ESTE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DO DIÁRIO ECONÓMICO Nº 6319 DE 09 DE DEZEMBRO DE 2015 E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE Paulo Alexandre Coelho NOVO BANCO Concurso Nacional de Inovação DA ESQUERDA PARA A DIREITA: Luís Moutinho (vencedor sectorial – Saúde), Estêvão Lima (grande vencedor), Ana Teresa Freitas (CEO da HeartGenetics), Eduardo Stock da Cunha (presidente do Conselho de Administração do NOVO BANCO, Rui Reis (promotor do projecto HydrUStent), José João Guilherme (administrador do NOVO BANCO) e Bruno Sequeira (vencedor sectorial – Economia Oceânica). Sector da Saúde sagra-se grande vencedor TEXTOS DE CÉLIA MARQUES [email protected] A 11.ª edição do NOVO BANCO Concurso Nacional de Inovação chegou ao fim com a eleição de um grande vencedor no sector da Saúde. Em causa está um projecto que envolve uma nova geração de cateteres urológicos degradáveis – o HydrUStent, da responsabilidade da equipa de 3B’s Research Group da Universidade do Minho. Destaque nesta edição para o facto de o sector da Saúde ter saído duplamente vencedor, ao ver distinguido um segundo projecto que envolve um dosímetro para braquiterapia prostática, com base em sondas de fibra óptica descartáveis, um dispositivo desenvolvido pela NU-RISE, ‘spin-off’ da Universidade de Aveiro. No sector de Economia Oceânica, o júri seleccionou como vencedor o Fibersail, desenvolvido por uma empresa com o mesmo nome, que envolve um sistema de medição e monitorização baseado em fibra óptica, que através dos seus sensores permite medir estruturas de grande porte, como navios de carga. Cada projecto distinguido recebeu um prémio pecuniário de 20 mil euros, a que se soma o registo de patente no valor de 10 mil euros, com o grande vencedor a ser ainda contemplado com um prémio pecuniário adicional de 20 mil euros. No total, a 11.ª edição do NOVO BANCO Concurso Nacional de Inovação envolveu prémios no valor de 110 mil euros. Os galardões foram entregues no dia 1 de Dezembro, no “Espaço NOVO BANCO”, numa cerimónia presidida por Eduardo Stock da Cunha, presidente do Conselho de Administração do NOVO BANCO, que ressalvou o papel da iniciativa como “uma porta de entrada privilegiada no mercado de projectos inovadores resultantes do envolvimento de investigadores, empresas e instituições de ensino superior”. A cerimónia contou ainda com a intervenção de Ana Teresa Freitas, CEO da HeartGenetics, empresa que desenvolve ‘kits’ de testes genéticos e respectivo ‘software’ de análise, vocacionados sobretudo para as doenças cardiovasculares. O NOVO BANCO Concurso Nacional de Inovação constitui a face mais visível das iniciativas do banco no apoio à inovação empresarial e ao empreendedorismo. Tem como objectivos premiar a excelência na investigação, contribuir para uma economia mais competitiva e promover uma cultura empresarial orientada para a inovação. Dirigido a pequenas e micro empresas, e a investigadores e inventores independentes, o concurso tem como factores de diferenciação, face a outras iniciativas em Portugal, a existência de categorias sectoriais, implicando uma aplicação concreta a um sector empresarial, e o alargado leque de parcerias de elevada representatividade do meio científico português, tendo como júri as principais universidades e institutos politécnicos do país. Em onze edições, o NOVO BANCO Concurso Nacional de Inovação recebeu um total de 1.633 candidaturas, distinguiu 52 projectos vencedores e atribuiu 3,25 milhões de euros em prémios. ■ NÚMEROS DO CONCURSO 11 Edições 1.633 projectos a concurso 52 premiados 3,25 milhões de euros em prémios II Diário Económico Quarta-feira 9 Dezembro 2015 N OV O B A N C O C O N C U R S O N A C I O N A L D E I N OVA Ç Ã O Projecto de cateteres de nova geração à procura de investidores Grande Vencedor >> Projecto HydrUStent >> Proponente Rui Reis >> Organização 3B’s Research Group – Universidade do Minho >> Prémio atribuído 40 mil euros em dinheiro e registo de patente no valor de 10 mil euros Uma nova geração de cateteres urológicos degradáveis está na base do projecto eleito grande vencedor da 11.ª edição do Concurso. Ronda de investimento com vista à certificação A equipa realizou com sucesso o primeiro teste de validação ‘in vivo’ do HydrUStent num modelo animal e está neste momento a fazer – no Laboratório Associado ICVS/3B´s da Universidade do Minho, dirigido pelo professor Rui Reis, que está também directamente envolvido neste projecto – a validação do HydrUStent num modelo animal. “Neste caso, pela semelhança com os huma- RITA DUARTE investigadora do Grupo 3B’s “ Pretendemos estabelecer uma parceria estratégica com uma das grandes empresas multinacionais que actualmente comercializa cateteres urológicos, para que o nosso produto seja incluído no seu portefólio. nos, esse modelo terá que ser o porco. Os primeiros resultados parecem bastante positivos e os próximos passos envolvem a realização do estudo alargado a um maior número de animais. Esperamos realizar estes estudos nos próximos três meses”, explica Rita Duarte, investigadora do Grupo 3B´s e proponente do projecto. Depois de protegida a propriedade intelectual, e paralelamente à componente científica, a equipa está a tentar encontrar investidores para avançar com a criação de uma empresa que permita prosseguir com a validação do HydrUStent, na Europa e nos Estados Unidos, nomeadamente para obter a certificação necessária para a sua comercialização. Trata-se de um investimento inicial na ordem dos 1,6 milhões de euros. Segundo a investigadora, a equipa tem já alguns investidores potencialmente interessados mas está aberta a outros contactos. O objectivo passa agora por valorizar o conhecimento e a propriedade intelectual gerados e chegar à comercialização, ou seja, acrescentar valor e ter um efeito positivo sobre a qualidade de vida de muitos pacientes. A equipa prevê um período de dois anos para obter a certificação necessária, o que inclui a realização de ensaios pré-clínicos em animais e posteriormente ensaios clínicos, sendo que o investimento que procura se destina precisamente a completar esses estudos. “A médio prazo, pretendemos estabelecer uma parceria estratégica com uma das grandes empresas multinacionais que actualmente comercializa cateteres urológicos, para que o nosso produto seja incluído no seu portefólio”, conclui Rita Duarte. ■ C.M. Certificação. Um investimento inicial de 1,6 milhões de euros tem como destino a realização de ensaios clínicos que validem a comercialização do produto. Paulo Alexandre Coelho Único e inovador. O projeto HydrUStent, da responsabilidade do Grupo 3B’s – Biomateriais, Biodegradáveis e Biomiméticos, da Universidade do Minho, envolve a produção de cateteres urológicos degradáveis, com base em polímeros naturais, biocompatíveis e com propriedades antibacterianas, que podem ser desenvolvidos à medida das especificações de cada paciente. Os cateteres da HydrUStent têm como principal vantagem o facto de dispensarem a realização de uma segunda cirurgia, que é neste momento obrigatória para a remoção deste tipo de dispositivos. Em causa estão mais de 240 mil intervenções médicas por ano, com um custo variável entre os 700 e 1.800 euros por paciente, o que se traduz numa redução do custo do tratamento na ordem dos 60%. Pelo facto de terem por base polímeros naturais, com biocompatibilidade inerente e propriedades antibacterianas, estes cateteres de nova geração vêm dar resposta às limitações e desvantagens dos actuais cateteres ureterais, nomeadamente no que toca às complicações decorrentes da sua deslocação, infecção e bloqueio por deposição de cristais ou incrustação. Em última instância, a tecnologia patenteada permite melhorar a qualidade da terapia e reduzir o incómodo dos pacientes, melhorando a sua qualidade de vida. A versatilidade da técnica, e a possibilidade de incorporação de fármacos que possam ser libertados para o organismo do paciente, alarga o mercado de aplicações deste dispositivo médico ao tratamento de doenças cuja terapêutica se baseia na aplicação localizada de fármacos. Quarta-feira 9 Dezembro 2015 Diário Económico III Os professores Estêvão Lima e Rui Reis, em representação do projecto HydrUSent, com Eduardo Stock da Cunha (ao centro), presidente do Conselho de Administração do NOVO BANCO. A dar cartas além-fronteiras Em comum têm o facto de terem sido premiados no âmbito do NOVO BANCO Concurso Nacional de Inovação e de acumularem histórias de sucesso na inovação. Em Portugal e fora de portas. FEEDZAI É especialista no tratamento e análise de grandes volumes de dados para o mercado de pagamentos, e em apenas quatro anos conseguiu elevar o seu volume de vendas para os 22 milhões de dólares, valor que representa um crescimento de 300% face a 2014. Trata-se da FeedZai, que venceu a 5.ª edição do NOVO BANCO Concurso Nacional de Inovação e já este mês abriu um escritório em Nova Iorque, o primeiro na costa Leste e o segundo nos Estados Unidos – um mercado que representa 60% da facturação da empresa. Em Maio, a FeedZai conseguiu levantar um investimento de 17,5 milhões de dólares, uma aposta da Oak que elevou o total angariado até agora para os 26,5 milhões de dólares. BERD A BERD, empresa cujo nome traduz a sigla Bridge Engineering Research & Design, é responsável pelo desenvolvimento de soluções de engenharia de pontes com base no conceito do Sistema de Pré-esforço Orgânico (OPS), desenvolvido pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e patenteado em dezenas de países. Este sistema tem como vantagens reduzir o custo de uma obra em mais de 20%, além de permitir uma construção mais rápida e de melhor qualidade. Foi graças ao OPS que conquistou um prémio na 1.ª edição do NOVO BANCO Concurso Nacional de Inovação. A empresa está focada na internacionalização e prevê atingir cerca de 50 milhões de euros de facturação entre 2015 e 2017, oito vezes mais face ao triénio 2009-2011. MEDBONE A Medbone venceu o concurso em 2009 com dispositivos médicos com propriedades semelhantes às do osso natural, vocacionados para a área da regeneração óssea, e com potencialidades que têm vindo a ser reconhecidas um pouco por todo mundo. Um inovação que já permitiu à empresa atingir a meta de meio milhão de euros de facturação e marcar presença em 50 países. As soluções Medbone evitam o transplante de osso, eliminando o risco de rejeição ou infecção, e são utilizados nas indústrias ortopédica, dentária e veterinária. A empresa tem em constante desenvolvimento novos dispositivos médicos, de forma a alargar o seu campo de aplicações e a dar resposta às crescentes necessidades dos profissionais de saúde. ■ C.M. IV Diário Económico Quarta-feira 9 Dezembro 2015 N OV O B A N C O C O N C U R S O N A C I O N A L D E I N OVA Ç Ã O Minimizar efeitos secundários no tratamento do cancro da próstata Novo dosímetro para braquiterapia prostática criado pela NU-RISE está já em fase de certificação. Próxima etapa, certificação internacional A NU-RISE é uma ‘spin-off’ da Universidade de Aveiro que se dedica ao desenvolvimento de dispositivos para detecção de radiação. Este grupo de investigação participa em várias colaborações internacionais no âmbito de experiências associadas ao CERN – European Organization for Nuclear Research, e participa também no projecto NEXT (física de neutrinos), mas tem igualmente uma forte componente de desenvolvimento de novas tecnologias para a área médica. Vencedor em Saúde >> Projecto Dosímetro para braquiterapia prostática >> Proponente Luís Moutinho >> Organização NU-RISE >> Prémio atribuído 20 mil euros em dinheiro e registo de patente no valor de 10 mil euros Luis Moutinho, fundador da NU-RISE e investigador do Departamento de Física da Universidade de Aveiro. Actualmente, os seus esforços centram-se na certificação do dosímetro para braquiterapia prostática. A segunda fase de testes ‘in-vitro’ para regimes de alta taxa de dosagem está a decorrer em parceria com o Serviço de Radioterapia dos Hospitais da Universidade de Coimbra e o Departamento de Física da Universidade de Aveiro. Nos próximos meses serão realizados testes em ambiente clínico em parceria com o IPO do Porto para regimes de baixa taxa de dosagem. “Gostaríamos de finalizar os testes clínicos ainda em 2016, tendo como objectivo, a médio prazo, iniciar o processo de certificação internacional do dispositivo”, explica o proponente do projecto. O principal objectivo passa por “colocar o dispositivo no mercado assim que possível” e assim “contribuir para uma maior eficiência destes tratamentos, com repercussão directa no bem-estar dos pacientes que sofrem de cancro da próstata, podendo ainda reduzir os custos globais do tratamento”, conclui Luís Moutinho. ■ C.M. Paulo Alexandre Coelho O segundo projecto a ser distinguido no sector da Saúde nesta edição do NOVO BANCO Concurso Nacional de Inovação envolve um dosímetro para braquiterapia prostática, um dos principais tratamentos para o cancro da próstata. O dispositivo desenvolvido pela NU-RISE, uma ‘spin-off’ da Universidade de Aveiro, recorre ao uso de sondas de fibra óptica descartáveis e permite realizar dosimetria em tempo real na região a tratar, colmatando a falha dos actuais tratamentos de braquiterapia, que são realizados sem controlo de dose, uma vez que não existe nenhum dispositivo com a sensibilidade e versatilidade exigidas nestes casos. “O grupo tem uma interacção permanente com pessoas da área clínica – físicos médicos e médicos –, junto da qual identificou a necessidade de controlo de qualidade nos tratamentos de braquiterapia prostática. A partir daí estudámos várias soluções que vieram a dar origem à tecnologia-base do nosso dosímetro”, explica Luís Moutinho, aluno de doutoramento do Departamento de Física da Universidade de Aveiro e fundador da NU-RISE. A utilização deste dosímetro tem como vantagens minimizar os efeitos secundários da terapia, bem como o tempo de recobro dos pacientes, a um baixo custo. Em causa está o cancro com maior taxa de incidência em homens nos países desenvolvidos e cujo número de novos casos, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, deverá aumentar cerca de 75% nos próximos 15 anos. No total, mais de meio milhão de pacientes realizam braquiterapia prostática sem monitorização de dose, ou qualquer outro tipo de controlo de qualidade. O novo dosímetro apresenta ainda potencial de aplicação em outras áreas, desde a monitorização de radiação e dosimetria industrial, passando pela segurança interna (‘homeland security’). Bruno Sequeira, advisor em Engenharia de Produção na Fibersail, esteve presente na cerimónia para receber o prémio pelo projecto desenvolvido. Facilitar a medição de grandes estruturas no sector marítimo Inovador sistema de medição à base de fibra óptica promete melhorar a ‘performance’ dos navios de carga. O Fibersail, um sistema de medição e monitorização baseado em fibra óptica, foi eleito vencedor no sector de Economia Oceânica. Desenvolvido por uma empresa com o mesmo nome sediada em Leiria, o sistema permite medir – através dos seus sensores, remotamente e com alta precisão – a forma de qualquer estrutura, nomeadamente de navios de carga, permitindo perceber, por exemplo, se o navio vai bem carregado, quais os riscos de danificação e qual a forma de navegação mais adequada face ao seu estado. Entre as vantagens deste sistema, que tem por base uma tecnologia de fibra óptica desenvolvida pela NASA, contam-se o facto de encurtar o tempo de paragem do navio em terra, reduzir os seus custos de manutenção e, em última análise, aumentar o seu tempo de vida útil. Este inovador sistema – que venceu também o Building Global Innovators, um concurso internacional de empreendedorismo de base tecnológica – promete revolucionar o modo como é feita actualmente a prevenção de degradação de estruturas, especialmente no sector marítimo. Acelerar a captação de investimento A ideia nasceu do encontro entre um medalhado dos Jogos Olímpicos de Atlanta em 1996, um treinador de vela e um investigador da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. O objectivo passava por criar um sistema que medisse a forma dos barcos à vela de alta competição, com vista a melhorar a sua ‘performance’ através da monitorização em tempo real da forma das velas e mastros. Apesar de a competição dos barcos à vela ser o mercado de teste da ‘startup’, a Fibersail está já focada naquele que será o seu principal mercado: o do transporte marítimo, nomeadamente navios de carga. “Com os dois prémios recebidos temos finan- ciamento para acelerar ainda mais o projecto durante 2016, com a contratação e aumento da equipa técnica, com vista ao desenvolvimento de uma versão do sistema que nos permita chegar ao mercado”, explica Pedro Pinto, um dos fundadores da Fibersail. No final de Janeiro a empresa estará pronta para apresentar ao mundo da vela o primeiro protótipo real, tendo já fechadas duas vendas com os principais ‘players’ mundiais de velas e mastros de alta competição. Durante o segundo semestre de 2016, o objectivo será apresentar o primeiro piloto funcional num navio de carga. O projecto encontra-se neste momento na segunda fase de aceleração do programa Building Global Innovators - ISCTE/MIT, que culminará em Março com um ‘bootcamp’ de duas semanas em Boston, no MIT, onde a Fibersail terá a oportunidade de apresentar o projecto a investidores internacionais. ■ C.M. Vencedor em Economia Oceânica >> Projecto Fibersail >> Proponente Pedro Pinto >> Organização Fibersail >> Prémio atribuído 20 mil euros em dinheiro e registo de patente no valor de 10 mil euros Paulo Alexandre Coelho Quarta-feira 9 Dezembro 2015 Diário Económico V VI Diário Económico Quarta-feira 9 Dezembro 2015 N OV O B A N C O C O N C U R S O N A C I O N A L D E I N OVA Ç Ã O Ana Teresa Freitas, CEO da HeartGenetics, durante a Investigação nascida do IST sua intervenção na cerimónia de entrega de prémios. Paulo Alexandre Coelho A HeartGenetics nasceu de uma ‘spin-off’ do Instituto Superior Técnico (IST), liderada por Ana Teresa Freitas e mais duas investigadoras, Alexandra Fernandes e Susana Rodrigues, para explorar uma tecnologia aplicada num ‘chip’ de diagnóstico de doenças cardíacas, cujo segredo está no ‘software’. Ana Teresa Freitas frequentou o curso de Electrotecnia do IST, em Lisboa, e começou a fazer investigação logo nos primeiros anos de licenciatura. Especialista em tratamento de dados, começou a interessar-se pela área da biologia, em particular da genética, completando para isso as cadeiras do curso de engenharia biológica. A HeartGenetics está instalada no Biocant, Parque Tecnológico de Cantanhede, e conta já com uma equipa multidisciplinar de dez pessoas. Genética ao serviço da saúde de rotina Testes genéticos e ‘software’ de análise estão já certificados. HeartGenetics quer endereçar um mercado avaliado em quatro mil milhões de dólares. Começou com o capital semente dos projectos da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e em 2013 fez com a Espírito Santo Ventures um levantamento de capital que lhe permitiu atingir o ‘break even’ e estar já no mercado internacional, nomeadamente em Itália e no Brasil. Trata-se da HeartGenetics – empresa que desenvolve ‘kits’ de testes genéticos e respectivo ‘software’ de análise, vocacionados sobretudo para as doenças cardiovasculares – e o ponto de situação foi feito pela sua CEO, Ana Teresa Freitas, no âmbito da cerimónia de entrega de prémios do NOVO BANCO Concurso Nacional de Inovação. “Em 2015, o relatório da Organização Mundial de Saúde reportou 17,5 milhões de mortes por doença cardiovascular, a maior causa de morte a nível global. Estes números podem ser reduzidos de forma significativa se começarmos a utilizar os dados da genética na prática clínica, no dia-a-dia. É aqui que a HeartGenetics tem uma solução”, explicou Ana Teresa Freitas. A ‘start-up’ tem como missão trazer o conhe- ANA TERESA FREITAS ceo da HeartGenetics “ Precisamos de mais investimento, mas investimento “smart”, um investidor da área da saúde, que nos coloque em contacto com grandes nomes desta indústria. cimento existente em testes genéticos para a prevenção da doença cardiovascular, indo ao encontro da necessidade global de acesso a uma medicina personalizada. “Já passámos a fase do protótipo e das certificações. Neste momento, temos capacidade para ir para o mercado internacional com os nossos dispositivos 100% validados e prontos a serem utlizados”, explica a responsável. A empresa é também pioneira na criação de um novo teste genético para a área da hipertensão arterial, com o qual se consegue identificar o risco genético de vir a desenvolver hipertensão e doença cardiovascular associada, bem como ajudar o médico na adequação da terapêutica para a hipertensão arterial. “O que temos para oferecer são testes genéticos com uma precisão elevadíssima, de 99%, com relatórios que são fáceis de ler e utilizar, mesmo para um médico que não esteja muito familiarizado com a genética. Só assim conseguimos entrar no mercado que queremos: o mercado da rotina”, adiantou. A grande mais-valia dos produtos desenvolvidos pela HeartGenetics, segundo Ana Tere- sa Freitas, está precisamente no relatório produzido por um ‘software’ recentemente certificado para ‘in vitro diagnostic’, que avalia o risco do doente e informa o médico, com base nas variantes genéticas, sobre qual a medicação a prescrever. “Ter esta certificação para utilização em diagnóstico é extremamente difícil e é pioneiro fazer isto de forma automática, o que faz com que os nossos produtos sejam escaláveis e possam abordar um mercado que vale quatro mil milhões de dólares e está a crescer a um ritmo de 16%”, revelou a CEO da empresa, lembrando que dentro da área de disgnóstico, a de testes genéticos é a que está a acusar um crescimento mais acelerado. Como a genética ainda não é reembolsável em muitos países, a HeartGenetics pretende conseguir colocar os testes no mercado a preços acessíveis, entre os 50 e os 100 euros. “Fizemos um estudo para Portugal, para o Sistema Nacional de Saúde; se reduzirmos em 15% os gastos associados apenas à hipertensão arterial teríamos poupanças na ordem dos 375 milhões de euros por ano”, sustentou. Novo investidor procura-se É já para o ano que os dispositivos da HeartGenetics vão para o mercado europeu, em parceria com a empresa que desenvolve os microchips para estes dispositivos e que é líder mundial nesta tecnologia. “No final de 2015 tivemos mais um parceiro de investimento, a Beta Capital, e outros parceiros que investiram de forma privada, mas precisamos de mais investimento”, revelou na ocasião Ana Teresa Freitas. “Somos uma empresa de ‘biotech’ com dois anos, estamos a crescer e levantámos apenas 1,8 milhões de euros. Agora precisamos de investimento ‘smart’, de um investidor da área da saúde que nos coloque em contacto com as grandes marcas da indústria que produzem os dispositivos que fazem a avaliação dos testes genéticos, porque esses é que têm interesse em vender uma solução fechada, que vai até ao relatório”, concluiu a CEO. ■ C.M. DA ESQUERDA PARA A DIREITA: Marta Catarino (directora da TecMinho), Alexandra Leitão (directora da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica), Filipe Castro (gestor de Negócios e Tecnologias na Universidade do Porto), Filipa Batista Coelho (coordenadora nacional dos projectos Eureka na Fundação para a Ciência e a Tecnologia), João Trigo da Roza (presidente da APBA), Carlos Maia (presidente do Instituto Politécnico de Castelo Branco), António Tavares (CEO da Tecmaia), Rogério Gaspar (vice-reitor da Universidade de Lisboa), Rui Pedrosa (vice-presidente do Instituto Politécnico de Leiria), Paulo Vila Real (vice-reitor da Universidade de Aveiro), Jorge Figueira (director da Divisão de Inovação e Transformação do Saber da Universidade de Coimbra), Constantino Mendes Rei (presidente do Instituto Politécnico da Guarda) e Ana de Freitas (vice-reitora da Universidade do Algarve). As motivações de quem decide Júri da edição deste ano do concurso decidiu premiar dois projectos na Saúde. Fomos saber porquê. Os três projectos premiados na última edição do NOVO BANCO Concurso Nacional de Inovação foram eleitos entre um conjunto de 75 candidaturas sujeitas a um processo de avaliação e selecção com base em critérios como a excelência científica e o carácter inovador do projecto (com uma ponderação de 35%), o impacto potencial dos resultados na competitividade empresarial (com uma Evolução. No seu conjunto, os elementos do júri consideram que há um número crescente de projectos de I&D de elevada qualidade em Portugal. ponderação de 45%) e a credibilidade da empresa, instituição de I&D ou inventor responsável pelo projecto (com uma ponderação de 20%). A avaliação esteve a cargo de um júri que envolve entidades de relevo na área da ciência, tecnologia e inovação a nível nacional, tanto na sua vertente académica como empresarial. “Com este concurso, o NOVO BANCO premeia não só a qualidade dos projectos, mas também faz despertar nos investigadores a vertente de empreendedorismo tão necessário à economia nacional”, explica Paulo Vila Real, vice-reitor da Universidade de Aveiro. Os jurados dão conta de “uma evolução muito interessante da qualidade dos projectos a concurso ao longo das várias edições”, uma evolução “diferenciada sector a sector”, explica João Trigo da Roza, lembrando o facto de a área da Saúde ter sido a que demonstrou mais potencial nesta edição, com dois projectos premiados. “Existe hoje claramente em Portugal, no sector da Saúde, um ecossistema empreendedor de nível mundial, e não tenho dúvidas de que alguns destes projectos ainda vão ter um reconhecimento global”, justifica o presidente da Associação Portuguesa de Business Angels (APBA). Uma opinião reforçada por Ana de Freitas, vice-reitora da Universidade do Algarve, lembrando “o número crescente de projectos com elevada qualidade, com particular expressão na área da Saúde”. Para Rogério Gaspar, vice-reitor da Universidade de Lisboa, a evolução dos projectos apresentados demonstra “o grande nível de grande maturação” do ecossistema de investigação, desenvolvimento e inovação existente em Portugal. Segundo este responsável, o NOVO BANCO Concurso Nacional de Inovação acaba por espelhar a realidade nacional: “Um país empreendedor e dinâmico, resultante de décadas de investimento no sistema científico e tecnológico nacional.” Para o vice-reitor da Universidade de Lisboa, “é importante que este exemplo frutifique e seja replicado, a par da persistência em políticas públicas dirigidas ao fomento da inovação, alicerçadas em investimentos estratégicos no conhecimento”, adverte. Duplo prémio na Saúde Na 11.ª edição do NOVO BANCO Concurso Nacional de Inovação o júri decidiu atribuir um duplo prémio no sector da Saúde. Segundo João Trigo da Roza, trata-se de uma questão de mérito relativo. “Existiram dois projectos da Saúde que se distinguiram pela sua inovação e potencial impacto”, explica o jurado, justificando a decisão de distinguir com uma menção honrosa um segundo projecto de “grande qualidade” nesta categoria. ■ C.M. Paulo Alexandre Coelho Quarta-feira 9 Dezembro 2015 Diário Económico VII PUB