24 Consequências do desaparecimento (CCD) das Abelhas no Agronegócio Apícola Internacional e em especial no Brasil Lionel Segui Gonçalves FFCLRP-USP -São Paulo-SP /UFERSA-Mossoró-RN A apicultura é de fundamental importância para o agroneócio internacional pelo fato das abelhas serem responsáveis pela polinização de 70% das plantas que fornecem alimentos para o homem. Somente os Estados Unidos são responsáveis por investimentos superiores a 15 bilhões de dólares (aprox. 30 bilhões de reais ) aplicados em culturas tais como amêndoas, frutas, grãos e hortaliças. Embora existam polinizadores nativos, as abelhas do gênero Apis vindas do Velho Mundo são mais prolíficas e mais fáceis de se manipular em polinizações em larga escala. Um dos exemplos mais marcantes é o caso das amendoeiras na California-USA onde apenas nessa cultura são utilizadas anualmente mais de l,4 milhões de colmeias de abelhas Apis mellifera e estima-se que para 2012 vão precisar de mais de 2,5 milhões de colmeias. No Brasil temos alguns projetos de polinização por abelhas em laranja (SP), maçã (SC) e melão (RN) porém ainda não em larga escala. Infelizmente ainda não existem estatísticas de investimentos em polinização por abelhas, sendo o investimento da apicultura baseado principalmente na produção de mel. Embora o agronegócio venha crescendo muito em todo o mundo, principalmente na área dos produtos orgânicos que estão cada vez mais procurados, surgiu nos últimos anos um sério problema que colocou a agricultura em alerta e em especial a apicultura. Trata-se do Desaparecimento das abelhas ou CCD (colony colapse disorder). Este é atualmente o maior problema da apicultura mundial. A Sindrome do Colapso das abelhas corrresponde ao desaparecimento repentino das abelhas ou a redução, em poucas semanas ou dias, do tamanho da colônia, mesmo na presença de crias, pólem e mel, porém sem deixar vestígios de morte de abelhas. A CCD vem causando sérias baixas no número de colônias de Apis mellifera nos Estados Unidos , Canada, Japão e India bem como em alguns países da Europa e da América do Sul. Nos Estados Unidos vem sendo relatadas altas perdas ( 30% A 90% ) desde 2006 até o presente. Na Europa, de 1994 até o presente populações de abelhas começaram a morrer na França, Italia, Espanha, Suissa, Alemanha, Austria, Polonia, Inglaterra, Eslovenia, Grécia e Bélgica. Portanto, é perfeitamente previsível o prejuízo que a falta de abelhas para a polinização causara no agronegócio apícola mundial e tanto os USA como vários países da Europa já despertaram para o problema investindo em pesquisas para detectar as causas desse problema.. As causas mais citadas até o momento para a perda de colônias tem sido: o ácaro Varroa destructor, o fungo Nosema ceranae, o stress causado pelo transporte a longas distancias, ausência de pólem, ampla relação de vírus (APV-Akute paralisis, IAPV-Israeli akute paralysis virus, DWV-Deform Wing Virus, etc) e os pesticidas . Não existe até o momento uma causa única detectada como o principal agente causador do CCD, havendo uma complexa interação entre vários fatores e um efeito sinergístico entre eles que determina o colapso ou desaparecimento das colônias. Em 2009 o Presidente da Apimondia, Dr. Gilles Ratia fez um grande alerta no Congresso Internacional da APIMONDIA em Montpelier, França a respeito do uso dos agrotóxicos neonicotinoides na agricultura, tendo lançado uma campanha internacional de proteção às abelhas. Muitos pesquisadores apontam os Anais do X Encontro sobre Abelhas, 2012 Ribeirão Preto – SP – Brasil 25 inseticidas neonicotionoides como altamente tóxicos para as abelhas e como uma das principais causas do desaparecimento das abelhas, destacando-se o Fipronil ( regente), o Thiamethoxan (cruizer), o Imidocloprid (gaucho ou confidor) e o Clothianidine (poncho). Esses inseticidas neonicotinoides apresentam atividades enzimáticas que atuam fisiologicamente no olfato e na memória das abelhas, bem como no comportamento de vôo das mesmas, causando problemas nas atividades forrageiras e em especial nas atividades de navegação e orientação, dificultando a localização de suas colônias após as atividades de forrageamento, o que em parte explica o desaparecimento das abelhas, porém sem deixar vestígios de morte. No Brasil já foram detectados vários casos de desaparecimento de abelhas, embora ainda em casos pontuais. Um dos primeiros casos foi detectado em 2008 por O.Malaspina em Brotas, no Estado de São Paulo. Em 2011 foram detectados novos casos em Altinópolis-SP.(relato de Dejair Message) , no Rio Grande do Sul (relato de Aldo Machado), e em Santa Catarina (relato de Nésio F.Medeiros, presidente da FFASC, em março de 2012). Esses relatos são muito preocupantes uma vez que em nosso país o uso dos agrotóxicos é feito indiscriminadamente em vários estados, havendo portanto uma alta probabilidade de aumento dos casos de intoxicação das abelhas com o consequente desaparecimento delas no Brasil, prevendo-se um futuro sombrio para a apicultura brasileira caso não sejam tomadas providências urgentes para combater esses produtos tóxicos para as abelhas. Portanto, face a todos os relatos de ocorrências do desaparecimento das abelhas em vários continentes é fácil de se prever seríssimos prejuízos para a apicultura mundial e para o agronegócio apícola internacional, caso não sejam tomadas providências enérgicas de proibição do uso dos agrotóxicos do grupo dos neonicotiniodes na agricultura mundial. Anais do X Encontro sobre Abelhas, 2012 Ribeirão Preto – SP – Brasil