PR UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ CAMPUS PONTA GROSSA DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PPGEP SUELI DE FÁTIMA DE OLIVEIRA MIRANDA SANTOS PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL EM CILINDROS METÁLICOS VERTICAIS: ALGUNS ASPECTOS REFERENTES À SUSTENTABILIDADE PONTA GROSSA DEZEMBRO - 2007 SUELI DE FÁTIMA DE OLIVEIRA MIRANDA SANTOS PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL EM CILINDROS METÁLICOS VERTICAIS: ALGUNS ASPECTOS REFERENTES À SUSTENTABILIDADE Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Engenharia de Produção, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Área de Concentração: Gestão Industrial, do Departamento de Pesquisa e Pós-Graduação, do Campus Ponta Grossa, da UTFPR. Orientador: Kazuo Hatakeyama, PhD. PONTA GROSSA DEZEMBRO – 2007 DEDICATÓRIAS Ao meu marido Thadeu Eduardo, o meu amor e orgulho. Às minhas filhas Aline e Vanessa, futuras profissionais, meu exemplo de determinação e amor. Ao meu filho Luiz Fernando, meu amor e incentivo na nova fase de vida, com um especial agradecimento a Deus por sua proteção. À minha florzinha, Maria Eduarda, um duplo amor de avó. AGRADECIMENTOS Ao bom Deus, pelo amparo e força nas horas de desânimo. Ao professor Kazuo, não apenas pelo trabalho de orientação, mas principalmente por sua competência, pelo exemplo de determinação, retidão de caráter e firmeza de propósito. Obrigada pela paciência e pelo convívio nestes anos de pesquisa que muito me engrandeceram. Ao Thadeu Eduardo de Miranda Santos, Engenheiro Metalurgista, professor incansável e consultor full-time, a quem tantas vezes confundi com o Thadeu, marido amoroso, amigo dedicado, poeta surpreendente, companheiro e incentivador. Aos meus filhos Aline, Vanessa e Luiz Fernando, pelo cuidado, carinho, incentivo e principalmente pela compreensão e apoio nos meus momentos de ausência, cansaço e estresse. À minha neta, Maria Eduarda, pelo tempo de convívio a mim cedido com uma promessa de resgatá-lo em dobro brevemente. À minha mãe Etelvina, chamada aos céus, e ao meu pai Fontinele, que juntos sempre me ensinaram o valor da persistência, da força de vontade, do trabalho e do amor aos seus, de maneira simples, alegre e verdadeira, características peculiares dos grandes sábios. Aos meus dez queridos irmãos, pela manutenção da harmonia nesta família maravilhosa mesmo que fisicamente distantes, e por todos os seus que me são muito caros. À minha fiel escudeira, Claudinéia da Conceição, pela administração da minha casa, feita de modo competente. Obrigada por tão educadamente ouvir meus intermináveis discursos sobre carvão vegetal. À amiga Roselaine Maria dos Anjos, Engenheira Agrícola, competente e comprometida, pela paciência nas minhas incansáveis consultas. À amiga Adriana Diniz, pela força dada nos meus momentos pessoais e acadêmicos mais difíceis. À amiga Ivana Márcia, companheira nas viagens de pesquisa pelas carvoarias de Minas Gerais e Paraná. Aos empresários Toni e Toniel Basso, pequenos produtores paranaenses de carvão vegetal para o comércio varejista, praticantes da produção responsável, pela atenção a mim dispensada durante a coleta de dados no sistema artesanal. Ao Sr. Nelson Roberto Hübner, empreendedor destemido, dono de uma visão de oportunidade invejável, por ter permitido meu acesso ao conhecimento e coleta de dados no sistema proposto nesta pesquisa. Aos professores do Departamento de Contabilidade da UEPG – Universidade Estadual de Ponta Grossa, Diva Brecailo Adib, Rita Mara Leite, Marta Lúcia, Eliane e Patrícia Guarnieri, pelo incentivo, pela disponibilidade do seu escasso tempo. Aos professores do PPGEP, pelos valiosos ensinamentos. À Universidade Tecnológica Federal do Paraná, instituição comprometida com a formação de qualidade, pelos valiosos serviços prestados por seus servidores, em especial ao Luiz César. “Saudade, mistério d’alma, que se reflete no corpo, sem calma. Saudade, sentimento presente, recorrente e fugaz nos aguilhoa, nos preenche, é audaz. Não é sentimento de todo em vão, pois sempre existe o tempo do outro, tomar a mão. Saudade não se mata, ou por inteira ou só meia, o máximo que se consegue é, ...a dois se tonteia.” “Protestando”, de Thadeu Eduardo de Miranda Santos, 13.11.2006. RESUMO O Brasil responde por aproximadamente trinta por cento da produção mundial de carvão vegetal e desse percentual cerca de noventa por cento é destinado ao setor siderúrgico brasileiro na produção de ferro-gusa, ferro-ligas, silício metálico, entre outros. Seguramente, setenta por cento do carvão vegetal ainda é produzido de forma artesanal, da mesma forma que há um século, utilizando-se atualmente metade da necessidade de lenha oriunda de mata nativa. A pressão por sistemas de produção ecologicamente corretos e auto-sustentáveis tem dirigido a busca por tecnologias mais limpas e eficientes que atendam estas demandas e sejam economicamente viáveis. Estes sistemas de produção podem contribuir para a mudança do processo largamente utilizado no Brasil. A partir de pesquisa em uma unidade industrial produtora de carvão vegetal pelo processo de carbonização em cilindros metálicos verticais, localizada no Estado do Paraná, este trabalho tem como objetivo mostrar que os aspectos de sustentabilidade deste modelo estão no atendimento aos requisitos básicos de ser ecologicamente correto, economicamente viável, socialmente justo e culturalmente aceito. Para tanto, foi feita uma comparação com o modelo artesanal. Em relação aos pilares da sustentabilidade, este modelo mostrou possibilidade de alcançar a viabilidade econômica; um potencial de economia de lenha em torno de 25%; o atendimento à legislação trabalhista vigente no País; e o atendimento aos anseios da sociedade, ao proporcionar aos trabalhadores condições dignas de trabalho e inserção social. Constatou-se, também, que o grande filão do processo está na utilização da energia gerada na queima dos fumos provenientes da carbonização para a secagem prévia da lenha. Palavras-chave: Produção de carvão vegetal; Carvão vegetal; Energia Renovável. ABSTRACT Brazil produces approximately one third of the world’s charcoal annual production, of which, around ninety percent are designated to the Brazilian production of pig-iron, iron-alloys, mainly (FeSi, FeCr, FeMn, FeMo), pure silicon, among others. Surely, seventy percent of the charcoal are still produced using the traditional handicraft way, the same way as it was a century ago, and almost half of firewood still derives from native forests. The pressure for ecologically-right, socially fair and economically feasible production, has driven the search for cleaner and more efficient technologies which can meet these requirements and contribute to change the present charcoal production situation in Brazil. Researching a metallic vertical cylinder industrial charcoal production unit, and a traditional handicraft unit, both located on the state of Paraná, this dissertation intends to show that the industrial production model can replace the traditional one. According to the sustainability pillars, this industrial model has shown the possibility of 25% of firewood saving, pointing to an economical feasibility, an ecologically-right, and socially fair process, under the Brazilian work legislation. Finally it was evidenced that crucial point of the process is to burn the dirt smoke generated during the wood carbonization, using the generated heat for pre-drying the firewood and getting a clean gas emission at the end. Keywords: Charcoal Production; Charcoal; Renewable Energy LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Cadeia Produtiva do Carvão Vegetal Industrial ........................................21 Figura 2 - Produção Mundial de Carvão Vegetal (%), em 2003 ................................22 Figura 3 - Consumo Brasileiro de Carvão Vegetal por Segmento (%), em 2006 ......22 Figura 4 – Distribuição % do Consumo de Carvão Vegetal no Segmento Industrial, em 2006 .............................................................................................................23 Figura 5 - Produção e Consumo de Ferro-gusa no Brasil em 2006. .........................23 Figura 6 - Distribuição das Florestas Plantadas de Eucalipto (%), por Estado, em 2006 ...................................................................................................................26 Figura 7 - Consumo de Florestas (%) para a Produção de Carvão Vegetal .............27 Figura 8 – (a) Forno Poço e (b) Forno Meda.............................................................32 Figura 9 - Forno Meda Modificado ............................................................................32 Figura 10 - (a) Forno de Encosta ou Barranco e (b) Forno Rabo Quente .................34 Figura 11 - Forno de Superfície tipo JG® ..................................................................34 Figura 12 - Forno Retangular com Carga Mecanizada de Lenha..............................35 Figura 13 – (a) Fornos Metálicos JG-SCC e (b) Processo DPC................................36 Figura 14 - (a) Fornos Metálicos Artesanais, (b), Processo CML Escala Industrial Semicontínuo e (c) Processo Lambiotte CISR Escala Industrial Contínua ........38 Figura 15 – (a) Forno Rabo Quente e (b) Bateria de Fornos Rabo Quente ..............46 Figura 16 - Desenho Esquemático da UPC ..............................................................49 Figura 17 - Fluxo do Processo de Carbonização em Cilindros Metálicos Verticais...50 Figura 18 – (a) Forno de Carbonização e (b) Cilindro Metálico.................................52 Figura 19 – Ignição....................................................................................................52 Figura 20 – Tampa ou grelha do cilindro...................................................................53 Figura 21 - Vista Lateral (a) e do Interior (b) do Queimador de Fumaça...................54 Figura 22 - (a) Secador com Destaque para (b) Recirculadores e (c) Magnetrons ...55 Figura 23 - (a) Vista Geral do Laboratório e (b) Procedimento de Controle ..............55 Figura 24 - Supervisão da Carbonização ..................................................................56 Figura 25 - Principais Formas de Trabalho Forçado no Mundo ................................68 Figura 26 – Ramos de atividades em que foram encontrados trabalhadores em situação análoga à de escravo nas propriedades rurais em 2007 (%)...............70 Figura 27 - Número de Trabalhadores na Produção de Carvão Vegetal Envolvidos nas Empresas/Fazendas da “Lista Suja”, por Estado, em 2007 ........................70 Figura 28 - Comparativo de Resultados quanto ao Aspecto Social entre o Processo Artesanal e Processo Proposto/Pesquisado ......................................................83 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Influência da Massa Específica Básica da Madeira na Massa Específica Aparente do Carvão Vegetal ..............................................................................28 Quadro 2 - Produtos da Carbonização......................................................................31 Quadro 3 - Características dos Fornos de Alvenaria Considerados Pequenos.........33 Quadro 4 - Desempenho dos Fornos de Carbonização no Brasil .............................37 Quadro 5 - Resumo: Desempenho dos Principais Processos de Carbonização na Europa................................................................................................................38 Quadro 6 - Normas de Procedimentos para Controle da Qualidade do Carvão Vegetal ...............................................................................................................57 Quadro 7 - Premissas-base para Análise Econômica Comparativa dos Processos Artesanal e Processo Proposto Teórico .............................................................63 Quadro 8 - Premissas-base para Análise Econômica Comparativa Teórica x Pesquisada ........................................................................................................64 Quadro 9 - Dados Básicos de Consumo de Carvão e Produtividade da Lenha ........67 Quadro 10 - Etapas de Carbonização x Demanda de Energia (madeira 30% de umidade) ............................................................................................................67 Quadro 11 - Produtos da Carbonização x Poder Calorífico (madeira 30% umidade)68 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Necessidade Anual de Madeira (base seca) para Produção de Carvão Vegetal ...............................................................................................................73 Tabela 2 - Necessidade Anual de Madeira (base úmida) para Produção de Carvão Vegetal ...............................................................................................................73 Tabela 3 - Produtividade de Floresta de Silvicultura de Eucalipto.............................73 Tabela 4 - Necessidade Anual de Florestas de Eucalipto para Produção de Carvão Vegetal ...............................................................................................................74 Tabela 5 - Comparativo da Emissão de Fumos entre dois Sistemas de Carbonização ...........................................................................................................................74 Tabela 6 - Energia Contida na Fumaça para 1 t Madeira (base seca) ......................75 Tabela 7 - Energia para Secagem de 1.300 kg de Madeira ......................................75 Tabela 8 - Comparativo de Resultados de Consumo e Produção entre Processo Artesanal e Processo Proposto Teórico .............................................................76 Tabela 9 - Resultados Técnicos Comparativos entre o Processo Proposto Teórico e Processo Pesquisado ........................................................................................76 Tabela 10 - Comparativo dos Resultados Financeiros Anuais dos Processos Artesanal e Proposto Teórico.............................................................................78 Tabela 11 - Comparativo de Resultados Financeiros Anuais dos Processos Proposto Teórico e Pesquisado ........................................................................................78 Tabela 12 - Fluxos de Caixa Simplificados dos Processos Artesanal e Proposto Teórico ...............................................................................................................79 Tabela 13 - Fluxos de Caixa Simplificados dos Processos Proposto Teórico e Pesquisado ........................................................................................................80 Tabela 14 - Indicadores Econômico-financeiros: Comparativo entre Processos.......81 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABIFA - Associação Brasileira de Fundição ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas ABRAF - Associação Brasileira dos Produtores de Florestas Plantadas AMS - Associação Mineira de Silvicultura ASICA - Associação das Siderúrgicas de Carajás ASTM - American Society for Testing and Materials BOVESPA - Bolsa de Valores de São Paulo CNM - Confederação Nacional dos Municípios COFINS - Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social CONATRAE - Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo DPC - Drying Pyrolisis Cooling FAO - Food and Agriculture Organization of the United Nations FBDS - Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável FIESP - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo IBS - Instituto Brasileiro de Siderurgia ICC - Instituto Carvão Cidadão IOS - Instituto Observatório Social MDL - Mecanismo de Desenvolvimento Limpo MPT - Ministério Público do Trabalho MTE - Ministério do Trabalho e Emprego NBR - Normas Brasileiras OIT - Organização Internacional do Trabalho PIB - Produto Interno Bruto PIS - Programa de Integração Social SBS - Sociedade Brasileira de Silvicultura SIFEMA - Sindicato das Indústrias de Ferro-gusa do Estado do Maranhão TST - Tribunal Superior do Trabalho UPC - Unidade de Produção de Carvão Vegetal TMA - Taxa Mínima de Atratividade LISTA DE SÍMBOLOS M - milhão; mega t - toneladas % m - percentual 3 - metros cúbicos ºC - graus centígrados ha - hectare m - metro MDC - metro de carvão mm - milímetro st - estéreo st/MDC kg/m 3 - estéreo por metro de carvão - quilograma por metro cúbico BS - base seca a.a. - ao ano US$ - dólar norte-americano R$/st - reais por estéreo R$/MDC - reais por metro de carvão Mcal - megacaloria CF - carbono fixo Kcal/kg - quilocaloria por quilograma Mt - megatonelada t/há - tonelada por hectare Kg - quilograma ηvolumétrico - rendimento volumétrico ηgravimétrico - rendimento gravimétrico SUMÁRIO RESUMO LISTA DE FIGURAS LISTA DE QUADROS LISTA DE TABELAS 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................18 1.1 Cenário .......................................................................................................18 1.2 Tema de Pesquisa ......................................................................................19 1.2.1 1.3 Problema de Pesquisa ................................................................................20 1.4 Justificativas................................................................................................20 1.5 Objetivos .....................................................................................................24 1.5.1 Objetivo Geral ......................................................................................24 1.5.2 Objetivos Específicos...........................................................................24 1.6 2 Delimitação do Tema ...........................................................................20 Estrutura do Trabalho .................................................................................25 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...............................................................................26 2.1 O uso do eucalipto na produção do carvão vegetal ....................................26 2.2 Carbonização..............................................................................................28 2.2.1 Evolução dos Fornos de Carbonização ...............................................31 2.2.2 Fornos de Carbonização na Europa ....................................................37 2.3 Sustentabilidade .........................................................................................39 2.3.1 Formação Conceitual...........................................................................39 2.3.2 Sustentabilidade sob o Aspecto Técnico .............................................41 2.3.3 Sustentabilidade sob o Aspecto Econômico-Financeiro ......................42 2.3.4 Sustentabilidade sob o Aspecto Ambiental..........................................42 3 2.3.5 Sustentabilidade sob o Aspecto Social ................................................42 2.3.6 Sustentabilidade sob o Aspecto Cultural .............................................43 MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................44 3.1 Metodologia da Pesquisa............................................................................44 3.2 Análise Comparativa entre dois Sistemas de Produção: Artesanal e Industrial ................................................................................................................45 4 5 3.2.1 Metodologia para Análise do Aspecto Técnico ....................................45 3.2.2 Metodologia para Análise do Aspecto Econômico-Financeiro .............58 3.2.3 Metodologia para Análise do Aspecto Ambiental.................................66 3.2.4 Metodologia para Análise do Aspecto Social .......................................68 3.2.5 Metodologia para Análise do Aspecto Cultural ....................................71 RESULTADOS E DISCUSSÕES .......................................................................73 4.1 Balanço Teórico de Massa..........................................................................73 4.2 Balanço Energético Teórico ........................................................................74 4.3 Comparativo dos Resultados quanto ao Aspecto Técnico..........................76 4.4 Comparativo dos Resultados quanto ao Aspecto Econômico-Financeiro...77 4.5 Comparativo dos Resultados quanto ao Aspecto Ambiental ......................81 4.6 Comparativo dos Resultados quanto ao Aspecto Social.............................81 4.7 Comparativo dos Resultados quanto ao Aspecto Cultural ..........................84 4.8 Comentários Finais .....................................................................................84 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ............................................................86 5.1 Conclusões .................................................................................................86 5.2 Sugestões para Trabalhos Futuros .............................................................88 REFERÊNCIAS .....................................................................................................89 GLOSSÁRIO..........................................................................................................95 Capítulo 1 Introdução 18 1 INTRODUÇÃO 1.1 Cenário O carvão vegetal é proveniente da queima parcial da madeira. Na era primitiva, o homem utilizava pedaços de madeira em chamas para iluminar as cavernas ou aquecer-se. Possivelmente não tardou a perceber que, ao utilizar a madeira queimada, de aspecto preto e friável, esta não produzia chama e nem tanta fumaça, gerando calor de forma mais controlável que aquele produzido pela queima direta da madeira (JUVILLAR, 1980), marcando a descoberta do carvão vegetal e seu uso como combustível. O fogo era utilizado para cocção de alimentos, como fonte de luz e de calor e evolutivamente para tratamento de materiais que serviriam para confecção de armas, ferramentas e utensílios, conferindo à lenha a qualificação de sistema energético mais antigo da humanidade. À medida que a evolução da humanidade acontecia, a utilização do carvão vegetal foi se tornando mais intensa. Substituído por combustíveis fósseis em alguns casos, em muitos lares de países subdesenvolvidos ainda é um combustível imprescindível, seja por motivos econômicos ou financeiros (GUARDABASSI, 2006). O homem moderno procura aliar crescimento a desenvolvimento sustentável desde a utilização da energia a vapor no século XVIII, fato marcante que abriu caminho para a consolidação do uso da energia em escala crescente para a modernidade, passando, nessa busca, pela utilização de fontes como o petróleo e a eletricidade, entre outras. Essa demanda pelo crescimento sustentável tem levado cada vez mais à necessidade da utilização de energias alternativas e renováveis. Porém, mesmo em alguns países onde o acesso a outras fontes energéticas é intenso, o carvão vegetal tem utilidade tecnológica importante, como no caso da produção de certos fundidos de ferro no Brasil que necessitam de matéria-prima (ferro-gusa) isenta de enxofre, cujo elemento químico está presente no carvão mineral. Há que salvaguardar a necessidade absoluta que a utilização de florestas seja feita de forma racional, evitando a ocorrência de desastres ecológicos similares ao PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 Capítulo 1 Introdução 19 ocorrido na ilha de Madagascar, com suas florestas dizimadas pela exploração predatória. Segundo a Sociedade Brasileira de Silvicultura (SBS, 2006), na classificação mundial de produção de carvão vegetal, o Brasil é um dos maiores produtores, sendo também um dos maiores consumidores, possivelmente, cabendo-lhe o título de único produtor de ferro-gusa a carvão vegetal do mundo. A produção do carvão vegetal no Brasil responde por cerca de 1/3 da produção mundial. Destes, em sua quase totalidade, para uso siderúrgico, mas ainda se produz, em sua grande maioria, como há um século, sem as preocupações básicas com o meio-ambiente e com as condições de trabalho inadequadas (PINHEIRO et. al., 2006). Estas preocupações fazem parte das perspectivas do uso do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) do Protocolo de Kyoto. O MDL tem o propósito de aumentar a parcela de energia ecologicamente correta, produzida de maneira sustentável, incentivando a utilização de fontes renováveis e de diminuir a emissão de gases que causam o efeito estufa da atmosfera, contribuindo com o abrandamento deste efeito através do seqüestro de carbono (BRASIL, 2005). Por outro lado, os produtores de carvão vegetal, independentemente da escala de produção a que se dedicam, têm sentido os impactos no custo operacional devido às crescentes exigências de se utilizar a mão-de-obra e se adquirir matériaprima de forma legalizada, atendendo, ao mesmo tempo, aos apelos de uma produção mais limpa com baixos índices de poluição. A busca por alternativas que atendam a todos estes desígnios de forma econômica, leva à necessidade de processos mais eficientes. Neste sentido, esta pesquisa analisou comparativamente os processos de carbonização em fornos de alvenaria tipo “rabo quente”, numa unidade de produção artesanal e em cilindros metálicos verticais, numa unidade industrial, situadas no Estado do Paraná. 1.2 Tema de Pesquisa O tema de pesquisa refere-se à investigação de um sistema de produção industrial de carvão vegetal pelo processo de carbonização em cilindros metálicos PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 Capítulo 1 Introdução 20 verticais, com a finalidade de comparação com o sistema artesanal pelo processo de carbonização em fornos de alvenaria tipo “rabo quente”, a partir da avaliação de alguns aspectos da sustentabilidade. 1.2.1 Delimitação do Tema O tema de pesquisa foi delimitado às características dos processos de carbonização artesanal e industrial em duas unidades de produção distintas, localizadas no Estado do Paraná, no período de maio a setembro de 2007. 1.3 Problema de Pesquisa Levantar dados da produção de carvão vegetal pelo processo industrial para comparar com os dados existentes no processo artesanal, com o intuito de verificar possibilidade de mudança do perfil operacional do setor, considerando alguns aspectos da sustentabilidade. 1.4 Justificativas Os produtores de carvão vegetal se encontram cada vez mais pressionados pelos órgãos ambientais e pela legislação trabalhista. Estas exigências, entre outras, elevam os custos operacionais do sistema artesanal de produção amplamente utilizado. Mesmo os pequenos produtores artesanais do carvão vegetal têm sentido os efeitos dessa tendência. Muitos ainda se valem da lenha adquirida de extração ilegal das matas nativas, dos desmatamentos clandestinos ou de desmatamentos para expansão da fronteira agrícola e das práticas condenáveis de burlar a legislação trabalhista. Esta pressão pela produção auto-sustentável tem dirigido a busca por tecnologias mais limpas e eficientes que atendam este desígnio e sejam economicamente viáveis. A possibilidade de aproveitamento do calor oriundo da queima dos fumos da carbonização (gases e vapores) na secagem prévia da lenha é uma maneira de melhorar a eficiência do processo como um todo, tornando-o economicamente vantajoso. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 21 Capítulo 1 Introdução A utilização do modelo de carbonização em fornos industriais, onde este aproveitamento é possível, pode vir a contribuir para a mudança do modelo arcaico de produção largamente utilizado. Evidencia-se o crescimento da adoção de sistemas de carbonização em escala industrial utilizando-se fornos ou reatores com processos mais eficientes em relação ao modelo artesanal. Esta prática permite visualizar a cadeia produtiva do carvão vegetal, conforme mostrado na Figura 1. Figura 1 - Cadeia Produtiva do Carvão Vegetal Industrial FONTE: PINHEIRO et. al., 2006 Do total de carvão vegetal produzido no mundo em 2003 (43,8 milhões de toneladas), à África coube 49% (Nigéria - 15,5%); à América do Sul coube 34,2% (Brasil - 84,6%); à Ásia coube 12,7%; à América Central e do Norte 3,1% (EUA 72,1%); à Europa coube 1% e à Oceania e Austrália coube os 0,04% restantes, conforme mostrado na Figura 2. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 22 Capítulo 1 Introdução Ásia 13% Europa 1% África 49% América Central e Norte 3% América do Sul 34% Figura 2 - Produção Mundial de Carvão Vegetal (%), em 2003 FONTE: FAO, 2005 A produção brasileira de carvão vegetal, em 2006, foi de 9,6 milhões de toneladas (BRASIL, 2007), menor 3% em relação a 2005. Ressalta-se, porém, que neste mesmo ano importou-se 158 mil toneladas de carvão vegetal, 75% a mais que em 2005. O consumo total no mesmo período foi de 9,4 milhões de toneladas (BRASIL, 2007), sendo 49% de origem nativa e 51% originários de florestas plantadas (AMS, 2007). Do total, foram consumidos 90,5% pelo segmento industrial; 8,3% residencial; 1,1% comercial e 0,1% no segmento agropecuário, conforme mostrado na Figura 3: Com ercial 1,1% Residencial 8,3% Agropecuário 0,1% Industrial 90,5% Figura 3 - Consumo Brasileiro de Carvão Vegetal por Segmento (%), em 2006 FONTE: BRASIL, 2007 Do total consumido pelo segmento industrial (8,5 milhões de toneladas), 84,2% destinam-se à produção de ferro-gusa e aço; 10,5%, à produção de ferro-ligas; 4,7%, ao setor de cimento e 0,7%, para outros fins, conforme mostrado na Figura 4. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 23 Capítulo 1 Introdução Cim ento 4,7% Ferro-ligas 10,5% Outros 0,7% Ferro-gusa e aço 84,2% Figura 4 – Distribuição % do Consumo de Carvão Vegetal no Segmento Industrial, em 2006 FONTE: BRASIL, 2007 A produção mundial de aço bruto em 2006 foi de 706,4 milhões de toneladas, dos quais o Brasil produziu 20,0 milhões de toneladas. Em meados do terceiro trimestre de 2007, a produção mundial alcançava 761,4 milhões de toneladas e o Brasil atingia 22,1 milhões de toneladas. O Brasil produziu 32,5 milhões de toneladas de ferro-gusa em 2006, dos quais 21,3 milhões de toneladas (65,5%) foram produzidos pela siderurgia a coque (carvão mineral) e 11,2 milhões de toneladas (34,5%) foram produzidos a partir do carvão vegetal; destes, 84,8% (9,5 milhões de toneladas), pelos produtores independentes e 15,2% (1,7 milhões de toneladas), pelas usinas integradas a carvão vegetal. Dos 9,5 milhões de toneladas de ferro-gusa produzidos a partir de carvão vegetal pelos produtores independentes, 83,4% destinaram-se a atender à indústria do aço e 16,6% à indústria de fundição de ferro, conforme a Figura 5. Produção de Ferro-gusa 32,5 mi t A partir do Coque 21,3 mi t A partir de Carvão Vegetal 11,2 mi t Produtores Independentes 9,5 mi t Usinas Integradas 1,7 mi t Destino Aciaria Destino Fundição de Ferro 7,9 mi t 1,6 mi t Figura 5 - Produção e Consumo de Ferro-gusa no Brasil em 2006. FONTE: Adaptado de SBS, 2007, BRASIL, 2007 e ABIFA, 2006 PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 Capítulo 1 Introdução 24 O setor siderúrgico (aço) indica investimentos para aumento de 39% da capacidade de produção brasileira até 2010, podendo chegar a 50,8 milhões de toneladas de aço bruto (IBS, 2007). A indústria de fundição de peças em ferro apresenta uma variação positiva de 75,2% na produção entre 2002 e 2006, com previsão de incremento na produção em torno de 3,5% em 2007 (ABIFA, 2006). A produção brasileira de ferro-ligas e de silício metálico se faz exclusivamente a carvão vegetal, estando o Brasil entre os maiores produtores do mundo. Face ao exposto, evidencia-se a necessidade da mudança do perfil da produção do carvão vegetal no Brasil. 1.5 Objetivos 1.5.1 Objetivo Geral Investigar as características do sistema industrial de produção do carvão vegetal pelo processo de carbonização em cilindros metálicos verticais, visando ressaltar alguns aspectos referentes à sustentabilidade, a partir de uma Unidade de Produção de Carvão (UPC), em comparação ao sistema artesanal de produção do carvão vegetal pelo processo de carbonização em fornos de alvenaria tipo “rabo quente”, ambas as análises focalizando instalações localizadas no Estado do Paraná. 1.5.2 Objetivos Específicos I. Focar as características técnicas do sistema industrial de produção do carvão vegetal pelo processo de carbonização em cilindros metálicos verticais para mapeamento do processo produtivo; II. Levantar as características das etapas das entradas e saídas dos processos industrial e artesanal; III. Coletar dados para avaliação das entradas e das saídas dos processos industrial e artesanal; IV. Comparar os processos industrial e artesanal, a partir dos dados coletados, quanto aos aspectos técnicos, econômicos, ambientais, sociais e culturais. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 Capítulo 1 Introdução 1.6 25 Estrutura do Trabalho Desenvolvido na área de Gestão Econômica, esta pesquisa mostra a possibilidade de produção do carvão vegetal pelo sistema industrial através da apresentação de um processo desenvolvido voltado às questões econômicas priorizando as questões ambientais, sociais e culturais, numa estrutura montada em 05 (cinco) capítulos. No Capítulo 1 – Introdução – apresenta-se o cenário da atividade carvoeira, o tema de pesquisa e sua delimitação; o problema alvo; as justificativas que levaram ao estudo do processo apresentado; o objetivo geral, os objetivos específicos a serem alcançados e a estrutura em que este trabalho se apóia. O Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica – busca identificar na literatura, de um lado, o alicerce para o estudo dos processos objetos de pesquisa, através da origem da carbonização, da identificação dos fornos em utilização na produção do carvão vegetal na Europa, da evolução da tecnologia dos fornos de carbonização no Brasil, e de outro lado, o suporte para a análise dos aspectos econômicos, ambientais, sociais e culturais dos processos pesquisados, através da teoria da sustentabilidade. O Capítulo 3 – Material e Métodos – descreve as partes que compõem as unidades produtoras de carvão vegetal e as propostas de avanço no processo pesquisado. No Capítulo 4 – Resultados e Discussões – apresentam-se os resultados comparativos entre os processos de carbonização em cilindros metálicos verticais e o processo de carbonização em fornos de alvenaria tipo “rabo quente”. O Capítulo 5 – Conclusões e Recomendações – apresenta as conclusões do trabalho e as sugestões para trabalhos futuros. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 26 Capítulo 2 Revisão Bibliográfica 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 O uso do eucalipto na produção do carvão vegetal No Brasil, a atividade carvoeira tem como características: a devastação de florestas nativas, o uso de trabalho análogo à condição de escravo e a poluição do ar gerada pelos primitivos fornos de alvenaria, os quais emitem grandes quantidades de fumos, representando uma significativa fonte de poluição e contaminação ambiental. Em 2006, no Brasil, dos 5.373.417 hectares de florestas plantadas com eucalipto e pinus, 66% eram da espécie eucalipto, 4% maior que em 2005, sendo que o Estado de Minas Gerais detém 31% das florestas de eucalipto, seguido por São Paulo (23%) e Bahia (15%), conforme mostrado na Figura 6. OUTROS; 25% ES; 6% BA; 15% MG; 31% SP; 23% Figura 6 - Distribuição das Florestas Plantadas de Eucalipto (%), por Estado, em 2006 FONTE: ABRAF, 2007 Recentemente, a Associação Mineira de Silvicultura – AMS noticiou investimentos de R$1,5 bilhão por ano, a partir do início de 2008, para plantação de 200 mil hectares de florestas por ano, num programa de reflorestamento que visa à auto-suficiência do Estado de Minas Gerais nesta produção, como forma de atender à demanda do seu parque siderúrgico. Estima-se que em dez anos a área total plantada com eucalipto no Estado de Minas Gerais, incluindo a área já existente, seja maior que o Estado de Sergipe (GUIMARÃES, 2007). PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 27 Capítulo 2 Revisão Bibliográfica Nos últimos 10 anos, o consumo de florestas plantadas em comparação ao consumo de florestas nativas para produção de carvão vegetal não evoluiu de maneira positiva do ponto de vista ambiental. Embora a área de florestas plantadas tenha crescido, não ocorreu na proporção do aumento da produção siderúrgica. Face ao acirramento nas questões ambientais, um planejamento neste sentido tem tomado corpo. Uma pequena reversão na tendência pode ser observada a partir de 2004, conforme mostrado na Figura 7. 80,0 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 Nativas 10,0 Plantadas 0,0 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Figura 7 - Consumo de Florestas (%) para a Produção de Carvão Vegetal FONTE: AMS, 2007 O eucalipto é uma das melhores opções para a produção de carvão vegetal, devido à rusticidade, produtividade e às características da madeira. Os reflorestamentos de eucalipto, bem planejados e manejados, produzem árvores de tronco reto, bastante uniformes e madeira com massa específica adequada para a obtenção de carvão de boa qualidade (PINHEIRO et al, 2006). No gênero Eucalyptus, a massa específica básica pode variar de uma espécie para outra: dentro de uma mesma espécie em função da idade; entre árvores de mesma espécie; dentro de uma mesma árvore; e ainda, com a variação nas condições de solo e clima. A resistência mecânica do carvão vegetal tem relação direta com a sua massa específica aparente. Assim, salvo em alguns casos típicos, quanto maior a massa específica básica da madeira, maior a massa específica aparente do carvão e maior a sua resistência mecânica a choques, compressão e abrasão (PIMENTA, 2007), conforme mostrado no Quadro 1. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 28 Capítulo 2 Revisão Bibliográfica Madeira Eucalyptus Idade (anos) Maculata Propinqua Urophylla Saligna Grandis Microcoris Cloesiana Camaldulensis Grandis 5 9 4 9 9 5 4 4 4 Massa Específica Básica (kg/m3) 643 623 594 569 564 556 508 435 406 Carvão Massa Específica Aparente (kg/MDC) 440 420 360 346 360 350 290 270 231 Quadro 1 - Influência da Massa Específica Básica da Madeira na Massa Específica Aparente do Carvão Vegetal FONTE: Brito et. al., 1980 Algumas espécies do gênero Eucalyptus destacam-se para a produção de carvão vegetal. No Estado de Minas Gerais as espécies mais cultivadas para este fim são o Eucalyptus camaldulensis, o E. urophylla, o E. grandis, o E. saligna, e o E. citriodora. Estas espécies produzem madeira com massa específica variando entre 410 e 690 kg/m3. A escolha da espécie de eucalipto adaptada ao clima e solo é de suma importância na implantação de uma floresta de boa produtividade e com as características desejadas (PINHEIRO et. al., 2006). Nas plantações destinadas à produção de carvão vegetal, o corte da madeira é realizado entre 6 e 7 anos. Os eucaliptos possuem uma grande facilidade de brotação e, após o corte, dão origem a uma nova floresta. Em média são realizados três cortes em cada floresta e, após o terceiro corte, é plantada uma nova muda (PINHEIRO et. al, 2006). 2.2 Carbonização O uso energético da biomassa vem sendo valorizado como forma alternativa ao uso de combustíveis fósseis, principalmente por ser uma fonte renovável. Na conversão energética da biomassa (gramíneas, bagaço de cana, casca de arroz, casca de coco, madeira, entre outras), faz-se uso dos processos termoquímicos. A biomassa é submetida à ação do calor até transformá-la em compostos mais simples (PINHEIRO et. al., 2006). PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 29 Capítulo 2 Revisão Bibliográfica A madeira é composta basicamente de carbono, oxigênio, água, hidrogênio, nitrogênio e sais minerais (OLIVEIRA et. al., 1980), constituindo-se num dos componentes da biomassa de maior uso energético, por possuir características atraentes tais como produtividade, qualidade e massa específica adequada, além do seu baixo custo (PINHEIRO et. al, 2006). O processo da decomposição térmica pode resultar em destilação seca, quando realizado sob completa ausência de ar, recuperando-se todos os produtos oriundos da carbonização e obtendo-se o carbono fixo em forma de carvão vegetal. Quando a queima ocorre ao ar, a madeira se transforma em fumos, restando cinzas ou óxidos minerais (GOMES et. al., 1980). Segundo Pinheiro et. al. (2006), a carbonização é um processo em que a madeira é submetida a aquecimento entre 450ºC e 550ºC em ambiente fechado, com pequena quantidade ou exclusão total de ar e durante o qual são liberados gases, vapores de água e líquidos orgânicos, permanecendo como resíduos, principalmente, o alcatrão e o carvão vegetal. Diante do exposto, todos os processos práticos estão baseados nesse princípio e as variações que porventura possam existir ficam por conta dos aspectos técnicos do processo, tais como tamanho e capacidade dos equipamentos e instalações, dos níveis de controle do processo e origem do calor (BRITO, 1990). Segundo Pimenta (2007), na prática, independentemente dos equipamentos utilizados para a obtenção do carvão vegetal, faz-se necessário o controle dos parâmetros da carbonização, tais como o tempo, a temperatura final de carbonização e a taxa de aquecimento. Estes fatores atuam sobre o rendimento do processo de carbonização podendo influenciar de forma significativa os rendimentos dos produtos e as características físicas e químicas do carvão obtido. A origem do calor pode ser classificada das seguintes formas: a) combustão parcial ou fonte interna de energia em que a ignição é iniciada através da queima da lenha contida na carga quando parte desta carga é sacrificada para aquecimento do forno, em torno de 10 a 20% (BRITO, 1990) e dentre os fornos PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 Capítulo 2 Revisão Bibliográfica 30 que usam este princípio estão os fornos de terra (poço ou caieira e meda), de alvenaria e os metálicos pequenos (PINHEIRO et. al., 2006). As características desses fornos estão apresentadas no item 2.2.1 – Evolução dos fornos de carbonização. b) fonte externa de energia a partir do uso de aquecimento elétrico, ou ainda, da queima de outros combustíveis introduzindo o calor na carga, cujo rendimento de processo é maior, visto que teoricamente não há sacrifício de parte da madeira por combustão total (BRITO, 1990). Neste caso, a ignição é iniciada pela queima de qualquer material combustível tais como resíduos florestais, alcatrão, gás, entre outros, numa câmara externa, e os gases quentes são introduzidos na carga para a realização do processo de carbonização (PINHEIRO et. al., 2006). c) retortas através da recirculação de gases ou aquecimento indireto A retorta é um forno de carbonização composto por uma câmara fechada onde é colocada a biomassa e esta é aquecida por uma fonte externa de calor. Sua principal função não é a produção de carvão vegetal, mas a recuperação dos outros produtos da carbonização (condensáveis), tais como o alcatrão, os ácidos, os álcoois, entre outros (PINHEIRO et. al., 2006). Segundo Rezende (2006), o processo de carbonização do Eucalyptus ocorre em quatro fases: Fase I – Secagem: ocorre até 110ºC quando apenas a umidade é liberada; Fase II – Torrefação: ocorre entre 110ºC e 250ºC, sendo que na temperatura de 180ºC tem início a liberação da água de constituição pela decomposição da celulose e hemicelulose e pouco peso é perdido até 250ºC. Forma-se o tiço ou madeira torrada; Fase III – Carbonização: ocorre entre 250ºC e 350ºC com a intensificação da decomposição da celulose e hemicelulose ocorre expressiva perda de peso, formando-se gás, óleo e água. Ao atingir a temperatura de 350ºC o carvão tem 75% de carbono fixo e se considera que a carbonização está praticamente pronta; Fase IV – Fixação: dos 350ºC em diante ocorre redução gradual na liberação dos voláteis, principalmente gases combustíveis, continuando a fixação do carbono. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 31 Capítulo 2 Revisão Bibliográfica Sendo a carbonização, a destilação da madeira que a transforma numa fração rica em carbono (o carvão vegetal), e noutra fração composta por vapores e gases (alcatrão, pirolenhosos e gases não-condensáveis), de acordo com Sampaio et. al. (2001), essas frações são identificadas como os produtos oriundos da carbonização, conforme mostra o Quadro 2. Produtos da Carbonização Carvão (80% Carbono Fixo) Ácido Pirolenhoso (Ácido Acético) (Metanol) (Alcatrão Solúvel) (Água e outros) Alcatrão Insolúvel Gases Não-Condensáveis (GNC) (Hidrogênio – 0,63%) (CO – 34%) (CO2 – 62%) (Metano – 2,43%) (Etano – 0,13%) (Outros – 0,81%) Total Quadro 2 - Produtos da Carbonização % Base Seca 33,0 35,5 (5,0) (2,0) (5,0) (23,5) 6,5 25,0 (0,16) (8,5) (15,5) (0,61) (0,03) (0,20) 100,0 FONTE: Adaptado de GOMES, P.A.; OLIVEIRA, J.B. (1980) e FERREIRA (2000) 2.2.1 Evolução dos Fornos de Carbonização 2.2.1.1 Fornos de terra Segundo Pinheiro et. al. (2006), processos de carbonização desenvolvidos há mais de 10.000 anos ainda podem ser encontrados, como é o caso dos fornos de terra, usados em muitos países em desenvolvimento. Forno Poço ou Caieira (carvoeira, balão) – forno primitivo de fazer carvão situado geralmente no próprio local onde se corta a madeira. Consiste de uma vala aberta no chão onde é colocada a lenha e esta recoberta com terra e queimada de forma lenta. A ignição geralmente é feita por um dos vários orifícios para entrada de ar, normalmente no topo do monte e estrategicamente preparado para tal (Pinheiro, et. al., 2006; Rousset, 2006). O forno meda – pilha de troncos e galhos a que se põe fogo para obter carvão vegetal, conforme mostrado na Figura 8. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 32 Capítulo 2 Revisão Bibliográfica Figura 8 – (a) Forno Poço e (b) Forno Meda FONTE: FAO, 1985 O uso disseminado do carvão vegetal há gerações por diversos setores vem permitindo o aprimoramento dos processos de produção. Alguns desses aprimoramentos puderam ser verificados a partir de modificações significativas no forno meda vertical e no forno de vala horizontal, tais como cobertura da vala com tampa metálica; presença de chaminé metálica e cilíndrica; recuperação de alcatrão através de condensadores; aumento no volume de carvão e diminuição no ciclo produtivo (ROUSSET, 2006), conforme mostrado na Figura 9. Figura 9 - Forno Meda Modificado FONTE: FAO, 1985 PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 Capítulo 2 Revisão Bibliográfica 2.2.1.2 Fornos de alvenaria O processo de produção de carvão vegetal predominante é constituído por fornos de alvenaria e argila, em muitos casos construídos com tijolos de barro fabricados no local onde serão montadas as carvoarias, o que torna seu custo muito baixo (PINHEIRO et. al, 2006). Quando são construídos em regiões de relevo acidentado são chamados de fornos de encosta ou barranco. Quando o terreno é plano são chamados de superfície (BRITO, 1990). Os fornos de alvenaria podem ser classificados pelo tamanho, medido pela capacidade efetiva de madeira enfornada. Na lista dos pequenos fornos existem os de encosta ou barranco e os fornos de superfície tipo “rabo quente”, colméia e JG®, detalhados no Quadro 3. Fornos Encosta (3 m) Rabo Quente (3 m) Colméia (5 m) JG®(3 m) 3,0–4,0 2,9–3,8 3,0–8,0 3,0 Diâmetro (m) 2,5 – 2,8 2,3 máx. 3,2–5,0 2,3 máx. Altura (m) 20,0 st 8,0 st 5,0–200,0 t 14,0 st Lenha Enfornada 24,0 16,0 – 20,0 50,0–60,0 22 Carvão/mês (MDC) 7–8 5–7 8–9 5–6 Ciclo (dias) 3 2–3 3–5 2–3 Vida útil (anos) Quadro 3 - Características dos Fornos de Alvenaria Considerados Pequenos FONTE: Adaptado de PINHEIRO (2006) Os fornos de encosta ou barranco alcançam medidas de diâmetro entre 3,0 e 4,0 m e altura entre 2,5 e 2,8 m, o que permite receber lenha acima de 2,0 m. Sua capacidade produtiva é de 10 metros de carvão (MDC), a partir de 20 estéreos (st) de lenha enfornada. O resfriamento desses fornos é mais lento do que os fornos de superfície, conferindo aos mesmos um perfil térmico mais homogêneo que o observado naqueles (PINHEIRO et. al., 2006). Ainda nesta categoria, os fornos “rabo quente” alcançam medidas de diâmetro na base entre 2,90 e 3,80 m e aproximadamente 2,30 m de altura máxima. A capacidade produtiva média é 3,8 MDC a partir de 8 st de lenha enfornada. Apesar de serem mais baratos e fáceis de construir apresentam baixos rendimentos gravimétricos em carvão vegetal, com perdas em forma de fumaça poluente que podem chegar a 50% do carbono inicialmente contido na lenha enfornada e 75% em peso dessa mesma lenha. Rendimentos gravimétricos em carvão vegetal na faixa de 25% obtidos nos fornos tradicionais representam PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 33 34 Capítulo 2 Revisão Bibliográfica uma perda econômica expressiva e subutilização da lenha carbonizada (PINHEIRO et. al., 2006; MARRI et. al., 1982). Em função do custo de construção e da facilidade de operação é comum encontrar carvoarias com até 120 fornos, construídos junto às florestas nativas ou cultivadas, conforme mostrado na Figura 10. a b Figura 10 - (a) Forno de Encosta ou Barranco e (b) Forno “Rabo Quente” FONTE: PIMENTA, 2007 Apesar da larga utilização desse tipo de forno, alguns aprimoramentos são verificados, principalmente nas carvoarias de produção em larga escala instaladas nos grandes reflorestamentos de empresas siderúrgicas em Minas Gerais, com a instalação dos fornos de superfície tipo JG®, que ao invés de contar com várias entradas de oxigênio (baianas), conta com apenas uma entrada no rés do chão (tatu), conforme Figura 11. tatu Figura 11 - Forno de Superfície tipo JG® FONTE: PIMENTA, 2007 PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 Capítulo 2 Revisão Bibliográfica 35 Em função da capacidade de enfornamento entre 180 e 240 st de lenha, os fornos de alvenaria retangulares estão entre aqueles considerados fornos grandes e são utilizados nos empreendimentos silviculturais de propriedade das empresas produtoras de aço a carvão vegetal. O isolamento térmico desses fornos é considerado funcional, seu rendimento em carvão vegetal está entre 30 e 33%. Suas medidas permitem o trânsito de máquinas no seu interior para carga de lenha e descarga de carvão, possibilita a instrumentação para controle da operação, além da recuperação do alcatrão (PIMENTA, 2007), conforme mostra a Figura 12. Figura 12 - Forno Retangular com Carga Mecanizada de Lenha FONTE: PIMENTA, 2007 2.2.1.3 Fornos metálicos Na tentativa de melhorar os métodos tradicionais de produção do carvão vegetal, os fornos metálicos vêm sendo aperfeiçoados visando o alcance de resultados em termos de redução do tempo de carbonização, aumento nos rendimentos volumétricos (MDC/st), aproveitamento dos subprodutos do processo, diminuição dos custos logísticos, diminuição na emissão de poluentes, entre tantos. Dessa busca vale ressaltar os fornos metálicos de batelada, os semicontínuos e os contínuos (retortas). O forno metálico de batelada pode ser fixo ou móvel e esta escolha depende da localização da área de extração da matéria-prima, do custo de transporte e da mão-de-obra (PINHEIRO et. al., 2006). O forno JG-SCC, um aperfeiçoamento do forno metálico de batelada, apresenta-se como uma alternativa PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 36 Capítulo 2 Revisão Bibliográfica para aumento do volume de produção em função da possibilidade de uso de vários cilindros (enquanto um esfria, outro é carregado com lenha), o que lhe confere característica de semicontínuo. Apenas um forno metálico contínuo (retorta) operou no Brasil, especificamente na ACESITA, entre 1986 e março de 1993 (LATORRE e CUNHA, 2006). Segundo Pinheiro et. al. (2006), com capacidade produtiva de 3.000 MDC por mês num tempo total de carbonização e resfriamento de cerca de 10 horas, apresentava rendimentos em carvão entre 30 e 38% e custo de em torno de US$500 mil. O processo DPC consiste de uma torre vertical formada por três partes: zona de secagem (Drying), situada na parte superior da torre, onde a madeira passa por um processo de secagem, posteriormente para a zona de carbonização (Pyrolisis), situada na parte intermediária onde a madeira é carbonizada, finalizando na zona inferior onde o carvão vegetal é resfriado (Cooling), daí a denominação. Os gases coletados na parte intermediária são queimados numa câmara de combustão e o calor é conduzido para a parte superior para a zona de secagem (LÚCIO, 2006). Os fornos metálicos vêm sendo aperfeiçoados, conforme mostrado na Figura 13. a b Figura 13 – (a) Fornos Metálicos JG-SCC e (b) Processo DPC FONTE: PIMENTA, 2007 A evolução dos fornos para carbonização da matéria lenhosa no Brasil, depois dos fornos de terra, segue a seqüência mostrada no Quadro 4: PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 37 Capítulo 2 Revisão Bibliográfica Tipo de Construção Ciclo de Capacidade Rendimento Operação lenha Carvão Volumétrico (horas) (st) (MDC) (st/MDC) Alvenaria com fonte interna de calor Encosta ou barranco 240 20 8,7 2,3 “Rabo quente” 144 - 168 20 8,0 2,5 Superfície JG® 144 10-11 4-5 2,2 Retangular V&M 264-312 180-240 95-130 1,8 Retangular ACESITA 264 110 65 1,8 Metálicos com fonte interna de calor JG Semicontínuo ND ND ND ND Metálicos com fonte externa de calor DPC Semicontínuo 72 80 53,3 1,50 Quadro 4 - Desempenho dos Fornos de Carbonização no Brasil FONTE: Adaptado de PINHEIRO et. al., 2006; LÚCIO, 2006 2.2.2 Fornos de Carbonização na Europa Segundo a FAO (2005), a Europa produziu 419 mil toneladas de carvão vegetal em 2003, menos de 1% do total produzido no mundo no mesmo período, com a França em primeiro lugar entre 1999 e 2002. Por conseqüência das determinações da legislação ambiental na França em 1993, o número de carvoarias passou de 80 unidades nos anos de 1990 para menos de 20 no ano 2000 e uma queda da produção de 55% no período (ROUSSET, 2006). Para atendimento às leis ambientais, tecnologias de carbonização com capacidade para produção em escala industrial, dotadas de mecanismos para recuperação dos subprodutos e de forma contínua foram substituindo as formas de produção altamente poluidoras. Na realidade, estas tecnologias não foram criadas recentemente, dentre as quais estão citados os processos em uso na Europa atualmente, como o ReichertLurgi (também conhecido como processo Degussa) e o Sific-Lambiotte (comercializado no Brasil como processo Carboprem), foram criados em 1935 e 1947, respectivamente (CETEC, 1982). O alto custo de implantação e operação, aliada à pressão incipiente dos organismos ambientais à época podem ser as causas da demora em suas utilizações. A evolução dos fornos de carbonização na Europa é mostrada na Figura 14. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 38 Capítulo 2 Revisão Bibliográfica a b c Figura 14 - (a) Fornos Metálicos Artesanais, (b), Processo CML Escala Industrial Semicontínuo e (c) Processo Lambiotte CISR Escala Industrial Contínua FONTE: FAO, 1985 A produção em escala industrial foi mais evidenciada a partir de 1992. Os processos de carbonização em uso na Europa e o resumo com o desempenho dos principais processos estão expressos no Quadro 5: VMR CARBOLISI ACC LAMBIOTTE Descontínuo Contínuo Descontínuo Contínuo mod. 12 fornos 2 tanques 32 carrinhos mod. 2-6 tanques 1 forno Volume (m3) 14 4 12 10 15 Produção (t/dia) 222/forno 486/módulo 5.700 340/tanque 6.000 Rendimento (%) 23 27 25 27 ?? Carbono Fixo (%) 80 80-85 80-85 80-85 85 Homogeneidade ++ +++ +++ +++ ++ Efic. Incineração +++ -/+ + -/+ -/+ Granulometria 50 cm 50 cm 2m 50 cm 50 cm Umidade (%) 30-35 <20 30 <20 <20 Investimento + ++ ++++ ++ ++++ Confiabilidade +++ ++ + + +/++ Manutenção + +++ ++++ ++ ++++ Qualidade carvão +/++ +++ +++ +++ ++ Regularidade + +++ +++ +++ ++ Ponto fraco Regularidade Secagem Secagem Secagem Secagem Ponto forte Energia dos Qualidade Qualidade Qualidade Capacidade Gases do carvão do carvão Do carvão Quadro 5 - Resumo: Desempenho dos Principais Processos de Carbonização na Europa Processo CML Descontínuo FONTE: ROUSSET, 2006 Os sistemas industriais de carbonização mostrados no Quadro 5 estão localizados na França (CML e LAMBIOTTE-SIFIC); Noruega (VMR); Itália (O.E.T Calusco CARBOLISI); Bélgica (LAMBIOTTE-CISR) e EUA (ACC), entre outros tais como na Austrália (LURGI) e na Alemanha (DEGUSSA). PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 Capítulo 2 Revisão Bibliográfica 2.3 39 Sustentabilidade 2.3.1 Formação Conceitual Entende-se o termo sustentabilidade como algo que possua a qualidade de ser sustentável. Define-se sustentável como sendo algo capaz de se manter mais ou menos constante, ou estável, por longo período, segundo dicionário Aurélio. A ele estão atrelados termos como desenvolvimento ou crescimento: econômico ou sustentável. Vale, então, diferenciar crescimento de desenvolvimento, tanto econômico quanto sustentável. Para tanto, uma comparação entre crescimento econômico e desenvolvimento econômico possivelmente esclareceria a diferença entre ambos. Por crescimento econômico, entende-se todo e qualquer aumento na produção de bens e serviços, seja de um país ou de uma região, tendo como medida mais comum o aumento da renda per capita. Dessa forma, crescimento econômico está relacionado ao faturamento para as empresas, ao PIB para o governo, ao poder de compra pelo consumidor. Confrontando então os termos, tem-se por extensão, desenvolvimento econômico como sendo o resultado atribuído ao processo de crescimento econômico. Para Almeida (2007), a concepção de desenvolvimento sustentável surgiu a partir da discussão internacional em torno do conceito de desenvolvimento, até então predominantemente atado à noção de crescimento. A preocupação com a sustentabilidade vem tomando espaço cada vez maior nas decisões individuais, empresariais e governamentais, chamados por Almeida (2007) de atores do mundo tripolar – sociedade civil organizada, empresas e governos. Esta tomada de espaço ocorre, entre outras, em função das advertências dos cientistas que representam o clamor vivo da sociedade e dos organismos internacionais para o crescente aquecimento global e suas possíveis conseqüências. Esta preocupação com o equilíbrio entre aspectos econômicos, sociais e ambientais se tornou global mediante inúmeros fatos considerados importantes. Da escala histórica do desenvolvimento sustentável, publicada pela Fundação Brasileira PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 Capítulo 2 Revisão Bibliográfica 40 para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS, 2007), foram extraídos alguns desses fatos que vêem construindo o pensamento e as ações relativas à sustentabilidade, mostrados a seguir. • Com a fundação do Clube de Roma, em 1972, por cientistas e economistas, difunde-se a interação entre produção industrial, degradação ambiental, uso dos recursos naturais, população e consumo de alimentos com a publicação do documento intitulado “Os Limites do Crescimento”; • A criação do conceito ou base filosófica do desenvolvimento sustentável como sendo aquele que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades, contido no documento Nosso Futuro Comum, em 1987 no Relatório Brundtland; • A realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento – ECO 92 no Rio de Janeiro, em 1992, culminou com a publicação da Convenção da Diversidade Biológica, da Convenção Quadro das Mudanças Climáticas Globais, da Declaração do Rio, da Declaração das Florestas e do documento Agenda 21. O Protocolo de Kyoto em 1997 veio reforçar a Convenção sobre Mudanças Climáticas; • A Declaração do Milênio, documento no qual consta uma lista formada por oito objetivos básicos e seus desdobramentos em metas e indicadores a serem alcançados até 2015, no âmbito do desenvolvimento econômico, social e ambiental, criado por representantes de 189 países reunidos em setembro de 2000 na sede da ONU – Organizações das Nações Unidas, em Nova York, com o intuito de retificar as alterações ocasionadas no planeta pela desigualdade social e pela utilização dos recursos naturais de forma destruidora (Almeida, 2007). Neste documento foram traçados como objetivos a erradicação da miséria e da fome; a universalização do ensino básico; a promoção da igualdade de gêneros e a autonomia das mulheres; a redução da mortalidade infantil; a melhoria da saúde materna; o combate ao HIV/Aids, a malária e outras doenças, a garantia da sustentabilidade ambiental e o estabelecimento de uma parceria mundial para o desenvolvimento. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 41 Capítulo 2 Revisão Bibliográfica • A criação do Índice Dow-Jones de Sustentabilidade, em 1999, primeiro índice global criado para acompanhar o desempenho financeiro de empresas líderes em sustentabilidade com papéis na Bolsa de Valores de Nova York, o mesmo ocorrendo no Brasil com o Índice de Sustentabilidade Empresarial lançado pela BOVESPA em 2005. A respeito de indicadores de sustentabilidade, Bellen (2007) acredita na necessidade de se criar meios de mensuração da sustentabilidade. Os indicadores têm por objetivo tornar simples e transparente o significado das informações que dizem respeito a aspectos complexos, de modo a torná-los mais compreensíveis e quantificáveis. Do ponto de vista do conceito, todo e qualquer empreendimento humano para ser sustentável necessariamente precisa ser economicamente viável, ecologicamente correto, socialmente justo e culturalmente aceito. Um panorama da sustentabilidade sob as perspectivas econômica, ambiental, social, geográfica e cultural é mostrado a seguir. 2.3.2 Sustentabilidade sob o Aspecto Técnico Manzini (2002) afirma haver duas possibilidades de transição para a sustentabilidade: uma imposta pelos efeitos causados por fenômenos catastróficos que obrigariam a uma reorganização do sistema e outra espontânea em que a livre escolha se refletiria em mudanças culturais, econômicas e políticas em direção à adoção de novas formas de produzir e consumir. Nestes caminhos prevê-se, de um lado, um crescimento da desigualdade e injustiça social (muito nas mãos de poucos) e por outro lado, uma sociedade se encaminhando para um patamar equilibrado e justo. Almeida (2002), quando trata da comparação entre o clássico desenvolvimento consumidor de recursos naturais e o processo de mudança para o desenvolvimento sustentável, mostra no velho paradigma pouco ou nenhum limite tecnológico ao passo que no paradigma da sustentabilidade o limite tecnológico é definido pela sustentabilidade e a ênfase passa da competição para a cooperação. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 Capítulo 2 Revisão Bibliográfica 42 Considerando que nas sociedades industriais o bem-estar social está associado à disponibilidade crescente de produtos e matérias-primas (e suas implicações), o desafio está em romper este elo, através da inovação, aliando eficiência e suficiência. 2.3.3 Sustentabilidade sob o Aspecto Econômico-Financeiro Segundo Bellen (2007), no conceito de desenvolvimento sustentável, sob a ótica econômica, o mundo é visto em termos de estoques e fluxo de capital. Sendo assim, o problema da sustentabilidade está na manutenção do capital em todas as suas formas. Manzini (2002) destaca a divergência existente entre a racionalidade econômica e a racionalidade ecológica. A primeira delas baseia-se na busca pela eficiência econômica e a segunda na busca pela suficiência ou eco-eficiência através da contenção no consumo dos recursos naturais. Afirma que quem prioriza a primeira não consegue atingir a segunda, denotando-se um paradigma econômico. Segundo Almeida (2002), para que uma empresa ou empreendimento seja sustentável faz-se necessário buscar a eco-eficiência, produzindo de forma eficiente, porém, poluindo menos e gastando menos recursos naturais. 2.3.4 Sustentabilidade sob o Aspecto Ambiental Em Bellen (2007), o significado de sustentabilidade ecológica está em estender a capacidade dos recursos oferecidos ao mesmo tempo em que se procura minimizar a sua deterioração. A sustentabilidade cobra a adoção de posturas preventivas de modo a identificar o quanto um empreendimento é capaz de prever o que de positivo pode ser feito e maximizá-lo, da mesma forma o que de negativo pode ser evitado ou minimizado (Almeida, 2002), tendo em vista que o tempo que se leva para sentir um impacto ambiental é menor do que o tempo que se leva para recuperá-lo. 2.3.5 Sustentabilidade sob o Aspecto Social Bellen (2007) enfatiza ser prioridade a busca por meios que propiciem qualidade e aumento da condição de vida do ser humano, enquanto Manzini (2002) PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 Capítulo 2 Revisão Bibliográfica 43 acredita na transformação dos juízos de valores bem como dos critérios de qualidade intérpretes da idéia de bem-estar. Uma empresa ou empreendimento que se propõe ser sustentável, além do cuidado com o meio ambiente e com a realidade econômica, inclui entre os seus objetivos a busca pelo bem-estar social dos seus acionistas, empregados, familiares, consumidores, enfim, com todos os envolvidos com as suas operações. Para isto, necessita, entre outras políticas, de transparência e tudo ao que a ela corresponde (Almeida, 2002). Mesmo porque cada vez mais se evidencia a intolerância, principalmente dos consumidores, a produtos cujos processos tecnológicos utilizam práticas escusas. 2.3.6 Sustentabilidade sob o Aspecto Cultural Considerando o que foi dito com relação à transição por escolha, segundo Manzini (2002), esta só ocorrerá se houver reconhecimento por grande parte das pessoas com relação à oportunidade de melhoria no grau de bem-estar e que a transformação dos juízos de valores e dos critérios de qualidade intérpretes desta idéia de bem-estar levariam à redução dos consumos de recursos naturais. Dessa forma, evidencia-se uma estreita ligação entre as dimensões da sustentabilidade. No aspecto técnico, uma mudança cultural quanto à forma de produzir e consumir refletiria no aspecto econômico e em função dos seus benefícios sociais o reflexo ocorreria em mudança no aspecto social, construindo a aceitabilidade da nova cultura. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 Capítulo 3 Materiais e Métodos 44 3 MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 Metodologia da Pesquisa A pesquisa de campo exploratória é uma abordagem metodológica adotada nesta pesquisa, que para Lakatos (2001), é uma investigação de pesquisa empírica cujo objetivo é a formulação de questões ou de um problema, com tripla finalidade: desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com um ambiente, fato ou fenômeno, para a realização de uma pesquisa futura mais precisa ou modificar e clarificar conceitos. Em função do problema, a pesquisa se caracteriza como quantitativa com nuances de qualitativa, tendo em vista que “numa abordagem quantitativa, definida a população, busca-se um critério de representatividade numérica que possibilite a generalização dos conceitos teóricos que se quer testar” (MINAYO, 1998) e a pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis (DESLANDES, 1994). Em função dos aspectos técnicos, a pesquisa se classifica como experimental com nuances de estudo de caso, embasado pela colocação feita por Yin (2001) de que os estudos de caso, em geral, representam estratégia preferida quando se colocam questões do tipo “como” e “por que”, quando o pesquisador tem pouco controle sobre os eventos e quando o foco se encontra em fenômenos contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real. Para tanto, foram utilizadas técnicas de observação direta intensiva, com uso de apontamentos durante a coleta de dados, entrevistas semi-estruturadas e utilização de ferramentas consagradas na literatura para compilação dos dados e verificação dos resultados. Por meio da observação direta foram coletados dados para composição da avaliação das entradas e saídas do processo. Após estes levantamentos, os dados foram analisados com a finalidade de identificar a viabilidade econômica, os impactos ambientais, sociais e culturais da produção de carvão vegetal pelo processo de carbonização em cilindros metálicos PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 Capítulo 3 Materiais e Métodos 45 verticais em comparação com o processo de carbonização em fornos de alvenaria tipo “rabo quente”. Para dar suporte à pesquisa foram utilizadas as seguintes fontes de pesquisa: a) fontes primárias: registros internos da organização, tais como: notas fiscais, folhas de pagamento, formulários de apontamentos dos setores da empresa; entrevistas não estruturadas com gerentes e colaboradores e observações diretas dos processos; análise de desenhos técnicos dos projetos dos equipamentos e instalações, relatórios formais contábeis e gerenciais. b) fontes bibliográficas secundárias: como suporte para a teoria da carbonização foram utilizados livros, dissertações, artigos, documentos técnicos e publicações oficiais; para embasar a teoria dos custos foram utilizados livros, artigos e publicações de entidades oficiais; para alicerçar a contextualização foram utilizadas publicações de órgãos oficiais capturadas de sites específicos na internet e para suporte da análise técnica foram consultados profissionais da área de engenharia de processos dentro e fora das Unidades pesquisadas. 3.2 Análise Comparativa entre dois Sistemas de Produção: Artesanal e Industrial Os sistemas de produção do carvão vegetal – artesanal pelo processo de carbonização em fornos de alvenaria tipo “rabo quente” e – industrial pelo processo de carbonização em cilindros metálicos verticais –, objetos dessa pesquisa, foram analisados quanto aos aspectos técnicos, econômicos, ambientais, sociais e culturais, visando à avaliação comparativa entre os mesmos. 3.2.1 Metodologia para Análise do Aspecto Técnico A análise técnica dos dois processos (capacidade, produtividade, rendimento, qualidade do produto), foi feita dentro do escopo necessário para a elaboração dos parâmetros econômicos, ambientais, sociais e culturais, objeto desta pesquisa. Portanto, este trabalho não pretende discutir ou esgotar os aspectos técnicos envolvidos nos dois processos, ressaltando que todas as informações técnicas foram suportadas pela literatura e pelos dados coletados nas unidades pesquisadas. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 46 Capítulo 3 Materiais e Métodos 3.2.1.1 Sistema artesanal de produção do carvão vegetal O processo de carbonização em fornos de alvenaria tipo “rabo quente” faz parte do sistema artesanal de produção do carvão vegetal e, segundo Pinheiro (2006) é responsável por cerca de 70% da maneira de se produzir no Brasil. Os dados referentes a este processo foram coletados numa carvoaria típica, localizada no Estado do Paraná, numa bateria composta por 12 (doze) fornos e capacidade produtiva em torno de 300 MDC/mês, relatados em Colombo et.al. (2006). Os dados foram adaptados para que estes se tornassem equivalentes em volume ao processo de carbonização em cilindros metálicos verticais, ao qual foi comparado, ou seja, 3.500 a 4.000 MDC. Bateria é o conjunto de fornos de carvoaria. Carvoaria, denominada neste trabalho de unidade de produção de carvão vegetal (UPC), é o ambiente onde se localizam os fornos e se realizam as atividades de carvoejamento, de recebimento da lenha, até o despacho do carvão vegetal, conforme exemplo mostrado na Figura 15. a b Figura 15 – (a) Forno “Rabo Quente” e (b) Bateria de Fornos “Rabo Quente” FONTE: PIMENTA, 2007 Funcionamento do processo de carbonização com fornos de alvenaria tipo “rabo quente” Segundo Colombo et. al, 2006, os fornos do tipo “rabo quente” realizam um ciclo a cada seis ou sete dias, podendo chegar a dez dias se a umidade da lenha for elevada, cujo período se divide em duas partes. Primeiro vem o acendimento do PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 47 Capítulo 3 Materiais e Métodos forno e o controle da entrada de ar, quando ocorre efetivamente a carbonização. Terminada a carbonização, que dura em média três dias, o forno é completamente vedado com argila e deixado em resfriamento até atingir temperaturas internas em torno de 40oC a 50oC, quando então é possível a descarga do forno sem risco de ignição do carvão ao entrar em contato com o ar. Nos fornos do processo de carbonização em fornos de alvenaria tipo “rabo quente” – sistema artesanal, objeto de comparação nesta pesquisa, o ciclo de produção inicia-se após a construção do forno, onde são utilizados aproximadamente 3.000 tijolos assentados com cerca de três toneladas de uma massa preparada com água, cal e de terra argilosa encontrada em abundância naquela região e ainda uma cinta de aço com aproximadamente 12 metros de comprimento, quatro centímetros de largura e uma polegada de espessura envolvendo a parte externa do forno cuja função é dar sustentação às paredes. A construção do forno geralmente é feita na própria carvoaria e quando se faz necessária a contratação de mão-de-obra terceirizada faz-se por empreitada. Cada forno, se bem construído e adequadamente operado, tem uma vida útil de dois anos. As etapas seguintes à construção do forno são: a) aquisição da matéria-prima: na maioria das vezes a lenha é oriunda de reflorestamento próprio ou de terceiros, e em alguns casos de manejo legalizado, devidamente comprovado com documentação fiscal; b) preparação da matéria-prima: esta etapa utiliza a mão-de-obra de duas pessoas para a produção nos doze fornos do sistema pesquisado e consiste no corte das toras que podem variar de tamanho entre 1,00 e 1,40 m de comprimento, conforme a disposição da carga dentro do forno e se baseia, principalmente, na experiência do responsável pelo enfornamento, comumente chamado de forneiro ou queimador; c) enfornamento: cada forno tem capacidade para 8 a 10 MDC a partir de 16 st de lenha, em função da variação de umidade, da qualidade da madeira e do manejo na montagem da carga; d) carbonização ou carvoejamento: durante o processo de acendimento do forno todos os orifícios permanecem abertos por cerca de duas horas, quando PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 Capítulo 3 Materiais e Métodos 48 apenas a chaminé é lacrada permanecendo abertas as “baianas” - orifícios abertos na cúpula do forno para controle de entrada de ar e saída de fumaça, por cerca de 5-6 horas. Os suspiros - canais construídos nas laterais do forno com a mesma função das “baianas”, permanecem abertos por cerca de 40-80 horas, dependendo da umidade da lenha ou até que uma fumaça azulada se manifeste, quando então tudo é lacrado, iniciando-se, assim, o processo de esfriamento do forno, que pode durar até quatro dias, sendo que esta etapa se conclui a partir da percepção de uma temperatura suportável ao ser humano; e) desenfornamento, ensacamento e despacho: a porta, as “baianas” e a chaminé são abertos, permitindo a entrada de luz tornando possível o trabalho dos forneiros no processo de desenfornamento e ensacamento do carvão vegetal. Após o ensacamento faz-se a costura das bordas da embalagem. A montagem da carga no caminhão é feita de forma a acomodar a maior quantidade de sacaria maximizando assim o peso transportado, sem prejuízo da segurança no transporte, cuja altura máxima deve ser de 4,40 m do chão, permitida pela legislação. Nas etapas que vão do enfornamento ao ensacamento são utilizadas mão-deobra de quatro pessoas, ficando o despacho ou carregamento do caminhão por conta dos preparadores da matéria-prima. Controle da carbonização Neste modelo de produção do carvão vegetal os controles do processo de carbonização, tais como controle da temperatura, determinação do perfil térmico, rendimentos (volumétricos e gravimétricos), controle de qualidade da lenha (umidade e densidade) e controle da qualidade do carvão vegetal (densidades, análise química imediata e poder calorífico) ou não são feitos ou o são de forma empírica, dependendo, principalmente, da experiência do carvoeiro. O tempo de carbonização, por exemplo, é determinado pela coloração da fumaça que sai dos orifícios do forno e se constitui no sinal para que seja executada a atividade de fechá-lo ou abri-lo. A responsabilidade por identificar a qualidade do carvão fica por conta do comprador, uma vez que este está devidamente qualificado para tal e isto faz parte do controle de qualidade da matéria-prima adquirida, como é o caso dos produtores PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 49 Capítulo 3 Materiais e Métodos de aço (usinas integradas a carvão vegetal), de ferro-gusa, ferro-ligas e silício metálico. 3.2.1.2 Sistema industrial de produção do carvão vegetal O processo de carbonização em cilindros metálicos verticais faz parte do sistema industrial de produção do carvão vegetal, em função das características de volume, nível de investimento, possibilidade de organização do trabalho, entre outras. Os dados referentes a este processo foram coletados numa unidade de produção de carvão vegetal (UPC) localizada no Estado do Paraná e que utiliza o sistema de carbonização em cilindros metálicos verticais. Possui como característica principal a produção em escala industrial à qual se agregam os aspectos técnicos, econômicos, ambientais e sociais como fatores diferenciais entre os sistemas utilizados atualmente, conforme mostra a Figura 16. Queimador de Fumaça Praça de Carbonização Secador de Lenha Figura 16 - Desenho Esquemático da UPC FONTE: Disponibilizado pela Unidade Industrial Pesquisada O processo tem seu fluxo produtivo desenhado conforme mostrado na Figura 17. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 Capítulo 3 Materiais e Métodos 50 Figura 17 - Fluxo do Processo de Carbonização em Cilindros Metálicos Verticais FONTE: Disponibilizado pela Unidade Industrial Pesquisada O processo de carbonização com cilindros metálicos verticais é de concepção simples, constituindo-se em um sistema semicontínuo para produção de carvão vegetal. O processo de produção consiste basicamente em carregar o cilindro metálico com lenha previamente cortada em tamanho uniforme e com o teor de umidade reduzido. O cilindro metálico carregado é fechado na extremidade inferior com uma grelha que permite a circulação do ar e dos fumos decorrentes da carbonização da lenha. Assentado na posição vertical sobre um suporte na base do forno, inicia-se a carbonização a partir da ignição da lenha. A fumaça oriunda da carbonização é canalizada para o queimador. Parte do ar quente, proveniente dessa queima, é transferida para a unidade de secagem da lenha que pode contar, ainda, com o auxílio de um sistema de microondas. A cada ciclo de carbonização, o cilindro é colocado em resfriamento e então descarregado. Cada Unidade de Produção de Carvão Vegetal – UPC atualmente considerada compõe-se das seguintes partes principais: • 8 fornos; • 3 cilindros metálicos por forno, totalizando 24 cilindros por UPC; • 24 grelhas de ferro fundido com chaminé (1 por cilindro); PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 Capítulo 3 Materiais e Métodos 51 • Um queimador da fumaça poluente e produtor de ar quente para secagem da lenha; • Um secador da lenha; • Sistema informatizado para supervisão da carbonização. As partes acessórias são: • Termopares para controle da temperatura interna dos cilindros; • Pórtico rolante elétrico equipado com “trolley” e talha; • Cavaletes metálicos para carga de lenha e descarga de carvão vegetal; • Ventilador/exaustor para a sucção da fumaça dos fornos • Ventilador/insuflador para conduzir o ar quente para o secador da lenha; • Balança tipo dinamômetro para pesagem da lenha e do carvão vegetal; • Garfos e pás; • Gaiolas para medição de volume de carvão vegetal; • Suporte metálico para grelha. As UPC’s estão disponíveis em duas capacidades produtivas: • grande produção: UPC’s com capacidade produtiva mensal de 3.500 a 4.000 MDC. Este modelo de UPC é indicado para grandes empresas do ramo de siderurgia, ferro-ligas ou metais primários; • pequena produção: UPC’s com capacidade produtiva mensal de 500 a 1.000 MDC. Este modelo é indicado para pequenos produtores de carvão vegetal, cooperativas ou produção em escala familiar. Funcionamento do processo de carbonização com cilindros metálicos verticais O forno é feito de material isolante e tem como função minimizar a perda de calor enquanto ocorre a carbonização. Cada forno trabalha com três cilindros metálicos, conforme mostra a Figura 18. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 52 Capítulo 3 Materiais e Métodos a b Figura 18 – (a) Forno de Carbonização e (b) Cilindro Metálico FONTE: Disponibilizado pela Unidade Industrial Pesquisada A ignição do forno é feita com tiços e resíduos florestais (tocos e galhos), formando na base do forno uma fonte de calor, que será a fonte inicial de energia para a transformação da lenha em carvão vegetal. Dada a ignição, o cilindro carregado com lenha é posicionado pelo pórtico rolante dentro do forno, as portas do forno são fechadas e a carbonização é iniciada, conforme mostra a Figura 19. Figura 19 – Ignição FONTE: Disponibilizado pela Unidade Industrial Pesquisada A tampa do cilindro que fica na sua parte inferior, consiste de uma placa perfurada que possui no centro um orifício que se encaixa na chaminé do forno, conforme mostra a Figura 20. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 53 Capítulo 3 Materiais e Métodos Figura 20 – Tampa ou grelha do cilindro FONTE: Disponibilizado pela Unidade Industrial Pesquisada Com a exaustão forçada pelo ventilador/exaustor, os gases quentes gerados na ignição sobem pelas perfurações da tampa do cilindro e vão até o topo do mesmo trocando calor com a carga lenhosa e a fumaça resultante da decomposição térmica da lenha desce deixando o leito pela chaminé. Com a convecção dos gases quentes ascendentes a carbonização se inicia, estando completa após 8 a 10 horas de processo, quando então, o cilindro é retirado de dentro do forno para o resfriamento. Esses cilindros são posicionados numa cancha de areia e, uma vez expostos ao ar livre, o carvão vegetal perde calor livremente através das paredes metálicas, chegando a menos de 40ºC entre 8 e 10 horas, ponto em que pode ser descarregado sem risco de auto-ignição. Enquanto o primeiro cilindro se resfria, outro cilindro com lenha é posicionado no forno e a carbonização recomeça. Concluída a segunda carbonização, o cilindro é submetido ao resfriamento e um terceiro cilindro com lenha é posicionado no forno, iniciando-se nova carbonização. Enquanto isso, o carvão vegetal frio do primeiro cilindro é descarregado e é feita uma nova carga com lenha. Quando a terceira carbonização está concluída, o primeiro cilindro carregado com lenha volta para o forno e ciclo é reiniciado. Dessa forma, apesar de ser um sistema descontínuo, os fornos trabalham integrados, produzindo carvão vegetal continuamente, constituindo, portanto, um sistema semicontínuo de produção. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 Capítulo 3 Materiais e Métodos 54 Queimador da Fumaça A fumaça poluente gerada durante a carbonização é conduzida para um queimador da fumaça construído com tijolos refratários e tijolos comuns, onde os alcatrões e pirolenhosos são integralmente queimados e transformados em gás quente limpo. Após a queima, esses gases são conduzidos por tubulação para o secador de lenha. Quando em funcionamento, forma-se no interior do queimador de fumaça uma zona de reação com temperaturas que variam de 1.000 a 1.200ºC, temperaturas essas, capazes de destruir termicamente todos os componentes tóxicos e cancerígenos presentes na fumaça da carbonização, transformando-os em gases quentes e limpos, queimando inclusive o metano, que é um dos agentes causadores do aquecimento global. A Figura 21 ilustra este processo. Figura 21 - Vista Lateral (a) e do Interior (b) do Queimador de Fumaça FONTE: Disponibilizado pela Unidade Industrial Pesquisada A passagem da fumaça poluente pelo centro da zona de queima é promovida por um ventilador/exaustor em sistema de Venturi, instalado no final do queimador, que gera uma pressão negativa capaz de promover a sucção dessa fumaça. Secador da lenha Trata-se de um sistema misto de secagem de lenha, que utiliza ar quente do queimador da fumaça e radiação de microondas. As microondas auxiliam o processo de secagem promovendo a expulsão da água do interior das toras para a periferia das mesmas a partir de onde o ar quente e seco se encarrega da sua vaporização. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 55 Capítulo 3 Materiais e Métodos A água em forma de vapor é então retirada do sistema, sendo sua saída forçada por ventiladores (recirculadores de ar) através de aberturas posicionadas ao longo da base do secador (janelas inferiores). A medição da temperatura do ar quente introduzido no secador e da sua temperatura interna é feita através de aparelhos medidores de temperatura (pirômetros), instalados em pontos estratégicos na parede e na entrada de ar quente de modo a permitir o controle do processo. A Figura 22 ilustra o sistema. b c Figura 22 - (a) Secador com Destaque para (b) Recirculadores e (c) Magnetrons FONTE: Disponibilizado pela Unidade Industrial Pesquisada Sistema informatizado para supervisão da carbonização No laboratório de energia da biomassa florestal, engenharia de processos e controle da qualidade, o acompanhamento do processo segue um rigoroso padrão de qualidade, desde a entrada da lenha até a expedição do carvão vegetal, conforme mostrado na Figura 23. a Figura 23 - (a) Vista Geral do Laboratório e (b) Procedimento de Controle FONTE: Disponibilizado pela Unidade Industrial Pesquisada PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 b 56 Capítulo 3 Materiais e Métodos O controle da carbonização é feito através da medição da temperatura nos cilindros para determinação do perfil térmico. É feito com o objetivo de identificar as distintas fases do processo e possibilitar ao operador avaliar o comportamento da carbonização. Controle da temperatura A temperatura da carbonização é controlada por termopares tipo K de haste longa. Estão posicionados no cilindro nas alturas de 1,80 m (termopar 1), 1,20 m (termopar 2) e 0,60 m (termopar 3). Determinação do perfil térmico O perfil térmico é determinado por meio de um software desenvolvido pela empresa MARRARI TM, tendo como base rotina de cálculo e algoritmos desenvolvidos por ANJOS e PIMENTA (2007). Definidas as coordenadas, cria-se uma escala de cores correlacionando-a com os valores das temperaturas. A Figura 24 ilustra o sistema. Figura 24 - Supervisão da Carbonização FONTE: Disponibilizado pela Unidade Industrial Pesquisada Rendimentos Cada forno executa até três carbonizações por dia, de forma que uma UPC (oito fornos) chega a executar 24 carbonizações por dia. Em cada carbonização, utilizando-se lenha de eucalipto, com diâmetro variando 8 a 18 cm e teor de umidade de 15 a 20% (em base seca), podem ser obtidos rendimentos gravimétricos em carvão vegetal na faixa de 36 – 40% em relação ao peso inicial de lenha seca PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 57 Capítulo 3 Materiais e Métodos enfornada, contra apenas 25 – 30% nos fornos de alvenaria tradicionais (tipo “rabo quente” e os retangulares). A conversão volumétrica lenha/carvão é da ordem de 1,5:1, ou seja, para se produzir um MDC necessita-se de 1,5 st, ao passo que nos sistemas convencionais essa necessidade é de 2:1 (dois estéreos de lenha para um metro de carvão) ou mais. Cumpre ressaltar que a secagem prévia da lenha, aproveitando o poder calorífico da fumaça após queima na fornalha do queimador de fumaça propõe-se como básico para o alcance deste nível de rendimento gravimétrico e eliminação de poluentes. A queima dos gases possibilita a geração de um adicional de calor suficiente para a secagem da lenha, além de reduzir substancialmente os fumos e a poluição atmosférica pela queima completa dos pirolenhosos, alcatrão não solúvel e a parte combustível dos gases não condensáveis. Dessa forma, teoricamente, proporciona uma diminuição da necessidade de madeira em 25% a 30% para obtenção da mesma quantidade de carvão. Controle da qualidade do carvão vegetal Para avaliação da qualidade do carvão vegetal são utilizados procedimentos normatizados, conforme mostra o Quadro 6. Descrição Amostragem Densidade aparente Densidade verdadeira Análise Química Imediata (teor de umidade, teor de matérias voláteis, teor de cinzas e teor de carbono fixo) Poder Calorífico Norma de Procedimento ABNT NBR 6923/81 ASTM D-167-73 Norma proposta por OLIVEIRA, et. al. (1982) - ASTM D-1762-64 “Chemical Analysis of Wood Charcoal” - ABNT NBR 8112/83 “Carvão Vegetal – Análise Imediata”, complementada pelas normas: - NBR 5734/83 “Peneiras para ensaio – especificação”; - NBR 6923/81 “Amostragem e preparação de amostra de carvão vegetal – procedimentos”. A determinação do poder calorífico superior, utilizando-se a bomba calorimétrica, baseia-se na Norma ASTM D-2015-66. Quadro 6 - Normas de Procedimentos para Controle da Qualidade do Carvão Vegetal FONTE: Disponibilizado pela Unidade Industrial Pesquisada Para tanto, analisou-se a produção de um mês num total de 250 carbonizações do processo de carbonização em cilindros metálicos verticais. Os resultados da análise técnica dos dois processos estão apresentados no item 4.3. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 Capítulo 3 Materiais e Métodos 58 3.2.2 Metodologia para Análise do Aspecto Econômico-Financeiro O carvão vegetal é um commodity, e como tal, tem seu preço regulado pelo mercado. Este produto é matéria-prima para o ferro-gusa, ferro-ligas e silício metálico, que também são commodities. Ainda, o ferro-gusa serve de base para a produção de commodities como o aço e fundidos de ferro. Sendo assim, o conhecimento e o controle dos custos de produção do carvão vegetal se tornam de fundamental importância e se constituem em fatores da maior relevância na composição da margem de contribuição por ocasião da venda. Para possibilitar a verificação do atendimento ao primeiro pilar da sustentabilidade, ser economicamente viável, buscou-se fazer um cenário comparativo entre o sistema industrial de produção do carvão vegetal pelo processo de carbonização em cilindros metálicos verticais – processo proposto teórico – e o sistema artesanal de produção do carvão vegetal pelo processo de carbonização em fornos de alvenaria tipo “rabo quente” – processo artesanal. Para tanto, tornou-se imprescindível a apresentação dos elementos a serem considerados na análise, detalhados a seguir. Custos de Implantação Segundo Buarque (1984), a implantação de um projeto leva em consideração os investimentos fixos (instalações – prédios, galpões, infra-estrutura, equipamentos, máquinas, etc.) e investimentos circulantes (capital de giro necessário para pôr as instalações em marcha até a entrada de receitas por vendas, melhorias e substituições de equipamentos). Há que se considerar, no entanto, a necessidade de aplicação do conceito até se alcançar o ponto de equilíbrio financeiro. Segundo Woiler et. al. (1996), um projeto ou empreendimento pode ser definido como um conjunto de informações internas ou externas à empresa e que servirão ao objetivo de análise e/ou de implantação no suporte a uma decisão de investimento. Com este conceito pode-se avaliar a viabilidade de um projeto desde a sua concepção até a decisão de empreendê-lo, levando-se em conta os custos envolvidos para sua implantação. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 59 Capítulo 3 Materiais e Métodos Assim sendo, define-se como custos de implantação todo custo ou despesa relativos ao projeto, desde sua idealização até a fase em que se alcança o ponto de equilíbrio financeiro do projeto. A implantação dos sistemas de carbonização (processo proposto teórico e processo artesanal) foi composta pelos elementos dos investimentos fixos considerando a capacidade de cada UPC. Capital de Giro O capital de giro é a porção do capital total da empresa que tem uma liquidez relativa, constituindo uma espécie de reservatório de capital para fazer frente a obrigações fora do ciclo do fluxo de caixa operacional ordinário (MOTTA, 2002). Dessa forma, capital de giro é o montante de recursos de liquidez imediata que a empresa disponibiliza para movimentar o seu negócio. Custos Fixos Os custos fixos ou estruturais, ou ainda, custos do período, independem do volume de produção e por não serem identificáveis com o produto são também tratados como indiretos dado que são os custos para manter o nível de capacidade de produção e de venda (WOILER et. al, 1996). Segundo Dutra (2003), os custos fixos não necessariamente apresentam os mesmos valores, podendo sofrer modificações em momentos de variação de preços, de modificação de tecnologia ou expansão da empresa. Claramente salientado por Martins (2001), os custos fixos não são determinados por sua repetitividade, mas por sua dissociação do volume de produção. No entanto, Passarelli et. al. (2004) afirmam que os gastos fixos variam conforme o tempo, que não variam com a atividade de produção e, portanto, serão incorridos por um determinado período de tempo, mesmo que nenhuma atividade produtiva se manifeste neste período. Ainda, separam em três tipos os gastos fixos: • Gastos fixos da capacidade instalada (depreciação); • Gastos operacionais fixos (seguros, impostos); • Gastos fixos programados qualidade). PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 (programas de publicidade, melhoria da Capítulo 3 Materiais e Métodos 60 Diante desses conceitos, pode-se dizer, então, que os custos fixos são aqueles incorridos ou desembolsados independentemente da decisão de se aumentar ou diminuir o volume de produção ou do nível de atividade. Custos Variáveis Os custos variáveis são conceituados como aqueles identificáveis com o produto e, portanto, alocáveis a este (WOILER et. a., 1996) e sua alteração é diretamente proporcional à alteração no volume da atividade (MAHER, 2001). De acordo com Maher (2001), alguns custos não industriais também podem se apresentar como variáveis, tais como aqueles ligados à distribuição e vendas. Da mesma forma que custos tradicionalmente considerados variáveis, como a mão-deobra, podem ser mais bem caracterizados como um custo fixo quando uma quantidade fixa dessa mão-de-obra é necessária exclusivamente para a operação das máquinas. Com base nesses conceitos, percebe-se a relevância da classificação dos custos em diretos e indiretos, para o gerenciamento dos custos, uma vez que permite ao administrador identificar com maior precisão onde e quando ocorreram variações e que medidas podem ser tomadas para a melhoria e aperfeiçoamento do planejamento de produção. Custos diretos Os custos considerados diretos são aqueles atribuíveis diretamente no cálculo dos produtos, como os materiais e a mão-de-obra usados diretamente na fabricação do produto, além de terem a peculiaridade de ser objetivamente mensuráveis (IBRACON, 1992), podem ser identificados como pertencentes a um determinado produto sem que seja preciso fazer rateios, uma vez que não deixam dúvidas quanto a que produto pertence (IBRACON, 1995). Há que se estabelecer, no entanto, como custo direto, aquele perfeitamente identificável e isento de dúvidas quanto a que produto ou objeto pertence, objetivamente mensurável e que não seja necessária a aplicação de nenhuma medida ou parâmetro para sua identificação. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 Capítulo 3 Materiais e Métodos 61 Custos indiretos Passarelli et. al. (2004) lembram que muitos custos poderiam ser atribuídos aos produtos ou atividades não fossem sua irrelevância ou a dificuldade de medição ou apontamento ou, ainda, não fosse o gasto para efetuar seu controle, daí considerá-lo como indireto usando, para tanto, critérios de rateio aos produtos ou atividades. Estes custos são debitados indiretamente aos produtos ou atividades através de taxas de rateio ou critérios de alocação, porque considerá-lo como custo direto pode ser dispendioso, aplicando-se, assim, o preceito contábil da relevância (LEONE, 2000). Sendo assim, entende-se que os custos considerados indiretos são aqueles incorridos no processo produtivo, mas que necessitam de algum critério para serem atribuídos aos produtos por não mostrarem de forma objetiva e segura a que produto ou atividade pertencem. Custos operacionais Para complementar a teoria dos custos e suportar a composição das receitas e custos totais dos processos de carbonização nos sistemas industrial e artesanal, com vistas à comparação das análises de viabilidade econômica destes sistemas, fizeram-se necessária a apresentação teórica desses componentes. Classificam-se como custos operacionais ou custos de produção o resultado da somatória dos esforços dispendidos na produção de um bem e são compostos pelos seguintes custos (BUARQUE, 1984): a) custos de fabricação: materiais diretos, materiais indiretos, mão-de-obra, serviços (água, energia, entre outros), manutenção, depreciação, seguros e outros gastos (aluguel, serviços técnicos, entre outros); b) gastos de administração: salários da administração, gastos de escritório e depreciação; c) gastos de vendas: salários e comissões de vendedores, distribuição, propaganda, imposto sobre vendas e outros gastos de vendas; d) gastos financeiros: juros de contratação de empréstimos, créditos ou outros gastos bancários, e PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 62 Capítulo 3 Materiais e Métodos e) gastos com imprevistos: provisões para ocorrências fortuitas. Na composição dos custos operacionais optou-se por usar parâmetros praticados no Estado de Minas Gerais, tendo em vista a grande concentração da produção de carvão vegetal naquele Estado e considerou-se: a) custo da lenha de eucalipto adquirida de terceiros a preço de mercado praticado numa região da zona da mata de Minas Gerais, posto UPC’s; b) custo da mão-de-obra: capacitada com piso salarial praticado no Estado de Minas Gerais, incluindo encargos sociais, refeitório, convênio médico e equipamentos de proteção individual; c) custo da energia elétrica: a UPC do sistema artesanal não utiliza energia elétrica. Para a UPC do processo proposto teórico considerou-se o custo da energia consumida pela UPC no Paraná; d) custo de manutenção: na UPC sistema artesanal o custo médio mensal estimado (Colombo et. al., 2006) para reposição de utensílios e reforma de fornos (tijolos, mão-de-obra, entre outros). Na UPC em cilindros metálicos verticais do Paraná, o custo médio mensal histórico para reposição de utensílios (pás, garfos, vassouras, entre outros), gastos com reparos e outros materiais de consumo, e) impostos: PIS e COFINS, numa alíquota de 9,25% sobre a nota fiscal para os dois sistemas. Receitas As receitas de um projeto são os fluxos de recursos financeiros, monetários, que o mesmo recebe em cada ano de sua vida útil, direta ou indiretamente, em função das suas operações (BUARQUE, 1984). Para analisar a viabilidade econômica de um projeto há a necessidade da previsão das receitas correspondentes, associando-as a instantes futuros, no tempo (MOTTA, 2002). Para composição das receitas, considerou-se como preço de venda o praticado pelo mercado da região de Belo Horizonte - MG para o carvão de eucalipto (AMS, 2007). PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 Capítulo 3 Materiais e Métodos 63 A produção de carvão vegetal pelo processo de carbonização em fornos de alvenaria tipo “rabo quente” foi proporcionalmente adaptada de dados coletados numa carvoaria típica, localizada no Paraná (COLOMBO et. al., 2006), tornando-se equivalente, em volume, ao processo de carbonização em cilindros metálicos verticais de uma UPC de 3.500 a 4.000 MDC/mês, conforme consta no Quadro 7. HIPÓTESES DE BASE CAPACIDADE 3.500 a 4.000 MDC/MÊS PROCESSO PROCESSO TIPO DE UPC ARTESANAL PROPOSTO TEÓRICO Capacidade Produtiva MDC/mês 4.000 3.994 Vida útil considerada em anos 2,0 10,0 Investimento Inicial Montante em R$ 178.500,00 3.000.000,00 Dados Técnico-Operacionais Número de fornos por bateria 12 n.a. Quantidade baterias no sistema 9,7 n.a. Quantidade de fornos no sistema 117 8 Quantidade de cilindros por forno n.a. 3 Capacidade de cada forno em st de eucalipto 16,00 n.a. Capacidade de cada cilindro em st de eucalipto n.a. 10,4 Tempo de carbonização em horas 168 10,0 Produção diária (número de carbonizações por forno) 0,14 2,4 Razão de conversão (st de eucalipto/MDC) 2,0 1,5 Dias produtivos no mês 30 30 Número de empregados 88 18 Regime de produção em horas/dia 24 24 Horas trabalhadas/funcionário/mês 180 180 Custos Operacionais Impostos s/Vendas (PIS, COFINS) 9,25% 9,25% Mão-de-obra em R$/hora 5,56 5,56 Preço da lenha R$/st de eucalipto no pátio 40,00 40,00 Custo médio mensal histórico da energia elétrica em R$ 0,00 22.000,00 Custo médio mensal estimado de manutenção por bateria 600,00 n.a. Custo médio mensal estimado de manutenção 5.830,00 6.250,00 Depreciação (10% a.a. sobre investimento inicial) 0,00 300.000 Preço de Venda R$/MDC 115,00 115,00 Quadro 7 - Premissas-base para Análise Econômica Comparativa dos Processos Artesanal e Processo Proposto Teórico A produção de carvão vegetal pelo processo de carbonização em cilindros metálicos verticais, processo pesquisado, a partir da coleta de dados de 250 carbonizações numa UPC de 3.500 a 4.000 MDC/mês no Estado do Paraná, no período de 05/08 a 03/09, foi comparada inicialmente ao processo proposto teórico, conforme consta no Quadro 8. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 Capítulo 3 Materiais e Métodos 64 HIPÓTESES DE BASE CAPACIDADE 3.500 a 4.000 MDC/MÊS PROCESSO PROCESSO TIPO DE UPC PROPOSTO TEÓRICO PESQUISADO Capacidade Produtiva MDC/mês 3.994 1.622 Vida útil considerada em anos 10,0 10,0 Investimento Inicial Montante em R$ 3.000.000,00 3.000.000,00 Dados Técnico-Operacionais Quantidade de fornos no sistema 8 8 Quantidade de cilindros por forno 3 2,5 Capacidade de cada cilindro em st de eucalipto 10,4 10,40 Tempo de carbonização em horas 10,0 16,0 Produção diária (número de carbonizações/forno) 2,4 1,04 Razão de conversão (st de eucalipto/MDC) 1,5 1,6 Dias produtivos no mês 30 30 Número de empregados 18 18 Regime de produção em horas/dia 24 24 Horas trabalhadas/funcionário/mês 180 180 Custos Operacionais Impostos s/Vendas (PIS, COFINS) 9,25% 9,25% Mão-de-obra em R$/hora 5,56 5,56 Preço da lenha R$/st de eucalipto no pátio 40,00 40,00 Custo médio mensal da energia elétrica em R$ (informado) 22.000,00 22.000,00 Custo médio mensal estimado manutenção (2,5%a.a. s/investimento) 6.250 6.250 Depreciação (10% a.a. s/investimento inicial) 300.000 300.000 Preço de Venda R$/MDC 115,00 115,00 Quadro 8 - Premissas-base para Análise Econômica Comparativa Teórica x Pesquisada A viabilidade econômica do sistema foi atestada através do emprego de conceitos e ferramentas da Engenharia Econômica, amplamente utilizados e consagrados. Indicadores econômico-financeiros Os indicadores econômico-financeiros utilizados foram: lucratividade (L), rentabilidade (R), prazo de retorno simples do investimento (PRI), valor presente líquido (VPL) e taxa interna de retorno (TIR). Lucratividade A lucratividade (L) é um indicador que demonstra a eficiência operacional de um negócio que é a razão entre lucro líquido (LL) e a receita total (RT). É expressa PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 65 Capítulo 3 Materiais e Métodos como um valor percentual que indica a proporção de ganhos de um negócio (ROSS et. al., 1995) e pode ser representada pela Equação 1: L = LL RT X 100 (1) Rentabilidade A rentabilidade (R) é um indicador que mostra a velocidade de retorno do capital investido no negócio que é a razão entre LL e investimento (IT). É obtida sob forma de um valor percentual por unidade de tempo e indica a taxa de retorno do capital investido (ROSS et. al., 1995), representada na Equação 2. LL IT = R X 100 (2) Prazo de recuperação do investimento ou Payback Utilizado como referência para julgar a atratividade relativa das opções de investimento (I), implica que, quanto mais longo o prazo de repagamento do valor investido/emprestado menos interessante ele se torna para o investidor/financiador (MOTTA). O payback (PB) pode ser calculado levando-se em consideração o I e a receita anual (RA), conforme mostra a Equação 3. PB = I RA (3) Valor presente líquido (VPL) O Valor Presente Líquido Descontado (VPL) é a soma algébrica de todos os fluxos de caixa descontados para o instante presente (t = 0), a uma dada taxa de juros i (MOTTA, 2002) e representa o lucro do empreendimento. O projeto será considerado viável se o VPL for maior ou igual a zero, conforme Equação 4. VPL(i) = Ʃ n FCj/ (1 + i)j (4) j = 0 Sendo, i taxa de desconto; J Período genérico (j = 0 a j = n), percorrendo todo o fluxo de caixa; FCj Fluxo genérico para t = [0... n] que pode ser positivo (receita) ou negativo (custos) PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 Capítulo 3 Materiais e Métodos 66 Taxa interna de retorno (TIR) A TIR é o valor da taxa de desconto que anula o Valor Presente Líquido obtido pela soma algébrica de todos os fluxos de caixa (MOTTA, 2002). O projeto será considerado economicamente viável se a TIR for maior que uma taxa de desconto correspondente à taxa de remuneração do capital, denominada taxa mínima de atratividade (TMA). Conceitualmente a TIR pode ser expressa de acordo com a Equação 5. n Σ FCj . {1 / (1 + i )}j (5) J=0 Sendo, i taxa de retorno ou TIR; FCj é um fluxo de caixa qualquer, genérico, para j = [0; ]. Para tanto, analisou-se a produção de um mês no processo de carbonização em cilindros metálicos verticais, num total de 250 carbonizações. Os resultados da análise econômica dos dois processos estão apresentados no item 4.4. 3.2.3 Metodologia para Análise do Aspecto Ambiental O que justifica a produção e consumo de cerca de 10 milhões de toneladas/ano de carvão vegetal no Brasil é o seu uso como termo-redutor em mais de 1/3 da produção de ferro-gusa e como redutor em 100% da produção de ferroligas e do silício metálico (ABIFA, 2007; BRASIL, 2007; SBS, 2007). Segundo Pinheiro et. al (2006) a alta qualidade do ferro-gusa e aço produzidos a partir de carvão vegetal se deve basicamente ao seu baixo teor de impurezas. Os 2/3 restantes de ferro-gusa são produzidos a partir do coque (carvão mineral), que por apresentar altos teores de enxofre potencializam o fenômeno da chuva ácida, um dos grandes problemas ambientais. Para suprir a necessidade de matéria-prima para esta produção foram utilizadas em 2006, no Brasil, 49% de lenha originária de florestas nativas e 51% da silvicultura (BRASIL, 2007), cabendo ao sistema artesanal a responsabilidade por aproximadamente 70% desta produção. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 67 Capítulo 3 Materiais e Métodos Para a avaliação do sistema proposto teórico em comparação ao sistema artesanal, quanto ao segundo pilar da sustentabilidade, ser ecologicamente correto, buscou-se na teoria dados estatísticos para cálculo do balanço de massa, do balanço energético e das quantidades geradas dos diferentes produtos oriundos do processo de carvoejamento, conforme mostrado nos quadros 9, 10 e 11: Balanço de massa Para efeito de cálculos do balanço de massa utilizou-se dados constantes do Quadro 9. Descrição (1) Produção carvão vegetal (Brasil) (2) Massa de lenha/st eucalipto (3) Produtividade média de lenha de eucalipto Unidade 9,5 – 10,5 mi t/ano 550 – 580 kg (30% umidade média) 40 – 45 st/ha.ano (30% umidade média) (4) ηgravimétrico sistema artesanal (base seca) 25% - 30% ou 3,64:1 na média (5) ηgravimétrico sistema proposto teórico (base seca) 36% - 40% ou 2,63:1 na média (6) ηvolumétrico sistema artesanal (base seca) (7) ηvolumétrico sistema proposto teórico (base seca) 2 st:1 MDC 1,5 st:1 MDC Quadro 9 - Dados Básicos de Consumo de Carvão e Produtividade da Lenha FONTE: (1) BRASIL, 2007; (2) CETEC, 1982; (3) LATORRE e CUNHA, 2006; (4) CETEC, 1982; (5) PIMENTA, 2007; (6) PINHEIRO, 2006; (7) PIMENTA, 2007 Balanço energético A seqüência mostrada no Quadro 10 abaixo identifica que a secagem é responsável por 48,7% da energia total demandada no processo de carbonização. Etapa I (Secagem) II (Torrefação) III (Carbonização) IV (Fixação) TODAS Demanda de Energia p/1 t madeira (BS) 257 Mcal 98 Mcal 138 Mcal 35 Mcal 528 Mcal Temperatura Média Atingida (ºC) 100 – 110 250 – 270 340 – 350 350 – 360 350 – 360 Produto da Fase Madeira seca Tiço Carvão Carvão 75% CF Carvão 75% CF Energia Total Demandada (%) 48,7 18,6 26,1 6,6 100,0 Quadro 10 - Etapas de Carbonização x Demanda de Energia (madeira 30% de umidade) FONTE: Adaptado de REZENDE (2006) Complementando, os dois principais produtos oriundos da carbonização (fumaça e carvão) e o poder calorífico destes foram identificados no Quadro 11. Carga Inicial PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 Produto Gasoso (Fumaça) Produto Sólido (Carvão) 68 Capítulo 3 Materiais e Métodos Gás Madeira 1.000 kg (base seca) Óleo 1.300 kg (base úmida) Água Poder Calorífico Monóxido de Carbono + Dióxido de Carbono 160 kg Alcatrão e Pirolenhoso 130 kg Umidade 300 kg Água de constituição 310 kg 1.295 kcal/kg Carvão 400 kg 7.300 kcal/kg Quadro 11 - Produtos da Carbonização x Poder Calorífico (madeira 30% umidade) FONTE: Adaptado de Rezende 2006 Para aplicação dos dados informados nos quadros acima, analisou-se a produção de um mês num total de 250 carbonizações pelo processo de carbonização em cilindros metálicos verticais. Os resultados da análise do aspecto ambiental dos dois processos estão apresentados no item 4.5. 3.2.4 Metodologia para Análise do Aspecto Social Para analisar o aspecto social dos processos de carbonização, objeto deste trabalho, optou-se por montar um cenário do setor carvoeiro no Brasil, no que se refere às relações trabalhistas. Segundo a OIT – Organização Internacional do Trabalho, em 2005 as vítimas do trabalho forçado no mundo eram 12,3 milhões, distribuídos conforme mostrado na Figura 25. Estado 2,5 milhões Trabalho Forçado 12,3 milhões Exploração Sexual 1,4 milhões Setor Privado 9,8 milhões Exploração Econômica 7,8 milhões Vítimas de Tráfico 2,4 milhões Outros 0,6 milhões Figura 25 - Principais Formas de Trabalho Forçado no Mundo FONTE: OIT, 2005 No Brasil, trabalho forçado tem o mesmo significado de trabalho escravo, aquele em que a pessoa é submetida a trabalho degradante, com privação da liberdade através da servidão por dívida, presença de guardas armados no local de PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 Capítulo 3 Materiais e Métodos 69 trabalho, retenção de documentos pelo proprietário do empreendimento e isolamento geográfico (OIT, 2005). A situação degradante à qual os trabalhadores são submetidos vai além dos alojamentos e cozinhas precários, da ausência de instalações sanitárias, da falta de água potável para beber e da falta de socorro médico. Muitos acidentes deixam seqüelas e até mutilações. Muitas vezes são obrigados a colocar seus filhos no trabalho como forma de aumentar a produção e qualquer desobediência pode lhes custar a própria vida (OIT, 2005). “O trabalho escravo não é distorção, é ferramenta para obtenção de lucro...”, segundo Leonardo Sakamoto, coordenador da ONG Repórter Brasil, durante audiência pública para debater o Plano Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo na Reunião da Comissão dos Direitos Humanos e Legislação Participativa, transmitido ao vivo pelo canal SENADO em 09.08.2007. Muitos são os fatores atribuídos a esta prática, seja em que parte do mundo for: a falta de instrução e de perspectivas de vida dos trabalhadores favorece o trabalho dos aliciadores e a impunidade livra os exploradores. Estas práticas são noticiadas pela mídia, principalmente impressa, diariamente, com um crescimento do número de coberturas da ordem de 337% (2002 em relação a 2001), 593% (2003 em relação a 2002) permanecendo neste mesmo patamar nos anos posteriores (OIT, 2005). Dados organizados pela ONG Repórter Brasil mostram o cenário do trabalho escravo no Brasil, identificando os ramos de atividades em que foram encontrados trabalhadores em situação análoga à de escravo nas propriedades rurais (ONG, 2007), conforme Figura 26. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 70 Capítulo 3 Materiais e Métodos Caf é; 1,6 Feijão; 1,5 Out ros; 1,6 Arroz; 2,1 Cana-de-açúcar; 1,0 Frut as; 2,1 Ext ração veget al (madeira, lát ex, palmit o, resina); 2,6 Suí nos ou bubalinos; 0,5 M ilho; 3,1 Algodão; 4,7 Soja; 5,2 Produção de carvão; 12,0 Bovinos; 62,0 Figura 26 – Ramos de atividades em que foram encontrados trabalhadores em situação análoga à de escravo nas propriedades rurais em 2007 (%). FONTE: ONG Repórter Brasil, 2005 Previsto na Portaria 540, de 15 de outubro de 2004, do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, o cadastro de empregadores contém os nomes dos infratores flagrados explorando mão-de-obra sob condições análogas à de escravos. A “lista suja”, atualizada semestralmente e disponível para consulta no site da organização não governamental Repórter Brasil, tem como função servir de alerta e de incentivo às empresas compradoras e fornecedoras a não negociarem com os infratores (ONG, 2007), como forma de coibir a prática do trabalho escravo. Nesta “lista suja” constam os nomes de 193 empresas e pessoas físicas brasileiras alvo de fiscalização e de onde foram libertados trabalhadores em situação análoga à de escravo, na produção de carvão vegetal, conforme mostrado na Figura 27. Maranhão; 18 Mato Grosso; 9 Mato Grosso do Sul; 35 Minas Gerais; 8 Bahia; 3 Pará; 218 Goiás; 48 Tocantins; 147 Figura 27 - Número de Trabalhadores na Produção de Carvão Vegetal Envolvidos nas Empresas/Fazendas da “Lista Suja”, por Estado, em 2007 FONTE: MTE, 2007 PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 Capítulo 3 Materiais e Métodos 71 O Pacto pela erradicação do trabalho escravo, outra ferramenta importante na luta contra esta prática, articulada pelo Instituto Ethos, em conjunto com a OIT – Organização Internacional do Trabalho e a ONG Repórter Brasil, firmado em 19 de maio de 2005, tem como signatárias empresas dos mais variados segmentos. O acordo prevê o envolvimento dos seus signatários na busca pela regularização das relações de trabalho nas cadeias produtivas constantes da “lista suja” do MTE, a partir do estabelecimento de metas descritas em dez itens. Outro documento, especificamente criado para a cadeia produtiva em que a produção do carvão vegetal está inserida, é a “carta-compromisso pelo fim do trabalho escravo na produção do carvão vegetal e pela dignificação, formalização e modernização do trabalho na cadeia produtiva do setor siderúrgico”, assinado pela Associação das Siderúrgicas de Carajás – ASICA, em nome dos seus quatorze associados produtores de ferro-gusa; pelo Sindicato da indústria do Ferro Gusa do Estado do Maranhão – SIFEMA; Instituto Ethos; Instituto Observatório Social; CNM, ICC, FIESP, OIT, TST, MPT, CONATRAE E MTE. (ICC, 2004). Com base neste cenário, os resultados da comparação entre os dois processos de carbonização foram descritos no item 4.6. 3.2.5 Metodologia para Análise do Aspecto Cultural Baseado em Jacomino et. al., (2002), historicamente a indústria siderúrgica no Brasil cresceu suportada pelo carvão vegetal. Nos idos do século XVIII, os primeiros fornos de manufatura do ferro-gusa foram desenvolvidos para seu uso. A industrialização acelerada durante o século XX introduziu o uso do carvão mineral coqueificável para utilização nos altos fornos das indústrias do aço. No entanto, por razões de custo e da qualidade do ferro-gusa fabricado a partir do carvão vegetal, evidencia-se que acima de 30% do ferro-gusa brasileiro, 100% do ferro-liga e 100% do silício metálico são manufaturados a partir de carvão vegetal. De acordo com as estatísticas descritas no item 1.4, o Brasil é importante fabricante de aço, ferro-ligas e fundidos de ferro no cenário mundial, ocupando atualmente o segundo lugar na produção de ferro-ligas e a sétima posição na produção de fundidos de ferro. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 Capítulo 3 Materiais e Métodos 72 A curva de crescimento das indústrias siderúrgicas aponta para um crescimento em todas as áreas abordadas e culturalmente a produção de carvão vegetal deve acompanhar esta tendência pelos motivos citados acima. A metodologia consiste, portanto, na análise deste cenário. Os resultados da análise do aspecto cultural estão apresentados no item 4.6. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 73 Capítulo 4 Resultados e Discussões 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1 Balanço Teórico de Massa Do Quadro 9, item 3.2.3, estimou-se as quantidades de madeira necessárias para cada processo, a partir do consumo médio anual de carvão vegetal e considerando-se o uso da lenha de eucalipto para a produção do carvão. Os resultados são mostrados na Tabela 1. Produção Média Anual de Carvão Vegetal (Mt) (1) 10 Relação Gravimétrica Madeira/Carvão Processo Artesanal Relação Gravimétrica Madeira/Carvão Processo Proposto teórico (4) 3,64 (5) 2,63 Consumo Médio Anual de Madeira Processo Artesanal (Mt) 36,4 Consumo Médio Anual de Madeira Processo Proposto Teórico (Mt) 26,3 Tabela 1 - Necessidade Anual de Madeira (base seca) para Produção de Carvão Vegetal Nota: Referências numéricas entre parênteses dizem respeito ao Quadro 9, página 67. Da Tabela 1, ao se considerar a madeira com 30% de umidade média, depreende-se a Tabela 2. Produção Média Anual de Carvão Vegetal (Mt) (1) 10 Relação Gravimétrica Madeira/Carvão Processo Artesanal Relação Gravimétrica Madeira/Carvão Processo Proposto teórico 4,73 3,42 Consumo Médio Anual de Madeira Processo Artesanal (Mt) 47,3 Consumo Médio Anual de Madeira Processo Proposto teórico (Mt) 34,2 Tabela 2 - Necessidade Anual de Madeira (base úmida) para Produção de Carvão Vegetal Nota: Referência numérica entre parênteses diz respeito ao Quadro 9, página 67. Ainda do Quadro 9(2) e (3), item 3.2.3, depreende-se a produtividade média de florestas de silvicultura de eucalipto, evidenciada na tabela 3. Massa Média de Madeira/st de Eucalipto (t) (2) 0,565 Produtividade Média da Madeira (t/ha.ano – 30% de umidade) 22 – 26 Tabela 3 - Produtividade de Floresta de Silvicultura de Eucalipto Nota: Referência numérica entre parênteses diz respeito ao Quadro 9, página 67. Da relação entre as Tabelas 2 e 3, evidencia-se a necessidade de áreas florestais de silvicultura de eucalipto, conforme Tabela 4. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 74 Capítulo 4 Resultados e Discussões Produtividade Média da Floresta Plantada (t/ha.) 24 Área Necessária de Floresta Plantada (Processo Artesanal) (ha.) 1.971.000 Área Necessária de Floresta Plantada (Processo Proposto Teórico) (ha.) 1.425.000 Tabela 4 - Necessidade Anual de Florestas de Eucalipto para Produção de Carvão Vegetal Os resultados evidenciam que o processo proposto teórico, a partir de lenha de eucalipto, mostra uma economia potencial anual de cerca de 550.000 hectares de florestas, interessante do ponto de vista ambiental. Por um outro lado do balanço de massas, comparando teoricamente os dois sistemas de carbonização, realizados com lenha de eucalipto, no que se refere à emissão de fumos durante o processo a partir de dados derivados da Tabela 2 acima e Quadro 11, item 3.2.3, as diferenças estão evidenciadas na Tabela 5. Sistema Artesanal 25 a 30% de Rendimento Gravimétrico Consumo Emissão Tipo Médio Anual Anual de de Madeira de Fumos Fumos (Mt) (Mt) 47,3 32,7 Poluente Sistema Pesquisado 36 a 40% de Rendimento Gravimétrico Consumo Emissão Tipo Médio Anual Anual de de Madeira de Fumos Fumos (Mt) (Mt) 34,2 23,6 Limpo Tabela 5 - Comparativo da Emissão de Fumos entre dois Sistemas de Carbonização Os 9,1 milhões de toneladas de diferença na emissão anual de fumos, tomando-se ainda em consideração que a queima da fumaça transforma a parte mais poluente dos fumos em gases limpos, representam uma considerável melhoria potencial do ponto de vista ambiental. 4.2 Balanço Energético Teórico O Quadro 10, item 3.2.3, mostra que a secagem de uma madeira de eucalipto com 30% de umidade é responsável por 48,7% da energia total demandada no processo de carbonização. O Quadro 11, item 3.2.3, mostra que se obtêm dois produtos principais oriundos do processo de carbonização – fumaça e carvão – com poderes caloríficos de 1.295 kcal/kg e 7.300 kcal/kg, respectivamente. A partir das informações constantes dos quadros 10 e 11, item 3.2.3, evidenciase a energia contida na fumaça gerada na carbonização de 1.300 kg de madeira PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 75 Capítulo 4 Resultados e Discussões (1.000 kg base seca), conforme mostrado na Tabela 6, sendo que PCF = poder calorífico da fumaça. PCF (kcal/kg) 1.295 Fumaça (kg) 900 Energia Contida na Fumaça (Mcal) 1.165,5 Tabela 6 - Energia Contida na Fumaça para 1 t Madeira (base seca) Para se aquecer até 100ºC e se evaporar 1 kg de água necessitam-se em torno de 600 kcal. Adicionalmente, de acordo com o Quadro 10, a energia necessária para evaporação da água de constituição de 1 t de madeira base seca é de 257 Mcal. Dessa forma, a energia total envolvida no processo de evaporação da água contida em 1.300 kg de madeira base úmida (30% de umidade) é de 437 Mcal, conforme evidenciado na Tabela 7. Energia para evaporação de 1 kg de água (kcal) 600 Umidade Contida em 1.300 kg de madeira (kg) 300 Energia para evaporação da Umidade (Mcal) 180 Energia para evaporação da água de constituição (Mcal) 257 Energia para evaporação da água total (Mcal) 437 Tabela 7 - Energia para Secagem de 1.300 kg de Madeira A energia contida em 900 kg de fumaça, de acordo com a Tabela 6 se mostra acima do necessário para evaporar totalmente a água contida na madeira, conforme Tabela 7. Isto equivale dizer que o diferencial positivo do processo proposto teórico em relação ao artesanal está no aproveitamento do poder energético da fumaça em função de: a) aumento do rendimento da carbonização, obtendo maior quantidade de carvão em relação ao processo artesanal (suporte para a viabilidade econômica); b) redução, por conseqüência, da quantidade do principal insumo do processo (lenha) para obtenção do carvão (suporte para a viabilidade econômica); c) redução do abate de florestas (suporte para a viabilidade ambiental); d) redução e modificação da emissão dos gases, obtendo gases mais limpos e em menor volume (suporte para a viabilidade ambiental); e) alcançados (a) e (b) tornar possível a operação dentro dos padrões trabalhistas exigidos por lei (suporte para a viabilidade social). PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 76 Capítulo 4 Resultados e Discussões 4.3 Comparativo dos Resultados quanto ao Aspecto Técnico A análise técnica comparativa entre os dois processos de carbonização objetivou avaliar tempo de carbonização, consumo de matéria-prima e aproveitamento dos subprodutos. A partir das premissas constantes dos Quadros 7 e 8, item 3.2.2, os resultados se referem ao encontrado na carvoaria artesanal do Paraná, adaptada proporcionalmente à capacidade do processo proposto teórico, ambas conforme Tabela 8. RESULTADOS CAPACIDADE 3.500 a 4.000 MDC/MÊS PROCESSO TIPO DE SISTEMA ARTESANAL Consumo de lenha em st de eucalipto/dia 266,67 Consumo de lenha em st de eucalipto/mês 8.000 Capacidade produtiva do sistema em MDC/dia 133,3 Capacidade produtiva do sistema em MDC/mês 4.000 Número de carbonizações no período 500 Tempo de carbonização total em horas 84.108 Tempo médio de carbonização em horas/forno 168 Rendimento volumétrico (médio) 2,0 Rendimento gravimétrico (médio) 25%-30% PROCESSO PROPOSTO TEÓRICO 199,68 5.990 133,1 3.993 576 5.760 10 1,5 36%-40% Tabela 8 - Comparativo de Resultados de Consumo e Produção entre Processo Artesanal e Processo Proposto Teórico Aplicando os dados encontrados em 250 carbonizações ocorridas no período de 05/08 a 03/09/2007, no processo de carbonização em cilindros metálicos verticais, verificaram-se os resultados, conforme mostrado na Tabela 9. RESULTADOS TÉCNICOS CAPACIDADE 3.500 a 4.000 MDC/MÊS PROCESSO PROPOSTO TEÓRICO TIPO DE SISTEMA Consumo de lenha em st de eucalipto/dia 199,68 Consumo de lenha em st de eucalipto/mês 5.990,40 Capacidade produtiva do sistema em MDC/dia 133,12 Capacidade produtiva do sistema em MDC/mês 3.993,60 Número de carbonizações no período 576 Tempo de carbonização total em horas 5.760 Tempo médio de carbonização em horas/forno 10 Rendimento volumétrico (médio) 1,5 Rendimento gravimétrico (médio) 36% - 40% PROCESSO PESQUISADO 86,53 2.595,84 54,08 1.622,40 250 4.200 16,8 1,6 35,4% Tabela 9 - Resultados Técnicos Comparativos entre o Processo Proposto Teórico e Processo Pesquisado PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 Capítulo 4 Resultados e Discussões 77 No período pesquisado, a UPC operou a 40,6% da capacidade instalada. Tempo médio de carbonização 68% acima do esperado, rendimento volumétrico médio 6,7% menor e rendimento gravimétrico médio 6,8% menor do que a média esperada. Vale ressaltar que o secador de lenha não estava funcionando a regime e durante a pesquisa a umidade da lenha se encontrava acima do proposto teórico. 4.4 Comparativo dos Resultados quanto ao Aspecto Econômico-Financeiro Para efeito de análise comparativa entre os processos consideraram-se fluxos de caixa. Não foram considerados: a) depreciação no caso do processo artesanal: para efeito da operação os custos colocados em manutenção são suficientes para manter a unidade operacional, além dos dois anos considerados para a vida útil do forno. b) custo de oportunidade: não se trata unicamente de escolher entre duas alternativas viáveis de investimento, mas de uma segunda alternativa à que se vem praticando e que atenda a outros desígnios, tais como, ser ecologicamente correto, socialmente justo e culturalmente aceito. Por força do amadurecimento da sociedade a alternativa tende a ser compulsória com o passar do tempo; c) despesas de comercialização e administrativas: considerados apenas impostos sobre vendas, visto que a apuração das outras despesas pressupõe condição de levantamento exato destes gastos, não sendo possível em uma unidade operacional funcionando em regime de try out. Além disto, estas mesmas despesas incidiriam igualmente em quaisquer dos processos e, portanto, não teriam influência significativa na avaliação comparativa; d) capital de giro: da mesma forma que as despesas de comercialização, este custo de difícil apuração durante a pesquisa em qualquer dos processos, incidiria igualmente em quaisquer dos processos não tendo, portanto, influência significativa na avaliação comparativa. Dessa forma, as receitas em qualquer dos fluxos ficam superestimadas, mas nada que possa prejudicar uma análise comparativa, dado que os eventuais acréscimos nas receitas incidem igualmente em quaisquer dos processos. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 Capítulo 4 Resultados e Discussões 78 A análise dos dois processos de carbonização objetivou avaliar primeiramente a viabilidade econômica comparada entre os dois processos, o artesanal e o proposto teórico. A partir das premissas constantes do Quadro 7, item 3.2.2. os resultados encontrados estão mostrados na Tabela 10. RESULTADOS FINANCEIROS ANUAIS (R$ mil) - CAPACIDADE 3.500 a 4.000 MDC/MÊS PROCESSO PROCESSO PROPOSTO TIPO DE UPC ARTESANAL TEÓRICO Faturamento previsto 5.520 5.511 Custo Total de Produção c/ Impostos 5.477 4.240 Custo da lenha 3.840 2.875 Custo da mão-de-obra 1.057 216 Custo da energia elétrica 0 264 Custo estimado da manutenção 70 75 Custo da depreciação 300 Impostos s/Vendas ( PIS, COFINS) 511 510 Custo Unitário de Produção (R$/MDC) 114,11 88,48 Tabela 10 - Comparativo dos Resultados Financeiros Anuais dos Processos Artesanal e Proposto Teórico Buscou-se, além disto, comparativamente ao processo proposto teórico, mostrar os resultados alcançados no processo pesquisado levado a efeito nas instalações ainda em fase de try out. Aplicando os dados encontrados em 250 carbonizações ocorridas no período de 05/08/2007 a 03/09/2007, obtiveram-se os resultados conforme mostrado na Tabela 11. RESULTADOS FINANCEIROS ANUAIS (R$ mil) - CAPACIDADE 3.500 a 4.000 MDC/MÊS PROCESSO PROCESSO TIPO DE UPC PROPOSTO TEÓRICO PESQUISADO Faturamento previsto 5.511 2.239 Custo Total de Produção c/ Impostos 4.240 2.308 Custo da lenha 2.875 1.246 Custo da mão de obra 216 216 Custo da energia elétrica 264 264 Custo da manutenção 75 75 Custo da depreciação 300 300 Impostos s/Vendas (PIS, COFINS) 510 207 Custo Unitário de Produção ( R$/metro de carvão) 88,48 118,56 Tabela 11 - Comparativo de Resultados Financeiros Anuais dos Processos Proposto Teórico e Pesquisado Desta forma, a partir dos dados constantes da Tabela 10 elaborou-se o fluxo de caixa simplificado comparativo dos processos artesanal e proposto teórico, apresentados na Tabela 12. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 79 Capítulo 4 Resultados e Discussões FLUXO DE CAIXA SIMPLIFICADO – PROCESSO ARTESANAL (R$ MIL) ITENS/ANO 0 1 2 3 4 5 6 7 8 INVESTIMENTO INICIAL -178,5 A) CAIXA/BANCOS B) ENTRADAS Receita de Vendas 5.520 5.520 5.520 5.520 5.520 5.520 5.520 5.520 TOTAL DE ENTRADAS (B) 5.520 5.520 5.520 5.520 5.520 5.520 5.520 5.520 C) DISPONÍVEL (A+B) 5.520 5.520 5.520 5.520 5.520 5.520 5.520 5.520 D) SAÍDAS Lenha 3.840 3.840 3.840 3.840 3.840 3.840 3.840 3.840 Mão-de-obra 1.057 1.057 1.057 1.057 1.057 1.057 1.057 1.057 Energia Elétrica 0 0 0 0 0 0 0 0 Manutenção 70 70 70 70 70 70 70 70 Impostos s/Vendas 511 511 511 511 511 511 511 511 TOTAL DE SAÍDAS (D) 5.477 5.477 5.477 5.477 5.477 5.477 5.477 5.477 E) SALDO FINAL (C – D) -178,5 43 43 43 43 43 43 43 43 VPL (Vr. Presente Liq.) -178,5 38 34 30 27 24 22 19 17 F) SALDO FINAL ACUM. -178,5 -136 -93 -51 -8 34 77 119 162 G) SALDO ACUM. DESC. -178,5 -141 -107 -76 -49 -25 -4 16 33 TMA (Tx Min de Atratividade) 12% FLUXO DE CAIXA SIMPLIFICADO - PROCESSO PROPOSTO TEÓRICO (R$ MIL) ITENS/ANO 0 1 2 3 4 5 6 7 8 INVESTIMENTO INICIAL -3.000 A) CAIXA/BANCOS B) ENTRADAS Receita de Vendas 5.511 5.511 5.511 5.511 5.511 5.511 5.511 5.511 TOTAL DE ENTRADAS (B) 5.511 5.511 5.511 5.511 5.511 5.511 5.511 5.511 C) DISPONÍVEL (A+B) 5.511 5.511 5.511 5.511 5.511 5.511 5.511 5.511 D) SAÍDAS Lenha 2.875 2.875 2.875 2.875 2.875 2.875 2.875 2.875 Mão-de-obra 216 216 216 216 216 216 216 216 Energia Elétrica 264 264 264 264 264 264 264 264 Manutenção 75 75 75 75 75 75 75 75 Depreciação 300 300 300 300 300 300 300 300 Impostos s/Vendas 510 510 510 510 510 510 510 510 TOTAL DE SAÍDAS (D) 4.240 4.240 4.240 4.240 4.240 4.240 4.240 4.240 E) SALDO FINAL (C – D) -3.000 1.271 1.271 1.271 1.271 1.271 1.271 1.271 1.271 VPL (Vr. Presente Liq.) -3.000 1.135 1.013 905 808 721 644 575 513 F) SALDO FINAL ACUM. -3.000 -1.729 -458 812 2.083 3.354 4.625 5.895 7.167 G) SALDO ACUM. DESC. -3.000 -1.865 -852 52 860 1.581 2.225 2.800 3.313 TMA (Tx Min de Atratividade) 12% 9 10 5.520 5.520 5.520 5.520 5.520 5.520 3.840 1.057 0 70 511 5.477 43 15 204 48 3.840 1.057 0 70 511 5.477 43 14 247 62 9 10 5.511 5.511 5.511 5.511 5.511 5.511 0 2.875 216 264 75 300 510 4.240 1.271 409 9.708 4.180 2.875 216 264 75 300 510 4.240 1.271 458 8.437 3.771 Tabela 12 - Fluxos de Caixa Simplificados dos Processos Artesanal e Proposto Teórico Aplicando os dados encontrados em 250 carbonizações ocorridas no período de 05/08 a 03/09/2007, no processo de carbonização em cilindros metálicos verticais, elaborou-se o fluxo de caixa simplificado comparativo dos processos proposto teórico e pesquisado, conforme mostrado na Tabela 13. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 80 Capítulo 4 Resultados e Discussões FLUXO DE CAIXA SIMPLIFICADO - PROCESSO PROPOSTO TEÓRICO (R$ MIL) ITENS/ANO 0 1 2 3 4 5 6 7 8 INVESTIMENTO INICIAL -3.000 A) CAIXA/BANCOS B) ENTRADAS Receita de Vendas 5.511 5.511 5.511 5.511 5.511 5.511 5.511 5.511 TOTAL DE ENTRADAS (B) 5.511 5.511 5.511 5.511 5.511 5.511 5511 5.511 C) DISPONÍVEL (A+B) 5.511 5.511 5.511 5.511 5.511 5.511 5.511 5.511 D) SAÍDAS Lenha 2.875 2.875 2.875 2.875 2.875 2.875 2.875 2.875 Mão-de-obra 216 216 216 216 216 216 216 216 Energia Elétrica 264 264 264 264 264 264 264 264 Manutenção 75 75 75 75 75 75 75 75 Depreciação 300 300 300 300 300 300 300 300 Impostos s/Vendas 510 510 510 510 510 510 510 510 TOTAL DE SAÍDAS (D) 4.240 4.240 4.240 4.240 4.240 4.240 4.240 4.240 E) SALDO FINAL (C - D) -3.000 1.271 1.271 1.271 1.271 1.271 1.271 1.271 1.271 VPL (Vr. Presente Liq.) -3.000 1.135 1.013 905 808 721 644 575 513 F) SALDO FINAL ACUM. -3.000 -1.729 -458 812 2.083 3.354 4.625 5.895 7.167 G) SALDO DESC. ACUM. -3.000 -1.865 -852 52 860 1.581 2.225 2.800 3.313 TMA (Tx Min de Atratividade) 12% FLUXO DE CAIXA SIMPLIFICADO – PROCESSO PESQUISADO (R$ MIL) ITENS/ANO 0 1 2 3 4 5 6 7 8 INVESTIMENTO INICIAL -3.000 A) CAIXA/BANCOS 0 B) ENTRADAS Receita de Vendas 2.239 2.239 2.239 2.239 2.239 2.239 2.239 2.239 TOTAL DE ENTRADAS (B) 2.239 2.239 2.239 2.239 2.239 2.239 2.239 2.239 C) DISPONÍVEL (A+B) 2.239 2.239 2.239 2.239 2.239 2.239 2.239 2.239 D) SAÍDAS Lenha 1.246 1.246 1.246 1.246 1.246 1.246 1.246 1.246 Mão-de-obra 216 216 216 216 216 216 216 216 Energia Elétrica 264 264 264 264 264 264 264 264 Manutenção 75 75 75 75 75 75 75 75 Depreciação 300 300 300 300 300 300 300 300 Impostos s/Vendas 207 207 207 207 207 207 207 207 TOTAL DE SAÍDAS (D) 2.308 2.308 2.308 2.308 2.308 2.308 2.308 2.308 E) SALDO FINAL (C - D) -3.000 -69 -69 -69 -69 -69 -69 -69 -69 VPL (Vr. Presente Liq.) -3.000 -62 -55 -49 -44 -39 -35 -31 -28 F) SALDO FINAL ACUM. -3.000 -3.416 -3.486 -3.555 -3.069 -3.139 -3.208 -3.277 -3.347 G) SALDO DESC. ACUM. -3.000 -3.285 -3.317 -3.345 -3.62 -3.117 -3.167 -3.211 -3.250 TMA (Tx Min de Atratividade) 12% 9 10 5.511 5.511 5.511 2.875 216 264 75 300 510 4.240 1.271 458 8.437 3.771 5.511 5.511 5.511 0 2.875 216 264 75 300 510 4.240 1.271 409 9.708 4.180 9 10 2.239 2.239 2.239 2.239 2.239 2.239 1.246 216 264 75 300 207 2.308 -69 -25 -3.624 -3.370 1.246 216 264 75 300 207 2.308 -69 -22 -3.694 -3.392 Tabela 13 - Fluxos de Caixa Simplificados dos Processos Proposto Teórico e Pesquisado A partir dos dados constantes das Tabelas 12 e 13 calcularam-se os indicadores econômico-financeiros dos processos artesanal, proposto teórico e pesquisado, apresentados para comparação, na Tabela 14. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 Capítulo 4 Resultados e Discussões 81 INDICADORES ECONÔMICO-FINANCEIROS: COMPARATIVO ENTRE PROCESSOS INDICADORES / TIPO DE SISTEMA ARTESANAL PROPOSTO TEÓRICO PESQUISADO Lucratividade Estimada (%) 0,8% 25,4% -3,4% Rentabilidade Simples (%) 23,8% 42,4% -2,3% Payback Simples (anos) 4,2 2,36 Inexistente Payback Descontado (anos) 6,4 2,95 Inexistente VPL (Valor Presente Líquido TMA 12%) 62 3.733 -3.028 Taxa Interna de Retorno (%) 20% 41% Inexistente Tabela 14 - Indicadores Econômico-financeiros: Comparativo entre Processos 4.5 Comparativo dos Resultados quanto ao Aspecto Ambiental Considerando os dados constantes dos itens 4.1 - Balanço Teórico de Massa, 4.2 - Balanço Energético Teórico e Tabela 9 do item 4.3 - Comparativo dos Resultados quanto ao Aspecto Técnico, destacam-se: a) o ηvolumétrico do processo pesquisado atingiu 1,6, significando uma economia de 517.000 ha/ano de florestas plantadas de eucalipto quando comparado com o processo artesanal. O ηvolumétrico de 1,5 previsto no processo proposto teórico apontava para uma possibilidade de economia da ordem de 550.000 ha/ano. b) o mesmo ηvolumétrico de 1,6 significa uma redução, quando comparado com o processo artesanal, de cerca de 8.550.000 t/ano na emissão de fumos provenientes da carbonização de madeira de eucalipto plantado. O ηvolumétrico de 1,5 previsto no processo proposto teórico apontava para uma possibilidade de redução na emissão de fumos da ordem de 9.100.000 t/ano. c) a transformação dos fumos poluentes em gases limpos se verificou, uma vez que o queimador de fumaça se encontrava em funcionamento durante o período pesquisado. d) a secagem da lenha não se verificou, pois o secador da lenha estava operando em regime de try out durante o período pesquisado. 4.6 Comparativo dos Resultados quanto ao Aspecto Social Considerando o cenário montado no item 3.2.4 – Metodologia para Análise do Aspecto Social e o cenário mostrado no Capítulo 3 – Materiais e Métodos, Sistema Industrial de Produção de Carvão Vegetal, Processo de Carbonização em Cilindros Metálicos Verticais, observa-se as diferenças quanto: a) ao cumprimento às leis trabalhistas vigentes no Brasil; PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 Capítulo 4 Resultados e Discussões 82 b) à remuneração praticada e os benefícios assistenciais praticados pela indústria; c) às condições ambientais no local de trabalho, d) à possibilidade de inclusão social da força de trabalho. O ambiente, as condições de trabalho, moradia e alimentação às quais estão submetidos os trabalhadores, na maior parte da produção do carvão vegetal pelo processo de carbonização em fornos de alvenaria tipo “rabo quente”, foram retratadas por crianças na faixa etária entre 7 e 9 anos, filhos desses trabalhadores, num projeto denominado “Luz das Carvoarias”, desenvolvido pela organização não governamental Girassolidário, com o apoio do Fundo de Investimentos Culturais de Mato Grosso do Sul e da Vivo S/A e faz parte do programa Direito de Crescer, também coordenado pela ONG. A comparação quanto ao aspecto social, entre os processos de carbonização nos sistemas artesanal, (fotos das crianças Ana Paula de Oliveira, Bruno de Castro e Elizeu de Oliveira Silva no lado esquerdo da figura) e industrial (lado direito da figura) comprovam a diferença de perfil nestes dois sistemas, conforme mostrada na seqüência de fotos da Figura 28. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 83 Capítulo 4 Resultados e Discussões PROCESSO ARTESANAL PROCESSO PROPOSTO/PESQUISADO Figura 28 - Comparativo de Resultados quanto ao Aspecto Social entre o Processo Artesanal e Processo Proposto/Pesquisado FONTE: Projeto “Luz das Carvoarias” (Processo Artesanal) e Disponibilizadas pela Unidade Industrial Pesquisada (Processo Proposto/Pesquisado) PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 Capítulo 4 Resultados e Discussões 4.7 84 Comparativo dos Resultados quanto ao Aspecto Cultural Considerando o cenário montado no item 3.2.4 – Metodologia para Análise do Aspecto Social e o cenário mostrado no Capítulo 3 – Materiais e Métodos, Sistema Industrial de Produção de Carvão Vegetal, Processo de Carbonização em Cilindros Metálicos Verticais e o item 4.4 – Comparativo dos Resultados Econômicos, destacam-se: a) o suporte da viabilidade econômica do processo proposto teórico quando comparado com o processo artesanal, mostra-se promissor e isto é importante propulsor das mudanças culturais, principalmente em se tratando de sistemas operacionais da economia basal, b) As pressões que a sociedade em amadurecimento vem exercendo no sentido de promover a inclusão social da parcela mais carente da população e a procura de atividades mais limpas e ambientalmente corretas têm respaldo dentro do processo industrial proposto. 4.8 Comentários Finais Seguindo a narrativa de Almeida (2007) ...”numa estrada secundária em Goiás, sob um belíssimo pôr-do-sol até onde podia a vista alcançar, em qualquer direção não se via uma árvore sequer. Na contraluz vermelho e laranja do magnífico pôr-dosol, uma colheitadeira funcionava sem operador, controlada remotamente via satélite. Na beira da estrada, uma meninazinha de seus cinco anos, miseravelmente vestida, coberta de trapos, observava a máquina maravilhosa”. Esta imagem sintetiza a concentração excessiva de poder, a transformação inclemente dos ecossistemas numa escala ímpar, sem nenhuma similaridade com o que ocorreu pregressamente na história da humanidade, muito embora derive desta mesma história. Estes fatos retratados na visão, combinados com a miséria e total falta de oportunidade da base da pirâmide social levam a pensar que a mudança da situação transcende a responsabilidade dos governos. É uma responsabilidade da sociedade como um todo, de cada agrupamento dentro do modelo social e, portanto, de cada indivíduo. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 Capítulo 4 Resultados e Discussões 85 Sendo assim, por outro lado, a história tem mostrado que em todas as atividades humanas, em qualquer época, ninguém faz o que é exatamente necessário, mas tão somente o que se sabe perante cada situação que se apresenta, seja, como indivíduo, pequenos grupos ou a própria sociedade como um todo. Portanto, a cada um deles, toca aprender rapidamente sobre estas novas e prementes necessidades, retratadas através da imagem, enquanto ainda há tempo! PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 Capítulo 5 Conclusões e Recomendações 86 5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 5.1 Conclusões a) quanto aos aspectos técnicos, a alternativa – Processo Proposto Teórico – está tecnologicamente bem embasada, aborda aspectos fundamentais da possibilidade de construir unidades adequadas operacionalmente que possam atingir as metas propostas de se obter um processo suficientemente eficaz e capaz de atender os desígnios de operar de forma limpa, dentro dos padrões da legislação trabalhista e de contribuir para a inclusão social da força de trabalho e suas famílias. A UPC foi bem construída e está operando em regime de try out, para efeito de correção de detalhes de projeto e treinamento da força de trabalho da unidade, uma vez que a esta cabe o papel de showroom para empresas interessadas no processo; b) quanto aos aspectos econômicos, o Processo Proposto Teórico mostrou, através da análise dos indicadores adotados, a viabilidade econômica buscada. O sucesso prático buscado nas operações de try out, até se atingir os parâmetros técnicos de produtividade, rendimentos volumétrico e gravimétrico, almejados por ocasião do desenvolvimento do modelo teórico, são de fundamental importância para consecução do proposto quando do início do projeto por parte da empresa. Segundo parecer dos responsáveis pelo projeto, três aspectos básicos devem ser cumpridos na seqüência dos testes, a saber: 1) a UPC deve funcionar a regime para que os sistemas de queima da fumaça e de secagem da lenha tenham a oportunidade de cumprir suas tarefas a contento depois de atingir o equilíbrio térmico; 2) a lenha, por via de conseqüência, deverá atingir a umidade prevista no projeto teórico e, portanto, contribuir positivamente para o alcance dos parâmetros técnicos previstos; 3) que não ocorram interrupções da operação para que não comprometa a eficiência da produtividade devido à variação no gradiente de temperatura do processo. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 Capítulo 5 Conclusões e Recomendações 87 Alguns desvios presenciados durante a pesquisa, foram por questões de habilidades operacionais devido à pouca familiaridade dos operadores com a própria operação e aqueles ligados a pequenos problemas técnicos, considerados normais durante o try out, que contribuíram para a baixa produtividade encontrada. Concluídas estas correções o Processo Pesquisado deverá alcançar a produtividade em MDC/dia e em rendimentos gravimétrico e volumétrico, necessários e suficientes para atingir a viabilidade econômica; c) quanto aos aspectos ambientais, as possibilidades de se alcançar as melhorias propostas por ocasião da construção do modelo Processo Proposto Teórico de diminuir a necessidade de madeira e, portanto, diminuir a necessidade de abate de florestas, assim como a possibilidade de se usar somente florestas plantadas, diminuindo ao mesmo tempo a emissão de fumos e mudando a natureza deles de poluentes para limpos, foi conseguida durante a operação try out da UPC. A melhoria esperada para quando o secador da lenha estiver operacional na sua plenitude e puder, assim como o restante da unidade, operar a regime, deve alcançar ou mesmo suplantar as expectativas do modelo teórico, segundo parecer dos técnicos da UPC; d) quanto aos aspectos sociais, a força de trabalho na UPC pesquisada estava, por ocasião da pesquisa, remunerada de acordo com a legislação trabalhista vigente; usava equipamentos de proteção individual adequados às tarefas executadas; contava com restaurante asseado e refeições supervisionadas por nutricionista e dispunha de plano de assistência médica; e) quanto aos aspectos culturais, a proposição de se construir e implantar uma alternativa que contribua para a auto-sustentabilidade do processo de produção de carvão vegetal está intimamente ligada à tradição da indústria siderúrgica brasileira, portanto, a iniciativa tem todo o suporte cultural necessário e suficiente. Cabe considerar, a par das conclusões, que: a) a atual conjuntura nacional de crescimento e necessidade de se aumentar a taxa deste, a melhoria da distribuição da renda, a adoção de tecnologias mais limpas e a promoção da inclusão social, apontam a premência de iniciativas como esta. Ao mesmo tempo, apontam para a necessidade absoluta de apoiá-las através de PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 88 Capítulo 5 Conclusões e Recomendações políticas eficazes com a aplicação de medidas de repressão ao abate indiscriminado de florestas, que dão ensejo a atividades escusas de carvoejamento, correspondentes a cerca de 50% da produção brasileira, não contribuindo com os impostos devidos e nem remunerando adequadamente a força de trabalho; b) embora não sendo parte do escopo do trabalho a análise financeira ou o equacionamento das fontes de recursos, este é outro campo onde uma política séria de suporte às iniciativas privadas ligadas à auto-sustentabilidade deveria ser erguida, no intuito de garantir, para a futura sociedade brasileira, a preservação das riquezas de base. 5.2 Sugestões para Trabalhos Futuros Levantamento da necessidade do capital de giro para produção em escala; Avaliação do ciclo de vida do processo; Análise financeira ou equacionamento das fontes de recursos. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007 89 Referências REFERÊNCIAS ABIFA – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FUNDIÇÃO. Estimativa de fechamento 2006. Revista da Abafa Fundição & Matérias-Primas, Perspectivas 2007. P.60-61, Ano IX, ed. 81, dezembro 2006. ABRAF. Anuário estatístico da ABRAF: ano base 2006 /ABRAF. – Brasília, 2007. ALMEIDA, Fernando. Os desafios da sustentabilidade. – Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. ___________. O bom negócio da sustentabilidade. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002. AMS, ASSOCIAÇÃO MINEIRA DE SILVICULTURA. Anuário Estatístico 2007. Disponível em http://www.silviminas.com.br. Acesso em 15.10.2007. ANJOS, Roselaine Maria dos. Comunicação privada./ Roselaine Maria dos Anjos e Alexandre Santos Pimenta, setembro, 2007. BELLEN, Hans Michael van. Indicadores de sustentabilidade: uma análise comparativa. – reimpressão – Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007. BRASIL. Balanço Energético Nacional BEN 2007 – Base 2006, Preliminar. 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Rendimento Relação entre o peso de madeira enfornada e o peso do carvão gravimétrico obtido. PPGEP – Gestão da Produção e Manutenção 2007