UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE COMUNICAÇÃO NARA CHAVES NOGUEIRA O JORNAL NACIONAL E A CPI DOS CARTÕES CORPORATIVOS UM ESTUDO SOBRE A VISIBILIDADE DOS ATORES POLÍTICOS NO PRINCIPAL TELEJORNAL BRASILEIRO Salvador 2009 NARA CHAVES NOGUEIRA O JORNAL NACIONAL E A CPI DOS CARTÕES CORPORATIVOS UM ESTUDO SOBRE A VISIBILIDADE DOS ATORES POLÍTICOS NO PRINCIPAL TELEJORNAL BRASILEIRO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de graduação em Jornalismo, Faculdade de Comunicação, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Jornalismo. Orientador: Prof. Dr. Wilson Gomes Salvador 2008 NARA CHAVES NOGUEIRA O JORNAL NACIONAL E A CPI DOS CARTÕES CORPORATIVOS: UM ESTUDO SOBRE A VISIBILIDADE DOS ATORES POLÍTICOS NO PRINCIPAL TELEJORNAL BRASILEIRO Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Jornalismo, Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Aprovada em __ de julho de 2009 Banca Examinadora Wilson da Silva Gomes, Pós-doutor – Orientador ____________________________ Universidade Federal da Bahia Itânia Maria Mota Gomes, Pós-doutora ____________________________________ Universidade Federal da Bahia José Benjamim Picado Souza e Silva, Pós-doutor ___________________________ Universidade Federal da Bahia A Simone, minha mãezinha, pelo apoio incondicional. AGRADECIMENTOS A minha mãe, Simone, por todo amor, pela serenidade nos momentos mais difíceis e por estar ao meu lado do início ao fim, lendo todas as palavras escritas e me dando força para seguir em frente. A meu pai, Eduardo, pela paciência durante os meus momentos de estresse, tornando a nossa convivência tranquila e leve. A minha avó, Maridete, pelas comidinhas gostosas que me fazem esquecer qualquer problema. A Wilson Gomes, meu orientador e professor querido (e preferido) que, ao longo da minha vida acadêmica, se tornou um exemplo para mim. Obrigada pela generosidade e pela paciência. A Washington e ao Colegiado da Faculdade de Comunicação, pelo apoio. A Lucas e Sheila, grandes amigos feitos nesta Faculdade, por fazerem a minha trajetória aqui muito divertida e, definitivamente, inesquecível, por entenderem quando estive ausente de suas vidas e por acreditarem sempre em mim. Aos colegas e professores do curso de Direito, na Unifacs, minha segunda graduação, pela compreensão sem tamanho. RESUMO Esta pesquisa é um estudo de caso que tem como objeto o Jornal Nacional, o telejornal de maior audiência da televisão brasileira. É por meio dele que grande parte da população se informa a respeito das atividades do campo político. O espaço dedicado ao noticiário político é, por sua vez, muito reduzido e disputado entre os inúmeros atores políticos. O presente estudo buscou investigar como se distribuiu a visibilidade ao longo da cobertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Cartões Corporativos através do estudo das sonoras. A análise das edições do jornal Nacional do referido período mostrou que poucos são os atores políticos que conseguem alguma visibilidade no telejornal. A maioria deles permaneceu, portanto, ausente do noticiário ao longo da amostra. O mesmo ocorreu com os membros da CPI. Apenas alguns deles obtiveram um incremento em sua cota de visibilidade, notadamente os ocupantes dos cargos de presidência e relatoria da CPI. Palavras-chave: Visibilidade. Política. Sonoras. CPI. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 8 2 A LÓGICA DO ENTRETENIMENTO 11 2.1 COMO A POLÍTICA ACESSA O CAMPO DA COMUNICAÇÃO 14 3 POLÍTICOS: MOSTRADOS, PORÉM NÃO OUVIDOS 17 4 A POLÍTICA NO JORNAL NACIONAL 23 4.1 AS SONORAS POLÍTICAS 23 4.2 COMO SE DISTRIBUI A VISIBILIDADE 25 5 O JORNAL NACIONAL E A CPI DOS CARTÕES CORPORATIVOS 31 5.1 DISTRIBUIÇÃO DAS SONORAS – QUADRO GERAL 34 5.1.1 Faixas de visibilidade 37 5.1.2 Quem são os atores políticos que mais aparecem no JN 38 5.2 A COBERTURA DA CPI 40 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 46 REFERÊNCIAS 48 APÊNDICE 50 1 INTRODUÇÃO O Jornal Nacional é o mais importante telejornal do Brasil. No ar desde 1969, é um dos programas de maior audiência da televisão brasileira. Nenhum outro programa de caráter jornalístico é mais assistido do que ele. Por isso, possui um importante papel social, o de informar o seu grande público quais os principais acontecimentos do dia. Para boa parte da população brasileira, a principal fonte de informação sobre a esfera política é o Jornal Nacional. É através dele que muitos cidadãos tomam conhecimento das agendas dos políticos, dos projetos governamentais, dos conflitos entre “governo” e “oposição” no Congresso Nacional, dos escândalos relacionados à corrupção, entre inúmeras outras possibilidades de notícia que o campo político pode fornecer. Ele é a principal janela para o mundo da política. O fato de o Jornal Nacional ser o telejornal mais assistido da televisão brasileira justifica, por si só, a importância e a necessidade de pesquisas a seu respeito. Entretanto, existem poucos estudos baseados em análises empíricas sobre a visibilidade dos atores políticos no Jornal Nacional, o que nos propomos a fazer nesta monografia. Diante desta carência bibliográfica, o nosso estudo fornecerá importantes dados para o desenvolvimento de futuras pesquisas sobre o fenômeno da visibilidade pública. O interesse em estudar a área de convergência entre a comunicação e a política foi despertado pela disciplina “Comunicação e Política” do curso de Jornalismo da Universidade Federal da Bahia. A idéia de pesquisar a cobertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Cartões Corporativos feita pelo Jornal Nacional surgiu a partir de conversas com o professor da disciplina, não por acaso o orientador desta monografia, na tentativa de encontrar um tema instigante para a realização de um Trabalho de Conclusão de Curso, que é a razão dessa pesquisa. Os critérios para a escolha desta CPI em particular foram simples: em primeiro lugar, a atualidade, que facilita o acesso às informações necessárias à pesquisa; em segundo lugar, a duração da CPI, que não foi muito extensa, mas durou o suficiente para fornecer uma boa quantidade de material; e, por último, o fato de ser, em verdade, uma CPMI – uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito – composta por senadores e deputados federais, o que torna a pesquisa mais rica e abrangente. O nosso estudo foi realizado com a intenção de responder uma questão principal: de que maneira se estrutura e se distribui a visibilidade dos atores políticos no Jornal Nacional quando está em andamento uma CPI no Congresso? Outras questões importantes surgiram como conseqüência do nosso problema de pesquisa e também demandaram resposta. São elas: • Quais são os presentes e quais os ausentes na cobertura política durante as CPIs? • Há uma mudança significativa na distribuição da visibilidade entre os atores políticos por conta das CPIs? • Os membros da Câmara dos Deputados e do Senado passam a desfrutar de uma maior visibilidade no telejornal? • Os senadores e deputados que compõem as Comissões têm a sua visibilidade acrescida e são privilegiados na cobertura política com relação aos demais? Se sim, de quanto é esse acréscimo? Ao formularmos perguntas, sempre temos uma resposta em mente, mesmo que vaga ou imprecisa, que pode ou não vir a ser confirmada. Ao nos questionarmos sobre o problema que nos conduziu a este projeto, não aconteceu diferente. O acompanhamento descompromissado do Jornal Nacional nos levou a ponderar que há uma mudança na distribuição e estruturação das cotas de visibilidade entre os atores políticos nos períodos em que uma CPI está em andamento. As hipóteses formuladas são duas: a) a cobertura política do Jornal Nacional prefere aqueles atores políticos que possuem cargos ou mandatos de atribuição federal; b) os membros de uma Comissão Parlamentar de Inquérito obtêm um acréscimo a sua cota visibilidade. Em nosso trabalho, o estudo da visibilidade se restringiu às sonoras, que são os trechos da matéria em que outra pessoa que não o jornalista (no nosso caso, o ator político) é mostrado falando, reunindo, portanto, imagem e voz. Logo, perguntar de que maneira se distribui a visibilidade é, nesta pesquisa, o mesmo que perguntar como se distribuem as sonoras e o tempo dedicado a elas. Nesta monografia, o nosso objetivo geral é o de investigar de que maneira a Comissão Parlamentar de Inquérito dos Cartões Corporativos influenciou no agendamento da cobertura política do Jornal Nacional. Concomitantemente ao objetivo geral, esperamos ser possível verificar: quais são os atores políticos com maior visibilidade nesse período e quais são pouco visíveis ou não aparecem; se há um aumento de visibilidade sobre os membros das CPIs e de quanto é esse aumento; e, por fim, se a visibilidade dos outros atores políticos sofre alteração. O objeto de estudo desta monografia é uma pesquisa descritiva realizada através de um estudo de caso, qual seja, a cobertura política do Jornal Nacional no período da CPI dos Cartões Corporativos. Por sua característica particular, o estudo de caso dificulta a generalização dos resultados e conclusões, que somente são possíveis através da realização de estudos semelhantes (SOUSA, 2006). Foi realizada uma análise de conteúdo quantitativa e qualitativa. De acordo com Bardin, análise de conteúdo é Um conjunto de técnicas de análise de comunicação visando a obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas mensagens (BARDIN, 1979, p. 42, apud CAPELLE; MELO; GONÇALVES, 2003). Apesar da discussão existente a respeito da possibilidade de realização de uma análise de conteúdo quantitativa e qualitativa, seguimos o entendimento de Bardin (1979, apud CAPELLE; MELO; GONÇALVES, 2003), segundo o qual a análise de conteúdo oscila entre a objetividade e a subjetividade, o que resulta na elaboração de indicadores quantitativos e/ou qualitativos que levam o pesquisador a uma releitura da comunicação baseada na inferência e na dedução. Os principais autores que subsidiaram o trabalho foram Daniel Hallin (1994), Wilson Gomes (2004; 2008) e Mauro Porto (2007). Estruturamos a redação do nosso estudo em quatro capítulos, precedidos desta introdução. No primeiro capítulo, tratamos da relação entre a comunicação e a política. No segundo capítulo, abordamos os principais estudos sobre as sonoras da literatura internacional. No terceiro capítulo, tratamos dos estudos sobre a cobertura política e a visibilidade no Jornal Nacional e as principais conclusões a que chegaram os autores. No quarto capítulo está o resultado da análise dos dados colhidos por nós, em nossa amostra. Na sequência, as considerações finais. 2 A LÓGICA DO ENTRETENIMENTO A política, para acessar o campo da comunicação de massa, possui alguns caminhos. Todos eles passam por uma lógica intrínseca a este campo: a lógica do entretenimento. A política deve, portanto, aprender como funciona esta lógica para se fazer presente nos meios de comunicação, e, consequentemente, alcançar o espectador. Este capítulo explica como e em razão de que funciona a lógica do entretenimento e quais as formas que possui a esfera política para acessar a comunicação de maneira condizente com o processo democrático, é claro, sem autoritarismo ou censura. A relação entre a comunicação e a política, hoje, apresenta uma configuração diversa da tradicional, em que os meios de comunicação serviam como instrumento através do qual o campo da política alcançava as massas. Um dos fatores que modificou esta situação foi a evolução sofrida pelas instituições do ramo da comunicação, que adquiriram um caráter empresarial, independente do Estado. A rotina produtiva destas instituições passou, dessa forma, a ser realizada sob um ritmo industrial para suprir a demanda por informação atualizada, objetiva e imparcial e, principalmente, para alcançar a maior audiência possível, de forma a atrair os anunciantes e gerar lucro (GOMES, 2004). Esta transformação tornou as instituições da comunicação incompatíveis com a situação anterior, na qual a esfera política obtinha o controle de sua interação com a comunicação. A natureza empresarial dos meios de comunicação faz com que determinados conteúdos da política sejam rejeitados – os conteúdos e práticas tradicionais da política, como os debates e as questões administrativas, são, de maneira geral, deixados de lado. A parte da política que mais interessa a uma comunicação de massa preocupada com audiência e venda de espaços publicitários é a que diz respeito aos conflitos, à competição. Por outro lado, a esfera política e a sociedade civil precisam, cada vez mais, dos veículos de comunicação. A esfera política, para expor suas idéias, conquistar a simpatia, a adesão da audiência, e quando oportuno, seu voto; a sociedade civil, para formar sua opinião e tomar conhecimento a respeito do que ocorre na esfera política (GOMES, 2004). A televisão é onde está mais evidente que a informação industrial tem como principal objetivo os índices de audiência. Esta é a razão pela qual, não apenas na televisão, mas em toda a indústria da comunicação, quase tudo se torna entretenimento. A lógica do entretenimento permeia os produtos da indústria da comunicação, inclusive a informação. Informação e entretenimento, por mais incompatíveis que possam parecer, se unem para cativar os destinatários e prender a sua atenção. Para isso, os meios de comunicação de massa se utilizam do que Gomes (2004) chamou de subsistemas do entretenimento. O primeiro deles é a ruptura com a regularidade. A regularidade é o cotidiano, o esperado, que não desperta interesse ou curiosidade e, portanto, não é notícia. De acordo com este subsistema, têm potencial para se tornar notícia os acontecimentos extraordinários ou que envolvam pessoas, coisas ou relações extraordinárias. A novidade também é interessante sob este ponto de vista, e representa o chamado furo, a notícia inédita e exclusiva, tão desejada pelos repórteres. A diversão é o segundo subsistema utilizado. A informação diverte, principalmente através da profusão de imagens, da visualidade sempre utilizada, especialmente na televisão. Tudo deve provocar prazer. Tudo deve ser belo: a voz, o estúdio, o repórter e, sobretudo, o âncora do telejornal. Gomes (2004) explicou que a informação desejável não é mais aquela que agrega conhecimento a seu destinatário, mas, principalmente, aquela capaz de agradar sensorialmente. A informação é passada ao consumidor de maneira superficial, em uma cota mínima, o suficiente para que ele saiba que algo aconteceu. Os jornalistas defendem que a carência de profundidade é consequência da falta de tempo dos consumidores, mas na verdade estes dedicam cada vez mais tempo ao consumo de informação. A lógica do entretenimento existe justamente para fixar a atenção do indivíduo diante da profusão de materiais informativos existentes e exige apenas um consumo distraído. Por isso, a notícia deve ser pequena, ter um ritmo ágil, beleza plástica, e não demandar referências históricas ou culturais para a sua compreensão ou outros esforços interpretativos. A compreensão deve ser imediata. O terceiro subsistema a ser acionado é o drama. Gomes (2004) explicou este subsistema a partir da divisão tripartite do drama para Aristóteles: a tragédia, a epopéia e a comédia. Na tragédia, o enredo provoca temor e piedade; na epopéia, o enredo conta sobre um herói e suas realizações; na comédia, o enredo provoca o riso. Esse subsistema explica o tratamento teatral dado aos fatos. A informação é produzida de acordo com uma estrutura narrativa na qual são criados enredos, pessoas se tornam personagens e efeitos dramáticos são utilizados com o intuito de produzir, no destinatário, emoções. Corroboraram com esta idéia Grabe e Zhou (2003). Ao pesquisarem o programa informativo 60 minutes, exibido pelo canal americano NBC, os autores concluíram que as formas dramáticas de Aristóteles são empregadas, confirmando a hipótese de o que telejornalismo recebe um tratamento teatral. A televisão, mais do que qualquer outro suporte, é guiada pela lógica midiática. Telejornalismo e entretenimento convergem entre si. De acordo com Gomes (2004, p. 65), “para as formas extremas do jornalismo televisivo todos os fatos da realidade são show, espetáculo, drama, pois se destinam basicamente à captura da atenção”. Fallows (1997, p. 68) chamou esse fenômeno de “equivalência dos espetáculos”. Como a finalidade de todos os fatos, no telejornal, é chamar a atenção, um fato não é necessariamente mais importante que o outro, eles se equivalem. Catástrofes naturais, escândalos políticos, jogos de futebol decisivos, assassinatos, tudo é espetáculo. Além de perderem a sua proporção, na televisão os acontecimentos perdem também o seu contexto, a história da qual fazem parte; o que importa é o agora. A TV mostra o mundo em fragmentos. Hoje um evento é o drama extremo, amanhã ele já foi esquecido e substituído por outro (FALLOWS, 1997). Para conseguir driblar os selecionadores das instituições da comunicação e se tornar objeto de notícia, a esfera política deve se adaptar à lógica que rege o campo da comunicação, a sua gramática e a sua rotina produtiva. E a esfera política o faz porque precisa da comunicação, já que os meios de comunicação são os canais mais eficientes para que a política consiga alcançar a esfera civil, que é responsável por legitimar a esfera política nos Estados democráticos. A principal fonte de conhecimento a respeito da chamada “atualidade” é a comunicação de massa, que, ao definir quais acontecimentos são notícia, acaba por definir o que é considerado pela esfera civil como atualidade. Logo, apenas fatos, pessoas e instituições que estão incluídos nesta atualidade midiática merecem atenção e estão aptos a ser lembrados, a ser objeto das conversas cotidianas. Portanto, os sujeitos e instituições políticas somente existem, pelo menos para a grande maioria das pessoas, se existirem para a indústria da informação (GOMES, 2004). 2.1 COMO A POLÍTICA ACESSA O CAMPO DA COMUNICAÇÃO A política se adaptou à lógica da comunicação de massa, conhecendo a sua estrutura e o seu funcionamento de modo que se tornou capaz de construir acontecimentos e personagens irresistíveis ao campo da comunicação. Ou seja, a política descobriu como forçar a sua presença nos veículos de comunicação. Enquanto esta forma de adaptação é controlada pela política, existem outras que estão sob o comando da comunicação. A primeira delas é a cobertura, pelo jornalismo, de sujeitos, relações e principais atividades políticos. A segunda é a publicidade política, conduzida pelos publicitários e marketeiros (GOMES, 2004). Em qualquer dessas formas, a política está submetida à lógica midiática, obedecendo, portanto, aos subsistemas do entretenimento – a ruptura, a diversão e o drama. Com relação à primeira forma de adaptação, a política assume uma postura ativa para com a comunicação; é dela a iniciativa, que utiliza, em benefício próprio, a lógica midiática. A política pode acionar o subsistema da ruptura através da produção de acontecimentos que fogem do esperado - o presidente Lula presenteia outro presidente com bola de futebol autografada por Pelé, uma grande manifestação política – ou de acontecimentos que envolvam pessoas extraordinárias – o apoio de uma estrela das telenovelas, por exemplo. Outra forma de acionar a ruptura é por meio da novidade, seja através de um furo que abone o ator político objeto da notícia, seja através de uma denúncia que desabone um adversário. Para acionar o subsistema da diversão, a esfera política deve, antes de tudo, evitar o que não é divertido, ou seja, o debate e a argumentação, essências do campo político, devem ser ignorados, visto serem entediantes para o espectador. O divertido é aquilo que produz prazer através da beleza, das imagens, é o extraordinário, é o conflito. O grande investimento nas campanhas políticas, que exploram cada vez mais os aspectos visuais, é um exemplo de conformação com este subsistema. O drama, por sua vez, é acionado através da produção de representações. A política, para isso, transforma um simples acontecimento em um verdadeiro evento, cabendo à comunicação apenas registrá-lo. A política, aqui, é encenada (GOMES, 2004). Os acontecimentos são, portanto, cada vez menos espontâneos, sendo, em regra, programados especialmente para a mídia. O jornalismo, por sua vez, também produz o espetáculo, o drama político. Apesar de os jornalistas guardarem, historicamente, uma desconfiança e uma postura crítica e hostil com relação à política, eles não rejeitam a encenação. Pelo contrário, o jornalista mostra a encenação, mesmo que seja para desqualificá-la demonstrando o ardil utilizado pelos políticos. Ou seja, é construída ao redor na encenação produzida pelo campo da política uma nova narrativa, esta controlada pelo jornalismo (ADATTO, 1990; HALLIN, 1994; GOMES, 2004). O jornalismo-espetáculo tem seu surgimento intimamente ligado à grande importância adquirida pela televisão, superando largamente o rádio e os impressos (GOMES, 2004). A televisão agrega em si todas as dimensões da cultura de massa como o cinema, a música e a informação, tudo de acordo com a lógica do entretenimento. O telejornalismo, então, adaptou a prática produtiva característica do jornalismo ao suporte televisivo e sua lógica. O telejornal, assim como a telenovela, deve entreter e fixar a audiência, de modo a garantir o lucro através da venda dos espaços publicitários. O jornalista político, então, une a técnica jornalística à técnica dos criadores de ficção, coletando fatos e narrando histórias. Neste sentido, não há narrativas que rendam mais do que aquelas que dão conta do escândalo político. O escândalo político é, assim, a glória do jornalismo-espetáculo. É a narrativa que constitui o escândalo – sim, porque o escândalo não é o fato, mas o que a narrativa constrói – que se pode desfrutar de toda a destreza da arte dramática do jornalismo. (GOMES, 2004, p. 353). Este tipo de narrativa, que transforma um fato em escândalo, interessa em particular ao nosso estudo, visto que a nossa pesquisa se volta para a análise da cobertura do Jornal Nacional quando estava em andamento a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Cartões Corporativos. CPIs são comissões temporárias criadas e formadas por membros do Poder Legislativo com o objetivo de investigar denúncias relativas a outro ou outros componentes do Congresso Nacional. Podem ser compostas exclusivamente por membros do Senado ou por membros da Câmara dos Deputados, ou podem ser mistas, contendo senadores e deputados. Nesse caso, são chamadas de CPMI. Uma CPI é, portanto, um escândalo político que se desdobra e ganha repercussão tanto dentro da esfera política, quanto com relação à esfera civil, que acompanha os principais acontecimentos através da cobertura da imprensa. A CPI é apenas um exemplo das possibilidades de escândalos envolvendo a política. São frequentes nos telejornais as narrativas referentes a escândalos envolvendo atores políticos em razão de corrupção, de quebra de decoro parlamentar ou até mesmo escândalos sexuais (CHAIA; TEIXEIRA, 2001). Estes escândalos não são apenas noticiados pela imprensa, eles são, até certo ponto, construídos pela comunicação de massa. São os chamados escândalos midiáticos (THOMPSON, 2002), característicos da sociedade contemporânea. 3 POLÍTICOS: MOSTRADOS, PORÉM NÃO OUVIDOS As sonoras dos atores políticos já foram objeto de alguns estudos anteriores. Na literatura internacional, destacam-se as pesquisas de Kiku Adatto (1990), Daniel C. Hallin (1994), Dennis T. Lowry e Jon A. Shidler (1995; 1998), Erik P. Bucy e Maria Elizabeth Grabe (2007) e Esser (2008). Com relação à literatura internacional, todos os estudos retiraram suas amostras da cobertura política das campanhas eleitorais à presidência dos Estados Unidos. Em comum a todas as análises está a conclusão de que o tempo médio de duração de uma sonora em uma matéria de temática política diminuiu. As primeiras pesquisas encontradas sobre o tema são as de Adatto e Hallin. Adatto (1990) analisou as eleições de 1968 e 1988. O tempo médio de duração das sonoras encontrado por ele foi de 42,3 segundos em 1968. Vinte anos depois, em 1988, as sonoras apresentaram um tempo médio de 9,8 segundos apenas, o que representa uma redução de aproximadamente 77% com relação ao resultado de 1968. Em compensação, o tempo em que os candidatos tinham apenas sua imagem veiculada, sem o áudio de suas vozes, cresceu em mais de 300%. A pesquisa de Hallin (1994) foi realizada a partir de edições dos telejornais noturnos exibidos durante cada campanha presidencial ocorrida entre os anos de 1968 e 1988, os anos de início e fim da amostra. Em 1968, a sonora média tinha duração de 43,1 segundos; 20 anos depois, em 1988, ela durava apenas 8,9 segundos, resultado semelhante ao encontrado por Adatto. A televisão, ao longo das décadas, passou a ser cada vez mais importante para a política. Hallin e Adatto verificaram que, da década de 60 para a década de 80, as campanhas televisivas cresceram, e muito, em importância. Com o declínio dos partidos e o apelo diretamente aos eleitores, as campanhas presidenciais se tornaram mais visuais, não só se utilizando de propaganda política, mas também elaborando eventos midiáticos (ADATTO, 1990). Para os telejornais, as habilidades dos políticos e seus assessores em lidar com a linguagem televisiva significavam tanto um desafio quanto uma tentação. A tentação consistia em mostrar as imagens produzidas; o desafio era evitar ser envolvido no artifício produzido pela campanha. Na década de 80, os telejornais tentaram unir os dois – enfrentar o desafio e sucumbir à tentação. Assim, eles mostravam as imagens, mas apontavam os ardis contidos nelas (ADATTO, 1990). O telejornal deixou de lado uma postura mais passiva e adotou um tom mais crítico com relação às campanhas televisivas. A redução no tamanho das sonoras, de acordo com Hallin (1984), é evidência desta mudança de postura do telejornalismo. Enquanto na década de 60 e início da década de 70 os jornalistas eram mais passivos, no final dos anos 70 e nos anos 80 eles se tornaram mais ativos e o telejornalismo, muito mais mediado do que nas décadas anteriores. Na década de 60, as vozes dos candidatos e de autoridades políticas eram mais presentes no telejornalismo do que a voz dos próprios jornalistas. Já a partir da década de 80, as palavras dos políticos deixaram de ser simplesmente reproduzidas e passaram a ser utilizadas como mais um elemento, entre outros, de uma nova narrativa, esta construída pelo jornalista. Hallin (1984) atribuiu essas mudanças a três fatores. O primeiro deles é a evolução técnica da televisão, que significa não apenas uma evolução da tecnologia, mas também a evolução da produção, do conhecimento técnico do meio e do desenvolvimento de uma estética televisiva. O segundo fator considerado pelo autor é o enfraquecimento do consenso e da autoridade política nos anos da Guerra do Vietnã e do escândalo do Watergate. Nesse período, as fontes governamentais constantemente forneciam informações opostas sobre um mesmo acontecimento. Por conta disso, os jornalistas passaram a assumir uma posição mais ativa e crítica, fornecendo as suas análises e interpretações sobre os fatos. Os jornalistas se tornaram mais cuidadosos com relação à manipulação política e assumiram uma postura de relativa oposição aos candidatos. Por conseguinte, a cobertura das eleições foi progressivamente se tornando mais negativa. O terceiro fator foi econômico: a concorrência com as emissoras locais. Foram elas as primeiras a reduzir as sonoras, com o objetivo de fazer um telejornalismo mais atraente e competitivo, e nisso foram copiadas pelas redes televisivas nacionais. O fator econômico também se mostrou relevante para Adatto (1990). Segundo o autor, na década de 80, os telejornais passaram a ser considerados fontes de lucro e, como consequência, a lógica do entretenimento passou a gerir a sua produção. Recursos visuais dramáticos, ritmo intenso, cortes bruscos e sonoras curtas passaram a ser características fundamentais das matérias, a fim de atrair maior número de audiência e, consequentemente, de publicidade. Essa circunstância se torna relevante ao campo da Comunicação e Política na medida em que, atualmente, é pela televisão que a maioria das pessoas tem acesso às idéias e imagem dos atores políticos para, inclusive, escolherem em quem irão votar no período eleitoral. Tal tendência foi apontada por Lowry e Shidler. Segundo os autores, a grande maioria dos eleitores nunca consegue ver os seus candidatos pessoalmente; é pela televisão que eles podem vê-los ou ouvi-los. Uma pesquisa feita após a eleição presidencial de 1992 nos Estados Unidos concluiu que 84% dos eleitores receberam a maior parte das informações sobre a campanha presidencial através da TV, enquanto que, a mesma pesquisa feita no ano de 1996, chegou ao número de 57%. Por outro lado, de maneira contraditória, os autores consideraram que houve um declínio na audiência e na credibilidade dos noticiários (LOWRY; SHIDLER ,1998). Vale ressaltar que as pesquisas citadas acima são antigas e que hoje a internet representa uma importante fonte de informação e uma ferramenta fundamental no processo democrático. Certamente, parte da população se atualiza sobre os acontecimentos do campo político por meio de jornais onlines, blogs, sites institucionais (do governo, dos partidos políticos) e nas páginas pessoais dos próprios políticos. Entretanto, não nos parece que a internet tenha tal alcance, quando comparada à televisão, que venha a alterar de maneira significativa este quadro. Hallin (1994) considerou perturbador o fato de a audiência nunca ter a chance de ouvir por mais de 20 segundos um candidato ou qualquer outra pessoa falar. Para o autor, as sonoras mais longas permitem ao espectador compreender quem é a pessoa, qual o seu caráter, e porque ela diz o que diz, o que não é possível através das sonoras mais curtas. O autor afirma que: Showing humans speaking is something television does very effectively. Some of the long soundbites in early television news were dull, to be sure; many could have been cut in half with little loss, and many no doubt could have been eliminated altogether [...]. But often it was extremely interesting – or so it seems to me looking back from twenty years later – to hear a politician, or even once in a while a community leader or ordinary voter, 1 speak na entire paragraph. (HALLIN, 1994, p. 146). 1 Mostrar pessoas falando é algo que a televisão faz de forma muito eficaz. Algumas das sonoras longas, presentes anteriormente no telejornalismo, eram entediantes; muitas delas poderiam ter sido cortadas pela metade sem grande perda, e muitas outras poderiam ter sido inteiramente eliminadas [...]. Mas muitas vezes era extremamente interessante – ou assim me parece ao olhar para trás após Apesar de as sonoras mais longas (presentes nos primeiros anos da sua amostra) serem entediantes e com maior duração do que deveriam, muitas vezes, para o autor, era interessante ouvir alguém falar um parágrafo inteiro, e não apenas uma única frase. Ainda assim, Hallin (1984) considerou o telejornalismo mais recente melhor em muitos aspectos do que o produzido anteriormente; ele é mais interessante de assistir e mais sério também. Para Lowry e Shidler (1998), a conseqüência da redução das sonoras é que, enquanto os repórteres e os âncoras passaram a ser mais ouvidos, o oposto ocorreu com os atores políticos. Os resultados obtidos pelos autores ao medir o tempo médio das sonoras foram os seguintes: em 1992, a sonora média tinha 9,6 segundos; já em 1996, o valor encontrado foi de 10,3 segundos, o que representa um aumento significativo com relação ao ano de 1992, mas ainda assim é um valor extremamente pequeno, muito inferior ao encontrado por Adatto e Hallin em 1968. Duas circunstâncias verificadas pelos referidos autores se repetirão no presente estudo, como será demonstrado mais adiante. A primeira delas é a constatação de que os candidatos a reeleição (chamados no texto de incubents – incumbidos de cargo político), tiveram sonoras mais longas do que seus concorrentes. A outra diz respeito à ressalva feita pelos autores com relação ao aumento do tempo médio das sonoras em 96: parece que esse resultado foi ocasionado pela existência de sonoras excepcionalmente longas. A pesquisa de Bucy e Grabe (2007) analisou a cobertura das campanhas presidenciais dos anos de 1992, 1996, 2000 e 2004. A conclusão chegada pelos autores foi que, enquanto as sonoras continuam a encolher, o tempo em que os candidatos são mostrados, mas não são ouvidos (as chamadas image-bites) tem aumentado, conclusão semelhante à de Adatto (1990). Os autores observaram que as sonoras continuaram a diminuir de tamanho, mas não de maneira significante. Em 1992, a sonora média encontrada foi de 9,19 segundos; em 1996, 9,23 segundos. Já em 2000, o valor encontrado foi de 8,03 segundos; em 2004 a sonora média foi de 7,73 segundos. Apesar da redução notada, não se verifica um padrão. Os dados dão suporte à hipótese de redução das vinte anos – ouvir um político, ou mesmo de vez em quando um líder comunitário ou um eleitor, falar um parágrafo inteiro (HALLIN, 1994, p. 146, tradução nossa). sonoras, mas são fracos estatisticamente. O estudo também concluiu que, apesar de as sonoras terem o seu tamanho reduzido, elas não diminuíram em quantidade. O trabalho de Bucy e Grabe (2007) trouxe uma perspectiva diferente dos estudos anteriores. A despeito da crítica feita aos telejornais baseadas na redução do tempo de fala dos políticos, estes autores consideraram que as image-bites são subestimadas como fonte de informação política. Sob essa ótica, as imagens dos políticos são facilmente assimiladas e lembradas pela audiência, influenciando, inclusive, no seu voto. Os autores discordaram da hipótese dominante em que as decisões são tomadas com base na razão; para eles, grande parte do eleitorado baseia as suas escolhas em questões afetivas e sinais não verbais passados pelos candidatos. Da pesquisa de Bucy e Grabe (2007), conclui-se que se as sonoras encolheram, mas as image-bites aumentaram, utilizando-se de um critério verbal para medir a aparição dos candidatos nos telejornais, o tempo dedicado a eles diminuiu. Entretanto, se usado o critério visual, o tempo destinado aos candidatos é bastante favorável. Esser (2008) também inovou em sua pesquisa, estudando tanto as sound bites quanto as image bites. O pesquisador não se limita a estudar a cobertura política das eleições estadunidenses, mas amplia o espectro de sua análise a telejornais da Inglaterra, Alemanha e França. O autor identificou diferenças nas culturas de produção de notícia de cada país, mas concluiu que, em geral, elas convergem, se assemelhando em muitos aspectos, o que aponta no sentido da existência de uma cultura transnacional de produção de notícias. Com relação às sonoras, Esser (2008) chegou a conclusões bastante interessantes. Ao contrário da maioria das pesquisas, nesta foram levadas em consideração também as sonoras relativas a entrevistas dos candidatos, o que significou a ocorrência de sonoras mais longas. Conforme o esperado, a duração média das sonoras dos candidatos nos Estados Unidos foi inferior à média européia. Em 2000, a média estadunidense foi de 10,6 segundos, enquanto que em 2004 foi de 8,8 segundos. Todavia, os resultados referentes aos países europeus guardam similitude com os dados dos Estados Unidos. Parece existir também nestes países uma tendência de redução das sonoras. Sobre o conteúdo das sonoras, a pesquisa demonstrou que, nos Estados Unidos, a “retórica de ataque” foi o tema dominante, conforme o esperado, mas que em segundo lugar estão as sonoras com conteúdo substancial. É possível concluir, então, que o curto tamanho das sonoras não implica em ausência de substância. Outra descoberta interessante: nos telejornais de todos os países, o tempo dedicado à narração do jornalista esteve entre 30% e 40%. Tudo indica que exista, portanto, uma regra transnacional de que o tempo de fala do jornalista se sobrepõe ao tempo de fala dedicado ao candidato. Apenas a França não obteve resultados considerados consistentes nesse aspecto. A ocorrência das image bites também se dá como uma regra transnacional – em todos os países, image bites e sonoras estão presentes com a mesma frequência. As conclusões de Esser (2008) indicaram a existência de uma cultura transnacional da notícia, ainda que as culturas nacionais sejam responsáveis pelas diferenças existentes entre os países. 4 A POLÍTICA NO JORNAL NACIONAL Conforme demonstrado no capítulo anterior, as sonoras políticas têm espaço limitado e disputado nos telejornais. O porquê de as sonoras possuírem tamanho tão diminuto é explicado através de algumas das características do telejornalismo contemporâneo: postura mais crítica dos jornalistas, matérias produzidas nos moldes do entretenimento, concorrência entre redes de televisão, perda de credibilidade das fontes oficiais e evolução técnica são alguns exemplos oferecidos pela doutrina estrangeira. Com relação à bibliografia nacional, não temos conhecimento de muitas pesquisas a respeito. Abordam o assunto em questão Mauro Porto (2002; 2007) e Wilson Gomes (2008). Este capítulo irá apresentar quais conclusões sobre o telejornalismo político praticado pelo Jornal Nacional chegaram Gomes e Porto com relação à distribuição das sonoras e, portanto, da visibilidade dos atores políticos no Jornal Nacional. 4.1 AS SONORAS POLÍTICAS A predominância, no telejornal, de sonoras de tamanho muito reduzido não é um fenômeno registrado apenas nos Estados Unidos; essa tendência também é notada no Brasil. Aqui, Porto realizou um estudo inicial sobre a cobertura política do Jornal Nacional, tendo como amostra 24 edições dos anos de 1995 e 1996 (2002) e um estudo posterior no qual foram analisadas 44 edições do Jornal Nacional transmitidas em 1999 (2007). O objeto da pesquisa de Porto não era propriamente o tamanho das sonoras, mas estas foram medidas e analisadas pelo autor. Na primeira pesquisa, a duração média das sonoras políticas do Jornal Nacional foi de apenas 9,47 segundos. Já na amostra de 1999, o valor encontrado foi menor ainda, 7,6 segundos. O autor considerou que a redução das sonoras pode ter como conseqüência a diminuição da apresentação de enquadramentos interpretativos2 no telejornal (PORTO, 2007). Em 1999, Porto (2007) apurou que as notícias de tema político ocupavam a maior parte do telejornal, com 20% do seu tempo total, ficando atrás apenas das notícias classificadas como “miscelânea” (que inclui temas diversos como curiosidades, previsão do tempo). Esta informação pode levar o leitor a crer que o tempo destinado à política é grande; entretanto se cada edição, de acordo com Porto, possui uma média de 29 minutos de conteúdo noticioso, as matérias de conteúdo político somam apenas 5 minutos e 48 segundos por edição. Vale ressaltar, também, que estes poucos minutos são divididos entre âncoras, repórteres, políticos e membros da sociedade civil. Gomes (2008), em sua pesquisa, analisou, além das sonoras, duas outras maneiras em que o ator político aparece no telejornal: as declarações narradas, nas quais suas falas são reproduzidas pelos jornalistas, e as menções ao seu nome tanto pelos jornalistas como por outros atores políticos. A dimensão da visibilidade pública formada pela fala do ator político e pela referência ao seu nome é chamada pelo autor de audioesfera. A amostra analisada foi composta por cem edições consecutivas do Jornal Nacional transmitidas entre 27 de agosto e 20 de dezembro de 2008. O período não foi escolhido por razões especiais, a não ser por se tratar de um momento de cobertura política “normal”, já que não era período eleitoral. O autor evitou também que fossem selecionados períodos muito peculiares da agenda política, como CPIs, por exemplo. Gomes (2008), assim como os demais autores, encontrou sonoras bem curtas. Na amostra pesquisada, as sonoras tiveram uma duração média de 12,9 segundos, resultado ligeiramente superior ao encontrado pelos outros pesquisadores. Entretanto, a sonora típica, ou seja, a mais frequente, teve duração entre 9 e 11 segundos – 26% das sonoras pesquisadas apresentaram essa dimensão, tempo suficiente apenas para uma sentença, uma frase de efeito. As matérias analisadas foram as de conteúdo tipicamente político, que informam à audiência quais as atividades dos agentes políticos. Foram excluídas matérias de interesse social e interesse geral, mesmo que eventualmente um 2 A pesquisa de Porto (2007) buscou investigar quais as controvérsias interpretativas foram apresentadas pelo Jornal Nacional com relação ao processo político. ministro ou o presidente estivessem presentes nelas. De acordo com esses critérios, apenas 15,56% do tempo total do Jornal Nacional foi dedicado à cobertura política, o que representa 4 minutos e 42 segundos do telejornal, que dura um pouco mais de 30 minutos. As sonoras somadas são 3,9% de cada edição – ou seja, os atores políticos têm sua voz ouvida por apenas 1 minuto e 11 segundos por noite. Os dados demonstram o quão limitado e, portanto, disputado é o tempo destinado à voz dos atores políticos no telejornal. Importa considerar que não há dúvidas de que as declarações narradas também são um tempo do telejornal destinado aos dizeres dos atores políticos, mas neste caso, suas palavras são reproduzidas pelos jornalistas. Ao contrário das demais pesquisas, que medem e analisam as sonoras visando identificar as características e peculiaridades do telejornalismo contemporâneo, Gomes foi orientado por perspectiva distinta em seu estudo, “que encara o telejornalismo exclusivamente na sua característica de arena pública e está principalmente interessado em identificar meios, modos e formas de distribuição da visibilidade pública nesta arena” (2008, p. 13). Orientação igual irá guiar esta monografia. 4.2 COMO SE DISTRIBUI A VISIBILIDADE O Jornal Nacional destina uma pequena parte do seu tempo às matérias de conteúdo político. Menor ainda é o tempo ocupado pelas sonoras. Conclui-se, a partir do que foi dito até agora, que ser visto e ouvido no Jornal Nacional é privilégio de poucos. Mas quem compõe esse grupo restrito de políticos com cota de visibilidade no maior telejornal do país? O centro da cobertura jornalística da esfera política no Jornal Nacional é Brasília: o presidente e o vice-presidente da República, seus ministros, os senadores e os deputados federais. Ou seja, ator político, no Jornal nacional, é aquele que possui mandato ou cargo público no governo federal (Gomes, 2008). Governadores, prefeitos e outras figuras políticas de caráter local possuem baixíssima visibilidade, assim como os políticos desprovidos de mandato ou cargo, que são invisíveis, de maneira geral. Na pesquisa realizada por Gomes (2008), nenhum político sem cargo ou mandato teve participação significativa na audioesfera, não conseguindo obter mais de 1% das sonoras, declarações narradas ou menções. Nem mesmo figuras de importância nacional, como Ciro Gomes, que não teve nenhuma sonora, declaração ou menção na amostra estudada. De acordo com Gomes (2008, p.16), A soleira mínima de visibilidade exclui, portanto, de início, um grande número de tipos de atores políticos, notadamente aqueles que não pertencem à esfera de decisão política, aqueles que não possuem cargos federais ou mandatos e aqueles cujo âmbito de atuação política está fora da locação principal das narrativas políticas do jornalismo, a capital federal. Se Brasília é o centro da cobertura política, o Poder Executivo é o seu ponto focal, representando o assunto da maioria das matérias. Já o Poder Legislativo, de maneira geral, possui um espaço reduzido na cobertura política, excetuando-se os períodos em que se discute um projeto de lei com grande repercussão nacional ou quando suas atividades fogem da normalidade – por exemplo, um escândalo envolvendo algum de seus membros ou uma CPI em andamento. Em sua pesquisa, Gomes (2008), apesar de esperar que o presidente da República fosse o ator político com maior cota de visibilidade dentre todos os outros, ficou surpreso com a desproporção existente entre a visibilidade do presidente Lula e a dos demais atores políticos. Lula teve 21,8% de todas as sonoras do Jornal Nacional. Em segundo lugar ficou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, com apenas 4,4% do total de sonoras. Além disso, as sonoras do presidente registraram uma duração média de 19,6 segundos, aproximadamente 50% maior do que média da duração de todas as sonoras. Ele também é o dono da sonora mais longa das cem edições analisadas, com 44 segundos. Lula ainda obteve 40% das declarações narradas e 31% das menções nominais. Guido Mantega ficou em segundo lugar também nas declarações narradas, com apenas 9%, e Renan Calheiros foi o vice em menções nominais, com significativos 20% referentes ao período em que o então presidente do Senado estava protagonizando um escândalo político. Após deixar a presidência do Senado, Renan Calheiros simplesmente desapareceu da audioesfera. Gomes aponta para a ausência quase que total de atores fora do triângulo presidente-ministros-senadores no núcleo da audioesfera política, principalmente os membros da Câmara dos deputados, que ocuparam em geral apenas faixas de média e baixa visibilidade. Arlindo Chinaglia, presidente do congresso e deputado com maior cota, teve apenas cinco sonoras em toda a amostra. Do total de 513 deputados federais, apenas 8,7% tiveram uma sonora, 3,7% tiveram, pelo menos, uma declaração narrada, e 4,4% foram mencionados nominalmente. Com relação aos membros do Senado, dos 80 senadores em exercício no período da amostra, 41 deles tiveram ao menos uma sonora, 21 senadores tiveram pelo menos uma declaração narrada e 38 foram mencionados. No entanto, apenas seis senadores compõem o centro da visibilidade política. Os ministros completamente ausentes foram 14. Um total de 19 ministros alcançou visibilidade em alguma das categorias, mas apenas 5 fazem parte da elite da audioesfera. No total, apenas 150 atores políticos de alcance nacional estiveram presentes no telejornal durante o período estudado. Desses, apenas dez possuem uma cota de visibilidade considerada alta pelo autor3: o presidente, quatro ministros, quatro senadores e um presidente de empresa estatal. Essa seria a elite da audioesfera. Incluindo nesse seleto grupo os possuidores de uma cota média de visibilidade, somam-se 17 senadores, 6 deputados, 5 ministros, o presidente do Banco Central e o governador de um estado, ou seja, a elite da audioesfera passa a ser formada por 40 atores políticos, dos quais 10 possuem cotas de visibilidade alta e 30 possuem cotas médias. Cumpre salientar que a razão de alguns terem uma visibilidade tão grande e outros serem completamente invisíveis não está vinculada a uma seleção ideológica, já que não seria possível explicar a pouca presença de membros do Democratas e o excepcional destaque dado ao presidente e seus ministros. Sobre o assunto, Gomes (2008, p. 25) afirma que “a hipótese mais promissora diz respeito ao modelo institucionalista de clivagem adotada pelo Jornal Nacional”. As cotas de visibilidade obedecem a uma hierarquia institucional: em primeiro lugar, o presidente da República, seguido, em ordem, pelos membros do Senado, os ministros e os deputados federais. Sequer o vice-presidente possui uma visibilidade representativa. Disto, conclui-se que os donos das cotas não são os atores políticos, mas os cargos que eles exercem. Assim, não é Lula que possui altas cotas na audioesfera, mas sim o presidente da República. 3 Atores políticos com até 15.8 segundos de sonoras, 7,0 segundos de declarações e 2,5 menções narradas a cada 10 edições do Jornal Nacional estão na faixa de visibilidade alta. Os que possuem de 15,7 a 4,6 segundos de sonora, de 6,9 a 3,5 segundos de declarações e 2,4 a 1,0 menção se localizam na faixa de visibilidade média. Abaixo desses valores mínimos, os atores políticos possuem uma baixa visibilidade. A cota do presidente foi considerada como de visibilidade excepcional (GOMES, 2008). Com relação aos ministros, existe um critério diverso. Ao que parece, o que determina um espaço maior na audioesfera é “a importância social circunstancial da pasta que representam” (GOMES, 2008, p. 25). Dessa forma, o destaque de Guido Mantega nesse período é consequência não apenas da questão crônica da economia brasileira, mas também da circunstância da CPMF, que estava sendo discutida. No caso do Senado e da Câmara dos Deputados, o critério determinante também é o papel exercido, e não a figura pessoal do ator político (GOMES, 2008). Quando o senador José Agripino fala, quem fala é a “oposição”; quando o senador Romero Jucá fala, quem fala é o “governo”. Logo, para ter uma cota na audioesfera e nela permanecer, o ator político deve ocupar uma função importante no Senado ou na Câmara, como a liderança de partidos e a presidência do Senado, participar de comissões permanentes, como a Comissão de Constituição e Justiça, ou temporárias, como as CPIs. Os protagonistas da audioesfera brasileira, portanto, “não são pessoas, são lugares narrativos” (GOMES, 2008, p. 26). Enquanto Gomes (2008) encontrou que o noticiário político está focalizado nos atores que possuem cargo ou mandato no âmbito federal dos poderes legislativo e executivo, conclusão diversa foi auferida por Porto (2007) em sua amostra. Em 1999, os atores com maior presença na cobertura política foram os cidadãos comuns, com 32%, o dobro do tempo destinado às chamadas pelo autor de fontes oficiais (Presidente, ministros e outras autoridades governamentais), que obtiveram 16% de todas as sonoras. Esse índice também foi superior ao dos congressistas, cuja cota de visibilidade foi de 20%, e ao dos políticos que não eram membros do Congresso, que obtiveram 10%. Porto (2007) atribuiu o pouco prestígio das fontes oficiais no noticiário às mudanças implementadas no Jornal Nacional a partir de 1995. William Bonner, âncora e editor-chefe do JN, ao ser entrevistado pelo autor, esclareceu que naquele momento existia uma nova orientação de enfatizar menos a conversa dos políticos e dar mais voz aos cidadãos comuns. Neste ínterim, ao levar em consideração os resultados encontrados por Gomes (2008), parece que essa orientação foi deixada de lado. Com relação à temática abordada, o assunto mais frequente das notícias de tema político, na pesquisa de Porto (2007), foi “corrupção/escândalo político”, com 37% das notícias e 45% do tempo total da cobertura política, resultado que se explica por estarem em andamento, naquele momento, duas Comissões Parlamentares de Inquérito, a CPI do Narcotráfico e a CPI do Judiciário. A maior parte da cobertura teve, portanto, um tom negativo. Em segundo lugar estavam as notícias da categoria “iniciativa ou política governamental”, com 15% do total das notícias e 15% do tempo total da cobertura política. As notícias sobre o presidente só alcançam o quarto lugar, com 7% das notícias e 5% do tempo. Entretanto, se somadas à categoria “iniciativa ou política governamental”, as notícias sobre o Poder Executivo alcançam 22% de todas as notícias políticas. Esses resultados demonstram a capacidade que o Poder Executivo tem para influenciar a agenda da mídia (PORTO, 2007). O Congresso não consegue protagonizar muitas notícias. Apenas 8% do total das notícias pesquisadas foram sobre os membros da Câmara dos Deputados ou do Senado. Não podemos deixar de considerar que, quando da realização da pesquisa, estavam em andamento duas Comissões Parlamentares de Inquérito, que foram responsáveis pelo alto percentual das notícias sobre corrupção e escândalos políticos. Os parlamentares apareceram, portanto, não somente nos 8% das notícias dedicadas a eles, mas também nas notícias dedicadas às CPIs. Sobre isso, Porto afirma que: Essa ênfase em corrupção e nas atividades das CPIs, pelo principal telejornal do País, tem o potencial de influenciar o trabalho dos congressistas. Em um cenário desse tipo, existem fortes incentivos para que parlamentares busquem fazer parte das CPIs, já que tal participação garante aos participantes uma boa visibilidade no plano nacional. (PORTO, 2007, p.156). Ou seja, a grande oportunidade que os membros do Congresso tiveram para aparecer no Jornal Nacional foi nas notícias sobre corrupção e escândalos políticos, como membros das Comissões Parlamentares de Inquérito. As duas análises da cobertura do Jornal Nacional, apesar serem feitas em anos diferentes, de adotarem métodos e critérios distintos umas das outras e de divergiram com relação a alguns resultados, convergem em alguns aspectos e permitem conclusões úteis ao nosso estudo: • As sonoras são muito pequenas. A sonora média do Jornal Nacional dura apenas o necessário para que seja emitida uma frase. • São pouquíssimos os atores políticos com alguma visibilidade no Jornal Nacional. • O noticiário segue, atualmente, um viés institucionalista; • A cobertura política do telejornal é voltada principalmente ao Poder Executivo e aos escândalos políticos. • Os membros do Congresso Nacional, principalmente os deputados, têm pouco espaço no telejornal, com exceção dos que ocupam funções importantes. Deputados e senadores disputam espaço no Jornal Nacional com o presidente e seus ministros, com os próprios jornalistas, que aparecem cada vez mais, e ainda enfrentam o problema das sonoras reduzidas. Participar de uma CPI é, portanto, uma boa maneira de conseguir um aumento de visibilidade, ainda que temporário. Aliado à vantagem de ocupar uma função importante, que por si já garante um acréscimo de visibilidade, está o fato de a CPI ser, ela própria, um escândalo político, o que agrega ainda mais atenção do jornalismo à notícia. 5 O JORNAL NACIONAL E A CPI DOS CARTÕES CORPORATIVOS A amostra da nossa pesquisa foi retirada do Jornal Nacional, telejornal noturno exibido pela Rede Globo de segunda a sábado. O recorte temporal ideal da amostra foi delimitado entre o dia 16 de fevereiro de 2008 e o dia 28 de junho de 2008, período que engloba a duração da CPI e também as vinte edições anteriores ao seu início, no dia 11 de março, e as vinte edições posteriores ao seu encerramento, em 5 de junho, somando um total de 115 edições. Entretanto, devido a problemas técnicos, 17 edições não foram analisadas4. O recorte temporal escolhido se justifica pela hipótese de que a CPI agrega a seus membros um acréscimo de visibilidade – é por isso que os dias que antecedem e sucedem a instauração e o encerramento dos trabalhos da CPI também foram incluídos na amostra. Líder de audiência entre os programas informativos e um dos três programas mais assistidos da televisão aberta, o JN registrou, de acordo com o IBOPE, uma média de audiência de 33 pontos no período pesquisado5. As edições do corpus foram decupadas da seguinte maneira: todo ator político6 visto e ouvido teve sua sonora identificada de acordo com a data, o bloco e a cabeça da matéria em que foi exibida, o sujeito (o nome do ator político, sua função e seu partido – vale ressaltar que políticos sem cargo ou mandato e sem partido também foram incluídos na análise) e o seu tempo de duração. A duração das sonoras foi medida em segundos, sendo descartadas as frações de tempo inferiores por uma questão de praticidade e viabilidade da pesquisa, tendo em vista o tamanho da amostra. A decupagem levou em consideração todas as sonoras dos atores políticos presentes no Jornal Nacional, independentemente de estarem inseridas em matérias políticas em sentido estrito – as que possuem como tema principal atividades típicas 4 As edições do Jornal Nacional foram colhidas a partir do portal Globo.com, que disponibiliza a íntegra da sua programação para assinantes. Todavia, as edições dos dias 16, 18, 19, 20, 21, 22, 23 e 25 de fevereiro, 13, 14, 15 e 24 de março, 19 de maio e 10, 13 e 27 de junho não estavam disponíveis no site. Além delas, as edições dos dias 10 e 29 de março e 15 de abril apresentaram problemas técnicos. O dia 10 de março foi inteiramente prejudicado, mas os dias 29 de março e 15 de abril puderam ser parcialmente analisados. A pesquisa será aditada posteriormente, quando da posse desse material. 5 Ou seja, 33% dos domicílios pesquisados assistiram ao Jornal Nacional no período pesquisado. Este valor se refere à audiência média registrada na Grande Rio de Janeiro e na Grande São Paulo. Os universos de análise foram, respectivamente, de 3.633.098 e 5.554.600 domicílios. 6 Por ator político entendemos todo aquele socialmente reconhecido como tal pelo papel que exerce. dos Poderes Executivo e Legislativo – ou em matérias políticas em sentido amplo – cujo tema central são questões sociais ou de interesse geral, mas a política é uma questão incidente. As passagens dos repórteres, assim como as cabeças e as notas-pé dos âncoras foram desconsideradas. Os dados colhidos por meio da decupagem foram organizados em planilhas de acordo com categorias pré-estabelecidas e analisados, inicialmente, a partir de mecanismos estatísticos básicos, como porcentagem e média (SOUSA, 2006). À análise quantitativa dos dados manifestos, sucedeu a análise qualitativa – a interpretação dos resultados obtidos em busca de identificar os significados latentes, implícitos daquele conteúdo – de acordo com orientação híbrida (HERCOVITZ, 2007) escolhida para guiar a análise de conteúdo dessa pesquisa, conforme esclarecido na Introdução desta monografia. Nas 98 edições do Jornal Nacional pesquisadas, foram encontradas 439 sonoras políticas que somaram um total de 6.097 segundos em 214 matérias. Logo, a duração média das sonoras da amostra em questão é de 13,8 segundos, valor ligeiramente superior ao encontrado por Gomes (2008) em estudo realizado em 20077, ano anterior ao da nossa amostra. Atribuímos esse valor um pouco aumentado à existência, na amostra, de sonoras excepcionalmente longas, conclusão essa que remete à pesquisa de Lowry e Shidler (1998). Os autores, ao encontrarem uma duração média das sonoras superior ao que esperavam, atribuíram tal resultado à ocorrência de sonoras de longa duração, em contraste com o tamanho reduzido das demais. A mesma observação cabe a esta monografia. Consideramos uma sonora de longa duração aquela que se estende por 30 segundos ou mais. Apenas 20, das 439 sonoras encontradas, podem ser consideradas de longa duração. Somadas, essas 20 sonoras contam 788 segundos, ou seja, 4,5% do total de sonoras significam aproximadamente 13% da duração de todas as sonoras somadas. O resultado é mais significativo quando consideramos apenas as matérias cujo tema é a CPI dos Cartões Corporativos. Das 20 sonoras longas encontradas, 7 estão incluídas nestas matérias. Dentre as 173 matérias de temática política, 33 diziam respeito à CPI dos Cartões Corporativos. Dentro desse recorte, encontramos 7 A sonora média encontrada por Gomes (2008) foi de 12,9 segundos. 108 sonoras com uma duração total de 1584 segundos, o que significa uma sonora média de cerca de 14,7 segundos, valor superior ao da amostra integral. Aqui, as sete sonoras com 30 segundos ou mais contam sozinhas 337 segundos, ou seja, representam 6,4% de todas as sonoras e 21,3% dos segundos de sonoras deste recorte. A presença de algumas sonoras com duração muito maior do que as demais elevou, portanto, o valor da sonora média, principalmente no que tange a cobertura da CPI dos Cartões. A maioria dessas sonoras – oito – pertence ao presidente da República, Lula. Dilma Rousseff, ministra da Casa Civil, possui seis, das quais cinco estão relacionadas à CPI, já que ela era a figura política central das investigações. São de Dilma as únicas sonoras com mais de 50 segundos, três no total, e, consequentemente, a maior sonora de toda a amostra, com 59 segundos. Esses dados destoam da pesquisa de Gomes (2008). Enquanto em nossa pesquisa a sonora com maior duração em toda a amostra pertenceu a Dilma Rousseff, que por três vezes falou por quase um minuto, a maior sonora encontrada pelo referido autor pertenceu a Lula e durou 44 segundos. Por outro lado, em nossa pesquisa, a sonora mais longa de Lula conta com 47 segundos, valor semelhante ao encontrado por Gomes. Esta pode ser uma indicação de que as sonoras muito longas estão presentes na cobertura política de maneira eventual e pertencem, em sua maioria, ao presidente, mas que CPIs ou outros escândalos políticos de grande repercussão aumentam a sua incidência. As sonoras excepcionalmente longas consistem, geralmente, em discursos, pronunciamentos oficiais (entrevistas coletivas, em geral) e, no que se refere à CPI, depoimentos e esclarecimentos oficiais ou não. Enquanto que as sonoras menores são inseridas em uma narrativa existente a fim de exemplificar ou dar suporte à própria narrativa, as sonoras muito compridas são a notícia em si (GOMES, 2008). Elas precedem à narrativa, que se constrói em torno delas. Para ilustrar, tomemos como exemplo a matéria exibida no dia 28 de março, sobre a CPI dos cartões. William Bonner diz: “A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, respondeu à denúncia de que uma assessora dela seria a responsável por um dossiê sobre gastos pessoais do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso”. O acontecimento de que trata a matéria, neste exemplo, é a sonora de 57 segundos na qual a ministra Dilma Rousseff responde às denúncias contra a sua assessora. 5.1 DISTRIBUIÇÃO DAS SONORAS – QUADRO GERAL O tempo destinado às sonoras em cada edição do Jornal Nacional, assim como nas demais pesquisas, foi bem reduzido. Em nossa amostra, por dia, apenas 1 minuto e três segundos do noticiário são ocupados com a voz e a imagem dos atores políticos. Esse é o tempo pelo qual eles devem disputar para que consigam se fazer ver e ouvir pelos telespectadores. Esse minuto é precioso, já que o Jornal Nacional é, sem dúvida, o telejornal mais importante do país. É o mais antigo, o mais assistido entre os demais telejornais e ainda é um dos programas de maior audiência de toda a televisão (GOMES, 2008; SOUZA, 2007). Essa importância não passa despercebida pelos atores políticos, que possuem conhecimento do quão valioso podem ser alguns poucos segundos no telejornal noturno. Sobre isso, Souza (2007) cita a fala do senador Jorge Bournhausen (PFL-SC) em matéria do jornal O Estado de São Paulo em 20/07/2006: “É preciso mobilizar para entrar no Jornal Nacional. O Álvaro [Dias, senador do PSDB Paraná] tem razão: nosso objetivo se chama Jornal Nacional. Quem ganhar no Jornal Nacional ganha a eleição”. Em nosso corpus, apenas 124 atores políticos conseguiram figurar nesse minuto disputadíssimo. No início da pesquisa, ao nos perguntarmos quais seriam os atores presentes, levantamos a hipótese de que o centro do noticiário político seria Brasília; políticos com cargos ou mandatos no âmbito federal seriam preferidos com relação aos demais. A hipótese se confirmou, mas não na proporção esperada. Dentre os 124 atores que obtiveram alguma sonora, 25,8% deles eram autoridades política de alcance local. Apesar de esse ser um valor baixo, esperávamos que ele fosse ainda menor. Em conformidade com a hipótese formulada, a grande maioria das sonoras pertence à presidência, aos ministros, aos senadores e aos deputados federais – 84% de todas elas (Gráfico 1). Este percentual, no entanto, também destoou das nossas expectativas, tomando por base a pesquisa de Gomes (2008), na qual esse percentual chegou a 94,5%, quase a totalidade das sonoras. Esta diferença entre os resultados pode ser atribuída aos critérios utilizados em cada estudo. Enquanto Gomes (2008) considerou como relevante para a sua pesquisa apenas as matérias políticas cuja temática dizia respeito à atividade política propriamente dita, nesta pesquisa foram consideradas as matérias políticas em sentido amplo, ou seja, todas as matérias nas quais a atividade política é abordada, mesmo que de maneira incidente. Provavelmente esta escolha tenha sido a causa das diferenças existentes, já que as matérias de interesse geral e, principalmente, de interesse social presentes ao longo da amostra muitas vezes tratam de questões locais, possuindo como fontes, portanto, autoridades locais. Nos 16% das sonoras que não pertencem ao núcleo da política nacional, estão presentes dois tipos de atores políticos: a) políticos atuantes na esfera estadual ou municipal, como governadores e prefeitos; b) políticos desprovidos de cargo ou mandato. Ambas as espécies de atores políticos apenas recebem alguma visibilidade quando envolvidas em um escândalo ou em inseridas em matérias que tratam da política relacionada a questões de interesse geral ou social, conforme pontuado no parágrafo acima. Assim, as quatro sonoras que César Maia, prefeito do Rio de Janeiro, obteve ao longo da amostra justificam-se devido ao surto de dengue ocorrido na cidade no ano passado (temática social com implicações políticas); da mesma forma em que se associa a sonora obtida por Luiz Gushiken, ex-ministro da Secretaria de Comunicação do primeiro governo do presidente Lula, ao escândalo do mensalão, que foi notícia quando os envolvidos prestaram depoimento à Justiça. Com relação aos atores políticos sem cargo ou mandato, todas as suas sonoras somadas representam apenas 2,3% do total de sonoras. Políticos de influência nacional foram completamente excluídos da cobertura política, como Ciro Gomes, por exemplo, que não obteve sequer uma sonora ao longo de toda a amostra. Fernando Henrique Cardoso, por sua vez, apesar de sua grande importância no cenário político, apareceu em três sonoras, apenas; duas delas em matérias sobre a CPI e a suposta existência de um dossiê sobre os gastos seus, de sua esposa e de seus assessores durante o período em que governou, e uma sonora em matéria sobre o falecimento da ex-primeira-dama, Ruth Cardoso. O Gráfico 1 demonstra a distribuição da ocorrência das sonoras no que concerne à função do seu sujeito. Ministros e senadores, somados, possuem mais do que a metade de todas as sonoras, enquanto que o Presidente e o VicePresidente possuem apenas 14%. Vale frisar, contudo, que os percentuais podem nos oferecer uma visão incorreta acerca dos fatos. Tomemos como exemplo o presidente e o vice-presidente, que juntos ocupam um percentual de visibilidade inferior ao dos ministros, dos senadores e dos deputados federais. Deve ser levado em consideração que o percentual destinado à Presidência se divide entre apenas duas pessoas, enquanto foram 23 os ministros8 que obtiveram alguma sonora. As cotas de visibilidade do Senado e da Câmara dos Deputados, por sua vez, foram repartidas entre 26 senadores e 31 deputados, respectivamente. 26,80% 25,20% 17,40% 14% 5,40% 5% Ministros Senadores Deputados federais Presidente e Vice Governadores 2,30% 2,30% Deputados estaduais Sem Cargo 1,60% Prefeitos Outros cargos Gráfico 1: Distribuição das sonoras Ressalte-se que a grande maioria dos atores políticos não consegue obter uma visibilidade significativa no Jornal Nacional. Cerca de 78% deles não apareceram em mais de 1% de todas as sonoras, enquanto que 49% obtiveram somente uma sonora ao longo das 98 edições pesquisadas. São apenas 26 os atores políticos que obtiveram cota superior a 1%. Somadas as suas sonoras, elas representam 64% com relação à quantidade total e 68% com relação ao tempo total das sonoras. Percebe-se, portanto, que a distribuição da visibilidade no Jornal Nacional ocorre de maneira desigual, desproporcional e extremamente concentrada 8 Foram considerados ministros, para efeito desta análise, os vinte e três ministros e também os diretores de órgãos e secretarias com status de Ministério, como a Casa Civil e a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, somando um total de trinta e sete ministros. em poucas pessoas. Os demais atores políticos aparecem muito pouco ou simplesmente não aparecem. 5.1.1 Faixas de visibilidade Para uma melhor compreensão acerca da distribuição da visibilidade, nós analisamos individualmente a cota de cada ator político a fim de qualificar a sua visibilidade em alta, média e baixa. Para isso, utilizamos as faixas de visibilidade formuladas por Gomes (2008), que estabelecem recortes nos segundos acumulados por cada sujeito. Optamos por nos servir de um critério alheio, ao invés de propor um próprio, pelas seguintes razões: a pesquisa de Gomes levou em consideração também as declarações narradas e as menções nominais, que influíram na decisão a respeito do recorte, conferindo-lhe mais coerência; as faixas de visibilidade se adequaram bem aos nossos resultados e nos foram úteis. A faixa de visibilidade considerada alta pelo pesquisador é o intervalo entre 31,2 e 15,8 segundos a cada dez edições do telejornal; a faixa de visibilidade média se situa entre 15,8 e 4,6 segundos a cada dez edições e a faixa de visibilidade baixa são todas as inferiores a estas. Compete observar que o presidente Lula e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, não se adaptam ao critério apresentado, posto que possuem uma visibilidade muito superior ao limite máximo do intervalo estabelecido como alto. Dilma obteve 51,4 segundos a cada dez edições, valor que não se explica pela frequência de suas sonoras, mas sim pelo fato de a ministra ter figurado em sonoras excessivamente longas, conforme mencionado anteriormente. Com relação à quantidade de sonoras, a ministra tem apenas duas a mais do que o senador Romero Jucá; entretanto, no que concerne ao tempo, Dilma tem uma vantagem incrível de 302 segundos a mais que o senador. Deste modo, é dela a maior sonora média, com 27,3 segundos. O presidente Lula registrou um patamar significativamente mais alto do que todos os demais, com 111,6 segundos a cada dez edições, possuindo, portanto, uma visibilidade excepcional9, haja vista ser inalcançável por qualquer outro ator. Os 9 Denominação utilizada por Gomes (2008). dados demonstraram que é dele a maior cota de visibilidade e que esta cota é extremamente superior à possuída pelos demais. Lula só perde quando levada em consideração a duração média de suas sonoras, que é de 18,5 segundos, bem inferior à sonora média da ministra da Casa Civil. A faixa de visibilidade alta se divide entre três ministros e dois senadores. Aí estão Guido Mantega, com 19,8 segundos, Romero Jucá, com 19,7 segundos, Carlos Minc, com 18,7 segundos, Álvaro Dias, com 17,8 segundos, e Tarso Genro, com 17,2 segundos a cada dez edições. Na faixa média de visibilidade, estão sete senadores, seis ministros, sete deputados, o vice-presidente, o governador de São Paulo e o prefeito do Rio de Janeiro. Ressalve-se que o intervalo de visibilidade média é amplo e, em razão disso, dentro dele estão abarcadas cotas de visibilidade bem distintas. Na faixa de visibilidade baixa encontram-se os demais atores políticos. 5.1.2 Quem são os atores políticos que mais aparecem no JN São vinte e um os atores políticos com maior visibilidade. São estes atores que se fazem ver e ouvir de maneira significativa, com grandes chances de que seu nome e rosto sejam lembrados pela audiência. A Tabela 1 mostra quem são os atores políticos donos das mais altas cotas de visibilidade no Jornal Nacional considerando os segundos acumulados e a quantidade de sonoras obtidas. Levando em consideração o valor relativo à soma do tempo de todas as sonoras presentes na amostra, Lula é dono da maior fatia, com 1.072 segundos, o equivalente a 17,6%. Dilma Rousseff, em segundo lugar, não alcança nem a metade do percentual do presidente, com 8%. Ainda assim, a cota da ministra é alta, comparada aos demais atores, fato que se justifica por estar em andamento a CPI dos Cartões Corporativos, na qual foram suscitadas denúncias contra funcionários da Casa Civil e contra a própria ministra. Por conta disso, a maior parte dos segundos que obteve a ministra Dilma no Jornal Nacional foram gastos em razão de esclarecimentos acerca do ocorrido. Guido Mantega e Romero Jucá, empatados no terceiro lugar, possuem 3,1% cada do tempo total das sonoras. Em nossa amostra, a visibilidade do ministro da Fazenda não teve nenhuma razão especial, a não ser o fato de que questões econômicas fazem parte do conteúdo regular do telejornal. Consistente com os resultados de Gomes (2008), esta parece também ser a razão da visibilidade dos ministros da Saúde, da Justiça e da Defesa, já que estão relacionados a questões de grande relevância social, sempre presentes na cobertura jornalística. Já Carlos Minc, invisível até meados de maio, recebeu grande destaque em função da demissão da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e da sua nomeação para a pasta. José Múcio Monteiro, por sua vez, esteve sempre presente nas narrativas que envolviam o Poder Legislativo e o jogo político entre oposição e governo, já que a Secretaria das Relações Institucionais atua diretamente na coordenação política e na condução do relacionamento do governo com o Congresso. TABELA 1 Distribuição das sonoras quanto ao tempo e à quantidade Ator político Lula Dilma Rousseff, ministra da Casa Civil Sen. Romero Jucá, PMDB-RR, líder do governo Guido Mantega, ministro da Fazenda Carlos Minc, ministro do Meio Ambiente Tarso Genro, ministro da Justiça Sen. Álvaro Dias, PSDB-PR, líder da minoria Nelson Jobim, ministro da Defesa Sen. Garibaldi Alves, PMDB-RN, presidente do Senado Sen. Arthur Virgílio, PSDB-AM, líder do partido José Múcio Monteiro, ministro das Relações Institucionais Sen. Marisa Serrano, PSDB-MS, presidente da CPI José Gomes Temporão, ministro da Saúde Sen. José Agripino, DEM-RN, líder do partido Dep. Maurício Rands, PT-PE, lide do partido José Serra, governador de São Paulo Dep. Luiz Sérgio, PT-RJ, relator da CPI Dep. Paulo Pereira da Silva, PDT-SP Dep. ACM Neto, DEM-BA, líder do partido Sen. Sérgio Guerra, PSDB-PE, presidente do partido Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente % Tempo 17,60% 8% 3,10% 3,10% 3,00% 2,80% 2,80% 2,20% 2,20% 2,10% 2% 1,90% 1,70% 1,60% 1,40% 1,40% 1,40% 1,30% 1,20% 1,20% 1,20% % Quantidade 13,40% 4,10% 3,60% 2,50% 2,50% 3,20% 3,00% 2,50% 2,30% 2,70% 1,80% 2,30% 2,10% 1,80% 1,60% 1,60% 1,40% 1,80% 1,60% 1,40% 1,40% Sobre os deputados e senadores, a visibilidade deles esteve relacionada a duas razões. A primeira delas é o seu envolvimento com algum escândalo político. No caso dos senadores Álvaro Dias, Marisa Serrano e José Agripino e do deputado Luiz Sérgio, boa parte das suas sonoras, se não todas elas, estavam inseridas em matérias sobre a CPI dos Cartões, visto serem membros de tal comissão (esta constatação será analisada detalhadamente mais adiante). Já o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical, deve sua visibilidade ao seu envolvimento com o esquema de desvio de verbas do BNDES, desmontado pela Polícia Federal no mês de abril. A segunda razão diz respeito aos demais deputados e senadores presentes. Todos eles ocupavam, ao longo da amostra, alguma posição estratégica no Congresso, seja como presidente do Senado, seja como líder partidário. Isso explica que sejam eles, e não os demais senadores e inúmeros deputados10 que estejam na conformação deste grupo seleto de atores políticos com visibilidade significativa no Jornal Nacional. 5.2 A COBERTURA DA CPI Os escândalos políticos possuem espaço garantido na cobertura jornalística da política. Com as CPIs, não poderia ser diferente. A existência de uma Comissão Parlamentar de Inquérito em andamento no Congresso é sempre notícia na imprensa (PORTO, 2007). Esta característica do jornalismo nos remete, de imediato, à incidência de uma visibilidade negativa sobre os seus envolvidos; entretanto, muitos são os que podem se beneficiar às custas de um bom escândalo político. No início da pesquisa, formulamos a hipótese de que a CPI acresce visibilidade à cota de seus membros, e esta seria a razão primordial pela qual os cargos de tais comissões, como presidência e relatoria, serem tão disputados. Esta visibilidade é, obviamente, de natureza positiva, em oposição ao enfoque negativo que se espera da visibilidade dada aos políticos indiciados e investigados pelas comissões. Para testar esta hipótese, dividimos a análise em duas etapas: • Etapa nº 1: Analisamos apenas as matérias cuja temática abordada foi a CPI dos Cartões Corporativos a fim de descobrir quais atores políticos obtiveram sonoras, quais desses atores eram membros da Comissão e quais não pertenciam a ela. 10 Ao total, são 81 senadores e 513 deputados. • Etapa nº 2: Levando em consideração as sonoras dos atores que compunham a CPI presentes em toda a amostra, identificamos quais delas estavam inseridas na cobertura da Comissão e quais ocorreram nas demais matérias. Através dessas duas etapas, buscamos avaliar as variações da ocorrência das sonoras de cada ator político ao longo do tempo para constatar se a CPI realmente significa um incremento à visibilidade dos seus envolvidos. A cobertura da CPI dos Cartões Corporativos consistiu em 33 matérias que contaram com 26% de todo o tempo dedicado às sonoras na amostra. Apesar de representar apenas 15% do total de matérias, a cobertura da CPI foi responsável por um número significativo de sonoras: 108, somando um total de 1584 segundos. Conclui-se, portanto, que as matérias sobre a CPI possuíram uma grande quantidade de segundos de sonoras. Da primeira etapa, concluímos que a maioria dos atores políticos que conseguiram alguma sonora não compunha a Comissão. Estiveram presentes na cobertura política 14 senadores, 9 deputados, 7 ministros, um ex-ministro, Lula e Fernando Henrique Cardoso, somando um total de 33 atores políticos. Deste total, apenas 15 eram membros da CPI – 8 senadores e sete deputados –, o que significa que a maior parte dos atores políticos que participaram da composição da Comissão não obteve nenhuma sonora. Ao longo de toda a cobertura, dos 49 senadores e deputados que participaram da composição da Comissão11, 34 permaneceram absolutamente invisíveis. Para eles, portanto, a CPI não significou acréscimo de visibilidade algum. Com relação aos políticos que figuraram na cobertura da CPI, Dilma Rousseff obteve a grande maioria das sonoras, que somaram 393 segundos, o que equivale a 25% de todos os segundos (Tabela 2). Tamanha visibilidade deveu-se ao fato de que a ministra se viu envolvida no escândalo do dossiê que teria sido produzido pela Casa Civil acerca de gastos do governo FHC. Por conta disso, grande parte das sonoras de Dilma foi gasta com justificativas e explicações. Romero Jucá, apesar de não fazer parte da composição da CPI, ficou com a segunda maior fatia dos segundos, com 9%. Tudo indica que Jucá tem uma cota 11 Este número se refere a todos os atores políticos que compuseram, em algum momento, a CPI dos Cartões Corporativos, como titulares ou suplentes, visto que muitos deles foram substituídos por outros ao longo do andamento da Comissão. A fonte desses dados foi o Relatório Final da CPI, elaborado pelo relator, Dep. Luiz Sério, PT-SP. regular de visibilidade, já que, como líder do governo no Senado12, é figura sempre presente no debate político. Em 2007, ele era o 4º ator político com mais segundos de sonora (GOMES, 2008), atrás apenas de Lula, Guido Mantega e Renan Calheiros (este último envolvido em um grande escândalo). O membro da CPI com maior visibilidade foi Álvaro Dias, que ocupa o terceiro lugar, com 8,6% de todas as sonoras, seguido pela presidente da CPI, Marisa Serrano, com 7,4% e por Luiz Sérgio, relator da Comissão, com 5%. Os cinco atores políticos com mais visibilidade possuem, juntos, 55% de todo o tempo destinado às sonoras. Atrás deles estão José Agripino, Arthur Virgílio, José Múcio Monteiro, Garibaldi Alves e Lula, que só consegue um 10º lugar, com 3,1%. TABELA 2 Distribuição do tempo e da quantidade das sonoras na cobertura da CPI Ator político Dilma Rousseff, ministra da Casa Civil Sen. Romero Jucá, PMDB-RR, líder do governo Sen. Álvaro Dias, PSDB-PR * Sen. Marisa Serrano, PSDB-MS, presidente da CPI * Dep. Luiz Sérgio, PT-RJ, relator da CPI * Sen. José Agripino, DEM-RN, líder do partido * Sen. Arthur Virgílio, PSDB-AM, líder do partido José Múcio Monteiro, ministro das Relações Institucionais Sen. Garibaldi A. Filho, PMDB-RN, presidente do Senado Lula Tarso Genro, ministro da Justiça Sen. Ideli Salvatti, PT-SC, líder do PT * Sen. Sérgio Guerra, PSDB-PE, presidente do partido Jorge Félix, Gabinete de Segurança Institucional Jorge Hage, min.da Contr. Geral da União Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da república Dep. Raul Jungmann, PPS-PE Dep. Índio da Costa, DEM-RJ * Sen. Marconi Perillo, PSDB-GO * Dep. Paulo Teixeira, PT-SP * Sen Tião Viana, PT-AC, vice-presidente do Senado Orlando Silva, ministro do Esporte Matilde Ribeiro, ex-ministra da Igualdade Racial Dep. Maurício Rands, PT-PE, líder do partido Nelson Jobim, ministro da Defesa Dep. Chico Alencar, PSOL-RJ * 12 % Tempo 24,80% 9,10% 8,60% 7,40% 5,20% 4,80% 4,00% 3,50% 3,20% 3,20% 2,80% 2,50% 2,40% 2,00% 1,80% 1,60% 1,60% 1,50% 1,20% 1,10% 1,00% 0,90% 0,80% 0,70% 0,70% 0,60% % Quantidade 12% 11,10% 9,20% 9,20% 5,60% 5,60% 5,60% 2,80% 3,70% 2,80% 3,70% 3,70% 1,90% 1,10% 1,90% 1,90% 1,90% 2,80% 1,90% 0,90% 0,90% 0,90% 0,90% 0,90% 0,90% 0,90% O critério apontado na seção anterior com relação aos senadores e deputados se aplica aqui também: ocupar posições estratégicas na política, como liderança ou presidência do Senado, por exemplo, se aplicam aqui também. Dep. Nilson Mourão, PT-AC * Sen. Demóstenes Torres, DEM-GO, líder da Minoria * Dep. Silvio Costa, PMN-PE * Sen. Heráclito Fortes, DEM-PI Dep. Vic Pires, DEM-PA * Sen. Almeida Lima, PMDB-SE * Sen. Antônio Carlos Júnior, DEM-BA * 0,60% 0,60% 0,60% 0,40% 0,40% 0,20% 0,20% 0,90% 0,90% 0,90% 0,90% 0,90% 0,40% 0,40% * Membro da CPI dos Cartões Corporativos A grande maioria do tempo destinado às sonoras foi ocupada por pessoas de fora da CPI. Senadores e deputados não membros, ministros e também atores políticos que de alguma forma estavam relacionados à investigação implementada pela Comissão, juntos, obtiveram 64,5% de todo o tempo. É óbvio que este percentual tão grande se deve, principalmente, à cota altíssima possuída por Dilma Rousseff. Os componentes da CPI dividiram entre si os 35,5% restantes. Entretanto, esta conclusão não faz com que a nossa hipótese seja descartada. O que podemos inferir desses resultados é que participar de uma CPI não é garantia de acréscimo de visibilidade. Neste ínterim, alguns de seus membros obtiveram um grande número de sonoras. Restou saber se a razão de toda essa visibilidade está relacionada á CPI ou não e o porquê de uns serem escolhidos em detrimento dos demais, o que coube à segunda etapa da nossa análise. Passamos, então, a classificar todas as sonoras da amostra de cada membro da Comissão de acordo com o momento em que elas ocorreram e com o assunto da matéria em que elas estavam inseridas – matérias sobre a CPI ou sobre outros assuntos políticos. Entre os 15 deputados e senadores membros da CPI com sonoras em matérias sobre a Comissão, 4 deles obtiveram alguma sonora fora da cobertura sobre os Cartões Corporativos. Com relação aos 4 membros da CPI com maior visibilidade, Álvaro Dias, Marisa Serrano, Luiz Sérgio e José Agripino (nesta ordem), o primeiro e o último apareceram em matérias que não sobre a CPI. Das 13 sonoras obtidas ao longo da amostra por Álvaro Dias, 10 estavam inseridas na cobertura da CPI. A cobertura da Comissão significou 80% do tempo de fala que teve o senador durante a amostra. Já Agripino teve 75% de sua visibilidade relacionada à CPI. As sonoras de Marisa Serrano e Luiz Sérgio, que ocuparam cargos de relevância na Comissão, estiveram todas elas localizadas em matérias que tratavam da CPI. É interessante notar que no último mês da Comissão, quando ela já estava perdendo força, ambos desapareceram da cobertura política do Jornal Nacional. Além de Álvaro Dias e José Agripino, Ideli Salvatti e Índio da Costa obtiveram uma sonora, cada, em matérias políticas sobre outros assuntos. Com relação aos demais, a única sonora que obtiveram ao longo das 98 edições pesquisadas estavam localizadas na cobertura da CPI, à exceção de Marconi Perillo, que obteve duas, também ligadas à Comissão. Diante desses dados, podemos relacionar a visibilidade dos membros da CPI a sua participação na Comissão, já que a quase totalidade de suas aparições no Jornal Nacional estava ligada às atividades da CPI, às sessões e às inúmeras disputas travadas entre governo e oposição. Principalmente nos casos de Marisa Serrano e de Luiz Sérgio, que obtiveram uma boa visibilidade considerando a amostra como um todo (Tabela 1); o que nos permite concluir que, para que se garanta um acréscimo relevante em suas cotas de visibilidade, os atores políticos devem, sim, disputar por tais cargos, que se mostraram extremamente valiosos. Se a visibilidade de Luis Sérgio e Marisa Serrano se explica pelos cargos que ocuparam, como explicar as altas cotas de Álvaro Dias e José Agripino? A nossa sugestão é de que ambos os senadores possuem uma cota “fixa”, regular de visibilidade. Para chegar a essa conclusão, tomamos como base a pesquisa de Gomes (2008), na qual os dois senadores, em uma amostra de cem edições do Jornal nacional do ano de 2007, estiveram entre os 10 atores políticos com maior visibilidade. Portanto, não foi a CPI que acrescentou visibilidade a eles dois; esta visibilidade pré-existe à Comissão e se mantém durante o seu andamento, como que se transferindo da cobertura política regular para a cobertura da Comissão. O fato de eles estarem entre os senadores mais visíveis da CPI somente é consequência de eles serem muito visíveis a qualquer tempo. Importa ressaltar que o fato de Álvaro Dias ser o senador membro da CPI mais visível pode se dever também ao fato de ter sido ele quem deu conhecimento da existência de um dossiê sobre gastos do governo FHC, já que seu assessor, André Fernandes, foi quem recebeu o documento de um funcionário da Casa Civil. Enquanto José Agripino e Álvaro Dias mantiveram em 2008 a visibilidade que possuíam em 2007, não pode ser dito o mesmo a respeito de Almeida Lima. O senador, que também figurava ente os mais visíveis no ano anterior ao da nossa amostra (GOMES, 2008), esteve praticamente invisível. Fazer parte da CPI não alterou essa situação, já que o senador apareceu apenas em um momento, ao dividir13 uma sonora com Antônio Carlos Junior, que também apareceu somente nessa circunstância. Com relação a todos os atores políticos, Dilma se destaca. A visibilidade dela representa ¼ do tempo total das sonoras. Sem sombra de dúvidas, se a CPI acresceu visibilidade a alguém, esse alguém é a ministra da Casa Civil. Em 2007, a ministra não se destacou, não conseguindo ir além de uma visibilidade mediana, com 87 segundos de sonora14 (GOMES, 2008). Esse resultado contrasta com o obtido aqui. Em toda a amostra, Dilma Rousseff obteve, sozinha, 491 segundos de sonora, o que representa 5,6 vezes mais visibilidade em 2008 do que no ano anterior. Com relação à cobertura da CPI, foram 393 segundos, ou seja, 80% do tempo que a ministra possuiu no telejornal esteve inserido em matérias sobre a CPI, o que nos leva a crer que esse acréscimo de visibilidade está intimamente ligado ao seu envolvimento nesse escândalo político. É válido apontar o fato de que Dilma, em 2008, já era tida como provável sucessora de Lula, o que pode ter significado também um destaque a sua pessoa, já que quem estava envolvida em um escândalo não era apenas a ministra da Casa Civil, mas a pessoa de confiança de Lula, com potencial para substituir o presidente com o maior índice de aprovação da história do país. 13 Situação na qual uma discussão dos dois senadores foi considerada uma sonora apenas, pela impossibilidade de distinguir o tempo de fala de cada um. 14 A ministra obteve também 35 segundos de declarações narradas e 5 menções nominais (GOMES, 2008) 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS O espaço da política no Jornal Nacional é extremamente limitado. A grande maioria dos atores políticos permanece invisível, visto que são poucos os que conseguem figurar neste pequeno espaço que se abre à política todos os dias no horário nobre da televisão, no telejornal de maior audiência no Brasil. Ao iniciarmos a nossa pesquisa, formulamos a seguinte indagação: como se distribui a visibilidade dos atores políticos durante uma CPI no Jornal Nacional? Para encontrar respostas, nos valemos do estudo das sonoras, nos baseando em pesquisas semelhantes, que nos serviram de bibliografia. O resultado de nossa pesquisa confirmou nossas hipóteses, mas não da maneira esperada. De acordo com a nossa primeira hipótese, as sonoras se distribuiriam principalmente entre os membros do sistema político formal, no âmbito federal, focando-se, portanto, em Brasília. A hipótese se confirmou, já que a visibilidade se concentrou, ao longo de nossa amostra, no presidente, que contou com uma cota de sonoras muito superior aos demais atores políticos, em seus ministros, e no Congresso Nacional. Por conta disso, tudo indica que o Jornal nacional, ao contrário do que muitos afirmam, não segue um viés contra este partido ou aquela ideologia, mas sim um viés institucionalista. A nossa segunda hipótese, de que os membros de uma Comissão Parlamentar de Inquérito obtêm um acréscimo a sua cota visibilidade, se confirmou também, mas não como imaginávamos. Isto porque são poucos os componentes da CPI que possuem alguma visibilidade, e são menos ainda os que possuem uma visibilidade considerada alta. Logo, a CPI agrega visibilidade apenas a alguns de seus membros, a maioria permanecendo fora da esfera de visibilidade. Na verdade, a única visibilidade certa na CPI mostrou ser a do presidente e do relator da Comissão, além daqueles atores que já possuem uma cota de visibilidade alta, que precede a CPI. Não podemos deixar de citar em nossas considerações finais a ministra Dilma, que, sem dúvidas, teve em acréscimo muito mais expressivo do que qualquer componente da CPI, comportando uma visibilidade muito superior a todos os atores políticos presentes na amostra, exceto o presidente Lula. Resta saber se esta visibilidade dedicada à ministra, que difere da adquirida pelos membros da CPI (haja vista terem sido levantadas suspeitas contra a sua idoneidade), se reverteu em benefícios ou não; ou seja, se Dilma Rousseff saiu fortalecida ou enfraquecida desse episódio. A presença de um escândalo político de tal importância no noticiário altera a distribuição regular das sonoras, já que o centro da cobertura política torna-se o escândalo, em detrimento de assuntos mais corriqueiros. Provavelmente, o enfoque maior na CPI retira a visibilidade de outros assuntos e, portanto, de outras pessoas, já que o espaço da política no Jornal Nacional é limitado. A nossa pesquisa contribui para verificar esta alteração, mas, sendo esta pesquisa um estudo de caso, não é possível estabelecer conclusões generalizadas a respeito. O que nos coube, a partir dos dados revelados ao longo da pesquisa e de pesquisas semelhantes, foi fazer juízos de probabilidade a respeito de uma situação mais ampla. Ainda há muito que pesquisar sobre o tema. Novos estudos sobre a distribuição da visibilidade tanto em períodos de “normalidade” da cobertura política quanto em períodos de CPI no Congresso são necessários para que se chegue a conclusões mais concretas a respeito da influência de uma CPI na cobertura jornalística e, por outro lado, do agendamento das atividades do Congresso pela imprensa. Vale ressaltar que o estudo das sonoras não esgota o estudo da visibilidade no Jornal Nacional. As sonoras são apenas uma forma possível de se tornar visível no Jornal Nacional, ao nosso modo de ver, a mais importante, mas a visibilidade vai além dela. As image bites, as declarações narradas e as menções nominais são outras maneiras de estar “visível” no noticiário, merecendo, portanto, um estudo, para que, então, se possa ter uma visão mais abrangente sobre a visibilidade dos atores políticos. A nossa pesquisa, apesar de não esgotar o tema ou trazer conclusões definitivas, apresenta novos dados que podem contribuir para a realização de pesquisas futuras. REFERÊNCIAS ADATTO, Kiku. The incredible shirinking sound bite. The New Republic, 1990, p. 20-23. BRASIL. Constituição (1988). Vade Mecum acadêmico de Direito. São Paulo: Rideel, 2008. BUCY, Erik P.; GRABE, Maria Elizabeth. Taking television seriously: a sound and image bite analysis of presidential campaign coverage, 1992–2004. Journal of Communication, 57(4), 2007, p. 652–675. 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Político Aloizio Mercadante, senador, PT-SP Antônio Carlos Júnior e Almeida Lima, senadores ACM Neto, deputado, DEM-BA Adahil Barreto, deputado estadual, PR-CE Aécio Neves, governador de Minas Gerais Alcides Rodrigues Filho, governador, PP-GO Álvaro Dias, senador, PSDB-PR Ana Julia Carepa, governadora do Pará Arlindo Chinaglia, deputado, PT-SP Arolde de Oliveira, secretário municipal de Tranportes - RJ Arthur Virgílio, senador, PSDB-AM Blairo Maggi, governador de Mato Grosso Carlos Lupi, ministro do Trabalho Carlos Minc, ministro do Meio Ambiente Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores César Maia, prefeito do Rio de Janeiro César Nunes, secretário de Segurança Pública – BA Cézar Busatto, ex-chefe da Casa Civil do Rio Grande do Sul Chico Alencar, deputado, PSOL-RJ Cid Gomes, governador do Ceará Cleovan Almeida, prefeito de Maribondo Cristovam Buarque, senador, PDT-DF Darcísio Perondi, deputado, PMDB-RS Demóstenes Torres, senador, DEM-GO Dilma Rousseff, ministra da Casa Civil Edison Lobão, ministro de Minas e Energia Eduardo Suplicy, senador, PT-SP Efraim Morais, senador, DEM-PB Fernando Coruja, deputado, PPS-SC Fernando Haddad, ministro da Educação Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da república Flávio Dino, deputado, PC do B-MA Francisco Dornelles, senador, PP-RJ Garibaldi Alves, senador, PMDB-RN Geddel Vieira Lima, ministro da Integração Nacional Gilberto Kassab, prefeito de São Paulo Guido Mantega, ministro da Fazenda Guilherme Sampaio, vereador, PT-CE Heitor Ferrer, deputado estadual, PDT-CE Henrique Fontana, deputado, PT-RS Henrique Meirelles, presidente do Banco Central Total sonoras 3 1 7 1 1 1 13 1 5 1 12 3 2 11 4 4 2 1 1 3 1 1 2 3 18 4 1 1 1 4 3 1 2 10 1 2 11 1 2 3 1 Total tempo (s) 31 8 73 12 12 9 171 13 56 11 129 23 17 180 41 59 28 17 10 40 10 23 18 34 491 39 8 10 11 66 36 16 23 135 11 27 190 9 24 33 35 Político Heráclito Fortes, senador, DEM-PI Hermes Zanetti, deputado constituinte de 1988 Hugo Leal, deputado, PSC-RJ Ideli Salvatti, senador, PT-SC Índio da Costa, deputado, DE-RJ Inocêncio Oliveira, deputafo, PR-PE Ivan Valente, deputado, PSOL-SP Ivo Cassol, governador de Rondônia Jacob Kligerman, secretário municipal de Saúde - Rio Jarbas Passarinho, senador costituinte de 1988 Jarbas Vasclcelos, senador, PMDB-PE Jefferson Peres, senador, PDT-AM Jorge Félix, Gabinete de Segurança Institucional Jorge Hage, ministroda Controladoria Geral da União José Agripino, senador, DEM-RN José Alencar, vice-presidente da República José Aníbal, deputado, PSDB-SP José F. de Souza, secretário municipal de Saúde - Maceió José Gomes Temporão, ministro da Saúde José Mariano Beltrame, secretário de Segurança - RJ José Múcio Monteiro, ministro das Relações Institucionais José Sarney, senador, PMDB-AP José Sergio Gabrielli, presidente da Petrobrás José Serra, governador de São Paulo Júlio Delgado, deputado, PSDB-MG Laura Rosseti, secretária de Saúde - PA Leonardo Picciani, deputado, PMDB-RJ Luiz Bassuma, deputado, PT-BA Luiz Gushiken, ex-ministro da Sec. de Comunicação Luiz Henrique Mandetta, sec. Saúde de Campo Grande Luiz Marinho, ministro da Previdência Social Luiz Paulo C. da Rocha, deputado estadual, PSDB-RJ Luiz Sérgio, deputado, PT-RJ Lula, presidente da República Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda Marcelo Freixo, deputado estadual, PSOL-RJ Márcio França, deputado, PSB-SP Marcio Meira, presidente da FUNAI Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência Marconi Perillo, senador, PSDB-GO Marina Silva, ministra do Meio Ambiente Marisa Serrano, senadora, PSDB-MS Matilde Ribeiro, ex-ministra da Igualdade Racial Maurício Rands, deputado, PT-PE Mauro Arce, secretário estadual de Transporte – SP Total sonoras 1 1 1 5 3 5 1 1 1 1 1 6 1 2 8 3 1 1 9 5 8 1 1 7 1 2 1 1 1 1 1 1 6 58 1 1 1 1 2 2 6 10 1 7 1 Total tempo (s) 7 11 13 49 24 58 13 33 8 8 10 58 31 28 101 56 15 9 103 62 119 26 12 87 16 24 10 16 14 10 17 17 83 1072 21 9 8 17 21 19 71 117 13 88 13 Político Miro Teixeira, deputado, PDT-RJ Nelson Jobim, ministro da Defesa Nelson Martins, deputado estadual, PT-CE Nilson Mourão, deputado, PT-AC Orlando Silva, ministro do Esporte Paulo Afonso Feijó, vice-governador do Rio Grande do Sul Paulo Bernardo, ministro do planejamento Paulo Paim, senador, PT-RS Paulo Pereira da Silva, deputado, PDT-SP Paulo Piau, deputado, PMDB-MG Paulo Teixeira, deputado, PT-SP Paulo Vannuchi, ministro especial de Direitos Humanos Professor Luizinho, ex-deputado, PT-SP Raul Jungmann, deputado, PPS-PE Reinhold Stephanes, ministro da Agricultura Renato Casagrande, senador, PSB-ES Roberto Felício, deputado estadual, PT-SP Rodrigo Maia, deputado, DEM-RJ Romero Jucá, senador, PMDB-RR Ronaldo Caiado, deputado, DEM-GO Rosane E. Cunha, Ministra Do Desenvolvimento Social Sérgio Cabral, governador do Rio Sérgio Cortes, secretário de Saúde – RJ Sérgio Guerra, senador, PSDB-PE Sérgio Morais, deputado, PTB-RS Serys Slhessarenko, senador, PT-MT Silvio Costa, deputado, PMN-PE Tarso Genro, ministro da Justiça Tasso Jereissati, senador, PSDB-CE Tião Viana, senador, PT-AC Totó Teixeira, vereador BH, PR-MG Vic Pires, deputado, DEM-PA Vieira da Cunha, deputado, PDT-RS Vítor Penido, deputado, DEM-MG Wantuir Jacini, secretário de Segurança – MS Yeda Crusius, governadora do Rio Grande do Sul Total sonoras 1 11 2 1 1 1 2 1 8 1 1 3 2 4 2 1 2 3 16 1 1 2 3 6 3 1 1 14 3 1 1 1 2 1 1 2 Total tempo (s) 10 136 30 10 14 10 33 6 78 11 18 46 11 45 29 15 27 40 189 18 12 33 29 74 29 6 9 173 34 16 13 6 28 13 12 24