18 df Julho 2006 Julho 2006 df 19 Pessoas Engº Luís Prazeres, Responsável de Gestão de Frota da Brisa “Há grande desconhecimento na gestão duma frota” A gestão de frota continua a ser uma área relativamente menosprezada por um largo número de empresas, que não se apercebem dos custos que lhe está associada. Luís Prazeres, responsável pela gestão da frota de veículos da Brisa, explica os principais desafios que lhe são colocados todos os dias no seu trabalho. A utilização dos cartões de combustível tem actualmente um papel importantíssimo na frota de veículos de uma empresa. Mais do que um simples cartão para pagar a “crédito” os combustíveis, esta ferramenta de trabalho permite racionalizar os gastos da empresa na manutenção da sua frota Que cartões de combustível dispõe actualmente a Brisa para a sua frota de veículos? Neste momento, a Brisa dispõe para a sua frota de veículos cerca de mil cartões de combustível da Galp Energia, Cepsa, Repsol e BP. A necessidade de termos um número tão elevado de cartões de combustível justifica-se pelo facto de a nossa rede ser fechada. Nos troços pré-determinados que dividem os centros operacionais da Brisa, por onde circulam os nossos veículos de assistência e dos encarregados de portagem, assim como as viaturas da Brigada de Trânsito da Guarda Nacional Republicana, pode haver duas ou três áreas de serviço de petrolíferas diferentes. Tendo em conta essa situação, é normal que cada uma destas viaturas possa ter três cartões de combustível. “Para uma boa gestão de recursos da nossa frota, não é prático nem viável fazer pagamentos manuais, muito menos ainda numa empresa com a dimensão que a Brisa tem.” Qual o peso do combustível no orçamento anual da frota que a Brisa dispõe? O peso do combustível no orçamento anual da frota de veículos da Brisa é muito elevado. Deverá mesmo corresponder entre 30 a 40% de todo o nosso orçamento. É também por isso que a eficiência energética está nas nossas preocupações. E como se processa a distribuição dos cartões de combustível para os veículos dos quadros da Brisa? A atribuição dos cartões de combustível aos quadros da Brisa incide apenas na Galp Energia porque os veículos que lhes são atribuídos destinam-se apenas às suas deslocações em serviço. Como os nossos colaboradores têm maior liberdade de movimento, podem usar mais as estações de serviço da Galp devido à sua dispersão por todo o território nacional. Como é que a Brisa controla os gastos de combustível da sua frota de veículos? Os cartões que equipam os carros operacionais da Brisa não têm qualquer tecto de consumo porque têm circuitos completamente imprevisíveis, de acordo com os pedidos de auxílio dos automobilistas a que têm de responder. Normalmente, só há controlo de consumo nas viaturas dos quadros da empresa. Agora, como é óbvio, há um controlo total daquilo que é abastecido nessas viaturas. Como estes dados estão todos informatizados, há um controlo muito rigoroso dos abastecimentos realizados, ao ponto de se detectar facilmente falhas no sistema ou mesmo falhas nossas. Quais as principais razões que levaram a Brisa a optar pela contratualização dos cartões de combustível? Luís Prazeres, Responsável pela Gestão de Frotas da Brisa Hoje em dia, é imprescindível ter uma frota de veículos “equipada” com cartões de combustível. Quer isto dizer que, para uma boa gestão de recursos, não é prático nem viável fazer pagamentos manuais, muito menos ainda numa empresa com a dimensão que a Brisa tem. Actualmente, a informação que nos é disponibilizada por via electrónica é de tal forma detalhada e de fácil acesso, (já que está disponível em todos os sites das petrolíferas com que trabalhamos), que basta descarregar a informação e tratá-la segundo os processos que qualquer empresa achar melhor. Quais as diferenças que existem entre os cartões de frota das petrolíferas e das locadoras? Os cartões de ambas as entidades são idênticos, só que depois têm uma prestação de serviços diferenciada que desenvolvemos a nível interno a um custo insignificante, serviços esses que eventualmente teria de pagar a uma gestora de frota. Por outro lado, a Brisa tem necessidades próprias para as quais não é tão fácil prestar um serviço específico, como é o facto de cada veículo ter, pelo menos, três cartões de combustível. Através desse processo, acumulamos a informação e fazemos toda a facturação importada directamente dos sites das petrolíferas para o nosso ERP. O acesso à informação torna-se assim muito mais rápido e está disponível no momento em que a desejamos. O único ponto que eventualmente poderia dar mais trabalho – mas que mesmo assim ganhamos tempo ao fazê-lo directamente – seria o pedido e distribuição de cartões. Mas como a Brisa tem a gestão da sua frota centralizada, os cartões seriam enviados à mesma para as nossas instalações para os distribuirmos pelas nossas viaturas. Portanto, este é um custo que pode ser perfeitamente banido. Que critérios foram estabelecidos na selecção dos cartões de combustível? O principal critério é o facto das nossas viaturas de assistência e da Brigada de Trânsito da GNR circularem em circuito fechado, tendo por base as necessidades de cada centro operacional. Outro dos critérios está associado à rapidez e eficiência na prestação de serviços. Neste ponto, a Galp Energia está um pouco à frente de todos os seus concorrentes, o que é normal como fornecedor principal do mercado nacional. Se tivermos de atribuir um cartão de combustível a algum dos nossos veículos, atribuímos de imediato o da Galp Energia. Se for preciso outro cartão, então o utilizador terá de justificar por escrito essa necessidade. 20 df Julho 2006 Julho 2006 df 21 Para que serviços é que esses cartões são principalmente utilizados? Estes cartões destinam-se apenas a abastecimentos de combustível. Cada viatura tem associado ao cartão a sua matrícula, a empresa a que pertence e o combustível específico. Significa isto que o veículo não pode ser abastecido com dois combustíveis diferentes. O controlo dos consumos é feito a nível interno através de um procedimento específico, não sendo permitido o abastecimento de gasóleos ou gasolinas de octanas mais elevadas. Quais são as maiores dificuldades que se colocam à Brisa na gestão dos seus cartões de frota? Neste momento, não temos quaisquer tipos de problemas. Mas antes, era todo um processo que era pesadíssimo de gerir e, mais importante, imputar internamente os custos dos combustíveis, que era uma coisa brutal. A própria informação que chegava às nossas mãos vinha em papel, sendo praticamente impossível de verificar os mais de 20 mil abastecimentos mensais realizados pela frota de veículos da Brisa. Qual a cobertura dos cartões de combustível? Temos uma cobertura maioritária da Galp Energia, como é óbvio, e depois os outros cartões são atribuídos de acordo com as necessidades dos nossos colaboradores. No que respeita aos quadros da empresa, o cartão é apenas Galp Energia, e só em casos muito específicos é que são atribuídos cartões de outras gasolineiras, porque como a rede é maior, a probabilidade de encontrar uma estação de serviço Galp é maior do que qualquer outra petrolífera. Considera que as empresas nacionais dão a devida importância à gestão da sua frota, seja ela feita a nível interno ou externo? Apercebo-me que ainda existe um grande desconhecimento devido à especificidade da própria área. No meu caso, sou uma pessoa que não olha apenas para o preço de uma renda, porque esse não é o único indicador relevante quando se está a gerir uma frota. Todavia, há empresas no mercado a focalizarem-se apenas no preço. E, Como se processam os pagamentos entre a Brisa e as petrolíferas? Os pagamentos são feitos por débito em conta, mas antes é feito a nível interno o controlo da factura. Aí, os procedimentos são exactamente iguais aos de uma gestora de frotas. A factura é-nos enviada 15 dias antes do débito, para haver tempo de conferirmos os valores e, se tudo estiver correcto, deixar o débito em conta correr normalmente, que pode ser bloqueado de imediato caso se detecte algum problema. É normal haver diferenças entre os valores das petrolíferas e os valores apurados pela Brisa? Raramente surgem problemas nos resultados apresentados. A única situação em que isso acontece é quando há uma avaria no terminal da área de serviço durante o pagamento de um abastecimento, que tem de ser feito manualmente. Se esse pagamento coincidir com o fim do mês, a factura vai transitar para o mês seguinte, provocando uma descompensação, mas que é de imediato detectada por nós. Através de um programa interno, conseguimos detectar dois ou três abastecimentos manuais entre os milhares que a nossa frota faz todos os meses. Custos da frota são menorizados Verifica-se ainda num grande número de empresas algum amadorismo na gestão eficaz dos veículos que compõem as suas frotas. A falta de preparação técnica dos profissionais que assumem esta área é apontada pelo responsável da gestão de frota da Brisa como um dos principais problemas que impedem a obtenção de uma redução eficaz dos custos da empresa. “Na maior parte dos casos, o responsável pela área de compras é também o gestor da frota de veículos da empresa”, afirma Luís Prazeres. Para o quadro da Brisa, a situação é ainda mais complicada quando se verifica que a tendência das empresas passa exactamente por transitar pessoas de outras áreas para a gestão da frota. “O fazer ‘mais isso’, hoje em dia, tem um peso brutal no orçamento da empresa”, conclui Luís Prazeres. E considera que os profissionais que estão à frente da gestão da frota da empresa sabem gerir os cartões de combustível que lhes são atribuídos? O que penso é que ainda não conseguiram explorar alguns dos serviços que as petrolíferas têm à sua disposição. No início da minha experiência, detectei grandes dificuldades porque tratavam-se de milhares de abastecimentos mensais e de centenas de centros de custo cuja informação tem de conseguir “casar-se”. como é óbvio, depois surgem vários problemas porque os custos indirectos podem ser muito superiores àquilo que poderia ter sido negociado à cabeça com outra marca automóvel ou com uma gestora de frotas. Na parte operacional, as pessoas têm de ter sensibilidade para procurar um produto que sirva exactamente aquilo para que é designado. Na escolha da viatura existem factores tão determinantes como a qualidade do após-venda, quer através dos concessionários, quer através dos seus importadores, se a razão preço/qualidade da viatura é aceitável, se tem uma fiabilidade mais elevada para um determinado tipo de utilização, sem esquecer os consumos. Enfim, são factores importantíssimos a ter em conta no momento de aquisição do automóvel. Considera que, de certa forma, a gestão externa da frota está um pouco na moda, ao ponto de as empresas não verificarem se é possível fazê-la a nível interno? Actualmente, a grande tendência é fazer a gestão da frota em outsourcing, mas mesmo assim, tem de se saber acompanhar todo o processo para retirar o melhor que uma locadora nos possa dar. Se assim não for, a própria gestora de frota não consegue perceber aquilo que o cliente quer e precisa, e dá-lhe apenas o que é pedido. Actualmente, a larga maioria das gestoras de frota têm sistemas de acompanhamento muito bons. Agora, também é preciso saber receber essa informação para que a empresa obtenha os maiores benefícios. A gestão de frota é uma actividade cada vez mais sofisticada. A médio prazo, a Brisa pensa fazer alguma alteração no uso e na gestão que faz dos cartões de frota? Os cartões de combustível são actualmente um dos processos mais eficazes na gestão de frota da Brisa. Falta acertar alguns pormenores relacionados com a poupança de recursos internos, ao acabar com o papel e disponibilizar informaticamente os extractos mensais para cada centro de custo. É o acabamento final para ficarmos com o primeiro “Rolls Royce” na gestão de frota da Brisa. A complexidade da gestão da frota da Brisa exige padrões de trabalho muito elevados. Quais são os principais desafios que se colocam à Brisa para reduzir ainda mais os custos que tem na gestão da sua frota? Tentar racionalizar cada vez mais a utilização do automóvel pelos nossos colaboradores, e aproveitar as vantagens oferecidas pelas novas tecnologias presentes nos automóveis. “Actualmente, a grande tendência é fazer a gestão da frota em outsourcing, mas mesmo assim, tem de se saber acompanhar todo o processo para retirar o melhor que uma locadora nos possa dar.”