ESTE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DO DIÁRIO ECONÓMICO Nº 6319 DE 09 DE DEZEMBRO DE 2015 E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE
Paulo Alexandre Coelho
NOVO
BANCO
Concurso Nacional de Inovação
DA ESQUERDA PARA A DIREITA: Luís Moutinho (vencedor sectorial – Saúde), Estêvão Lima (grande vencedor), Ana Teresa Freitas (CEO da HeartGenetics), Eduardo Stock da Cunha (presidente do Conselho
de Administração do NOVO BANCO, Rui Reis (promotor do projecto HydrUStent), José João Guilherme (administrador do NOVO BANCO) e Bruno Sequeira (vencedor sectorial – Economia Oceânica).
Sector da Saúde sagra-se grande vencedor
TEXTOS DE CÉLIA MARQUES
[email protected]
A 11.ª edição do NOVO BANCO Concurso Nacional
de Inovação chegou ao fim com a eleição de um
grande vencedor no sector da Saúde. Em causa
está um projecto que envolve uma nova geração
de cateteres urológicos degradáveis –
o HydrUStent, da responsabilidade da equipa
de 3B’s Research Group da Universidade do Minho.
Destaque nesta edição para o facto de o sector
da Saúde ter saído duplamente vencedor, ao
ver distinguido um segundo projecto que envolve um dosímetro para braquiterapia prostática, com base em sondas de fibra óptica descartáveis, um dispositivo desenvolvido pela
NU-RISE, ‘spin-off’ da Universidade de Aveiro.
No sector de Economia Oceânica, o júri seleccionou como vencedor o Fibersail, desenvolvido por uma empresa com o mesmo nome,
que envolve um sistema de medição e monitorização baseado em fibra óptica, que através dos seus sensores permite medir estruturas de grande porte, como navios de carga.
Cada projecto distinguido recebeu um prémio
pecuniário de 20 mil euros, a que se soma o
registo de patente no valor de 10 mil euros,
com o grande vencedor a ser ainda contemplado com um prémio pecuniário adicional de
20 mil euros. No total, a 11.ª edição do NOVO
BANCO Concurso Nacional de Inovação envolveu prémios no valor de 110 mil euros.
Os galardões foram entregues no dia 1 de Dezembro, no “Espaço NOVO BANCO”, numa
cerimónia presidida por Eduardo Stock da
Cunha, presidente do Conselho de Administração do NOVO BANCO, que ressalvou o papel da iniciativa como “uma porta de entrada
privilegiada no mercado de projectos inovadores resultantes do envolvimento de investigadores, empresas e instituições de ensino
superior”.
A cerimónia contou ainda com a intervenção
de Ana Teresa Freitas, CEO da HeartGenetics,
empresa que desenvolve ‘kits’ de testes genéticos e respectivo ‘software’ de análise, vocacionados sobretudo para as doenças cardiovasculares.
O NOVO BANCO Concurso Nacional de Inovação constitui a face mais visível das iniciativas do banco no apoio à inovação empresarial e ao empreendedorismo. Tem como objectivos premiar a excelência na investigação,
contribuir para uma economia mais competitiva e promover uma cultura empresarial
orientada para a inovação.
Dirigido a pequenas e micro empresas, e a investigadores e inventores independentes,
o concurso tem como factores de diferenciação, face a outras iniciativas em Portugal, a
existência de categorias sectoriais, implicando uma aplicação concreta a um sector empresarial, e o alargado leque de parcerias de
elevada representatividade do meio científico
português, tendo como júri as principais universidades e institutos politécnicos do país.
Em onze edições, o NOVO BANCO Concurso
Nacional de Inovação recebeu um total de
1.633 candidaturas, distinguiu 52 projectos
vencedores e atribuiu 3,25 milhões de euros
em prémios. ■
NÚMEROS DO CONCURSO
11
Edições
1.633
projectos a concurso
52
premiados
3,25
milhões de euros
em prémios
II Diário Económico Quarta-feira 9 Dezembro 2015
N OV O B A N C O C O N C U R S O N A C I O N A L D E I N OVA Ç Ã O
Projecto de cateteres
de nova geração à
procura de investidores
Grande Vencedor
>> Projecto
HydrUStent
>> Proponente
Rui Reis
>> Organização
3B’s Research Group – Universidade
do Minho
>> Prémio atribuído
40 mil euros em dinheiro e registo
de patente no valor de 10 mil euros
Uma nova geração de cateteres urológicos degradáveis está na base
do projecto eleito grande vencedor da 11.ª edição do Concurso.
Ronda de investimento com vista
à certificação
A equipa realizou com sucesso o primeiro teste de validação ‘in vivo’ do HydrUStent num
modelo animal e está neste momento a fazer –
no Laboratório Associado ICVS/3B´s da Universidade do Minho, dirigido pelo professor
Rui Reis, que está também directamente envolvido neste projecto – a validação do
HydrUStent num modelo animal.
“Neste caso, pela semelhança com os huma-
RITA DUARTE
investigadora do Grupo 3B’s
“
Pretendemos
estabelecer uma
parceria
estratégica com
uma das grandes
empresas
multinacionais
que actualmente
comercializa
cateteres
urológicos, para
que o nosso
produto seja
incluído no seu
portefólio.
nos, esse modelo terá que ser o porco. Os primeiros resultados parecem bastante positivos
e os próximos passos envolvem a realização
do estudo alargado a um maior número de
animais. Esperamos realizar estes estudos nos
próximos três meses”, explica Rita Duarte,
investigadora do Grupo 3B´s e proponente do
projecto.
Depois de protegida a propriedade intelectual, e paralelamente à componente científica, a equipa está a tentar encontrar investidores para avançar com a criação de uma empresa que permita prosseguir com a validação
do HydrUStent, na Europa e nos Estados Unidos, nomeadamente para obter a certificação
necessária para a sua comercialização. Trata-se de um investimento inicial na ordem dos
1,6 milhões de euros. Segundo a investigadora, a equipa tem já alguns investidores potencialmente interessados mas está aberta a outros contactos.
O objectivo passa agora por valorizar o conhecimento e a propriedade intelectual gerados e chegar à comercialização, ou seja,
acrescentar valor e ter um efeito positivo sobre a qualidade de vida de muitos pacientes.
A equipa prevê um período de dois anos para
obter a certificação necessária, o que inclui a
realização de ensaios pré-clínicos em animais
e posteriormente ensaios clínicos, sendo que
o investimento que procura se destina precisamente a completar esses estudos.
“A médio prazo, pretendemos estabelecer
uma parceria estratégica com uma das grandes empresas multinacionais que actualmente comercializa cateteres urológicos, para que
o nosso produto seja incluído no seu portefólio”, conclui Rita Duarte. ■ C.M.
Certificação. Um
investimento inicial de
1,6 milhões de euros tem
como destino a realização
de ensaios clínicos que
validem a comercialização
do produto.
Paulo Alexandre Coelho
Único e inovador. O projeto HydrUStent, da
responsabilidade do Grupo 3B’s – Biomateriais, Biodegradáveis e Biomiméticos, da Universidade do Minho, envolve a produção de
cateteres urológicos degradáveis, com base
em polímeros naturais, biocompatíveis e com
propriedades antibacterianas, que podem ser
desenvolvidos à medida das especificações de
cada paciente.
Os cateteres da HydrUStent têm como principal vantagem o facto de dispensarem a realização de uma segunda cirurgia, que é neste
momento obrigatória para a remoção deste
tipo de dispositivos. Em causa estão mais de
240 mil intervenções médicas por ano, com
um custo variável entre os 700 e 1.800 euros
por paciente, o que se traduz numa redução
do custo do tratamento na ordem dos 60%.
Pelo facto de terem por base polímeros naturais, com biocompatibilidade inerente e propriedades antibacterianas, estes cateteres de
nova geração vêm dar resposta às limitações e
desvantagens dos actuais cateteres ureterais,
nomeadamente no que toca às complicações
decorrentes da sua deslocação, infecção e
bloqueio por deposição de cristais ou incrustação. Em última instância, a tecnologia patenteada permite melhorar a qualidade da terapia e reduzir o incómodo dos pacientes,
melhorando a sua qualidade de vida.
A versatilidade da técnica, e a possibilidade
de incorporação de fármacos que possam ser
libertados para o organismo do paciente,
alarga o mercado de aplicações deste dispositivo médico ao tratamento de doenças cuja
terapêutica se baseia na aplicação localizada
de fármacos.
Quarta-feira 9 Dezembro 2015 Diário Económico III
Os professores Estêvão Lima e Rui Reis,
em representação do projecto HydrUSent,
com Eduardo Stock da Cunha (ao centro), presidente
do Conselho de Administração do NOVO BANCO.
A dar cartas
além-fronteiras
Em comum têm o facto de terem sido premiados no âmbito do NOVO BANCO Concurso
Nacional de Inovação e de acumularem histórias de sucesso na inovação. Em Portugal e
fora de portas.
FEEDZAI
É especialista no tratamento e análise de
grandes volumes de dados para o mercado de
pagamentos, e em apenas quatro anos conseguiu elevar o seu volume de vendas para os 22
milhões de dólares, valor que representa um
crescimento de 300% face a 2014. Trata-se da
FeedZai, que venceu a 5.ª edição do NOVO
BANCO Concurso Nacional de Inovação e já
este mês abriu um escritório em Nova Iorque,
o primeiro na costa Leste e o segundo nos Estados Unidos – um mercado que representa
60% da facturação da empresa. Em Maio, a
FeedZai conseguiu levantar um investimento
de 17,5 milhões de dólares, uma aposta da
Oak que elevou o total angariado até agora
para os 26,5 milhões de dólares.
BERD
A BERD, empresa cujo nome traduz a sigla
Bridge Engineering Research & Design, é responsável pelo desenvolvimento de soluções
de engenharia de pontes com base no conceito do Sistema de Pré-esforço Orgânico (OPS),
desenvolvido pela Faculdade de Engenharia
da Universidade do Porto e patenteado em
dezenas de países. Este sistema tem como
vantagens reduzir o custo de uma obra em
mais de 20%, além de permitir uma construção mais rápida e de melhor qualidade.
Foi graças ao OPS que conquistou um prémio
na 1.ª edição do NOVO BANCO Concurso Nacional de Inovação. A empresa está focada na
internacionalização e prevê atingir cerca de
50 milhões de euros de facturação entre 2015 e
2017, oito vezes mais face ao triénio 2009-2011.
MEDBONE
A Medbone venceu o concurso em 2009 com
dispositivos médicos com propriedades semelhantes às do osso natural, vocacionados
para a área da regeneração óssea, e com potencialidades que têm vindo a ser reconhecidas um pouco por todo mundo. Um inovação
que já permitiu à empresa atingir a meta de
meio milhão de euros de facturação e marcar
presença em 50 países. As soluções Medbone
evitam o transplante de osso, eliminando o
risco de rejeição ou infecção, e são utilizados
nas indústrias ortopédica, dentária e veterinária. A empresa tem em constante desenvolvimento novos dispositivos médicos, de forma a alargar o seu campo de aplicações e a dar
resposta às crescentes necessidades dos profissionais de saúde. ■ C.M.
IV Diário Económico Quarta-feira 9 Dezembro 2015
N OV O B A N C O C O N C U R S O N A C I O N A L D E I N OVA Ç Ã O
Minimizar efeitos secundários
no tratamento do cancro da próstata
Novo dosímetro para braquiterapia prostática
criado pela NU-RISE está já em fase de certificação.
Próxima etapa, certificação internacional
A NU-RISE é uma ‘spin-off’ da Universidade
de Aveiro que se dedica ao desenvolvimento
de dispositivos para detecção de radiação.
Este grupo de investigação participa em várias colaborações internacionais no âmbito de
experiências associadas ao CERN – European
Organization for Nuclear Research, e participa também no projecto NEXT (física de neutrinos), mas tem igualmente uma forte componente de desenvolvimento de novas tecnologias para a área médica.
Vencedor
em Saúde
>> Projecto
Dosímetro para
braquiterapia prostática
>> Proponente
Luís Moutinho
>> Organização
NU-RISE
>> Prémio atribuído
20 mil euros em dinheiro
e registo de patente
no valor de 10 mil euros
Luis Moutinho, fundador da NU-RISE
e investigador do Departamento de Física da
Universidade de Aveiro.
Actualmente, os seus esforços centram-se na
certificação do dosímetro para braquiterapia
prostática. A segunda fase de testes ‘in-vitro’
para regimes de alta taxa de dosagem está a
decorrer em parceria com o Serviço de Radioterapia dos Hospitais da Universidade de
Coimbra e o Departamento de Física da Universidade de Aveiro. Nos próximos meses serão realizados testes em ambiente clínico em
parceria com o IPO do Porto para regimes de
baixa taxa de dosagem.
“Gostaríamos de finalizar os testes clínicos
ainda em 2016, tendo como objectivo, a médio prazo, iniciar o processo de certificação
internacional do dispositivo”, explica o proponente do projecto.
O principal objectivo passa por “colocar o
dispositivo no mercado assim que possível” e
assim “contribuir para uma maior eficiência
destes tratamentos, com repercussão directa
no bem-estar dos pacientes que sofrem de
cancro da próstata, podendo ainda reduzir os
custos globais do tratamento”, conclui Luís
Moutinho. ■ C.M.
Paulo Alexandre Coelho
O segundo projecto a ser distinguido no sector
da Saúde nesta edição do NOVO BANCO Concurso Nacional de Inovação envolve um dosímetro para braquiterapia prostática, um dos
principais tratamentos para o cancro da próstata. O dispositivo desenvolvido pela NU-RISE, uma ‘spin-off’ da Universidade de Aveiro,
recorre ao uso de sondas de fibra óptica descartáveis e permite realizar dosimetria em
tempo real na região a tratar, colmatando a
falha dos actuais tratamentos de braquiterapia, que são realizados sem controlo de dose,
uma vez que não existe nenhum dispositivo
com a sensibilidade e versatilidade exigidas
nestes casos.
“O grupo tem uma interacção permanente
com pessoas da área clínica – físicos médicos
e médicos –, junto da qual identificou a necessidade de controlo de qualidade nos tratamentos de braquiterapia prostática. A partir
daí estudámos várias soluções que vieram a
dar origem à tecnologia-base do nosso dosímetro”, explica Luís Moutinho, aluno de doutoramento do Departamento de Física da Universidade de Aveiro e fundador da NU-RISE.
A utilização deste dosímetro tem como vantagens minimizar os efeitos secundários da
terapia, bem como o tempo de recobro dos
pacientes, a um baixo custo. Em causa está o
cancro com maior taxa de incidência em homens nos países desenvolvidos e cujo número
de novos casos, de acordo com a Organização
Mundial de Saúde, deverá aumentar cerca de
75% nos próximos 15 anos. No total, mais de
meio milhão de pacientes realizam braquiterapia prostática sem monitorização de dose,
ou qualquer outro tipo de controlo de qualidade.
O novo dosímetro apresenta ainda potencial
de aplicação em outras áreas, desde a monitorização de radiação e dosimetria industrial,
passando pela segurança interna (‘homeland
security’).
Bruno Sequeira, advisor em Engenharia de Produção
na Fibersail, esteve presente na cerimónia
para receber o prémio pelo projecto desenvolvido.
Facilitar a medição de grandes
estruturas no sector marítimo
Inovador sistema de medição à base de fibra óptica promete melhorar a ‘performance’ dos navios de carga.
O Fibersail, um sistema de medição e monitorização baseado em fibra óptica, foi eleito
vencedor no sector de Economia Oceânica.
Desenvolvido por uma empresa com o mesmo
nome sediada em Leiria, o sistema permite
medir – através dos seus sensores, remotamente e com alta precisão – a forma de qualquer estrutura, nomeadamente de navios de
carga, permitindo perceber, por exemplo, se
o navio vai bem carregado, quais os riscos de
danificação e qual a forma de navegação mais
adequada face ao seu estado.
Entre as vantagens deste sistema, que tem por
base uma tecnologia de fibra óptica desenvolvida pela NASA, contam-se o facto de encurtar o tempo de paragem do navio em terra, reduzir os seus custos de manutenção e, em última análise, aumentar o seu tempo de vida útil.
Este inovador sistema – que venceu também
o Building Global Innovators, um concurso
internacional de empreendedorismo de base
tecnológica – promete revolucionar o modo
como é feita actualmente a prevenção de degradação de estruturas, especialmente no
sector marítimo.
Acelerar a captação de investimento
A ideia nasceu do encontro entre um medalhado dos Jogos Olímpicos de Atlanta em
1996, um treinador de vela e um investigador
da Faculdade de Engenharia da Universidade
do Porto. O objectivo passava por criar um
sistema que medisse a forma dos barcos à vela
de alta competição, com vista a melhorar a
sua ‘performance’ através da monitorização
em tempo real da forma das velas e mastros.
Apesar de a competição dos barcos à vela ser o
mercado de teste da ‘startup’, a Fibersail está
já focada naquele que será o seu principal
mercado: o do transporte marítimo, nomeadamente navios de carga.
“Com os dois prémios recebidos temos finan-
ciamento para acelerar ainda mais o projecto
durante 2016, com a contratação e aumento
da equipa técnica, com vista ao desenvolvimento de uma versão do sistema que nos permita chegar ao mercado”, explica Pedro Pinto, um dos fundadores da Fibersail.
No final de Janeiro a empresa estará pronta
para apresentar ao mundo da vela o primeiro
protótipo real, tendo já fechadas duas vendas
com os principais ‘players’ mundiais de velas
e mastros de alta competição. Durante o segundo semestre de 2016, o objectivo será
apresentar o primeiro piloto funcional num
navio de carga.
O projecto encontra-se neste momento na segunda fase de aceleração do programa Building Global Innovators - ISCTE/MIT, que culminará em Março com um ‘bootcamp’ de
duas semanas em Boston, no MIT, onde a Fibersail terá a oportunidade de apresentar o
projecto a investidores internacionais. ■ C.M.
Vencedor
em Economia
Oceânica
>> Projecto
Fibersail
>> Proponente
Pedro Pinto
>> Organização
Fibersail
>> Prémio atribuído
20 mil euros em dinheiro
e registo de patente no
valor de 10 mil euros
Paulo Alexandre Coelho
Quarta-feira 9 Dezembro 2015 Diário Económico V
VI Diário Económico Quarta-feira 9 Dezembro 2015
N OV O B A N C O C O N C U R S O N A C I O N A L D E I N OVA Ç Ã O
Ana Teresa Freitas, CEO da HeartGenetics, durante a
Investigação nascida do IST
sua intervenção na cerimónia de entrega de prémios.
Paulo Alexandre Coelho
A HeartGenetics nasceu de uma ‘spin-off’
do Instituto Superior Técnico (IST), liderada por
Ana Teresa Freitas e mais duas investigadoras,
Alexandra Fernandes e Susana Rodrigues, para
explorar uma tecnologia aplicada num ‘chip’
de diagnóstico de doenças cardíacas, cujo segredo
está no ‘software’.
Ana Teresa Freitas frequentou o curso de
Electrotecnia do IST, em Lisboa, e começou a
fazer investigação logo nos primeiros anos de
licenciatura. Especialista em tratamento de dados,
começou a interessar-se pela área da biologia,
em particular da genética, completando para isso
as cadeiras do curso de engenharia biológica.
A HeartGenetics está instalada no Biocant,
Parque Tecnológico de Cantanhede, e conta já com
uma equipa multidisciplinar de dez pessoas.
Genética ao serviço
da saúde de rotina
Testes genéticos e ‘software’ de análise estão já certificados. HeartGenetics
quer endereçar um mercado avaliado em quatro mil milhões de dólares.
Começou com o capital semente dos projectos
da Fundação para a Ciência e a Tecnologia
(FCT) e em 2013 fez com a Espírito Santo Ventures um levantamento de capital que lhe
permitiu atingir o ‘break even’ e estar já no
mercado internacional, nomeadamente em
Itália e no Brasil.
Trata-se da HeartGenetics – empresa que
desenvolve ‘kits’ de testes genéticos e respectivo ‘software’ de análise, vocacionados
sobretudo para as doenças cardiovasculares –
e o ponto de situação foi feito pela sua CEO,
Ana Teresa Freitas, no âmbito da cerimónia
de entrega de prémios do NOVO BANCO Concurso Nacional de Inovação.
“Em 2015, o relatório da Organização Mundial
de Saúde reportou 17,5 milhões de mortes por
doença cardiovascular, a maior causa de
morte a nível global. Estes números podem
ser reduzidos de forma significativa se começarmos a utilizar os dados da genética na prática clínica, no dia-a-dia. É aqui que a
HeartGenetics tem uma solução”, explicou
Ana Teresa Freitas.
A ‘start-up’ tem como missão trazer o conhe-
ANA TERESA FREITAS
ceo da HeartGenetics
“
Precisamos de
mais
investimento,
mas investimento
“smart”, um
investidor da
área da saúde,
que nos coloque
em contacto com
grandes nomes
desta indústria.
cimento existente em testes genéticos para a
prevenção da doença cardiovascular, indo ao
encontro da necessidade global de acesso a
uma medicina personalizada. “Já passámos a
fase do protótipo e das certificações. Neste
momento, temos capacidade para ir para o
mercado internacional com os nossos dispositivos 100% validados e prontos a serem utlizados”, explica a responsável.
A empresa é também pioneira na criação de
um novo teste genético para a área da hipertensão arterial, com o qual se consegue identificar o risco genético de vir a desenvolver
hipertensão e doença cardiovascular associada, bem como ajudar o médico na adequação
da terapêutica para a hipertensão arterial.
“O que temos para oferecer são testes genéticos com uma precisão elevadíssima, de 99%,
com relatórios que são fáceis de ler e utilizar,
mesmo para um médico que não esteja muito
familiarizado com a genética. Só assim conseguimos entrar no mercado que queremos:
o mercado da rotina”, adiantou.
A grande mais-valia dos produtos desenvolvidos pela HeartGenetics, segundo Ana Tere-
sa Freitas, está precisamente no relatório
produzido por um ‘software’ recentemente
certificado para ‘in vitro diagnostic’, que avalia o risco do doente e informa o médico, com
base nas variantes genéticas, sobre qual a medicação a prescrever. “Ter esta certificação
para utilização em diagnóstico é extremamente difícil e é pioneiro fazer isto de forma
automática, o que faz com que os nossos produtos sejam escaláveis e possam abordar um
mercado que vale quatro mil milhões de dólares e está a crescer a um ritmo de 16%”, revelou a CEO da empresa, lembrando que dentro
da área de disgnóstico, a de testes genéticos é
a que está a acusar um crescimento mais acelerado.
Como a genética ainda não é reembolsável em
muitos países, a HeartGenetics pretende conseguir colocar os testes no mercado a preços
acessíveis, entre os 50 e os 100 euros.
“Fizemos um estudo para Portugal, para o Sistema Nacional de Saúde; se reduzirmos em
15% os gastos associados apenas à hipertensão arterial teríamos poupanças na ordem dos
375 milhões de euros por ano”, sustentou.
Novo investidor procura-se
É já para o ano que os dispositivos da
HeartGenetics vão para o mercado europeu,
em parceria com a empresa que desenvolve os
microchips para estes dispositivos e que é líder mundial nesta tecnologia.
“No final de 2015 tivemos mais um parceiro
de investimento, a Beta Capital, e outros parceiros que investiram de forma privada, mas
precisamos de mais investimento”, revelou
na ocasião Ana Teresa Freitas. “Somos uma
empresa de ‘biotech’ com dois anos, estamos
a crescer e levantámos apenas 1,8 milhões de
euros. Agora precisamos de investimento
‘smart’, de um investidor da área da saúde
que nos coloque em contacto com as grandes
marcas da indústria que produzem os dispositivos que fazem a avaliação dos testes genéticos, porque esses é que têm interesse em vender uma solução fechada, que vai até ao relatório”, concluiu a CEO. ■ C.M.
DA ESQUERDA PARA A DIREITA: Marta Catarino (directora da TecMinho), Alexandra Leitão (directora da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica), Filipe Castro (gestor de Negócios
e Tecnologias na Universidade do Porto), Filipa Batista Coelho (coordenadora nacional dos projectos Eureka na Fundação para a Ciência e a Tecnologia), João Trigo da Roza (presidente da APBA), Carlos Maia
(presidente do Instituto Politécnico de Castelo Branco), António Tavares (CEO da Tecmaia), Rogério Gaspar (vice-reitor da Universidade de Lisboa), Rui Pedrosa (vice-presidente do Instituto Politécnico de Leiria),
Paulo Vila Real (vice-reitor da Universidade de Aveiro), Jorge Figueira (director da Divisão de Inovação e Transformação do Saber da Universidade de Coimbra), Constantino Mendes Rei (presidente do Instituto
Politécnico da Guarda) e Ana de Freitas (vice-reitora da Universidade do Algarve).
As motivações de quem decide
Júri da edição deste ano do concurso decidiu premiar dois projectos na Saúde. Fomos saber porquê.
Os três projectos premiados na última
edição do NOVO BANCO Concurso Nacional de Inovação foram eleitos entre
um conjunto de 75 candidaturas sujeitas
a um processo de avaliação e selecção
com base em critérios como a excelência
científica e o carácter inovador do projecto (com uma ponderação de 35%),
o impacto potencial dos resultados na
competitividade empresarial (com uma
Evolução. No seu
conjunto, os elementos
do júri consideram
que há um número
crescente de projectos
de I&D de elevada
qualidade
em Portugal.
ponderação de 45%) e a credibilidade da
empresa, instituição de I&D ou inventor
responsável pelo projecto (com uma
ponderação de 20%).
A avaliação esteve a cargo de um júri que
envolve entidades de relevo na área da
ciência, tecnologia e inovação a nível
nacional, tanto na sua vertente académica como empresarial.
“Com este concurso, o NOVO BANCO
premeia não só a qualidade dos projectos, mas também faz despertar nos investigadores a vertente de empreendedorismo tão necessário à economia nacional”, explica Paulo Vila Real, vice-reitor da Universidade de Aveiro.
Os jurados dão conta de “uma evolução
muito interessante da qualidade dos
projectos a concurso ao longo das várias
edições”, uma evolução “diferenciada
sector a sector”, explica João Trigo da
Roza, lembrando o facto de a área da
Saúde ter sido a que demonstrou mais
potencial nesta edição, com dois projectos premiados. “Existe hoje claramente
em Portugal, no sector da Saúde, um
ecossistema empreendedor de nível
mundial, e não tenho dúvidas de que alguns destes projectos ainda vão ter um
reconhecimento global”, justifica o presidente da Associação Portuguesa de Business Angels (APBA).
Uma opinião reforçada por Ana de Freitas, vice-reitora da Universidade do Algarve, lembrando “o número crescente
de projectos com elevada qualidade, com
particular expressão na área da Saúde”.
Para Rogério Gaspar, vice-reitor da Universidade de Lisboa, a evolução dos projectos apresentados demonstra “o grande
nível de grande maturação” do ecossistema de investigação, desenvolvimento e
inovação existente em Portugal. Segundo
este responsável, o NOVO BANCO Concurso Nacional de Inovação acaba por espelhar a realidade nacional: “Um país
empreendedor e dinâmico, resultante de
décadas de investimento no sistema
científico e tecnológico nacional.” Para o
vice-reitor da Universidade de Lisboa, “é
importante que este exemplo frutifique e
seja replicado, a par da persistência em
políticas públicas dirigidas ao fomento da
inovação, alicerçadas em investimentos
estratégicos no conhecimento”, adverte.
Duplo prémio na Saúde
Na 11.ª edição do NOVO BANCO Concurso
Nacional de Inovação o júri decidiu atribuir um duplo prémio no sector da Saúde.
Segundo João Trigo da Roza, trata-se de
uma questão de mérito relativo. “Existiram dois projectos da Saúde que se distinguiram pela sua inovação e potencial
impacto”, explica o jurado, justificando
a decisão de distinguir com uma menção
honrosa um segundo projecto de “grande qualidade” nesta categoria. ■ C.M.
Paulo Alexandre Coelho
Quarta-feira 9 Dezembro 2015 Diário Económico VII
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