será celebrada na Igreja de Santo António dos Portugueses, em Roma. D. Manuel Clemente preside esta segunda-feira manhã, em Roma, à primeira missa depois de ter sido criado cardeal. A eucaristia será celebrada na Igreja de Santo António dos Portugueses, às 10h30 (hora de Lisboa). O Cardeal Patriarca de Lisboa recebeu o barrete cardinalício das mãos do Papa Francisco, no sábado, numa cerimónia realizada na Basílica de S. Pedro, no Vaticano. Numa mensagem à diocese de Lisboa após ter recebido os símbolos do cardinalato, D. Manuel Clemente lembrou a importância de ter sido criado mais um cardeal português. O Cardeal Patriarca de Lisboa adiantou, numa conferência de imprensa com os jornalistas portugueses, que enfrenta os desafios futuros inspirado no modelo do Papa Francisco. MANUEL PINTO Luísa Dacosta: verbo e testemunho Luísa Dacosta foi uma mulher da comunicação (...) Dava aulas onde fazia sentido que as desse: na escola, certamente, mas também no Jardim de S. Lázaro ou no Museu Soares dos Reis, na Ribeira ou na Estação de S. Bento. Hoje é dia de Luísa Dacosta. É também o dia em que começamos a recordá-la. Os seus quase 88 anos. Os seus livros. O que, deles, gerações e gerações de crianças sonharam, sentiram, viveram. Os encontros. E, em especial, os seus alunos. “Devo aos alunos o não me ter afastado do sonho e começar a escrever para eles à volta desse sonho…”. Luísa Dacosta foi uma mulher da comunicação. Os seus poemas, os fragmentos, os retratos da vida, estão espalhados por um sem-número de revistas culturais, de páginas literárias de jornais (no tempo em que as havia), de entrevistas e de notas de conferências. Não sem motivo foi distinguida em 2002 com o Prémio “Uma Vida, Uma Obra”, pela Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, apenas um dos numerosos atos de reconhecimento da sua vasta produção literária. É especialmente gostoso sublinhar o entrosamento que teceu entre a docência e a escrita (não apenas a que produziu para as crianças). Só começou a escrever depois de começar a dar aulas. Mas desde pequena que gostava de guardar palavras, como outros guardam folhas secas ou pedrinhas da praia: aos seis anos, por exemplo, vibrou com a descoberta de “asseivar”, e em A-Ver-o-Mar maravilhou-se com a inventiva popular a moldar verbos a partir de substantivos. A liberdade, o sonho e o abrir de horizontes nasceram também desse contacto quotidiano com a vida real, nos mais diversos contextos. Em 2011, numa entrevista à Pagina Literária do Porto, contava como, desde cedo, se insurgiu contra “aquela selecta de maluquinhos” e como procurava adentrar as crianças nos autores que não cabiam nessas formas ‘canonizadas’ e oficiais. Dava aulas onde fazia sentido que as desse: na escola, certamente, mas também no Jardim de S. Lázaro ou no Museu Soares dos Reis, na Ribeira ou na Estação de S. Bento. Hoje - diz ela - seria 5 Segunda-feira, 16-02-2015 certamente expulsa do ensino. O facto de ter trabalhado numa escola técnica, facilitou-lhe o acesso ao cinema. Mandava vir de Lisboa filmes com Marcel Marceau e Charlie Chaplin, com os quais desenvolvia trabalho pedagógico e cultural. Para que, tal como na escrita, os alunos crescessem emocionalmente, já que é pobre a educação que se fica pela informação. “A semente dorme na placenta, húmida, da Terra”. A semente é a obra que nos deixa e o testemunho que, através dela, nos deu. Obrigado, Luísa. Chico Buarque escreve sobre "O irmão alemão" Romance do cantor brasileiro chega às livrarias portuguesas esta segunda-feira. Morreu a escritora Luísa Dacosta Entre os seus livros, contam-se "Província", "A Menina Coração de Pássaro", "Sonhos Na Palma da Mão", "O Valor Pedagógico da Sessão de Leitura", "A-Ver-O-Mar" ou "Nos Jardins do Mar". Escreveu também livros infantis. A escritora Luísa Dacosta morreu, este domingo, aos 87 anos, no hospital de Matosinhos, vítima de doença prolongada, disse à agência Lusa fonte editorial, citando a família. O corpo da escritora, natural de Vila Real, vai estar na segunda-feira, a partir das 15h00, no tanatório de Matosinhos, seguindo-se a cremação, na terça-feira, às 10h00. Luísa Dacosta, que completaria 88 anos na segundafeira, formou-se na Faculdade de Letras de Lisboa, em Histórico-Filosóficas, iniciou a sua actividade literária em 1955 e recebeu, em 2010, o Prémio Literário Vergílio Ferreira, atribuído pela Universidade de Évora. Entre os seus livros, contam-se "Província", "A Menina Coração de Pássaro", "Sonhos Na Palma da Mão", "O Valor Pedagógico da Sessão de Leitura", "A-Ver-O-Mar" ou "Nos Jardins do Mar". Escreveu também livros infantis. Em 2011, a décima edição da revista Correntes, publicação associada ao festival Correntes d`Escritas, na Póvoa de Varzim, homenageou a autora, que, na sessão de abertura, se mostrou satisfeita por ter tanta gente a "ouvir uma escritora pouco lida". "Fui sempre mais homenageada como professora do que como escritora", comentou, confessando que a sua obra - "autobiográfica" - era pouco compreendida. O romance "O irmão alemão", de Chico Buarque, chega esta segunda-feira às livrarias portuguesas, naquela que é a estreia nacional da editora Companhia das Letras. Trata-se de "um romance em busca da verdade e dos afectos" que corresponde a uma inquietação de Chico Buarque: o facto de ter um meio-irmão, pelo lado paterno, que nunca conheceu. O pai do cantor, o historiador brasileiro Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), residiu em Berlim, no final dos anos 1920. Numa entrevista publicada em 1994, pelo jornal “Folha de São Paulo”, Chico Buarque afirmou que só soube da existência do irmão na década de 1960, e que nunca o conseguiu encontrar. A única mensagem que Sérgio Buarque de Holanda teria recebido da ex-namorada que deixou em Berlim, na década de 1930, seis anos antes de se casar no Brasil, foi durante a II Guerra Mundial, para pedir documentos que provassem que o filho, Sérgio Georg Ernst, não era descendente de judeus, disse o músico ao diário. Entretanto, investigadores contratados pela editora de Chico Buarque levaram-no a conseguir reatar os laços com os familiares alemães perdidos. Em Maio de 2013, o músico, compositor e escritor teve os primeiros contactos com os parentes alemães e, em ano meio, visitou por três vezes a Alemanha, para estar com a meia-irmã do seu meio-irmão, Monika Knebel, e com as suas sobrinhas Kerstin Prügel e Josepha Prügel. Esta história, afirmou o músico à imprensa brasileira, começou a ser escrita ainda antes do romance "Leite derramado", editado em 2009 pela Companhia das Letras. A Companhia das Letras, em Portugal, "será uma chancela literária dedicada à publicação de autores de língua portuguesa de todas as geografias, com 12 novidades planeadas já para o primeiro ano", segundo comunicado da editora. 6 Segunda-feira, 16-02-2015 Condor. Um ensurdecedor silêncio de morte no sul da América <div>João Pina, fotojornalista português itinerante, requisitado pelas principais publicações mundiais, levou dez anos a fotografar a memória visual da Operação Condor. A ave típica dos Andes foi resgatada para uma outra viagem, agora publicada em livro em Portugal, sobre o plano secreto das ditaduras sul-americanas.</div> Por José Pedro Frazão (texto) e Conceição Sampaio (vídeo) Foram mortes silenciosas. Milhares delas, distribuídas em surdina por seis países da América do Sul, em nome do combate aos opositores das ditaduras militares que regeram Bolivia, Uruguai, Brasil, Paraguai, Argentina e Chile nos anos 70. Chamaram-lhe Operação Condor, não se sabe como acabou mas a data de arranque “oficial” é (mais) uma efeméride redonda. Faz 40 anos que foi assinada em Santiago do Chile uma acta para desatar a matar gente dispersa na geografia sul-americana. João Pina tentou ler tudo sobre o caso. “[Estas ditaduras] tinham um interesse comum. A acta inaugural é um documento extraordinário. O primeiro parágrafo trata dos fundamentos, da “subversão". O inimigo comunista era considerado a grande ameaça a estes regimes. A partir de 75,o projecto intensificou-se ao ponto de haver operações fora deste território. A mais conhecida foi a morte de Orlando Letellier em Washington, o primeiro carro -bomba da história dos EUA. Morreu ele e a sua secretária”. O envolvimento dos EUA na operação é dos pontos mais discutidos. “O que se sabe e se pode provar é que a CIA e os serviços secretos americanos sabiam do Condor desde o seu inicio. E que Kissinger era informado pelos embaixadores e pela CIA. Sendo secreta, a operação era do conhecimento vasto dos EUA”, assegura João Pina. O fotojornalista diz que não se sabe “nem onde, nem quando, nem se acabou” esta operação desencadeada em seis países que deixaram de ser ditaduras nos anos 80. “Não se sabe se por esmorecimento dos regime ou se por directivas nesse sentido, deixou de haver operações relacionadas com o Condor. O que se pode provar houve operação até ao final dos anos 70, principio dos anos 80”. No livro, Pina recua até aos anos 60, à “génese da violência política, e depois continuo até às vidas de hoje, com as exumações de corpos, procuras de desaparecidos e, parte importante, os julgamentos por crimes contra a humanidade dos militares na Argentina”. Cada caso é um caso O repórter fotográfico português explica que cada país foi lidando à sua maneira com este legado sangrento. “Não uso o ‘torturómetro’ mas a Argentina, com o maior número de desaparecidos foi um dos países com maior pressão popular, com famílias de 30 mil desaparecidos que continuaram a procurar. A pressão só deu resultados palpáveis a partir do ano de 2004. com anulação de leis de amnistia. No Brasil, só muito recentemente, há dois meses, é que a Comissão da Verdade, formada pela presidente Dilma,entregou o seu relatório depois de 3 anos de trabalho. Há países que praticamente nunca tocaram nisto como o Paraguai ou a Bolivia”. A Argentina funciona como ‘ponta de lança’ das investigações sul-americanas sobre a Operação Condor. “ Existe em todos os países, com excepção da Argentina, uma lei de amnistia em que os militares não podem ser imputados pelos seus crimes. Mas o caso argentino já está a fazer jurisprudência, para que os sistemas judiciais uruguaio e brasileiro possam pedir aos juízes e procuradores argentinos que investiguem crimes que aconteceram no Uruguai ou no Brasil”. Na Argentina, “que se saiba, os documentos foram mais ou menos todos encontrados, tanto do lado militar como do lado civil os documentos foram sendo encontrados e recuperados”. João Pina lembra que só no Brasil houve agora um relatório mas impressionado, só mesmo com o que se passou no Paraguai. “ Com mais de 30 anos de ditadura, funcionavam como bons burocratas que tinham tudo muito bem organizadinho. E quando a ditadura ruiu, esqueceram-se que as coisas estavam organizadas e ficaram empacotadas nalgum sitio. Acabaram por ser descobertas por um juiz e por advogado de direitos humanos. É hoje conhecido como o 'o arquivo do terror' em Assunção. É dos mais extraordinários desta época com milhares de fotografias, documentos que provam toda esta operação”, conta João Pina. Sarar estas feridas também varia de país para país. “ O caso chileno sempre foi um em que isto dividiu muito a sociedade. Isso só prova que estas feridas teimam em não sarar. Isto é o denominador comum destes 6 países. Enquanto não houver justiça - e esta justiça está a chegar lentamente à Argentina - enquanto as vitimas não tiverem a sensação que a justiça foi feita. é muito difícil encerrar este capitulo. Isso, aliado ao desaparecimento dos corpos em que a grande maioria das pessoas não sabe o que aconteceu aos seus familiares, torna isto uma coisa impossível de sanar”, reconhece o repórter. A máquina não perdoa A operação Condor envolveu milhares de operacionais numa máquina cujas ramificações não são totalmente conhecidas. João Pina diz não ter encontrado arrependidos do lado dos autores dos crimes. “ Falei directamente com militares envolvidos na operação condor e na repressão das ditaduras no Brasil. Por exemplo, Sebastián ‘Curió’ não mostrou arrependimento, diz que as coisas deviam ter sido feitas de forma diferente. mas que dadas as circunstancias e as ordens que tinha recebido, foram assim. Na Argentina não falei directamente com nenhum militar envolvido, mas ouvi os julgamentos e todos continuam a repetir aquele que é o dogma oficial, que estavam a lutar contra a subversão. E ou eram eles ou eram os subversivos que iam a ganhar esta guerra”. Quando a máquina fotográfica apontou aos rostos dos 7 Segunda-feira, 16-02-2015 sobreviventes ou familiares de vítimas, João Pina encontrou “ tristeza e injustiça” mas ao mesmo tempo olhares de “grande dignidade e força”. E os rostos que não vemos ? “Existe uma imagem dos militares a esconder os rostos. Sabia que à minha frente estava a acontecer uma coisa extraordinária. Os todopoderosos militares insultavam-me e escondiam as caras atras de cadernos e mãos”. Casos semelhantes João Pina, quase 35 anos e muitos quilómetros pelo mundo a retratar vidas difíceis, encontrou neste projecto a continuação do seu livro sobre a memória histórica e a violência política em Portugal (“Por teu livre pensamento”, 2007). “Entrei neste tema quando nasci. Sou neto de presos políticos, nada que me contavam era alheio a mim” . Há dores que são as mesmas ? “Sim, mas com reflexos muito diferentes. A ditadura portuguesa foi a mais longa da Europa Ocidental. Esta falta de questionamento interno, a crítica em voz baixa, é para mim o reflexo da ditadura. Isso também se verifica noutros países. Quem passa por prisões, tortura, fica com traumas muito profundos. Isso é visível em Portugal como na América do Sul”. Hoje, na Argentina, o tema continua a ser a acção de estruturas de segurança obscuras. As noticias são dominadas pelo Caso Nisman, nome do procurador morto dias antes de uma acusação dirigida à presidente Kirchner por alegado envolvimento em negócios pouco claros com o Irão. Está tudo na mesma ? “Não, porque há 30 anos ninguém poderia falar disto. Haveria censura e o risco de mais alguma pessoa desaparecer. mas é um facto que existem na argentina estruturas secretas, usadas para a repressão dos anos 70, que continuam minimamente intactas e organizadas e que, de vezes quando , com intuitos muito pouco transparentes, actuam. Aconteceu em 2006 com o desaparecimento de Julio Lopez, que era testemunha importante no processo de um antigo campo de concentração na ditadura. O sistema judicial argentino é bastante independente, é muito diferente de antigamente”. O livro Condor acaba de ser divulgado igualmente em Espanha na presença de Baltazar Garzón, juiz envolvido nas investigações aos crimes cometidos na ditadura argentina e que assina o pósfacio do livro de João Pina. Carnaval com vento forte, mas sem chuva Apesar dos avisos amarelos para o vento e agitação marítima, os meteorologistas prevêem para terça-feira de Carnaval céu pouco nublado ou limpo, sem precipitação, mas com descida das temperaturas mínimas. Dezasseis distritos do continente estão esta segundafeira sob aviso amarelo, devido à previsão de agitação marítima e vento forte, indica o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). Amanhã, dia de Carnaval, o céu vai estar pouco nublado e não é esperada chuva. Os distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto, Aveiro, Coimbra, Viseu, Vila Real, Bragança, Guarda, Leiria, Castelo Branco, Lisboa, Setúbal, Beja, Évora e Faro estão sob aviso amarelo devido à previsão de vento forte com rajadas da ordem dos 90 quilómetros por hora nas terras altas. Aqueles 16 distritos do continente vão estar sob aviso amarelo devido à previsão de vento forte entre as 21h00 de hoje e até às 12h00 de terça-feira. Daqueles 16 distritos, Viana do Castelo, Braga, Porto, Aveiro, Coimbra, Leiria, Lisboa, Setúbal, Beja e Faro, além do aviso de vento vão estar também a amarelo devido à previsão de agitação marítima, com ondas com 4 a 4,5 metros, entre as 21h00 de hoje e até às 18h00 de terça-feira. O IPMA colocou também as zonas montanhosas da ilha da Madeira sob aviso amarelo devido à previsão de vento forte com rajadas da ordem dos 90/100 quilómetros por hora entre as 00h00 de terça-feira e as 9h00 de quarta-feira. O aviso amarelo é emitido pelo IPMA sempre que existe risco para determinadas actividades dependentes da situação meteorológica. Carnaval sem chuva Apesar dos avisos amarelos para o vento e agitação marítima, o IPMA prevê para terça-feira, dia de Carnaval céu pouco nublado ou limpo, sem precipitação, mas com descida das temperaturas mínimas e vento, que será forte nas terras altas. O IPMA prevê para hoje nas regiões do norte e centro do continente céu geralmente muito nublado, diminuindo de nebulosidade para o final do dia na região norte, e períodos de chuva fraca, em especial no litoral, que serão de neve acima de 1400 metros de altitude. Está também previsto vento fraco a moderado, tornando-se moderado a forte de norte para o final do dia no litoral e nas terras altas, com rajadas da ordem de 70/80 quilómetros por hora no litoral a sul do rio Douro e da ordem de 90 quilómetros por hora nas terras altas. A previsão aponta ainda para neblina ou nevoeiro matinal e descida da temperatura mínima, em especial no interior norte. No sul prevê-se períodos de céu muito nublado, tornando-se geralmente pouco nublado a partir do meio da tarde nas regiões do interior e no sotavento algarvio e possibilidade de ocorrência de períodos de chuva fraca ou aguaceiros fracos no litoral oeste. Está também previsto vento fraco a moderado de noroeste, tornando-se moderado a forte a partir do final do dia no litoral oeste e nas terras altas, com rajadas da ordem de 70 quilómetros por hora no litoral e da ordem de 90 quilómetros por hora nas terras altas. O IPMA prevê ainda para a região sul neblina ou nevoeiro matinal e descida da temperatura mínima, em especial no interior. Na Madeira prevê-se céu geralmente muito nublado, períodos de chuva, em geral fraca, passando a regime de aguaceiros fracos nas vertentes norte e nas regiões montanhosas a partir do final da tarde e vento fraco a moderado, rodando para nordeste a partir do meio da tarde e tornando-se gradualmente moderado a forte. Nas terras altas, prevê-se vento forte de norte, rodando para nordeste a partir do meio da tarde, com rajadas da ordem de 80 quilómetros por hora para o final do dia. 8 Segunda-feira, 16-02-2015 Quanto às temperaturas, em Lisboa vão variar entre 9 e 15 graus celsius, no Porto entre 7 e 13, em Bragança entre -1 e 14, em Viseu entre 4 e 12, em Castelo Branco entre 5 e 16, em Évora entre 6 e 15, em Beja entre 7 e 15, em Faro entre 8 e 18, em Coimbra entre 6 e14 e no Funchal entre 15 e 21. Já está em vigor taxa de 10 cêntimos nos sacos de plástico Prazo de entrega de facturas alargado até 28 de Fevereiro Os portugueses são os europeus que mais utilizam sacos de plástico "leves", atingindo 466 por habitante por ano, um número que o Governo pretende reduzir. O Governo quer garantir que todos os consumidores possam entregar a tempo todas as suas facturas, para maximizar o respectivo benefício fiscal. Foi prorrogado até 28 de Fevereiro o prazo para os contribuintes validarem nos Portal das Finanças as facturas relativas a 2014 que dão direito a um benefício fiscal em sede de IRS. Em 2013 foi atribuído um benefício fiscal em sede de IRS (Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Singulares) para os consumidores que peçam facturas com o número de identificação fiscal em quatro sectores específicos: o alojamento, a restauração, a reparação automóvel e os cabeleireiros. “No entanto, uma vez que se trata apenas do segundo ano de vigência deste regime, considera-se necessário assegurar que todos os consumidores finais que solicitaram factura com número de contribuinte em 2014 possam confirmar e comunicar devidamente todas as suas facturas, de forma a maximizar o respectivo benefício fiscal na declaração de IRS a apresentar em 2015”, explica o Ministério das Finanças em comunicado. O prazo foi alargado até 28 de Fevereiro, segundo despacho emitido este domingo pelo Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Paulo Núncio. Com o novo regime de facturas os contribuintes podem deduzir em IRS 15% do valor correspondente do IVA (Imposto de Valor Acrescentando), até um máximo de 250 euros. De acordo com o documento do Ministério das Finanças “o benefício fiscal associado às facturas comunicadas até esta data por referência ao ano de 2014 ascende já a 29 milhões de euros, o que representa um crescimento de 16% face ao benefício atribuído por referência ao ano de 2013 (25 milhões de euros).” Guardo a factura ou deito o papel no lixo? Tire as suas dúvidas sobre o novo IRS Os consumidores começam este domingo a pagar dez cêntimos por cada saco de plástico "leve" em qualquer estabelecimento comercial, dos hipermercados às farmácias, uma contribuição ambiental para tentar reduzir a presença deste material na natureza. A medida está integrada na reforma da Fiscalidade Verde, concretizada pelo ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia, Jorge Moreira da Silva, que está optimista relativamente à sua aplicação, tanto da parte dos consumidores, como dos comerciantes. Os portugueses são os europeus que mais utilizam sacos de plástico "leves", atingindo 466 por habitante por ano, um número que o Governo pretende baixar para 50 este ano e 35 em 2016. A decisão de taxar os sacos recebeu algumas críticas, nomeadamente dos representantes dos comerciantes, que ficaram com grandes 'stocks' de sacos e não têm possibilidade de pagar o imposto inerente para recolocá-los no circuito comercial, e dos ambientalistas, que defendem a realização de campanhas de sensibilização e um período de transição de um ano, para adaptação dos consumidores ao novo hábito. A partir de agora, os clientes das várias lojas de alimentação, restauração, hotelaria, farmácias, livrarias ou de materiais de construção devem procurar diversas alternativas para acomodarem as suas compras, em sacos de plástico mais resistentes e reutilizáveis, ou feitos de outros materiais, como pano ou papel, ou mesmo os antigos sacos de ráfia ou de palma, ou cestos de vime, 'troleys' ou mochilas. Pretende-se reduzir o consumo de sacos, cada um usado em média 25 minutos, e a quantidade de plástico deteriorado que permanece cerca de 300 anos na natureza, afectando os animais, como os peixes que o ingerem confundindo com alimento. Segundo as contas do Ministério do Ambiente, serão obtidos 167 milhões de euros com a Fiscalidade Verde, a maior parte dos quais (150 milhões) a canalizar para o alívio do IRS (Imposto sobre o Rendimento Singular) das famílias, enquanto os restantes 17 milhões de euros se destinam ao fundo de conservação da natureza e a incentivar a mobilidade sustentável. 9 Segunda-feira, 16-02-2015 Casa Acreditar vai receber famílias de crianças em tratamento no IPO do Porto Embraer Portugal quer contratar mais 90 funcionários Situadas em Évora, as fábricas do construtor brasileiro de aviões empregam, actualmente, cerca de 300 pessoas. Este domingo, Dia Internacional da Criança com Cancro, foi lançada a primeira pedra da casa que vai ser construída mesmo ao lado do Instituto Português de Oncologia. Por André Rodrigues Dentro de dois anos as famílias das crianças com cancro do Norte do país já terão onde ficar: a Casa da Acreditar terá capacidade para receber 16 famílias em simultâneo. Margarida Cruz, directora-geral da Acreditar (uma organização sem fins lucrativos), diz que este é um sonho antigo a caminho de se realizar. “Temos muitas crianças em tratamento aqui no Norte que têm que se deslocar. Portanto é muito importante para a família poder ter um porto seguro onde pode ficar gratuitamente durante o tempo que precisa”, diz à Renascença. Este domingo, Dia Internacional da Criança com Cancro, foi lançada a primeira pedra da casa que vai ser construída mesmo ao lado do Instituto Português de Oncologia (IPO). José Maria Laranja Pontes, presidente do IPO do Porto, garante que tudo foi pensado para facilitar o dia-a-dia a doentes e familiares. “Aquilo que queremos é que os pais estejam perto das crianças quando elas estão a ser tratadas. Não há substituição para os pais”, comenta. E se é verdade que o cancro pediátrico abala toda uma estrutura familiar, a taxa de cura é bastante animadora: cerca de 80% dos casos são bem-sucedidos. Armando Pinto, director do serviço de pediatria do IPO do Porto diz à Renascença que “comparando com o que acontecia nos anos 50 em que a taxa de sucesso era a volta dos 10%”, agora os especialistas querem atingir uma taxa de 90%. “E não sossegamos enquanto não chegarmos aos 90%”, sublinha. A Casa da Acreditar no Porto tem um custo estimado de um milhão e meio de euros que serão integralmente suportados por donativos de particulares e mecenato. A Acreditar também tem uma casa em Lisboa, inaugurada em 2002 em frente ao IPO, no Funchal (2003), situada em frente ao Hospital Cruz de Carvalho, e em Coimbra, tendo esta sido concluída em 2009 junto ao Hospital Pediátrico da cidade. Foto: Nuno Veiga/Lusa As fábricas da Embraer em Évora já empregam "quase 300 funcionários" e, este ano, a construtora aeronáutica prevê aumentar o número de trabalhadores em cerca de 30%, revela à agência Lusa o presidente da empresa em Portugal. No ano passado, "praticamente, duplicámos o nosso efectivo e chegámos ao final de 2014 com quase 300 funcionários, a maior parte oriunda de Évora ou da região", adianta Paulo Marchioto. O presidente da Embraer Portugal diz também que "a maior parte" dos trabalhadores foi formada através da colaboração estabelecida com o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP): "Esta parceria tem-se mostrado muito boa". "Tem sido muito gratificante a velocidade de aprendizagem que os nossos colaboradores têm demonstrado", elogiou, revelando que, para este ano, a empresa tem "um planeamento do crescimento da força de trabalho em cerca de 30%", ou seja, 90 funcionários. Inauguradas em 2012, após um investimento de quase 180 milhões de euros, as duas fábricas de Évora da construtora aeronáutica brasileira - uma de estruturas metálicas e outra de materiais compósitos - estão a cumprir "rigorosamente" o cronograma planeado. A previsão é a de que, "dentro de dois anos", as unidades estejam "a voar em voo de cruzeiro", ou seja, atinjam a capacidade plena, mas, para já, o responsável da empresa em Portugal escusou-se a abordar uma eventual expansão. "Primeiro precisamos de ter a capacidade plena. A partir daí pensamos em aumentar. Um passo firme de cada vez", argumentou. Quanto ao centro de engenharia e tecnologia criado no ano passado, igualmente em Évora, para o desenvolvimento de peças e estruturas em materiais compósitos, já "começou a trabalhar" e tem em curso "o processo de contratação de colaboradores". A empresa prevê que a estrutura, dirigida por Sérgio 10 Segunda-feira, 16-02-2015 Carvalho, conte com "pelo menos 20 colaboradores", este ano. Segundo Paulo Marchioto, em 2014, as fábricas da cidade alentejana tiveram "um ano muito desafiante" e um dos factos a realçar foi o de se terem tornado fornecedoras das "três unidades de negócio [da Embraer] no Brasil". "Procurámos diversificar a actuação, inserindo os produtos de Évora nos mais diversos produtos da Embraer e trabalhando para a unidade comercial, a unidade executiva e a de defesa e segurança", resumiu. Nas fábricas alentejanas, são produzidos componentes para o avião executivo Legacy 500 (asa, empenagens vertical e horizontal e, como novidade conseguida em 2014, o cone traseiro), para o comercial E1 (revestimentos de asa) e para a nova aeronave militar KC-390 (revestimentos de asa e empenagens). Outro dos destaques de 2014, segundo Paulo Marchioto, foi o de conseguir envolver a fábrica de estruturas metálicas no novo programa de aviação comercial da empresa, os aviões E-Jets E2, o que levou à ampliação da área coberta da unidade, cujas obras estão quase terminadas. "Estamos a trabalhar nos protótipos deste novo produto, que é o mais avançado da Embraer", disse, precisando que a fábrica produz "os revestimentos da asa" do E2 e que, agora, no início deste ano, devem seguir "as primeiras remessas para o Brasil". Além disso, revelou, também a fábrica de materiais compósitos vai passar a estar envolvida no processo ligado aos protótipos do E2, com o fabrico do "estabilizador horizontal" da aeronave. Lesados do BES vão abrir processo judicial contra Banco de Portugal A associação de lesados havia já referido que os clientes iriam continuar a sua luta, voltando a "ir para a rua" pelos seus direitos. A Associação dos Lesados e Indignados do Papel Comercial (AILPC) do BES vai "abrir um processo judicial contra o Banco de Portugal", que acusa de ter emitido um comunicado que não espelha o conteúdo da reunião de sexta-feira. O Banco de Portugal emitiu um comunicado na sextafeira, depois da reunião com a associação de clientes detentores de papel comercial do Grupo Espírito Santo (GES), em que reafirmou que o Novo Banco não tem de compensar os clientes que compraram papel comercial do GES nos balcões do BES, e que só pode avançar com uma solução se esta não afectar o seu equilíbrio financeiro. Em declarações à Lusa, o presidente da AILPC, Ricardo Ângelo, afirmou que a associação vai "abrir um processo judicial contra o Banco de Portugal e possivelmente contra o Novo Banco", uma vez que não aceita "este recuo" por parte das duas entidades. "Inicialmente, havia uma concordância de ambos [Banco de Portugal e Novo Banco] em nos ressarcir ou indemnizar em relação ao papel comercial e este recuo é inaceitável", disse ainda Ricardo Ângelo, afirmando que os detentores destes produtos se sentem "descartáveis". De acordo com o presidente da Associação dos Lesados e Indignados do Papel Comercial, "há discrepâncias" entre o que aconteceu na reunião com o Banco de Portugal e o que foi comunicado. "Nunca foi dito por parte do Banco de Portugal que não nos iam ressarcir, o que nos foi dito foi que estava a ser estudada uma proposta comercial para o nosso caso, que era de difícil execução", adiantou Ricardo Ângelo, que esteve na reunião de sexta-feira com responsáveis do Banco de Portugal. O presidente da AILPC do Novo Banco reportou ainda aquilo que considerou serem "mal entendidos", uma vez que "não há comunicação entre o Banco de Portugal e o Novo Banco", entidades que "querem agora criar uma nova realidade para baixar as expectativas de ressarcimento" dos detentores de papel comercial. Ricardo Ângelo disse mesmo que "o Banco de Portugal já tinha o comunicado pronto antes da reunião" e que "o comunicado não espelha o que se passou" no encontro. Na quinta-feira, cerca de meia centena de clientes do Novo Banco que subscreveram dívida do GES aos balcões do antigo BES invadiram as instalações do banco na Avenida dos Aliados, no Porto. Dois dias antes, em declarações aos jornalistas no Parlamento, a associação de lesados havia já referido que os clientes iriam continuar a sua luta, voltando a "ir para a rua" pelos seus direitos. Nesse mesmo dia, o presidente do Novo Banco, Eduardo Stock da Cunha, ouvido na comissão de inquérito parlamentar do caso BES/GES, tinha dito que se recusava a "atirar a toalha ao chão" na questão do papel comercial, admitindo, contudo, que o banco tem um "cobertor que não dá para tudo". CONVERSAS CRUZADAS “Swiss Leaks é inaceitável”, diz Daniel Bessa A crise financeira de 2008 implica novo impulso no combate à evasão fiscal. “É problema global, sem soluções globais”, afirma Silva Peneda. Já Daniel Bessa, muito crítico, diz ser “por estas e outras que, às vezes, apetece-me juntar ao PC”. Por José Bastos Cem mil clientes do HSBC. Cem mil milhões de dólares (87 mil milhões de euros). Dos clientes com contas abertas em 2007, 611 estavam ligados a Portugal e 220 tinham passaporte ou nacionalidade portuguesa. Mil milhões de euros estão ligados a essas contas. Outras 6000 contas estão relacionadas com o Brasil. 11 Segunda-feira, 16-02-2015 Estes são números do “Swiss Leaks”, uma investigação do ICIJ com base em dados entregues ao fisco francês por um ex-informático do banco. Hervé Falciani denunciou informações sobre as contas do HSBC Private Bank na Suíça. Na lista dos clientes que alegadamente fugiram aos impostos estão políticos, monarcas, figuras do mundo do espectáculo, músicos, artistas, figuras do mundo do desporto. Mas também notórios traficantes de armas e de diamantes, entre outros nomes do mundo do crime. A crise e as acusações de vários esquemas de fraude colocaram a banca – os ‘offshores’ – no olho da tempestade crítica da opinião pública. Se esta elite milionária cumprisse a lei a enorme massa cidadã poderia pagar menos impostos? É apenas uma das perguntas que emerge do conjunto da cidadania. “A fuga ao fisco transforma a carga fiscal que incide sobre os cidadãos numa injustiça brutal”, defendeu Elisa Ferreira, eurodeputada em Estrasburgo. “É um dos temas em que a UE mais tem de avançar rapidamente”, afirmou. E agora? No Conversas Cruzadas, Silva Peneda responde: “O ter dinheiro numa conta na Suíça não é nada ilegal. Não é nenhum crime. De acordo com a lei portuguesa também não é ilegal ter uma conta numa ‘offshore’ qualquer, desde que o titular cumpra o princípio da tributação universal declarando todos os rendimentos ao Estado independentemente da origem ou localização desses rendimentos”, refere o economista. “O que esta investigação mostra é que há situações para fins ilegítimos. Como seja lavagem de dinheiro ou evasão fiscal. Pior: parece que o próprio banco ajudava, ensinava ou assessorava os clientes a fugir ao fisco. Aí reside o problema”, sublinha Silva Peneda. “Isto aconteceu entre 2006 e 2007 e o próprio banco já disse que modificou todos os processos internos e que hoje a situação não se repetiria. Diz agora o HSBC que já não seria possível ‘ensinar’ hoje os seus clientes a fugir ao fisco”, observa. Silva Peneda: “Lei é rigorosa na violação do segredo bancário” Daniel Bessa soma um nome à equação: Hervé Falciani. “Há um detalhe que é importante e eu não gostaria que passe despercebido”, sublinha o exministro. “As autoridades suíças viraram-se para o informático, voltaram-se para o funcionário do banco sem o qual a descoberta deste escândalo teria sido impossível”, observa o antigo ministro da Economia. “Uma das coisas que aprendi na vida é o não negligenciar os pequenos detalhes. Isso convida a sermos rigorosos. Eu não cedo um milímetro nestas questões”, garante Daniel Bessa. “Agora que o governo suíço resolve ‘cair em cima’ desse senhor? É extraordinário. O problema não é esse. O problema é que há aqui uma permissividade. São esquemas sofisticadíssimos montados para branquear dinheiro e fugir aos impostos”, faz notar o directorgeral da Cotec Portugal. Silva Peneda decifra a actuação das autoridades suíças: “A lei na Suíça é muito rigorosa para quem viola o segredo bancário e foi esse funcionário que a violou”. “A lei existe porque o que a Suíça quer é que muitos depositem lá dinheiro. Quer dar a garantia a quem deposita de que nunca se saberá. O ‘ir em cima’ do funcionário faz algum sentido”, afirma. Daniel Bessa contrapõe: “A lei parece, então, feita para proteger essas coisas. É por essas e por outras que, às vezes, apetece-me juntar ao PC, por exemplo. Porque o Partido Comunista Português foi sempre extremamente intransigente nestas matérias. Denunciou sempre isto. Com uma autoridade que não pode deixar de lhe ser reconhecida. Isto é inaceitável. Acho eu." E Portugal? “Acredito e... rio”, diz Bessa E Portugal? O número de contas ligadas a Portugal, potencialmente envolvidas em esquemas de evasão fiscal, via HSBC Suíça, foi revelado no domingo, 8 de Fevereiro: Mais de 600 clientes, um terço dos quais com passaporte nacional. O Ministério das Finanças pediu ao ICIJ – consórcio de jornalistas – a lista de portugueses para poder cruzar informações com dados de contas na Suíça. A PGR confirmou que o Ministério Público está a recolher “toda a informação” para decidir “o que deve fazer no âmbito das suas competências”. No Parlamento, Bloco e PCP querem saber que diligências fez o Governo sobre as investigações. Silva Peneda sustenta que “a justiça portuguesa só pode actuar se, de facto, conseguir ir à origem, apurar de onde apareceu este dinheiro, verificar que há um cidadão português que tem uma conta e não declarou às autoridades a origem desse dinheiro. A lei é clara: é uma atitude ilícita ter dinheiro numa conta – seja onde seja – e não o declarar”, defende o próximo adjunto de Jean Claude Junker. Num momento em que os partidos aproximam posições nas penas por corrupção e no enriquecimento injustificado, Daniel Bessa contrapõe: “Na ordem jurídica portuguesa não basta ter dinheiro não explicado na conta para um cidadão estar metido em trabalhos”, diz o ex-ministro da Economia. “Do lado do sistema de justiça português o que tenho ouvido é para, enfim, ver se fico mais sossegado, mas eu acredito... e rio”, faz notar Daniel Bessa. “O que havia a fazer? O tempo já passou. Está tudo prescrito. Muito desse dinheiro já foi regularizado lá com os ‘benditos’ 7%. Esse dinheiro andou por fora, mas já veio. Pagou os 5%, ou os 7%, e não é brilhante o resultado disto tudo”, numa alusão aos programas de amnistias fiscais envolvendo o repatriamento de capitais. Silva Peneda: “É problema global (ainda) sem soluções globais” Depois de sucessivos escândalos financeiros o que fazer? Aumentar a troca de informações? Cada Estado fornecer a todos os outros Estados os rendimentos lá ganhos pelos cidadãos dos outros países? Fim dos ‘offshores’? “Ou se resolve a nível europeu ou não tem solução nenhuma. Há aqui uma espécie de concorrência. Concordo que tem de ser resolvido a nível global, mas, pelo menos, a nível europeu terá de ser solucionado”, é o caminho apontado por Daniel Bessa. Silva Peneda defende que a política terá de ser libertar do jugo financeiro com um polícia global das finanças. “Do que disse ficou implícito que só se revolve com uma autoridade global que não existe. Uma autoridade global que possa ser responsável pela regulação de 12 Segunda-feira, 16-02-2015 todo este sistema financeiro”. “A crise que vivemos tem um rosto e o epicentro foi o sistema financeiro. A crise dá-nos lições. Uma delas: não foi o mercado a falhar, foi o sistema político que não foi capaz de controlar, de regular, de fiscalizar tudo isso. Isto é à escala planetária. Nós temos um problema global, mas não temos nem instituições globais, nem soluções globais”, sustenta Silva Peneda. “O sistema financeiro capturou o poder político. Portanto o sistema financeiro manda e o poder político não manda. A situação tem de ser invertida. Se o poder político mandar mesmo e estiver por cima do sistema financeiro poderá então aplicar esquemas de regulação”, defende o presidente do CES. “Não é fácil, porque há muitos interesses em jogo e é difícil que o poder político possa convergir neste ataque de forma deliberada, mas estou de acordo que seria um bom passo começar pela Europa. Mas se na Europa há casos destes quando olhamos para os paraísos fiscais, para as ilhas Caimão e do género vemos que há muito por fazer”, alerta Silva Peneda. Daniel Bessa remata, enfático: “O PCP assinaria por baixo. É a mesma luta”. Banco HSBC publica pedido de desculpas nos jornais A investigação "Swiss Leaks" divulgou informação confidencial sobre a filial do banco na Suíça, que revela alegados esquemas de evasão fiscal. O banco HSBC, envolvido num escândalo de fraude fiscal, publicou este domingo na imprensa britânica um pedido “das mais sinceras desculpas” pelas práticas na sua filial suíça. O banco é acusado de ajudar os seus clientes a fugiram aos impostos. No documento, o maior banco europeu admitiu ter falhado nas suas responsabilidades e controlo sob a sua operação na Suíça. “Devemos mostrar que percebemos que as sociedades que servimos esperam mais de nós. Por isso, pedimos as nossas mais sinceras desculpas”, lê-se na carta. O caso “Swiss Leaks”, que envolve milhões de euros e a que estão ligadas 600 contas relacionadas com Portugal, foi revelado pelo Consórcio Internacional de Jornalistas. “Não temos qualquer vontade de fazer negócios com clientes que estão a fugir aos impostos ou que não correspondem às nossas normas sobre crimes financeiros”, acrescenta o documento. O Comité do Tesouro britânico já chamou o chefe executivo e o presidente do banco para darem esclarecimentos sobre o caso. A investigação, baptizada "Swissleaks", revela documentos fornecidos por um informático, Hervé Falciani, ex-trabalhador do HSBC em Genebra, ao governo francês em 2008, que deu início a uma investigação. O jornal francês “Le Monde” teve acesso a parte da documentação e partilhou-a com aquele consórcio e com jornalistas de mais de 40 países. Portugal também está envolvido com um total de 969 milhões de dólares (855,8 milhões de euros) depositados no HSBC Private Bank, distribuídos por 778 contas bancárias de 611 clientes. A informação divulgada refere ainda que a maior quantidade de dinheiro de um cliente do banco ligado a Portugal é de 161,8 milhões de dólares (142,9 milhões de euros). A Procuradoria-Geral da República garante que está a recolher informação sobre o caso e que não deixará de actuar, caso existam indícios que o justifiquem. V+ INFORMAÇÃO Ainda há amianto para retirar nas escolas Neste noticiário: alerta nas escolas para retirar amianto que ainda preocupa; Egipto diz ter bombardeado alvos do autoproclamado Estado Islâmico na Líbia, em resposta a alegada decapitação de 21 cristãos egípcios; o perfil do dinamarquês que atacou este fim-de-semana; combustíveis sobem; Grécia em negociações; chicotada psicológica no campeonato e um líder irredutível. Por Maria João Cunha FORA DA CAIXA Renascença dá pastéis de Belém a Santana e Vitorino São pré-candidatos ao Palácio de Belém e tiveram direito à mais famosa iguaria daquela zona de Lisboa. No Dia Mundial da Rádio, os comentadores do Fora da Caixa conheceram os ouvintes. "Se houvesse só a rádio, era um homem mais feliz”, disse Vitorino. "Porque talvez as pessoas pensassem que eu tinha um metro e oitenta, cabelo louro e olhos azuis". Por José Pedro Frazão Escadas ou elevador? Há momentos em que um político tem que fazer escolhas que quase parecem sondagens. Quando Santana Lopes e António Vitorino saíram do estúdio alternativo para percorrer corredores 13 Segunda-feira, 16-02-2015 carregados de ouvintes (era o Open Day, o dia em que a Renascença abre as portas aos ouvintes), as escadas – escolhidas com naturalidade – tornaram-se um teste de popularidade. "Olá, como está?". Santana cumprimenta quem lhe aparece. Há sorrisos de surpresa pelo contacto com os presidenciáveis. Vitorino corresponde. A rádio é um banho de multidão na maior intimidade. Do segundo para o primeiro andar, sobe a fasquia. Mais gente comenta a presença dos possíveis candidatos a Belém. Vieram para gravar o programa Fora da Caixa (o programa pode ser ouvido esta sexta-feira, depois das 23h00, na Renascença). Santana e Vitorino são conduzidos a um segundo encontro, este em directo. "Quanto tempo temos?". A animadora Sónia Santos dá-nos cinco minutos para lembrar que o programa já leva um ano. A rádio é um paradoxo de rotinas. Há que quebrá-las para fazer parte delas. E alguém teve uma ideia extraordinária para o regresso ao estúdio habitual. "Pastéis de Belém! Isto é para si!", diz Vitorino, enquanto aponta a Santana um pequeno prato cheio de ironia política. O comentador socialista quer registar o momento, puxa do telemóvel entre gargalhadas O social-democrata graceja: "Tem que estar mais próximo de si". As sondagens são o que são. "O melhor programa que fiz" Estamos em directo. "Como tem sido a aventura deste ano de programas?", perguntam-nos. "Passe a presunção, temos feito excelentes debates", responde Santana. "Não há nenhum programa que tenha feito até hoje em televisão ou rádio que tenha gostado mais do que este que aqui faço. Sinceramente, se não o pensasse e não o sentisse não o diria. É um bom programa, é muito bem moderado, tenho um excelente parceiro, nesta grande casa. Sabe muito bem vir todas as semanas pensar fora da caixa". Vitorino diz que o programa quebra com "uma certa 'lógica assassina' que existe em muitos debates públicos, este programa tem essa vantagem. Podemos estar de acordo ou em desacordo, mas pelas ideias". A rádio não nos distrai com a imagem, como outros meios, observa Vitorino. "Se houvesse só a rádio, era um homem mais feliz. Porque talvez as pessoas pensassem que eu tinha um metro e oitenta, cabelo louro e olhos azuis". Mesmo com as câmaras da Renascença V+, que levam o programa ainda mais longe, Santana reconhece neste programa "a possibilidade de reflectir e comunicar com tranquilidade, sem a pressão que a televisão tem em cima de nós, com luzes e muitas pessoas à volta. E eu gosto de fazer televisão." A homenagem que a televisão presta à rádio é tentar imitá-la – palavra de Vitorino. "Não há aqui outro tipo de agendas", tinha acabado de dizer. Depois do directo, Santana arriscou provar os pastéis de Belém. E saíram de novo juntos, para os apertos de mão na histórica escadaria da Rua Ivens, no Chiado, em Lisboa. O programa Fora da Caixa é uma parceria Renascença/Euranet, para ouvir depois das 23h00 de sexta-feira. Conselho Deontológico defende que jornalista não pode ser cúmplice de ninguém Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas emite nota relacionada com alegadas quebras do segredo de justiça. O Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas defende que o jornalista não pode ser nem "cúmplice do investigado nem dos investigadores", numa nota sobre o segredo de justiça e os profissionais da comunicação social. "Esta profissão trabalha para aumentar a liberdade dos cidadãos na formulação de juízos ponderados de valor em matérias de relevância pública - não para encobrir a delinquência, venha ela de onde vier", lê-se numa nota do conselho deontológico sobre a relação dos jornalistas com o segredo de justiça. Em declarações à agência Lusa, a presidente do conselho deontológico, São José Almeida, afirmou que este órgão "respeita o segredo de justiça", sem que isso impeça o trabalho dos jornalistas, e justificou que esta nota se destina a todos os jornalistas, em especial aos jovens jornalistas. "Nem cúmplice do investigado, nem dos investigadores, este deve ser o lema do jornalista digno de tal nome", lê-se ainda na nota, divulgada numa altura em que há vários casos mediáticos em curso, entre eles o processo que levou à detenção do exprimeiro-ministro, José Sócrates, ou ainda do caso dos vistos "gold", que levou à detenção do director do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). Para o órgão deontológico dos jornalistas, é preciso "encontrar a justa medida da convivência" entre os valores do direito de informar e o segredo de justiça. Depois de lembrar que o segredo de justiça visa proteger a investigação criminal e garantir o respeito pela presunção da inocência do investigado, este órgão do SJ recomenda que o jornalista "não deve prejudicar a investigação judicial" e lembra que também não deve "divulgar peças de processo que não investigou", se "tão-somente as recebeu de um interveniente no processo judicial". "Reproduzir tais peças, sem contraprovas nem contraditório, transforma o jornalista em porta-voz: não está a ser jornalista, está a fazer propaganda de um dos lados do processo, que tem interesse em tornar pública tal `indiscrição`", lê-se ainda no texto. Se um jornalista "tiver conhecimento de uma peça ou episódio do processo em segredo de justiça, não fica coarctado do direito a informar", afirma o conselho deontológico que, "pelo contrário", sublinha ser "seu dever dar público conhecimento, sempre que detecte uma irregularidade, um abuso, em suma, algo que 14 Segunda-feira, 16-02-2015 perverta as normas de equilíbrio de armas entre acusação ou defesa". "Essa é uma missão de vigilância ao serviço da cidadania a que um jornalista não pode furtar-se, sejam quais forem as ameaças do prevaricador que o deseje silenciar, usando como escudo o lado formal do segredo de justiça", concluiu. FRANCISCO SARSFIELD CABRAL Transparência nos media Existem casos que podem envolver relações de domínio e de afectação da independência da comunicação social. Por isso a transparência “é um instrumento essencial para protegermos a liberdade de Imprensa e a liberdade editorial dos jornalistas”. OPINIÃO A receita para combater a corrupção tem dez ingredientes A Associação Transparência e Integridade é uma organização não governamental que se dedica a combater a corrupção. A convite da Renascença, Luís de Sousa, presidente da associação, elenca dez medidas para activar o que diz ser o "inexistente" combate à corrupção. Ilustração: Freepik Por Luís de Sousa O Governo vai avançar com legislação sobre a transparência dos órgãos de comunicação, tornando obrigatoriamente públicos os seus proprietários, os seus principais credores e quem tenha concedido aos media doações e apoios similares. Elogiando a iniciativa, o deputado do CDS-PP José Ribeiro e Castro propôs incluir nela também um “conhecimento claro dos anunciantes”. Tenho a sorte de trabalhar num órgão de informação, a Renascença, onde a transparência é total. E quando passei pela direcção do "Público" pude confirmar que o engenheiro Belmiro de Azevedo, o proprietário, sempre se manteve escrupulosamente alheio à orientação editorial do seu jornal. Mas nem todos os proprietários de media procedem de igual forma – a qual, de resto, é uma maneira inteligente de dar credibilidade ao órgão de informação em causa. Como disse Ribeiro e Castro à agência Lusa, existem casos que podem envolver relações de domínio e de afectação da independência da comunicação social. Por isso a transparência “é um instrumento essencial para protegermos a liberdade de Imprensa e a liberdade editorial dos jornalistas”. 1. ABRIR O DEBATE À SOCIEDADE CIVIL Fecharmo-nos e tornar o processo hermético, sem ouvir peritos, sem ouvir pessoas que estão no terreno e que podem dizer se de facto este tipo de moldura penal lhes vai ou não trazer mais eficácia no combate à corrupção, sem ouvirmos académicos, juristas – mas não sempre os mesmos. A mesma doutrina penal tem levado a resultados muito fracos ao longo dos anos nesta matéria. Não partir do pedestal em que 'mal de nós pensarmos em opções desta natureza que são praticadas por democracias frágeis'. 2. TER HUMILDADE Portugal não está propriamente numa condição sã em termos do funcionamento das suas instituições, sobretudo da justiça, e, se calhar, temos de ser um bocadinho humildes e aprender com outras democracias que têm vindo a implementar este tipo de medidas para limpar a imagem do país. Criar um ambiente de negócios com uma imagem de eficácia, de modernidade, mas também de integridade. Por isso é que nós (TIAC) somos a favor que, independentemente deste crime ser de natureza não vinculativa, Portugal cumpra este compromisso assumido internacionalmente, sem prejuízo das liberdades e garantias defendidas na Constituição, porque há uma questão reputacional que está em jogo. Temos de dar mensagens claras de que estamos a andar para a frente, que não estamos num regime de impunidade, e que pessoas que enriqueceram 15 Segunda-feira, 16-02-2015 ilicitamente poderão vir a ser sancionadas e a ver o património que geraram ilicitamente ser recuperado para o Estado. 3. RECUPERAR OS ACTIVOS ILÍCITOS Qualquer proposta que seja apresentada nesta área deverá ser sempre discutida juntamente com medidas que visem a recuperação dos activos ilícitos. Estamos a criminalizar o enriquecimento ilícito, mas depois a permitir ao infractor que, apenas cumprida a pena de prisão, que muitas vezes vai ser de prisão suspensa, possa depois disfrutar de todo esse dinheiro e dos bens que receberam ou que foram angariados ilegalmente. 4. CRIMINALIZAR A CAUSA DA CORRUPÇÃO Decidir se queremos incriminar o enriquecimento em si só ou a justificação desse enriquecimento, ou ambos. São questões a ser ponderadas, com a questão do montante e da abrangência. Se não forem clarificadas à partida, dificilmente este crime vai ter pernas para andar. Vai ter uma aplicação difícil, com problemas de interpretação, e que vai levar a situações de infindável recurso e tudo aquilo que gera instabilidade e ineficácia relativamente a este tipo de novas molduras penais. 5. CONTROLO DA RIQUEZA DE DETENTORES DE CARGOS PÚBLICOS O controlo nunca foi feito! Aliás, há uma dispersão de declarações obrigatórias que têm de ser prestadas, uma de interesses, junto do Parlamento e da Comissão de Ética; há a declaração de impedimentos e incompatibilidades, junto do Tribunal Constitucional, a declaração patrimonial também junto do TC, que recolhem diferentes elementos de informação e que não cruzam nada. Não é feita a verificação da veracidade dos conteúdos. Sem criar esse sistema robusto de controlo, que vai detectar as situações de possível enriquecimento ilícito, não vamos a lado nenhum. 6. FORNECER MAIS MEIOS DE INVESTIGAÇÃO Sem condições para trabalhar não se vai a lado nenhum, mas eu iria mais longe: é preciso ter em conta que as várias unidades especializadas dentro do Ministério Público - os DIAP, o DCIAP – trabalhem numa rede de coordenação reforçada ou então que se preveja a criação de uma agência especializada no combate à corrupção. Há quem sugira a criação de tribunais especializados em crime de colarinho branco, mas teria de ser discutido tendo em conta esta visão holística. 7. AUMENTO DOS PRAZOS DE PRESCRIÇÃO DOS CRIMES A prescrição de crimes de colarinho branco vai ter que ser reformulada. Fechar as possibilidades, como as manobras de natureza dilatória por parte da defesa, os infindáveis recursos – tivemos casos com 48 recursos em que já não se estava a tratar a substância do caso, estava-se a tentar ganhar na secretaria e fazer com que parte dos processos prescrevessem, e alguns acabaram por prescrever. 8. CRIAR MECANISMOS DE PROMOÇÃO DE DENÚNCIAS E PROTECÇÃO DE DENUNCIANTES A lei nº 19 de 2008, no artigo 4º, fala na protecção de denunciantes e está prevista na convenção da ONU. Mas, como muitas vezes se faz para transpor alguns destes princípios, fazem-se leis para inglês ver. A protecção que se dá a denunciantes é inexistente. Aliás, estamos numa situação talvez pior hoje do que estávamos quando não tínhamos este artigo - porque anteriormente ninguém se arriscava. Nós (TIAC) fizemos um inquérito à população portuguesa em 2006 onde ficou claro que das três principais razões pelas quais os portugueses não denunciariam casos de corrupção, a primeira é porque tinham medo de represálias e a segunda é porque achavam que a sua denúncia iria ser inconsequente. "Denunciar para quê? Eles não vão fazer nada…" A lei dá a impressão que existe protecção de denunciantes. No caso do advogado da Bragaparques, de um momento para o outro viu-se sozinho no campo de batalha, sem protecção e ainda sofreu represálias. 9 – REFORÇAR MECANISMOS DE COOPERAÇÃO BILATERAL Com o caso dos submarinos surgiu outra questão, mas que vai para lá da capacidade do nosso governo e tem de ser resolvida a nível internacional: reforçar os mecanismos de cooperação bilateral e de cartas rogatórias. Muitos destes procedimentos já estão desactualizados e precisam de ser revistos com a máxima urgência. Continua-se a utilizar a rede diplomática para fazer passar as cartas rogatórias, e, como no caso dos submarinos, se tivemos algumas entidades implicadas no processo estes mecanismos não lhes podem passar pelas mãos, senão há um conflito de interesses. 10 – DESCRIMINALIZAR A DIFAMAÇÃO Uma medida que ajuda a mitigar este estado de impunidade e que tem a ver com o trabalho dos jornalistas, de associações cívicas como a nossa e com o trabalho de algumas personalidades que publicamente têm combatido e mostrado coragem de denunciar a corrupção, e que se vêem ameaçados por uma espécie de ‘bullying’ institucional, pago com recursos do contribuinte e muito desnivelada, é o facto de a difamação ser tratada como crime. Somos a favor da descriminalização da difamação. A partir de uma entrevista concedida à jornalista Matilde Torres Pereira 16 Segunda-feira, 16-02-2015 GRAÇA FRANCO O melhor dia para acabar namoro No dia da Rádio que acompanha em pano de fundo tantos namoros, faz sentido pensar no papel que cabe aos média na promoção dos comportamentos desejáveis em sociedade e no combate ao crime e aos comportamentos desviantes. Em pleno pico de audiências, no Telejonal das oito, de um dos principais canais de TV nacional, promovia-se ontem, escandalosamente, o filme que acaba de estrear e é já sucesso de bilheteiras e que glosa à exaustão o universo sado-masoquista. Passam as imagens da praxe e deixam-se subentender as demais. Em todas, domínio, violência humilhação. Mulher amarrada, vendada, chicotes e congéneres. Sob a capa de “erotismo”, banaliza-se a violência. Nada que não aconteça em múltiplos conteúdos (das telenovelas às séries importadas). Típico de uma sociedade que cada vez menos se dá ao luxo de pensar. Minutos antes, o pivot (com ar empenhado e compungido) dava voz à noticia da recém lançada campanha contra a violência no namoro (a versão soft e antecipada do drama da violência doméstica). Uma série de figuras públicas declaram solenes: “Quem te agride, quem tenta dominar-te, quem te humilha, não te ama”. A reportagem que se segue fala de jovens que assistem a cenas de violência física e psicológica entre os seus companheiros com estatuto de “namorados”. Aparentemente, nenhum daqueles jovens acha que é caso para chamar a polícia, por mais crime público que estas situações configurem. Por detrás desta aparente tolerância cómoda e cúmplice com as desventuras alheias, está a velha máxima: são adultos (e muitíssimos deles nem sequer são…), é lá com eles. Ela aceita? Azar. Problema dela. Versão revista do velho ditado “entre marido e mulher, que ninguém meta a colher!”, que legitimou durante décadas a passividade cúmplice das famílias e vizinhos com vidas de inferno vividas à frente de toda a gente. Cândida, uma repórter, cito de memória, pergunta às mulheres que saem da sala de cinema, depois da exibição sado-maso, se não pensam que o filme pode servir para “ animar” ( ou será que disse mesmo “inspirar”?…) as respectivas relações. Só faltou aconselhar o programa “a dois” para o dia dos namorados. Menos mal que entre as respostas surgiram também algumas de elementar bom senso. Gente desprevenida? Talvez. Mas sempre foram dizendo que “violência por violência não anima ninguém”. Sobretudo “sem ponta de romantismo”. E se o romantismo estiver lá na versão “quanto mais me bates, mais gosto de ti”? Aí, fica tristemente implícito que talvez já pudesse “animar”. Ficava para trás o mote declinado pelas estrelas de TV e futebol em jeito de aviso ao publico juvenil, em apoio à campanha governamental, como se os dois temas não tivessem nenhuma ligação. Na origem da campanha, está um estudo recente sobre a prevenção da violência doméstica, onde se mostra que um em cada quatro inquiridos entre os 15 e os 24 anos admite ter sido já pelo menos “uma vez” vítima de violência física no namoro. E onde mais de metade se reconhece como ocasional vítima de violência psicológica. Nada que não soubéssemos há mais de dois anos, quando se lançou uma outra campanha governamental “namorar com fair-play”, na sequência de um outro estudo que apontava para os mesmos níveis de violência. Nada piorou durante estes anos, garante o Governo. E melhorou? Também não. Isso já nos deveria levar a sentar para pensar o que se fez entretanto que vacinou estes miúdos e os tornou imunes a qualquer campanha. Tenho para mim que o que aconteceu foi exactamente esta promoção subtil da violência, supostamente “erótica”, que começa das abomináveis práticas praxistas de humilhação e submissão (do secundário à Universidade) e termina na visão egocentrista da busca do prazer próprio à custa da dominação alheia. Uma violência latente que tal como nos rituais praxistas é sempre legitimada pelo “livre” consentimento do lesados. Como se não houvesse mal em regressar à escravatura desde que os novos escravos se dissessem felizes por terem emprego vitalício assegurado pelos seus senhores. No dia da Rádio que acompanha em pano de fundo tantos namoros, faz sentido pensar no papel que cabe aos média na promoção dos comportamentos desejáveis em sociedade e no combate ao crime e aos comportamentos desviantes. A questão coloca-se como nunca quando nos confrontamos com fenómenos como os da violência doméstica. É um risco pensar que a primeira agressão pode ser a única. É nosso dever alertar para o facto de que “quase nunca é”. A maior parte das vezes, dizem os especialistas, é tão só “ a primeira de muitas”. A vítima agarra-se à hipótese “ pode ser que não”. Mas se a redenção é incerta uma coisa é segura: qualquer agressão pode sempre ser a “última”. Fazer com que o seja, só depende da coragem da vítima de pôr fim à relação que só na aparência pode considerar-se “amorosa”. É nosso dever gritar: que amanhã o dia dos Namorados é uma óptima ocasião para acabar com certos namoros. 17 Segunda-feira, 16-02-2015 Maioria dos abusos sexuais de menores acontece no seio da família Quantas vidas cabem no YouTube? Dez anos em 100 segundos Em Portugal, não há prevenção dos abusos nem programas para tratar jovens agressores sexuais. Metade dos abusadores adultos começaram na adolescência. A plataforma de partilha de vídeos foi registada há dez anos, a 15 de Fevereiro de 2005. Actualmente recebe 432 mil horas de vídeo por dia. A larga maioria dos abusos sexuais de menores acontece no seio da família ou é cometida por pessoas “muito próximas” da vítima, alerta Rute Agulhas, psicóloga forense do Instituto de Medicina Legal de Lisboa, lembrando em Portugal não se faz prevenção dos abusos sexuais de menores, ao contrário do que acontece, por exemplo, em Espanha. “Mais de 70%, 75% são abusos intrafamiliares, não necessariamente com uma filiação biológica, com um laço biológico, mas pessoas muito próximas, muitas vezes por afinidade e que têm conhecimento próximo da vítima. Os casos cometidos por estranhos são muito menos representativos”, revela à Renascença. Rute Agulhas defende que a partir dos três ou quatro anos, os pais devem começar a advertir os filhos contra os riscos de virem a ser abusados, mas que não é preciso falar sobre “masturbação ou penetração”. A psicóloga explica que “é importante desmistificar porque muitas vezes não só os profissionais mas também os pais têm alguma dificuldade em pensar ‘como é que eu vou falar com o meu filho de três ou quatro anos sobre isto?’”. “Temos que falar sobre outro tipo de questões. Temos que ensinar às crianças o que é o corpo, quais são os direitos sobre o corpo, de quem é aquele corpo, quem pode mexer, quem não pode mexer, como é que pode mexer”, exemplifica. Falta prevenção Em Portugal, não há prevenção dos abusos sexuais de menores ou um programa específico para tratar jovens agressores sexuais, o que se torna imperativo quando as estatísticas mostram que metade dos abusadores adultos começaram na adolescência. Esta especialista diz que a terapia deve ser começada o mais cedo possível porque trabalhar “com um indivíduo de 40 ou 50 anos que tem estas práticas muito mais cristalizadas” é muito mais difícil do que com um jovem. “A resistência à mudança é muito maior”, sublinha. Os centros educativos, onde são internados os agressores sexuais menores de 16 anos, além de estarem sobrelotados, não têm terapia adequada para estes jovens. O livro “Casos Práticos em Psicologia Forense” resultou da experiência de Rute Agulhas e Alexandra Anciães, também psicóloga forense. Declarações da psicóloga forense Rute Agulhas ao programa “Em Nome da Lei” da Renascença, emitido ao sábado, logo a seguir ao meio-dia. Um vídeo banal de 18 segundos num jardim zoológico marcou há 10 anos o início do projecto Youtube, que envolve actualmente mil milhões de pessoas por mês e que em cada minuto recebe 300 horas de vídeo. O domínio Youtube foi registado a 15 de Fevereiro de 2005, celebrando este domingo dez anos de existência, mas só a 23 de Abril desse ano foi carregado o primeiro vídeo. Uma década depois a plataforma de partilha de vídeos recebe 432 mil horas de vídeo a cada dia que passa e tem mil milhões de utilizadores. PARCERIA RENASCENÇA/VER Nova geração de crises humanitárias devasta milhões de crianças Foto: VER Por Gabriela Costa No final de Janeiro, a UNICEF lançou o maior apelo de sempre: angariar financiamento na ordem dos 3,1 mil milhões de dólares, para garantir auxílio a 62 milhões de crianças em risco. Com o agravamento de conflitos armados em várias regiões do mundo e a devastação do Ébola na África Ocidental, 2014 revelou-se um ano negro para a infância. A intervenção requer agora uma abordagem assente numa “revolução inovadora”. “O lugar onde uma criança nasce não deveria determinar o seu destino”. Mas determina. Actualmente, mais de uma em cada dez crianças no 18 Segunda-feira, 16-02-2015 mundo vive em países e zonas afectadas por conflitos armados. Do total, a nível mundial (2,3 mil milhões de crianças), 15% são forçadas a trabalho infantil. Mais de 80% dos meninos ou meninas com idades entre os dois e os 14 anos foram submetidos a disciplina violenta, em metade dos países sobre os quais o relatório da UNICEF "The State of the World’s Children" disponibiliza informação. Cerca de 20% dos mais pobres - especialmente em zonas rurais - têm o dobro das probabilidades, comparativamente aos mais ricos, de sofrer um atraso no crescimento devido a subnutrição e de morrer antes de completar cinco anos de idade. E a verdade é que, só em 2012, cerca de 6,6 milhões de crianças com menos de cinco anos morreram, devido a causas evitáveis. Também em 20% dos casos, as crianças mais carenciadas do mundo têm 2,6 vezes menos hipóteses que as ricas de nascer com o acompanhamento de um profissional de saúde qualificado. Nos países em desenvolvimento, quase nove em cada 10 crianças que residem nos bairros mais ricos frequentam o ensino básico, contra apenas seis em 10, nos bairros pobres. Na África subsaariana, a possibilidade de as crianças pobres frequentarem a escola primária diminui 4,5 vezes, face às ricas. Já na Ásia meridional, quase uma em cada três meninas adolescentes está actualmente casada. Podíamos escrever todo este artigo só com números. Infelizmente, a lista mundial da vergonha que grassa pelos quatro cantos do mundo – e se instala nuns, mais do que noutros – no que diz respeito aos direitos mais básicos da Criança, é interminável. E desumana. A necessidade de acção humanitária para auxiliar os mais pequenos, apanhados sem qualquer protecção em guerras violentas, crises políticas e sociais, catástrofes naturais ou epidemias, não pára de aumentar. Leia mais no portal VER. Países mais afectados querem erradicar ébola até Abril Guiné-Conacri, Serra Leoa e Libéria pretendem alcançar "zero infecções" dentro de 60 dias. Foto: Hmed Jallanzo/EPA Os líderes dos três países da África Ocidental mais atingidos pelo surto de Ébola comprometeram-se, numa cimeira na Guiné-Conacri, no domingo, a erradicar o vírus até meados de Abril. O surto, que começou há 14 meses, fez mais de 9.200 mortos na Guiné-Conacri, Serra Leoa e Libéria. O Presidente da Guiné-Conacri, Alpha Conde, e os seus homólogos da Libéria e Serra Leoa, Ellen Johnson Sirleaf e Ernest Bai Koroma, fizeram a promessa na sequência de uma jornada de reuniões à porta fechada na capital da Guiné-Conacri. O compromisso passa por alcançar "zero infecções" dentro de 60 dias. A reunião teve lugar no fim-de-semana em que se ficou a saber que o Governo da Serra Leoa perdeu o rasto a mais de três milhões de dólares destinados ao combate da doença. O que é o ébola? Perguntas e respostas sobre o vírus 19 Segunda-feira, 16-02-2015 Egipto bombardeia "jihadistas" que decapitaram cristãos Polícia mata a tiro suspeito dos ataques de Copenhaga Caças da força aérea egípcia atacaram campos de treino dos extremistas na Líbia. Duas pessoas morreram e cinco ficaram feridas como resultado dos dois tiroteios deste fim-de-semana na capital dinamarquesa, considerados actos terroristas pelo governo. A força aérea do Egipto realizou ataques aéreos na Líbia. O alvo foram posições dos terroristas do autoproclamado Estado Islâmico (EI). Os bombardeamentos foram anunciados pelas forças armadas egípcias numa declaração transmitida pela televisão. Os caças da força aérea do Egipto visaram campos de treino dos extremistas e arsenais de armamento localizados em solo líbio. A Líbia também participou nos raides desta segundafeira de manhã. Entre 40 a 50 militantes foram mortos nos bombardeamentos, avança o comandante da força aérea líbia. Os ataques acontecem um dia depois de os jihadistas do Estado Islâmico terem divulgado um vídeo da decapitação de 21 cristãos egípcios raptados na Líbia. No vídeo são visíveis homens vestidos de preto e armados que obrigam os detidos, de laranja, a colocaram-se de joelhos antes de serem decapitados. As imagens, ainda não confirmadas por fonte independente, estão a ser divulgadas por um site alegadamente pertencente a apoiantes do grupo terrorista. Um dos jihadistas diz: "Segurança para os vossos cruzados é algo que vocês só podem desejar". O acto terrorista já mereceu uma forte condenação dos Estados Unidos. A Casa Branca fala de assassinato "cobarde e desprezível". O Presidente francês também já condenou o “selvagem” assassinato na Líbia. François Hollande reforçou que a França e os seus aliados estão determinados em combater os radicais islâmicos. O Egipto declarou sete dias de luto nacional pela morte dos 21 cristãos às mãos do autoproclamado Estado Islâmico. O que é o Estado Islâmico? [notícia actualizada às 9h15] A polícia dinamarquesa matou a tiro o suspeito dos dois tiroteios que aconteceram em Copenhaga no sábado e na madrugada de domingo, que fizeram dois mortos e cinco feridos. Depois do suspeito ter fugido a pé do segundo local, a polícia organizou uma operação de caça ao homem com o apoio de helicópteros e veículos militares até às 05h00 da madrugada quando localizaram o suspeito e abateram-no a tiro. “Assumimos que é o mesmo culpado responsável pelos dois acidentes quem foi morto pela polícia”, disse Torben Molgaard, inspector da polícia, aos jornalistas. A primeira-ministra descreveu o primeiro tiroteio – de características semelhantes ao do Charlie Hebdo em Janeiro – como um ataque terrorista. “Temos a certeza que foi um ataque de motivos políticos e por isso, um ataque terrorista”, considerou Helle Thorning-Schmid. O primeiro tiroteio aconteceu no sábado, em Copenhaga, perto de um centro cultural onde estava o artista sueco Lars Vilks, conhecido pelos seus cartoons controversos alusivos a Maomé e ao Islão, no âmbito de um debate sobre arte, blasfémia e liberdade de expressão. O artista, que provocou grande controvérsia quando, em 2007, publicou um desenho em que retratava o Profeta Maomé como um cão, considera ter sido ele o alvo do ataque. “Que outro motivo pode haver? É possível que [o atirador] se tinha inspirado no Charlie Hebdo”, disse à agência Associated Press. Na madrugada de domingo foi registado um novo tiroteio numa sinagoga da capital dinamarquesa. Uma pessoa morreu e dois polícias ficaram feridos. O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, disse que os ataques na Dinamarca foram “outro ataque terrorista brutal para atingir os nossos valores fundamentais da liberdade, incluindo a liberdade de expressão.” Também a Arábia Saudita condenou o que chamou de “feios incidentes terroristas e criminais”, que resultaram “na morte e no ferimento de inocentes”. Em Portugal os ataques foram recebidos com pesar e considerados "particularmente chocantes porque atentam contra a liberdade de pensamento e de expressão" e contra um local de fé, referiu o Ministério dos Negócios Estrangeiros em comunicado. [Notícia actualizada às 14h25] 20 Segunda-feira, 16-02-2015 COMBATE AO TERRORISMO "Controlo de fronteiras externas da Europa demora cinco a sete anos a aplicar" António Vitorino, antigo comissário europeu responsável pela pasta do combate ao terrorismo, considera que as medidas tomadas no último Conselho Europeu não são de implementação imediata. Por José Pedro Frazão Combate ao terrorismo. "Controlo de fronteiras externas da Europa demora cinco a sete anos a aplicar" O antigo comissário europeu António Vitorino considera que, a curto prazo, não será possível implementar o controlo integral das fronteiras externas da União Europeia. A medida faz parte do pacote de decisões de combate ao terrorismo tomadas no último Conselho Europeu. Vitorino, antigo comissário europeu responsável pela pasta do combate ao terrorismo, considera que as medidas tomadas no último Conselho Europeu não são de implementação imediata. Na última reunião informal, realizada na quinta-feira, em Bruxelas, os chefes de Estado e de Governo da União Europeia decidiram apelar à criação urgente de um Registo Europeu de Identificação de Passageiros, a um reforço dos controlos das fronteiras externas e à intensificação de partilha de informações pelas autoridades policiais e judiciais, entre outras medidas. "Reforçar as fronteiras externas é importante, o risco era mexer nas fronteiras internas. O registo integral das entradas e saídas do espaço Schengen pelas fronteiras externas não é implementável do dia para a noite. Exige uma parafernália que não está montada", sustenta o antigo ministro da Defesa. Para António Vitorino, "no curto prazo, o que se exige é que o actual sistema de informações Schengen funcione a sério. Para isso, é preciso que todos os países, sem excepção, incluam no sistema os seus dados sobre os suspeitos". O antigo comissário admite que, no curto prazo, o que está instalado pode funcionar se os países se aplicarem no que devem fazer. "Numa perspectiva futura, um registo mais amplo do sistema actual demora cinco a sete anos a ser aplicado", estima o comentador da Renascença, em declarações no programa Fora da Caixa, onde comenta a actualidade europeia com Pedro Santana Lopes, todas as sextas-feiras, depois das 23h, numa parceria com a Euranet/rede europeia de rádios. RIBEIRO CRISTÓVÃO Vendaval de palavras Quanto aos desmanados da semana, em que se envolveram especialmente Sporting e Benfica, trata-se de uma batalha verbal e escrita sem sentido, da qual ninguém sai a ganhar. Depois de uma semana arrasadora para o futebol português, marcada por incidentes lamentáveis cujas consequências estão longe de ficar devidamente apuradas, e cujo balanço continua a ser feito aos mais diversos níveis, o jogo voltou aos estádios e consigo trouxe algumas novidades. Quanto aos desmanados da semana, em que se envolveram especialmente Sporting e Benfica, trata-se de uma batalha verbal e escrita sem sentido, da qual ninguém sai a ganhar. Sobre o assunto, assumido pelas partes envolvidas no conflito já aqui assumimos posições claras, ou seja, nada do que se passou contribui para a pacificação do futebol, por culpa exclusiva de alguns dos seus dirigentes. Bom seria que cada um assumisse as suas responsabilidades e, em vez de corte de relações, houvesse entendimento para que todas as partes envolvidas se sentassem à mesa para, a partir daí, assentarem na forma mais correcta que conduza à salvaguarda de um negócio do qual fazem parte, mas que poucas vezes parecem defender. Dos jogos que preencheram a jornada, e essa é a parte do futebol mais interessante, a nota principal deve ser atribuída às vitórias do Porto e do Benfica, enquanto o Sporting cedeu novo empate afastando-se por via disso dos lugares da dianteira os quais, a partir de agora, ficam menos ao seu alcance. Frente ao Vitória de Guimarães, os portistas asseguraram primeiro a vitória para logo a seguir desligarem a corrente deixando correr o jogo sem grandes riscos. O Benfica voltou a vencer o Vitória de Setúbal 21 Segunda-feira, 16-02-2015 iniciando muito cedo a construção desse sucesso que nunca esteve em dúvida, não obstante os lapsos de um árbitro com uma visão algo vesga em relação a alguns dos lances que marcaram o jogo. Os jogadores do Sporting mandaram às malvas o aviso de véspera do seu treinador para quem “homens a sério respondem no jogo seguinte”. Ainda marcados pelo que acontecera frente ao Benfica, os leões estiveram ausentes de um desafio que poderia ter sido aproveitado para uma clara afirmação da qualidade do seu futebol. Agora, feitas as contas, até o terceiro lugar começa a estar em risco, pelo que o futuro é mais feito de dúvidas do que de certezas. REVISTA DA IMPRENSA DESPORTIVA Luta a dois "Fuga a dois", lê-se na manchete do diário O Jogo, no balanço da jornada do fim-de-semana, marcada pela perda de terreno do Sporting face a Benfica e FC Porto. O Record sublinha que "Campeão não treme" e o diário A Bola fala em "Poder de fogo" do Benfica na Luz. O Benfica está, assim, em destaque nas primeiras páginas, mas só na de O Jogo há referências a falhas da arbitragem em prejuízo do Vitória de Setúbal. Sobre o FC Porto, O Jogo destaca a eficácia da mais recente dupla de centrais: "Marcano e Maicon trancam a baliza". Sobre o Sporting, o jornal nortenho escreve "Rosell lançado aos lobos", avançando que o espanhol será o substituto de William Carvalho frente ao Wolfsburgo. Sobre este duelo da Liga Europa, o record avança outro dado: Mané será aposta em Wolfsburgo". [Simi] Belenenses 1-1 Sporting [Rui Fonte; Carlos Mané] Rio Ave 1-1 Moreirense [Hassan; André Simões] Penafiel 3-4 Marítimo [Rabiola, André Fontes, Guedes; António Xavier, Ebinho, Raul, Marega] Benfica 3-0 Vitória Setúbal [Jardel e Lima (2)] Académica 0-0 Boavista Sp. Braga 2-0 Arouca [Zé Luis, Éder] Nacional - Estoril (20h00, segunda-feira) Classificação 1- Benfica 53 pontos 2- FC Porto 49 3- Sporting 44 4- Sp Braga 40 5- V. Guimarães 36 6- Belenenses 31 7- Rio Ave 29 8- P. Ferreira 29 9- Marítimo 27 10- Moreirense 25 11- Nacional 25 (-1 jogo) 12- Estoril 25 (-1 jogo) 13- Boavista 21 14- V. Setúbal 19 15- Gil Vicente 17 16- Arouca 16 17- Académica 15 18- Penafiel 13 Paulo Sérgio demitido na Académica O nome do substituto ainda não é conhecido. FUTEBOL Resultados, classificação e marcadores Jornada 21 do campeonato de futebol está em andamento. Jornada 21 FC Porto 1-0 Vitória Guimarães [Brahimi] Gil Vicente 1-0 Paços Ferreira A Académica e o treinador Paulo Sérgio chegaram a acordo para a rescisão do contrato. Segundo um comunicado no site oficial da Briosa, a decisão “foi alcançada por mútuo acordo e tem efeitos imediatos”. O clube de Coimbra deseja as maiores felicidades à equipa técnica que agora sai. Segunda-feira, 16-02-2015 O comunicado não revela quem vai substituir Paulo Sérgio. A Académica empatou este domingo frente ao Boavista. Página1 é um jornal registado na ERC, sob o nº 125177. É propriedade/editor Rádio Renascença Lda, com o nº de pessoa colectiva nº 500725373. O Conselho de Gerência é constituído por João Aguiar Campos, José Luís Ramos Pinheiro e Ana Lia Martins Braga. O capital da empresa é detido pelo Patriarcado de Lisboa e Conferência Episcopal Portuguesa. Rádio Renascença. Rua Ivens, 14 - 1249-108 Lisboa. 22